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Thanatos: A Origem


Willen

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*arma barraquinha de camping em frente a casa do Dii, senta na portinha e segura uma placa escriito "trabalho por comiida"*

akáaah, tô amaaando, *------*

contiinua logo se não eu não sou mais seu pet. *com ossinho na boca*

 Ok, que que aconteceu aqui que eu não fiquei sabendo???
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muito interessante essa versão da história do Thanatos aka! Parabens esta ficando muito legal e a fic ja ganhou mais um leitor^^

Uma curiosidade, voce pretende lançar um capitulo por mes pra acabar mais ou menos quando o Morroc for lançado aqui no bRO, a idéia é que essa fic acabe junto com o episódio do Morroc??

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muito interessante essa versão da história do Thanatos aka! Parabens esta ficando muito legal e a fic ja ganhou mais um leitor^^

Uma curiosidade, voce pretende lançar um capitulo por mes pra acabar mais ou menos quando o Morroc for lançado aqui no bRO, a idéia é que essa fic acabe junto com o episódio do Morroc??

Vou responder sinceramente: Nem tinha pensado nisso. A idéia é só pra ter tempo de escrever mesmo.

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Aka,

Sou seu amigo,pórém ou você posta a fic ou chamarei aquele bando de flooder desocupados para ameaçar a sua vida aqui no tópico de sua fic.

Espero que não leve pro pessoal,eu só quero ler a fic.

Agradecido pela atenção,

Maizena.

Será se eu vou ser expulso da MM se me juntar a eles?

Bem, talvez ele fique com tanto medo de morrer que nem me faça mal. [/mal]

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Aka,

Sou seu amigo,pórém ou você posta a fic ou chamarei aquele bando de flooder desocupados para ameaçar a sua vida aqui no tópico de sua fic.

Espero que não leve pro pessoal,eu só quero ler a fic.

Agradecido pela atenção,

Maizena.

Será se eu vou ser expulso da MM se me juntar a eles?

Bem, talvez ele fique com tanto medo de morrer que nem me faça mal.

Pode se juntar!!Afinal, o Aka é so u lk 99 que materia qualquer um aqui no pvp em um piscar de olhos,sendo assim,precisaríamos de escudos humanos/iscas novos membro para vencer o Aka...

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Olha, vocês podem vir, mas um escritor morto num escreve.

Se desejam vir me linchar, tudo bem, mas o terceiro capítulo, que está na reta final, não vai sair.

Gerenal, expulsão seria um alívio por esse ato de traição, então aguarde uma tortura no melhor estilo biolab...*preparando a câmara de tortura*

 Gente, eu tive um problema grave no PC enquanto fazia o terceiro capítulo e, portanto, o quarto irá atrasar (Esse ainda tá no prazo! Estamos nos dias 20~29!!).

 Brigado pela força

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Capítulo 3: Preparativos  

O vento do deserto fustigava a vista de qualquer um. Tempestade de areia, uma das coisas mais irritantes que um viajante poderia encontrar no deserto. Aquele maldito pó tornava a respiração quase que inviável, entrando em qualquer fresta. Dois vultos encapuzados, em mantos pesados, caminhavam em meio a esse inferno de silício, ousando desafiar as rajadas abrasivas. Só quando o vento cessou, Adrior tirou o capuz, inspirando o ar longamente.  

- Aaaah! Como é bom respirar novamente!

- Concordo plenamente. – Thanatos removia o seu também – Veja lá na frente! Não é Epitus?

Pequenas pontas triangulares surgiam no horizonte ondulado do deserto. Conforme avançavam na caminhada, maiores se tornavam. Tomavam a forma de pirâmides imensas e, sob elas, o império dourado de Epitus, com suas colunas, sua esfinge, suas pirâmides e seus templos ganhava forma.  Suas ruas fervilhavam com o mercado, onde diversas pessoas amontoavam-se para tentar conseguir o pão de cada dia.

Eram diferentes de Rune Midgard. O clima impiedoso de calor intenso quase não permitia o uso de roupas pesadas. Os homens andavam com o torso nu, vestindo saiotes de algodão puro, tão brancos quanto as poucas nuvens que cobriam o céu naquele momento. As mulheres usavam longas togas ornadas com algumas jóias douradas. Carroças capazes de transportar apenas duas pessoas eram puxadas por uma espécie de ave grande e bípede, com penas alaranjadas e brilhantes, um grande bico preto com detalhes vermelhos em sua cabeçorra.

- Eu acho que vou provar um pouco dessa bebida...

- Eu preciso de você sóbrio, Adrior. Não fique bêbado. Não hoje.

Olhou para Thanatos e ambos riram.

 - Já faz um bom tempo que não bebo até cair, cara. Deixa eu aproveitar um pouco.

- Só depois de arrumarmos um lugar para ficar.

Ninguém entendia o idioma deles e vice-versa. Era uma civilização completamente diferente. Nem mesmo seus escritos eram compreensíveis. Símbolos de aves, olhos, os tais hieróglifos que Thanatos leu durante o seu trabalho para os carrascos. Uma criança tropeçou em seu pé apenas para desviar sua atenção daquele momento enquanto outra foi pega por Adrior, que olhou feio para ela. Gatunos roubando em duplas, algo comum em qualquer império grandioso. A criança tremia enquanto o gigante a encarava com raiva até que Thanatos fez um sinal para baixar.

- Acho que eles já aprenderam a lição. Deixe-os ir.

- Tudo bem, mas só se eles prometerem nunca mais fazerem isso.

- E eles vão entender o que você irá dizer, Adrior? As crianças começaram a chorar e a população em volta parou para olhar. Que covardia! Intimidando pobres criancinhas! Esses estrangeiros não devem prestar. O desprezo começou a tomar conta dos olhares. Soltaram as crianças, com o rosto avermelhando de vergonha. Thanatos

puxou o colega pelo manto até saírem daquela situação constrangedora e deslocaram-se até onde parecia haver alguém que vendia água. Foi uma negociação silenciosa e com sucesso. Gesticularam um para o outro e, depois de uns maus entendidos e uma espada no balcão, conseguiram encher seus cantis.

Continuaram sua caminhada quando viram um trio se aproximando deles: Um rapaz, uma jovem e algo que parecia homem, porém totalmente diferente do que estavam acostumados a ver. Muito baixo, barrigudo, pele quase negra de tão marrom, com uma estranha máscara de “focinho” grande e um cajado em mãos. O rapaz era o mais alto, portando em suas costas uma grande lança simples, sem adornos, e vestia a uma malha marrom e um escapulário bege com o brasão de Rune Midgard. A jovem vestia-se de maneira mais simples: uma roupa negra, justa, envolvida por algumas faixas soltas e, em sua cintura, duas armas estranhas. Como se fossem lâminas para serem presas pelo punho.

