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O Mundo Visto Através de Olhos Vermelhos


Toph

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    Olha, eu fiquei esperando 10 anos pra encontrar as "Crônicas de DragonLance" em português para ler. Harry Potter levou outros 10 anos para chegar ao final, fora outros que ainda estão no forno.   Acho que aguento esperar a Tenko se ela prometer que não vai parar a fic outra vez, é a primeira vez que estou lendo e está muito boa.

 

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concordo. capítulo ótimo mesmo. e notei uma coisa:

*Assassinos são piedosos, jamais deixam seus inimigos aleijados ou inválidos, para sofrer pelo resto da vida. Simplesmente encurtam sua estadia em Midgard.*

hummm, sabe , tem um assasino aqui chamado pdrk que talvez não siga isso com muito zelo..., é só olhar seu tópico por uns minutos            blz, agora ótimo capítulo denovo, agora vai começar a desandar de verdade

flow!

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 CAPÍTULO 14 - REFÚGIO

 

 

 

 

 

Eram dias tranqüilos de

Inverno em

Rune-Midgard. A floresta verde de Payon havia se tornado

branca. As árvores haviam perdido as folhas. Os dias eram curtos e as noites

eram longas. No

entanto, aquela manhã estava razoavelmente agradável. O céu era de um azul

gélido e intenso, o ar era úmido e frio, mas o vento não estava forte. Uma

nevasca caíra durante a noite, então uma grossa camada de neve se estendia pelo

chão, até onde a vista alcançava. Em meio à floresta nevada, se encontrava a

casa dos Aintaurë, quase invisível em meio às árvores secas e com o telhado

cheio de neve. O interior da casa era quente e aconchegante. Sentado na sala de

estar, junto à lareira, o velho patriarca dos Aintaurë fabricava flechas,

arrancando lasca por lasca de madeira para fazer as hastes e lapidando os

minérios elementais com infinita paciência. Das frestas da porta da cozinha

começava a vazar um sedutor aroma de comida. A porta se abriu, e dela saiu uma

jovem de cabelos castanhos e olhos cor de mel. Vestia trajes típicos de Payon

e, por cima deles, um avental de cozinha. Assim como a maioria dos Aintaurë, a

jovem era uma caçadora, mas no momento não trazia nas mãos arco e flecha, mas

um balde com pedaços de carne crua. A garota seguiu por um corredor até parar

em frente a uma porta de cujas frestas saía uma luz avermelhada. Ouvia-se de

dentro do aposento um som ritmado e agudo do choque de metal contra metal. A

caçadora bateu na porta com os nós dos dedos.

 

 

“Kuroi! O almoço está

pronto!”

 

 

“Ah, entre, Sethit! Já estou terminando!”, disse uma voz de dentro do quarto. Sethit abriu

a porta e entrou. Dentro do quarto havia uma pequena fornalha improvisada,

fonte da luz vermelha que se via do lado de fora. Ao lado dela, uma bigorna

feita de material cristalino e amarelado, que se assemelhava mais à pedra que

ao metal. Em cima desta, uma ferreira trabalhava. Também era jovem ainda, a

ferreira. Seus longos cabelos dourados presos por uma fita vermelha. Tinha o

rosto coberto de sardas. O braço direito tatuado parecia estar envolvido em um

caule negro, que vinha desde o ombro e descia até o antebraço, e então ia se

esconder debaixo das grossas luvas de couro que a ferreira tinha nas mãos.

Batia com um martelo feito de Oridecon em uma lâmina ainda quente. Quando

pareceu satisfeita, mergulhou o metal ardente em um tanque que havia instalado

no quarto. Houve uma espécie de sibilo, e o aposento se encheu de vapor. Quando

a nuvem se dissipou, Sethit pode ver que a ferreira examinava cuidadosamente a

lâmina recém-forjada. “Ainda não está boa...”, gemeu Kuroi, com claro

descontentamento na voz. Sentou-se no chão e suspirou. Só então levantou os

olhos e examinou a jovem caçadora de avental. “Meu almoço é esse aí no balde? A

qualidade da sua comida vem decaindo, Sethit...”

 

 

A caçadora não pode

deixar de sorrir. Nem mesmo as forjas mal-sucedidas eram capazes de abalar o

humor de Kuroi Yuri. “Bom... esse é o almoço do Horus e dos outros falcões, mas

tenho certeza que se você conversar com eles, eles não se importarão de

partilhar a refeição!”

 

 

Kuroi abriu seu

característico sorriso largo. “Quer ajuda, Sethit? Estou cansada de martelar!”.

A caçadora sacudiu a cabeça negativamente. “Não se incomode, Kuroi”, disse ela.

“Lá no viveiro dos falcões está muito frio, você pode pegar um resfriado se

sair direto desse quarto quente pra lá”. Mas a ferreira já tinha pego o balde e

ia em direção à porta. Sethit sacudiu os ombros e se conformou. Sabia que Kuroi

Yuri podia ser muito teimosa quando queria. Chegaram ao viveiro, onde os belos

falcões brancos, orgulho da família Aintaurë, mantinham-se encolhidos nos seus

poleiros, com as penas arrepiadas. Assim que Sethit se aproximou, um grande

falcão com manchas castanhas nas pontas das asas e bico cor de chumbo

imediatamente veio pousar em seu antebraço. Aquele era Horus, o falcão de caça

de Sethit. Ela o vira sair do ovo, e foram criados juntos desde a época em que

ela era uma arqueira e ele era pequeno demais para acompanhá-la. Agora o falcão

branco estava quase do tamanho de uma águia, e ajudava Sethit em suas caçadas.

Os dois tinham uma ligação muito forte, e Horus era capaz de subjugar seus instintos

arriscar a própria vida para proteger sua companheira. Sethit afagou a cabeça

do pássaro com as pontas dos dedos, e ele lhe deu bicadinhas carinhosas na

orelha. Em seguida, com a ajuda de Kuroi, a caçadora começou a distribuir

pedaços de carne crua entre as aves, que os devoravam vorazmente. Elas não

conversavam. Só se ouvia os pios agudos dos falcões e o uivo do vento. Kuroi

Yuri resolveu quebrar o silêncio.

 

 

“Sethit, você viu a

Tenko?”

 

 

Sethit acenou com a

cabeça outra vez. “Ela saiu cedo hoje. Foi para a Vila dos Arqueiros, caçar na

Caverna de Payon. Disse pra não a esperarmos para almoçar”. Kuroi levou a mão

ao queixo, pensativa. “Foi caçar de novo? É só isso que ela faz ultimamente!”

 

 

“Você conhece a Tenko.

Ela quer se tornar forte. Quer isso mais do que qualquer coisa. Ela vai ficar

bem, Kuroi. Vamos almoçar, tenho fome!”, disse Sethit. “Certo...”, respondeu a

ferreira. “Mas não sei, ficar tanto tempo caçando é estranho até mesmo para a

Tenko”

 

 

“Ela mudou muito, não

é?”, disse a caçadora. “Está mais séria, e menos irritadiça também”. Kuroi

concordou. “Verdade, ela anda mais calma. Me pergunto se isso é culpa só do

treinamento ou se tem algum outro fator...” 

 

 

 

 

As palavras de Sethit e

Kuroi tinham um certo fundamento. Tenko estava mudada. Pelo menos fisicamente,

estava. Neste exato momento, a assassina saía de dentro da Caverna de Payon,

lar de demônios e mortos-vivos. Trazia às costas sua bolsa carregada dos

espólios de suas batalhas. Havia ganhado algumas cicatrizes novas,

especialmente no braço esquerdo. Demorou a se acostumar com a falta do escudo.

Suas roupas e sua capa estavam desbotando, e estavam cobertas de velhas manchas

de sangue seco. Por baixo dos trajes de sua profissão era possível perceber os

contornos de uma cota de malha, e em sua cabeça não havia mais o velho e

surrado Sakkat, mas uma espécie de tiara com um par de asas brancas, arrancadas

de um Angeling. Quando gatuna, seus passos eram quase imperceptíveis, mas

agora, como assassina, os passos de Tenko Kitsune eram completamente inaudíveis.

Ela havia aprendido a fazer venenos e os usar em suas armas, a extrair gases

tóxicos de gemas vermelhas e a andar sem ser vista. Mas o mais importante,

havia se tornado uma verdadeira perita no uso do katar. Seu estilo de luta

continuava o mesmo: brutal e selvagem. Deselegante, diriam alguns, mas de

eficiência incontestável. Especialmente agora, que a maioria de seus ataques

eram certeiros e letais. Penduradas junto às coxas, carregava o par de jur que

havia ganho de seu irmão Caifás. Ela havia mandado refiná-las com Emveretacon.

Nove vezes. O ferreiro obteve sucesso, e agora o par de lâminas era muito mais

resistente, e reluziam douradas quando Tenko as desembainhava. A empunhadura

das armas havia mudado também. Parecia agora feita de osso. Um conhecedor

perceberia imediatamente que o par de jur havia sido combinado com a essência

de monstros, as “cartas”. No caso, a essência de três Esqueletos Soldados. No

geral, Tenko havia adquirido uma aparência imponente, e um pouco mais

assustadora. No entanto, uma coisa permanecia imutável na aparência da

assassina. Seus olhos cor-de-sangue continuavam ferozes como sempre. Tenko

Kitsune impunha respeito a quem a visse. Mas ela raramente era vista.

 

 

Saiu da Caverna de

Payon e se dirigiu ao interior da Vila dos Arqueiros. Se seguisse para o norte

encontraria a Vila dos Arqueiros, e se seguisse para o sul voltaria a Payon.

Mas Tenko tomou o caminho do meio. Poucas pessoas seguiam por esse caminho. Ele

não dava em nenhum lugar especial. Terminava em uma estátua de uma divindade

local, e apenas isso. Era um local pouco visitado, e por isso mesmo ideal. A

assassina seguiu até a estátua, e lá encontrou uma jovem sacerdotisa de cabelos

verdes e sobrancelhas arqueadas.

