super gogeta Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 Mas acho que vai haver uma reviravolta. E das grandes \o/ considere isso. vai haver muitas. e das grandes. mas sem spoiler aqui agora... mais capítulos, mais capítulos! mwahhahahahaha * risada insana* acho que fiquei louco.... flow! Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
Pdrk Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 Gogeta, Gogeta... Tá ficando maluco, é? Quer que eu vá te fazer uma visita "amigável"?Tá, mas admito: não sigo a linha padrão dos Assassinos. Enquanto eles realizam a missão visando a eliminação rápida dos alvos, eu viso expurgar os pecados do alvo pelo sofrimento dele (daqui a pouco aparece alguém pra me chamar de Templário psicótico).Aproveitando a viagem, a Tenko ainda tá dando mais sorte que eu. Minhas aulas só acabam dia 28. Mas depois do dia 28, pego o primeiro avião pra minha querida Boa Vista - RR e boto a cidade abaixo com a bagunça. Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
super gogeta Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 e bota confusão nisso, as coisas vão literalmente ficar muito difíceis pra tenko, a começar pelos _______, não, melhor n disser mas se for igual ao cap de antigamente, esses capítulos que vem a seguir são mto bons, como todos os outros, a parte do teste de sin vai ser mto rox, então gogogogo up tenko[/ok] Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
Pdrk Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 Eu mesmo imaginei a porta indo bater na parede oposta depois dessa, porque convenhamos, um Punho Supremo de Asura com certeza faria bem mais do que somente derrubar a porta. Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
Spekkio Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 Bom capítulo.Mas posta o próximo mais cedo, se puder... Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
KilluaZK Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 Por que você não enfiou a adaga no **** do cavaleiro? A adaga estava no quarto. =3 OH NOES!!! *Corre para o castelo e encontra o cavaleiro deitado no chão gemendo de dor* (cabeça de Killua) -Não seja por isto Tenko /mal -Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh- grita o cavaleiro ao sentir um objeto afiado perfurando uma parte do seu corpo que o filtro não me deixa dizer... Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
super gogeta Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 eu tb, mas eu nunca soube direito oq era esperar ansioso pelo próximo capítulo, até um tempo atrás quando a tenko voltou à escrever e o leafar lançou o cap 2 de morroc saga e ainda n saiu o garra das trevas, up ai tenko ,gogogogo mostrar logo o teste de sin Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
Tenko Kitsune Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 Nada, é que o povo que gostava de RPG/Fanfic parou de frequentar o fórum.E claro, sem os flamers retardados o tópico fica menos frequentado mesmo [/heh] Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
Tenko Kitsune Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 tenko, você já tinha postado essas parte da fic em outro lugar? porque eu tenho certeza ABSOLUTA do que vai acontecer depois Aqui mesmo ._. eu revisei o texto e estou re-postando, já que agora a gente tem tutora durona que não vai deixar o meu tópico virar um antro de flames. Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
Gon-kun Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 Já disse que essa fic é ótima =P ? Eu adoraria se você exclarecesse mais a relação entre Tenko e sua mãe \o/ Tem um errinho, mas não é nada berrante ^^ : Tenko experimentou lanças (pesadas e lentas demais para meu gosto) Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
Pdrk Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 *Mãos tremendo, enquanto sente a excitação percorrer cada milímetro do corpo* Finalmente!!! FINALMENTE!!! Aleluia, irmãos!!! O momento chegou. Estamos diante de uma obra sem precedentes, de proporções monumentais, e por que não dizer, épicas. O mundo visto através de olhos vermelhos, de autoria de Tenko Renard (eu devo querer morrer) Kitsune, voltou para nós! *chorando de emoção Desculpem, mas eu estou muito emocionado. *chora ainda mais* (muito emocionado MESMO) Espero que me perdoem pela minha reação, mas é uma imensa alegria para mim ver Tenko Kitsune escrevendo suas histórias nesse fórum de novo. Devo confessar que acredito estar sonhando agora. É que "O mundo visto através de olhos vermelhos" foi a primeira fic que eu li neste fórum, e a li inteira (ou até o capítulo onde ela disse que ia parar de escrever) em uma noite. Paguei um Corujão em uma lan-house só pra ler essa história o mais rápido possível. E agora ela está de volta. Esse é o dia mais feliz da minha vida (sujeito a alterações). Por favor Tenko, não demore. Escreva mais, pois tem vários fãs seus que a aguardam. Entre eles, um humilde (sádico, psicopata, sedento de sangue, e com vontade de cravar suas katares em carne humana, Orc, goblin ou de demais raças) Assassino, que a admira intensamente. Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
Tenko Kitsune Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 CAPÍTULO 20 - TRAIÇÃO SOB O LUAR Faltavam algumas horas para o Sol se pôr. Tenko Kitsune checou o céu e anotou o fato mentalmente. Encaminhou-se para o pequeno cais improvisado da Ilha das Tartarugas, atravessando a floresta com incrível facilidade. Desviava de hordas de lavadeiras sem ao menos virar o pescoço para enxergá-las, e saltava por cima de sapos de thara e pestes, chutando de tempos em tempos uma ou outra mais atrevida que ousava abocanhar seu tornozelo. Aproveitava o impulso da corrida para apoiar as mãos no casco das tartarugas que passeavam pachorrentamente entre as árvores e saltar por cima delas. Em pouco menos de um quarto de hora a assassina estava sentada na parte de trás do bote de Gotanblue, saboreando a brisa do mar. Ela estava mudada. Nos últimos meses o corpo de Tenko estava visivelmente mais forte. Quando a assassina se movia era possível ver seus tendões e músculos se contraindo sob sua pele. Estava ainda mais imponente, e sua aparência e postura lembravam uma pantera adulta. O quadril estreito e os seios comprimidos por faixas lhe davam uma aparência levemente andrógina, e os cabelos soltos ao vento lhe davam um toque extremamente feminino. Mas a mudança mais surpreendente estava nos cantos repuxados de sua boca carnuda e rosada. A pantera sorria. Tenko Kitsune estava visivelmente feliz. Desceu do barco. O Sol já estava começando a mergulhar no horizonte. Tenko jogou por cima dos ombros sua velha e longa capa cinzenta. Seu fiel Manteau de Loki, excelente para fugas e camuflagens. O manto tinha cor de sombra e se mesclava com qualquer tom de escuridão. Já a havia salvado dezenas de vezes, e Tenko apostava que ainda a salvaria dezenas mais. Principalmente nestes tempos atuais. Seu eterno inimigo, Sir Secousse Primus, parecia estar realmente disposto a capturá-la. Seus encontros com soldados estavam cada vez mais freqüentes, e suas lâminas haviam se tingido de sangue humano mais vezes do que ela podia contar. Será que o cavaleiro realmente acreditava que aqueles jovens guerreiros mal-treinados teriam alguma chance contra ela, uma assassina experiente? Quantas vidas mais Primus estaria disposto a sacrificar para satisfazer seus caprichos? Talvez ele a estivesse testando. Esperando que ela tivesse piedade e deixasse os jovens soldados viverem. Se fosse essa a intenção de Primus, ela seria frustrada. Tenko não deixaria o inimigo viver para depois delatar sua localização. Nariz e boca ocultos pelas dobras da capa, olhos escondidos sob a sombra de um velho e desgastado sakkat, a assassina rapidamente se esgueirou pelas sombras compridas do fim de tarde. Andava junto às paredes e seus passos eram silenciosos. Subiu a avenida principal da cidade de Alberta, em direção ao portão norte. Viu os soldados de túnica negra, carregando espadas rústicas e escudos frágeis com o emblema da cobra envolvendo a espada. O emblema da Casa Primus. Eles estavam por toda parte, montando guarda em todas as portas e janelas de todas as estalagens da cidade. Tenko passou tranqüilamente por trás de um deles. O soldado não se moveu. Um movimento rápido da mão da assassina e o jovem teria um palmo e meio de aço cravado entre as costelas. Tenko sentiu pena do despreparo do jovem, e desejou que ele jamais a encontrasse. Ela era uma Assassina da Guilda do Deserto de Sograt, não uma matadora sanguinária. Ao contrário do que diz o senso comum, há uma grande diferença. Atravessou os portões da cidade e atingiu o trecho tranqüilo de floresta que circundava a cidade. Agora ela não seria capturada facilmente. Os soldados de Primus, como todo garoto pronterano criado em um castelo sem nunca botar o nariz para fora, eram supersticiosos e não costumavam se atrever a entrar na floresta à noite. Tenko não. A floresta noturna é o refúgio da pantera. Nesses últimos meses, a assassina havia feito daquele trecho de mata sua casa, dormindo nas copas das árvores e se alimentando do que pudesse encontrar. Pássaros, castanhas, frutos, roedores. Ficaria um pouco mais complicado quando chegasse o inverno, mas contava com a ajuda de Kuroi e Sethit, sem falar de Freya, que continuava mantendo contato apesar do fim do relacionamento. De qualquer modo, a perseguição estava se tornando desgastante. Mas Tenko Kitsune tinha algo que mantinha o sorriso em seus lábios. Algo especial e querido. Correu pela floresta até chegar aos pés de uma grande árvore escondida no meio de muito mato, fora da rota habitual. Farejou