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O Mundo Visto Através de Olhos Vermelhos


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Gogeta, Gogeta... Tá ficando maluco, é? Quer que eu vá te fazer uma visita "amigável"?Tá, mas admito: não sigo a linha padrão dos Assassinos. Enquanto eles realizam a missão visando a eliminação rápida dos alvos, eu viso expurgar os pecados do alvo pelo sofrimento dele (daqui a pouco aparece alguém pra me chamar de Templário psicótico).Aproveitando a viagem, a Tenko ainda tá dando mais sorte que eu. Minhas aulas só acabam dia 28. Mas depois do dia 28, pego o primeiro avião pra minha querida Boa Vista - RR e boto a cidade abaixo com a bagunça. 

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e bota confusão nisso, as coisas vão literalmente ficar muito difíceis pra tenko, a começar pelos _______, não, melhor n disser

mas se for igual ao cap de antigamente, esses capítulos que vem a seguir são mto bons, como todos os outros, a parte do teste de sin vai ser mto rox, então gogogogo up tenko[/ok]

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Por que você não enfiou a adaga no **** do cavaleiro?

A adaga estava no quarto. =3

 

OH NOES!!!

*Corre para o castelo e encontra o cavaleiro deitado no chão gemendo de dor*

(cabeça de Killua)

-Não seja por isto Tenko /mal

-Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh- grita o cavaleiro ao sentir um objeto afiado perfurando uma parte do seu corpo que o filtro não me deixa dizer...

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*Mãos tremendo, enquanto sente a excitação percorrer cada milímetro do corpo*

Finalmente!!! FINALMENTE!!! Aleluia, irmãos!!! O momento chegou. Estamos diante de uma obra sem precedentes, de proporções monumentais, e por que não dizer, épicas. O mundo visto através de olhos vermelhos, de autoria de Tenko Renard (eu devo querer morrer) Kitsune, voltou para nós! *chorando de emoção

Desculpem, mas eu estou muito emocionado. *chora ainda mais* (muito emocionado MESMO)

Espero que me perdoem pela minha reação, mas é uma imensa alegria para mim ver Tenko Kitsune escrevendo suas histórias nesse fórum de novo. Devo confessar que acredito estar sonhando agora. É que "O mundo visto através de olhos vermelhos" foi a primeira fic que eu li neste fórum, e a li inteira (ou até o capítulo onde ela disse que ia parar de escrever) em uma noite. Paguei um Corujão em uma lan-house só pra ler essa história o mais rápido possível. E agora ela está de volta. Esse é o dia mais feliz da minha vida (sujeito a alterações). Por favor Tenko, não demore. Escreva mais, pois tem vários fãs seus que a aguardam. Entre eles, um humilde (sádico, psicopata, sedento de sangue, e com vontade de cravar suas katares em carne humana, Orc, goblin ou de demais raças) Assassino, que a admira intensamente.

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CAPÍTULO 20 - TRAIÇÃO SOB O LUAR 

 

 

 

 

Faltavam algumas horas

para o Sol se pôr. Tenko Kitsune checou o céu e anotou o fato mentalmente. Encaminhou-se

para o pequeno cais improvisado da Ilha das Tartarugas, atravessando a floresta

com incrível facilidade. Desviava de hordas de lavadeiras sem ao menos virar o

pescoço para enxergá-las, e saltava por cima de sapos de thara e pestes,

chutando de tempos em tempos uma ou outra mais atrevida que ousava abocanhar

seu tornozelo. Aproveitava o impulso da corrida para apoiar as mãos no casco

das tartarugas que passeavam pachorrentamente entre as árvores e saltar por

cima delas. Em pouco menos de um quarto de hora a assassina estava sentada na

parte de trás do bote de Gotanblue, saboreando a brisa do mar.

 

 

Ela estava mudada. Nos

últimos meses o corpo de Tenko estava visivelmente mais forte. Quando a

assassina se movia era possível ver seus tendões e músculos se contraindo sob

sua pele. Estava ainda mais imponente, e sua aparência e postura lembravam uma

pantera adulta. O quadril estreito e os seios comprimidos por faixas lhe davam

uma aparência levemente andrógina, e os cabelos soltos ao vento lhe davam um toque

extremamente feminino. Mas a mudança mais surpreendente estava nos cantos

repuxados de sua boca carnuda e rosada. A pantera sorria. Tenko Kitsune estava

visivelmente feliz.

 

Desceu do barco. O Sol já

estava começando a mergulhar no horizonte. Tenko jogou por cima dos ombros sua

velha e longa capa cinzenta. Seu fiel Manteau de Loki, excelente para fugas e

camuflagens. O manto tinha cor de sombra e se mesclava com qualquer tom de

escuridão. Já a havia salvado dezenas de vezes, e Tenko apostava que ainda a salvaria

dezenas mais. Principalmente nestes tempos atuais. Seu eterno inimigo, Sir Secousse

Primus, parecia estar realmente disposto a capturá-la. Seus encontros com

soldados estavam cada vez mais freqüentes, e suas lâminas haviam se tingido de

sangue humano mais vezes do que ela podia contar. Será que o cavaleiro

realmente acreditava que aqueles jovens guerreiros mal-treinados teriam alguma

chance contra ela, uma assassina experiente? Quantas vidas mais Primus estaria

disposto a sacrificar para satisfazer seus caprichos? Talvez ele a estivesse

testando. Esperando que ela tivesse piedade e deixasse os jovens soldados

viverem. Se fosse essa a intenção de Primus, ela seria frustrada. Tenko não

deixaria o inimigo viver para depois delatar sua localização.

 

 

Nariz e boca ocultos

pelas dobras da capa, olhos escondidos sob a sombra de um velho e desgastado

sakkat, a assassina rapidamente se esgueirou pelas sombras compridas do fim de

tarde. Andava junto às paredes e seus passos eram silenciosos. Subiu a avenida

principal da cidade de Alberta, em direção ao portão norte. Viu os soldados de

túnica negra, carregando espadas rústicas e escudos frágeis com o emblema da

cobra envolvendo a espada. O emblema da Casa Primus. Eles estavam por toda

parte, montando guarda em todas as portas e janelas de todas as estalagens da

cidade. Tenko passou tranqüilamente por trás de um deles. O soldado não se

moveu. Um movimento rápido da mão da assassina e o jovem teria um palmo e meio

de aço cravado entre as costelas. Tenko sentiu pena do despreparo do jovem, e

desejou que ele jamais a encontrasse. Ela era uma Assassina da Guilda do

Deserto de Sograt, não uma matadora sanguinária. Ao contrário do que diz o

senso comum, há uma grande diferença.

 

 

Atravessou os portões da

cidade e atingiu o trecho tranqüilo de floresta que circundava a cidade. Agora

ela não seria capturada facilmente. Os soldados de Primus, como todo garoto

pronterano criado em um castelo sem nunca botar o nariz para fora, eram

supersticiosos e não costumavam se atrever a entrar na floresta à noite. Tenko

não. A floresta noturna é o refúgio da pantera. Nesses últimos meses, a

assassina havia feito daquele trecho de mata sua casa, dormindo nas copas das

árvores e se alimentando do que pudesse encontrar. Pássaros, castanhas, frutos,

roedores. Ficaria um pouco mais complicado quando chegasse o inverno, mas

contava com a ajuda de Kuroi e Sethit, sem falar de Freya, que continuava

mantendo contato apesar do fim do relacionamento. De qualquer modo, a

perseguição estava se tornando desgastante. Mas Tenko Kitsune tinha algo que

mantinha o sorriso em seus lábios. Algo especial e querido.

 

 

Correu pela floresta até

chegar aos pés de uma grande árvore escondida no meio de muito mato, fora da

rota habitual. Farejou o ar por algum tempo. Confirmado que estava no lugar

certo, Tenko bateu no tronco da árvore com os nós dos dedos. Algo se deslocou

da copa frondosa para um dos galhos. A criatura saltou para o chão, pousando

com precisão surpreendente e quase nenhum ruído. Tenko se abaixou, ocultando-se

sob os arbustos, e tomou a criatura nos braços. Era uma mulher de esplêndidos

olhos verdes e longos cabelos prateados presos em uma trança. Tinha um casaco

comprido e vermelho, e um gládio pendurado na cintura. Uma ladina. Sua ladina.

Sua preciosa e amada Nhyx. Tenko puxou a ladina para perto de si com um

dos braços enquanto abaixava com a outra mão a dobra da capa que cobria sua

boca. Nhyx a beijou rapidamente. Ainda estavam muito perto da rota popular.

 

 

- Está com fome? -,

sussurrou a ladina.

 

 

- Um pouco -, respondeu

Tenko no mesmo tom. – E preciso de um banho.

 

 

- Eu também. Vamos até

aquele lago no fundo da floresta, enquanto ainda tem Sol. Aí dá pra gente

conversar direito.

 

 

Tenko assentiu com a

cabeça. Puxou de volta a dobra do manteau para cima do nariz. Nhyx jogou seu

próprio manteau, também cinzento e opaco, sobre os ombros. Correram em meio aos

arbustos, em direção à floresta fechada. Fora da rota dos viajantes e soldados

poderiam conversar tranqüilamente.

 

 

O lago em questão era um

bolsão de água que vinha de um riacho que cortava a floresta de Payon e corria

para o mar. Era um lugar calmo, uma pequena clareira rodeada de árvores. O Sol

agora era um grande disco alaranjado mergulhado no horizonte. O céu estava

dourado e púrpura, e se refletia nas águas calmas do pequeno lago. Tenko

rapidamente se livrou dos trajes encardidos e da armadura e mergulhou na água.

Emergiu sacudindo a cabeça e espalhando respingos.

 

 

- Está gelada! -, ganiu a

assassina. Nhyx riu, jogando o casaco e o elmo por cima da indumentária de

Tenko. Saltou na água e começou a desembaraçar os cabelos com os dedos. Tenko

empurrou a água com a palma da mão, formando uma pequena onda, que atingiu o

rosto da ladina. Nhyx levantou uma sobrancelha, desafiadora. A assassina

respondeu com outro jato d’água. Nhyx atingiu a superfície do lago com força,

empurrando uma quantidade considerável de água para cima da assassina.

 

 

- Assim não vale! Você

apela! E essa água está muito fria!