 

 

“Você demorou!”, disse

ela. “Estou aqui te esperando, no frio, há muito tempo!”. Fechou a cara,

esticou o lábio inferior e cruzou os braços, demonstrando seu desagrado. Tenko

abriu um largo sorriso e caminhou em direção à sacerdotisa. Tomou-a nos braços

e beijou-lhe a testa delicadamente. “Me desculpe, Freya. Não vou mais me

atrasar”. Freya levantou a cabeça, e seus olhos castanho-esverdeados se

encontraram com os da assassina. “Você sempre diz isso e sempre se atrasa!” Em

resposta, Tenko beijou carinhosamente os lábios de Freya, e depois fez com que

a sacerdotisa apoiasse a cabeça em seu peito recoberto de bandagens. Prometeu

outra vez que não se atrasaria de novo, o que provavelmente não se realizaria,

pois a assassina não tinha boa noção da passagem do tempo. Freya sabia disso,

mas fingiu que acreditava. Suspirou conformada e perguntou a Tenko se queria ir

comer alguma coisa.

 

 

“Sim”, respondeu a

assassina. “Mas não agora. Espere um pouco... me deixe ficar com você alguns

minutos...”, disse, e deixou o corpo relaxar nos braços da sacerdotisa. Freya

começou a brincar displicentemente com os cabelos ondulados de sua companheira.

Ela gostava de ter Tenko em seus braços. A poderosa assassina de olhos

vermelhos, sempre tão alerta e desconfiada, agora totalmente vulnerável,

entregue, com a cabeça apoiada em seu ombro e os olhos fechados. Abraçou-a com

força e a ouviu sussurrar em seu ouvido:

 

 

“Te amo”.

 

 

“Também te amo”,

respondeu Freya, e beijou os lábios rubros da assassina. “Vamos comer alguma

coisa agora?” Tenko levantou a cabeça. “Certo... mas não quero chegar perto de estalagens.

Não são seguras”. A sacerdotisa revirou os olhos. Namorar uma assassina tinha

suas desvantagens. Tenko Kitsune era desconfiada, chegava a ser quase paranóica

na sua opinião. E por algum motivo, não gostava nem um pouco de estalagens. “O

que você sugere então?”, disse ela, com uma certa irritação na voz.

 

 

Alguns minutos depois

uma pequena fogueira crepitava em frente à assassina. Tranqüilamente ela

retirava a pele de um pequeno roedor que tivera a má sorte de cruzar seu

caminho, e mais dois já estavam assando sobre o fogo, atravessados em estacas

de madeira. Freya olhava a refeição com um certo nojo. Ignorando a expressão de

desgosto da namorada, Tenko terminou de remover as vísceras do animal,

espetou-o em uma estaca e postou-o sobre a fogueira. Verificou se os outros já

estavam bem cozidos. “Esse aqui já está bom”, concluiu a assassina, retirando

uma das estacas de perto da fogueira. “Fique com o primeiro, acho que você está

com mais fome que eu”, disse Tenko, abrindo um sorriso gentil e oferecendo o

roedor assado à sacerdotisa. Freya recuou alguns centímetros, a expressão de

nojo se acentuando ainda mais. “Qual é o problema, Freya? Isso é carne como

qualquer outra!”, reclamou a assassina, levemente ofendida. “Você limpa sua

comida com o mesmo katar que você usa pra cortar mortos-vivos?”, guinchou Freya

em resposta. Tenko

bufou, se sentindo ainda mais ofendida. “Eu limpo minhas jurs!”, reclamou.

“Além disso, estão assados! Eu sempre como assim e estou viva, não estou? Coma,

estou ouvindo seu estômago roncar daqui!”. E empurrou o espeto para mais perto

de Freya. A sacerdotisa resignou-se e deu uma dentada na carne. Tenko estava

certa, seu estômago estava roncando. “Não faz mal a ela que é uma assassina

acostumada a mexer com venenos...”, disse para si mesma. Não ousou falar em voz

alta. Tenko removeu um segundo espeto do fogo e começou a comer também, sentada

sobre as pernas cruzadas. Dividiram o terceiro roedor depois disso, e comiam em silêncio. De tempos

em tempos, Tenko colocava sua comida de lado e atiçava o fogo. Estava difícil

mantê-lo aceso naquele frio.

 

 

Terminaram de comer, e

Freya imediatamente foi se sentar ao lado de Tenko, que se aninhou em seus

braços como um filhote de gato. “Você até que não cozinha mal”, disse a

sacerdotisa, os dedos deslizando entre os fios prata-azulados do cabelo da

namorada. Tenko levantou a cabeça por um segundo e a beijou delicadamente,

voltando logo em seguida a se aninhar no colo de Freya. Quando estava assim,

não se importava se Primus ou Reiko a perseguiam. Não se importava se Shi no

Toge estava morto. Não se importava se seu pai havia mandado soldados para

caçá-la. Nos braços de Freya, o mundo era perfeito. Com sua amada sacerdotisa,

ela se sentia totalmente segura. Não apenas por causa da proteção de seus poderes

divinos, que a cada dia ficavam mais fortes. Havia algo a mais, algo que fazia

Tenko Kitsune, a assassina, ceifadora de vidas e destruidora de criaturas das

trevas, se entregar nos braços da sacerdotisa como uma criança desamparada.

Freya era seu refúgio, sua proteção. E agora ela se colocava em seus braços,

com a guarda totalmente abaixada. A sacerdotisa poderia fazer o que quisesse

com ela. Estava indefesa. Ela lhe pertencia. “Sou sua...”, murmurou a

assassina. Freya sorriu e em seguida a beijou calorosamente, fazendo cada pêlo

do corpo de Tenko se eriçar.

 

 

“Sabe, Tenko... estou

partindo para o norte, em direção ao Monte Mjolnir. Quero chegar em Al De Baran. Não quer

vir comigo?”, disse a sacerdotisa. Tenko sacudiu a cabeça afirmativamente.

“Quero sim. Payon está ficando pequena demais para mim. Derroto Sohees sem

dificuldades, Munaks e Bonguns não são mais desafio para mim. E zumbis e

esqueletos derrubo em um golpe só!”. Freya riu, e murmurou alguma coisa que

soou como “minha mocinha é tão forte”. “No entanto, uma coisa me intrigou”,

disse Tenko. “Na parte mais profunda da caverna vivem algumas criaturas que tem

forma de raposa, mas não são raposas. Os locais as chamam de Nove-Caudas,

porque esse é o número de caudas que elas tem. Elas costumam atacar as pessoas,

mas são cautelosas. Nunca atacam em fúria ou sem planejamento. Mas comigo...”

 

 

Tenko parou, pensativa.

“O que houve?”, perguntou Freya. “Quando uma delas me viu, travou no lugar,

como se estivesse petrificada por alguns momentos. Em seguida me atacou com uma

fúria demoníaca, rosnando e ganindo como um lobo do deserto esfomeado. E só

parou quando eu a matei. E todos os Nove-Caudas que encontrei reagiram do mesmo

jeito. Eles me odeiam por algum motivo que desconheço.”

 

 

“Deve ser porque tem

medo de você”, respondeu Freya, sorrindo e apoiando a cabeça no ombro de Tenko.

“As vezes eu me sinto tão diferente...”, sussurrou a assassina, acariciando

delicadamente as costas da namorada. “Eu nunca me queimo no sol, os monstros se

comportam comigo de modo estranho... e tem meus olhos, claro. São idênticos aos

da minha mãe. E ela era uma mulher estranha”. Tenko mudou de posição,

descruzando as pernas que já começavam a ficar dormentes. Apoiou as costas no

pedestal da estátua, colocando um dos braços por trás da cabeça. O outro

envolvia o corpo de Freya, que recostava a cabeça em seu peito. “Te contei do

surto de doença que deu no castelo do meu pai?” Freya afirmou com a cabeça.

“Pois é, o negócio parou quando minha mãe foi embora. De algum modo eu sei que

era culpa dela. Mas não entendo como...”

 

 

“De qualquer modo”,

disse Freya, levantando-se e beijando rapidamente os lábios da assassina, “Ela

teve uma filha maravilhosa”. Tenko sorriu e abraçou a sacerdotisa com força.

“Vamos andando?”, disse Freya. “Daqui a pouco vai começar a escurecer. Você vai

voltar pra casa dos Aintaurë, não?”. Tenko negou com a cabeça. “Já tenho tudo

que preciso aqui. Vou com você para o Monte Mjolnir, só preciso avisar a

família de Sethit. Não seria polido da minha parte desaparecer de novo”. “Te

acompanho até lá então”, disse a sacerdotisa. “Podemos passar a noite lá, faz

tempo que não vejo Sethit e Kuroi. E de manhã partimos”. Tenko concordou com a

cabeça. Levantou-se e estendeu a mão para ajudar Freya a se erguer. Colocou sua

capa carinhosamente sobre os ombros da sacerdotisa. Estava frio, e começava a

nevar. Mas Tenko não sentia frio algum. Estava muito feliz.

 

 

-----------------------------

 

 

O quarto estava quase

escuro. A armadura de Sir Secousse Primus se achava empilhada em um canto, e

suas roupas jogadas no chão. A luz fraca e avermelhada de algumas poucas velas

acesas iluminava os contornos corpo musculoso de Primus em cima da cama, com os

longos cabelos escuros soltos e caindo sobre seus ombros. Em seus braços havia

uma garota de cabelos louros e cacheados, ofegante, que gemia e arranhava as

costas do cavaleiro. Primus ofegava também, e gotas de suor escorriam da sua

testa. A garota gemia cada vez mais alto, e logo seus gemidos se transformaram

em gritos agudos. Cravava as unhas nas costas de Primus com toda a força. De

repente, parou.