o ar por algum tempo. Confirmado que estava no lugar certo, Tenko bateu no tronco da árvore com os nós dos dedos. Algo se deslocou da copa frondosa para um dos galhos. A criatura saltou para o chão, pousando com precisão surpreendente e quase nenhum ruído. Tenko se abaixou, ocultando-se sob os arbustos, e tomou a criatura nos braços. Era uma mulher de esplêndidos olhos verdes e longos cabelos prateados presos em uma trança. Tinha um casaco comprido e vermelho, e um gládio pendurado na cintura. Uma ladina. Sua ladina. Sua preciosa e amada Nhyx. Tenko puxou a ladina para perto de si com um dos braços enquanto abaixava com a outra mão a dobra da capa que cobria sua boca. Nhyx a beijou rapidamente. Ainda estavam muito perto da rota popular. - Está com fome? -, sussurrou a ladina. - Um pouco -, respondeu Tenko no mesmo tom. – E preciso de um banho. - Eu também. Vamos até aquele lago no fundo da floresta, enquanto ainda tem Sol. Aí dá pra gente conversar direito. Tenko assentiu com a cabeça. Puxou de volta a dobra do manteau para cima do nariz. Nhyx jogou seu próprio manteau, também cinzento e opaco, sobre os ombros. Correram em meio aos arbustos, em direção à floresta fechada. Fora da rota dos viajantes e soldados poderiam conversar tranqüilamente. O lago em questão era um bolsão de água que vinha de um riacho que cortava a floresta de Payon e corria para o mar. Era um lugar calmo, uma pequena clareira rodeada de árvores. O Sol agora era um grande disco alaranjado mergulhado no horizonte. O céu estava dourado e púrpura, e se refletia nas águas calmas do pequeno lago. Tenko rapidamente se livrou dos trajes encardidos e da armadura e mergulhou na água. Emergiu sacudindo a cabeça e espalhando respingos. - Está gelada! -, ganiu a assassina. Nhyx riu, jogando o casaco e o elmo por cima da indumentária de Tenko. Saltou na água e começou a desembaraçar os cabelos com os dedos. Tenko empurrou a água com a palma da mão, formando uma pequena onda, que atingiu o rosto da ladina. Nhyx levantou uma sobrancelha, desafiadora. A assassina respondeu com outro jato d’água. Nhyx atingiu a superfície do lago com força, empurrando uma quantidade considerável de água para cima da assassina. - Assim não vale! Você apela! E essa água está muito fria! - Você que começou! -, retrucou a ladina, rindo. Em seguida abraçou Tenko carinhosamente e sussurrou em seu ouvido: - Não se preocupe, eu te aqueço! ---------------------------------------------------------------- Tenko considerou que aquela era uma noite especialmente bonita. A Lua estava cheia e clara, um imenso disco prateado flutuando acima de sua cabeça. A assassina tinha a impressão de poder tocá-la. Milhares de estrelas pontilhavam o manto negro da noite, recortado pelas copas frondosas das grandes e antigas árvores de troncos grossos e nodosos que circundavam a pequena clareira e o lago onde Tenko havia se banhado pouco tempo atrás. Um leve cheiro de carne assada ainda preenchia o ar, único indício do jantar das duas gatunas. A fogueira e os ossos haviam sido enterrados. Era importante não deixar vestígios de sua presença. Agora a assassina estava sentada, costas apoiadas em uma das árvores, mascando tranqüilamente o talo de uma folha de grama. Sentada entre suas pernas estava Nhyx, que admirava a Lua em silêncio. Tenko passava os dedos gentilmente pelos longos cabelos ainda úmidos da ladina, desembaraçando-os com cuidado. Separou os fios prateados em três mechas de tamanho mais ou menos igual e começou a trançá-las delicadamente, mas com firmeza. Trançou o cabelo inteiro e então estendeu a mão e alcançou a presilha metálica que Nhyx costumava usar. Afixou a presilha no fim da trança, deixando um pequeno tufo de cabelo solto na ponta. Abraçou a ladina em seguida e a puxou para perto de si. - Ficou boa? Nhyx puxou a longa trança por cima o ombro e fingiu que a avaliava severamente. Sorriu e beijou os lábios da assassina. - Ficou sim. Você está começando a aprender! -, disse, e se aninhou junto a Tenko, apoiando a cabeça em seu peito. Tenko a abraçou e beijou sua testa, suas orelhas e seu pescoço. Sorria como uma criança quando a ladina estava por perto. Permaneceram assim por algum tempo, sem dizer uma palavra, como se suas vozes fossem profanar aquele momento tão belo. Às vezes pensamentos indesejados surgiam na mente de Tenko, como uma súbita neblina que ofusca a luz do Sol. Amava Nhyx, tinha certeza disso. Mas Nhyx ainda amava aquela pequena assassina de cabelos castanhos. Ou não amava mais? Abraçou a ladina com mais força, e esta soltou um leve suspiro. Talvez estivesse cochilando. Tenko procurou manter-se imóvel, para não acordá-la. De certo modo, era uma honra ter Nhyx dormindo em seus braços. Ladinos, assim como assassinos, normalmente são pessoas extremamente cautelosas. Nhyx confiava nela o bastante para abaixar a guarda totalmente e se entregar aos seus cuidados. Mas a amaria? A ladina parecia se incomodar com as declarações de Tenko, então a assassina costumava evitá-las. Às vezes sentia as palavras queimarem sua garganta, loucas para escapar. Mas os lábios da assassina mantinham-se cerrados. Palavras são mais destrutivas que a adaga ou o katar. Palavras são traiçoeiras. Manter o silêncio era o correto a se fazer, e ter sua amada ladina em seus braços já era mais que o suficiente. Nhyx levantou a cabeça e beijou o rosto de Tenko. A assassina respondeu beijando-lhe os lábios. - Pensei que você estivesse dormindo... - Não estava não. Só descansando um pouquinho. Hoje foi um dia cansativo. Havia sido realmente um dia cansativo. Ambas tinham o hábito de caçar tartarugas, e vez ou outra se cruzavam na Ilha. No entanto preferiam não demonstrar seus sentimentos uma pela outra em público. Tenko tinha plena consciência que estava sendo perseguida e que os soldados de Primus adorariam a oportunidade de usar sua amante como refém ou isca, e apesar de saber que os jovens e supersticiosos guerreiros da Casa Primus jamais se arriscariam na supostamente amaldiçoada Ilha das Tartarugas, sabia que o clã tinha ouro o bastante para pagar um informante. E era por esse motivo que as duas preferiam se encontrar no meio da floresta, fora das rotas normais, no fim da tarde ou na calada da noite. A ladina se deitou na grama, cabeça apoiada nas mãos, olhando para o céu. Tenko deitou-se ao seu lado, recostando a cabeça em seu ombro. - A noite está linda hoje, não está, Tenko? Tenko concordou, balançando a cabeça. - Está sim. Costumava ouvir que as noites de baile no castelo de meu pai eram belas, mas nenhuma foi tão bela quanto esta de hoje. - Ah, sim, você veio de Prontera. Você me contou... Durante seus encontros furtivos, Tenko havia contado toda sua história para Nhyx. Desde o dia em que havia saído de casa, montada em um pecopeco sem sela, até suas mais atuais caçadas na Ilha das Tartarugas. Descobriu em uma dessas conversas que Nhyx havia conhecido seu mestre Shi no Toge, embora não tivessem tido nenhuma relação além da comum entre uma gatuna e um ladino nas ruas de Morroc. Havia contado sobre suas frustrações e sobre os acontecimentos que a levaram a se tornar uma gatuna. - E você, Nhyx? Como foi que acabou virando gatuna? E como acabou sendo uma ladina? Nhyx suspirou fundo e fechou os olhos, como se tentasse visualizar as cenas do passado. Permaneceu alguns minutos deste jeito, concentrada, e então deitou-se de lado, sua face próxima à da assassina, as pontas dos narizes quase se tocando. - Minha história não tem nada muito especial, Tenko. Nenhum ato heróico, nenhuma fuga no meio da noite, nada. Minha família vivia em Morroc. Em uma daquelas casas pobres, na periferia da cidade. Meus pais eram mercadores, não de uma família nobre como a da Kuroi, mas pessoas simples. Eles compravam poções e flechas dos grandes fornecedores da cidade e revendiam nos arredores da Pirâmide de Morroc, e da Esfinge também. O lucro nunca era muito alto, e mal dava pra gente se sustentar. Até que um dia eles saíram de casa e não voltaram mais. Houve um ataque de monstros, ficamos sabendo só depois. Os aventureiros que costumam caçar naquela área mataram os monstros. Morreram naquele dia um ou dois cavaleiros, um caçador ou outro, até da morte de um assassino ouvimos falar. Mas quando esse tipo de coisa acontece os mercadores são sempre os primeiros a morrer... - Eu sinto muito. -, disse a assassina, um pouco constrangida por ter perguntado. Achou que nesse caso específico não seria muito gentil soltar uma das máximas da Guilda do Deserto de Sograt, como “a morte é nossa companheira em todo momento” ou “os fortes sobrevivem, os fracos sucumbem”. Ao invés disso, acariciou as costas da ladina e deu-lhe um beijo delicado. - Tudo bem, Tenko! Isso foi há muito tempo. -, disse a ladina, com um leve sorriso nos lábios. – Enfim, acabei ficando sozinha. Existia um orfanato na cidade, dirigido por um grupo de sacerdotes vindos de Prontera. Não sei se ainda existe, mas na época existia e acabei ficando por lá. Mas eu não tinha a mínima vocação para o sacerdócio! -, disse Nhyx, rindo alto. – Nunca tive paciência para ficar ajoelhada por horas rezando para deuses em que não tenho certeza se acredito. Além disso, “voto de pobreza” é uma expressão que não me agrada nem um pouco! Nunca fui disciplinada, arranjava briga com a maioria das crianças do orfanato. Deixava as sacerdotisas loucas, fugia para o deserto e ficava atirando pedras nos monstros só para ver eles se irritarem. Eles corriam atrás de mim, mas nunca me pegavam. Eu sempre fui rápida! Foi quando comecei a me dar conta que minha agilidade poderia ter utilidade maior que algumas brincadeiras com monstros. Foi então que comecei a bater carteiras, assaltar