 

 

- Você que começou! -,

retrucou a ladina, rindo. Em seguida abraçou Tenko carinhosamente e sussurrou

em seu ouvido:

 

 

- Não se preocupe, eu te

aqueço!

 

 

----------------------------------------------------------------

 

 

Tenko considerou que

aquela era uma noite especialmente bonita. A Lua estava cheia e clara, um

imenso disco prateado flutuando acima de sua cabeça. A assassina tinha a

impressão de poder tocá-la. Milhares de estrelas pontilhavam o manto negro da

noite, recortado pelas copas frondosas das grandes e antigas árvores de troncos

grossos e nodosos que circundavam a pequena clareira e o lago onde Tenko havia

se banhado pouco tempo atrás. Um leve cheiro de carne assada ainda preenchia o

ar, único indício do jantar das duas gatunas. A fogueira e os ossos haviam sido

enterrados. Era importante não deixar vestígios de sua presença.

 

 

Agora a assassina estava

sentada, costas apoiadas em uma das árvores, mascando tranqüilamente o talo de

uma folha de grama. Sentada entre suas pernas estava Nhyx, que admirava a Lua em silêncio. Tenko

passava os dedos gentilmente pelos longos cabelos ainda úmidos da ladina,

desembaraçando-os com cuidado. Separou os fios prateados em três mechas de

tamanho mais ou menos igual e começou a trançá-las delicadamente, mas com

firmeza. Trançou o cabelo inteiro e então estendeu a mão e alcançou a presilha

metálica que Nhyx costumava usar. Afixou a presilha no fim da trança, deixando

um pequeno tufo de cabelo solto na ponta. Abraçou a ladina em seguida e

a puxou para perto de si.

 

 

- Ficou boa?

 

 

Nhyx puxou a longa trança

por cima o ombro e fingiu que a avaliava severamente. Sorriu e beijou os lábios

da assassina.

 

 

- Ficou sim. Você está

começando a aprender! -, disse, e se aninhou junto a Tenko, apoiando a cabeça

em seu peito. Tenko a abraçou e beijou sua testa, suas orelhas e seu pescoço.

Sorria como uma criança quando a ladina estava por perto. Permaneceram assim

por algum tempo, sem dizer uma palavra, como se suas vozes fossem profanar

aquele momento tão belo.

 

 

Às vezes pensamentos

indesejados surgiam na mente de Tenko, como uma súbita neblina que ofusca a luz

do Sol. Amava Nhyx, tinha certeza disso. Mas Nhyx ainda amava aquela pequena

assassina de cabelos castanhos. Ou não amava mais? Abraçou a ladina com

mais força, e esta soltou um leve suspiro. Talvez estivesse cochilando. Tenko

procurou manter-se imóvel, para não acordá-la. De certo modo, era uma honra ter

Nhyx dormindo em seus braços. Ladinos, assim como assassinos,

normalmente são pessoas extremamente cautelosas. Nhyx confiava nela o bastante

para abaixar a guarda totalmente e se entregar aos seus cuidados. Mas a amaria?

A ladina parecia se incomodar com as declarações de Tenko, então a

assassina costumava evitá-las. Às vezes sentia as palavras queimarem sua

garganta, loucas para escapar. Mas os lábios da assassina mantinham-se

cerrados. Palavras são mais destrutivas que a adaga ou o katar. Palavras são

traiçoeiras. Manter o silêncio era o correto a se fazer, e ter sua amada ladina

em seus braços já era mais que o suficiente.

 

 

Nhyx levantou a cabeça e

beijou o rosto de Tenko. A assassina respondeu beijando-lhe os lábios.

 

 

- Pensei que você

estivesse dormindo...

 

 

- Não estava não. Só

descansando um pouquinho. Hoje foi um dia cansativo.

 

 

Havia sido realmente um

dia cansativo. Ambas tinham o hábito de caçar tartarugas, e vez ou outra se

cruzavam na Ilha. No entanto preferiam não demonstrar seus sentimentos uma pela

outra em público. Tenko

tinha plena consciência que estava sendo perseguida e que os soldados de Primus

adorariam a oportunidade de usar sua amante como refém ou isca, e apesar de

saber que os jovens e supersticiosos guerreiros da Casa Primus jamais se

arriscariam na supostamente amaldiçoada Ilha das Tartarugas, sabia que o clã

tinha ouro o bastante para pagar um informante. E era por esse motivo que as

duas preferiam se encontrar no meio da floresta, fora das rotas normais, no fim

da tarde ou na calada da noite.

 

 

A ladina se deitou

na grama, cabeça apoiada nas mãos, olhando para o céu. Tenko deitou-se ao seu

lado, recostando a cabeça em seu ombro.

 

 

- A noite está linda

hoje, não está, Tenko?

 

 

Tenko concordou, balançando

a cabeça.

 

 

- Está sim. Costumava

ouvir que as noites de baile no castelo de meu pai eram belas, mas nenhuma foi

tão bela quanto esta de hoje.

 

 

- Ah, sim, você veio de

Prontera. Você me contou...

 

 

Durante seus encontros

furtivos, Tenko havia contado toda sua história para Nhyx. Desde o dia em que

havia saído de casa, montada em um pecopeco sem sela, até suas mais atuais

caçadas na Ilha das Tartarugas. Descobriu em uma dessas conversas que Nhyx

havia conhecido seu mestre Shi no Toge, embora não tivessem tido nenhuma

relação além da comum entre uma gatuna e um ladino nas ruas de Morroc.

Havia contado sobre suas frustrações e sobre os acontecimentos que a levaram a

se tornar uma gatuna.

 

 

- E você, Nhyx? Como foi

que acabou virando gatuna? E como acabou sendo uma ladina?

 

 

Nhyx suspirou fundo e

fechou os olhos, como se tentasse visualizar as cenas do passado. Permaneceu

alguns minutos deste jeito, concentrada, e então deitou-se de lado, sua face

próxima à da assassina, as pontas dos narizes quase se tocando.

 

 

- Minha história não tem

nada muito especial, Tenko. Nenhum ato heróico, nenhuma fuga no meio da noite,

nada. Minha família vivia em

Morroc. Em uma daquelas casas pobres, na periferia da cidade.

Meus pais eram mercadores, não de uma família nobre como a da Kuroi, mas

pessoas simples. Eles compravam poções e flechas dos grandes fornecedores da

cidade e revendiam nos arredores da Pirâmide de Morroc, e da Esfinge também. O

lucro nunca era muito alto, e mal dava pra gente se sustentar. Até que um dia

eles saíram de casa e não voltaram mais. Houve um ataque de monstros, ficamos

sabendo só depois. Os aventureiros que costumam caçar naquela área mataram os

monstros. Morreram naquele dia um ou dois cavaleiros, um caçador ou outro, até

da morte de um assassino ouvimos falar. Mas quando esse tipo de coisa acontece

os mercadores são sempre os primeiros a morrer...

 

 

- Eu sinto muito. -,

disse a assassina, um pouco constrangida por ter perguntado. Achou que nesse

caso específico não seria muito gentil soltar uma das máximas da Guilda do

Deserto de Sograt, como “a morte é nossa companheira em todo momento” ou “os

fortes sobrevivem, os fracos sucumbem”. Ao invés disso, acariciou as costas da

ladina e deu-lhe um beijo delicado.

 

 

- Tudo bem, Tenko! Isso

foi há muito tempo. -, disse a ladina, com um leve sorriso nos lábios. – Enfim,

acabei ficando sozinha. Existia um orfanato na cidade, dirigido por um grupo de

sacerdotes vindos de Prontera. Não sei se ainda existe, mas na época existia e

acabei ficando por lá. Mas eu não tinha a mínima vocação para o sacerdócio! -,

disse Nhyx, rindo alto. – Nunca tive paciência para ficar ajoelhada por horas

rezando para deuses em que não tenho certeza se acredito. Além disso, “voto de

pobreza” é uma expressão que não me agrada nem um pouco! Nunca fui

disciplinada, arranjava briga com a maioria das crianças do orfanato. Deixava

as sacerdotisas loucas, fugia para o deserto e ficava atirando pedras nos

monstros só para ver eles se irritarem. Eles corriam atrás de mim, mas nunca me

pegavam. Eu sempre fui rápida! Foi quando comecei a me dar conta que minha

agilidade poderia ter utilidade maior que algumas brincadeiras com monstros.

Foi então que comecei a bater carteiras, assaltar lojas de mercadores, enfim,

realizar pequenos furtos. E naturalmente acabei me juntando à Guilda dos

Gatunos e largando aquela porcaria de orfanato. Conheci bastante gente,

gatunos, ladinos, alguns de outras classes também. Viajei um pouco por

Rune-Midgard...

 

 

- ...E aí você treinou

bastante e virou uma ladina! -, disse Tenko suavemente, roçando seus lábios nos

de Nhyx.

 

 

- Eu treinei bastante

sim, mas não para ser uma ladina. Eu parti para o deserto, em busca de um

lendário templo envolvido em tempestades de areia...

 

 

- Você queria ser uma

assassina? -, disse Tenko, surpresa. Nhyx sorriu ante o espanto da companheira.

 

 

- Sim. Eu sempre admirei

a força e a tenacidade dos assassinos. Me sentia atraída por eles quando os via

passar pelas ruas de Morroc. Sempre tão misteriosos e calados, com aquelas

capas manchadas de sangue. Além disso, ela havia se tornado uma

assassina...

 

 

Nhyx abaixou o olhar,

pensativa. Tenko permaneceu impassível, embora a menção à sua rival de olhos

escuros fizesse seu peito arder de ciúme.

 

 

- Mas então -, disse a

ladina, sacudindo a cabeça e afastando de sua mente o que quer que estivesse

pensando. – Eu cheguei a encontrar o templo. Passei em todos os testes, mas o

mestre da guilda não quis me aceitar. Disse que eu não tenho o “espírito do

assassino”. Que eu sou destemida e leal, e isso é bom. Mas não tenho esse

orgulho todo que vocês prezam tanto, e não sou muito de seguir regras e

códigos. Enfim, não consegui o Colar do Oblívio e a roupa colada sexy.

Mas depois de ouvir aquele discurso de “a morte é companheira” e tal, não

queria mesmo! Vocês levam tudo muito a sério!