 

 

“Porque você parou,

querido? Eu estava quase...”. Primus colocou um dedo sobre sua boca, indicando

silêncio. Ele ainda ofegava, apoiado em um dos braços sobre ela. Olhava para o

lado com uma expressão entre o ódio e o terror. Imóvel como uma estátua,

impassível, ao lado da cama, estava Reiko. Quando a garota viu o mago, soltou

uma espécie de guincho agudo e escondeu os seios com o lençol da cama. Primus

saiu de cima dela, rolando para o lado. Sentou-se na cama, o lençol cobrindo-o

até o quadril e o peito nu. “Como você entrou aqui?”, gritou.

 

 

“Você não está

cumprindo sua parte do nosso acordo, Secousse”, disse o mago, e sua voz

transbordava raiva. “Porque seus soldados não estão procurando a mestiça?”.

Levantou a cabeça e deixou à mostra os olhos azul-celeste. Eles refletiam o

brilho do fogo, e apesar da escuridão, as pupilas estavam contraídas. “E-eu

procurei! Eu juro que procurei!”, gaguejou o cavaleiro. “NÃO MINTA!”, trovejou

Reiko. Primus se encolheu um pouco e puxou os lençóis. “Vejo bem COMO você está

procurando!”, rosnou o mago, sondando com o olhar a garota de cabelos

cacheados. Em seguida voltou-se para Primus. “Você foi lento demais, Secousse.

A mestiça se juntou à Guilda dos Assassinos do Deserto de Sograt agora. E anda

acompanhada por uma sacerdotisa. Você sabe o que isso significa?” Primus acenou

a cabeça lenta e afirmativamente. “Significa que agora vai ser muito mais

difícil encontrá-la, cavaleiro estúpido! Se vista de uma vez e mande os inúteis

dos seus soldados começarem a busca!”

 

 

“Espera aí, maguinho.

Quem você pensa que é para me dar ordens em minha própria casa? E se eu não

estiver mais interessado nesse acordo?”, disse Sir Primus em um súbito arroubo

de coragem, endireitando a coluna e estufando o peito. Ao ouvir isso, o rosto

de Reiko se contorceu horrendamente. O mago abriu bem os olhos e arreganhou os

dentes. “HUMANO!”, rosnou ele, “PENSA EM QUEBRAR NOSSO ACORDO?”

Primus se encolheu outra vez, levantando o lençol até a altura do peito.

“Es-este acordo só est-tá sendo vantajoso para vo-vocês, Reiko!”, ganiu

baixinho o cavaleiro. “VANTAJOSO PARA NÓS?”, trovejou o mago. “VOCÊ NÃO MEXEU

UM DEDO DESDE QUE FIZEMOS NOSSO ACORDO, HUMANO INÚTIL! NÓS É QUE ESTAMOS TE

DANDO UMA OPORTUNIDADE DE REALIZAR SEU ESTÚPIDO FETICHE! EM TROCA DISSO PEDIMOS

APENAS PARA ACELERAR UM POUCO NOSSA BUSCA, PORQUE MESMO TENDO SOLDADOS EM MAIOR QUANTIDADE QUE

NÓS, VOCÊS HUMANOS PARECEM NÃO CONSEGUIR ENXERGAR UM PALMO DIANTE DO NARIZ!!!”

 

 

Reiko se aproximou do

cavaleiro com passos firmes, e uma de suas mãos finas e delicadas agarrou com

força o pescoço de Secousse, obrigando-o a levantar o queixo e olhar

diretamente em seus olhos. E então sussurrou com uma voz tranqüila, porém

horrivelmente ameaçadora:

 

 

“Não se esqueça,

Secousse Primus, que você prometeu. E a promessa não foi feita a mim, e sim à

minha Senhora, Lady Irina! E é com Lady Irina que vai se ver se não cumprir o

que prometeu.”

 

 

Primus engoliu em seco,

seu pomo-de-adão subindo e descendo visivelmente. Concordou assustado com a

cabeça. “Melhor assim”, disse Reiko sorrindo, e saiu do quarto tranqüilamente,

fechando a porta atrás de si. Primus saltou da cama e se vestiu rapidamente.

Colocou a armadura, jogou a espada nas costas e saiu correndo, batendo a porta,

sem dizer uma única palavra. A garota loura ficou sozinha no quarto,

boquiaberta, ainda nua e segurando o lençol sobre os seios.

 

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Essa fic já anda por aqui faz tempo, e eu vez por outra passava os olhos no título do tópico, sem dar muita importância. Hoje, por volta das oito da noite, me pus a ler. Eu sou do tipo que demora a encontrar empolgação pra ler histórias, principalmente as mais compridas e um tanto pessoais. Mas quando leio as primeiras linhas e o conteúdo me agrada, eu grudo na leitura e só paro quando acabo, devorando as linhas como um louco.

Sinceramente, ou é muita modéstia ou é muita modéstia. Não consigo imaginar o que seria "escrita ruim" na sua fic. Concordância, gramática, se for isso então tá. Mas mais do que isso, o que importa é o enredo, e não é qualquer escritor que consegue criar uma história que joga imagens na cabeça de quem lê, e que faz a gente se sentir dentro da história. Eu consigo ver nitidamente o filme enquanto leio.

Espero que não demorem os próximos capítulos. Eu não gosto de fazer avaliações comparativas, acho que cada história tem seus méritos particulares e não relacionados. Mas como é mera opinião e eu sempre faço observações com intenção construtiva, acho que não preciso esconder o que eu senti até agora.

 

(Tá melhor que Morroc Saga ^^)

 

Parabéns pelo talento, quem dera eu o tivesse.

Aguardando a continuação da  história \o/

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    Fantástico!    Acabei de conhecer o universo das Fanfics de Ragnarok e já estou fascinado coma história da Tenko Kitsune, devorei todos os capítulos disponíveis em uma tarde e me senti obrigado a vir aqui dizer parabéns pelo ótimo texto!    Estou aguardando pelos próximos capítulos.

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Uma das coisas que mais chama minha atenção em fanfics é a raiva pelo vilão.

Cara, deu vontade de esfolar a Freya com um fio dental (não a real é claro, falo da personagem).

Antes disto, só o desenho Avatar conseguiu =P

Outra coisa que queria sugerir é mudar o título da fic. E caramba, O Mundo Visto Através de Olhos Vermelhos... '-'

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  Tenko, demora muito pra chegarem suas férias?
Dia 20 entro em férias, se tudo der certo.

 

notei uma coisa:

*Assassinos são piedosos, jamais deixam seus inimigos aleijados ou inválidos, para sofrer pelo resto da vida. Simplesmente encurtam sua estadia em Midgard.*

hummm, sabe , tem um assasino aqui chamado pdrk que talvez não siga isso com muito zelo..., é só olhar seu tópico por uns minutos   

Essa é a graça de ler fanfics. Cada pessoa tem uma visão um pouquinho diferente sobre aspectos do jogo, criando histórias únicas a partir de uma referência comum. 
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Ai ai... só tenho mais UM capítulo completo. Acho que vou postá-lo em breve. E aí vou ter que escrever.

Só mais um![/uau]

Isso quer dizer que você tem outros incompletos? Mesmo assim, você parou neste ponto da história? Do jeito que as coisas estão?

Por favor Nhyx, não deixa ela parar outra vez!

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Isso é sério? Não, espera, eu devo ter entendido errado. Você está mesmo se voluntariando como escudo humano da Tenko contra toda a armada flooder desse fórum? Se for isso mesmo, eu só tenho uma pergunta: O que diabos tu bebeu, parceiro??? Me fala que bebida foi essa, porque deve ser da boa, pra tu assinar um contrato de suicídio desses.

Em todo caso, vai ser legal. Ganhei uma vítima nova pra testar minhas armas (leia Histórias de um Mercenário muito louco pra entender o porquê da minha felicidade em você ser um alvo). Acho que vou me divertir muito...

 Bem, se fosse 2 ou 3 anos atrás eu teria bem mais medo da Armada flooder...Os mais perigosos pararam.Alvo, huh? Come on!
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 O Firefox não gosta do meu texto. 

 

 

 

-------------------------------------------------------------- CAPÍTULO 23 - O INÍCIO DE TRÊS

JORNADAS 

 

 

 

 O som oco de três

batidas na porta de madeira indicava que alguém desejava entrar no quarto.

 

 

 - Será que é o café da

manhã? Estou com fome! -, disse Kuroi alegremente, vestindo sua camisa leve de

ferreira e esfregando o sono dos olhos. Era uma manhã nublada e pálida, comum

na cidade flutuante de Juno. Kuroi Yuri já estava em Juno havia tempo

suficiente para perder as esperanças de ver uma manhã ensolarada. Não havia

visto a luz dourada do Sol desde que havia se hospedado naquela estalagem

barata em um beco da Cidade dos Sábios, desde a noite em que Tenko Kitsune

e Secousse Primus haviam se enfrentado no coração da Floresta de Payon. A

ferreira não se ressentia do confinamento. Era caseira por natureza e apreciava

uma rotina organizada. Já havia quase se conformado com a situação, ao

contrário de suas companheiras de quarto, a caçadora Sethit Aintaurë, que

suspirava tristemente a falta das árvores verdejantes de Payon, e Nhyx, a

ladina, que nos últimos dias estava irascível e explosiva. Kuroi fazia o

possível para acalmar suas companheiras, mas sentia que suas tentativas apenas

pioravam a situação.

 

 

 Kuroi Yuri no fundo

sentia-se culpada, e por isso se esforçava tanto para animar suas amigas. Ela

estava feliz, mais feliz que nunca, devido aos seus furtivos encontros noturnos

com seu amante. Estava ficando cada vez mais difícil dizer para Sethit não

soltar o falcão e, na calada da noite, desobedecer às suas próprias regras.

Sentia-se uma traidora e temia não suportar a mentira por muito mais tempo. Uma

hora acabaria caindo em contradição ou deixando uma palavra comprometedora

vazar por entre seus lábios. A ferreira resolveu então se concentrar apenas no

momento e na sua própria fome.