lojas de mercadores, enfim, realizar pequenos furtos. E naturalmente acabei me juntando à Guilda dos Gatunos e largando aquela porcaria de orfanato. Conheci bastante gente, gatunos, ladinos, alguns de outras classes também. Viajei um pouco por Rune-Midgard... - ...E aí você treinou bastante e virou uma ladina! -, disse Tenko suavemente, roçando seus lábios nos de Nhyx. - Eu treinei bastante sim, mas não para ser uma ladina. Eu parti para o deserto, em busca de um lendário templo envolvido em tempestades de areia... - Você queria ser uma assassina? -, disse Tenko, surpresa. Nhyx sorriu ante o espanto da companheira. - Sim. Eu sempre admirei a força e a tenacidade dos assassinos. Me sentia atraída por eles quando os via passar pelas ruas de Morroc. Sempre tão misteriosos e calados, com aquelas capas manchadas de sangue. Além disso, ela havia se tornado uma assassina... Nhyx abaixou o olhar, pensativa. Tenko permaneceu impassível, embora a menção à sua rival de olhos escuros fizesse seu peito arder de ciúme. - Mas então -, disse a ladina, sacudindo a cabeça e afastando de sua mente o que quer que estivesse pensando. – Eu cheguei a encontrar o templo. Passei em todos os testes, mas o mestre da guilda não quis me aceitar. Disse que eu não tenho o “espírito do assassino”. Que eu sou destemida e leal, e isso é bom. Mas não tenho esse orgulho todo que vocês prezam tanto, e não sou muito de seguir regras e códigos. Enfim, não consegui o Colar do Oblívio e a roupa colada sexy. Mas depois de ouvir aquele discurso de “a morte é companheira” e tal, não queria mesmo! Vocês levam tudo muito a sério! Tenko deu um leve beliscão na coxa da ladina ao ouvir o comentário sobre seus trajes. Nhyx riu, e respondeu com um tapa na panturrilha da assassina. Em seguida escorregou os dedos para o peito da assassina e alargou com a mão as faixas apertadas que envolviam seu tórax e pescoço. Mergulhou a mão no decote do traje escuro de Tenko. Puxou de dentro dele uma corrente fina, com um pequeno pingente representando um busto feminino com uma adaga cravada no peito. O Colar do Oblívio, emblema da Guilda dos Assassinos do Deserto de Sograt. Tenko Kitsune nunca removia o colar, nem mesmo quando dormia ou se banhava. - Você sempre usa isso, não usa? Tenko assentiu com a cabeça. - Minha mocinha é uma assassina orgulhosa e mal-humorada! –, brincou Nhyx, sorrindo maliciosamente enquanto observava o pingente com cuidado. - Ei, isso é prata não é? - É sim. Por que? Pretende me assaltar enquanto eu durmo? - Quem sabe? - Duvido que você consiga! – A assassina abriu um sorrisinho cínico e levantou uma sobrancelha. A ladina saltou sobre ela e as duas rolaram na grama. Nhyx era mais ágil e Tenko mais resistente. As duas tinham a mesma força, e essas pequenas disputas sempre acabavam com as duas sujas de terra, abraçadas e dando risada. E esta vez não foi diferente. Tenko abraçava a ladina com força, suas mãos passando por dentro do pesado sobretudo escarlate. Nhyx a afastou delicadamente. - A Lua já vai alta no céu. Preciso dormir um pouco. Tenko concordou. Precisava de algum tempo de sono também. Tinha que acordar antes do nascer do Sol. Antes que os soldados de Primus se embrenhassem na floresta, pois sob a luz forte do dia os medos e superstições diminuem consideravelmente. Despediram-se, lamentando não poderem dormir uma nos braços da outra. Beijaram-se com carinho, jogaram seus mantos cinzentos sobre os ombros e desapareceram entre as sombras da floresta. Tenko sempre se sentia um pouco melancólica nestes momentos de despedida. Escolheu uma árvore de tronco grosso e muitas folhas, e a escalou sem dificuldade. Aninhou-se em um galho alto e cobriu-se com a capa. Estaria protegida do frio e de olhares indesejados. Era bom ter um corpo leve nessas horas. Fechou os olhos e adormeceu rapidamente. ---------------------------------------------------------------- Tenko acordou subitamente. Olhou para o céu. Ainda podia ver raios prateados de luar atravessando a copa frondosa da árvore que lhe servia de cama. Apurou os ouvidos. Alguém caminhava pela floresta sem cuidado algum, esmagando folhas secas e gravetos e fazendo muito barulho. O vento trazia um aroma conhecido. Farejou, tentando identificá-lo. Reconheceu. Era o cheiro de Freya. Olhou para baixo e viu a sacerdotisa de cabelos verdes rondando o tronco da árvore. Freya estaria com algum problema? Saltou de sua cama para um galho mais baixo, e deste foi para o chão, pousando habilmente e quase sem produzir ruído algum. - Freya, o que houve? A sacerdotisa olhou diretamente para as íris vermelho-sangue da assassina. Tenko sentiu cada pêlo de seu corpo se arrepiar. Seus olhos, seu nariz e seus ouvidos não captavam nada de anormal, mas seu misterioso sensor de perigo a avisava que havia algo muito errado com Freya Dellan. Suas mãos instintivamente alcançaram as jurs presas em suas coxas. Seu coração havia disparado. Olhou mais uma vez para a sacerdotisa. Havia algo estranho em seu olhar. - Freya... - Confuturus facere lex divina! Silentio! Tenko sentiu a garganta arder, como se estivesse engolindo faíscas. Conhecia aquela magia. Já havia visto os sacerdotes a usarem para suprimir os poderes curativos de algumas tartarugas na Ilha. O efeito era simples: sob o efeito da magia, a voz da vítima era completamente eliminada. Isso era particularmente ruim para magos e outros usuários de magia, que precisam recitar formular, ou para qualquer um que dependa de kiai para desferir seus golpes com força. Mas contra uma assassina, uma guerreira silenciosa, a magia tinha pouca utilidade. Tenko só podia concluir que Freya a queria calada. Mas por quê? Logo descobriu. Algumas sombras se moveram por trás das árvores. Três figuras masculinas vieram em sua direção. Agora, banhadas pelo luar, Tenko podia identificá-las. A primeira era um mercador, pálido e esguio, com longos cabelos louros presos em um rabo de cavalo. O segundo também era pálido, e também possuía cabelos louros, que caiam em tufos macios sobre seu rosto. Trajava-se como um mago. O terceiro era um homem alto, trajando armadura completa. Seus cabelos eram longos e negros, presos junto à nuca. Seus olhos caídos eram de um azul profundo. Seu rosto era fino, e seu nariz era grande e reto. Tinha uma boca grande demais para seu rosto, e seus lábios estavam retorcidos em um sorriso cruel. Em suas mãos havia uma longa espada bastarda, com diversas cabeças serpentinas entalhadas na empunhadura. Seu incansável perseguidor. Sir Secousse Primus. - Ora, ora, se não é minha linda noiva. Finalmente nos reencontramos, senhorita Tenko Renard! Ou... Como a chamam agora? Ah sim! Tenko Kitsune! Tenko dobrou os joelhos, abaixando seu centro de gravidade, e aumentou a distância entre seus pés, reforçando sua base. Estava em desvantagem. Não poderia fugir, provavelmente os soldados de Primus estavam espalhados pela floresta inteira. Correr era, com certeza, cair em uma emboscada. Segurava suas jurs com firmeza. Esperaria Primus fazer o primeiro ataque, e então contra-atacaria. Olhou de relance para Freya, que havia corrido para o lado do cavaleiro, e a odiou. Esteve certa o tempo inteiro. Primus tinha mesmo uma informante. “Traidora”, rosnou entre os dentes. Mas sua voz não saiu. Voltou o olhar para Primus. Notou que o cavaleiro afrouxou as mãos no punho da espada, e seus olhos se arregalaram por um instante. Ele temia o olhar furioso de Tenko Kitsune. - Mestiça nojenta! -, rosnou Primus, se desfazendo da longa capa cor de creme e dobrando os joelhos em uma pose de combate. Tenko também abaixou os seus pouco mais. – Você deveria ter aceitado minha proposta de casamento. Você poderia ter uma vida decente, e ninguém nunca saberia o monstro sanguinário que você é! Mas você não pode controlar isso, não é? Não pode ir contra sua natureza! Agora você vai morrer, Tenko Kitsune! Vai morrer como um monstro, que é o que você é! Reiko e Byakko se entreolharam. Byakko suspirou e sacudiu a cabeça, como se estivesse na presença de uma criança birrenta. Reiko olhou com um certo desprezo para o cavaleiro. - Lembre-se do nosso acordo, Secousse. A mestiça deve viver. - CALE A BOCA, MAGO! -, urrou o cavaleiro, sem tirar os olhos de Tenko. - Secousse, devo lembrá-lo de que Lady Irina... - Silêncio! Não vou mais obedecer a ordem alguma daquela bruxa velha! Esse demônio matou dezenas de membros do meu clã! Da minha família! EU VOU MATAR ESSA MESTIÇA DESGRAÇADA! Urrou outra vez e avançou em direção à assassina com a espada em riste. Tenko estava preparada. Saltou de lado, evitando o ataque. Mas Primus rapidamente girou o corpo e atacou novamente. Secousse Primus não era nenhum amador. Há muito tempo ele havia dominado a arte de lutar com a espada de duas mãos. O cavaleiro sabia aproveitar o peso da espada para fazê-la cair mais rápido, e aproveitando a inércia, brandia a arma em uma velocidade espantosa. Tenko, acostumada a lutar com tartarugas, não estava preparada para enfrentar um inimigo tão veloz. Esquivava dos golpes com dificuldade, e não conseguia encontrar tempo para atacar o inimigo. Primus levantou a espada acima da cabeça, pronto para desferir um golpe vertical fulminante. Tenko viu sua chance. Saltou, desenhando um arco com o katar e cortando ambos os pulsos do cavaleiro. Os cortes foram profundos. Com os tendões arrebentados, Primus teria dificuldade em usar a espada. Tenko havia conquistado uma certa vantagem. Aproveitou a brecha para desferir um golpe mais preciso. Recuou o cotovelo para ganhar mais impulso, e em seguida cravou a lâmina da mão direita na lateral do abdome do cavaleiro, estilhaçando sua cota de malha e perfurando sua carne. Moveu lateralmente o braço esquerdo, preparando