- Ora, finalmente alguém tão branco quanto eu! – Começou o lanceiro.

- E que fala nosso idioma! – Sorriu Adrior ante a simpatia do rapaz.

- Eu sou Dereck Deimos, lanceiro da armada de Rune Midgard. E vocês são?

- Adrior Misos e esse aqui é o Than... Ai!

Thanatos pisou no pé de Adrior, impedindo que o destrambelhado amigo bradasse seu nome ao ar.

- Thanat, ao seu dispor.

Thanatos estendeu a mão a Dereck e o cumprimentou com vigor. Era bom ter mais gente como ele por perto. O lanceiro olhou para os amigos e saiu da frente deles, deixando que Adrior e Thanatos vissem-nos.

- Estes são Mylenna Cacantropos e Sartini Algia

- Obrigada, Dereck, mas eu também sei falar – ironizou Mylenna.

- Bom – continuou o lanceiro um pouco sem graça – vocês dois parecem que chegaram agora, não é? A estalagem onde estamos ainda deve ter quartos vagos. Querem ir dar uma olhada?

Ao longe, na sacada de seu palácio, um homem alto e magro de longos cabelos negros e lisos, pele morena pelo Sol inclemente do deserto, usando um chapéu dourado que se moldava à cabeça com uma pequena serpente brotando da fronte, saiote branco adornado com jóias observava seu império. O império dourado que seus ancestrais começaram há mais de 300 anos e, hoje, era tido como o mais belo de todos. Seus olhos paternais observavam as ruas, as casas, tudo o que sua vista alcançasse.

- Divindade...

Interrompeu seu devaneio vigilante e virou-se. Era um de seus grandes sacerdotes, os Marduk. Usavam uma indumentária essencialmente marrom e dourada. Um manto que lhes cobria os pés coberto por um enfeite dourado circular e uma imensa máscara que lhes cobria o rosto e tinha dois detalhes como cabelos presos em duas grandes mechas.

- Pode remover a máscara, meu Marduk.

- Faraó, filho de Amon Rá – disse enquanto removia a grande máscara –, eu peço humildemente uma audiência convosco.

Meneou a cabeça positivamente. Eram diferentes dos outros impérios. Acreditavam em outros deuses, divindades antropozoomórficas com cabeças variadas, de chacal a águia, e que seu faraó era herdeiro do próprio Sol, um deus em terra. Ajoelhou-se e ergueu a cabeça. Era permitido aos Marduks mostrarem seu rosto apenas à sua divindade, pois somente ele tinha a verdadeira pureza necessária para ver os servos do Sol.

- Diga, o que o fez me procurar?

- Meu amado senhor, é fato que sua pureza e poder trazem inveja aos olhares de outros reinos. Entretanto, receio que eles estejam tramando contra o senhor.

- Marduk – começou a se irritar –, você tem me dito isso nos últimos meses, mas não nos apresentou nem ao menos um suspeito. Não me faça perder meu tempo se não tem nada de novo a acrescentar!

- Dessa vez eu tenho alguns suspeitos.

A noite estava festiva na estalagem onde os cinco amigos estavam. Dança, música, pratos típicos. Adrior se refestelava por finalmente poder aplacar sua sede por álcool. Thanatos permanecia envergonhado, bem como Mylenna, ao ver toda aquela balbúrdia. Dereck foi chamado para dançar e mais parecia um manequim do que um dançarino e Sartini ficava quietinho em seu canto lendo alguma coisa.

Thanatos olhava Mylenna de uma maneira diferente. Nunca havia visto uma mulher daquele jeito. Sempre esteve cercado por homens e poucas mulheres tinham aquelas feições delicadas e selvagens ao mesmo tempo. Aproximou-se, o rosto corado e o coração batendo como se fosse arrebentar a armadura e sair. Nunca se sentira assim em toda sua vida. Algo diferente, que o fazia aproximar-se mais e mais.

- Erm... Seu rosto... É diferente – falou hesitante.

- Ah é? O seu também não é comum – respondeu em tom de sarcasmo.

Thanatos sentiu seu rosto suar um pouco. Nunca teve tanto receio de fazer qualquer coisa. Que diabo seria aquela sensação tão boa e, ao mesmo tempo, tão ruim? Não sabia nem direito se aproximar dela, até que uma fagulha acendeu-se em sua mente.

- Por que o Algia tem a pele tão escura?

- Por que quer saber? – olhou-o com certa desconfiança.

- Nada em especial. E-eu, erm, queria conhecer melhor com quem vou andar.

A jovem respirou pesadamente, observando-o um pouco e notando o nervosismo do jovem.

- Ele é de uma terra distante e não fala nossa língua então nem adianta perguntar a ele.

Thanatos sentiu suas pernas começarem a tremer até que alguns homens com a pele morena do lugar entraram aos montes. Usavam um longo pano branco apoiado em uma máscara amarronzada com detalhes dourados e rosto zangado, argolas douradas pelos braços, um saiote branco como a cobertura de suas cabeças com algumas jóias douradas, tal como o torso, e portando cimitarras, falavam algo como se estivessem procurando alguém. Avançaram contra Dereck logo assim que o viram.

- Hei hei hei! Eu não fiz nada! Me soltem!

- Eles não vão te entender, Dereck! – Falou Mylenna enquanto puxava suas armas e corria em direção ao amigo.

Thanatos puxou Byeldorg e correu atrás também. Adrior, mesmo bêbado, trançou suas pernas em uma corrida tortuosa na direção dos guardas enquanto o pequeno Sartini permaneceu um pouco mais afastado, puxando seu cajado. Os guerreiros tentavam puxar Dereck que se debatia enquanto repetia sua inocência várias vezes até levar um soco no meio do rosto.

A mão do agressor atingiu o chão enquanto o coto restante tingia o chão de carmim. As armas de Mylenna formaram como uma tesoura enquanto ela pousava seus pés no rosto de outros dois guardas. Antes de ela ser agredida, a espada de Thanatos atravessou o peito do inimigo e o punho de Adrior atingiu pesadamente o rosto de outro, arremessando-o contra os outros e formando um caminho.

- Vamoz bor agui, cambada!

Todos correram por aquele corredor tendo Adrior e Thanatos na frente para abrir caminho na multidão que estava se formando. Mais e mais guerreiros de cimitarra se aproximavam deles, até que se viram cercados.

