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Prólogo - [Onde Cruzam-se os Corações]


Yukii ~

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Contos de eras perdidas

Parte 1 – A busca pela Luz

 

 

 

Viver, era uma palavra difícil em tempos como estes.

 

O herói estava encostado em uma grande rocha, vislumbrando as estrelas que reluziam no céu, imaginando sobre o significado das palavras que lhe foram ditas antes de toda aquela confusão se iniciar quando ouve ao longe passos pesados e batidas incessantes ao chão parecidas com os rufares dos tambores que outrora ressoavam nestes campos.

Era bom descansar depois de tudo isso, mas ele queria continuar, as batidas se tornavam cada vez mais rápidas ao longo do tempo e isso o deixava impaciente.

O vento rugia forte e imponente sussurrando o nome dos caídos na gloriosa campanha.

Nosso herói se contentava em olhar as estrelas, isso o acalmava.

Os passos se aproximaram altos o bastante para ensurdecerem qualquer um, mas o herói se contentava em olhar as estrelas.

Percebeu que algo parou ao seu lado.

 

- Mais um corpo, eu reconheço esse, é uma pena que tenha terminado assim, você será sempre lembrado por nós como um herói - constatou o Coveiro enquanto removia as gigantescas espadas que estavam cravadas no homem.

 

Ele começa a cavar mais uma cova enquanto assobiava, o barulho da pá ao chão ecoava por todo o campo de batalha agora enlameado pela constante e fina chuva mesclada ao amargo sangue espalhado.

 

- Eu não quero morrer agora, eu não quero parar agora, eu preciso, preciso continuar lutando por todos, pelos que acreditam em mim , não posso parar, preciso cumprir a minha promessa – pensava o nosso herói enquanto olhava as estrelas, imóvel.

 

O Coveiro, cansado, limpa o suor da testa e o arrasta até a cova jogando-o desleixadamente para o fundo e com uma amargura em sua expressão, remove a cartola da cabeça e a leva a seu peito enquanto o saudava cabisbaixo.

 

- Você será sempre lembrado como um herói – balbuciou sozinho novamente o Coveiro enquanto tampava o buraco.

 

A noite fria e calma, a tranquilidade após a tempestade, era quase que uma melodia ao qual os bardos aclamavam durante toda a vida para serem agraciados.

 

- Eu não quero desistir agora, eu vou cumprir a minha promessa, eu vou encontrar onde cruzam-se os corações, eu vou te encontrar!

 

Uma força de vontade resplandecente preenchia seu peito o impelindo a levantar seu braço em direção ao horizonte, queria alcançar as estrelas, porém seu corpo não se movia.

Foi tomado por uma angústia assombrosa e desistiu.

 

Ele estava morto.

 

 

Parte 2- Mais do que os olhos podem ver

 

 

-Levante mais os ombros, estique o braço, postura, isso, boa menina, puxa até sentir a corda vibrar, mantenha o pulso firme e reto, e solte quando sentir que a corda alcançou a resistência.

 

A garotinha solta a corda do arco, que vibra com a força do disparo arremessando a flecha que faz um fino zunido e acerta em cheio...uma árvore longínqua do alvo almejado.

 

-Preste atenção no alvo, até parece que não está vendo – reclamou o seu pai um pouco irritado, afinal já faz sete horas que eles estavam lá repetindo o processo sem sucesso algum – vamos, mais uma vez, saque a flecha da aljava e dispare, foca no centro do alvo, não é difícil eu sei que você consegue filha.

 

Ela já estava um pouco impaciente, queria ir brincar com as amigas, mas também queria acertar o alvo para que seu pai tivesse orgulho dela.

 

Pegou a flecha da aljava, era a última delas, fechou os olhos e respirou fundo, sentiu a leve brisa da pradaria em seus cabelos, repetiu o procedimento ensinado pelo seu pai e soltou a corda.

 

-AÍ!!- exclamou enquanto começava a chorar.

 

Sentiu o amargo gosto do sangue que escorrera de sua testa e passava pela boca.

Ao disparar algo dera errado e o arco foi de encontro com ela. Doía muito, muito mesmo, mas não mais do que a decepção na face enfurecida de seu mentor.

 

- O que eu faço com você? Espera matar alguma bruxa se o máximo que consegue acertar é a própria cara?

 

- Eu não consigo!! - choramingava a garotinha– Eu quero a minha mãe!

 

-Sua mãe não vai te ajudar igual ao mês passado, ela sabe que você precisa aprender. Um disparo certeiro e fatal pode ser a diferença entre a vida e a morte, principalmente com essas criaturas repugnantes andando por aí. Seu rei precisa de você Yca, mas se você não consegue ser precisa não será de muita serventia. É isso que você quer ser? Dispensável? Eu me...

 

- Senhor, senhor, senhor, senhor! – Irrompeu ofegante um jovem com um grande arco nas costas.

 

-Pois diga logo o que o te trouxe aqui, não vê que estou ocupado?

 

A garotinha aproveitou a brecha e saiu correndo sem rumo para a floresta, tudo o que ela queria era estar o mais longe possível dali.

 

Adentrava cada vez mais na escuridão, não sabia mais onde estava, sequer podia enxergar o que a esperava à frente, contudo, ainda que sua visão estivesse embaçada pelas lágrimas, sangue e pelo medo que se punha em seu coração ela viu o que tinha feito.

Agachada ao chão e encolhida retorna a chorar:

 

-Por que? Por que eu não consigo acertar? Eu sempre miro no alvo, eu sei que ele está ali, mas eu não consigo. Eu sou horrível!

 

 

Algo se mexia próximo a ela. Assustada e sem entender ao certo, por instinto levantou o arco em direção ao arbusto e fez como seu pai a ensinou.

 

A quem ela enganará*? Mal conseguia acertar um simples alvo.

O arbusto se movia mais e mais compulsivamente, ela estava apreensiva.

Sentia seu coração pulsar fortemente em seu peito como marteladas derrubando-a tijolo por tijolo.

 

- Sa...Saia daí! - exclamou ela parecendo imponente.

 

Um pequeno animal branco saiu de dentro da moita, ele era realmente pequeno, mal chegava a seu joelho!

 

-Um filhotinho? O que será que ele faz por aqui?- Indagou indo em direção a ele que se sentou e simplesmente aceitou ser pego.

 

O levantou na altura do seu rosto para dar uma boa olhada. Ele era tão bonitinho, tinha a cabeça branca, as patas negras, possuía um focinho marrom e compridas orelhinhas caídas. Seus olhos escuros e penetrantes esbanjavam ternura sem precedentes, porém suas costas eram vermelhas e úmidas.

 

Da mesma maneira que ela o encarava, ele o fazia a olhando de cima a baixo, inclinou a cabeça e um pouco curioso e a cheirou. Constatou então que ela estava sangrando e gentilmente começou a lamber a ferida e o sangue de seu rosto, o que só fez com o machucado que ardesse mais.

A menininha o colocou no chão, ele então começou a puxar a calça de couro dela com a boca em direção ao arbusto, sem sucesso algum. Ela deu uma risadinha pois achara muito bonitinho o esforço do animal em limpá-la. A ferida incomodava, a garota resolveu coça-la e sentiu o cheiro do sangue ao passar com a mão próxima ao nariz em direção a testa onde se encontra o corte.

O sangue não era o dela, era forte demais para ser, ela conhecia bem o seu próprio, pois vivia se machucando, seja no treino com o seu pai, o líder da guilda dos arqueiros, ou brincando com os amigos na praça do palácio, ou até mesmo quando algum garoto revidava tacando-lhe uma pedra.

 

-Você deve estar ferido, vamos procurar o seu dono.

 

E seguiu o animal em direção ao arbusto. Andando por entre a densa mata por alguns instantes, empurrando e quebrando os obstáculos em seu caminho, ela encontrou um indivíduo barbado encostado em uma árvore, parecia estar bem ferido.

 

- Moço, o senhor está bem? Moço? Moço?

 

O homem não respondia.

Ela resolveu dar uma cutucada na bochecha dele, o que o fez cair ao chão de lado revelando um buraco na árvore. Curiosa, não resistiu em olhar o que tinha lá, ignorando que o cachorrinho estava lambendo e passando a pata, como se gentilmente cavasse algo.

Ela esticou o braço para alcançar algo que vira lá dentro e encontra um arco.

Pela textura da madeira e o cheiro singular, a pequena arqueira sabia que fora feito com madeira de Serminus, o que só podia significar duas coisas, ou ele era alguém com uma patente muito alta ou tinha cometido o sacrilégio de cortar uma árvore divina, pois, ate onde se lembrava, só existem quatro arcos como estes em todo o reino.

Um pertence à seu pai, líder da guilda dos arqueiros, dado pelas mãos do próprio rei por conta dos serviços prestados à coroa, era seu orgulho e seu troféu.

Outro pertence ao número dois da tríade dos guardiões. Não se sabe muito sobre eles,nem mesmos seus nomes, apenas o fato de serem condecorados pelo próprio conselho superior para manterem uma suposta ordem. Intimamente ela detestava aquelas pessoas mais do que qualquer outra neste país.

O terceiro pertence a um grande habilidoso caçador estrangeiro, ao qual foi dado a honra de poder ter um arco de sua escolha. Ele o fizera com suas próprias mãos.

O último ela não se lembrava ao certo, mas nada tinha haver com aquele alí, disso ela tinha certeza...esticara a mão para tirar de lá, o pegou mas pensou... era melhor deixa-lo onde estava, poderia arranjar encrenca se o pegasse. Acabou deixando-o por lá, se virou para o filhotinho e,com pesar, disse, como se ele entendesse:

 

-Desculpe amigo, ele não pode mais te fazer carinho, mas não tem problema - com um sorriso melancólico erguendo até a frente de seu rosto - Eu te protejo de agora em diante, mas você terá que me proteger também pois estou aqui sozinha, assim como você!

 

Feliz e abanando o rabo ele late em consentimento!

Ela retribui e o abraça apertando-o contra seu peito.

O cadáver no chão agarra a perna dela com a mão, apertando com força e ferocidade enquanto a olhava nos olhos berrando em aviso.

 

- Predador! Predador! Predador! Mate a besta! O cachorrinho pula do colo dela ao chão e começa a rosnar e latir.

Uma sombra se projeta ao chão, ela olha os céus, protegendo os olhos do sol vê uma enorme ave pairando sobre eles.

Assustada, cai no chão, limpando desesperadamente o sangue de seu rosto enquanto procurava seu arco. Não prestara atenção que o deixara cair ao esticar a mão para investigar o buraco no tronco.

A gigantesca ave, vermelha e reluzente, produz um som ensurdecedor e começa um rasante em direção a ela.

O defunto não parava de falar segurando-a, ela tinha medo, ela estava com medo. Se não fizesse algo morreria ali. A ave avançava em direção a ela tão rapidamente que ela mal conseguiu notar, apenas sentiu uma grande dor em seus olhos, que arderam mais do que o ricochete do arco em sua testa.

Não conseguia ver muito bem, estava tudo embaçado, estava com medo. Sangue e lágrimas. Dor. Lágrimas. Sangue... E nada mais podia ser visto.

Ela ouviu um imponente rugido, e logo em seguida, a ave gritar. A garota conseguira se soltar do ser que deu seu último suspiro de vida. Procurando o cão e apalpando o chão em busca do seu arco, ela bateu em algo, parecia um apito, mas tinha o formato de uma salamandra. Ela o pegou instintivamente e o colocou no bolso, tudo estava embaçado e escuro. Assustada ela encontra algo em meio ao caos.

 

-Te achei... Qual é o seu nome mesmo? Espera... isso não é você, é a ave! Mas, como? Bom, não importa. Eu reconheço esse bico, meu pai me ensinou sobre elas nas aulas enquanto eu anotava no bestiário!

 

Neste momento ela tomou uma decisão, era a recompensa por tudo o que ela passou: por todo o sofrimento, pela desaprovação de sua casa e por esta situação.

Começou a apalpar o homem, não a incomodava o fato dele estar morto.

Yca procurava uma faca, todo arqueiro que se preze tem uma faca.