seu próximo ataque. O movimento seguinte rasgaria a garganta de Primus. Havia sido mais fácil do que ela esperava. Mas a lâmina não atingiu o pescoço de seu adversário. Parou a alguns centímetros de distância. Tenko conhecia este pequeno truque também. Magia divina. Cria uma barreira temporária de energia que protege o alvo. Kyrie Eleison é como os sacerdotes a chamam. Freya estava dando suporte para Primus. Tenko recuou para evitar o golpe da espada do cavaleiro. Viu Freya de mãos postas, murmurando suas orações. Os ferimentos de Primus se fecharam. A assassina resolveu mudar seu alvo. Correu em direção à sacerdotisa, katar em riste. Eliminar Freya era sua única chance. Saltou sobre ela. Não sabia se conseguiria matá-la. Sacerdotes se curam, é difícil eliminá-los em pouco tempo. Mas tentaria perfurar seus olhos, é mais difícil realizar magia sem contato visual. - Que os espíritos dos pântanos segurem suas pernas! Que seu corpo se torne pesado como a rocha! Tenko realmente sentiu o corpo pesar. Aterrissou de seu salto mau jeito, quase não conseguindo cair de pé. Primus surgiu ao seu lado e a atingiu com a manopla antes que pudesse se equilibrar. Tenko foi jogada no chão e rolou por alguns metros. Levantou-se e voltou a lutar. Mas dessa vez Primus parecia mais rápido! “Não... sou eu que estou mais lenta!” Viu a espada de Primus vindo em sua direção. Esquivou-se, mas a espada a atingiu de raspão. Primus grunhiu de felicidade ao ver o sangue da assassina jorrar, e continuou atacando. Tenko tentava desviar os golpes, fazendo-os atingir suas ombreiras, enquanto procurava atingir os pulsos do cavaleiro. Conseguia freqüentemente, e então Freya fazia os cortes se fecharem. Mas isso fazia Primus se atrasar, e lhe dava algum tempo para pensar em uma estratégia. Um golpe mais forte da espada de Primus estilhaçou sua ombreira esquerda, e Tenko foi forçada a pensar em outro modo de escapar. Primus aproveitou a falta da ombreira para tentar decepar o braço. Tenko o atingiu no punho no momento exato, fazendo a parte chata da espada atingir seu ombro no lugar da lâmina. Mesmo assim o golpe foi doloroso, e Tenko teve a ligeira impressão de que seus ossos haviam se transformado em farinha. Ainda atordoada pela dor, Tenko percebeu tarde demais a espada de Primus cortando o ar horizontalmente, na altura de seu pescoço. Não teria tempo de saltar para longe, então se abaixou. Sentiu a espada passar a poucos centímetros de distância do topo da sua cabeça. - Peguei você! -, grunhiu Primus. Rosnando com o esforço, reverteu o movimento anterior, em um golpe diagonal ascendente, veloz e inesperado. Tenko reuniu todas as suas forças e saltou para trás. Mas não conseguiu evitar o golpe. A assassina sentiu o sangue escorrer por sua face. Primus soltou uma risada insana ao ver a ponta da espada tinta de vermelho. Demorou alguns segundos para perceber que Tenko havia escapado de seu golpe. Se a assassina houvesse demorado um segundo a mais para saltar, a espada do cavaleiro teria partido sua cabeça em duas. Mas ela havia saltado no momento certo. Apenas a ponta da espada a havia atingido. Tenko Kitsune escapou do golpe fatal de Primus com apenas um corte na testa. E estava aproveitando o momento de hesitação do cavaleiro para fugir em disparada para o meio da floresta. Primus correu em seu encalço, seguido por Freya, Reiko e Byakko. Tenko correu o mais que pode. Não sabia para onde ir. Sua única chance era alcançar o Deserto de Sograt, o que significaria cobrir uma distância humanamente impossível. Mas ela precisava tentar. Corria o mais rápido que seu corpo ferido podia agüentar. Havia perdido uma quantidade considerável de sangue na batalha, e sentia-se cada vez mais fraca. Um grande vulto negro cortou seu caminho. Tenko demorou alguns segundos para identificar a figura. Era um pecopeco. E havia alguém montado. Segurou com firmeza o katar da mão direita, e o da esquerda melhor que pode com o braço ferido. Nas suas atuais condições não teria chance alguma contra um cavaleiro montado, mas não se entregaria facilmente. - Tenko Kitsune! Finalmente a encontrei! Era uma voz feminina. Uma amazona. Não poderia fazer parte da Casa Primus, pois era muito improvável que aquele clã permitisse que uma mulher andasse montada em um pecopeco, sozinha no meio da noite. Porém, a amazona conhecia seu nome, e a estava procurando. Desconfiada, Tenko colocou-se em posição defensiva. Tentou levantar o braço esquerdo, mas o ombro ferido não permitiu. Grunhiu de dor. - Tenko Kitsune, se me permite dizer, a senhorita não está em condições de lutar no momento. Sei que meu pedido irá lhe parecer um tanto inusitado, mas peço que confie em mim. Monte comigo, e eu a levarei para um lugar seguro. A amazona estendeu a mão. Tenko a observou por um bom tempo, e então aceitou a ajuda. Assim que a amazona a fez montar, a assassina desfaleceu em seus braços. Havia perdido sangue demais. A amazona apoiou Tenko o melhor que pode, segurando-a firmemente com um dos braços. Abaixou a cabeça e sussurrou para sua montaria. - Voltemos agora, querido Siegfried. Corra o mais que puder. O pecopeco grasnou, como se compreendesse as palavras de sua amazona, e em seguida saiu em disparada pelo meio da floresta. Tenko não soube dizer na hora porque havia confiado imediatamente na amazona. Talvez fosse por causa de sua voz tranqüila. Talvez fosse por seus modos gentis. Quem sabe fosse por causa da estranha aura de poder que ela emanava? Mas mais provavelmente, por causa do pequeno lírio negro gravado na cruz da espada que a amazona tinha na cintura, bem no ponto que refletia com mais intensidade a luz do luar. Primus seguiu a trilha de sangue deixada por Tenko até onde pode. Gritou de raiva quando a perdeu. - Não fique assim, Secousse, meu amor! Vamos encontrá-la de novo logo, logo! -, disse Freya, abraçando o cavaleiro. - Na verdade, já encontramos -, disse Reiko, apontando no chão as marcas feitas pelas patas de um pecopeco. O mago se abaixou e farejou o chão. - Exatamente como imaginei. Ah, Lady Irina vai ficar satisfeitíssima quando souber para onde a mestiça foi levada! -, rosnou o mago. Pelo tom irônico de sua voz, Lady Irina iria ficar bastante descontente caso soubesse do paradeiro de sua filha. - Você sabe para onde ela foi, mago? -, grunhiu Primus. - Sei. Com certeza sei. Não precisamos nem seguir as pegadas, conheço um caminho mais rápido. - Certo! -, disse o cavaleiro, acariciando os cabelos de Freya Dellan. – Freya, querida, você sabe mais alguma coisa sobre essa mestiça malvada que você ainda não tenha me contado? - Te contei tudo que sei! Não escondo nada de você! Primus torceu o canto da boca, em uma espécie de meio-sorriso. Com um movimento rápido, desembainhou a espada bastarda e brandiu-a horizontalmente, decepando a cabeça de Freya Dellan em um só golpe. Tirou um lenço da bolsa e começou a limpar a lâmina tranqüilamente. - Isso era realmente necessário? -, perguntou o mago, fitando enojado a sacerdotisa morta. Byakko nada disse. Apenas cruzou os braços e levantou as sobrancelhas, olhando com desprezo do cavaleiro para o cadáver, do cadáver para o cavaleiro. - Era sim. Ela foi útil por algum tempo, mas não quero essa víborazinha solta por aí para me trair. Ela se enroscava em qualquer um com uma aparência mais ou menos agradável, e tinha a língua frouxa demais. Acredite, ela é mais segura deste jeito -, disse o cavaleiro, apontando a sacerdotisa morta com a espada, antes de colocá-la de volta na bainha. – Aliás, não sei como aquela mestiça não acabou com ela antes. Se eu estivesse no lugar dela, essa pequena serpente já estaria morta há um bom tempo. Vamos embora daqui logo. Temos mais o que fazer. Reiko assentiu com a cabeça. Murmurou algumas palavras arcanas. O cadáver imediatamente ardeu em chamas. Partiram na direção de Alberta. ---------------------------------------------------------------- Tenko abriu os olhos e se deparou com um teto estranho. Sentou-se e olhou ao redor. Percebeu que não estava em uma cama, e sim em uma espécie de acolchoado baixo. O estilo arquitetônico também era bastante estranho. Era um aposento todo feito de pedra cinzenta, com grandes janelas sem vidro ou grades, e um portal sem porta. Tinha certeza que não estava em Alberta. Subitamente, notou que estava apoiada no braço esquerdo. E que ele não doía mais. Virou o pescoço e observou o ombro. Esticou o braço, dobrou-o e moveu os dedos. Estava perfeito. Levantou-se de supetão e observou seus ferimentos da noite anterior. Todos curados. Tenko só podia se lembrar de uma vez em que havia passado por uma situação parecida. No dia em que havia se tornado uma assassina. Alguém atravessou o portal. Era a amazona. Agora, no quarto bem iluminado, Tenko podia observá-la melhor. Era muito alta, mais que qualquer mulher que Tenko já havia conhecido e mais que grande parte dos homens também. Tinha um rosto muito belo, com lábios rosados e bem desenhados, nariz delicado e sobrancelhas sinuosas. Seus olhos eram cinzentos como o céu em dia de tempestade. Seus cabelos tinham um incomum tom azul-celeste, e haviam sido cortados um pouco abaixo do queixo. Ainda trajava armadura completa, com uma magnífica cota de malha. Tinha uma espada longa pendurada na cintura, e sobre seus ombros havia um manto de penas alvas. Carregava um grande elmo com chifres de carneiro debaixo de um dos braços. A amazona se aproximou de Tenko, e sentou-se no chão ao seu lado. - Como está passando, Tenko Kitsune? Teve uma boa noite? Desculpe minha grosseria na noite passada. Não tive tempo de me apresentar, e creio que lhe deva algumas explicações. - Explicação nenhuma, nobre dama. Eu compreendo perfeitamente o que aconteceu. -, disse