 

 Mais três batidas soaram

da porta. Kuroi estendeu a mão em direção à maçaneta, mas antes que pudesse

tocá-la, os dedos ágeis de Sethit se fecharam em torno de seu pulso. A jovem

loura voltou-se para a caçadora, mas antes que pudesse perguntar a razão

daquele ato, a outra mão de Sethit cobriu seus lábios. Então a caçadora soltou

seu pulso e apontou o falcão de caça empoleirado na cabeceira de uma das camas.

A ave tinha as penas arrepiadas. Seu bico estava entreaberto, e pequenos

espasmos em suas asas indicavam que estava pronta para voar. Olhava fixamente

para a porta, e havia agressividade em seus olhos ambarinos. Algo atrás da

porta ameaçava a integridade física de Sethit Aintaurë. O falcão sabia disso, e

estava pronto para atacar o inimigo. A caçadora recuou, puxando Kuroi consigo.

Seu Gakkung estava apoiado em um dos lados da cama, assim como sua alijava.

Sethit rapidamente passou a alça da alijava pelo ombro e apanhou o arco.

Escolheu entre suas flechas uma com afiada ponta de oridecon puro. Abriu as

pernas, firmando os pés no chão, e retesou a corda do Gakkung.

 

 

 

 Mas três batidas. Dessa

vez mais fortes. Quem quer que estivesse do outro lado da porta, estava ficando

impaciente. Kuroi recuou para trás de Sethit, tomando cuidado para não ficar no

caminho de seu cotovelo caso a flecha de ponta azul-metálica tivesse de ser

disparada. Horus, o falcão branco, se eriçou ainda mais, deixando escapar de

seu bico uma espécie de sibilo intimidador. Sethit continuou firme em sua

posição. Passaram-se uns poucos minutos de silêncio e então a velha e carcomida

porta do quarto ardeu em chamas, rapidamente se transformando em um amontoado

de cinzas e uma nuvem de fumaça escura, que rapidamente se dissipou, permitindo

a Sethit e Kuroi uma visão do autor da obra flamejante. Era um rapaz de físico

delgado, com o corpo quase inteiro coberto por um longo manto cor de areia, com

estranhas figuras bordadas em linha escura. O pouco que podia se ver por baixo

do manto parecia ser parte de um colete escarlate, que também ostentava

bordados, estes feitos com linha dourada. Usava uma calça simples, marrom, e

sapatos de couro. Uma das mãos se estendia para fora da capa. Estava vestida

com uma luva negra, que a cobria até a metade do antebraço e tinha os mesmos

desenhos dourados do resto da indumentária. Esta mão segurava um cajado de

madeira retorcida, com uma pedra amarela e translúcida na ponta. A outra mão

estava oculta dentro da capa, mas é fácil de se imaginar que também estivesse

coberta por uma luva. Estes detalhes de vestimenta, mais o fato de que aquele rapaz

havia incendiado a porta, e apenas a porta, com incrível facilidade diziam que

ele pertencia à classe dos Bruxos da Torre de Geffen. E seus cabelos dourados e

sedosos, sua tez pálida, seus olhos azul-celestes e seu sorriso sarcástico

diziam que se tratava de ninguém menos que Reiko.

 

 

 

 - Ora ora, vejo que nos

encontramos outra vez! Como estão, meninas? -, disse o bruxo, sarcástico.

Sethit retesou ainda mais seu braço, fazendo o arco gemer. A ponta da flecha

estava perfeitamente alinhada com o espaço entre as sobrancelhas de Reiko.

Sethit jamais erraria daquela distância, e havia força o bastante na corda para

fazer a flecha atravessar o crânio do bruxo. Horus também estava em prontidão,

apenas esperando que sua companheira de caça fizesse o primeiro movimento. As

mãos de Sethit eram firmes, e seus dedos eram fortes. Bastava abrir a mão,

bastava soltar a flecha, e Reiko cairia imediatamente. Mas Sethit hesitou. - Vai atirar isso em

mim, senhorita Aintaurë? Acho que não.

 

 O bruxo sorriu e se

aproximou de Sethit, que retesou ainda mais o braço. Se puxasse um pouco mais,

arrebentaria a corda. Mas Sethit não soltou a flecha. Gotas de suor escorriam

por sua face. Reiko se aproximou mais, e tocou a ponta da flecha delicadamente

com o dedo indicador.

 

 - É bem afiada, não é?

Poderia me matar facilmente. Olhe para mim! Sou apenas um bruxo! -, disse isso

e abriu os braços, expondo o tórax. – Não uso armadura! Veja como é fácil me

matar!

 

 O bruxo sorriu, cínico.

 

 - Mas você não pode me

matar, Sethit Aintaurë. Você é capaz de se embrenhar na mais sombria das

florestas e de enfrentar a maior e mais feroz das bestas, mas não é capaz de

matar um humano macio e indefeso!

 

 - Você não é humano,

metamorfo! A mim você não pode enganar! -, disse Sethit com firmeza. – Eu nasci

e fui criada em Payon.

Conheço sua raça!

 

 - Nem você é, mestiça

de elfo! Quantos humanos totalmente puros você acha que existem nesse mundo? -,

retrucou o bruxo, sem tirar o sorriso do rosto e olhando Sethit fixamente nos

olhos. – E acha que conhece minha raça? Conhece meia dúzia de histórias que os

velhos contam para criancinhas impressionáveis. Tão prepotente!

 

 - Eu já abati dezenas

dos seus, raposa! Seu couro fez a bainha da minha faca e a alça da minha

alijava! – Sethit suava. Estava assustada. Não era típico dela esse tipo de

ameaça vazia. Havia conhecido o povo-raposa de Payon apenas o suficiente para

saber que as histórias dos anciãos tinham algum fundamento. Nunca havia estado

tão perto de um deles sem que este tivesse uma flecha varando seu corpo.

 

 - Então conhece o

povo-raposa de Payon, senhorita Aintaurë? Qual deles? Aquele artesão decrépito

que faz máscaras? Ou será que conhece apenas os que foram alvo de suas flechas?

E veja como é engraçado! Você não pensa duas vezes antes de disparar contra o

povo-raposa da Caverna de Payon! Se sabe que sou um deles, porque não solta

essa flecha? Será que sou especial?

 

 Reiko tocou suavemente

a mão da caçadora e a fez abaixar o arco. Sethit não resistiu.

 

 - Sabe porquê você não

pode atirar em mim, Sethit Aintaurë? Porque você confia demais nos seus olhos.

Sua mente sabe que não sou diferente das raposas que forneceram a bainha da sua

faca e a alça da sua alijava. No entanto, eu pareço humano, e por isso seus

olhos confundem sua mente, e a impedem de atirar sua flecha. Você é fraca,

Sethit Aintaurë. Você é fraca, pois confia mais nos olhos que na mente. Você é

o tipo de pessoa com o qual meu povo costuma se divertir, pois facilmente caem

vítimas de nossas ilusões. Tão fraca que nem mesmo seu sangue elfo consegue

impedi-la de cair na armadilha que seus próprios olhos armaram para você!

 

 - Pare com isso! -,

gritou Kuroi, avançando alguns passos e apoiando as mãos nos ombros da

caçadora, que havia deixado cair o arco e a flecha.

 

 – Não machuque minha

amiga!

 

 - Ninguém aqui vai se

machucar, senhorita -, disse Reiko, cortês. – Apenas me sigam e façam o que eu

disser, e nenhuma de vocês será ferida.

 

 - Não! Tenko me falou

sobre você, raposa! Não acredito em suas palavras! -, gritou Sethit.

 

 - Vai ficar tudo bem,

Sethit -, retrucou a ferreira. – Reiko! Prometa que não vai fazer mal a nenhuma

de nós! Prometa!

 

 Reiko olhou fixamente

nos olhos verdes de Kuroi. A ferreira sustentou o olhar. O bruxo bufou e

revirou os olhos.

 

 - Está certo. Prometo.

Agora acordem sua amiguinha ladina e vamos sair daqui logo -, disse o mago,

apontando para a cama onde Nhyx dormia.

 

 “É verdade”, pensou

Kuroi, “como a Nhyx não acordou com todo esse barulho?”. Dirigiu-se até a cama

com um pressentimento incômodo e puxou as cobertas sem cerimônia.

 

 Debaixo das cobertas,

uma pilha de almofadas, garrafas vazias de poção e outros objetos,

cuidadosamente organizados para dar ao amontoado um formato mais ou menos

humano, e um pedaço de pergaminho rasgado.

 

 “Achar Tenko. Nos vemos

outra hora”. Era tudo que ele dizia. 

 

 ---------------------------------------------------------------- 

 

 - Nhyx...

 

 Sentada na borda do

planalto de pedra fria e cinzenta, Tenko Kitsune fitava o abismo nublado abaixo

de si. O vento gelado fustigava seu rosto e embaraçava seus cabelos, mas ela já

não sentia frio. Perdida em pensamentos, a assassina só percebeu a presença da

dama às suas costas quando esta apoiou a mão em seu ombro. Virou-se para trás,

seu coração desejando, futilmente, encontrar Nhyx. Mas o que Tenko encontrou

foi um par de tristes olhos cor-de-tempestade.

 

 - Brynhildr?

 

 Devia ter imaginado.

Não era possível confundi-la com Nhyx. Brynhildr emanava uma espécie de aura

imponente e poderosa. Nhyx não. E Nhyx possuía um odor levemente adocicado,

sedutor e inconfundível. Além do mais, era totalmente ilógico imaginar, mesmo

que por apenas um segundo, que Nhyx fosse aparecer em cima daquela montanha.

Tenko censurou-se. Andava muito ilógica ultimamente.

 

 Notou que sua voz,

normalmente forte e altiva, estava alterada, confusa e levemente esganiçada.

Brynhildr sorriu para ela. Silenciosamente, retirou dos ombros seu longo manto

de penas alvas e o colocou sobre os ombros da assassina. E então sentou-se ao

seu lado. Ainda trajava sua armadura completa, das grossas grevas de aço ao

majestoso elmo de chifres. Tinha em uma das mãos um prato com alguns bolinhos

de arroz, e os oferecia a Tenko.