Assim a encontrou, respirou fundo e levou a faca até os olhos da ave e com um movimento preciso os tirou.- Isso vai doer muito. - disse para si mesma enquanto mordia os lábios.

E com a mesma precisão que removera os olhos da ave, ela removeu os dela.

 

- Agora eu poderei ver, ver tanto quanto você pai, eu serei útil!

 

A dor era insuportável, tão forte que a fizera desmaiar e cair ali mesmo ao relento, em uma parte iluminada no meio de tanta escuridão.

Mas não estava só. O animal, que agora Yca considerava seu, estava, encolhido ao seu lado, esperando que ela acordasse para que pudesse protegê-la.

 

De cara fechada, ao longe, seu pai gritava:

 

-Yca! Yca! O que? Chuva? Agora? Que os raios me partam, essa garota insolente.

 

Jovem venha cá. Avise a minha esposa, se a encontrar, que minha filha sumiu na floresta que liga à cidade. Coloque todos os arqueiros a procura dela, se uma bruxa a encontrar antes de mim você ira pagar com a sua vida.

 

- Mas senhor, não é minha culpa! Além do mais eu entendo a importância da missão! Se uma bruxa a encontrar irão negociar ela pela cidade não é?

 

- Se chegar a este ponto eu mesmo dispararei a flecha que colocará um fim nisso, agora se mova, temos trabalho a fazer e eu odeio andar na chuva.

 

-Senhor, mais uma coisa. O que vamos fazer com todas essas árvores despedaçadas? Se continuar neste rítimo iremos ter que replantar a floresta inteira, e o senhor sabe como o rei é exigente com sua padraria de caça.

 

-Isto é problema meu, cuide do que você tem que fazer e apenas isso rapaz. - esbravejou ainda mais carrancudo que de costume enquanto tirava das costas o seu arco e arrumava sua aljava para a batalha.

 

Yca acorda com o frio da chuva e se levanta batendo o pé em algo peludo, era o seu cão, despertando trêmulo ao seu lado. Ela abaixa para pega-lo no colo e dividir um pouco de seu calor com ele.

 

- Predador. Este vai ser o seu nome! Legal né? O que você acha? Eu gosto. - disse ela enquanto ria com a reação entusiasmada do pequenino que latia incessantemente. - Eu não consigo ver nada, mas não posso ficar aqui com este homem morto, meu pai pode se zangar, preciso voltar.

 

Ela começa a andar em frente com os olhos fechados, incapaz de abri-los.

 

-De nada irá servir andar assim... Tive uma idéia! Irei usar o apito! - Com esperança ela removeu o apito que pegara e o limpou na blusa, pois, embora esta estivesse suja, não gostava do fato de outros terem usado antes dela.

 

- Nem um som... É um apito estranho mesmo, não sei o que estava pensando... Vamos seguir em frente. Cansada de tanto andar sem saber ao certo o destino que almeja, ela tromba em algo. Apalpando ela se senta.

 

-Um banco, finalmente. Meus pés doem muito, estou toda molhada da chuva, além do mais você fica pesado quando molha sabia? - Constatou enquanto acariciava a cabeça do seu amigo.

 

- Posso ajudar senhorita?

 

A voz do homem era gentil, um alívio ouvir a voz de alguém depois de tanto tempo.

 

-Eu não consigo ver e estou perdida.

 

-O que houve com seus olhos garota?

 

Ele então se abaixa e coloca uma mão no ombro da garota notando que ela estava cega.

 

- Acho que eu posso te ajudar.

 

Segurando a mão dela ele a leva para um beco. Ela sentia o ambiente fechar a sua volta, porém, desprovida de medo, abraça seu cachorro e segue a voz do senhor.

 

-Não conte para ninguém o que vai acontecer aqui tudo bem? Você pode me arranjar problemas.- disse ele olhando para ela fixamente esperando ela concordar. - Certo, vamos começar.

 

O mago arregaçou as mangas e segurou o rosto dela com as duas mãos. Ela sentiu o seu rosto ficando quente e seus olhos já não ardiam tanto.

 

-Vanires Healus Minor, Vanires Healus Minor - repetia o homem em voz baixa e frenéticamente* -Estranho não conseguir curá-la, não que eu realmente seja bom nisto mas... deixe-me ver...

 

O bruxo abriu as pálpebras de Yca com delicadeza para observar o que acontecera.

Não conseguiu disfarçar seu espanto.

 

-Garota quem fez isso com você é desprovido de humanidade não acho que exista entre nós um bruxo que possa te curar... talvez tenha... isso... é talvez ELA consiga mas eu não posso te levar até lá... eu vou continuar tentando,o ferimento é recente então você pode recuperar a visão só preciso continuar... é acho que isso vai bastar para te curar, pode demorar, mas se você não perder a esperança e a fé você consegue voltar a ver, mesmo que esses olhos não sejam seus.

 

A garotinha já entendera há horas o que tinha acontecido, mas se animara com a ideia de voltar a ver, afinal de que serviria uma arqueira que não pode ver, ainda mais sendo ela.

 

Um zumbido forte fez-se ouvir ao ar.

 

-O Que houve? Eu fiz algo?

 

-Não.- respondeu gentilmente guardando toda a dor para si. - Vanires Healus Minor, nunca se esqueça dessas três palavras, você vai precisar delas. Nós estamos sendo caçados e tomar todo cuidado para não morrer é o mínimo que devemos fazer.

 

-Não entendi moço, o senhor é um bruxo? Pois eu não sou uma bruxa! Eu sou a filha do General.

 

Rindo enquanto acariciava a cabeça de Yca ,diz com sua voz calorosa:

 

-Homens cruéis padecem de um destino cruel ao que tudo indica. Eu sou uma pessoa ruim por gostar disso? -enquanto outra flecha perfurava a carne de suas costas, aliviado pela cegueira da garota, suprimindo toda a dor, ele se lamentava pelo destino que tivera, mas não esperava a resposta que estava para receber.

 

-Você não é uma pessoa, é um bruxo - disse ela inocentemente.

 

-Logo nem você, você é uma bruxa, assim como eu ,não se esqueça destas três palavras, eu preciso ir agora, fique sabendo que gostei de você, parece alguém por quem valha a pena morrer.

 

-Alí! -exclama o arqueiro para o colega, apontando para o beco - Encontrei. O bruxo tinha pego ela, criaturas sem honra, não poupam nem as crianças, mas não se preocupe, estamos aqui agora.

 

-O que aquele monstro fez com seus olhos? - indagou o outro arqueiro. - Seu pai não vai gostar nada disso, vamos levá-la para ele.

 

 

Ver bruxos sendo mortos, apesar de atroz, era corriqueiro na vida da população que apenas continuava sua rotina diária, mesmo sob a pesada chuva. Subindo as enlameadas ruas da baixa cidade, escoltada por dois arqueiros, ela se depara com seu pai.

 

-O que houve com seus olhos? – Indagou com uma expressão de escarro.

 

-Eu os melhorei! -respondeu animada.

 

-Você não pode ver. - uma veia pulsava de ódio em sua testa.

 

-Eu sei papai! - disse toda empolgada para contar a seu pai - Mas olha o que sei fazer ! -ela coloca a mão em cima das bochechas - Vanires Healus Minor.

 

A mão dela se esverdeia e começa a exalar uma resplandecente essência. Ele entendera neste momento de insanidade o que acontecera, e sabia o que precisava fazer. Rapidamente carregou seu arco e antes que pudessem reagir ele disparou duas vezes, certeiro e preciso. Matou os dois homens que estavam a escoltá-la, a flecha teve tamanho poder que os perfurou e continuou seguindo em direção ao horizonte, o barulho dos dois homens despencando ao chão a assustou

 

.-HÁ! Te transformaram em uma bruxa! Não, minha filha não, não será igual a maldita da sua mãe.

 

Seu pai a agarrou fortemente pelo braço e começou a andar rapidamente até a taverna mais próxima. Estava fechada, mas ele arrombou a porta sem hesitar.

O lugar fedia a álcool e a suor mas estava vazio por conta do toque de recolher. Ele pegou uma flecha afiada e quebrou a ponta; também pegou um fio da malha que veste e o descosturou, amarrando-o na agulha que se tornara a ponta da flecha. Banhou-a no álcool e puxou a sua filha para perto.

 

-Ninguém, imperdoável...- irritado chuta o cachorrinho que a seguia para longe.

 

O arqueiro levou a "agulha" próxima da boca da garota, ela queria gritar, mas não conseguia, estava silenciada. Procurando alguma coisa para se segurar ela encontrou o resto da flecha partida e a segurou com força, prestes a usá-la para sobreviver.

 

-Magnus Iferos Vulptus!

 

 

Assustada, derruba a flecha, e em seu último ato de esperança assopra o apito que faz um som que reverbera no ambiente, não menos imponente do que o urro de uma fera que o seguiu.

 

 

Parte 3 - A essência da existência

Parte 3 – A essência da existência

 

Apesar da forte chuva o local estava envolto em chamas, a única luz acessa nesta madrugada em que até mesmo a lua hesitou em surgir.

 

-Eu adoro a sensação dos respingos em meu rosto. - disse a jovem moça enquanto estava de braços abertos abraçando a forte rajada de água.

 

Um grande homem que estava do lado dela, removeu o seu capuz e, continuou para dentro da taverna a chamando para entrar.

 

-Ele definitivamente agiu por aqui mi Lady. Não deve ter ido muito longe, eu sinto o cheiro podre da essência daquele traidor.

 

Com uma expressão séria ela adentrou, observou o local minuciosamente, se aproximou do balcão e deslizou o indicador sobre ele sentindo a madeira queimada contra sua pele.

 

-Isso aqui está um caos, Melcchior vamos nos apressar para encontrá-lo, antes que ele queime mais a nossa reputação.

 

Rindo do próprio trocadilho bobo ela se dirigiu a saída.

Algo se movia por entre a lama e a incessante tempestade, se esforçando para ficar de pé apesar de não conseguir êxito algum ele continuava a se erguer e cair.

Melcchior estendeu um braço à frente da mulher se pondo entre e ela e o perigo a fim de protege-la.

 

-Já disse que detesto quando você faz isso. Ele não representa perigo algum -irritada, ela empurra violentamente o braço dele para longe - E tira esse sorriso ridículo do rosto, que palhaçada.

 

-É que faz tempo que não saímos para fazer algo juntos mi Lady, além do mais, você fica particularmente bonita a noite.

 

E de fato, mesmo estando encharcados, ela possuía uma beleza muito peculiar, não era muito alta, e não se preocupava muito em comer, principalmente durante as exaustivas lições. Seus olhos eram de um raro roxo resplandecente circundados de uma sombra escura, seus cabelos eram lisos e tão negros que até mesmo a própria noite se perderia por entre seus fios e seus lábios haviam sido tingidos por um tom de escuro esmeralda ao qual ela usara por apenas capricho. Aparentava a delicadeza de uma beata com o formato fino e encantador dos traços de seu rosto e sua pele pálida e macia lhe conferia um aspecto doce de uma donzela.

 

-Para de me encarar e siga em frente, agora definitivamente não é hora para isso.

 

Corada, saiu pisando forte e emburrada descendo a rua enquanto balbuciava algumas palavras, Melcchior prontamente se pôs a segui-la.

 

Ele era deveras forte para alguém que não era um espadachim ou um arqueiro, possuía as costas largas, uma cicatriz horizontal no nariz, seu sorriso era debochado, por conta de seus olhos tinha uma aparência meio sonolenta, os cabelos e a barba eram castanhos escuros, e seu rosto imponente esbanjava respeito.

Ela chegou na praça mais próxima a floresta, ele possuía um grande chafariz de ladrilhos dourados que estava transbordando por conta da teimosia da chuva, nada disso o impedia de expelir mais água fazendo com que o local ficasse semelhante a um pequeno pântano.

O curioso é que embora grande, a praça possuía apenas um banco, sendo este virado para a área verde.

 

-No beco mi Lady D'Arc. Olhe lá, eu vejo alguém ali, será possível que seja ele?!

 

Desviando sua atenção da floresta e a voltando para o beco, D'Arc foi impaciente até lá.