 

 

Tenko deu um leve

beliscão na coxa da ladina ao ouvir o comentário sobre seus trajes. Nhyx riu, e

respondeu com um tapa na panturrilha da assassina. Em seguida escorregou os

dedos para o peito da assassina e alargou com a mão as faixas apertadas que

envolviam seu tórax e pescoço. Mergulhou a mão no decote do traje escuro de

Tenko. Puxou de dentro dele uma corrente fina, com um pequeno pingente

representando um busto feminino com uma adaga cravada no peito. O Colar do

Oblívio, emblema da Guilda dos Assassinos do Deserto de Sograt. Tenko Kitsune

nunca removia o colar, nem mesmo quando dormia ou se banhava.

 

 

- Você sempre usa isso,

não usa?

 

 

Tenko assentiu com a

cabeça.

 

 

- Minha mocinha é uma

assassina orgulhosa e mal-humorada! –, brincou Nhyx, sorrindo maliciosamente

enquanto observava o pingente com cuidado.

 

 

- Ei, isso é prata não é?

 

 

- É sim. Por que?

Pretende me assaltar enquanto eu durmo?

 

 

- Quem sabe?

 

 

- Duvido que você

consiga! – A assassina abriu um sorrisinho cínico e levantou uma sobrancelha. A

ladina saltou sobre ela e as duas rolaram na grama. Nhyx era mais ágil e Tenko

mais resistente. As duas tinham a mesma força, e essas pequenas disputas sempre

acabavam com as duas sujas de terra, abraçadas e dando risada. E esta vez não

foi diferente. Tenko abraçava a ladina com força, suas mãos passando por dentro

do pesado sobretudo escarlate. Nhyx a afastou delicadamente.

 

 

- A Lua já vai alta no

céu. Preciso dormir um pouco.

 

 

Tenko concordou.

Precisava de algum tempo de sono também. Tinha que acordar antes do nascer do

Sol. Antes que os soldados de Primus se embrenhassem na floresta, pois sob a

luz forte do dia os medos e superstições diminuem consideravelmente.

Despediram-se, lamentando não poderem dormir uma nos braços da outra.

Beijaram-se com carinho, jogaram seus mantos cinzentos sobre os ombros e

desapareceram entre as sombras da floresta.

 

 

Tenko sempre se sentia um

pouco melancólica nestes momentos de despedida. Escolheu uma árvore de tronco

grosso e muitas folhas, e a escalou sem dificuldade. Aninhou-se em um galho

alto e cobriu-se com a capa. Estaria protegida do frio e de olhares

indesejados. Era bom ter um corpo leve nessas horas. Fechou os olhos e

adormeceu rapidamente.

 

 

----------------------------------------------------------------

 

 

Tenko

acordou subitamente. Olhou para o céu. Ainda podia ver raios prateados de luar

atravessando a copa frondosa da árvore que lhe servia de cama. Apurou os

ouvidos. Alguém caminhava pela floresta sem cuidado algum, esmagando folhas

secas e gravetos e fazendo muito barulho. O vento trazia um aroma conhecido.

Farejou, tentando identificá-lo. Reconheceu. Era o cheiro de Freya.

 

 

Olhou

para baixo e viu a sacerdotisa de cabelos verdes rondando o tronco da árvore.

Freya estaria com algum problema? Saltou de sua cama para um galho mais baixo,

e deste foi para o chão, pousando habilmente e quase sem produzir ruído algum.

 

 

-

Freya, o que houve?

 

 

A

sacerdotisa olhou diretamente para as íris vermelho-sangue da assassina. Tenko

sentiu cada pêlo de seu corpo se arrepiar. Seus olhos, seu nariz e seus ouvidos

não captavam nada de anormal, mas seu misterioso sensor de perigo a avisava que

havia algo muito errado com Freya Dellan. Suas mãos instintivamente alcançaram

as jurs presas em suas coxas. Seu coração havia disparado. Olhou mais uma vez

para a sacerdotisa. Havia algo estranho em seu olhar.

 

 

-

Freya...

 

 

-

Confuturus facere lex divina! Silentio!

 

 

Tenko sentiu a garganta

arder, como se estivesse engolindo faíscas. Conhecia aquela magia. Já havia

visto os sacerdotes a usarem para suprimir os poderes curativos de algumas

tartarugas na Ilha. O efeito era simples: sob o efeito da magia, a voz da

vítima era completamente eliminada. Isso era particularmente ruim para magos e

outros usuários de magia, que precisam recitar formular, ou para qualquer um

que dependa de kiai para desferir seus golpes com força. Mas contra uma

assassina, uma guerreira silenciosa, a magia tinha pouca utilidade. Tenko só

podia concluir que Freya a queria calada. Mas por quê?

 

 

Logo descobriu. Algumas

sombras se moveram por trás das árvores. Três figuras masculinas vieram em sua

direção. Agora, banhadas pelo luar, Tenko podia identificá-las. A primeira era

um mercador, pálido e esguio, com longos cabelos louros presos em um rabo de

cavalo. O segundo também era pálido, e também possuía cabelos louros, que caiam

em tufos macios sobre seu rosto. Trajava-se como um mago. O terceiro era um

homem alto, trajando armadura completa. Seus cabelos eram longos e negros,

presos junto à nuca. Seus olhos caídos eram de um azul profundo. Seu rosto era

fino, e seu nariz era grande e reto. Tinha uma boca grande demais para seu

rosto, e seus lábios estavam retorcidos em um sorriso cruel. Em suas mãos havia

uma longa espada bastarda, com diversas cabeças serpentinas entalhadas na

empunhadura.

 

 

Seu incansável perseguidor.

Sir Secousse Primus.

 

 

- Ora, ora, se não é

minha linda noiva. Finalmente nos reencontramos, senhorita Tenko Renard! Ou...

Como a chamam agora? Ah sim! Tenko Kitsune!

 

 

Tenko dobrou os joelhos,

abaixando seu centro de gravidade, e aumentou a distância entre seus pés,

reforçando sua base. Estava em desvantagem. Não poderia fugir, provavelmente os

soldados de Primus estavam espalhados pela floresta inteira. Correr era, com

certeza, cair em uma emboscada. Segurava suas jurs com firmeza. Esperaria

Primus fazer o primeiro ataque, e então contra-atacaria. Olhou de relance para

Freya, que havia corrido para o lado do cavaleiro, e a odiou. Esteve certa o

tempo inteiro. Primus tinha mesmo uma informante. “Traidora”, rosnou entre os

dentes. Mas sua voz não saiu. Voltou o olhar para Primus. Notou que o cavaleiro

afrouxou as mãos no punho da espada, e seus olhos se arregalaram por um

instante. Ele temia o olhar furioso de Tenko Kitsune.

 

 

- Mestiça nojenta! -,

rosnou Primus, se desfazendo da longa capa cor de creme e dobrando os joelhos

em uma pose de combate. Tenko também abaixou os seus pouco mais. – Você deveria

ter aceitado minha proposta de casamento. Você poderia ter uma vida decente, e

ninguém nunca saberia o monstro sanguinário que você é! Mas você não pode controlar

isso, não é? Não pode ir contra sua natureza! Agora você vai morrer, Tenko

Kitsune! Vai morrer como um monstro, que é o que você é!

 

 

Reiko e Byakko se

entreolharam. Byakko suspirou e sacudiu a cabeça, como se estivesse na presença

de uma criança birrenta. Reiko olhou com um certo desprezo para o cavaleiro.

 

 

- Lembre-se do nosso

acordo, Secousse. A mestiça deve viver.

 

 

- CALE A BOCA, MAGO! -,

urrou o cavaleiro, sem tirar os olhos de Tenko.

 

 

- Secousse, devo

lembrá-lo de que Lady Irina...

 

 

- Silêncio! Não vou mais

obedecer a ordem alguma daquela bruxa velha! Esse demônio matou dezenas de

membros do meu clã! Da minha família! EU VOU MATAR ESSA MESTIÇA DESGRAÇADA!

 

 

Urrou outra vez e avançou

em direção à assassina com a espada em riste. Tenko estava preparada. Saltou de lado,

evitando o ataque. Mas Primus rapidamente girou o corpo e atacou novamente.

Secousse Primus não era nenhum amador. Há muito tempo ele havia dominado a arte

de lutar com a espada de duas mãos. O cavaleiro sabia aproveitar o peso da

espada para fazê-la cair mais rápido, e aproveitando a inércia, brandia a arma

em uma velocidade espantosa. Tenko, acostumada a lutar com tartarugas, não

estava preparada para enfrentar um inimigo tão veloz. Esquivava dos golpes com

dificuldade, e não conseguia encontrar tempo para atacar o inimigo.

 

 

Primus levantou a espada

acima da cabeça, pronto para desferir um golpe vertical fulminante. Tenko viu

sua chance. Saltou, desenhando um arco com o katar e cortando ambos os pulsos

do cavaleiro. Os cortes foram profundos. Com os tendões arrebentados, Primus

teria dificuldade em usar a espada. Tenko havia conquistado uma certa vantagem.

Aproveitou a brecha para desferir um golpe mais preciso. Recuou o cotovelo para

ganhar mais impulso, e em seguida cravou a lâmina da mão direita na lateral do

abdome do cavaleiro, estilhaçando sua cota de malha e perfurando sua carne.

Moveu lateralmente o braço esquerdo, preparando seu próximo ataque. O movimento

seguinte rasgaria a garganta de Primus. Havia sido mais fácil do que ela esperava.

Mas a lâmina não atingiu o pescoço de seu adversário. Parou a alguns

centímetros de distância. Tenko conhecia este pequeno truque também. Magia

divina. Cria uma barreira temporária de energia que protege o alvo. Kyrie

Eleison é como os sacerdotes a chamam. Freya estava dando suporte para Primus.

 

 

Tenko recuou para evitar

o golpe da espada do cavaleiro. Viu Freya de mãos postas, murmurando suas

orações. Os ferimentos de Primus se fecharam. A assassina resolveu mudar seu

alvo. Correu em direção à sacerdotisa, katar em riste. Eliminar Freya

era sua única chance. Saltou sobre ela. Não sabia se conseguiria matá-la.

Sacerdotes se curam, é difícil eliminá-los em pouco tempo. Mas tentaria

perfurar seus olhos, é mais difícil realizar magia sem contato visual.

 

 

- Que os espíritos dos

pântanos segurem suas pernas! Que seu corpo se torne pesado como a rocha!