 

 - Achei que poderia ter

fome, Tenko Kitsune, depois de receber tanta informação.

 

 - Espero que eles sejam

mais fáceis de digerir que as histórias daquela raposa velha -, disse Tenko,

apanhando um bolinho e cravando nele seus dentes. Mastigou com pressa e jogou o

resto do petisco na boca antes mesmo de engolir a porção anterior. Apanhou mais

um bolinho e se enrolou no manto. Ele a protegia do vento, era macio e lhe dava

uma sensação de conforto. Enfiou o segundo bolinho inteiro na boca, mastigando

devagar desta vez. Brynhildr apanhou um bolinho também, com certa

dificuldade por causa das manoplas. Mordeu-o delicadamente.

 

 - Imagino que esteja

confusa, jovem guerreira. Akari Myobu é dona de muita sabedoria, mas a sutileza

está longe de ser sua característica mais marcante.

 

 - Um pouco... -,

respondeu a assassina, de boca cheia – Não entendi boa parte do que ela falou.

Mas entendi muito bem a parte sobre me jogar em uma missão suicida, contra uma

espécie de demônio devorador de almas de quase mil anos de idade que, aliás, é

minha mãe. Eu digo que isso não passa de loucura, mas uma parte de mim insiste

em acreditar.

 

 - Akari Myobu diz a

verdade -, disse tranqüilamente a amazona. – Mas perdoe, Tenko Kitsune, seu

modo de dizê-la. Ela está preocupada com o futuro do templo e a segurança de

seus discípulos. Ela sabe que seu punho não tem força suficiente para enfrentar

sozinho a ameaça que se aproxima e então colocou todas as esperanças em sua

lâmina, Tenko Kitsune.

 

 - Ela está me pedindo

para assassinar a minha mãe!

 

 - Porque você é a única

que pode.

 

 - É. Ela disse isso.

Mestiça. Pai escolhido a dedo. Como uma droga de pecopeco de raça.

 

 Tenko bufou. Será que a

amazona tinha vindo até ali apenas para repetir tudo que Myobu já havia dito?

 

 - Qual é o seu

interesse nisso, Brynhildr? -, perguntou a assassina. – Está tentando me

arranjar uma morte heróica?

 

 - Você não morreria.

Lutaria ao lado de Akari Myobu, e dos melhores discípulos do templo. Esta criatura

deseja apenas remodelar tudo à sua maneira. Não a considera uma ameaça ao

equilíbrio do mundo?

 

 - A Humanidade não

remodela tudo à sua maneira? -, retrucou a assassina – Seguindo sua lógica, a

Humanidade é uma ameaça ao equilíbrio do mundo?

 

 - Sim, se passarem dos

limites. E é para isso que vocês existem, não é? -, disse Brynhildr, com um

leve sorriso no canto da boca.

 

 A amazona, apesar de

Tenko odiar admitir o fato, tinha razão. Ela era uma assassina: A Sombra da

Morte. Mas não deveria nunca se esquecer de que um assassino não é um matador

aleatório e sem objetivo. Um membro da Guilda dos Assassinos do Deserto de

Sograt é, antes de tudo, um defensor do equilíbrio do mundo. Se o mal

prevalecer, destruir o que é mau. Se o bem prevalecer, destruir o que é bom.

Este é o objetivo original da guilda, um pouco perdido talvez, depois de

algumas gerações de assassinos egocêntricos e incompetentes. A Guilda dos

Assassinos prega o caminho da neutralidade e do equilíbrio, e tem firme crença

de que o bom só é bom se comparado ao mau, de que luz só brilha se posta ao

lado da sombra.

 

 - Você tem razão,

Brynhildr. Como sabe disso tudo?

 

 - Sou... fui uma

Valquíria. Já levei muitos assassinos para a morada de Odin.

 

 Tenko levantou as

sobrancelhas por um instante e logo em seguida um leve suspiro. Havia se

esquecido do serviço que Brynhildr havia prestado a Odin antes de ser banida do

Valhalla. Abraçou os joelhos com força, pensativa.

 

 - Myobu deve estar

furiosa comigo -, murmurou a assassina, avaliando mentalmente todas as possibilidades

de caminhos que poderia escolher. – Eu a tratei horrivelmente.

 

 - Não. Ela está

acostumada. Tem muitos discípulos jovens e suscetíveis a arroubos furiosos.

 

 Tenko não retrucou o

comentário sobre seu arroubo furioso, embora as palavras de Brynhildr fossem

como agulhadas em seus tímpanos. Envergonhava-se de sua atitude, e disse isso à

amazona.

 

 - A raça dos kitsune é

ainda mais dada a arroubos emocionais que a dos humanos, jovem guerreira. É um

feito grandioso para Akari Myobu, kitsune de sangue do mais puro, atingir a

serenidade dos monges. Kitsune são criaturas do fogo, e seus espíritos ardem em chamas. Isso se

reflete em suas personalidades. Sua personalidade explosiva, Tenko Kitsune, se

deve em parte ao seu sangue mestiço. Além do mais, você é muito jovem ainda. O

que você fez é comum àqueles de sua faixa etária. Não há do que se envergonhar,

e não fique se recriminando assim. Apenas não repita o erro.

 

 - Devo me desculpar com

Akari...

 

 - Então o faça.

 

 Tenko assentiu com a

cabeça. Ergueu-se de supetão e devolveu o alvo manto para sua dona. E então

caminhou contra o vento, altiva e imponente, em direção à porta do templo.

Brynhildr sorriu docemente. - Você também, Tenko Kitsune, tem um espírito de fogo -, murmurou ela

para si mesma.  --------------------------------------------------------------- O

noviço puxou instintivamente a gola do hábito, com a intenção de alargá-la. Seu

corpo estava suado e dolorido, mas ainda assim segurava firmemente sua maça.

Sentia a arma escorregar de suas mãos, e tinha vontade de secá-las nos

fundilhos de suas calças, mas sabia que soltar sua arma estava fora de

cogitação.

 

 Apertou

mais o cabo da maça. Grandes gotas salgadas escorriam por sua cabeça raspada, e

sua cauda ruiva e felpuda se sacudia nervosamente. Dobrou os joelhos e retraiu

os cotovelos. Sua adversária não se moveu. Ao contrário do noviço, ela

permanecia tranqüila. Seus lábios exibiam um sorriso sereno. O noviço dobrou

ainda mais os joelhos e respirou profundamente, enchendo seus pulmões com o ar

frio da montanha. Concentrou-se na adversária. Queria atingi-la na cabeça. Seus

braços relaxados, estendidos ao longo do corpo, não seriam velozes o bastante para

protegê-la do golpe. Expirou e inspirou mais uma vez, e então saltou, deixando

um grito agudo e selvagem escapar de sua garganta. O corpo do noviço elevou-se

no ar, enquanto ele contraía a musculatura de seus braços, para depois solta-la

com toda a força que pudesse sobre o topo da cabeça da monja. A maça era apenas

uma extensão de seus punhos.

 

 O

noviço então sentiu o impacto das suas costas chocando-se contra o chão. O grito

foi interrompido pelo som de seus pulmões esvaziando-se subitamente quando seu

lombo bateu contra a pedra dura e cinzenta. A maça voou longe. Assim que sua

visão embaralhada voltou ao normal, ele vislumbrou uma esfera luminosa e

esbranquiçada a poucos centímetros de seu nariz.

 

 -

Mais precisão, Gengoro. Concentre-se mais. -, disse Akari Myobu na língua de

Amatsu, retraindo o braço que segurava a esfera. Jogou-a para o alto e a

agarrou novamente, e então a esfera desapareceu. Sua luz se manteve refletida

na palma da monja, brilhando azulada por um segundo antes de não haver mais nenhum

sinal de sua existência.

 

 -

Mas eu já estou me concentrando tanto que minha cabeça dói, Myobu-sensei! -,

respondeu Gengoro, sentado no chão e massageando as costas doloridas com os nós

dos dedos. O noviço levantou-se e andou desconjuntado até sua maça. Apanhou-a

do chão e voltou-se novamente para Myobu. E nesse instante, foi atingido no

estômago por uma pequena esfera luminosa, mais ou menos do tamanho de um punho

de criança. O impacto o fez cair sentado.

 

 -

De novo! -, gemeu o noviço. A monja sorriu, mostrando os dentes brancos.

 

 -

O treino acaba quando eu disser que acaba, Gengoro! -, disse ela, avançando

velozmente na direção do noviço. Com um grito agudo, que lembrava vagamente o latido

de uma raposa, ela o atingiu no peito com a palma de sua mão no exato momento

em que ele acabara de se levantar. Gengoro caiu sentado mais uma vez. Myobu

aumentou seu sorriso.

 

 -

Você é alto como uma árvore e delicado como uma flor! Firme seus

pés no chão! -, gritou a monja, aparentemente se divertindo com a situação. O

noviço, porém, agiu rapidamente. Rolou para trás, caindo agachado sobre suas

pernas, e aproveitou a força elástica para saltar sobre Myobu, urrando

furiosamente. A maça teria atingido em cheio o nariz da monja, caso ela não

houvesse bloqueado o golpe com as mãos.

 

  -

Bem melhor assim! -, exclamou ela, contente, enquanto o noviço se recuperava do

impacto. – Não fosse essa maça apenas um pedaço de madeira para treinamento, eu

provavelmente teria alguns dedos quebrados agora. Ainda assim, você precisa ser

mais rápido se quiser aprender a técnica dos combos. E mais uma coisa...

 

 Myobu

deu um passo lateral, jogando uma perna para frente e usando-a de apoio para

rodar o corpo e se posicionar atrás do noviço. Agarrou a frondosa cauda ruiva

de Gengoro e, aproveitando a inércia da rotação, a puxou, fazendo o jovem cair

de bruços.