Estava escuro, mas ouvia-se a respiração ofegante de alguém.

A jovem colocou a mão dentro de seu sobretudo e retirou um lampião, achava um ultraje uma bruxa ter que andar com aquilo, mas ela não era uma bruxa como as outras, ela sabia muito bem disso e coisas assim se faziam necessárias, com o braço esquerdo estendeu o lampião na direção de Melcchior que estava ao seu lado no estreito beco.

 

- Aexis Minor, conjure isso enquanto estala os dedos, você vai ascender o lampião sem problemas, a essa etapa você já deve conseguir fazer ao menos isso com facilidade.

 

Consentindo com sua professora ele realizou o procedimento, não conseguiu da primeira vez, muito menos da segunda, a terceira foi uma frustração maior ainda.

 

Irritado ele tenta uma quarta vez, enquanto ela apenas observava.

Estalando os dedos com afinco e ódio fazendo uma pequena chama surgir de seus dedos emprestando força ao lampião, que agora iluminava tudo ao redor.

 

-Finalmente encontramos você. - observando com severidade aquele que foi revelado pela chama do utensílio.

 

Um homem pálido e sangrando, encolhido no canto, encostado na parede, com três flechas nas costas e uma estranhamente partida ao meio disparada em seu fígado, e um grande ferimento transversal em seu peito, provavelmente causado por um animal selvagem, e o que o teria levado a este estado. O individuo respondeu com sua voz gentil e doce enquanto debochava um sorriso amargo e amistoso próximo a perder a consciência:

 

-Eu estava certo no final das contas Jeanne. Você chegou tarde demais, já fui tomado por uma pessoa que não vê o que faz, mas sou o único culpado do fim que tive.

 

- Como se atreve a dizer no nome dela seu rato podre. Somente sua existência irá pagar pelos crimes que você cometeu, você vai...

 

-Melcchior você não precisa me lembrar das leis, eu mesma as escrevi. E tira esse braço da minha frente, já te disse que odeio quando faz isso. Sinceramente não sei o que faço com você. - Jeanne interrompeu calmamente enquanto enrolava uma das pontas de seu cabelo e empurrava o braço de seu aluno com sua mão livre.

 

- Vamos, carregue-o, precisamos leva-lo para a fundação, lá ele irá receber o que lhe é devido.

 

Melcchior o colocou no ombro direito como se fosse um simples saco de batatas, desacordado ele não era mais do que isso.

A temperatura se elevou, a chuva cessou quase que imediatamente.

Assustados com a mudança abrupta do clima eles se voltam para a floresta, agora envolta em chamas.

Não eram chamas comuns. Eram azuis com um espectro avermelhado banhando o seu redor. Consumiam a floresta com uma voracidade impressionante. Jeanne correu em direção a ela, derrubando o lampião na lama, fazendo com que Melcchior a seguisse ainda com o homem em seus ombros. Assim entraram na floresta empurrando galhos e folhas, ensopadas e ao mesmo tempo incendiadas, como se estivessem procurando algo importante que tivera sido deixado lá, entrando mais e mais no meio daquele caos.

 

-Nos ajudem, por favor, está muito quente aqui!

 

Ouviram um clamor de socorro ao fundo, decidem procurar e ajudar a pobre alma perdida naquele inferno.

 

- Ei, ei, ei! Não precisa mais chorar, olha para mim, vai ficar tudo bem, eu estou aqui e vou te ajudar!- exclamou Jeanne agachando no chão e abraçando a criança enquanto acaricia seus cabelos em busca de uma maneira de consolá-la - Olha para mim, vai ficar tudo bem, eu estou aqui e vou te ajudar, vamos sair daqui.

 

-Não, não vou sair sem meu amigo. - respondeu a garota engolindo as lágrimas.

 

-E onde está seu amigo, não vejo mais ninguém aqui além de você. - retrucou confusa.

 

 

A garotinha apontou para um animal, todo enlameado, preso por entre as árvores que caíram enquanto consumidas pelas chamas impiedosas.

 

- Melcchior, ajude o animal, eu preciso confirmar se esse fogo é mesmo o que eu imagino.

 

O rapaz joga o homem ao chão e com facilidade levantou os dois troncos chamuscados de cima do cachorrinho, que desesperado sai correndo para os braços da garotinha.

Enquanto isso, agachada Jeanne coletava várias penas vermelhas que encontrava no chão enquanto balbuciava algumas palavras inaudíveis e as guardava em seu sobretudo.

Olhou para seu discípulo e calmamente disse enquanto ele pegava o traidor do chão com a mesma delicadeza em que o colocará lá.

 

-Plumas de Fênix – constatou - me pergunto o que isso faz por aqui, me pergunto o que essa garotinha com esse arco faz por aqui, de qualquer maneira, agora sabemos o que causou o incêndio na floresta, logo suspeitei com essas chamas azuladas. Melcchior, se tinha uma Fênix aqui, significa problemas, não devíamos estar aqui, siga as Glitches que eu deixei no caminho e conseguiremos voltar para a praça, acha que pode fazer isso?

 

Com o braço direito abraçado no seu amigo e com a mão esquerda segurando na mão de sua salvadora os três retornam a praça seguindo as esferas brilhantes e flutuantes deixadas pela bruxa para marcar o caminho de volta. Foi bem mais simples do que o esperado.

Uma vez em segurança, o bruxo senta no banco com os braços abertos e apoiados no mesmo.

 

-Só mais um dia normal em nossas vidas, não é mesmo mi Lady?! - brincou o bruxo enquanto ria.

A sensação de emoção o deixara animado.

Ignorando o comentário de seu aprendiz, que embora verdadeiro fora desnecessário, a bruxa abaixou até ficar na altura dos olhos da criança e indagou:

 

-Qual o seu nome? O que você estava fazendo lá? E o mais importante, onde estão seus pais?

 

-Meu nome é Yca, mi Lady - reproduzindo o que ouvira do rapaz - eu não sei se deveria lhe dizer mas, eu estava buscando este... meu arco, o homem que estava na floresta tinha pego de mim.

 

-Homem? - enrolando o cabelo pensativa ela se vira para Melcchior e observou sua expressão de desconhecimento.

 

- Eu não vi nenhum homem lá. Ele era seu pai? Só tinha nós 4 lá.

 

Yca não respondeu, ao invés disso se contentou em pressionar Predador em seu peito e fazer uma expressão de quem está prestes a chorar.

 

-Ei ei, não precisa chorar, tá tudo bem agora, você pode abrir os olhos, não estamos mais na floresta e tudo vai ficar bem, certo?

 

Negando com a cabeça ela informa:

 

-Eu ainda não posso abrir os olhos, ainda não estão bons o suficiente, vocês devem estar preocupados com seus amigos não? Está tudo bem, os quatro estão chegando, conseguem ouvir o tintilar das suas armaduras?

 

-Yca, minha querida, somos só eu, o prisioneiro e este rapaz aqui do meu lado.

 

- Enw, e como ele cheira mal! - disse ela com um sorriso, compartilhado por Jeanne.

 

-De fato, ele cheira a Arkagul molhado hahahahaha! - respondeu a bruxa feliz por Yca ter se acalmado.

 

A garota não entendeu o que a moça quis dizer, não sabia o que era um Arkagul, mas a julgar pela reação do homem, que ficou chateado e começou a reclamar, deveria ser algo realmente muito fedido.

 

Melcchior se levantou rapidamente e colocou seu braço a frente de Jeanne.

Porém desta vez ela não reagiu ou brigou com ele somente encarou a movimentação da floreta enquanto escutava os passos de pessoas se aproximando.

Eram as pessoas ao qual Yca dissera.

 

-Ora, ora, ora. Que surpresa desagradável temos aqui. Se não é a infame bruxa mais caçada por todo o reino e o seu cão de guarda. E essa pirralinha? Aposto que é outra bruxinha pestilenta. Uma ótima oportunidade para provar meu valor ao líder azul! - falou o primeiro homem que saiu da mata.

 

-Olha só o que temos aqui! O carrapato do oitavo Göttlich, ainda acha que vai entrar para a tríade só porque anda com um dos números baixos? É uma piada mesmo - retrucou "o cão".

 

-Você rosna demais para alguém que não morde. - Respondeu o segundo homem a sair das folhas.

 

Não tiveram tempo de responder, um homem com uma armadura azul escura e dourada, claramente pesada mesmo para o porte físico robusto dele, cobrindo a maior parte do corpo, saiu da floresta caminhando e produzindo um barulho de metálico, ele estava com o elmo, que possuía o formato de uma ave, por entre o braço esquerdo e sua capa, apesar de em chamas, não era consumida e o fogo logo se extinguiu.

Seu cabelo curto e loiro se destacava na noite, mesmo que ela não estivesse tão escura quanto antes, uma vez que a Lua brilhava corajosa sobre suas cabeças espalhando sua resplandecente grandiosidade.

 

-Chega disso. Ouçam com atenção! Jeanne D'Arc, eu, o oitavo escolhido na sucessão da tríade dos guardiões, Zhael Indomus, A Fúria Azul, A Chama do Oeste, em nome do Conselho Superior, julgo seus atos de bruxaria, heresia, genocídio, regicídio, por ter rompido com o pacto de Nibellum que rege a luz, pecado contra os homens...

 

Enquanto o homem se punha infinitamente a falar dos incontáveis crimes em que Jeanne era acusada, outro chegou homem chegou, aproveitando a brecha, o bruxo Melcchior cochichou com sua mestra:

 

- Por favor, abra uma exceção, me deixe usar magia...

 

-Não - interrompeu Jeanne ríspida e grossa - se eu deixar agora, da próxima vez também deixarei? E da próxima? Você sabe que é proibido utilizar essência negra.

 

-Mas Jeanne, se eu não fizer nada, você vai fazer, e isso é um problema ainda maior do que essa situação.

 

-Francamente, foi muita falta de sorte encontrar um dos herdeiros por aqui, justo agora que achamos o maldito traidor... E por favor, não use meu nome comum na frente de outras pessoas. - reclamou Jeanne com uma expressão indiferente enquanto acariciava a própria testa com dois dedos tentando achar uma saída.

 

Se não podia utilizar a magia ao qual estava acostumado, ele buscou lembrar de suas aulas em que a bruxa o lecionou.

 

- a sentença é a morte na fogueira.

Proferiu o homem por fim.

 

-Recusado! Aexis Glacias Superios! - esbraveou o bruxo. A essência começa a se concentrar na palma da mão direita de Melcchior e ele dispara em direção ao homem com toda sua força e vontade.

 

A singela bola de neve acerta a armadura do homem e evapora, sem causar nem ao menos um arranhão. Ele era simplesmente patético com magia.

Rindo da inutilidade, Zhael revida debochado.

 

-Pois bem, se você é um bruxo, isso faz de mim o que? Olha rapaz vou te dizer uma coisa que parece que sua mestra não lhe ensinou. Tudo possui uma essência, e os bruxos não são os únicos a dominarem essa "arte". Eu disse que vocês iriam morrer na fogueira não é ? Infelizmente eu nunca fui bom em seguir ordens a risca. Contemplem, a arte da essência: Quebra de Regras!

 

O Homem retira sua arma das costas, um grande machado escarlate, leva sua perna direita para trás, afundando seu pé um pouco no chão para pegar firmeza.

 

Com as duas mãos ele leva o machado também para trás ao máximo, a essência ao redor começa a se concentrar na arma, tornando ainda mais rubra e cintilante, e por fim, ele a arremessa com uma força estrondosa que até mesmo o vento acompanha seu movimento.

 

Melcchior se joga ao chão, empurrando sua Lady contra a lama. O machado passa bem perto dos dois mesmo assim, e vai de encontro com o chafariz, o rachando ao meio, cortando o que tinha em sua trajetória até alcançar a lama do outro lado da praça.

 

Yca olhou para a sua salvadora, a viu com lágrimas saindo de seus olhos, desolada e assustada, até pensou em ajudá-la, mas sabia que este não era o momento certo.