Tenko, trêmula. – Só lamento ter deixado minha preciosa Nhyx para trás! -, gemeu a assassina. Tentava manter a compostura, mas as lágrimas corriam livremente por suas faces. Se soubesse que aquela era sua última noite, teria dito como a amava. A amazona sorriu e apoiou gentilmente a manopla no ombro da assassina. - Então reconhece meus traços, jovem guerreira do deserto? Creio que já deva ter passado por situações difíceis. Mas não se preocupe, jovem guerreira. Sua hora ainda não chegou. Este lugar não é o Valhalla, e eu não sou uma Valquíria, embora já o tenha sido no passado, e por isso você identificou meus traços: por já ter se encontrado com uma de minhas irmãs. Chamo-me Brynhildr, e estive em sua busca por um longo tempo. Tenko despertou subitamente. Estava viva! Primus não a havia derrotado! Sem dúvida, era um alívio para seu orgulho. Notou que estava praticamente nua. Usava apenas suas roupas de baixo. Ainda tinha os seios enfaixados, e o Colar do Oblívio ainda estava em seu pescoço. Dezenas de perguntas afloraram em sua mente ao mesmo tempo. Tentou fazê-las todas de uma vez, mas acabou engasgando com a própria saliva. - Uma de cada vez, jovem guerreira -, disse Brynhildr, sorrindo gentilmente. – Paciência, e responderei a todas as suas dúvidas. - Onde está a Nhyx? Aquela maldita Freya deve ter contado para o Primus sobre ela! Alguém tem que avisar que ela corre perigo! -, perguntou a assassina, com um certo desespero na voz. - Nhyx está a salvo. Ela foi avisada, assim como Kuroi Yuri e Sethit Aintaurë. As três estão seguras. Quanto à sacerdotisa de nome Freya Dellan, está neste exato momento a caminho dos domínios de Hel, pois este é o destino dos traidores. Tenko suspirou aliviada, e finalmente conseguiu relaxar os músculos. Se Nhyx, Kuroi e Sethit estavam a salvo, não havia com o que se preocupar. No entanto, ainda tinha algumas perguntas a fazer. - Lady Brynhildr. Seu nome não me é estranho. Kuroi mencionou algo sobre você uma vez. Bom, eu gostaria muito de saber onde eu estou. E mais, você disse que é... Foi uma Valquíria? Desculpe a minha desconfiança, mas tenho más experiências com membros da Cavalaria de Prontera. - Não peça desculpas, Tenko Kitsune. Sua desconfiança é perfeitamente justificada. Você se encontra em um templo localizado em uma pequena ilha próxima à costa de Amatsu. Quanto a mim, sou uma renegada. Já fui uma Valquíria, uma das preferidas de Odin. Mas acabei desobedecendo a uma ordem direta de Odin, e este me condenou a viver a vida de uma humana mortal. Mais ainda, fui condenada a me apaixonar pelo primeiro homem que eu visse, mesmo que fosse o pior dos criminosos. Mas um pouco depois, Odin se acalmou e resolveu abrandar minha punição. Então Ele decidiu que eu seria colocada no topo de uma altíssima montanha, no centro de um terrível círculo de fogo, e lá ficaria em sono profundo até que alguém viesse me despertar. Essa medida garantiria que apenas alguém corajoso o bastante para escalar a montanha e atravessar o círculo de fogo me despertasse. E quem foi ele, senão meu bravo Siegfried! O grande guerreiro que derrotou o monstro Fafnir! Mas houveram algumas adversidades entre nós. A maior culpada com certeza foi a feiticeira Grimhild, que enfeitiçou meu Siegfried para esquecer de mim e se apaixonar pela filha dela. Mas eu também tive minha parcela de culpa. Todo o caso terminou com a morte de Sigfried, e em seu funeral meu desespero foi tamanho que me joguei nas chamas de seu crematório. E então fui para as Terras Baixas, para Niflheim, por ter tirado minha própria vida. E lá permaneci, na Cidade dos Mortos, por muitos e muitos anos. Recentemente Odin mandou um mensageiro a mim. Dizia que o dia do Ragnarök se aproxima, e que precisava recrutar novos Einheirjar. Então me fez uma proposta: eu seria readmitida entre as Valquírias de Odin caso conseguisse levar para o Valhalla o espírito de um verdadeiro herói. - Não deve ser uma tarefa difícil. Heróis existem aos montes por aí -, comentou a assassina. - Preste atenção no que digo, Tenko Kitsune! -, retrucou a amazona, com um certo desespero na voz. – Não procuro um guerreiro forte, ou um guerreiro de linhagem nobre. Procuro um verdadeiro herói. Tem idéia de como isso é raro? Tenko refletiu por um momento, e compreendeu. Não era uma tarefa fácil. Era uma tarefa praticamente impossível. - Odin ainda quis dificultar mais minha tarefa, e designou que eu fosse em busca de uma alma heróica não como uma Valquíria, mas como uma humana mortal. E, ai de mim, me pregou uma peça digna de Loki, o Forjador de Trapaças! Quando me mandou de volta a Midgard, mandou também meu amado Siegfried, e fez que nós nos encontrássemos novamente. Mas quis ele que nosso amor fosse impossível! - Nenhum amor é impossível, creio eu -, respondeu a assassina. Mas porque está me contando tudo isso, Brynhildr? - Por que, jovem assassina, tenho boas relações com a mestra deste templo. E ela vem lhe observando há tempos, Tenko Kitsune. Ela acredita que você possa ser a alma heróica que procuro. Ela prevê grandes feitos em seu futuro, dignos de um Einheirjar. “O mundo inteiro está me vigiando?”, pensou a assassina. Mas não pronunciou a frase em voz alta. Sentia-se um tanto insegura dentro deste misterioso templo, cuja mestra a vigiava às escondidas. Também se sentia intimidada na presença da Valquíria. Mesmo com um corpo mortal, Brynhildr emanava poder. Não podia duvidar de sua história. Tenko havia visto uma Valquíria uma vez, e a semelhança entre as duas era inegável. Ao invés disso, fez uma pergunta que estava começando a incomodá-la. - Onde estão minhas roupas? E principalmente, onde estão minhas jurs? - A mestra deste templo e seus discípulos cuidaram de suas feridas, e conseguiram curar totalmente cada uma delas, exceto a ferida em sua face. Essa, por mais que se usasse magia divina de cura, deixou uma cicatriz. Seus trajes estavam irremediavelmente perdidos, então a mestra mandou uma mensagem à Guilda dos Assassinos, explicando a situação e requisitando um novo traje. Suas armas estão debaixo de seu travesseiro. Imaginei que gostaria de tê-las por perto quando despertasse. Tenko levantou o travesseiro duro e encontrou seu par de jur, todas as suas facas de arremesso e ainda sua bolsa de venenos. Desembainhou uma das jurs e observou o reflexo de seu próprio rosto. O golpe da espada de Primus estava permanentemente gravado em sua face. Uma diagonal torta, começando pouco abaixo do olho esquerdo e se elevando acima de sua sobrancelha direita. Tenko passou um longo tempo mirando a cicatriz. Tocou-a com as pontas dos dedos. Franziu a testa e viu a linha se deformar. Seu corpo já era coberto de cicatrizes, e ela não se importava em ter algumas a mais ou a menos, mas marcar o rosto de um assassino é uma ofensa mortal. Ainda assim, Tenko admitiu que teve sorte. Se o golpe houvesse se desviado para qualquer um dos lados, o preço seria metade de sua visão. Estava neste estado contemplativo, quando uma garota entrou no aposento. A assassina e a amazona voltaram-se para ela. Era uma garota bastante jovem. Tinha rosto redondo e nariz levemente achatado. Seus olhos eram escuros e afilados, e seu cabelo era negro e muito liso. Tinha estatura baixa, mesmo para sua aparente pouca idade. Vestia-se com uma batina amarelo-claro, uniforme dos noviços da Catedral de Prontera, e em sua cintura tinha pendurada uma maça simples. Carregava uma bandeja em uma das mãos e uma trouxa de pano na outra. Aproximou-se cautelosamente, olhando desconfiada para Tenko. Trocou algumas palavras com Brynhildr em uma língua que Tenko desconhecia, mas a amazona parecia dominar perfeitamente. Deixou a bandeja e a trouxa ao lado da assassina, fez uma rápida reverência e se retirou com pressa, possivelmente aliviada por se afastar da estrangeira de olhos cor-de-sangue. - É uma das discípulas deste templo. Ela disse que a mestra deseja vê-la. Trouxe alimento e roupas limpas, para que coma e se vista antes de sua audiência. Tenko farejou a bandeja. Havia uma pequena tigela com arroz branco puro. Outra com uma espécie de sopa. Um prato com uma porção de peixe, que alguém aparentemente havia esquecido de cozinhar, e também um copo com chá, o que Tenko muito apreciou. Comeu rapidamente, pois estava bastante faminta por causa da batalha do dia anterior. Checou as roupas. Serviam bem, apesar de estarem um pouco largas. Pelo que pode avaliar, era alguma espécie de traje típico da região. Era negro. “Pelo menos quem escolheu isso aqui acertou minha cor”, pensou a assassina, enquanto terminava de se vestir. Saiu do quarto em seguida, acompanhada por Brynhildr, que conhecia o caminho até os aposentos da mestra do templo. Tenko notou que o lugar estava fervilhando de discípulos. Todos com trajes de noviço, e todos com maças penduradas na cintura. Alguns mais velhos, outros mais novos. A maioria de olhos afilados e cabelos escuros, como os da garota que veio lhe entregar a mensagem. Mas havia alguns de cabelos ruivos e loiros, e rostos cobertos de sardas, noviços de pele escura e cabelos cacheados, e até um ou outro com cabelos verdes, azuis ou até cor de prata, de olhos amarelados ou arroxeados. Havia até mesmo um jovem noviço de cabelos muito negros, e olhos vermelho-carmim. Todos, sem exceção, paravam o que estavam fazendo para olhar para a assassina que passava. Vestida nos trajes de Amatsu, com as lâminas estrangeiras penduradas junto às coxas. Tenko estava habituada a olhares temerosos dirigidos à sua pessoa. Mas os olhares desses noviços tinham algo diferente. A maioria das pessoas parecia temê-la por medo do que era diferente. Medo do desconhecido. Estes jovens discípulos pareciam temê-la por ser semelhante a algo que conheciam muito bem. Isso podia ser visto claramente nas expressões surpresas dos rostos jovens. - Os aposentos da mestra são estes. Ela deve estar lhe esperando, Tenko Kitsune. Entre. Eu esperarei aqui fora, para o caso de precisarem de mim. -, disse Brynhildr. Tenko assentiu com a cabeça e adentrou no aposento à sua frente, mãos firmes na empunhadura das jurs, para o caso de algum ataque. Nunca se sabe... Entrou. Sua visão treinada de assassina automaticamente varreu a sala inteira em busca de armadilhas. Não viu nada que considerasse potencialmente perigoso. Era uma sala pequena. Havia uma coleção de maças penduradas na parede, e algumas soqueiras metálicas em cima de uma mesa de madeira pintada de vermelho. Ao fundo da sala, havia uma grande rocha cinzenta, com caracteres estranhos gravados. Tenko imaginou que fosse algum tipo de runa antiga. Havia dois pedestais de pedra, e em cima de cada um, uma estátua representando uma raposa, adornada com enfeites vermelhos em volta do pescoço. E no meio da sala, entre os dois pedestais, sentada tranqüilamente no chão de pedra, lábios repuxados, mostrando as presas em um sorriso e abanando a cauda felpuda, estava uma raposa viva. Sua pelagem era imaculadamente branca, e seus olhos eram de um púrpura profundo. A mestra do templo. A Raposa Branca. Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