 

 -

Pratique mais sua metamorfose e esconda essa cauda. Você não quer que ela seja

cortada em uma batalha.

 

 Gengoro

concordou com a cabeça. Girou a maça de madeira nas mãos e já se preparava para

outro ataque, mas foi distraído pela presença da estranha que se aproximava.

Era uma mulher esguia, trajada em trajes típicos de Amatsu feitos de tecido

negro. Gengoro aguçou os olhos e se concentrou nas feições da recém-chegada.

Parecia ser bastante jovem, mesmo para uma humana. Seus quadris eram estreitos,

e mal se podia perceber seu busto. Pelas bainhas de couro escuro penduradas em

suas coxas, o noviço deduziu que era uma guerreira, embora nunca houvesse visto

armas daquele formato. Devia ser uma estrangeira. Andava de modo imponente. Ela

parou por um momento, ereta, suas mãos apoiadas nas empunhaduras de suas armas.

E então se deslocou velozmente em sua direção. Ao passar por ele, a estranha o

olhou no rosto por um segundo, segundo em que Gengoro sentiu o

sangue gelar. Os olhos da jovem estrangeira tinha íris vermelho-escarlate, e

seu olhar era duro. O noviço arfou, e o ar fresco do topo da montanha havia

sido impregnado com o leve odor acre de sangue que se desprendia da pele da

estrangeira. Suas narinas tremeram, e ele pode sentir os pêlos de sua cauda se

arrepiarem um a um.

 

 A

estranha não deu atenção para ele por mais que um segundo. Logo virou o rosto e

deu-lhe as costas, sacudindo seus longos cabelos ondulados. “Olhos como sangue,

cabelos como o luar”, pensou Gengoro, enquanto o sangue fugia de seu rosto. Era

aquela a descrição da fera selada naquele templo, repetida nas história

contadas por discípulos mais velhos, histórias sobre os antigos mestres Myobu e

suas lutas ferozes para aplacar a ira do tal demônio.

 

 Paralisado pelo medo, Gengoro

assistiu impotente à mulher de olhos duros se aproximar de sua mestra. A

estrangeira disse alguma coisa para Myobu na língua de Midgard. Ele era capaz

de reconhecer apenas algumas palavras daquela língua, mas percebeu, para sua

surpresa, que o tom da voz da estranha não trazia ameaça. Ela possuía uma voz

grave, levemente rouca e tão dura quanto seu olhar, mas o tom de seu discurso era

humilde. Entre as palavras desconhecidas da língua do continente, Gengoro pôde

identificar uma delas: perdão. 

 

 ----------------------------------------------------------------

 

  -

Peço perdão pela minha atitude, Akari Myobu. Eu fui infantil e grosseira.

 

 Tenko

Kitsune lutava contra seu orgulho, mas suas palavras eram sinceras. E lhe dava certo

alívio pedir desculpas quando sabia que havia errado. A monja tocou

delicadamente seus ombros e sorriu seu sorriso sereno, fitando gentilmente os

olhos da assassina.

 

 -

Sabia que voltaria, jovem Tenko-san. Sim, perdôo sua explosão. Fosse menor

minha urgência em tê-la lutando ao meu lado, seria mais cuidadosa com minhas

palavras.

 

 -

Confesso que ainda estou confusa. Não sei se devo colocar minhas lâminas à sua

disposição, monja. Preciso de tempo para refletir. -, disse Tenko, coçando a

cabeça.

 

 -

Tem o tempo que quiser, jovem guerreira de olhos rubros, pelo menos enquanto

durar o selo que lacra a nogitsune. Enquanto essa hora sombria não chegar,

sinta-se em casa em meu templo. No entanto, gostaria de ter sua companhia em

meu treinamento de combate. Quero ver como luta a assassina do oeste. E ouso

dizer também que essa velha monja possa ter um truque ou dois para ensinar. -,

disse a raposa, alongando os braços e estalando os dedos.

 

 -

Aceito a proposta.

 

 -

Descanse por hoje então, Tenko Kitsune. Amanhã, caso se sinta disposta,

treinaremos juntas.

 

 Tenko

assentiu com a cabeça, seus lábios se contraindo para formar um meio-sorriso.

Altiva e orgulhosa, se retirou para seus aposentos, sob o olhar assustado do

jovem discípulo de Myobu.

 

 -

Quem era ela, Myobu-sensei? -, perguntou Gengoro, ainda pálido.

 

 -

Uma assassina. Uma esperança. -, respondeu a monja.

 

 ----------------------------------------------------------------

 

 O

velho vendedor de petiscos que rondava a praça leste de Juno contava, ávido, um

punhado de moedas em suas mãos. Desde que certo cavaleiro de Rune-Midgard havia

mandado suas tropas procurarem sabe-se lá quem em Juno, os negócios haviam

melhorado muito. Os soldados famintos estavam sempre dispostos a comprar seus

biscoitos ou bolinhos fritos depois de um dia inteiro de ronda. Tinham bolsos

de nobre e apetite de poring, aqueles soldados, e andavam sempre em bandos. Aquele dia

havia sido especialmente lucrativo, pois um grupo particularmente esfomeado de

soldados havia comprado todo o seu estoque. Ostentando um sorriso que quase

partia sua cabeça ao meio, o pequeno e enrugado mercador voltava para casa

naquele final de tarde.

 

 Sentados

nos bancos da praça, os corpulentos soldados do clã Primus não voltariam para

casa àquela noite. Disputavam uma grande bandeja de bolinhos fritos e biscoitos

doces, cada qual, em meio à sua fome, tentando garantir para si uma parte maior

que a dos outros. Para isso, enfiavam nas bocas o máximo possível de comida,

até o ponto em que era difícil mastigar, e por isso mastigavam ruidosamente e

com as bocarras abertas, cuspindo migalhas douradas que se destacavam sobre

suas túnicas negras. De tempos em tempos limpavam os bigodes com as costas das

mãos ou com as mangas da vestimenta. Assim, em menos de dez minutos não havia

na bandeja nem mesmo migalhas para os pardais que freqüentavam a praça, pois os

esfaimados soldados as haviam comido também.

 

 Soltando

pequenos suspiros de satisfação, os homens se deixaram largar nos bancos, dando

tapas nas barrigas e lambendo as ultimas migalhas dos lábios. Não percebiam a

sombra cinzenta que os observava silenciosamente de cima do telhado de uma casa

próxima.

 

 A

sombra sacudiu o corpo, notando o incômodo em seu estômago. Ela tinha fome.

Seria fácil furtar comida tanto dos soldados quanto do mercador, mas havia

perdido sua chance. Ainda podia se lembrar do cheiro convidativo dos bolinhos

dourados, e isso a irritava. Mas preferiu ignorar sua fome. Havia coisa mais

importante a fazer. Aguçando os ouvidos, a sombra começou a prestar atenção na

conversa que os soldados haviam acabado de iniciar.

 

 Sentou-se,

tranqüila, na borda do telhado. Colocou o elmo em seu colo e jogou por cima de

um dos ombros a longa trança que prendia seus cabelos. Não havia o que temer.

As pessoas da Cidade dos Sábios não estavam acostumadas com a presença de

ladinos, e dificilmente ela seria notada.

 

 Passou

um bom tempo escutando a conversa. Falavam sobre certa mestiça de olhos

vermelhos, assunto que lhe interessava. Mas contavam apenas lendas e histórias

sem fundamento. Um deles dizia que a mestiça em questão possuía chifres e

cuspia fogo. Mentiras deslavadas. A mestiça possuía chifres, mas em uma tiara.

E fogo existia apenas em seu temperamento instável. A ladina continuou

esperando pacientemente, ouvindo os contos de fadas dos jovens guerreiros, um

após o outro. Mal pode conter um riso de desprezo enquanto um deles afirmava já

ter estado face a face com a mestiça e mostrava aos outros uma longa cicatriz em

seu braço, que dizia ter sido obra de suas lâminas. Mentiras. Tenko Kitsune, a

mestiça, nunca havia deixado escapar viva uma presa. Não, Tenko Kitsune era um

perfeito exemplo de membro leal da Guilda dos Assassinos do Deserto de Sograt.

Impiedosa, eficiente, letal.

 

 “Mas

não para mim”, pensou a ladina. Para ela, Tenko Kitsune era apenas uma jovem

mulher apaixonada. Chegava a ser gentil, embora parecesse ter dificuldade para

realizar atos de gentileza. Tenko era uma pessoa de semblante duro e coração

mole, embora muito poucos soubessem disso. Os olhos verdes da ladina ficaram

nublados enquanto ela revivia mentalmente os escassos momentos onde ela e sua

gentil mestiça puderam estar juntas.

 

 -

Acho que ouvi aquele Reiko dizer alguma coisa sobre levar a mestiça pra Amatsu.

Contanto que mantenham ela bem longe de mim, qualquer lugar está bom!

 

 Os

ouvidos da ladina se aguçaram, e ela foi arrancada de seus devaneios pela grave

voz masculina. Amatsu. O nome era familiar. Demorou alguns segundos para se

lembrar da distante ilha oriental.

 

 “É

muito longe!”, disse para si mesma, mordendo o lábio inferior. E nem mesmo

sabia se a informação era confiável. Refletiu por um segundo, brincando com a

ponta da trança entre os dedos. Era uma informação vaga, mas era a única pista que

tinha e resolveu segui-la.

 

 Calculou

mentalmente as despesas da viagem. De qualquer modo precisaria atravessar a

fronteira de Rune-Midgard a pé, pois esta estava protegida. Se atravessasse o

Monte Mjolnir e a Floresta de Payon caminhando demoriaria mais de um mês para

chegar até o porto de Alberta, de onde poderia tomar um navio para Amatsu. Se

pudesse pagar, caminharia até Al De Baran, o que levaria apenas dois dias em

marcha rápida, e de lá procuraria um sacerdote que pudesse lhe vender um portal

para Prontera. Então faria algumas horas de caminhada até Izlude e de lá

tomaria um navio para Alberta, e então outro para Amatsu. A caminhada de

Prontera a Izlude era o que mais a preocupava. A campina aberta ensolarada não

era boa para se atravessar furtivamente. Quanto às estadias nas cidades, não se

preocupava. Ela era uma ladina, e ladinos são essencialmente urbanos. Podia

facilmente se esconder em becos, escalar construções e saltar por cima de

telhados. Quanto a Amatsu, seu único problema seria a barreira lingüística. Mas

ela estava confiante de que poderia atravessá-la.