Melcchior se levantou, e jogou seu sobretudo na lama, revelando suas vestes, uma calça preta presa com uma cinta e uma jaqueta marrom com um gorro, ele pega duas luvas do bolso de sua calça e as coloca em suas grandes mãos as estralando.

Cansados de só observar os outros três homens resolvem agir investindo em direção ao bruxo.

Jeanne abraça Yca cobrindo o rosto dela com o seu corpo em uma tentativa de protegê-la da verdade do mundo.

O primeiro homem subestimou Melcchior e resolveu ir para uma luta corpo a corpo. Aproveitando o impulso da corrida ele desfere um cruzado de direita que o bruxo habilmente se esquiva, por conta de toda a lama gerada na constante chuva o homem se desequilibra e Melcchior vê a chance perfeita de acabar com ele ali mesmo desferindo um poderoso soco que vai de encontro com o nariz do desafortunado, o barulho dele quebrando pode ser ouvido por todos que estavam lá, mas não era o nariz que tinha sido quebrado, o homem fora congelado e desfeito. Com o rosto deformado, despenca na lama.

Os outros dois não cometeriam o mesmo erro, um deles sacou a alfanje e o outro o arco

.O bruxo, com um grande sorriso no rosto socou suas mãos e correu cautelosamente em direção a eles.

 

-Aexis Minor! - conjurou alvejando os olhos do espadachim.

 

Por mais que ele não fosse bom com magia comum, não era um imbecil e sabia usar com astúcia o que tinha.

O homem atordoado e esfregando seus olhos irritados com a faísca, abaixou a guarda. Já que não teria chance de contra ataque, o bruxo desferiu uma potente joelhada no estômago do espadachim, com a dor ele se curvou, um erro fatal, um gancho de direita vindo do forte punho de seu inimigo o levou ao chão, não foi o suficiente para matá-lo mas o deixou desacordado e frígio.

Agora bastava o terceiro e último e estariam sozinhos com Zhael.

Talvez poderiam vencê-lo. Desviar da flecha disparada de seu oponente não foi uma tarefa difícil, em poucos segundos eles já estavam cara a cara.

Melcchior pegou impulso com seu braço para desferir um poderoso golpe direto, neste instante, um zunido alto e forte cruzou o ar. O Bruxou sentiu sua coxa direita arder e caiu ajoelhado ao chão.

Estavam cercados, arqueiros por todos os lados, não eram homens de Zhael, eram os arqueiros da região, como podia se notar de seus brasões.

Com toda essa confusão Jeanne e Melcchior não perceberam a comoção que estava tendo ao redor. Tantos arqueiros quanto estrelas no céu. Nos becos, na floresta, em cima das casas, dentro das casas. Todos eles com suas setas apontadas para eles, esperando uma ordem, um comando ou algo parecido, um movimento e poderia ser o fim de tudo, ali mesmo.

 

-Acredito que teremos que fazer da maneira difícil - fez-se ouvir a voz estrondosa de Zhael que aproveitou a distração para coletar seu machado - agora, irei aplicar a minha punição à vocês, morte por decapitação. Todos vocês, os três.

 

Empunhando seu rubro machado caminhou em direção a Melcchior, cada passo era como a batida de um relógio, marcando as horas para o fim do vida.

 

Jeanne não se conteve em chorar ao ver o jovem rapaz apavorado, ajoelhado no chão esperando seu algoz lhe alcançar.

 

-O golpe de misericórdia.

 

E desceu o grande machado rubro em direção ao pescoço de bruxo que observou como era um machado bonito. Vermelho, com uma lâmina de um aço afiado e reluzente, possuía um grande rubi cravejado que lhe conferia um ar nobre, seu cabo estava envolto à ataduras. Defletindo o golpe com o braço esquerdo ao atingir o lado da lâmina, Melcchior faz com que ele errasse o ataque, indo de encontro a lama.

 

-Me desculpe mi Lady, sei que não vai me perdoar, mas não posso deixar que você morra aqui. Haedo. Orobus. Maneat.

 

Um círculo escuro apareceu ao chão, uma névoa roxa é propagada ao redor dos dois.

 

-Seu imbecil, o que você fez!? - Berrou Jeanne furiosa.

 

Da névoa surgia a perdição material, os braços eram negros e incontáveis, as mãos eram grandes e os dedos eram finos e longos.

A primeira pessoa pega foi Zhael, sentiu sua perna esquerda agarrada e pressionada contra o chão caindo de joelhos.

Uma mão o agarrara no ombro, outra o pegou pelo pescoço, eram inúmeras. Ele se debatia desesperado tentando cortar, retirar, empurrar. Melcchior estava coberto delas, elas estava o puxando contra o chão e ele não tinha forças para resistir, invocá-las consumiu toda a sua energia. Tudo o que pode fazer foi estender a mão em direção a sua amada Lady e ver ela mexendo os lábios frenéticamente.

Se perguntou se ela estava lhe praguejando por te-la desobedecido ou por morrer ali.

 

O circulo no chão é quebrado causando um som extramente alto, como uma janela se partindo em mil pedaços.

 

Um tanto quanto abatido, Zhael se levanta e agarra o bruxo do chão, o levantando ao ar com apenas o braço esquerdo e o arremessando para perto da jovem.

 

-Vou exterminar o mal pela raiz – disse ríspido encarando Yca- olha a que ponto o desespero de vocês chegou, usando magia negra, são loucos a ponto de abdicarem do próprio sangue para continuar com essa insanidade, o conselho superior fez bem em me mandar para cá, mesmo que eu tenha vindo tratar de assuntos com o rei.

 

Ignorando o cachorro rosnando furiosamente para ele, levanta o machado para aplicar sua pena à próxima ré.

 

Uma flecha precisa acerta sua mão ferindo em um local indolor, com tremenda precisão, apenas para alertar.

 

Quem foi? - Disse Zhael zangado com a intervenção de algum do arqueiro.

 

-Fui eu. - Respondeu um homem com metade da face queimada e coberto de lama.

 

- Não ouse toca-la seu verme imundo.

 

-Você sabe quem eu sou? Eu sou o oitavo herdeiro, eu sou a extensão da vontade do conselho superior, eu sou Zhael Indomus!

 

-Eu não dou a mínima para quem você é! Pif, oitavo? Deixa eu te dizer, novato, eu era o quinto da hierarquia antes de sair dessa porcaria para servir ao meu rei.

 

O Cavaleiro entra em posição para desferir sua técnica, determinado a abrir caminho.

 

-Arte da Essência: Quebra de Regras! - brandou Zhael com a mão ferida a sangrar.

 

O arqueiro posicionou suas aljavas.

 

O machado foi arremessado ao ar, mais uma vez a força fez com que o vento empurrasse até mesmo as árvores próximas.

 

Porém, o arqueiro disparava uma flecha, forte o suficiente para que o machado caísse ao chão como se não passasse de um brinquedo para criança.

 

Pegando uma aljava que lhe foi arremessada, ele dispara mais uma flecha em direção a Indomus, a flecha é disparada causando o familiar zunido cortante, porém é reduzida a cinzas ao se aproximar da Fúria Azul.

 

Todos que estavam tão focados na luta entes os dois que se esqueceram totalmente da presença dos bruxos lá.

 

Os negros cabelos de Jeanne agora estavam alaranjados e brilhavam como a essência do próprio fogo.

 

-Não queria chegar a esse ponto - falou arrogantemente enquanto empurrava seu cabelo para trás.

 

O ar se tornava rarefeito, se comprimia, a temperatura esquentava mais e mais, o calor era insuportável, suor escorria do rosto de todos.

 

Zhael sabia o que estava por vir. Ele se abaixou, se cobriu com sua capa e se preparou para o pior.

Jeanne proferiu com toda a calma que possuía:

 

-Aexis Iferos minor.

 

Ela sabia que por mais que fosse uma magia de nível baixo, por conta do grande fluxo de essência que possuía, o estrago seria devastador.

 

"E assim o fogo cresceu tímido e logo se expandiu, mais, mais e mais, consumindo casas, secando ás água, rasgando os céus e repentinamente cessou, deixando nada mais do que lágrimas e lamentos"

 

Ela se lembrou dos gritos das pessoas sendo consumidas vivas, da tragédia de Sahlém, passava sobre seus ouvidos mais uma vez.

O sofrimento que ela causara, era grande demais para suportar.

Não queria que aquilo se repetisse, não queria ter mais lembranças como estas.

Removendo um galho de suas vestes ela direciona à Zhael, uma combustão acontece seguida de uma grande explosão que incendeia parte da outrora enlameada praça.

 

Aproveitando a brecha seu companheiro lhe diz:

-Vá, pegue a garota, ela não tem nada a ver com isso, eu fico aqui com ele, prometo que vou te encontrar de novo, você sabe disso não é? Nós cometemos um erro, achamos que não teria pessoas como ele atrás de nós. Não achei que fossem ter pessoas capazes de manipular essência à mando do conselho. Lady Jeanne D'Arc, fundadora da Acadêmia de Magia, minha mestra, minha amiga, minha mentora, traga a paz que tanto almeja para nós bruxos.

 

-O que você vai fazer? - Indagou ela.

 

-Algo que eu deveria ter feito dês do começo.

 

Com dificuldade ele se aproximou dela, segurou fortemente seu braço, e a beijou.

 

-Vou segurá-lo aqui - completou ele dividindo o olhar com a donzela.

 

Ficando entre Jeanne e Zhael, Melcchior conseguiu construir uma oportunidade para que elas escapassem pelo beco mais próximo, mesmo que por um triz antes das chamas se reduzirem e mostrarem a Chama do Oeste totalmente protegido por sua capa.

 

A bruxa não desperdiçaria a oportunidade, agarrou a mão da menininha e saiu correndo em direção ao beco adentrando no labirinto estreito que era a cidade baixa.

 

Pensava em voz alta algo que ouvira do bruxo quando o encontrou pela primeira vez.

“Corri, pois quem foge vive para lutar novamente outro dia.”

E assim fizeram, Jeanne segurando a mão de Yca, se afastavam o mais rápido que podiam, suas pernas doíam, seus sapatos não a ajudava, a não ser para atolarem na lama.

 

-Por aqui, se vocês descerem as escadarias chegarão na saída da cidade, a esse horário os guardas devem estar embriagados.

 

Jeanne parou de correr abruptamente fazendo com que a garotinha trombasse nela.

Examinando o homem que segurava um lampião, buscando entender o que o fizera ajudar. Decidiu confiar nele pois viu algo por debaixo do que os olhos viam.

 

- Que a paz alcance nossos corações, mi Lady. – saudou orgulhoso apontando a direção da escada escondida por entre as casas.

 

Jeanne desceu as escadas. Satisfeita por saber que até mesmo ali ela podia contar com as pessoas que acreditavam em sua causa apesar dos boatos que lhe eram atribuídos. A bruxa parou, puxou Yca para perto de seu corpo:

 

-Há uma coisa que preciso fazer, vamos esperar que ele volte.- explicou à ela.

 

A mocinha podia ouvir o constante som do coração de sua salvadora, acelerado, aflito, martelando rítmico e inseguro.

 

Tentando enxergar algo por entre a estreita passagem vê um vulto que bate de ombros na parede, dificultado pela lama e rente à parede ele se arrasta em direção a elas.

 

Era Melcchior com seu sorriso bobo e corriqueiro seguido do homem que os ajudou.

 

-Eu não disse? Só mais um dia comum em nossas vidas.

 

Ajudando ele a andar Jeanne o apoia em seus ombros resmungando como de costume, dando um sermão pela imprudência de seu aprendiz e envergonhada por tê-lo deixado lá.

A luz no final do túnel pode ser apreciada, a carruagem que eles usaram para chegar à cidade se encontrava onde tinha sido deixada

 

Sem surpresas ela deixou o bruxo e a garota dentro da carruagem acomodados nos bancos, desamarrou a égua do poste e entrou também.

O homem assumira sua posição pegando as rédeas da égua, esperando o sinal para que pudesse enfim seguir seu rumo.

Com um olhar severo ela encara seu aprendiz. Yca se supreende quando ela desfere um tapa no rosto dele.