Tenko Kitsune Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 Cara, deu vontade de esfolar a Freya com um fio dental (não a real é claro, falo da personagem).Curiosidade: as passagens sobre a troca das Asas de Anjo e dos 30 Oridecons são baseadas em fatos reais. =_=Outra coisa que queria sugerir é mudar o título da fic. E caramba, O Mundo Visto Através de Olhos Vermelhos... '-'É tão ruim assim? [/hmm] Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
super gogeta Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 MUITO BOM!! tenko, vc conseguiu de novo, esse capítulo foi mto bom, mas eu acho que o akari foi um pouco injusta, puts, ela fico disparando esferas direto, quando é que um noviço iria aguentar isso??e a nhyx conseguiu : ela humilhou um soldado, conseguiu destruir uma lâmpada de juno, deixou sethit e kuroi preocupadas e ainda roubou muita grana! prbns , esse capítulo foi inédito e MUITO bom, agora só quero ver a a luta do século: tenko e akari vs irina renard! owned! prbns denovo tenko, espero que haja ainda muitos capítulos, "tenko-san"[/heh] então, é isso, muito bom, agora gogogogo ver a luta contra a irina! prbns, já estou ansioso pelo próximo capítulo! ok,flow! ps: rá! o primeiro coment do capítulo é meu! owned! Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
keniushi. Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 Como sempre, todos nota MIL!! Eu daria 1001 mas como eu já li os capítulos que você tinha postado aqui no fórum, eles perderam um pouco da "mágica" que nos faz ficar tão ligados à sua fic ;P E provavelmente posto outro capítulo domingo ou segunda. Aguardem! =3[/o.o] Esperando Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
Tenko Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 Vixe, por enquanto eu ainda tô postando os que eu já tenho escritos, e tô espaçando as postagens pra dar tempo do povo comentar e tudo. Quando acabar os prontos eu vou ter que escrever, e demora porque eu não tenho muito tempo livre. Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
Tenko Kitsune Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 CAPÍTULO 18 - PERDOAR, JAMAIS ESQUECER Nhyx era uma mulher bastante reservada. Evitava a todo custo se meter em assuntos alheios. Mais ainda, era tímida, apesar de isso ser raro entre os da sua profissão. De qualquer modo, ninguém esperava realmente que uma ladina saísse espontaneamente oferecendo ajuda. Ela era uma legítima ladina da Guilda do Farol de Comodo. Furtar era o que fazia melhor, e sua técnica de luta incluía ataques-surpresa e punhaladas nas costas. Mas ao ver a sacerdotisa aos prantos, andando a esmo pela cidade e chamando o nome da mulher amada, Nhyx sentiu-se incapaz de ignorar a situação. Apesar de tudo, a ladina era extremamente gentil. Não poderia deixar de acudir a desorientada jovem de cabelos verdes. Além disso, sua comoção tinha motivos pessoais. Já havia algum tempo que Nhyx lutava contra os próprios sentimentos. Sofria de uma incômoda paixão não correspondida por uma jovem assassina de cabelos castanhos e temperamento forte, e talvez fosse este o motivo que a levou a escolher a Ilha das Tartarugas como campo de caça. No entanto a geniosa assassina, além de não corresponder seus sentimentos, não raro os feria. E por mais que Nhyx tentasse esquecê-la, freqüentemente sua mente era invadida por imagens do pequeno e ágil corpo de sua amada, seus escuros olhos afilados ou seus cabelos lisos e brilhantes. Mais de uma vez a ladina teve ímpetos de cravar no peito a própria adaga, e assim acabar com sua dor de uma vez por todas. No entanto, sempre havia a esperança de que no dia seguinte a dor desaparecesse. E assim Nhyx continuava viva para lutar por mais um dia. Vencendo sua característica timidez, a ladina amparou a jovem sacerdotisa e ouviu sua história. E foi com certo receio que aceitou o pedido para levar uma mensagem a Tenko Kitsune. Ora, Tenko Kitsune tinha certa má fama até mesmo entre os assassinos que freqüentavam a Ilha das Tartarugas. Todos eles, como é característico de sua profissão, eram reservados e orgulhosos. Mas Tenko era reservada e orgulhosa em demasia. Raramente dirigia a palavra a alguém, e quando esta lhe era dirigida, respondia laconicamente e se retirava logo em seguida. Alguns a consideravam antipática, outros a temiam. Nhyx não tinha opinião totalmente formada sobre ela, mas não podia deixar de sentir um pouco de medo daquela mulher de olhos rubros e feições ferozes. Quando chegou para entregar sua mensagem, a assassina se ergueu e a perfurou com o olhar. Nhyx sentiu um ligeiro arrepio descer por sua espinha, e as palavras se perderam em sua boca. Corando, desviou os olhos. Mas agora, analisando a cena, a ladina percebia que não havia agressividade alguma naqueles olhos vermelhos. Tenko Kitsune parecia triste. Sentiu um toque suave em seu ombro. Virou o pescoço e viu uma mão clara, de dedos esguios e longos, envolta em tecido escuro e presa a um pulso enfaixado. Era Tenko. - Você não me disse onde eu encontro a Freya... Era verdade. Na pressa, ela havia se esquecido. Indicou à assassina uma estalagem ao norte da cidade, onde Freya Dellan disse que estava hospedada. Enquanto dava as direções, reparou no material de desenho amontoado debaixo do braço de Tenko, e em seus olhos embotados de lágrimas. E foi a vez da assassina desviar o olhar, envergonhada. Ouviu as instruções até o fim e disparou em direção ao norte. Parou alguns passos à frente, virou-se para Nhyx e agradeceu com um leve aceno de cabeça. Então voltou a correr em direção à estalagem. Nhyx não conteve um sorriso. Mentalmente, torceu pela felicidade do casal. A imagem da assassina de cabelos castanhos invadiu outra vez seus pensamentos, e o sorriso da ladina se tornou levemente melancólico. ------------------------------------------------------ Tenko entrou na estalagem e se dirigiu imediatamente ao fundo do estabelecimento. Afundou o nariz nas dobras da capa e abaixou ligeiramente o Sakkat. Sondou o ambiente por alguns minutos, buscando uma batina e cabelos verdes. Não encontrou. Acenou para a estalajadeira e pediu chá. Bebeu lentamente, enquanto observava o movimento da pequena multidão que se espremia na sala. A maioria era de marinheiros suados e barulhentos, que bebiam de grandes canecos de cerveja. Havia também aventureiros aqui e ali. Boa quantidade de caçadores de tartaruga, inclusive alguns assassinos. Usavam capas longas, como grande parte dos aventureiros, mas Tenko os reconhecia pelo cheiro de sangue impregnado em sua pele e suas roupas. Assassinos sempre reconhecem uns aos outros. Esperou cerca de meia hora, e não viu sinal de Freya Dellan. Começou a se perguntar se Nhyx havia lhe passado uma informação errada. Mas a ladina não parecia estar mentindo. Tenko vira preocupação legítima naqueles olhos verdes. Terminou o chá e foi confirmar se a sacerdotisa se hospedava ali. Perguntou à gorda e esbaforida estalajadeira, que se esforçava para se lembrar da sacerdotisa que Tenko descrevia, ao mesmo tempo em que atendia um grupo de marinheiros que bradava por mais cerveja. - Cabelos verdes, olhos mel-esverdeado, sobrancelhas arqueadas... Você acha que eu presto atenção nesse tipo de detalhe, moça? De qualquer jeito, lembro dessa sacerdotisa sim. Ela deve estar chegando daqui a pouco. Porque não espera por ela em um dos quartos? Eu aviso que você está procurando! Como é seu nome mesmo? - Tenko Kitsune. - É comprido demais! - Só Tenko então. Ela vai se lembrar. Depositou um punhado de moedas na mão rechonchuda da mulher e subiu para um dos quartos. Jogou a capa e o Sakkat de lado e saltou na cama sem ao mesmo tirar as botas. Deitou-se, fitando o teto. Mais uma vez, Freya a havia colocado sob o teto de uma estalagem. Era uma coisa realmente estúpida a se fazer quando os soldados de Primus a caçavam. “Por outro lado”, pensou, “os idiotas devem estar revirando a floresta enquanto eu estou aqui deitada!”