 

 Com

este plano em mente, meteu os dedos esguios em um bolso e retirou um punhado de

moedas de cobre. Contou-as. Nem de longe era o bastante para a viagem,

especialmente se ela pretendia depender dos serviços de um sacerdote. A maioria

deles não estava nem um pouco interessada em caridade ou votos de pobreza. Mas

dinheiro não seria problema para ela. Sempre havia uma maneira de consegui-lo.

 

 A

ladina apanhou um tijolo solto e fez a mira cuidadosamente. Retesou o braço o

mais que pode e girou o tronco, para conseguir maior impulso. Atirou o tijolo

em direção a um dos numerosos lampiões da Praça de Juno. A pontaria havia sido

excelente. A lâmpada se espatifou, produzindo um ruído alto de vidro quebrando,

seguido pelo som do poste metálico vibrando devido ao impacto. Os soldados prontamente

se levantaram dos bancos e desembainharam suas armas.

 

 -

O que foi isso? Quem está aí? -, bradavam eles, espadas e lanças em riste. A ladina sorriu

maliciosamente. Como uma pantera preguiçosamente deitada em seu galho,

observando uma manada de porcos selvagens, a ladina calmamente escolhia a presa

mais gorda. Por fim, escolheu um lanceiro, que parecia o mais promissor.

 

 A

ladina saltou silenciosamente de cima do telhado e, com um movimento preciso da

adaga, cortou o cinto de couro do soldado, soltando dele a polpuda bolsa de

moedas que ela havia observado com interesse. Apanhou a bolsa do chão e

disparou em direção à labiríntica área residencial da cidade.

 

 A

primeira reação do lanceiro foi segurar as calças, que sucumbiram imediatamente

ao poder da gravidade sem o apoio do cinto. Soltou sua longa azagaia, que caiu

no chão, e o barulho da queda, junto com as interjeições de baixo calão

proferidas pelo lanceiro, atraiu a atenção dos outros soldados. Demorou apenas

alguns segundos para perceber o que havia acontecido.

 

 -

Minha bolsa! Alguém roubou minha bolsa! Eu vou matar esse maldito gatuno! -,

ganiu o soldado. Os outros sondaram o ambiente, procurando algum sinal do ladrão

em fuga, mas já era tarde demais. A ladina havia desaparecido. Mesmo que

pudessem ter visto a borda de seu casaco escarlate, ou uma faísca de seu cabelo

cor de prata, não haveria nada a fazer. Como poderia um soldado grande e

pesado, vestindo cota de malha, competir com a agilidade felina de Nhyx?

 

 E

Nhyx, agora longe do perigo, ria abertamente e relembrava a expressão do

soldado quando suas calças foram ao chão. Jogava a bolsa de moedas de uma mão

para outra. Era bem pesada. Uma excelente presa. Com um pouco de sorte, dentro

de alguns dias ela estaria em Amatsu.

 

 Sentia-se

mal, no entanto, por ter abandonado Sethit e Kuroi de um modo tão brusco. Sabia

que elas ficariam bem, mas não queria ser considerada uma traidora ou covarde.

Acreditava que elas a compreenderiam, e a expectativa da trilha e da

perseguição a excitavam. Estalou um tapa em uma de suas coxas; era agradável a

idéia de mover os músculos um pouco.

 

 “E

talvez”, pensou ela, enquanto se dirigia à saída da cidade. “Talvez eu possa lucrar

um pouco mais no caminho!”

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Olá, jogo rag ja fas uns 5 anos, des de perto do tempo do beta, mas nunk fui frequentador de foruns e talz, e agora que to me enteressando mais, e so fui descobrir essa parada de fics agora... a primeira que eu clikei foi a da Tenkou, e me impressionei mto com a obra, discordo um pouco da nossa autora quando ela disse em uma das discuçoes entre os cap. que a escrita não é dom, mas pratica, na verdade, é nessessario um pouco de cada coisa, contando um pouco da minha historia, na quarta serie, ensino fundamental, minha fessora deu 1 redaçao pa gent escrever sobre tema livre, eu fikei cinco minutos pensando e comecei a escrever, e escrever, escrever, escrever, escrever, seis meses depois eu tinha um livro de setenta paginas editado e hoje tenho tres mil reais de lucro deste livro, pratica? acho que não.. dps disso não parei de escrever, crio historias ficticias e talz e to fazendo uma obra que espero que chegue a uma trilogia de 300 pgs kda, eu tb ingulo livros e na quinta serie eu ja lia cornwell em uma semana, hoj eu avalio ter lido cerca de 30k de pags por conta propria ao todo, de puros livros de historia fantastica e ficçao cientifica.... eu adoro historias.... e agora que descobri essas fics, não posso deixar de criar uma para mim e dedicar boas horas por dia a ela, novament, eu elogio a Tenkou, a saga esta Otima, so acho que podia tentar melhorar o começo da historia, o cap. 1 ficou um pouco confuso e demora mto a entender qm eh o personagem principal da historia, no mais, descriçoes detalhadas,cenas eroticas(que eu adoro xP) falta mais um toque de ação tb para prender os leitores, tente criar um conflito de armas em cada capito, isso daria mais emoçao a quem lê a sua fic.

eu estou bolando uma para mim, nao vou começar a postar imediatamente, mas comecei a escrever a minha e espero adiantar pelo menos uns dez capitulos, nao sei como os leitores vao se portar diante do meu modo de descrever, pq eu descrevo meio estilo Tolkien, se eh q me entendem(autor do Senhor dos Aneis...RECOMENDO) Eu tb gosto de narrar conflitos como o Bernard Cornwell, entao PvPs GvGs e WoEs vao ser diarias nas minhas historias, e sim, nada melhor que uma boa narrativa de uma tortura divagar e bem saborosa, para o leitor sentir na veia oke o personagem fas com o outro /mal,e pra finalizar, a pouco tempo atras descobri ke tenho 1 talento nato pra descrever cenas de sexo completas(des dos primeiros olhares ate o.....vc sab ond) fazendo minhas leitoras gozarem e meus leitores correrem para o banheiro se lubrificarem... não sei se meu tipo de escrita vai se adequadar as fics, mas espero que se adapte, e espero tb que vcs pelo menos tentem alguns capitos e deem sujestoes, eu n me sinto ofendido

ah e claro, dps das criticas q eu fis da tenkou, tem espaço no buraco de vcs pa mim? *-*[/aiai] 

 

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Boas-vindas novamente, Tenko!Só faço coro aos demais. "O Mundo Visto Através de Olhos Vermelhos" é um dos melhores textos que já li. É impossível não notar o cuidado com a profundidade não apenas dos personagens, mas dos lugares e da ambientação, como se fosse uma pintura feita com dedicação e carinho. É o tipo de fanfic que contribui para o que eu acredito ser a extensão da experiência virtual do Ragnarök Online - e você é muito, muito boa nisso.Seja bem-vinda de volta, beijos pra você e pra Nhyx,

- Rafa

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Eu tinha a intenção de fazer isso em uma das minhas histórias, mas o conteúdo ficaria tão pesado que a NetRunner iria me banir no instante que lesse a fic.
 Ué... não tem problema em fazer conteúdo pesado em fics. Basta você avisar no início que vai ter um conteúdo não apropriado para pessoas que não gostam de tais cenas e pronto. Eu sinceramente não acho certo "censurar" fics com conteúdo mais forte, seria hipocrisia demais (tirando fics hentais, né? Porque senão precisaria criar uma área restrita a 18 anos aqui). [/s]E não pense que não estou acompanhando sua fic, Tenko... [/mal]

 

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 Olá, Tenko. Desde que me lembro, vi sua Fic como uma das maiores referências e decidi acompanha-las também. Tenho que dizer que fiquei impressionado com o grau de descrição que você impõe, e olha que li apenas os dois primeiros capitulos. Irei acompanhar com certeza e já vi dizer que você realmente está de parabéns, me surpreendeu bastante.  Vou ler aos poucos para não perder o ritmo, e se puder gostaria que desse um olhada na minha Fic também.  Obrigado pela arte! Até!

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Tenko, tenho que te parabenizar pela tua história, criatividade e capacidade de usar um background do mundo de Ragnarok e criar essa bela história...

 

Adoro assistir animes, ler histórias (embora não tenha muito tempo para isso) e estou aproveitando as férias da faculdade pra desestressar um pouco... e, uma das atividades está sendo ler sua fic... Acabei de ler o último capítulo publicado, são 06:36 da manhã e estava lendo ela, a partir do capítulo 15, desde as 02h da manhã...

 Sua fic é sensacional, e a forma como tu descreve (gaúcho é assim mesmo, fala tu e não conjuga o verbo) tudo é fantástico, eu vejo a história e os personagens, as cenas, tudo... todos os detalhes pela forma como são descritos..

O Anime, Ragnarok the Animation, sequer tem um enredo que chega aos pés de sua fic...

Essa quebra de linearidade, indo de um local para o outro, é sensacional, tanto quanto sua retomada... Não deixando em esquecimento os personagens (com exceção do irmão que anda meio sumido).

 Realmente, virei fã seu... e, gostaria que tu comentasse de onde vem tua inspiração... porque isso me deixou mto intrigado...

 

Criticas, só 1 coisa que acho que poderiam ter sido um pouco melhor explorada, que é como surge o sentimento dela com as 2 namoradas... em ambos os relacionamentos tudo surgiu de uma maneira muito brusca... parece que brotou do nada... mas passando isso, as descrições dos sentimentos e os relacionamentos em si, são fantásticas também...