 

 

Tenko realmente sentiu o

corpo pesar. Aterrissou de seu salto mau jeito, quase não conseguindo cair de

pé. Primus surgiu ao seu lado e a atingiu com a manopla antes que pudesse se

equilibrar. Tenko foi jogada no chão e rolou por alguns metros. Levantou-se e

voltou a lutar. Mas dessa vez Primus parecia mais rápido!

 

 

“Não... sou eu que estou

mais lenta!”

 

 

Viu a espada de Primus

vindo em sua direção. Esquivou-se, mas a espada a atingiu de raspão. Primus

grunhiu de felicidade ao ver o sangue da assassina jorrar, e continuou

atacando. Tenko tentava desviar os golpes, fazendo-os atingir suas ombreiras,

enquanto procurava atingir os pulsos do cavaleiro. Conseguia freqüentemente, e

então Freya fazia os cortes se fecharem. Mas isso fazia Primus se atrasar, e

lhe dava algum tempo para pensar em uma estratégia. Um golpe mais forte da

espada de Primus estilhaçou sua ombreira esquerda, e Tenko foi forçada a pensar

em outro modo de escapar. Primus aproveitou a falta da ombreira para tentar

decepar o braço. Tenko o atingiu no punho no momento exato, fazendo a parte

chata da espada atingir seu ombro no lugar da lâmina. Mesmo assim o golpe foi

doloroso, e Tenko teve a ligeira impressão de que seus ossos haviam se

transformado em farinha.

 

 

Ainda atordoada pela dor,

Tenko percebeu tarde demais a espada de Primus cortando o ar horizontalmente,

na altura de seu pescoço. Não teria tempo de saltar para longe, então se

abaixou. Sentiu a espada passar a poucos centímetros de distância do topo da

sua cabeça.

 

 

- Peguei você! -, grunhiu

Primus. Rosnando com o esforço, reverteu o movimento anterior, em um golpe

diagonal ascendente, veloz e inesperado. Tenko reuniu todas as suas forças e

saltou para trás. Mas não conseguiu evitar o golpe. A assassina sentiu o sangue

escorrer por sua face.

 

Primus soltou uma risada

insana ao ver a ponta da espada tinta de vermelho. Demorou alguns segundos para

perceber que Tenko havia escapado de seu golpe. Se a assassina houvesse

demorado um segundo a mais para saltar, a espada do cavaleiro teria partido sua

cabeça em duas. Mas

ela havia saltado no momento certo. Apenas a ponta da espada a havia atingido.

Tenko Kitsune escapou do golpe fatal de Primus com apenas um corte na testa. E

estava aproveitando o momento de hesitação do cavaleiro para fugir em disparada

para o meio da floresta. Primus correu em seu encalço, seguido por Freya, Reiko

e Byakko.

 

 

Tenko correu o mais que

pode. Não sabia para onde ir. Sua única chance era alcançar o Deserto de

Sograt, o que significaria cobrir uma distância humanamente impossível. Mas ela

precisava tentar. Corria o mais rápido que seu corpo ferido podia agüentar.

Havia perdido uma quantidade considerável de sangue na batalha, e sentia-se cada

vez mais fraca.

 

 

Um grande vulto negro

cortou seu caminho. Tenko demorou alguns segundos para identificar a figura.

Era um pecopeco. E havia alguém montado. Segurou com firmeza o katar da mão

direita, e o da esquerda melhor que pode com o braço ferido. Nas suas atuais

condições não teria chance alguma contra um cavaleiro montado, mas não se

entregaria facilmente.

 

 

- Tenko Kitsune!

Finalmente a encontrei!

 

 

Era uma voz feminina. Uma

amazona. Não poderia fazer parte da Casa Primus, pois era muito improvável que

aquele clã permitisse que uma mulher andasse montada em um pecopeco, sozinha no

meio da noite. Porém, a amazona conhecia seu nome, e a estava procurando.

Desconfiada, Tenko colocou-se em posição defensiva. Tentou levantar o braço

esquerdo, mas o ombro ferido não permitiu. Grunhiu de dor.

 

 

- Tenko Kitsune, se me

permite dizer, a senhorita não está em condições de lutar no momento. Sei que

meu pedido irá lhe parecer um tanto inusitado, mas peço que confie em mim. Monte comigo, e eu

a levarei para um lugar seguro.

 

 

A amazona estendeu a mão.

Tenko a observou por um bom tempo, e então aceitou a ajuda. Assim que a amazona

a fez montar, a assassina desfaleceu em seus braços. Havia perdido sangue

demais. A amazona apoiou Tenko o melhor que pode, segurando-a firmemente com um

dos braços. Abaixou a cabeça e sussurrou para sua montaria.

 

 

- Voltemos agora, querido

Siegfried. Corra o mais que puder.

 

 

O pecopeco grasnou, como

se compreendesse as palavras de sua amazona, e em seguida saiu em disparada

pelo meio da floresta.

 

 

Tenko não soube dizer na

hora porque havia confiado imediatamente na amazona. Talvez fosse por causa de

sua voz tranqüila. Talvez fosse por seus modos gentis. Quem sabe fosse por

causa da estranha aura de poder que ela emanava? Mas mais provavelmente, por causa

do pequeno lírio negro gravado na cruz da espada que a amazona tinha na

cintura, bem no ponto que refletia com mais intensidade a luz do luar. 

 

 

 

 

Primus seguiu a trilha de

sangue deixada por Tenko até onde pode. Gritou de raiva quando a perdeu.

 

 

- Não fique assim,

Secousse, meu amor! Vamos encontrá-la de novo logo, logo! -, disse Freya,

abraçando o cavaleiro.

 

 

- Na verdade, já

encontramos -, disse Reiko, apontando no chão as marcas feitas pelas patas de

um pecopeco. O mago se abaixou e farejou o chão.

 

 

- Exatamente como

imaginei. Ah, Lady Irina vai ficar satisfeitíssima quando souber para

onde a mestiça foi levada! -, rosnou o mago. Pelo tom irônico de sua voz, Lady

Irina iria ficar bastante descontente caso soubesse do paradeiro de sua

filha.

 

 

- Você sabe para onde ela

foi, mago? -, grunhiu Primus.

 

 

- Sei. Com certeza sei.

Não precisamos nem seguir as pegadas, conheço um caminho mais rápido.

 

 

- Certo! -, disse o

cavaleiro, acariciando os cabelos de Freya Dellan. – Freya, querida, você sabe

mais alguma coisa sobre essa mestiça malvada que você ainda não tenha me

contado?

 

 

- Te contei tudo que sei!

Não escondo nada de você!

 

 

Primus torceu o canto da

boca, em uma espécie de meio-sorriso. Com um movimento rápido, desembainhou a

espada bastarda e brandiu-a horizontalmente, decepando a cabeça de Freya Dellan

em um só golpe. Tirou um lenço da bolsa e começou a limpar a lâmina

tranqüilamente.

 

 

- Isso era realmente

necessário? -, perguntou o mago, fitando enojado a sacerdotisa morta. Byakko

nada disse. Apenas cruzou os braços e levantou as sobrancelhas, olhando com

desprezo do cavaleiro para o cadáver, do cadáver para o cavaleiro.

 

 

- Era sim. Ela foi útil

por algum tempo, mas não quero essa víborazinha solta por aí para me trair. Ela

se enroscava em qualquer um com uma aparência mais ou menos agradável, e tinha

a língua frouxa demais. Acredite, ela é mais segura deste jeito -, disse o

cavaleiro, apontando a sacerdotisa morta com a espada, antes de colocá-la de

volta na bainha. – Aliás, não sei como aquela mestiça não acabou com ela antes.

Se eu estivesse no lugar dela, essa pequena serpente já estaria morta há um bom

tempo. Vamos embora daqui logo. Temos mais o que fazer.

 

 

Reiko assentiu com a

cabeça. Murmurou algumas palavras arcanas. O cadáver imediatamente ardeu em

chamas.

 

 

Partiram na direção de

Alberta.

 

 

----------------------------------------------------------------

 

 

Tenko

abriu os olhos e se deparou com um teto estranho. Sentou-se e olhou ao redor.

Percebeu que não estava em uma cama, e sim em uma espécie de acolchoado baixo.

O estilo arquitetônico também era bastante estranho. Era um aposento todo feito

de pedra cinzenta, com grandes janelas sem vidro ou grades, e um portal sem

porta. Tinha certeza que não estava em Alberta. Subitamente,

notou que estava apoiada no braço esquerdo. E que ele não doía mais. Virou o

pescoço e observou o ombro. Esticou o braço, dobrou-o e moveu os dedos. Estava

perfeito. Levantou-se de supetão e observou seus ferimentos da noite anterior.

Todos curados. Tenko só podia se lembrar de uma vez em que havia passado por

uma situação parecida. No dia em que havia se tornado uma assassina.

 

 

Alguém

atravessou o portal. Era a amazona. Agora, no quarto bem iluminado, Tenko podia

observá-la melhor. Era muito alta, mais que qualquer mulher que Tenko já havia

conhecido e mais que grande parte dos homens também. Tinha um rosto muito belo,

com lábios rosados e bem desenhados, nariz delicado e sobrancelhas sinuosas.

Seus olhos eram cinzentos como o céu em dia de tempestade. Seus cabelos tinham

um incomum tom azul-celeste, e haviam sido cortados um pouco abaixo do queixo.

Ainda trajava armadura completa, com uma magnífica cota de malha. Tinha uma

espada longa pendurada na cintura, e sobre seus ombros havia um manto de penas

alvas. Carregava um grande elmo com chifres de carneiro debaixo de um dos

braços. A amazona se aproximou de Tenko, e sentou-se no chão ao seu lado.

 

 

-

Como está passando, Tenko Kitsune? Teve uma boa noite? Desculpe minha grosseria

na noite passada. Não tive tempo de me apresentar, e creio que lhe deva algumas

explicações.

 

 

-

Explicação nenhuma, nobre dama. Eu compreendo perfeitamente o que aconteceu. -,

disse Tenko, trêmula. – Só lamento ter deixado minha preciosa Nhyx para trás!

-, gemeu a assassina. Tentava manter a compostura, mas as lágrimas corriam

livremente por suas faces. Se soubesse que aquela era sua última noite, teria

dito como a amava. A amazona sorriu e apoiou gentilmente a manopla no ombro da

assassina.