 

Esforçando para não deixar ser vista chorando, Jeanne por fim quebra o silêncio:

 

-Melcchior, você está banido da acadêmia por desrespeitar o código de condutado de uso da essência, ao qual diz claramente que o uso de magia negra é proibido seja quais forem as circunstâncias.

 

-Mas, eu usei para nos salvar! Eu usei para te salvar! – respondeu incrédulo.

 

-Não é justificável, as leis devem ser seguidas. – calmamente afirmou

 

-Não é justificável? Não é justificável?

 

Melcchior transtornado desceu da carruagem e disse para o homem que ele já poderia partir.

Assim ele o fez, seguindo seu caminho pela rota aberta, levando consigo a bruxa e a garota com seu pequeno cão.

 

O bruxo irritado, com o rosto ardendo e marcado pela mão de sua amada, voltou acidade, subiu as escadas, ignorando totalmente a lama e o coração partido, em direção à praça onde tudo aquilo ocorreu.

 

- Não achei que fosse voltar jovem, perdeu o amor pela vida? Sabe, você não era meu trabalho aqui, mas já que insiste tanto em ficar em meu caminho acho que vou satisfazer sua vontade.

 

-Espere! Eu não vim para lutar. - explicou o bruxo - Eu quero lhe propor um acordo, faça de mim seu aprendiz.

 

Zhael interessado abaixou sua arma e escutou o que o bruxo tinha a oferecer em troca.

 

(...)

 

Na carruagem, a tintura borrada de Jeanne conferia a ela um ar de arrasada, as lágrimas, outrora abundantes, agora secas manchavam o angelical rosto que possuia.

 

-Então...Lady Crowell, é uma honra ajuda-la,mas ,desculpe minha indelicadeza, os boatos que dizem sobre a senhora são verdadeiros? Sempre tive curiosidade. - fez-se ouvir o charreteiro enquanto conduzia.

 

 

Não obteve resposta. Jeanne se encolheu, abraçando-se, como uma criança com frio. A garotinha se dirgiu até ela, subiu no acolchoamento, a abraçou encostando a cabeça dela em seu peito e a confortou acariciando sua cabeça e lhe dizendo baixinho:

 

-Ei, ei, ei! Não precisa mais chorar, olha para mim, vai ficar tudo bem, eu estou aqui e vou te ajudar.

 

 

 

Parte 4 - A determinação de aço.

Siga em frente, sem olhar para trás.

-Lembro de quando éramos mais jovens.

-Não se preocupe. Há um lugar no inferno reservado para você.

-Estou feliz afinal.

 

Parte 5 - Em direção às profundezas do esquecimento.

 

 

O Galeão, protegido pela densa névoa, respirava de seus ferimentos.

 

Ele iria afundar, isto era tão certo quanto o dia após a noite.

 

A marinha os tinha cercado, os danos eram altos e não podiam esperar por menos.

Melancólicos a tripulação encarava o grande tubarão branco com os ossos cruzados que era sua bandeira hesitar ante o vento uivante.

Começou a locomoção em direção aos botes para abandonar a embarcação.

 

-Capitão, o senhor não vem? – Perguntou um de seus marujos encarando o grande homem estático.

 

O capitão do Leviatã, o pirata mais temido de todo o continente, não, de todas às almas, ninguém sequer ousara pronunciar seu nome em auto mar.

Superstições diziam que se o fizessem , traria um mau agouro e, com falta de sorte, o mesmo faria com que ele aparecesse para requerer o que era seu de direito: Tudo que toca as águas oscilantes.

 

Ressoou um barulho de madeira contra madeira por todo o Galeão.

 

- Um bom capitão afunda com seu navio, eu tenho lembranças demais para deixa-lo aqui. – resmungou o homem enquanto batia sua perna de pau no convés, indo em direção ao timão – Eu irei lutar com o Leviatã até o final.

 

Os dentes eram tão afiados quanto a de um tubarão, sua barriga era grande como uma baleia.

O tapa-olho preto estava encharcado da batalha que travaram a pouco, cobria o buraco do olho que perdera em combate enquanto jovem.

Sua mão esquerda tinha sido substituída por um lança gancho após ser devorada por algum monstro marinho, ao qual ele usava a pele como veste agora.

Seu chapéu azul escuro, um pouco rasgado e furado de tiros disparos e cortes de lâmina permanecia glorioso com a grande pena negra que ele o anexara.

Seu sobretudo vermelho com botões negros e detalhado com uma lã dourada, feito pela própria Moby, sua Imediata, usando o uniforme dos marinheiros saqueados.

Seu cabelo negro e comprido estava salgado graças as aguas do mar ao qual vivera, sua grande barba descuidada era a extensão de seu orgulho.

A única coisa que podia ser igualmente grande a sua barba era seu nariz que mais parecia um arpão.Com seus olhos castanhos ele observa Moby que sai do bote e volta ao Leviatã.

Todos a observam indecisos sobre o que fazer.

 

-Capitão Jhones, se não vai abandonar o navio, eu, sua Imediata, não vou lhe abandonar, tenho várias lembranças em cima deste nosso amigo, vários saques, várias vitórias, batalhas, vários sangues e várias lágrimas, assim como vários amigos, risadas e é claro, algo que eu possa considerar um lar que me foi concedido. Eu persistirei aqui, até o fim, seja ele qual for! – Exclamou com firmeza a grande Moby.

 

Não era comum ter mulheres a bordo, os marujos acreditavam que dava azar. Mas tudo dava azar hoje em dia, e Moby não era uma simples mulher, ela estava lá desde o começo, sempre esteve lá, lutava e bebia com os homens, se divertia e falava besteiras com eles, saqueava tão bem quanto qualquer um, até melhor que o próprio capitão! Ela tinha o respeito e a admiração de todos os seus companheiros, todos tinham medo de sequer pensar em fazer uma gracinha com ela.

 

O capitão abriu um sorriso satisfeito ao ver ela retornar, ele sabia que ela não o deixaria.

 

- Bem vinda de volta a bordo Imediata, não esqueceremos disso.

 

Os outros homens partilhavam do sentimento de Moby, abandonaram os botes e voltaram ao Galeão.

Jogando o cabelo para traz Trevor disse em nome da tripulação:

 

-Nós não somos covardes, vivemos como piratas, morreremos como piratas abraçando o que quer que nos aguarda nas profundezas deste mar estrelado.

 

Em um urro de glória eles tomavam suas posições.

 

Sacando sua espada e a apontando para frente Capitão Jhones grita para se fazer ouvir em todo o continente:

 

-Avante marujos, atrás desta parede de névoa o oblívio nos aguarda não cantarão sobre nós não seremos lembrados como heróis somos a corja deste mundo somos as rêmoras do mar! Que nossas viúvas lamentem nossa perda! Nestas aguas abrasadas nós persistiremos com algo que tem mais valor que todo o ouro que coletamos. Morreremos sabendo que lutamos até o final, exaurindo todas as nossas forças, morreremos como pirratas devem morrer, com água em nossos corações!

 

Se dirigindo a Moby, que estava ao seu lado indo em direção à sala de navegação, o capitão diz em voz baixa enquanto segura o braço dela com a mão que outrora segurava a espada.

 

-Moby... Vá até minha cabine e pegue a flauta. Iremos finalmente usá-la.

 

A Imediata corre até lá e retorna com o baú.

 

-Não encontrei a chave capitão.- diz ela um pouco envergonhada.

 

-Não tenha vergonha – notou Dave Jhones – não há chave. É um ponto sem retorno.

 

Ele joga o baú no chão estourando-o sem hesitação.

Recolhe o casco de caracol que estava dentro, o limpa com um sopro e se dirige ao timão, onde o insere no meio.

O timão engole vorazmente a flauta e começa a baixar, pulsando como as marteladas de um coração, até o interior da embarcação.

 

-Segurem-se cães sarnentos! A tempestade irá começar, agora, à verdadeira glória! Icem as velas! Levantem os mastros! Carreguem os canhões! O grande monstro do mar despertou, o Leviatã irá devorar a todos com a misericórdia de uma dama faminta!

 

O casco de madeira podre e coberto de musgo começa a rachar e cair no mar. Uma cartilagem branca e pálida se revela em seu lugar. Nas laterais do Galeão um olho se abre estranhando a escassa luminosidade.

A proa se divide em cima e em baixo. Uma grande boca se abre a partir da bifurcação, produzindo um imponente canto.

Da popa sai sua cauda e de seu casco pode-se ver suas nadadeiras.

 

O grandioso Leviatã abre suas barbatanas para respirar de um longo sono.

As estrelas reluziam por entre a úmida água negra.

De uma coisa eles estavam errados, as profundezas não esquecem os nomes dos afogados.

 

 

 

Sneak Peak - Parte 6 - Nada a dizer...

 

 

O dia se tornou noite depressa demais, contando as páginas ao invés das horas, ele tinha se perdido entre as palavras, emerso em um devaneio profundo.

 

-Rapaz, rapaz, acorde – resmungou um pouco rouco em meio a tosse- nós já vamos fechar .

 

Lucius Grambell desperta meio atordoado, um tanto perdido sem saber onde estava, olha para o guarda com certa dificuldade, sua visão ainda um pouco embaçada de sono.

Arrumando os óculos adverte:

 

-Você deveria cuidar desta tosse.

 

-É eu vou ao médico, shaman , padre, curandeiro, ou seja lá o que for , e você deveria sair daqui e logo, eu não tenho o dia todo.

 

Lucius se levanta calmamente, fecha o livro, que faz com que a grande quantidade de pó se disperse no ar fazendo com que o guarda tossisse mais ainda.

 

-Cuidado com isso daí, quer me matar? Não vê que eu estou ruim?

 

O rapaz não diz nada, ele dificilmente falava.

Em seus 27 anos, ele nunca teve um amigo, também nunca se preocupou em ter um, desde os 9 tudo o que ele tinha em sua vida eram os livros que seu pai tinha deixado antes de ir.

Não eram livros de aventura, nem de romance, tão pouco de ficção.

Eram livros chatos de medicina, que logo tinham sido descartados por ele já que não os eram úteis.

Ele não era de longe atlético, nem doente, embora tivesse deixado sua saúde de lado assim como os escritos de seu pai.

Tinha a altura de uma pessoa normal, seus olhos eram azuis , algumas pessoas diziam que eles na verdade eles refletiam a cor do ceú!

Seu cabelo era loiro, despenteado,curto, liso e de fios grossos, assim como suas sobrancelhas, contudo, mesmo jovem ele possuía um número relevante de fios brancos nas laterais de seu penteado, o que lhe conferia um charme peculiar, talvez tenha sido devido ao estresse do dia a dia.

Seu nariz era um ótimo suporte para seus óculos redondos e pequenos, mesmo com o curativo que ele tinha feito para seu machucado , ao qual ele se recusava a dizer a sua irmã onde conseguira.

Embaixo de sua boca ele cultivava uma barbicha igualmente loira, em que ele gostava de passar a mão enquanto pensava em algo.

 

 

Perdido por entre os livros da biblioteca se deu conta das horas que se passaram. Ele estava atrasado para o jantar!

Descendo a rua principal e pegando um desvio a esquerda , rumo à quitanda onde comprava os ingredientes das refeições.

A praça da quitanda era lotada de pessoas a qualquer hora do dia, elas tagarelavam, gritava, berravam, discutiam os preços, fofocavam da vizinhança , falavam sobre os boatos e escândalos envolvendo a alta nobreza, levavam as crianças para passear, era um dos lugares mais vivos da cidade, ao menos Lucius se sentia assim lá.

Ele queria que sua irmã pudesse ser parte daquilo, queria que ela pudesse ver o sol, queria que corresse por aí com as outras crianças, que se machucasse, queria que ela compartilhasse o sentimento de alegria do mundo que ele possui, mesmo sem nunca ter saído daquela cidade, o rapaz viajou através das paginas dos livros e viu muito de tudo enquanto procurava por uma maneira de ajuda-la.

Coentro, manjericão, carne picada de terceira qualidade, não era muito, mas é o que ele podia comprar, levou também ervas brancas, mas estas não eram para ele.

 

Adquirindo os ingredientes foi direto para sua casa, andando com dificuldade por entre o grande número de pessoas da praça. Não morava longe dali, não bastou mais do que dez minutos para chegar em casa.