 

Adorei como tu explorou (não conjuguei denovo XD) todos os elementos no mundo do Ragnarok (até crítica sutil aos BOTS, ótimo isso)..

 

Joguei Ragnarok desde o capítulo da Ilha das Tartarugas, parei há 2 anos... instalei agora nas férias pra me divertir um pouco... mas, minha melhor diversão, de longe está aqui nesse tópico... e, mostra que, além de todos os méritos que tu tem de criatividade, habilidade em escrever e tudo mais, demonstra um grande conhecimento no mundo de Ragnarok e mitologia...

 

Parabéns por toda tua obra até aqui, por favor, não deixe ela não concluída e, se um dia virar escritora, me avise, que vou ler teus livros, com certeza... ^^

 

Um abraço (sem beijos, tem muita gente perigosa nessa história), estou aguardando ansioso pelos próximos capítulos (provavelmente já em aula quando saírem).

 

 

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Oh noes! A Nétirrâner está lendo minha fic! *Se esconde debaixo das cobertas* --------------------------------------------------------------------------------------------------------  CAPÍTULO 4 - POR SORTE, TALVEZ... 

 

 

 

Para o

azar de Tenko, o animal que ela havia escolhido para montar em sua fuga era um

Peco jovem, ainda indomado e muito forte. O pássaro cor de fogo corcoveava e se

sacudia, tentando se livrar daquele incômodo peso que tinha nas costas. A

garota se agarrava ao pescoço da ave com toda sua força. Nunca tinha aprendido

a montar, muito menos em pena, e a única coisa que lhe restava fazer era se

agarrar com todas as forças ao PecoPeco, sem chance alguma de controlar sua

direção. Algum tempo depois, Tenko notou que não estava mais nas florestas e campos

verdes dos arredores de Prontera, e sim em algum tipo de deserto. Estava

exausta, e o frio do deserto enregelava seus dedos, tornando ainda mais dificil

se agarrar ao pássaro selvagem. Até que não pode mais resistir. O Peco sacudiu

o corpo violentamente, arremessando contra uma parede rochosa a fugitiva, que

caiu desacordada.

 

Tenko abriu os olhos, mas logo os fechou novamente. O sol brilhava alto no céu.

Tentou se levantar, mas seu corpo doía demais.-Que ótimo, todo esse trabalho para acabar morta em um deserto!Pensou a garota. Tentou se levantar outra vez. Sentia uma dor insuportável no

ombro esquerdo, e sua cabeça latejava. O deserto agora estava quente e seco, e

Tenko sentia sede. Conseguiu sentar na areia, apoiando o peso no braço direito.

Abriu os olhos devagar, dando tempo para se acostumarem com a luz. Então olhou

ao seu redor.Areia por todos os lados, alguns cactos aqui e ali, rochas secas, algumas

plantas amareladas que de tão secas cheiravam a folhas de chá. Virou o pescoço

dolorido de um lado para outro, massageando-o com a mão direita. Tentou mover o

braço esquerdo. Mas ao primeiro movimento, sentiu de novo a dor no ombro. De

repente, Tenko sentiu que era observada. Virou para trás e viu uma criatura se

aproximando. Tenko ja havia visto os lobos na floresta perto do castelo de seu pai. Esse

animal era definitivamente um lobo. Mas os lobos da floresta tinham pelagem

grossa e cinzenta, e só atacavam quando eram provocados. Este tinha pêlos

castanho-claro, da cor da areia, e andava diretamente ao seu encontro. Estava

muito magro, com as costelas ressaltadas por baixo da pele. Sua grande boca

entreaberta, com a língua pendurada entre as presas afiadas. Tentou recuar, mas

sentiu outra presença atrás dela. Era outro lobo. Ao lado desse, vinha outro. E

atrás deles, mais dois.A garota se levantou com algum esforço, e firmou sua base no chão, abrindo um

pouco as pernas. Era apenas uma menina inexperiente, e estava ferida, mas seu

era orgulhosa demais para morrer sem luta. Puxou a Main Gauche e se preparou

para o combate. O primeiro lobo saltou sobre ela. Tenko avançou com a lâmina na

direção do animal. Mas antes que o movimento se completasse, o lobo caiu no

chão com um ganido de dor.Um jovem de cabelos castanhos havia interceptado o salto do lobo. Ele havia

apunhalado a fera pelas costas, derrubando-a no chão. O jovem cravou sua adaga

no dorso do animal mais duas vezes, e logo em seguida saltou na direção dos

outros quatro. Com um movimento brusco, rasgou a garganta de um dos lobos. Os

outros três avançaram para cima dele, mas ele se esquivou facilmente dos três,

fato que causou grande admiração em Tenko. Atingia uma das feras com a adaga,

enquanto se defendia com o broquel que tinha no braço esquerdo. Matou mais um

lobo. Chutou areia nos olhos de um dos dois lobos que restavam. O animal ficou

enlouquecido, atacando a esmo. Suas mordidas passavam longe do ágil guerreiro,

que aproveitou o tempo para acabar com o quarto lobo. Por fim, saltou para trás

do lobo cego e o apunhalou com força entre as omoplatas. Assim, o ultimo lobo

caiu. O jovem olhou por um segundo para os animais mortos, e em seguida puxou

um lenço do bolso e começou a limpar o sangue da adaga. Virou-se para Tenko,

que ainda estava parada, de pé, com a Main Gauche na mão.-Isso aqui não é lugar para aprendiz! É melhor você voltar logo para Morroc!-,

Disse o jovem, sem olhar diretamente para a garota, ainda limpando a adaga

ensangüentada.-Mo...Morroc?-, respondeu a jovem atônita.-Você se perdeu então?- O rapaz revirou os olhos e bufou. -É por isso que

aprendizes me irritam! Estão sempre se perdendo! Vem cá, eu te levo pra Morroc,

tô indo pra lá mesmo.Tenko hesitou. Não sabia se podia confiar naquele homem.-Tá esperando o quê? Aparecer mais lobo?Era um bom argumento.-E guarda essa faquinha miserável!Tenko irritou-se com este ultimo comentário, mas teve de reconhecer que o rapaz

estava certo. E não estava com a mínima vontade de encontrar mais lobos.

Guardou a Main Gauche na bainha e começou a seguí-lo.Enquanto andavam, começou a observar o jovem. Ele tinha cabelos curtos,

castanhos, e olhos da mesma cor. Sua pele morena, de ficar no sol do deserto.

Era bem musculoso, e usava uma espécie de jaqueta curta, aberta no peito, junto

com uma calça justa.-Quê você tanto olha? Tá me achando gostoso, né?-, disse o jovem, seguido por

uma gargalhada espalhafatosa.A garota, indignada com tal vulgaridade, respondeu rispidamente:-Só estava imaginando que tipo de guerreiro usa essas roupas esquisitas...O jovem gargalhou ainda mais alto.-Olha, pro que eu sou cada um dá um nome. Mas quem não é do nosso

"meio" diz que nós somos "arruaceiros"!E continuou rindo espalhafatosamente.Durante a caminhada, Tenko se animou a perguntar mais algumas coisas ao seu

estranho salvador. Descobriu que o deserto onde estavam se chamava Sograt, que

ficava no extremo sul de Rune-Midgard. O arruaceiro, apesar de grosseiro e um

pouco vulgar, não era má pessoa. Quando chegaram aos portões de Morroc, parou e

falou:-Olha, esse lugar é mais fácil pra você treinar, se você quiser. Os bichos aqui

são fraquinhos. Tem filhotes de PecoPeco, os Pickys, uns bichinhos chamados

Drops que parecem gelatina, e uns insetinhos que se chamam ChonChons.Tenko agradeceu a gentileza. Para seu primeiro dia fora de casa, teve muita

sorte. Pensou em pagar ao rapaz pela ajuda, mas quando estendeu o braço para o

saco de moedas, sentiu uma pontada no ombro, e não pode conter um gemido de

dor. O arruaceiro percebeu.-Ei, você tá machucada?Imediatamente ele se inclinou e para examinar o ombro da garota. E nesse

momento, pela primeira vez, seus olhares se cruzaram. O arruaceiro soltou um

palavrão ao ver os ferozes olhos vermelhos de Tenko, e recuou um passo para

trás. Logo em seguida se desculpou.-Ahn... foi mal... é que eu nunca tinha visto olhos assim!Ele olhava fascinado para as íris cor-de-sangue da garota. Tenko também estava

surpresa. Nunca tinha lhe passado pela cabeça que não era normal ter olhos

vermelhos, já que ninguém nunca tinha falado nada a respeito disso em sua casa.

 

O arruaceiro sacudiu a cabeça com força, várias vezes, como se quisesse se

livrar de algum pensamento incômodo. Depois, abriu sua bolsa e entregou para

Tenko algumas garrafinhas que continham um líquido vermelho.-Aqui, bebe algumas dessas que seu braço vai ficar melhor. Se você se machucar

durante alguma luta, elas te curam também.-Agradeço!-, disse Tenko, e pela primeira vez em muito tempo, abriu um sorriso.

O arruaceiro sorriu também, e depois partiu em direção aos portões de Morroc.

Antes de atravessá-los, voltou-se para Tenko e gritou:-Gostei de você, Olhos Vermelhos! Se precisar de mim, me chamam de Shi no Toge.

Pergunte por mim nas ruas de Morroc!Sorriu para ela, e em seguida atravessou os portões da cidade.Tenko bebeu tranquilamente o conteúdo de uma das garrafinhas. Pouco depois, seu

ombro parou de doer. Depois, começou a caminhar em direção aos portões da

cidade. Procuraria algum lugar para passar a noite hoje, e amanhã recomeçaria

seu treino. E também, seria bom matar monstros e pilhar alguma coisa. Seu

dinheiro provavelmente só daria para uma noite, já que sentiu sua bolsa ficar

bem mais leve depois que encontrou Shi no Toge.

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