 

 

-

Então reconhece meus traços, jovem guerreira do deserto? Creio que já deva ter

passado por situações difíceis. Mas não se preocupe, jovem guerreira. Sua hora

ainda não chegou. Este lugar não é o Valhalla, e eu não sou uma Valquíria,

embora já o tenha sido no passado, e por isso você identificou meus traços: por

já ter se encontrado com uma de minhas irmãs. Chamo-me Brynhildr, e estive em

sua busca por um longo tempo.

 

 

Tenko

despertou subitamente. Estava viva! Primus não a havia derrotado! Sem dúvida,

era um alívio para seu orgulho. Notou que estava praticamente nua. Usava apenas

suas roupas de baixo. Ainda tinha os seios enfaixados, e o Colar do Oblívio

ainda estava em seu pescoço. Dezenas de perguntas afloraram em sua mente ao

mesmo tempo. Tentou fazê-las todas de uma vez, mas acabou engasgando com a

própria saliva.

 

 

-

Uma de cada vez, jovem guerreira -, disse Brynhildr, sorrindo gentilmente. –

Paciência, e responderei a todas as suas dúvidas.

 

 

-

Onde está a Nhyx? Aquela maldita Freya deve ter contado para o Primus sobre

ela! Alguém tem que avisar que ela corre perigo! -, perguntou a assassina, com

um certo desespero na voz.

 

 

-

Nhyx está a salvo. Ela foi avisada, assim como Kuroi Yuri e Sethit Aintaurë. As

três estão seguras. Quanto à sacerdotisa de nome Freya Dellan, está neste exato

momento a caminho dos domínios de Hel, pois este é o destino dos traidores.

 

 

Tenko

suspirou aliviada, e finalmente conseguiu relaxar os músculos. Se Nhyx, Kuroi e

Sethit estavam a salvo, não havia com o que se preocupar. No entanto, ainda

tinha algumas perguntas a fazer.

 

 

-

Lady Brynhildr. Seu nome não me é estranho. Kuroi mencionou algo sobre

você uma vez. Bom, eu gostaria muito de saber onde eu estou. E mais, você disse

que é... Foi uma Valquíria? Desculpe a minha desconfiança, mas tenho más

experiências com membros da Cavalaria de Prontera.

 

 

-

Não peça desculpas, Tenko Kitsune. Sua desconfiança é perfeitamente

justificada. Você se encontra em um templo localizado em uma pequena ilha

próxima à costa de Amatsu. Quanto a mim, sou uma renegada. Já fui uma

Valquíria, uma das preferidas de Odin. Mas acabei desobedecendo a uma ordem

direta de Odin, e este me condenou a viver a vida de uma humana mortal. Mais

ainda, fui condenada a me apaixonar pelo primeiro homem que eu visse, mesmo que

fosse o pior dos criminosos. Mas um pouco depois, Odin se acalmou e resolveu

abrandar minha punição. Então Ele decidiu que eu seria colocada no topo de uma

altíssima montanha, no centro de um terrível círculo de fogo, e lá ficaria em

sono profundo até que alguém viesse me despertar. Essa medida garantiria que

apenas alguém corajoso o bastante para escalar a montanha e atravessar o

círculo de fogo me despertasse. E quem foi ele, senão meu bravo Siegfried! O

grande guerreiro que derrotou o monstro Fafnir!

 

 

Mas

houveram algumas adversidades entre nós. A maior culpada com certeza foi a

feiticeira Grimhild, que enfeitiçou meu Siegfried para esquecer de mim e se

apaixonar pela filha dela. Mas eu também tive minha parcela de culpa. Todo o

caso terminou com a morte de Sigfried, e em seu funeral meu desespero foi

tamanho que me joguei nas chamas de seu crematório. E então fui para as Terras

Baixas, para Niflheim, por ter tirado minha própria vida. E lá permaneci, na

Cidade dos Mortos, por muitos e muitos anos.

 

 

Recentemente

Odin mandou um mensageiro a mim. Dizia que o dia do Ragnarök se aproxima, e que

precisava recrutar novos Einheirjar. Então me fez uma proposta: eu seria

readmitida entre as Valquírias de Odin caso conseguisse levar para o Valhalla o

espírito de um verdadeiro herói.

 

 

-

Não deve ser uma tarefa difícil. Heróis existem aos montes por aí -, comentou a

assassina.

 

 

-

Preste atenção no que digo, Tenko Kitsune! -, retrucou a amazona, com um certo

desespero na voz. – Não procuro um guerreiro forte, ou um guerreiro de linhagem

nobre. Procuro um verdadeiro herói. Tem idéia de como isso é raro?

 

 

Tenko

refletiu por um momento, e compreendeu. Não era uma tarefa fácil. Era uma

tarefa praticamente impossível.

 

 

-

Odin ainda quis dificultar mais minha tarefa, e designou que eu fosse em busca

de uma alma heróica não como uma Valquíria, mas como uma humana mortal. E, ai

de mim, me pregou uma peça digna de Loki, o Forjador de Trapaças! Quando me

mandou de volta a Midgard, mandou também meu amado Siegfried, e fez que nós nos

encontrássemos novamente. Mas quis ele que nosso amor fosse impossível!

 

 

-

Nenhum amor é impossível, creio eu -, respondeu a assassina. Mas porque está me

contando tudo isso, Brynhildr?

 

 

-

Por que, jovem assassina, tenho boas relações com a mestra deste templo. E ela

vem lhe observando há tempos, Tenko Kitsune. Ela acredita que você possa ser a

alma heróica que procuro. Ela prevê grandes feitos em seu futuro, dignos de um

Einheirjar.

 

 

“O

mundo inteiro está me vigiando?”, pensou a assassina. Mas não pronunciou a

frase em voz alta. Sentia-se um tanto insegura dentro deste misterioso templo,

cuja mestra a vigiava às escondidas. Também se sentia intimidada na presença da

Valquíria. Mesmo com um corpo mortal, Brynhildr emanava poder. Não podia

duvidar de sua história. Tenko havia visto uma Valquíria uma vez, e a

semelhança entre as duas era inegável. Ao invés disso, fez uma pergunta que

estava começando a incomodá-la.

 

 

-

Onde estão minhas roupas? E principalmente, onde estão minhas jurs?

 

 

-

A mestra deste templo e seus discípulos cuidaram de suas feridas, e conseguiram

curar totalmente cada uma delas, exceto a ferida em sua face. Essa, por mais

que se usasse magia divina de cura, deixou uma cicatriz. Seus trajes estavam

irremediavelmente perdidos, então a mestra mandou uma mensagem à Guilda dos

Assassinos, explicando a situação e requisitando um novo traje. Suas armas

estão debaixo de seu travesseiro. Imaginei que gostaria de tê-las por perto

quando despertasse.

 

 

Tenko

levantou o travesseiro duro e encontrou seu par de jur, todas as suas facas de

arremesso e ainda sua bolsa de venenos. Desembainhou uma das jurs e observou o

reflexo de seu próprio rosto. O golpe da espada de Primus estava

permanentemente gravado em sua face. Uma diagonal torta, começando pouco abaixo

do olho esquerdo e se elevando acima de sua sobrancelha direita. Tenko passou

um longo tempo mirando a cicatriz. Tocou-a com as pontas dos dedos. Franziu a

testa e viu a linha se deformar. Seu corpo já era coberto de cicatrizes, e ela

não se importava em ter algumas a mais ou a menos, mas marcar o rosto de um

assassino é uma ofensa mortal. Ainda assim, Tenko admitiu que teve sorte. Se o

golpe houvesse se desviado para qualquer um dos lados, o preço seria metade de

sua visão.

 

 

Estava

neste estado contemplativo, quando uma garota entrou no aposento. A assassina e

a amazona voltaram-se para ela. Era uma garota bastante jovem. Tinha rosto

redondo e nariz levemente achatado. Seus olhos eram escuros e afilados, e seu

cabelo era negro e muito liso. Tinha estatura baixa, mesmo para sua aparente

pouca idade. Vestia-se com uma batina amarelo-claro, uniforme dos noviços da

Catedral de Prontera, e em sua cintura tinha pendurada uma maça simples.

Carregava uma bandeja em uma das mãos e uma trouxa de pano na outra.

Aproximou-se cautelosamente, olhando desconfiada para Tenko. Trocou algumas

palavras com Brynhildr em uma língua que Tenko desconhecia, mas a amazona

parecia dominar perfeitamente. Deixou a bandeja e a trouxa ao lado da

assassina, fez uma rápida reverência e se retirou com pressa, possivelmente

aliviada por se afastar da estrangeira de olhos cor-de-sangue.

 

 

-

É uma das discípulas deste templo. Ela disse que a mestra deseja vê-la. Trouxe

alimento e roupas limpas, para que coma e se vista antes de sua audiência.

 

 

Tenko farejou a bandeja.

Havia uma pequena tigela com arroz branco puro. Outra com uma espécie de sopa.

Um prato com uma porção de peixe, que alguém aparentemente havia esquecido de

cozinhar, e também um copo com chá, o que Tenko muito apreciou. Comeu

rapidamente, pois estava bastante faminta por causa da batalha do dia anterior.

Checou as roupas. Serviam bem, apesar de estarem um pouco largas. Pelo que pode

avaliar, era alguma espécie de traje típico da região. Era negro. “Pelo menos

quem escolheu isso aqui acertou minha cor”, pensou a assassina, enquanto

terminava de se vestir.

 

 

Saiu do quarto em

seguida, acompanhada por Brynhildr, que conhecia o caminho até os aposentos da

mestra do templo. Tenko notou que o lugar estava fervilhando de discípulos.

Todos com trajes de noviço, e todos com maças penduradas na cintura. Alguns

mais velhos, outros mais novos. A maioria de olhos afilados e cabelos escuros,

como os da garota que veio lhe entregar a mensagem. Mas havia alguns de cabelos

ruivos e loiros, e rostos cobertos de sardas, noviços de pele escura e cabelos

cacheados, e até um ou outro com cabelos verdes, azuis ou até cor de prata, de

olhos amarelados ou arroxeados. Havia até mesmo um jovem noviço de cabelos

muito negros, e olhos vermelho-carmim. Todos, sem exceção, paravam o que

estavam fazendo para olhar para a assassina que passava. Vestida nos trajes de

Amatsu, com as lâminas estrangeiras penduradas junto às coxas. Tenko estava

habituada a olhares temerosos dirigidos à sua pessoa. Mas os olhares desses

noviços tinham algo diferente. A maioria das pessoas parecia temê-la por medo

do que era diferente. Medo do desconhecido. Estes jovens discípulos pareciam

temê-la por ser semelhante a algo que conheciam muito bem. Isso podia ser visto

claramente nas expressões surpresas dos rostos jovens.