- E aí, Adrior, algum plano? – Começou Thanatos.

- Brigar até cair!

- Esse maluco está se divertindo? – Disse Dereck assustado.

- Não interessa, temos que achar uma rota! – Mylenna irritava-se com o cerco

Sartini olhou para Thanatos e agitou seu cajado freneticamente enquanto pulava de um lado para o outro. De repente, os músculos dele começaram a inchar e uma aura luminescente branca formou-se em torno do ex-carrasco, que sentia cada aumento de suas capacidades. Sorriu ferozmente e apontou a palma da mão aberta na direção dos que impediam a sua fuga.

- Thor, deus do trovão, despeja teus raios forjados com teu martelo, o invencível Mjolnir. Faça com que meus inimigos sintam na pele a tua força. Tempestade de Raios!!

Todos olharam assustados para o jovem. Um guerreiro que sabia magia? Uma peça realmente rara no mundo. Antes do primeiro guarda dar um passo, diversos raios rasgaram o céu, fulminando um segmento daquele círculo de espadas que se formara. Dereck sorriu e correu na direção dos raios, sua lança em punho. Saltou e rodopiou no ar com velocidade.

- Brandir Lança !!

Ao retornar ao chão, sua lança traçou um arco, arremessando os que ainda estavam de pé para trás com força suficiente para terminar de abrir o círculo. Mylenna, aproveitando a confusão, desapareceu no ar, somente reaparecendo do lado de fora da muralha de armas e fazendo sinal para que a seguissem. Thanatos foi o primeiro a correr e confrontar o cerco se regenerando. Recuou Byeldorg para trás de si e a fez rasgar o ar com toda a força de seu braço direito.

- Impacto de Tyr !!

Adrior usou o ombro do amigo para saltar por cima do cerco enquanto Sartini agarrou-se às costas de Dereck e novamente começaram a fugir, até serem novamente barrados, desta vez por guerreiros e homens com vestes de Marduk. Thanatos não parou, agitando sua espada com precisão, atingindo pontos fracos como joelho, ventre e outros. Abria o caminho na frente de todos numa ferocidade que impressionava cada um, em especial aquela que o seguia logo atrás.

- É eli gue esdá zi divertinu, viro? – Adrior ainda estava trançando suas pernas.

Não tardou para que Thanatos reduzisse o ritmo com vários cortes em seu corpo, sangrando por diversos lugares. Todos formaram um cerco para protegê-lo e Mylenna começou a lutar também. Assim que um dos perseguidores saltou, as lâminas dela soltaram um estrondo e atingiram inúmeras vezes o oponente.

- Lâminas Destruidoras !! Dereck, fala pro Sartini curar o Thanat que ele tá precisando!

Dereck gesticulou rapidamente para o colega que ergueu o cajado e uma luz verde tomou a forma do corpo do ferido, fechando suas feridas a cada brilho. A terra tremeu. Adrior socou o chão, erguendo uma verdadeira coluna sob os inimigos e os arremessando para o alto.

- Coluna de Pedra !! Vamuz! Abri gaminho agui!

- Como esse bêbado consegue lutar assim? – Dereck surpreendeu-se.

- Ele sempre lutou bêbado. – Levantava-se Thanatos e tomava novamente a dianteira.

Uma chuva de fogo começou a descer do céu. Lanças e mais lanças da mais pura chama iluminaram o local como se fosse dia e atingiram uma grande laje de gelo que formou-se acima da cabeça de todos. Sartini pulava de um lado pro outro entoando palavras que ninguém entendia, mas que eram suficientes para mostrar que aquela barreira de gelo era coisa dele. Thanatos olhou em volta e notou quem causava aquela tempestade. Aproveitou os inimigos que saltavam por ele e repetiu seu Impacto de Tyr, arremessando um deles contra o ponto onde havia mais Marduks. Abriu um verdadeiro rombo no cerco enquanto Mylenna lutava um pouco à frente dele. Os movimentos dela atraíam a atenção dele novamente. Por algum motivo, eram sensuais para a mente guerreira dele.

- Vamos! Só mais um pouco e conseguiremos sair daqui!

Correram como nunca em suas vidas. Sartini equilibrou-se nos ombros imensos de Adrior e lançou novamente sua barreira de gelo, bloqueando mais e mais os caminhos de seus perseguidores. Passaram pelas casas, pelas vendas vazias e, enfim, pelas muralhas. Correram mais algum tempo sem parar até que o cansaço venceu as pernas de todos, que se jogaram nas gélidas areias do deserto à noite. Thanatos e Mylenna foram os que mais agüentaram a corrida, caindo um pouco mais afastados.

- Arf, arf. Como você, puf, aprendeu magia, garoto?

- Meu mestre – respirou profundamente – me ensinou. E como você aprendeu, puf, a lutar daquele jeito?

- Aprendi com os mercenários. Eu sou uma deles.

- He he he, decidiu confiar em mim agora?

- Não, apenas to tagarelando feito uma idiota pra você me matar depois.

Sentaram-se e riram um pouco. Por algum motivo, os olhares estavam diferentes. Não havia mais a desconfiança ou a insegurança. Apenas satisfação por estarem vivos e agradecimento um ao outro. Thanatos continuou ruborizado enquanto Mylenna o olhava bem fundo nos olhos. Nunca tinha visto alguém daquele jeito. Thanatos olhou-a demoradamente, enquanto se aproximou um pouco.

- Nunca vi alguém ágil como você.

- E nem eu vi alguém que soubesse usar magia e espada ao mesmo tempo daquele jeito. Ah sim, não precisa mais esconder, eu sei que você é o tal do Thanatos, o Carrasco-Andarilho.

- Como soube?

- Thanat não é uma boa forma de esconder seu nome.

- E o que vai fazer quanto a isso? – Thanatos engoliu seco.

- Nada.

- Por quê?

- Porque não preciso.

- Como assim?

- Deixa pra lá, você não vai entender. É complexo demais.

Thanatos inclinou-se em direção a Mylenna para tentar pedir uma explicação, porém sua mão escorregou na areia e caiu sobre ela, ficando muito próximo do rosto dela. Ambos ruborizaram-se.

- Ah, lá estão os pombinhos! Venham!

Era a voz de Dereck. Levantaram-se rapidamente, encabulados com a brincadeira dele. Estava sobre outra duna enquanto os outros apareciam de trás dela. Foram cambaleando de cansaço até os outros dois. Adrior rolou duna abaixo e ficou dormindo lá mesmo. Sartini parecia estar dormindo, pois nem se movia.