 

Retirou de seu jaleco um molho de chaves, nunca se lembrava qual abria a porta de sua casa, mal sabia o que a maioria das chaves sequer fazia.

 

-Droga, qual era mesmo, vamos logo.

 

Irritado testando as diversas chaves para destrancara porta ele nota um movimento anormal na proximidade. O homem com um tapa olho estava andando com sua milícia por entre as casas, como se estivesse procurando por algo ou por alguém.

O barulho da trava destrancando faz com que sua atenção retorne a porta.

Ele a empurra fazendo um rangido alto, entra e a fecha.

 

-Maninha voltei.

 

Jogando os ingredientes em cima da pia ele se dirige ao lampião e o acende, a casa era pequena, tinha apenas uma sala, que também era a cozinha e o quarto de Lucius e um corredor, que dava acesso ao quarto de sua irmã.

 

-Oi Maninho – respondeu fraca a irmã

 

-Desculpa, te acordei? – disse enquanto segurava a mão esquerda dela e trocava o pano de sua testa.

 

-Não, a fome me acordou – brincou com um sorriso no rosto – que horas são? Passou o dia todo na biblioteca denovo não foi? Você precisa me deixar um pouco, ir atrás de suas coisas.

 

-Eu não vou desistir de você, eu já disse que vou ficar do seu lado até eu te deixar melhor.

 

-Mas você já tentou de tudo, já leu de tudo, você já é melhor que qualquer médico que tenha no império todo.

 

-Eu não li de tudo, eu tive uma ideia, e amanhã vou... tenho certeza de que irei encontrar algo.

 

-Você não vai fazer nada imprudente não é?

 

Sem responder o maninho se levanta e vai até a cozinha preparar o cozido para o desjejum.

 

Sua irmã gemia com a dor dos órgãos, algumas vezes até gritava, não conseguia se acostumar mesmo depois de tanto anos.

Ela tinha Três anos de idade quando foi acometida por esta doença, nenhum médico foi capaz de dizer o que era, nem mesmo o seu pai, isso o deixou aflito e um homem amargo, acabou sendo entregue a louca da impotência e pouco depois não tiveram mais notícias.

 

Ao cozinhar ele notara que ela estava respirando com mais dificuldade que o normal, e lágrimas saiam de seus olhos, ela sofria em no maior silêncio que podia, e isso cortava o coração dele.

Distraído por ela ele cortou de raspão o dedo enquanto picava o tempero.

 

-Mais um curativo – disse se dirigindo a prateleira que ficava do lado de sua cama, que também era o sofá.

 

Os dois comeram, Lucius levava gentilmente a colher até a boca de sua irmã enquanto segurava a cabeça para que ela não engasgasse, ela o ajudava se apoiando como podia com os braços na cama, estava ótimo, o rapaz tinha aprendido a cozinhar muito bem nos livros de culinária que leu na esperança de encontrar algo que pudesse salva-la.

 

-Isso é gostoso maninho, muito bom mesmo, obrigada!

 

Com uma expressão satisfeita ele se levanta e vai até a pia onde deixa a louça suja em uma pilha já relevante de pratos e deita no sofá onde adormece.

 

Assustado com o barulho de algo batendo na sua janela ele cai do sofá batendo a cabeça na mesa ao se levantar. Passando a mão no galo e pensando em mais um curativo que teria que fazer ele procura a fonte do barulho.

 

-Alguém pelo amor de deus cala a boca dessa pessoa!

-Eu quero dormir!

-Morre de uma vez, toda noite é isso, não aguento mais!

 

Parou de ouvir, já não se importava com isso, se dirigiu até sua irmã.

Ela estava gritando, segurando a blusa em seu peito com força que suas unhas fincaram em sua mão, encolhida de dor e de angústia e envolta de lágrimas.

Seu irmão pegou a toalha do chão e a colocou na beirada do balde, agachou na altura da cama, segurou a mão dela removendo da blusa, ela apertava sua tão forte que o machucava, mas era uma pouco perto do que ela sentia.

 

- Dói muito, faça parar, por favor, eu não consigo mais viver com isso. Faça parar!

 

-Ei, olhe para mim, eu estou aqui, você está bem, não há o que temer.

 

Aos poucos parecia que ela se acalmava, sua respiração melhorava, e a dor diminuía gradativamente, até que após algumas horas ela dormiu, assim como ele dormiu agachado ao chão de mãos dadas.

 

O sol passava pela janela quadrada e batia direto no rosto dele, que soltou a mão da irmã para se proteger da luz.

 

Se levantando o mais furtivo que podia para não acordar sua irmã, ainda com a cabeça doendo da pancada de ontem, ele arruma seus óculos e vai em direção a porta, que faz o usual rugido.

 

-Já vai?

 

-Já sim, Alex.

 

-Promete que volta logo?

 

Sem pronunciar uma única palavra ele segue rumo à biblioteca.

 

------ 6-2----

 

Faltava pouco para a biblioteca abrir, tempo o suficiente para que ele subisse a rua , comprasse algo para seu desjejum e passar mais um dia.

 

O ar estava mais pesado do que de costume, a praça, por incrível que pareça estava mais agitada do que o normal, contudo as pessoas não estavam seguindo sua rotina.

 

-Ouçam com atenção , se alguém vir este homem ou qualquer atividade suspeita deve reportar imediatamente a mim. Caso eu descubra que você sabe de algo, ou que apóia esse cidadão, pode apostar que eu irei te encontrar e as coisas não ficarão muito bonitas , espero ter deixado isso bem claro – gritava o homem com o tapa-olho com uma espécie de cone que amplificava sua voz

 

Lucius deu de ombros e continuou seguindo seu caminho, o frio o incomodava um pouco mas logo ele chegaria nos seus aconchegantes livros.

 

Após uma caminhada lá estava ele. Respirou fundo e se preparou para abrir as grandes portas de madeira verde que compunham a entrada do acervo.

 

Elas não cederam.

 

- Estranho , já deveria ter aberto a uma hora dessas.

 

-Já vou, já vou – reclamou o guarda entre tossidos enquanto procurava a chave no molho

 

- Sua tosse ainda não melhorou.

 

- Nossa, obrigado por me dizer, eu não tinha notado até sua inteligência real tivesse me avisado. Pronto, aberto.

 

Dentro era como um pequeno paraíso , as prateleiras preenchiam todo o espaço oval, cheias de livros , pergaminhos , sonhos, conhecimento, viagens e emoções.

 

Primeiramente, o rapaz se dirigiu ao balcão , colocou a sacola de ervas em cima e começou a misturar elas em suas mãos, esfregando –as no sulco produzido.

 

- Hei o que você está aprontado garoto? Solta meu pescoço!

 

- Como se sente agora? - indaga indiferente enquanto aperta o pescoço do homem com a mão direita e pressiona a mão esquerda no peito da cota de malha

- Como se... não tivesse mais nada! O que você fez garoto? Eu estou... curado?

 

- Você não está mais doente, é o que importa. Se me der licença eu preciso ir aos anais .

 

- Não pode andar por lá rapaz, sabe disso não é? Se te virem estaremos ambos encrencados.

 

Ignorando o guarda aliviado Grambell segue para a ala norte, sobe as escadas e se depara com um canto severamente mais escuro que o resto, sem nenhuma iluminação exceto um lampião apagado que estava pendurado ao lado.

 

A porta range ao abrir, engraçado como era um rangido deveras familiar.

Estava escuro, não totalmente, frestas de luz vindas dos buracos do teto eram as únicas iluminações, até que, Lucius, estalando os dedos e balbuciando algumas palavras que ele aprendera em algum livro jogado por entre este mesmo quarto, uma chama tímida e fria reluz na ponta de seu dedo, forte o suficiente para acender o lampião e logo se extinguir.

 

Deixando-o na mesa empoeirada ele começa a procurar na única estante que restava procurando por algo que sequer sabe se está lá. Ele precisa que esteja. Precisa que exista.

 

- Guia da Acadêmia para magos iniciantes Vol 3, não. Como Duelar com Destreza, não. Cozinhando o Sucesso com Tia Royce, não agora, apesar que preciso rever a receita da sopa, a última estava horrível. As Viagens em Lugar-Nenhum, baboseira. Glória e Queda – A verdadeira história da Ascensão do império do sol, ridículo – disse arremessando o livro com repulsa no chão. O Magnífico livro da Canção das Criaturas, O Bestíario Vol 1.

 

Lucius separou esse, o colocando próximo ao lampião, o folheou em busca de seu autor, mas nada encontrou, estava muito desgastado e cheios de rabiscos, como se uma criança tivesse tentado pichar as gravuras das criaturas. Não era o que ele precisava no momento.

 

Algumas horas se passaram, ele continua olhando os livros em busca de algo que pudesse ajudar. Ele tinha alguém por quem lutar e isso o impulsionava para frente com determinação.

 

- Esse livro me é estranho também, nunca o vi por aqui.

 

Passando a mão para remover o pó de sua capa o título é revelado, embora desgastado algumas letras podiam ser vistas “D” “R” “L” “E” “U”.

Era um livro grosso, uma aparência esmeralda metálica e era enorme, pesado demais para que ele segurasse por muito tempo.

 

Levou até a mesinha e o colocou lá. O barulho foi alto.

Grambell começou a ler, página pós pagina, com uma voracidade cada vez mais frenética.

Denovo, e denovo e denovo e denovo.

 

- Era justamente isso que eu queria, eu não acredito que encontrei, eu preciso aprender isso até hoje a noite. Estou ficando sem tempo e isso tem que servir. Vai servir.

 

-Knock Knock.

 

Já era noite, hora de fechar. Lucius não tinha visto o tempo passar.

 

-Knock Knock, vamos andando aí, não queremos encrenca não é.

 

-Já terminei. Posso levar este comigo?

 

- Ficou maluco!? Não deveria nem estar aí! Mesmo que seja só uma parte, uma sala, os Anais são proibidos para a população, você sabe disso.

 

- Conhecimento não deveria ser confinado e oculto, é o que eu penso.

 

- Todos nós estamos insatisfeitos com algo, é a vida rapaz, as vezes ela morde, as vezes ela te estrangula e te ajuda.

 

-Não precisa agradecer, não fiz esperando gratidão.

 

-Mas sou grato mesmo assim, pela tosse ter ido, estava acabando com minha vida, parece exagero, mas até minha mulher me largou pois não aguentava mais!

Não faz diferença, estou curado agora.

 

Com um sorriso meio triste o rapaz desce da escada correndo e coçando sua barbicha sai sem se despedir do guarda em direção a rua que leva à sua casa.

Precisava voltar o mais rápido possível, queria tentar o que aprendeu, hoje poderia ser o dia em que sua irmão poderia finalmente ter uma vida e isso o entusiasmava.

 

-

 

A porta bate com um barulho, Lucius joga as sacolas desleixadamente no sofá, arregaça as mangas, limpa suas mãos e vai até o quarto.

 

-Oi maninho, você voltou- balbuciou fraca

 

-Poupe suas forças para fora daqui.

 

-O que quer dizer com isso?

 

Animado ele conta a sua irmã o que leu, agacha na altura da cama e segura sua mão com um sorriso no rosto.

Ela não compartilha de sua empolgação, e seu desânimo contagiante afeta o irmão.

Porém ele não se deixa abalar, era implacável.

 

Colocando uma vela ao seu lado para iluminar o quarto ele procura por entre suas vestes uma pequena esfera de cristal. Iria usar como catalizador.

 

Era o que restava de sua mãe, um cristal de seu brinco, com o valor dele poderia vender e passar uma vida confortável, sem luxos, mas confortável. Mas ele nunca faria isso, serviria para um propósito maior, para algo maior. Ele começa então, o ritual.

 

Balbuciando algumas palavras.

 

-Maninho, estou me sentindo estranha. Isso dói.

 

Estava chorando.

 

-Olhe para mim maninha, eu estou aqui, segure minha mão. Não tema a viagem rumo ao desconhecido.