 

 

- Os aposentos da mestra

são estes. Ela deve estar lhe esperando, Tenko Kitsune. Entre. Eu esperarei

aqui fora, para o caso de precisarem de mim. -, disse Brynhildr. Tenko assentiu

com a cabeça e adentrou no aposento à sua frente, mãos firmes na empunhadura

das jurs, para o caso de algum ataque. Nunca se sabe...

 

 

Entrou. Sua visão treinada

de assassina automaticamente varreu a sala inteira em busca de armadilhas. Não

viu nada que considerasse potencialmente perigoso. Era uma sala pequena. Havia

uma coleção de maças penduradas na parede, e algumas soqueiras metálicas em

cima de uma mesa de madeira pintada de vermelho. Ao fundo da sala, havia uma

grande rocha cinzenta, com caracteres estranhos gravados. Tenko imaginou que

fosse algum tipo de runa antiga. Havia dois pedestais de pedra, e em cima de

cada um, uma estátua representando uma raposa, adornada com enfeites vermelhos

em volta do pescoço. E no meio da sala, entre os dois pedestais, sentada

tranqüilamente no chão de pedra, lábios repuxados, mostrando as presas em um

sorriso e abanando a cauda felpuda, estava uma raposa viva. Sua pelagem era

imaculadamente branca, e seus olhos eram de um púrpura profundo.

 

 

A mestra do templo. A

Raposa Branca. 

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Cara, deu vontade de esfolar a Freya com um fio dental (não a real é claro, falo da personagem).
Curiosidade: as passagens sobre a troca das Asas de Anjo e dos 30 Oridecons são baseadas em fatos reais. =_=
Outra coisa que queria sugerir é mudar o título da fic. E caramba, O Mundo Visto Através de Olhos Vermelhos... '-'
É tão ruim assim? [/hmm] 
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MUITO BOM!! tenko, vc conseguiu de novo, esse capítulo foi mto bom, mas eu acho que o akari foi um pouco injusta, puts, ela fico disparando esferas direto, quando é que um noviço iria aguentar isso??e a nhyx conseguiu : ela humilhou um soldado, conseguiu destruir uma lâmpada de juno, deixou sethit e kuroi preocupadas e ainda roubou muita grana! prbns , esse capítulo foi inédito e MUITO bom, agora só quero ver a a luta do século: tenko e akari vs irina renard! owned! prbns denovo tenko, espero que haja ainda muitos capítulos, "tenko-san"[/heh] então, é isso, muito bom, agora gogogogo ver a luta contra a irina! prbns, já estou ansioso pelo próximo capítulo!

ok,flow!

ps: rá! o primeiro coment do capítulo é meu! owned!

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Como sempre, todos nota MIL!! Eu daria 1001 mas como eu já li os capítulos que você tinha postado aqui no fórum, eles perderam um pouco da "mágica" que nos faz ficar tão ligados à sua fic ;P

E provavelmente posto outro capítulo domingo ou segunda. Aguardem! =3
[/o.o] Esperando
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  CAPÍTULO 18 - PERDOAR, JAMAIS

ESQUECER 

 

 

 

Nhyx era uma mulher

bastante reservada. Evitava a todo custo se meter em assuntos alheios. Mais

ainda, era tímida, apesar de isso ser raro entre os da sua profissão. De

qualquer modo, ninguém esperava realmente que uma ladina saísse espontaneamente

oferecendo ajuda. Ela era uma legítima ladina da Guilda do Farol de Comodo.

Furtar era o que fazia melhor, e sua técnica de luta incluía ataques-surpresa e

punhaladas nas costas. Mas ao ver a sacerdotisa aos prantos, andando a esmo

pela cidade e chamando o nome da mulher amada, Nhyx sentiu-se incapaz de

ignorar a situação. Apesar de tudo, a ladina era extremamente gentil.

Não poderia deixar de acudir a desorientada jovem de cabelos verdes. Além

disso, sua comoção tinha motivos pessoais. Já havia algum tempo que Nhyx lutava

contra os próprios sentimentos. Sofria de uma incômoda paixão não correspondida

por uma jovem assassina de cabelos castanhos e temperamento forte, e talvez

fosse este o motivo que a levou a escolher a Ilha das Tartarugas como campo de

caça. No entanto a geniosa assassina, além de não corresponder seus

sentimentos, não raro os feria. E por mais que Nhyx tentasse esquecê-la,

freqüentemente sua mente era invadida por imagens do pequeno e ágil corpo de

sua amada, seus escuros olhos afilados ou seus cabelos lisos e brilhantes. Mais

de uma vez a ladina teve ímpetos de cravar no peito a própria adaga, e assim

acabar com sua dor de uma vez por todas. No entanto, sempre havia a esperança

de que no dia seguinte a dor desaparecesse. E assim Nhyx continuava viva para

lutar por mais um dia.

 

 

Vencendo sua

característica timidez, a ladina amparou a jovem sacerdotisa e ouviu sua

história. E foi com certo receio que aceitou o pedido para levar uma mensagem a

Tenko Kitsune. Ora, Tenko Kitsune tinha certa má fama até mesmo entre os

assassinos que freqüentavam a Ilha das Tartarugas. Todos eles, como é

característico de sua profissão, eram reservados e orgulhosos. Mas Tenko era

reservada e orgulhosa em

demasia. Raramente dirigia a palavra a alguém, e quando esta

lhe era dirigida, respondia laconicamente e se retirava logo em seguida. Alguns a

consideravam antipática, outros a temiam. Nhyx não tinha opinião totalmente

formada sobre ela, mas não podia deixar de sentir um pouco de medo daquela

mulher de olhos rubros e feições ferozes. 

 

 

 

 Quando chegou para

entregar sua mensagem, a assassina se ergueu e a perfurou com o olhar. Nhyx

sentiu um ligeiro arrepio descer por sua espinha, e as palavras se perderam em

sua boca. Corando, desviou os olhos. Mas agora, analisando a cena, a ladina

percebia que não havia agressividade alguma naqueles olhos vermelhos. Tenko

Kitsune parecia triste.

 

 

Sentiu um toque suave

em seu ombro. Virou o pescoço e viu uma mão clara, de dedos esguios e longos,

envolta em tecido escuro e presa a um pulso enfaixado. Era Tenko.

 

 

- Você não me disse

onde eu encontro a Freya...

 

 

Era verdade. Na pressa,

ela havia se esquecido. Indicou à assassina uma estalagem ao norte da cidade,

onde Freya Dellan disse que estava hospedada. Enquanto dava as direções, reparou

no material de desenho amontoado debaixo do braço de Tenko, e em seus olhos

embotados de lágrimas. E foi a vez da assassina desviar o olhar, envergonhada.

Ouviu as instruções até o fim e disparou em direção ao norte. Parou alguns

passos à frente, virou-se para Nhyx e agradeceu com um leve aceno de cabeça.

Então voltou a correr em direção à estalagem.

 

 

Nhyx não conteve um

sorriso. Mentalmente, torceu pela felicidade do casal. A imagem da assassina de

cabelos castanhos invadiu outra vez seus pensamentos, e o sorriso da ladina se

tornou levemente melancólico.

 

 

------------------------------------------------------

 

 

Tenko entrou na

estalagem e se dirigiu imediatamente ao fundo do estabelecimento. Afundou o

nariz nas dobras da capa e abaixou ligeiramente o Sakkat. Sondou o ambiente por

alguns minutos, buscando uma batina e cabelos verdes. Não encontrou. Acenou

para a estalajadeira e pediu chá. Bebeu lentamente, enquanto observava o

movimento da pequena multidão que se espremia na sala. A maioria era de marinheiros

suados e barulhentos, que bebiam de grandes canecos de cerveja. Havia também

aventureiros aqui e ali. Boa quantidade de caçadores de tartaruga, inclusive

alguns assassinos. Usavam capas longas, como grande parte dos aventureiros, mas

Tenko os reconhecia pelo cheiro de sangue impregnado em sua pele e suas roupas.

Assassinos sempre reconhecem uns aos outros.

 

 

Esperou cerca de meia

hora, e não viu sinal de Freya Dellan. Começou a se perguntar se Nhyx havia lhe

passado uma informação errada. Mas a ladina não parecia estar mentindo. Tenko

vira preocupação legítima naqueles olhos verdes. Terminou o chá e foi confirmar

se a sacerdotisa se hospedava ali. Perguntou à gorda e esbaforida

estalajadeira, que se esforçava para se lembrar da sacerdotisa que Tenko descrevia,

ao mesmo tempo em que atendia um grupo de marinheiros que bradava por mais

cerveja.

 

 

- Cabelos verdes, olhos

mel-esverdeado, sobrancelhas arqueadas... Você acha que eu presto atenção nesse

tipo de detalhe, moça? De qualquer jeito, lembro dessa sacerdotisa sim. Ela

deve estar chegando daqui a pouco. Porque não espera por ela em um dos quartos?

Eu aviso que você está procurando! Como é seu nome mesmo?

 

 

- Tenko Kitsune.

 

 

- É comprido demais!

 

 

- Só Tenko então. Ela vai

se lembrar.

 

 

Depositou um punhado de

moedas na mão rechonchuda da mulher e subiu para um dos quartos. Jogou a capa e

o Sakkat de lado e saltou na cama sem ao mesmo tirar as botas. Deitou-se,

fitando o teto. Mais uma vez, Freya a havia colocado sob o teto de uma

estalagem. Era uma coisa realmente estúpida a se fazer quando os soldados de

Primus a caçavam. “Por outro lado”, pensou, “os idiotas devem estar revirando a

floresta enquanto eu estou aqui deitada!”. Riu entre os dentes. O que Primus

queria com ela? O que sua mãe quereria? Tenko tinha um mau pressentimento.

Lembrou também da estranha raposa branca, que havia salvado sua pele diversas

vezes, e que parecia saber sempre a sua localização.