- Bom, tem alguma coisa errada nisso – começou o cavaleiro – nós três não fizemos nada. E vocês dois?

- O mesmo que vocês. Chegamos hoje a Epitus e nunca estivemos aqui antes.

O cavaleiro deitou o amigo lentamente na areia e deitou-se um pouco afastado.

- Mylenna, você precisa parar com essa maldita mania de deixar a gente pra trás.

Thanatos riu um pouco, deitando-se de barriga para cima enquanto Mylenna apenas olhou gelidamente enquanto também se deitava. Dereck também se deitou, olhando as estrelas enquanto sua mente funcionava a todo vapor. Thanatos estava quase adormecendo quando o amigo deu um salto, como se sua mente tivesse achado a resposta. Todos levantaram-se quando ouviram o grito do cavaleiro, inclusive Adrior em seu sono alcoolizado.

- Já sei! Que tal se a gente interrogar uns guardas para saber qual a acusação contra nós?

- E você fala o idioma deles? – Comentou Thanatos enquanto coçava os olhos.

- Não, esse é o problema...

 - Mas pode falar – continuou Mylenna –. Eu ouvi dizer de um artefato da famosa biblioteca de Epitus que permite que você entenda qualquer idioma.

- Como soube? – Thanatos coçava a cabeça.

- Depois eu digo.

Sartini continuava olhando sem entender muito. Olhou para Dereck que gesticulou, fazendo-o entender. Thanatos olhava aquilo curioso até Adrior desabar logo ao lado dele, tomado pelo sono novamente. A jovem olhava aquela cena com reprovação. Apesar de lutar melhor bêbado, fora de combate continuava a dar desgosto ver um guerreiro daquele porte naquele estado.

- Erm, Dereck, gomo votziê...

- Faço ele entender? Ah, eu aprendi um pouco de sinais na vida com meu pai surdo, então eu uso com ele já que ele, apesar de não falar nosso idioma, entende bem os sinais.

- Bom, apresentações à parte, como vamos conseguir esse artefato? – Interrompeu Mylenna.

Sartini começou a gesticular numa velocidade furiosa enquanto Dereck olhava atentamente. Os outros dois entreolharam-se sem entender um movimento de dedo que fosse por parte dos dois, até que Dereck sorriu e levantou-se vivaz.

- Ele disse que a Mylenna poderia invadir o lugar e roubar o artefato e, só então, a gente invadiria o palácio!

- Mas e se for grande?

- Só saberemos vendo – Mylenna sorriu e estalou os punhos.

- Bom, amanhã de manhã a gente planeja, já que o Adrior mal se agüenta depois daquelas canecas de vinho. Quantas foram Thanat?

- Quinze. Depois de umas boas risadas, todos começaram a aninhar-se para fugir do frio rigoroso do deserto. Sob protestos, usaram a capa de Dereck para começar a fogueira e, logo em seguida, as tochas que usavam para explorar locais subterrâneos, e assim aquecer mais o grupo. A noite foi terrivelmente fria, embora não nevasse nem formasse gelo no ar extremamente seco que partiu os lábios de alguns integrantes do grupo.

Despertaram com o Sol levantando-se. A luz quente e calma da manhã esquentava carinhosamente os corpos deles, apenas poupando-os da fúria que estava por vir. Mylenna foi a primeira a despertar, seguida por Thanatos, Sartini, Dereck e, por fim, Adrior, desperto com uma terrível dor de cabeça. Deslocaram-se ao Sul, tentando afastar-se ao máximo das tropas de Epitus.

- E então, como vamos descobrir a localização da biblioteca? Ai, minha cabeça...

- Você lembra-se disso? – Surpreendeu-se Dereck.

- Sim. Eu fico a maior parte do tempo bêbado, então acho que acabei aprendendo a lembrar. Só odeio essa ressaca.

O menor apontou Mylenna e começou a gesticular para Dereck.

- O Sartini tá dizendo que ela, já que é a mais furtiva, pode encontrar a Biblioteca em algumas horas e que podemos invadi-la ainda esta noite.

Mylenna levantou-se silenciosa e verificou suas lâminas amarradas em suas coxas. Thanatos olhava aquilo curioso. Armas tão exóticas que nunca viu em sua vida de carrasco, mesmo tendo enfrentado algumas dezenas de batalhas sob ordens de Glast Heim. Levantou e se espreguiçou demoradamente, olhando para a jovem.

- Mylenna, que armas são essas? Nunca vi.

- Katares. As que eu uso são chamadas de Jhur. E a sua espada? De que tipo é?

- É uma espada de duas mãos que eu chamo de Byeldorg.

- Que nome estranho. Nunca ouvi falar desse tipo de espada.

- Hei! Eu que forjei quando era aprendiz de ferreiro. Criação minha!

Riram um pouco. De fato, aquela era uma espada que não impressionava muito, mas nas mãos de Thanatos parecia ser afiada como uma navalha. Sartini aproximou-se de Mylenna e fez sinal para ela se abaixar. Quando ela ficou na mesma altura, ele colocou a mão na cabeça dela, balbuciou algo por trás da máscara e Mylenna sentiu sua mente sendo afiada, seu pensamento mais rápido. Desapareceu em seguida e apenas um curto rastro de areia foi deixado para trás.

- Relaxa Thanatos – começou Dereck – sua namorada volta sã e salva. Essa garota é incrível quando o assunto é conseguir informação. E tomara que essa biblioteca esteja num lugar fácil. Quero poder voltar a ver aquelas dançarinas...

- E você me chamava de tarado, Thanatos. – Riu Adrior. O mercado fervilhava como um formigueiro. Pessoas se amontoando sobre pessoas em busca de pão, frutas e algumas especiarias de reinos vizinhos. Em meio a toda essa loucura Mylenna passava despercebida usando apenas seu cachecol um pouco mais alto e o cabelo preso em uma longa trança. Olhava barracas que vendiam de tudo um pouco: armas, armaduras, enfeites, comida, poções e uma chamou a atenção dela. Livros empilhados aos montes e o vendedor falando cada vez em um idioma diferente.

- Livros dos mais variados pontos de Midgard!

Surpreendeu-se um instante. Uma pessoa claramente nativa de Epitus falando seu idioma não era comum, mas sabia da existência deles. Era lógico um vendedor de livros estrangeiros saber outros idiomas, ainda mais quando mercadores de outras partes do mundo vêm com tanta frequência para lá. Caminhou até o homem tranqüilamente e pegou um livro para olhar.

- Senhor, quanto custa um desses?

- Ah, uma jovem de Rune Midgard, eu presumo. Esse custa apenas vinte mil Zenys.