. Riu entre os dentes. O que Primus queria com ela? O que sua mãe quereria? Tenko tinha um mau pressentimento. Lembrou também da estranha raposa branca, que havia salvado sua pele diversas vezes, e que parecia saber sempre a sua localização. “Porque todo mundo me persegue?” No entanto, gostaria de ter a companhia da raposa nesse momento. Sentia-se mais solitária que nunca, e os olhos purpúreos do animal sempre a fizeram se sentir tranqüila. Sentia falta de um amigo. Sua profissão e seu estilo de vida tornavam amizades muito difíceis de serem conquistadas. Ela tinha Kuroi Yuri e Sethit, claro. Tinha imensa lealdade e consideração pelas duas, mas não era o tipo de companheiro que procurava. Kuroi era a criação, ela era a destruição. Não dava para ter uma boa conversa. E Sethit era presa demais ao passado. Shi no Toge era de quem mais sentia falta. Ele era um igual. Um gatuno como ela. Nunca havia se dado bem com outros assassinos. Eles a temiam. Ela podia sentir o cheiro do medo deles. Podia ouvir seus corações batendo quando os olhos deles encontravam os seus. Respirou fundo e apoiou a cabeça nas mãos. Fechou os olhos e se lembrou de sua infância. As outras crianças também a temiam. Até mesmo os soldados do castelo desviavam de seu caminho. E era fácil saber por quê: além de seu temperamento ruim e postura feroz, Tenko Kitsune tinha a herança de sua mãe. Dois rubis engastados em seu rosto pálido. “Por que olhos vermelhos?” Seu irmão tinha um leve tom avermelhado nos olhos, que ficava mais visível quando a luz incidia diretamente sobre eles. Mas de modo geral, eram castanhos. Tenko não. Seus olhos eram idênticos aos da mãe. Rubros como sangue fresco. Irina Renard era uma mulher bastante peculiar. Havia algo definitivamente sobrenatural naquela dama. Apesar de terem os mesmos olhos, Irina não causava temor como Tenko. Muito pelo contrário. Irina era sedutora e poderosa. Ninguém resistia ao seu misterioso magnetismo. Homens ou mulheres, todos se submetiam aos seus desejos. Esse fato intrigava Tenko, e a assustava também. Que espécie de mulher era aquela? “Minha mãe!” Sangue do seu sangue! Tenko intuía que poderia ter herdado da misteriosa e bela Lady Renard algo além dos olhos vermelhos. A voz de Reiko ecoava em sua mente, a chamando de “mestiça”. Decidiu esquecer o assunto e tentar se distrair. Sentou-se na cama e descalçou as botas. Tirou da cabeça sua aquisição mais recente e a colocou na mesa de cabeceira. Era uma espécie de tiara, adornada com um pequeno par de chifres pontiagudos. Certo dia um mercador lhe ofereceu insistentemente uma pequena caixa de cor azul-violácea, muito velha e surrada. Tenko não a queria, mas a insistência foi tanta que acabou cedendo. Abriu a caixa, e dentro dela encontrou a tiara com chifres. Acabou se apegando bastante ao equipamento, que era leve, resistente e a sensação de tê-lo na cabeça a fazia lembrar vagamente de suas antigas asas de anjo. Considerou o negócio vantajoso, no final. Sacudiu a cabeça para arrumar os cabelos e afrouxou as faixas que atavam seus pulsos e tornozelos. No entanto, não removeu o par de jur que tinha preso às coxas. De qualquer jeito, estava tão habituada ao peso das lâminas preso às pernas que não faria diferença alguma. Molhou sua pena na tinta e tentou desenhar, mas logo aflorou em sua mente a imagem de Freya, varrendo qualquer nesga de criatividade de seu cérebro. Irritada, Tenko amassou o papel, formando uma bola compacta, e a arremessou com força contra a parede. Sentou-se na cama, de pernas cruzadas, o rosto apoiado nas mãos e o mau humor aparente em sua expressão. Ficou assim por alguns minutos e então apoiou as mãos na nuca e se jogou para trás, deitando novamente. Freya havia voltado para atormentar seus pensamentos. A assassina sentiu uma onda quente de raiva nascer em seu peito e se espalhar por seu corpo. Logo em seguida, o calor ardente se dissolveu em ternura morna e líquida, se espalhando novamente até as pontas de seus dedos. Sempre se sentia assim quando pensava em Freya. Sorria em seus momentos de ternura, lembrando da jovem noviça encurralada por Grand Orcs há tanto tempo... E seu coração ardia de raiva ao evocar a imagem de Freya e o cavaleiro desconhecidos, sentados em uma mesinha em Al De Baran, sob a sombra de um guarda-sol. Lábios colados, línguas duelando ferozmente. Era nesses momentos, em que ternura e raiva se misturavam, que Tenko normalmente sentia as lágrimas escorrerem pelas faces. “Mas não desta vez”, pensou a assassina. Engoliu o choro. Olhou de relance para a janela e viu as últimas manchas alaranjadas no céu se tornarem púrpura, e logo depois azul-violáceo escuro. A Lua despontou no horizonte, e as primeira estrelas começaram a surgir. E nem sinal da maldita sacerdotisa ainda! Tenko Kitsune agora estava totalmente tomada pela raiva. Tinha vontade de espancar a mulher que a fazia sofrer dias a fio, invadindo sua mente. Nem quando dormia Tenko estava tranqüila. Freya surgia em seus sonhos. Não tinha um só momento de paz. Cerrou os punhos com força. A pior parte era que tinha perfeita consciência de que seria incapaz de ferir Freya de qualquer modo. Saltou da cama e dirigiu sua raiva contra uma das paredes do quarto, atingindo-a com seu punho fechado repetidas vezes, com toda a força que tinha. Ouviu algumas batidas do outro lado da parede, e uma voz sonolenta bradou algo sobre “arruaceiros que não deixam os outros dormirem”. Tenko sentou na cama outra vez, massageando os nós dos dedos doloridos. A raiva a fazia cerrar os dentes, a deixava ofegante e fazia seus cabelos se arrepiarem. Um rosnado baixo despontou involuntariamente em sua garganta. Um assassino experiente é perigoso, mas uma mulher enraivecida é muito mais. Junte os dois e terá uma mistura bastante explosiva. Alguém bateu na porta. Tenko saltou da cama. Em um segundo, desembainhou as jurs, por puro reflexo. Chutou a porta, abrindo-a com um grande estrondo. Do outro lado, estava Freya. Protegendo-se instintivamente com o braço esquerdo, ela olhava assustada para a assassina furiosa. Tenko encarou-a raivosamente, apertando com força a empunhadura das jurs. Freya respirou profunda e lentamente, deu um passo a frente e envolveu os quadris da assassina em seus braços. Apoiou a cabeça em seu busto e sussurrou timidamente: - Me perdoa? Tenko sentiu a raiva se dissolver em um segundo. Lágrimas escorreram por seu rosto. Abriu as mãos e soltou as armas, que bateram no assoalho com um ruído metálico. Abraçou a sacerdotisa com força e a beijou, sentindo o gosto salgado de suas lágrimas misturadas às dela. - Te perdôo... te amo. ---------------------------------------------------------------- Nhyx se esgueirou lentamente para ter uma visão melhor de seu alvo. Agachou-se atrás de uma das grandes raízes que brotavam do solo lodoso da Ilha das Tartarugas e preparou seu ataque. Tinha os olhos fixos em uma grande tartaruga-soldado, que vagava tranquilamente, sem desconfiar que a ladina a espreitava. Silenciosamente, Nhyx se aproximou da criatura. Quando a distância entre os dois diminuiu para alguns poucos metros, a ladina respirou profundamente e desembainhou seu gládio. A partir deste momento, não poderia mais hesitar. Qualquer hesitação resultaria em um ferimento grave ou até em sua morte. Com isso em mente, Nhyx disparou na direção da tartaruga. Se havia algo de que Nhyx pudesse se orgulhar era sua agilidade. Cobriu a distância que a separava de seu alvo em poucos segundos, chegou às costas do bruto e saltou para cima de seu casco. Seus pés pousaram graciosamente sobre a armadura sólida da tartaruga, mas um pouso suave não era sua intenção. Aproveitando a inércia da queda, a ladina dobrou os joelhos e cravou sua adaga no casco da incauta criatura. A tartaruga estendeu o pescoço e escancarou a boca, como se gritasse de dor, mas sua garganta não emitiu som algum. A ladina puxou o gládio de volta, aproveitando o impulso para saltar para o chão. Assumiu uma pose defensiva, com as pernas arqueadas, firmando sua base e o braço direito à frente do corpo, segurando um broquel. A mão esquerda segurava o gládio atrás das costas. Uma espécie de lama amarronzada borbulhava da ferida aberta no casco do soldado, e a mesma lama cobria a lâmina de sua adaga. Eram nesses momentos que Nhyx se lembrava que as tartarugas da Ilha não eram animais. Eram elementais. Sua origem era desconhecida. Talvez fossem brinquedo de algum sábio dos tempos antigos, ou guardiões de algum povo que não existe mais. Só sabia que defendiam aquela ilha a todo custo. E que fragmentos de seus cascos podiam ser vendidos por uma boa quantia de zeny. E para uma ladina isso basta. A tartaruga virou-se rapidamente, procurando seu agressor. Seus olhos amarelados e opacos logo encontraram o verde-azulado dos olhos da ladina. Nhyx flexionou mais os joelhos e segurou com mais firmeza o cabo da adaga. A tartaruga levantou uma das patas dianteiras e bateu com força no chão, causando um pequeno tremor. No instante em que a pata do bruto tocou o solo, seis grandes pedregulhos se desprenderam da terra lodosa e começaram a flutuar em torno de seu corpo. Lentamente, começaram a orbitar a torre pétrea que se erguia no meio do casco do soldado. Giravam em torno dela cada vez mais rápido, até se tornarem um borrão amarronzado. Nhyx moveu os quadris, deslocando seu centro de gravidade. Umedeceu os lábios. A qualquer momento agora... A tartaruga abaixou a cabeça bruscamente e as seis pedras voaram na direção de Nhyx. Ela já estava preparada. Saltou de lado, caindo de pé e atingindo o bruto com sua adaga enquanto os seis pedregulhos batiam contra o chão, fazendo voar terra e lama. A lâmina apenas arranhou o casco da criatura, que era sólido como um muro de tijolos. A tartaruga se irritou, e as pedras voaram mais uma vez na direção de Nhyx, que se esquivou novamente e arranhou outra vez o casco do bruto. Furioso, o soldado jogou os pedregulhos um para cada lado, fazendo-os perseguirem a ladina. Mas ela era ágil demais. A tartaruga começou a demonstrar sinais de cansaço. Seu esforço era imenso, mas não conseguia