 

 

“Porque todo mundo me

persegue?”

 

 

No entanto, gostaria de

ter a companhia da raposa nesse momento. Sentia-se mais solitária que nunca, e

os olhos purpúreos do animal sempre a fizeram se sentir tranqüila. Sentia falta

de um amigo. Sua profissão e seu estilo de vida tornavam amizades muito

difíceis de serem conquistadas. Ela tinha Kuroi Yuri e Sethit, claro. Tinha imensa

lealdade e consideração pelas duas, mas não era o tipo de companheiro que

procurava. Kuroi era a criação, ela era a destruição. Não dava para ter uma boa

conversa. E Sethit era presa demais ao passado. Shi no Toge era de quem mais

sentia falta. Ele era um igual. Um gatuno como ela. Nunca havia se dado bem com

outros assassinos. Eles a temiam. Ela podia sentir o cheiro do medo deles.

Podia ouvir seus corações batendo quando os olhos deles encontravam os seus.

 

 

Respirou fundo e apoiou a

cabeça nas mãos. Fechou os olhos e se lembrou de sua infância. As outras

crianças também a temiam. Até mesmo os soldados do castelo desviavam de seu

caminho. E era fácil saber por quê: além de seu temperamento ruim e postura

feroz, Tenko Kitsune tinha a herança de sua mãe. Dois rubis engastados em seu

rosto pálido.

 

 

“Por que olhos

vermelhos?”

 

 

Seu irmão tinha um leve

tom avermelhado nos olhos, que ficava mais visível quando a luz incidia

diretamente sobre eles. Mas de modo geral, eram castanhos. Tenko não. Seus

olhos eram idênticos aos da mãe. Rubros como sangue fresco. Irina Renard era

uma mulher bastante peculiar. Havia algo definitivamente sobrenatural naquela

dama. Apesar de terem os mesmos olhos, Irina não causava temor como Tenko.

Muito pelo contrário. Irina era sedutora e poderosa. Ninguém resistia ao seu

misterioso magnetismo. Homens ou mulheres, todos se submetiam aos seus desejos.

Esse fato intrigava Tenko, e a assustava também. Que espécie de mulher era

aquela?

 

 

“Minha mãe!”

 

 

Sangue do seu sangue!

Tenko intuía que poderia ter herdado da misteriosa e bela Lady Renard

algo além dos olhos vermelhos. A voz de Reiko ecoava em sua mente, a chamando

de “mestiça”. Decidiu esquecer o assunto e tentar se distrair.

 

 

Sentou-se na cama e

descalçou as botas. Tirou da cabeça sua aquisição mais recente e a colocou na

mesa de cabeceira. Era uma espécie de tiara, adornada com um pequeno par de

chifres pontiagudos. Certo dia um mercador lhe ofereceu insistentemente uma

pequena caixa de cor azul-violácea, muito velha e surrada. Tenko não a queria,

mas a insistência foi tanta que acabou cedendo. Abriu a caixa, e dentro dela

encontrou a tiara com chifres. Acabou se apegando bastante ao equipamento, que

era leve, resistente e a sensação de tê-lo na cabeça a fazia lembrar vagamente

de suas antigas asas de anjo. Considerou o negócio vantajoso, no final. Sacudiu

a cabeça para arrumar os cabelos e afrouxou as faixas que atavam seus pulsos e

tornozelos. No entanto, não removeu o par de jur que tinha preso às coxas. De

qualquer jeito, estava tão habituada ao peso das lâminas preso às pernas que

não faria diferença alguma. Molhou sua pena na tinta e tentou desenhar, mas

logo aflorou em sua mente a imagem de Freya, varrendo qualquer nesga de

criatividade de seu cérebro. Irritada, Tenko amassou o papel, formando uma bola

compacta, e a arremessou com força contra a parede. Sentou-se na cama, de

pernas cruzadas, o rosto apoiado nas mãos e o mau humor aparente em sua expressão.

Ficou assim por alguns minutos e então apoiou as mãos na nuca e se jogou para

trás, deitando novamente. Freya havia voltado para atormentar seus pensamentos.

 

 

A assassina sentiu uma

onda quente de raiva nascer em seu peito e se espalhar por seu corpo. Logo em

seguida, o calor ardente se dissolveu em ternura morna e líquida, se espalhando

novamente até as pontas de seus dedos. Sempre se sentia assim quando pensava em Freya. Sorria em

seus momentos de ternura, lembrando da jovem noviça encurralada por Grand Orcs

há tanto tempo...

 

 

E seu coração ardia de

raiva ao evocar a imagem de Freya e o cavaleiro desconhecidos, sentados em uma

mesinha em Al De Baran,

sob a sombra de um guarda-sol. Lábios colados, línguas duelando ferozmente. Era

nesses momentos, em que ternura e raiva se misturavam, que Tenko normalmente

sentia as lágrimas escorrerem pelas faces. “Mas não desta vez”, pensou a

assassina. Engoliu o choro. Olhou de relance para a janela e viu as últimas

manchas alaranjadas no céu se tornarem púrpura, e logo depois azul-violáceo

escuro. A Lua despontou no horizonte, e as primeira estrelas começaram a

surgir. E nem sinal da maldita sacerdotisa ainda!

 

 

Tenko Kitsune agora

estava totalmente tomada pela raiva. Tinha vontade de espancar a mulher que a

fazia sofrer dias a fio, invadindo sua mente. Nem quando dormia Tenko estava

tranqüila. Freya surgia em seus sonhos. Não tinha um só momento de paz. Cerrou

os punhos com força. A pior parte era que tinha perfeita consciência de que

seria incapaz de ferir Freya de qualquer modo. Saltou da cama e dirigiu sua

raiva contra uma das paredes do quarto, atingindo-a com seu punho fechado

repetidas vezes, com toda a força que tinha. Ouviu algumas batidas do outro

lado da parede, e uma voz sonolenta bradou algo sobre “arruaceiros que não

deixam os outros dormirem”. Tenko sentou na cama outra vez, massageando os nós dos

dedos doloridos. A raiva a fazia cerrar os dentes, a deixava ofegante e fazia

seus cabelos se arrepiarem. Um rosnado baixo despontou involuntariamente em sua

garganta. Um assassino experiente é perigoso, mas uma mulher enraivecida é

muito mais. Junte os dois e terá uma mistura bastante explosiva.

 

 

Alguém bateu na porta.

Tenko saltou da cama. Em um segundo, desembainhou as jurs, por puro reflexo.

Chutou a porta, abrindo-a com um grande estrondo. Do outro lado, estava Freya.

Protegendo-se instintivamente com o braço esquerdo, ela olhava assustada para a

assassina furiosa. Tenko encarou-a raivosamente, apertando com força a

empunhadura das jurs. Freya respirou profunda e lentamente, deu um passo a

frente e envolveu os quadris da assassina em seus braços. Apoiou a cabeça em

seu busto e sussurrou timidamente:

 

 

- Me perdoa?

 

 

Tenko sentiu a raiva se

dissolver em um segundo. Lágrimas escorreram por seu rosto. Abriu as mãos e

soltou as armas, que bateram no assoalho com um ruído metálico. Abraçou a

sacerdotisa com força e a beijou, sentindo o gosto salgado de suas lágrimas

misturadas às dela.

 

 

- Te perdôo... te amo.

 

 

----------------------------------------------------------------

 

 

Nhyx

se esgueirou lentamente para ter uma visão melhor de seu alvo. Agachou-se atrás

de uma das grandes raízes que brotavam do solo lodoso da Ilha das Tartarugas e

preparou seu ataque. Tinha os olhos fixos em uma grande tartaruga-soldado, que

vagava tranquilamente, sem desconfiar que a ladina a espreitava.

 

 

Silenciosamente,

Nhyx se aproximou da criatura. Quando a distância entre os dois diminuiu para

alguns poucos metros, a ladina respirou profundamente e desembainhou seu

gládio. A partir deste momento, não poderia mais hesitar. Qualquer hesitação

resultaria em um ferimento grave ou até em sua morte. Com isso em mente, Nhyx

disparou na direção da tartaruga.

 

 

Se

havia algo de que Nhyx pudesse se orgulhar era sua agilidade. Cobriu a

distância que a separava de seu alvo em poucos segundos, chegou às costas do

bruto e saltou para cima de seu casco. Seus pés pousaram graciosamente sobre a

armadura sólida da tartaruga, mas um pouso suave não era sua intenção.

Aproveitando a inércia da queda, a ladina dobrou os joelhos e cravou sua

adaga no casco da incauta criatura. A tartaruga estendeu o pescoço e escancarou

a boca, como se gritasse de dor, mas sua garganta não emitiu som algum. A

ladina puxou o gládio de volta, aproveitando o impulso para saltar para

o chão. Assumiu uma pose defensiva, com as pernas arqueadas, firmando sua base e

o braço direito à frente do corpo, segurando um broquel. A mão esquerda

segurava o gládio atrás das costas. Uma espécie de lama amarronzada borbulhava

da ferida aberta no casco do soldado, e a mesma lama cobria a lâmina de sua

adaga. Eram nesses momentos que Nhyx se lembrava que as tartarugas da Ilha não

eram animais. Eram elementais. Sua origem era desconhecida. Talvez fossem

brinquedo de algum sábio dos tempos antigos, ou guardiões de algum povo que não

existe mais. Só sabia que defendiam aquela ilha a todo custo. E que fragmentos

de seus cascos podiam ser vendidos por uma boa quantia de zeny. E para uma

ladina isso basta.

 

 

A

tartaruga virou-se rapidamente, procurando seu agressor. Seus olhos amarelados

e opacos logo encontraram o verde-azulado dos olhos da ladina. Nhyx flexionou

mais os joelhos e segurou com mais firmeza o cabo da adaga. A tartaruga

levantou uma das patas dianteiras e bateu com força no chão, causando um

pequeno tremor. No instante em que a pata do bruto tocou o solo, seis grandes

pedregulhos se desprenderam da terra lodosa e começaram a flutuar em torno de

seu corpo. Lentamente, começaram a orbitar a torre pétrea que se erguia no meio

do casco do soldado. Giravam em torno dela cada vez mais rápido, até se

tornarem um borrão amarronzado. Nhyx moveu os quadris, deslocando seu centro de

gravidade. Umedeceu os lábios. A qualquer momento agora...