- Zenys?

- Sim. Não acho que você deva ter nosso dinheiro, então faço por Zenys mesmo.

- Ah sim, – disse sacando uma sacolinha com dinheiro – muito sábio de sua parte.

- Obrigado – disse o homem envaidecido – vai querer mais alguma coisa?

- Bom, como o senhor é bem inteligente, deve saber me informar onde fica a biblioteca.

- Saber onde ela fica eu não sei, mas tenho um cliente que trabalha lá. Só que a minha memória está um pouco fraca e talvez eu precise refrescá-la – disse enquanto estendia a mão.

Mylenna olhou pra cima em desaprovação, mas ainda assim deixou alguns Zenys a mais nas mãos dele. Após olhar a quantia, seus olhos brilharam. Era mais que conseguia em um dia inteiro. Verificou a autenticidade e a olhou eufórico.

- Ele mora cinco ruas ao norte, na esquina à direita. É um estudioso de Midgard que veio sob concessão do Faraó estudar as grandes histórias de lá. Seu nome é Marcelo Almodovar. Eu não sei em que andar da hospedaria ele fica, mas deve ser fácil de encontrá-lo.

- E quando a guarda fica mais fraca?

- Ao por do Sol, quando eles trocam a outra metade da guarda da cidade. E é nessa metade que está onde o Marcelo está.

- Obrigado.

- Eu que agradeço!

Voltou a caminhar com o livro em mãos. Era um livro de histórias infantis que achou interessante. Nunca tinha lido histórias tão graciosas quanto aquelas. Na verdade, as únicas frases que ouvia de seu pai eram sobre seu dever como mercenária, sobre por que não interferir na neutralidade nem nos governos e ordens durante seu treino. Nunca lhe foi permitido sequer ter um amor, só que agora o jeito criança e selvagem de Thanatos mexia com ela. Atiçava sua curiosidade. Posicionou-se onde ninguém a veria e permaneceu lendo seu livro até o Sol começar a se pôr.

Ouviu os sons dos guardas chegando para a troca. Olhou calmamente de seu esconderijo e desapareceu no ar. Furtividade, uma habilidade muito prezada por aqueles que a treinaram durante anos naquele templo do deserto. Usara isso na fuga e usaria agora para conseguir passar por eles.  Caminhou lentamente enquanto permanecia quase que totalmente mesclada ao ambiente. Adentrou o ambiente com facilidade e locomoveu-se pelos corredores do local, vendo mais guardas na frente da porta dele. Olhou um quarto aberto e esgueirou-se para dentro, saindo pela janela e contando quantas até o quarto do estudioso. Saltou com graça felina e atingiu o para-peito rapidamente, batendo na janela para chamar a atenção.

- Ora essa, mas quem será que está me chamando a essa hora? – Disse Marcelo enquanto fechava o livro.

Abriu a janela e logo foi derrubado por um nada que tomou a forma de uma mulher que lhe cobria a boca com uma das mãos. As vestes dela assustaram-no. Uma Mercenária! Aqueles que vivem nas sombras, agindo em prol de um equilíbrio que apenas eles entendiam. Tantos estudos lhe renderam amizades com membros dessa guilda. Seus olhos se arregalaram.

- Shh. Eu não irei fazer-lhe mal algum se colaborar comigo, ok? – Falou Mylenna em tom de sussurro.

Agitou a cabeça positivamente e teve sua boca liberta.

- O que quer de mim, mercenária?

- Informação. Onde fica a biblioteca de Epitus?

- Para que você quer ir lá?

- Você não me respondeu.

- E o que eu ganho respondendo?

- Que tal a liberdade de ir e vir onde e quando quiser sem ter que ter esses guardas na sua cola?

- Como sabe disso?

- Não vem ao caso. Onde está a biblioteca? – Aproximou o rosto demonstrando alguma irritação.

O rosto do rapaz começou a suar e empalidecer. Tremia intensamente, como medo dela e do que ela poderia fazer. Desviou o olhar por um instante, pensando em tudo que lhe era importante, como o filho que deixara em Rune Midgard, em sua carreira até que tudo pareceu ser mais importante para ele, inclusive respirar. Continuava trêmulo, mas olhou com mais confiança.

- Fica a Sudoeste do Palácio, mais ou menos uns 2 quilômetros.

- E o palácio?

- A Oeste daqui, uns 3 quilômetros.

- E sabe qual a rota menos vigiada?

- Seguindo rente à parede Sul. Eles não acham que o mar seja uma ameaça. Principalmente durante o dia.

- Bom, você conhece os mercenários e sabe o que acontece com quem mente para nós, não é?

- Sim, eu sei claramente. E, como você disse, não quero mais andar com escolta só porque alguns pretensos membros de meu reino estejam aprontando por aí. Antes de partir eu gostaria de pedir-lhe algo.

- E o que é?

- Seja breve. É horrível andar com escolta armada.

Desapareceu novamente em pleno ar. Iria comunicar aos outros a descoberta. Aproveitou a janela aberta para saltar e cair com graça felina sobre uns caixotes que lá estavam. Moveu-se invisível rente às paredes para poder ir o mais rápido que podia. Saiu rapidamente da cidade e correu pela areia do deserto, deixando apenas um fino rastro de areia levantada. A Lua já agraciava as areias do deserto quando Mylenna chegou perto do resto do grupo.

- Eu não disse, Thanatos? – Riu Dereck – Sua namorada ia voltar logo. E aí, o que conseguiu Mylenna?

- Além de ficar irritada com você, Dereck, eu descobri o local do artefato. E só não trouxe porque ia deixá-los alarmados e a rota que consegui ia ficar inutilizada.

- Então a gente vai ter de se infiltrar? – Perguntou Adrior.

- Isso mesmo.

Thanatos levantou-se ajeitando Byeldorg em suas costas.

- Deixa eu entender: Você invadirá a biblioteca, vai roubar o artefato e, o mais rápido que der, virá com a gente, para quê?

- Invadir o palácio e falar diretamente com o Faraó...

- O quê?! – Bradaram os três em coro.

 - Isso mesmo. Será o ideal a gente falar diretamente com o líder para entender. Afinal, ele que comanda essa nação e os generais dele podem tentar nos atrapalhar. Nós vamos invadir o palácio direto.

Entreolharam-se rapidamente e voltaram o olhar à Mylenna. Era muito arriscado um grupo tão grande tentar invadir um local tão protegido. A menos que ela estivesse pensando em coordenar a infiltração ou outras coisas. Thanatos levantou a voz e disse:

- Gente, ela é mestra em infiltração. Acho que não devemos duvidar dela quando ela diz que nós todos conseguiremos invadir. Acho que o ideal seria ela liderar.