 

O corpo de Alex exala uma essência que converge para o cristal. Lucius se assusta com ela. É uma essência sombria, como um agouro de perdição, um arauto da morte. Mas isso não o impede de seguir em frente.

 

Ela queria gritar, mas nem para isso mais tinha forças.

 

Por fim, depois da exaustiva noite Lucius desperta , ainda ajoelhado à cama, sua cabeça doía e se sentia extremamente cansado , em sua mão possuía um grande cristal escuro com um peculiar brilho, era espinhento e afiado e longe de ser algo polido ou sequer bonito.

Sua irmã estava imóvel, boquiaberta com saliva ao lado.

 

Grambell levanta no susto caindo em direção à parede, começa a suar, fica pálido, sua respiração rápida e pesada, olhos esbugalhados.

 

Morreu, constatou por fim.

 

-Não... Não... Não.

 

Desolado começa a andar de um lado para o outro, em círculos, se descabelando tentando arranjar uma explicação .

 

-Eu fiz tudo certo. O cristal. O cristal! É isso! Você, você vive aqui não é?

Pode me ouvir Alex? Eu disse que ficaria bem não disse, vou arrumar isso, eu prometo.

 

Alguém bate á porta com tanta força que se continuasse poderia até mesmo derruba-la.

Três vezes consecutivas. Ele ignorou.

Mais três vezes. Quem seria logo agora?

Que opção tinha senão atender.

 

- Oi, em que posso aju...- foi interrompido pelo homem com um tapa-olho

 

- Quero falar com você filho.

 

-Eu talvez possa melhorar o seu olho, não garanto nada mas... – novamente interrompido

 

-Não tem nada no meu olho, eu uso isso porque quero. Vamos, vem para fora.

 

O sol não tinha aparecido ainda, estava frio, mas ele saiu de qualquer maneira segurando o cristal.

Doze, era o número de pessoas que tinham suas espadas e armas apontadas para ele.

 

Foi cercado.

 

-Então, como vou dizer isso – começou o homem com satisfação – eu descobri que tinha alguém xeretando pelos anais do conselho superior. Aí eu pensei comigo, pocha vida, sabem que não podem andar lá. O que será que estão fazendo ... Não posso deixar isso passar, preciso descobrir quem foi e, dar uma pequena, repito pequena advertência. Sabe, as vezes nem é por mal. Eis que, quando eu vejo quem era, era você, que feliz coincidên... O que é isso na sua mão, vai explodir e matar todo mundo filho?

 

- Não é nada, só uma pedra .

 

- Se é só uma pedra, porquê você está tão tenso? Ah, já sei, não precisa me responder. Eu sei muito bem.

Bom chega de enrolação – disse enquanto pegava a pedra da mão de Lucius, que insistiu por um tempo mas levou uma cutucada nas costas para lembra-lo de sua situação e cedeu – eu descobri por fim que o grande líder do grupinho rebelde, como chama mesmo?

 

Lucius ficou em silêncio.

 

- Ei Jeanus, filho, Janus sei lá qual seu nome , é você aí da lança me diz qual era o nome mesmo? Do grupo do nosso corajoso aqui.

 

- É Jasper, senhor. A Brigada do Destino.

 

- Isso Jeanus muito obrigado, Brigado do Destino. Então, Lucius Grambell o líder da “Brigada do Destino “ sério, que nome ridículo, filho você leu isso em um livro bobo ou algo assim? Há!

 

Ninguém riu, exceto Jasper que deu um guincho agudo.

 

-Vai me contar toda a verdade, Lucius, ou nunca mais vai poder ver essa pedrinha de novo, seja lá o que for, seria muito triste não?

 

-Eu sou o Líder dos rebeldes – Disse Lucius de cabeça erguida

 

-Opa, mas nem hesitou! Isso que eu chamo de um homem de coragem.

 

-Devolva a pedra por favor.

 

-Você quer? – o homem abre a mão a estendendo- Ops, acho que... escorregou.

 

-Não!

 

Grambell se joga no chão tentando juntar os cacos desesperadamente, um por um, eles eram afiados e escorregadios, era uma tarefa quase impossível, tanto quanto juntar sua mente nesse momento. Ele se perdeu, não podia acreditar no que estava acontecendo.

Tudo o que eles passaram juntos, escorregou, assim.

Ouviu um gatilho.

Ao levantar sua cabeça viu o militante com uma grande arma apontada para ele próxima a sua testa.

 

- Quais são suas últimas palavras filho?

 

-A morte não está segura, não mais.

 

Impressionado com as palavras ele dispara a arma, a queima roupa.

O impacto faz com que todos os cacos fossem arremessado no ar, e Lucius empurrado para trás direto ao chão.

 

- O que estão esperando? Limpem essa bagunça. Precisam de um convite?

 

O dia amanheceu. O Sol passava pela janela direto no quarto. A luz a incomodava.

Irritada ela se levantou fechou a pegou seu lençol e colocou como cortina.

Se dirigiu à pia e lavou seu rosto, e se olhou no espelho espantada.

 

-Eu estou de pé! Deu certo! Maninho! Deu certo, cadê você? – gritava toda entusiasmada saltitando pela casa – Maninho?

 

A alegria se foi tão rápida quanto veio.

 

- Lucius??

 

 

 

 

Parte 7 - Hoje, eu sou a caça, mas amanhã, o caçador.

 

- - Hã... Olá, senhor, com licença?

 

- Ohoho, o que traz uma senhorita tão delicada como você até aqui? Em que posso ser útil? – indagou o homem gordo enquanto levantava de sua cadeira, ao som do riso dos companheiros, com tremenda dificuldade

 

Determinada ela bate com um panfleto na mesa. Ele estava rasgado, amassado , velho, sujo e molhado mas fez com que as risadas cessassem instantaneamente em toda a taverna.

Agora quem ria era o homem gordo enquanto coçava sua barriga com o gancho que outrora foi sua mão direita.

 

-Você só pode estar louca. – constatou o mercenário

 

-Eu pago o dobro mais quatro vezes o seu peso em ouro. – retrucou a jovem

 

O Homem gordo, sim, era assim como ele era conhecido na região, olhou para ela com seu único olho bom afim de avalia-la.

 

Vestes de seda, fragrância agradável, joias de família, tinha todos os dentes, suas mãos eram delicadas e livres da calos, seus cabelos estavam uniformemente cortados, mas estranhou que ela não possuía nenhum tipo de maquiagem á qual as jovens nobres se apeteciam a usar.

 

-O triplo e dez vezes meu peso em ouro, oras, não é qualquer uma que vamos caçar se não a própria dama da morte, Black Hood... Essa mulher, vai dar muito trabalho, só não digo que beira o impossível pois confio em meus camaradas, então acho o triplo no mínimo razoável. –contrapropôs fungando enquanto colocava a mão em cima da mesa e do panfleto esperando que ela recusasse.

 

-Eu aceito seu preço. – Afirmou com convicção a senhorita.

 

Os risos tomaram conta novamente da taverna.

Felizes com a proposta e a promessa de uma grande quantia, até pediram mais uma rodada de vinho e cevada para a taverna toda!

O homem gordo pegou, escondendo sua preocupação, o cartaz da mesa com a sua mão esquerda, a que lhe restou, e começou a encarar aquele pedaço de papel pensando consigo mesmo... O triplo de novecentos milhões... Novecentos milhões era o prêmio que o governo ofereceu à quem trouxesse a cabeça do alvo... e ainda dez vezes seu peso em ouro.

Neste momento ele agradeceu cada uma das saborosas coxas de Arkagul que tivera devorado. Aquelas coisas eram tão fedorentas quanto deliciosas.

Enrolou o papel e o guardou dentro de suas vestes sujas, próximo ao seu peito.

 

-Sabe garota, uma coisa me perturba um pouco, minha mãe sempre dizia que quando a cenoura era muito laranja, é porque o lobo morderia, e a mãe era uma mulher que sabia o que falava. Me diga, vejo que é nobre, isso não posso negar, mas como conseguiu tudo isso? É mais do que um simples lorde esperaria arrecadar durante toda a sua vida. – indagou o Gordo enquanto se aproximava dela e a segurava no rosto com sua mão esquerda imunda.

 

Todos na taverna se aquietaram novamente para prestar atenção na resposta da garota.

Ela abriu a boca para responder mas foi bruscamente interrompida por ele.

 

-Não me importa, não me importa o motivo de você querer essa mulher, mas se você tem tudo isso, quanto pagariam pela sua pele e por esse seu rostinho tão meigo e inocente?

 

Com um sorriso no rosto ele levanta seu gancho e leva até o rosto da senhorita, removendo cuidadosamente os fios do cabelos de frente do seu rosto e os colocando atrás da orelha.

 

Ela abriu um sorriso satisfeito com a pergunta e levou a mão até o gancho dele, acariciando-o sutilmente:

 

-Não é óbvio? Se eles pagam novecentos milhões pela minha cabeça, é natural que eu tenha mais do que isso.

 

O homem gordo assustado, de olhos arregalados se afastou rapidamente, achando graça e debochando da expressão não tão inocente da moça a sua frente.

Não durou muito, fechou a cara e, correu desesperadamente em direção a porta.

-Pe , pe, peguem ela, planejam ficar parados até quando? – disse gaguejando aos tropeços se dirigindo à porta.

 

Ela não se importou. Invés disso, ela agarrou sua saia e saudou cordialmente os que ficaram assim como fazem as damas da alta corte.

 

-Senhores.

 

Ela coloca as mãos dentro de suas mangas e retira um bastão metálico, ela o estica nas pontas e em sua parte superior ela abre e remove a lâmina de dentro a firmando com um estalo que indica o encaixe.

O assustado continuou correndo, saindo da taverna em direção ao seus homens na carruagem que estava de vigia.

 

-Estamos todos mortos, mortos! É o fim, ela está aqui, ela nos achou antes de acharmos ela. O que diziam era real, eu não quero morrer ainda! – desesperado o homem gordo agarra seu sócio pela gola da malha e começa escorregar sem ter força nas pernas.

 

Morreu, constatou o Sócio do homem gordo enquanto removia o punhal que estava em suas costas. O sangue fétido jorrou e espirrou nele.

 

-Porco imundo, espalhando a sua sujeira por aqui até depois da morte.

 

Escarrando no cadáver do ex-sócio, ele segue em direção a taverna.

Ao abrir a porta ele olha ao redor, todos estava mortos com uma adaga nas costas na altura do coração.

Ouviu uma garota sussurrar uma melodia enquanto estava sentada na mesa balançando as pernas.

 

-Entendo, você é realmente é tão boa quanto falam.

 

-Você não teria me procurado se fosse de outra forma, teria? Mas enfim, ande logo com o pagamento, o show já vai começar, não gosto de deixar meus fãs esperando, hoje tem uma atuação de assassinato, uma jovem e inocente donzela surpreende os bandidos com sua perícia quando abordada rudemente na taverna! Irônico não? – riu a garota.

 

- Ser uma atriz não deve ser algo fácil, mas deve ser um bom disfarce, sente-se irei lhe passar as informações o mais breve possível.

 

Guardando a foice em sua manga, não sabia porque sempre trazia isto, aliás ela sabia o porquê... Era, antes de mais nada, um símbolo que impunha medo no coração dos homens.

Dando de costas para o homem e coletando a bolsa de moedas que era parte de seu pagamento, segue rumo à saída.

 

-Este é que é o disfarce. Eu volto amanhã para cobrar o restante que me deve, agora eu tenho algo a fazer e como eu disse, eles não podem esperar. – disse ela mandando uma piscadela em direção ao nada.

 

As cortinas se abaixam, assim como a multidão que era sua plateia se levanta, urrando assobiando e gritando.

 

-Ela é ótima, até faz parecer real! – disse alguém emocionado da plateia

 

-É, é como se ela realmente fizesse isso! – respondeu a pessoa que estava ao lado.

 

-Alexis eu te amo! – gritou alguém histérica no meio da mutidão

 

-Vocês tem que ver ela cantando, parece que meus ouvidos são beijados pela própria Etrhas! - afirmou roucamente alguém em meio aos milhares de urros e gritos do aglomerado excitado.

 

As luzes se apagavam uma a uma.