 

 

A

tartaruga abaixou a cabeça bruscamente e as seis pedras voaram na direção de

Nhyx. Ela já estava preparada. Saltou de lado, caindo de pé e atingindo o bruto

com sua adaga enquanto os seis pedregulhos batiam contra o chão, fazendo voar

terra e lama. A lâmina apenas arranhou o casco da criatura, que era sólido como

um muro de tijolos. A tartaruga se irritou, e as pedras voaram mais uma vez na

direção de Nhyx, que se esquivou novamente e arranhou outra vez o casco do

bruto. Furioso, o soldado jogou os pedregulhos um para cada lado, fazendo-os

perseguirem a ladina. Mas ela era ágil demais. A tartaruga começou a demonstrar

sinais de cansaço. Seu esforço era imenso, mas não conseguia atingir aquele

incômodo borrão vermelho e prata que arrancava seu casco aos poucos. A carapaça

do bruto jorrava lama em diversos pontos, e ele começava sentir as patas

fraquejarem.

 

 

Nhyx

saltou para trás, ficando frente a frente com seu adversário. A tartaruga

concentrou toda a energia que lhe restava em um último trunfo. Lançou as pedras

todas unidas em uma única massa sólida, na direção do peito da ladina. Poucos

instantes antes do impacto, os pedregulhos se abriram em leque. Mas Nhyx já

havia visto aquele movimento antes, e ao invés de saltar para o lado,

abaixou-se. As pedras voaram longe. A tartaruga, no entanto, não havia

terminado o movimento. Fez as pedras se erguerem quase até o teto da caverna, e

então caírem enfileiradas sobre a cabeça da ladina. Nhyx percebeu a tempo.

Precisava de uma mão livre para escapar, então atirou o gládio para frente, que

foi se cravar no solo aos pés da tartaruga. Realizou então um salto frontal,

durante a queda apoiou-se na mão livre e rolou para frente. Podia ouvir atrás de

si o som das pedras atingindo o chão. Terminou o movimento agachada perto das

patas da tartaruga. Arrancou o gládio do chão e, aproveitando o impulso pra

ficar de pé, cravou a lâmina na parte debaixo da mandíbula do bruto, bem mais

macia que o casco. A consistência da carapaça da tartaruga-soldado se assemelha

à de uma muralha de pedra, mas sua pele é mais fina, mais como terra batida.

Ato contínuo, Nhyx girou a adaga com uma torção de seu pulso e estendeu o

braço, abrindo com a lâmina toda a parte inferior do pescoço do bruto. Lama

morna jorrou da fenda aberta, cobrindo as mãos e os antebraços da ladina. A

tartaruga dobrou as patas e caiu no chão. Em segundos seu corpo se desintegrou,

como um castelo de areia que cai atingido por uma onda. O elemental retornava à

terra.

 

 

A

Ilha das Tartarugas não era o campo de caça ideal para ladinos. As

carapaças sólidas destes brutos eram difíceis de ser perfuradas até mesmo pelo

gládio de Nhyx, imbuído com a essência dos Goblins, que são conhecidos por

caçarem criaturas muito maiores que eles mesmos sem dificuldade alguma, e

refinado sete vezes com oridecon. Não podendo contar com a força bruta, Nhyx

tinha de apelar para um estilo de luta quase acrobático, dependendo totalmente

de sua agilidade e aproveitando cada pequena oportunidade de atingir seu

adversário, até surgir o momento em que poderia desferir um golpe fatal. Era um

jeito bastante cansativo de lutar. Nhyx era ágil e forte, mas se cansava

relativamente rápido. Sentou-se por alguns instantes, sem se importar se estava

sujando as coxas e nádegas de lama. As constantes esquivas e rolamentos já a

haviam deixado enlameada até a raiz dos cabelos. Agarrou um pequeno frasco

atado ao cinto. Continha um líquido avermelhado e borbulhante. Tomou um gole e

cada pêlo de seu corpo se arrepiou enquanto o líquido descia queimando pela sua

garganta. Seus olhos começaram a lacrimejar, mas se sentiu mais bem-disposta.

Então a viu.

 

 

A

poucos metros do lugar onde estava sentada passava uma jovem de porte pequeno,

cabelos lisos e castanhos, com o busto e o ventre enfaixados e um elmo alado na

cabeça. Carregava um par de jur. Nhyx acenou e abriu um sorriso tímido. A

assassina acenou e sorriu de volta, e partiu no encalço de uma tartaruga. A

ladina sentiu os olhos úmidos, e não era por causa da poção estimulante.

 

 

Levantou-se

rapidamente e virou o resto do líquido na garganta. Sacudiu a cabeça, sentindo

a poção queimar seu esôfago. O efeito da poção a deixava nervosa e irritadiça.

Mas pelo menos a embriagava e a fazia esquecer sua dolorosa paixão por alguns

minutos.

 

 

-

Ei, Nhyx!

 

 

Voltou-se

na direção da voz. Era a sacerdotisa de cabelos verdes que havia ajudado alguns

dias antes. Freya Dellan. Ao lado dela estava uma assassina alta, de cabelos

ondulados e olhos vermelhos. Totalmente enlameada. Tinha um par de jur nas mãos

e uma expressão satisfeita no rosto.

 

 

-

Temos que te agradecer! -, disse a sacerdotisa, sorrindo alegremente – graças a

você estamos juntas de novo!

 

 

Disse

isso e beijou a bochecha da assassina repetidas vezes. Tenko sorriu e acenou

com a cabeça, agradecendo também. Nhyx sorriu de volta. Um sorriso levemente

melancólico. Freya rapidamente a convidou para se juntar ao grupo.

 

 

-

Aí eu posso te abençoar, e você caça melhor! E a gente te faz companhia, é

muito triste ficar sozinha.

 

 

A

ladina concordou mentalmente. Realmente, era muito triste estar sozinha.

 

 

----------------------------------------------------------------

 

 

Tenko

abriu os olhos. A luz do dia atingia seu rosto através da janela da estalagem.

Bocejou, mas não quis se levantar. Fechou os olhos novamente e relembrou os

acontecimentos do dia anterior.

 

 

Havia

sido um dia bastante agradável. A caçada foi boa. Apreciou também a companhia

de Nhyx. Era bom conversar com um ladino novamente, embora ela parecesse um

pouco melancólica. Mas Tenko não considerou isso um defeito. Ela havia

percebido a maneira com que a ladina olhava aquela assassina de cabelos

castanhos. Sabia como uma paixão frustrada podia ser dolorosa.

 

 

E

ultimamente estava refletindo bastante sobre seus próprios sentimentos. Seu

carinho por Freya era imenso, mas não conseguia abandonar a odiosa lembrança de

sua traição. Ela a havia perdoado. Mas seria capaz de esquecer?

 

 

Lembranças

de momentos bons e ruins transitavam desordenadamente na mente da assassina.

Seria capaz de amar Freya do jeito que havia amado antes? A traição havia sido

um golpe forte demais. Não queria admitir, mas lutava contra si mesma. A

traição de Freya havia envenenado seu amor, e ele estava definhando lentamente.

 

 

Virou-se

na cama. Ao seu lado, o costumeiro vazio. Um pedaço de pergaminho havia sido

colocado sobre o travesseiro de Freya. Tenko a apanhou e leu: 

 

 

 

 

“Vou

caçar com um amigo meu hoje. Outro dia vamos de novo para a Ilha das

Tartarugas.

 

 

 

Beijos,

 

Freya Dellan

 

 

 

P.S.: Te amo.”

 

 

 

Ficou

imaginando se o tal amigo seria aquele cavaleiro fedendo a tabaco. Percebeu

neste instante que poderia perdoar Freya, mas jamais esqueceria as brigas, o

descaso e a traição. Era incapaz disso.

 

 

Seu

amor estava condenado à morte.

 

 

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sim, meus amigos! está próxima a hora em que, quem já leu( como eu) essa obra prima, finalmente saberá a continuação dessa heróica( ou quem sabe não?) saga! agora  é esperar mais um ou dois capítulos e depois, e ver( ou ler?) para crer. ótimo capítulo tenko! a luta com o primus foi mto real, eu visualizei tudo( sou bom nessas coisas,sempre fui assim) e puder ver claramente os dois quase se matando na floresta! gogoggo mais capítulos! [/fome]

ah e, o peco da brunhilde (ou brynhildr, sei lá) é o próprio siegfried?? já ouvi falar em coisas que não valem a pena mas essa foi a pior( nussa, depois dessa piada eu vou acbar morendo, pior que daqueles bardos de woe...)

então gogogo escrever mais e gogogo falar com a raposa, ótimo cap e ótima fc tenko!

flow!

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Cara, deu vontade de esfolar a Freya com um fio dental (não a real é claro, falo da personagem).
Curiosidade: as passagens sobre a troca das Asas de Anjo e dos 30 Oridecons são baseadas em fatos reais. =_=
Outra coisa que queria sugerir é mudar o título da fic. E caramba, O Mundo Visto Através de Olhos Vermelhos... '-'
É tão ruim assim? emotion-77.gif 
 Na minha levemente sonolenta opinião, o título pode ficar assim que tá ótimo. Eu, particularmente, não vejo problema algum, e até relembra aqueles que não puderam ver o final da primeira vez.Quanto à passagem das Asas de Anjo e dos 30 Oridecons, só digo uma coisa:hehecq3zw8-1.gif(Sério, assim que ela confirmou que foi real, eu fiquei quase nesse estado.) 
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 Vendo a fic inteira por R$ 20,00. Só mandar PM!!!

 

 

 

Heheheheh brincadeirinha, Tenko me mataria enquanto durmo! Mas uma coisa falo: A personagem mais legal de todas ainda não apareceu! hihihihihihihi 

Eu compro, eu compro, EU COMPRO \o/ \o/ \o/ \o/ \o/ \o/

Para postar o endereço, visite o flogao do meu cachorro: luiginaldo =P

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Nossa Tenko... Me desculpe mas tenho que fazer essa pergunta, para saber se o problema é com minha caixa de entrada... Me desculpe mesmo.

Você editou o texto corrigindo alguns errinhos leves como falta de espaço?

Novamente eu peço desculpas, mas se o problema é com minha caixa de entrada, ferrou tudo...

Abraços.

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