- Obrigada Thanatos, pelo menos alguém entendeu alguma coisa aqui...

Dereck começou a rir. Para ele era claro como cristal que estavam apaixonados, por mais que os dois fizessem pose. Adrior riu um pouco, pois notou o mesmo. Enquanto isso, Sartini virava a máscara de um lado ao outro sem entender absolutamente nada. Dereck tentou gesticular, mas ria tanto que mal conseguia passar qualquer informação ao amigo. Ao término das risadas, Thanatos e Mylenna estavam corados olhando um pro outro sem entender. Apesar de tudo, estava decidido. Na noite seguinte iriam invadir e falar com o tal Faraó.

Mais um pôr-do-sol se fez. Apesar do conselho de seguirem de dia, Mylenna preferiu a noite pela baixa visibilidade e facilidade graças às roupas escuras de todos, exceto por Sartini, cuja pele já era escura o suficiente. Moveram-se bem lentamente até a entrada Sul, observando a patrulha dormindo. O Marcelo estava certo e Mylenna sorriu.

- Eu vou lá colocar um sonífero neles e já volto.

Mylenna era a mais silenciosa. As passadas de Dereck e Thanatos, mesmo as mais leves, faziam um leve ruído de placas metálicas batendo. Desapareceu em pleno ar como era de costume de sua habilidade e moveu-se deixando apenas leves pegadas para trás. Enquanto ia, molhava um lenço em algum líquido estranho com um odor adocicado. Quando se aproximou, cobriu o nariz de um deles com o lenço, fazendo-o inalar aquilo até que desmaiasse. Repetiu o mesmo com o outro guarda e só então reapareceu, fazendo sinal para os outros virem.

Andaram lentamente pelo caminho indicado por Mylenna, tendo a líder como batedora também. Ia à frente, analisava o caminho e depois voltava para guiá-los. Caminharam assim até um local onde Sartini estranhou tudo. Passou a entender tudo que os outros falavam claramente, como se fosse fluente no idioma. Puxou a capa de Dereck com força e falou.

- Eu to entendendo vocês. Vocês me entendem?

Todos pararam um instante e olharam Sartini. Finalmente entendiam alguma coisa que ele dizia, da mesma forma. Mylenna olhou em volta e disse para todos se esconderem. Rapidamente subiu em uma das casas e começou a olhar em volta, buscando a fonte daquela magia que fazia com que eles se entendessem. Perto dali viu duas magníficas construções: uma parecia ter capacidade de abrigar pessoas dentro de sua estrutura com janelas, sacadas e jardins enquanto a outra parecia um grande claustro com formas um pouco sinuosas. Viu letras estranhas e perfeitamente compreensíveis que diziam biblioteca. Saltou e caiu com pouco ruído.

- Achei. Está naquela direção – disse enquanto apontava.

- Como sabe que é ela? – Perguntou Adrior.

- Eu li. Não me pergunte como, mas eu consegui ler. Além disso, estamos entendendo o Sartini.

Chegando no local, viram dois guardas no local com suas espadas em punho. Estavam completamente imóveis. O grupo olhou para Thanatos e Sartini rapidamente e Mylenna puxou ambos pelo ombro, trazendo-os para perto. Falava o mais baixo possível, mal dando para escutar as instruções dela. Adrior e Dereck ficaram vigiando para ninguém aparecer. Só quando a conferência dos três terminou que os dois correram e começaram a murmurar algo.

- Wootan, melhore as capacidades de meu amigo. Benção !!

- Que as chamas de Muspelheim se acumulem em minhas mãos e destruam meus inimigos. Bola de Fogo !!

Uma explosão e um grande brilho chamaram a atenção dos guardas. Correram na direção e encontraram um monte de barris e caixas em chamas enquanto um mercador praguejava e implorava por ajuda. A uma rua dali, Mylenna correu o mais rápido que podia para dentro da Biblioteca, arremessando uma adaga no pescoço do bibliotecário como reação à simples presença dele. Sem ruídos, continuou movendo-se pelo local. Estantes maiores que cinco pessoas, intermináveis tomos forrando estantes que pareciam não ter fim. Todo o conhecimento do mundo parecia estar armazenado naquele lugar fantástico.

Um globo reluzia ao final daquele corredor e de sua posição saiam todos os corredores, formando um Sol. Dizia em seu suporte o nome dele: Orbe das Línguas. Era assim que Epitus tinha prosperado. Aproveitou os conhecimentos de todos para escolher o que era melhor para si. Mylenna sorriu satisfeita e tornou-se novamente invisível, correndo e tomando a orbe para si. Voltou correndo e encontrou seus amigos sentados sobre ambos os guardas e estes sobre uma poça rubra.

- Você estava demorando então a gente quis se divertir com esses três...

- Três? Cadê o terceiro?

- Ali...

Dereck apontou outro guarda fincado na parede ao lado da porta por onde a jovem mercenária tinha vindo. Sua lança passava pelo meio do peito, atravessando precisamente o coração e saindo pelo meio das costas. As pernas ainda descongelavam e pouco sangue escorria. Mylenna olhou-os com reprovação e fez sinal para que todos ali a seguissem.

- Vocês chamam atenção demais. Vamos logo antes que a guarda apareça em peso.

Levantaram-se e começaram a correr pela rota que Mylenna julgou segura. Apesar do barulho das armaduras, a balbúrdia pelo incêndio era tanta que ninguém sequer conseguia ouvir o metal batendo. Encontraram uma pequena patrulha, mas a magia de Thanatos e de Sartini foi o suficiente para neutralizá-los rapidamente. Mais nenhuma patrulha foi encontrada no caminho até a faraônica construção que era o palácio. Muros muito altos até onde a vista alcançava. Subindo nos ombros de Thanatos, Dereck viu um jardim digno dos deuses: oásis intermináveis naquele solo arenoso, palmeiras maiores que torres de vigília e, ao longe, um castelo que, daquela distância, anunciava seu imenso tamanho.

Afastaram-se o máximo que podiam sem perder a visibilidade das muralhas. Mylenna, acostumada à noite, era quem enxergava melhor e servia de guia para todos. As patrulhas nada viam nem ouviam devido à distância. Quando chegaram onde estava o palácio, deram a volta, observando a retaguarda. Vazia. Estranhamente vazia. Saltaram o muro com a ajuda da magia de Sartini que os deixava fortes e rápidos. Mylenna correu pelo muro na vertical. Adrior saltou por cima enquanto Dereck, Thanatos e o pequenino subiram por cordas que os dois que passaram os muros seguravam. O local estava completamente vazio e apenas um cântico começou a preencher o local. Parecia algum ritual vindo de uma das portas

monumentais do local, entreaberta. Moveram-se lentamente e apenas observaram pela fresta da porta.