 

- Você foi realmente excelente, não esperava que se saísse tão bem em um papel diferente, você é realmente tão boa quanto dizem. – disse o homem gordo indo cumprimenta-la esticando sua mão direita.

 

- Não foi nada demais para mim, afinal eu sou Alexis não sou? E Ajudar no festival da cidade, senhor prefeito, é um enorme prazer! Amanhã é o ultimo dia não é? Temos que fazer uma noite inesquecível, uma noite de matar! Despois disso eu volto para as minhas atividades normais, não há com o que você precise se preocupar, não sairei da programação. – respondeu a ídolo apertando a mão do homem com um sorriso meigo no rosto - se me desculpa, eu irei aos meus aposentos, estou exausta da viagem e da exibição!

 

-Não se preocupe minha querida, nós providenciaremos o que for necessário para assegurar o seu conforto enquanto estiver aqui, afinal de contas não é sempre que temos uma estrela em nossa cidade ohohohoho!– assegurou-lhe o prefeito com uma gargalhada fraternal.

 

-O senhor também atuou maravilhosamente bem caro prefeito, ouso dizer que foi a estrela revelação da noite.- saudou em despedida.

 

Ela ia em direção a um carro a vapor estacionado em sua espera quando um assobio vindo das sombras chamou sua atenção.

 

-Ei, psiu, venha cá por gentileza, posso trocar uma palavrinha com você?

 

-Agora não, os autógrafos só serão dados a quem puder respirar depois de amanhã –

 

Responde Alexis sem dar atenção ou sequer olhar para o local de onde viera a indagação e subiu no veículo.

 

-Ouvi dizer que o que separa a luz da escuridão é apenas um saco gordo de moedas reluzentes, a filha da noite abraça os murmúrios dos condenados.

 

A mulher pede para que o caro não dê partida, e desce batendo com o imponente salto no chão.

 

-Se é um trabalho para mim que deseja, você tem minha atenção, mas não iremos negociar os termos aqui e já lhe aviso, uma vez no caminho, o trabalho sempre será feito.

 

A conversa no casarão foi breve e objetiva.

 

-Você sabe que isso vai lhe custar caro não é? Eu geralmente não me meto em assuntos assim.

 

-Eu sei o preço que eu pago, você vai aceitar ou não?

 

Os dois estavam a sós no quarto, ele estava sentado no cama dela enquanto ela esta a tocar uma melodia no piano que tinha pedido ao prefeito.

 

- Vou, com o maior deleite, contudo, eu não gosto de sua arrogância, é melhor olhar como fala comigo, ou serão as últimas palavras que irão sair de sua boca.

 

O homem irritado se levanta e vai em direção dela, a interrompendo fechando o piano, o que a força a remover a mão das teclas a tempo de não se machucar.

Ela não pareceu se irritar, muito pelo contrário fez uma expressão entusiasmada, assanhada e se levantou.

 

- Quando? – indagou ele

 

-Logo. – retrucou a artista.

 

-Onde eu pago? – disse irritado.

 

-Aqui mesmo – respondeu encostando seus lábios aos dele, mesmo que por poucos segundos – pronto, esta pago.

 

O homem sentiu um gosto férreo e amargo em sua boca, fraquejou por um instante, se virou irritado e saiu do quarto batendo a porta com força.

Se afastava ouvindo as gargalhadas dela vindo do quarto.

Um frio subiu à sua espinha, ou teria sido o arrependimento?

 

Alexis rodopia em seu quarto com um sorriso de orelha a orelha e se joga na cama, caindo leve como o orvalho do sereno ao luar.

 

-Amanhã começa o festival do mortos, vou dar a eles um espetáculo de matar que nunca se esquecerão – pensou em voz alta enquanto esticava seu braço como se tentasse agarrar a luz advinda do lustre com a mão.[/i]

 

 

 

Conteúdo Bônus - ??? - Os céus sucumbirão.

 

Onde Cruzam-se os Corações - Capítulo Um - Por toda a eternidade, estaremos juntos.

 

OBS :Estou conseguindo upar o conteúdo, porém, meu PC está com muito vírus :(

Editado por Yukii ~
Arrumando erros...

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Top Posters In This Topic

Sua escrita é bastante poética, achei interessante. :o

Em destaque, algumas correções sugeridas.

 

(Sobre)Viver. Era uma palavra difícil em tempos como estes. O vento rugia forte e imponente, sussurrando o nome dos caídos...

Mais um corpo. Eu reconheço esse...

lembrado por nós como um herói - constatou o Coveiro enquanto removia... (não se usa ponto final em casos onde o verbo seguinte ao diálogo expressa uma ideia

sobre o diálogo em si. Nestes casos também se

faz necessário o uso da letra minúscula.)

 

o barulho da pá no chão...

 

 

eu não quero parar agora. Eu preciso, preciso continuar lutando por todos, pelos que acreditam em mim. Não posso parar agora, preciso cumprir a minha promessa – pensava o nosso herói... (mesma razão)

o arrasta até a cova, jogando-o desleixadamente. Com uma amargura em sua expressão, ele remove a cartola da cabeça e a leva ao peito, o saudando cabisbaixo. (verbo no gerúndio)

 

-Você será sempre lembrado como um herói – balbuciou sozinho novamente o coveiro, enquanto tampava o buraco. (mesma razão)

 

 

 

Atenção à mistura dos tempos verbais!!

 

Mais uma vez, parabéns pelo texto, estou ansiosa pela continuação!

Editado por Star Song

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For no stars are meant to be brighter thans us!

Rho ¤ Valhalla

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Sua escrita é bastante poética, achei interessante. :o

Em destaque, algumas correções sugeridas.

 

(Sobre)Viver. Era uma palavra difícil em tempos como estes. O vento rugia forte e imponente, sussurrando o nome dos caídos...

Mais um corpo. Eu reconheço esse...

lembrado por nós como um herói - constatou o Coveiro enquanto removia... (não se usa ponto final em casos onde o verbo seguinte ao diálogo expressa uma ideia

sobre o diálogo em si. Nestes casos também se

faz necessário o uso da letra minúscula.)

 

o barulho da pá no chão...

 

 

eu não quero parar agora. Eu preciso, preciso continuar lutando por todos, pelos que acreditam em mim. Não posso parar agora, preciso cumprir a minha promessa – pensava o nosso herói... (mesma razão)

o arrasta até a cova, jogando-o desleixadamente. Com uma amargura em sua expressão, ele remove a cartola da cabeça e a leva ao peito, o saudando cabisbaixo. (verbo no gerúndio)

 

-Você será sempre lembrado como um herói – balbuciou sozinho novamente o coveiro, enquanto tampava o buraco. (mesma razão)

 

 

 

Atenção à mistura dos tempos verbais!!

 

Mais uma vez, parabéns pelo texto, estou ansiosa pela continuação!

 

*~*

Oii, eu vi as suas sugestões, realmente eu preciso mudar as coisas!

 

Alguns erros foram do celular que não consegue ler como um todo :(

Outras eu deixei passar mesmo :x

 

Obrigada! Eu iria postar hoje a segunda parte mas acabei saindo com os amigos xD

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  • 3 weeks later...

Então, metade da parte 2 ta aí :3

Eu sei que ta mal formatado horrores, cheio de erro e etc, mas eu vou arrumando com o tempo e com a ajuda de vocês.

 

Foi bem menos descritivo pois eu gosto de passar o feeling do personagem, espero ter conseguido pois ela também mal observava o lugar que a cercava!

 

Sobre não ser uma continuação direta, antes que alguém pergunte, a primeira parte da história são esses contos, tudo vai ser explicado melhor durante o arco principal! =3

 

Estou procurando alguém também para ilustrar os capítulos, ao menos 1 figura cada um.

 

Mas como estou sem $ para isso no momento e é difícil achar voluntários ( pode ser você, pessoa do fan art que quer ajudar e fazer parte disso!)

Editado por Yukii ~

[sIGPIC][/sIGPIC]

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Ebaaa, parte nova! *--*

Como estou em aula não vou poder ler, mas faço o proofreading quando chegar em casa ;3;

Até me volutariaria para desenhar pra vocẽ, mas estou sem tempo e não é como seu desenhasse muito bem mesmo hahaha.

Boa sorte com a estória.


Edit: Correção terminada, te mandei por pm. Seria bom se você reservasse um tempinho para dar uma olhada nos erros mais frequentes e estudar o que você deve fazer para corrigi-los.

Boa sorte com a continuação!

 

Editado por Star Song

[sIGPIC][/sIGPIC]

For no stars are meant to be brighter thans us!

Rho ¤ Valhalla

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-Conteúdo corrigido pela nossa queridíssima colaboradora Star Song.

 

-Novo conteúdo adicionado!

 

=3 Espero que vocês aproveitem

 

E AINDA ESTOU PROCURANDO ALGUM ARTISTA QUE QUEIRA ILUSTRAR ;-;

 

O que acharam até agora? Algo que deva mudar? Algo que gostaram?

 

 

Obrigada por lerem!

[sIGPIC][/sIGPIC]

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T_____T

 

Cara, que desgraça!

 

Não valeu, tu me pegou num momento que eu tava mais sensível, asddshdfgfgsgfdg T____T

Droga, lacrimejei aqui... T___T

Tá, eu continuo!

T___T

 

*~* Que bom que você gostou! (?)

 

Qual das outras partes você gostaria de ler??

 

Lembrando que nenhuma dela tem conexão uma com a outra :3

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*~* Que bom que você gostou! (?)

 

Qual das outras partes você gostaria de ler??

 

Lembrando que nenhuma dela tem conexão uma com a outra :3

 

Estou lendo na sequência por costume mesmo... @@ Achei que seria algo tipo ligado uma história com a outra, sabe?

Mas se são contos soltos, está ok pra mim.

 

Essa segunda parte "Mais do que os olhos podem ver" foi muito violenta, tá louco. @_@

Que lugarzinho mais...bruto, sem coração... coitada da Yca... =(

 

Edit: Pensando numa outra coisa, já que é pra colocar "spoiler" do próximo capítulo, tu poderia colocar eles em itálico, não acha?

Editado por Fabiano Alves
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Estou lendo na sequência por costume mesmo... @@ Achei que seria algo tipo ligado uma história com a outra, sabe?

Mas se são contos soltos, está ok pra mim.

 

Essa segunda parte "Mais do que os olhos podem ver" foi muito violenta, tá louco. @_@

Que lugarzinho mais...bruto, sem coração... coitada da Yca... =(

 

Edit: Pensando numa outra coisa, já que é pra colocar "spoiler" do próximo capítulo, tu poderia colocar eles em itálico, não acha?

 

É que para grifar e mudar no celular é quase impossível.

 

Você não tem noção @_@

 

@Fabiano, há muito mais do que os olhos podem ver na história, mas vou deixar que vocês descubram isso :3

[sIGPIC][/sIGPIC]

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É que para grifar e mudar no celular é quase impossível.

 

Você não tem noção @_@

 

@__@ Eu acho que sei como tu se sente, Yukii.... Não gosto de digitar as coisas no meu celular por ser desconfortável, imagino no seu...

Enfim, até a próxima! =)

 

Edit:

 

@Fabiano, há muito mais do que os olhos podem ver na história, mas vou deixar que vocês descubram isso :3

 

Ah não! @_@

Não acredito, uma Hayao Miyazaki de fanfic??? D:

Que coloca as coisas com camadas?

Que deixa a perceber a camada simples, mas a camada complexa precisa ser desvencilhada???

GUOOOOHHH SOCORRO POPEYE, SALVE-ME!!! X.x

Editado por Fabiano Alves
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Adorando...

 

Se eu continuar com esse ânimo, sexta sai mais um!

 

Só preciso escolher qual! (Um não é continuação do outro)

 

 

A noite fria e calma, a tranquilidade após a tempestade, era quase que uma melodia ao qual os bardos aclamavam durante toda a vida para serem agraciados.

 

Moça, isso foi profundo. Parabéns pelos ricos detalhes em seus contos, me fez apreciar cada momento.

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Ta tranquilo, Ta poporingável |||| Ranger | Nick: Alno | @Thor

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