atingir aquele incômodo borrão vermelho e prata que arrancava seu casco aos poucos. A carapaça do bruto jorrava lama em diversos pontos, e ele começava sentir as patas fraquejarem. Nhyx saltou para trás, ficando frente a frente com seu adversário. A tartaruga concentrou toda a energia que lhe restava em um último trunfo. Lançou as pedras todas unidas em uma única massa sólida, na direção do peito da ladina. Poucos instantes antes do impacto, os pedregulhos se abriram em leque. Mas Nhyx já havia visto aquele movimento antes, e ao invés de saltar para o lado, abaixou-se. As pedras voaram longe. A tartaruga, no entanto, não havia terminado o movimento. Fez as pedras se erguerem quase até o teto da caverna, e então caírem enfileiradas sobre a cabeça da ladina. Nhyx percebeu a tempo. Precisava de uma mão livre para escapar, então atirou o gládio para frente, que foi se cravar no solo aos pés da tartaruga. Realizou então um salto frontal, durante a queda apoiou-se na mão livre e rolou para frente. Podia ouvir atrás de si o som das pedras atingindo o chão. Terminou o movimento agachada perto das patas da tartaruga. Arrancou o gládio do chão e, aproveitando o impulso pra ficar de pé, cravou a lâmina na parte debaixo da mandíbula do bruto, bem mais macia que o casco. A consistência da carapaça da tartaruga-soldado se assemelha à de uma muralha de pedra, mas sua pele é mais fina, mais como terra batida. Ato contínuo, Nhyx girou a adaga com uma torção de seu pulso e estendeu o braço, abrindo com a lâmina toda a parte inferior do pescoço do bruto. Lama morna jorrou da fenda aberta, cobrindo as mãos e os antebraços da ladina. A tartaruga dobrou as patas e caiu no chão. Em segundos seu corpo se desintegrou, como um castelo de areia que cai atingido por uma onda. O elemental retornava à terra. A Ilha das Tartarugas não era o campo de caça ideal para ladinos. As carapaças sólidas destes brutos eram difíceis de ser perfuradas até mesmo pelo gládio de Nhyx, imbuído com a essência dos Goblins, que são conhecidos por caçarem criaturas muito maiores que eles mesmos sem dificuldade alguma, e refinado sete vezes com oridecon. Não podendo contar com a força bruta, Nhyx tinha de apelar para um estilo de luta quase acrobático, dependendo totalmente de sua agilidade e aproveitando cada pequena oportunidade de atingir seu adversário, até surgir o momento em que poderia desferir um golpe fatal. Era um jeito bastante cansativo de lutar. Nhyx era ágil e forte, mas se cansava relativamente rápido. Sentou-se por alguns instantes, sem se importar se estava sujando as coxas e nádegas de lama. As constantes esquivas e rolamentos já a haviam deixado enlameada até a raiz dos cabelos. Agarrou um pequeno frasco atado ao cinto. Continha um líquido avermelhado e borbulhante. Tomou um gole e cada pêlo de seu corpo se arrepiou enquanto o líquido descia queimando pela sua garganta. Seus olhos começaram a lacrimejar, mas se sentiu mais bem-disposta. Então a viu. A poucos metros do lugar onde estava sentada passava uma jovem de porte pequeno, cabelos lisos e castanhos, com o busto e o ventre enfaixados e um elmo alado na cabeça. Carregava um par de jur. Nhyx acenou e abriu um sorriso tímido. A assassina acenou e sorriu de volta, e partiu no encalço de uma tartaruga. A ladina sentiu os olhos úmidos, e não era por causa da poção estimulante. Levantou-se rapidamente e virou o resto do líquido na garganta. Sacudiu a cabeça, sentindo a poção queimar seu esôfago. O efeito da poção a deixava nervosa e irritadiça. Mas pelo menos a embriagava e a fazia esquecer sua dolorosa paixão por alguns minutos. - Ei, Nhyx! Voltou-se na direção da voz. Era a sacerdotisa de cabelos verdes que havia ajudado alguns dias antes. Freya Dellan. Ao lado dela estava uma assassina alta, de cabelos ondulados e olhos vermelhos. Totalmente enlameada. Tinha um par de jur nas mãos e uma expressão satisfeita no rosto. - Temos que te agradecer! -, disse a sacerdotisa, sorrindo alegremente – graças a você estamos juntas de novo! Disse isso e beijou a bochecha da assassina repetidas vezes. Tenko sorriu e acenou com a cabeça, agradecendo também. Nhyx sorriu de volta. Um sorriso levemente melancólico. Freya rapidamente a convidou para se juntar ao grupo. - Aí eu posso te abençoar, e você caça melhor! E a gente te faz companhia, é muito triste ficar sozinha. A ladina concordou mentalmente. Realmente, era muito triste estar sozinha. ---------------------------------------------------------------- Tenko abriu os olhos. A luz do dia atingia seu rosto através da janela da estalagem. Bocejou, mas não quis se levantar. Fechou os olhos novamente e relembrou os acontecimentos do dia anterior. Havia sido um dia bastante agradável. A caçada foi boa. Apreciou também a companhia de Nhyx. Era bom conversar com um ladino novamente, embora ela parecesse um pouco melancólica. Mas Tenko não considerou isso um defeito. Ela havia percebido a maneira com que a ladina olhava aquela assassina de cabelos castanhos. Sabia como uma paixão frustrada podia ser dolorosa. E ultimamente estava refletindo bastante sobre seus próprios sentimentos. Seu carinho por Freya era imenso, mas não conseguia abandonar a odiosa lembrança de sua traição. Ela a havia perdoado. Mas seria capaz de esquecer? Lembranças de momentos bons e ruins transitavam desordenadamente na mente da assassina. Seria capaz de amar Freya do jeito que havia amado antes? A traição havia sido um golpe forte demais. Não queria admitir, mas lutava contra si mesma. A traição de Freya havia envenenado seu amor, e ele estava definhando lentamente. Virou-se na cama. Ao seu lado, o costumeiro vazio. Um pedaço de pergaminho havia sido colocado sobre o travesseiro de Freya. Tenko a apanhou e leu: “Vou caçar com um amigo meu hoje. Outro dia vamos de novo para a Ilha das Tartarugas. Beijos, Freya Dellan P.S.: Te amo.” Ficou imaginando se o tal amigo seria aquele cavaleiro fedendo a tabaco. Percebeu neste instante que poderia perdoar Freya, mas jamais esqueceria as brigas, o descaso e a traição. Era incapaz disso. Seu amor estava condenado à morte. Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
super gogeta Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 sim, meus amigos! está próxima a hora em que, quem já leu( como eu) essa obra prima, finalmente saberá a continuação dessa heróica( ou quem sabe não?) saga! agora é esperar mais um ou dois capítulos e depois, e ver( ou ler?) para crer. ótimo capítulo tenko! a luta com o primus foi mto real, eu visualizei tudo( sou bom nessas coisas,sempre fui assim) e puder ver claramente os dois quase se matando na floresta! gogoggo mais capítulos! [/fome] ah e, o peco da brunhilde (ou brynhildr, sei lá) é o próprio siegfried?? já ouvi falar em coisas que não valem a pena mas essa foi a pior( nussa, depois dessa piada eu vou acbar morendo, pior que daqueles bardos de woe...) então gogogo escrever mais e gogogo falar com a raposa, ótimo cap e ótima fc tenko! flow! Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
Tenko Kitsune Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 já ouvi falar em coisas que não valem a pena mas essa foi a pior*Congela* Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
Pdrk Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 Cara, deu vontade de esfolar a Freya com um fio dental (não a real é claro, falo da personagem).Curiosidade: as passagens sobre a troca das Asas de Anjo e dos 30 Oridecons são baseadas em fatos reais. =_=Outra coisa que queria sugerir é mudar o título da fic. E caramba, O Mundo Visto Através de Olhos Vermelhos... '-'É tão ruim assim? Na minha levemente sonolenta opinião, o título pode ficar assim que tá ótimo. Eu, particularmente, não vejo problema algum, e até relembra aqueles que não puderam ver o final da primeira vez.Quanto à passagem das Asas de Anjo e dos 30 Oridecons, só digo uma coisa:(Sério, assim que ela confirmou que foi real, eu fiquei quase nesse estado.) Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
Kawako Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 Vendo a fic inteira por R$ 20,00. Só mandar PM!!! Heheheheh brincadeirinha, Tenko me mataria enquanto durmo! Mas uma coisa falo: A personagem mais legal de todas ainda não apareceu! hihihihihihihi Eu compro, eu compro, EU COMPRO \o/ \o/ \o/ \o/ \o/ \o/ Para postar o endereço, visite o flogao do meu cachorro: luiginaldo =P Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
KilluaZK Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 Nossa Tenko... Me desculpe mas tenho que fazer essa pergunta, para saber se o problema é com minha caixa de entrada... Me desculpe mesmo. Você editou o texto corrigindo alguns errinhos leves como falta de espaço? Novamente eu peço desculpas, mas se o problema é com minha caixa de entrada, ferrou tudo... Abraços. Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
Tenko Kitsune Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 Sim, eu editei o espaçamento dos parágrafos. Estava difícil de ler. Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
KilluaZK Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 Uffa... Oquei, me desculpe novamente. Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
Tenko Kitsune Postado Maio 19, 2009 Compartilhar Postado Maio 19, 2009 Não Gon, tá certo assim mesmo. As frases entre parênteses são falas da Tenko. As I said, eu escrevia mal pra caramba. Vou colocar umas aspas pra ver se melhora o entendimento.E a relação entre a Tenko e a mãe dela será explorada a partir do capítulo 24, 25. =3 Citar Link para o comentário Share on other sites Mais opções de compartilhamento...
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