- Crianças puras de alma e puras de coração, penduradas sobre o caldeirão. Serão a oferenda perfeita ao meu mestre, o favorito de Ymir. Morroc. Crianças pura de alma e puras de...

- Morroc? Quem diabos é esse cara? – Olhou Adrior para os outros.

Os olhos de Sartini estavam arregalados. Morroc, o gigante que há séculos foi preso por Odin em Muspelheim, tinha servos que faziam sacrifícios a ele. A lenda dele havia sido esquecida pela maioria da população, mas não pelo seu povo. Puxou Adrior, o maior, e todos se afastaram da porta. Olhava-os com certo temor, visivelmente agitado. Ao lembrar que os outros entenderiam seu idioma, começou a falar baixo, mas rápido.

- Esse Marduk é louco. O Morroc é um dos filhos de Ymir que sobreviveu ao dilúvio que Odin, Vili e Vé provocaram. Ele foi preso nas brumas de Muspelheim.

- Como sabe disso Sartini? – interrogou Dereck.

- A tribo Wootan não deixa de ensinar essas lendas para seus filhos.

- Tribo Wootan? Onde que fi...

- Deixem o papo pra depois. Deve ter sido ele que está nos acusando – Mylenna havia retornado para olhar – Ainda por cima está assassinando crianças e deve estar colocando a culpa em nós.

- Não devíamos interrompê-lo? – Adrior estalava o pescoço, ansioso por uma luta.

- Acho que seria melhor fazer o tal faraó pegá-lo no flagra, – falou Thanatos – afinal deve ser ele que está nos acusando e tentando desviar a atenção das suas oferendas.

Olharam Thanatos. Ele estava quieto a maior parte do tempo e só agora se manifestou, e ainda falou uma estratégia que, para todos, foi considerada sábia. Mas havia um problema que começou a permear a mente de todos: como fazer o faraó vir até ali e ver o que estava acontecendo? Eles eram procurados pela guarda e se algum deles os percebesse talvez tudo viesse a perder. Olhando em volta, Mylenna notou uma fresta estranha na parede, algo que não devia estar ali. Manuseou um pouco e notou que era uma parede falsa, uma saída secreta para casos de emergência.

- Eu encontrei alguma coisa aqui...

Puxou lentamente a porta, revelando seu interior completamente escuro. Sartini começou a agitar seu cajado enquanto chamava pela Chama Reveladora, uma pequena pira que os rodeava, iluminando o local até alguns metros à frente, mostrando tochas apagadas e teias de aranha por boa parte do percurso. Nada se queimava com aquela pira, já que era apenas luz que a magia gerava. Ouviram vozes ao fundo, uma delas imponente.

- Ah, meu pai que jaz na Esfinge, como eu queria que sua sombra sobre mim deixasse de existir. Tudo o que faço sempre é comparado com o que o senhor fez. - Querido, está tudo bem. Um dia seu povo verá o quão importante você está sendo. – Dizia uma voz feminina.

Mylenna observou pelo fim do corredor, quando abriu um pouco a porta de correr. Era um homem em vestes imperiais, um grande chapéu que removia de sua cabeça e cajados que depositava em um móvel. Em outra parte, uma jovem em trajes transparentes, deitada em uma imensa e enfeitada cama com muitas almofadas brancas e douradas. Suas peles eram idênticas à do povo local, quase tão escura quanto à de Sartini. Fechou lentamente o pouco que abriu e virou-se para os outros.

- Bom, pelo visto é alguém importante, talvez até o próprio faraó que procuramos. Acho melhor invadirmos com força total. – Começou Mylenna

- Bom, ele vai tentar chamar a guarda, mas creio que isso será inevitável – continuou Thanatos enquanto puxava Byeldorg – então creio que teremos de ser rápidos para conseguir forçá-lo a cooperar.

Sartini começou a gesticular para Dereck, mas logo fez um sinal desgostoso.

- Eu preciso me acostumar a falar com vocês. Que tal se a gente apenas conversasse com ele, colocando os fatos?

- É uma idéia a se pensar – Thanatos e Mylenna foram simultâneos

- E depois que eu e o Adrior falamos que vocês tão apaixonados, vocês ficam fazendo corpo mole. –Riu Dereck.

Após uma risada de Dereck, Adrior e Sartini e o rubor facial de Thanatos e Mylenna, todos puxaram suas armas, pois sabiam que ele devia ter guardas na soleira da porta de seu quarto, protegendo com seus corpos o seu faraó, sua divindade em Midgard.

A porta veio abaixo.

- O que é isso!? – Assustou-se o homem – Pasanas! Pasanas!

A porta abriu de imediato, deixando entrar uma pequena patrulha no ambiente. Sartini correu em direção ao faraó enquanto Thanatos e os outros trataram de desarmar rapidamente os guardas que entraram. Tão logo terminaram, mantiveram suas armas apontadas para os guardas, que superavam eles em 2 para 1, e Sartini logo começou a falar.

- Você deve ser o faraó, não? Viemos aqui falar com você

- Por Osíris, como ousam invadir minha privacidade assim? Bem que meu Marduk estava certo. Estrangeiros vieram tomar-me a vida. Pois bem, algozes, eu não temo a morte. Mostrar-lhes-ei como que morre um verdadeiro Faraó.

- Acalme-se, meu senhor. Não viemos fazer-lhe mal algum. Apenas viemos entender o que estava acontecendo que sua guarda nos caçava. Pelo visto, seu Marduk deve ter se enganado. Não faz nem mesmo uma semana que estamos na cidade.

- Como assim? Ele nunca errou! Como ousa acusar meu braço direito de tal heresia!?

- Se nós quiséssemos te matar, meu senhor, não acha que meus colegas já teriam conseguido? O senhor pode ser um arcano muito competente, porém estamos em um número maior e tínhamos o elemento surpresa. Seu Marduk errou quando disse que queríamos fazer algum mal ao senhor.

Após engolir seco, olhou os outros. Pouparam a vida de seus Pasanas, sua tão amada guarda pessoal. Tinham-nos nas mãos e mesmo assim não faziam nada. Súbito, uma angustiante sensação de dúvida começou a correr-lhe o corpo. A mulher olhava paralisada a cena. Era algo impensável para ela que seu marido, filho do Sol, estava naquela situação.

- E ainda por cima – continuou Sartini, falando de um jeito que impressionava a todos seus amigos – talvez fosse caso do senhor controlar mais seus Marduks. Há alguém lá embaixo que está orando a alguém que ninguém além dos Wootan se recorda, pelo que vejo.

- O que quer dizer, estrangeiro? Seja objetivo!

- Seu Marduk está nos usando de bode expiatório para distrair o senhor! Ele está fazendo oferendas a alguém que quer destruir esse mundo! Se duvidar, venha ver pessoalmente. Nós sabemos muito bem onde ele está.

- Pois bem, senhores. Vamos ver o quão certos estão. – Disse contendo o nervosismo.

Os outros baixaram as armas, olhando os Pasanas. Assim que o faraó fez um sinal, cada um pegou sua arma e caminhou lado a lado com os outros. Passaram em fila indiana pela saída secreta, apressados. As teias de aranha incomodavam o jovem governante, porém todos os outros passavam ignorando. Novamente as Chamas Reveladoras fizeram-se necessárias, guiando o grupo pelo local escuro.

Caminharam até o local onde o Marduk continuava seu sacrifício. Quando os pasanas colocaram a porta abaixo sob seus pés, o sacerdote olhou assustado para todos. Seu desespero aumentou ante a figura de seu imperador ao lado daqueles que ele tentou incriminar. Subestimou os estrangeiros e certamente não teria uma segunda chance para repetir esse erro.

A cena fez o jovem faraó vomitar. Crianças penduradas por correntes, com suas bocas tampadas por mordaças sobre um caldeirão cujo líquido rubro fedia a sangue. Borbulhava e uma criança caiu dentro, se debatendo como podia enquanto era escaldada até a morte naquela sopa nefasta. Ao ouvir o som da queda da criança, o sacerdote sorriu em êxtase, removendo sua máscara.

- Que pena que perdi justo a oferenda mais bela ao meu senhor. – Começou o marduk com a voz ensandecida.

- Herege! – Bradou um pasana – Teu senhor está bem diante de ti! O filho de Amon Rá!

- Cale-se, tolo! Meu senhor é e sempre foi Morroc, filho de Ymir. É a ele que sirvo, e é a ele que espero para que destrua essa porcaria de mundo que vivemos.

- Seu miserável! – Recobrou-se o faraó – Eu confiei em você toda a minha vida e é assim que você me agradece?

O corpo do jovem começou a brilhar enquanto ele entoava um cântico.

- Por Osíris e por Ápis, olhe para mim. Eu, o filho do Sol, condeno-lhe à eternidade sem seu calor! Nevasca!!

O ambiente assumiu uma coloração azulada e nuvens negras formaram-se no teto do aposento. Os olhos do jovem assumiram um brilho azul completo, indicando que era uma magia do elemento água. Todos olharam o poder do imperador, assombrados com o conhecimento daquela magia por parte dele. Aquela era uma magia impensável para aquela região, até analisar que o faraó era considerado o filho do Sol e tomar dos outros o calor deles seria algo previsível.

Nada caiu das nuvens.

- Minha jovem divindade, você por acaso achou que eu seria tolo o suficiente para não perceber a presença de vocês? Foi prevendo algo como isso que estudei uma magia do grimório de um arcano de Rune Midgard que morreu em Epitus.

- Proteger Terreno. – Concluíram Thanatos e Sartini em uníssono.

- Pelo visto eles conhecem a magia, meu jovem. Pena que não pensaram nisso. Agora devo agradecê-los por trazerem minha oferenda máxima a Morroc. Crianças, peguem-no!

Olhos vermelhos começaram a surgir das sombras e sorrisos imensos com dentes de serra abriram-se. Rosnados tomaram conta do aposento e chacais extremamente magros, raivosos e com uma bocarra maior do que todos conseguiam conceber de um animal desse tipo saltaram em matilha e avançaram contra o grupo. As sombras não paravam de verter essas criaturas das trevas que logo se amontoavam sobre si mesmos numa parede de presas e bocas.

- São Matyres! – Gritou o imperador – Eles são extremamente ferozes e não vão parar por nada!

- Ótimo! Assim eu tenho algo pra socar até eu cansar! – Respondeu Adrior.

O primeiro que saltou sobre o bêbado recebeu um soco que mais parecia um aríete, sendo arremessado contra a parede e desaparecendo na sombra. Outro que avançava foi transpassado por uma coluna de pedra que surgiu no instante que os punhos de martelo de Adrior atingiram o chão. Os pasanas brandiam suas espadas e se encarregavam de cuidar de alguns da matilha. Thanatos e Dereck bloquearam o caminho até Sartini, perfurando, cortando e arremessando esses animais uns contra os outros. Sartini pulava de um lado para o outro fora da sala, gritando encantamentos sem fim em todos os presentes até sentar-se cansado de tanto saltitar. Mylenna tentava aproximar-se do marduk, mas a cada passo que dava, dois chacais interrompiam seu caminho.

- Que droga – disse calmamente o traidor – e pensar que levei meses até conseguir chegar nesse ponto. Que frustração. Bom, viver para lutar outro dia me parece uma bela estratégia. Até mais ver!

Mostrou uma asa de borboleta. Em Midgard, esse era um item poderoso de teletransporte, capaz de remover a pessoa de praticamente qualquer lugar para algum outro que ela consiga memorizar. Ao esmagar a asa, desapareceu em pleno ar, deixando para trás uma gargalhada de satisfação. Ao sumir, todos os chacais desapareceram instantaneamente, deixando para trás um grupo cansado com marcas de mordida.

- Maldito seja, Marduk desgraçado! Eu juro pelo meu pai, o maior faraó que já existiu, que um dia você irá pagar por isso!

- Divindade – aproximou-se um Pasana – quer que tentemos caçá-lo?

- Não, pasana, ele pode estar em qualquer lugar agora. Não saberíamos nem aonde procurar.

Virou-se para os estrangeiros, afastando o cabelo que grudava no rosto suado.

- Estrangeiros, eu não sei o que dizer sobre isso. Por minha confiança cega causei inúmeros problemas a vocês. O que posso fazer para compensá-los?

- Da minha parte está tudo bem. Já me diverti muito! – Riu Adrior.

- Eu quero poder ver aquelas dançarinas novamente. – Disse Dereck enquanto babava apenas lembrando.

- Por mim já está acertado, Faraó, não quero nada. – Sorriu Thanatos.

- Eu quero passar uns dias naquela biblioteca. – Falou Sartini enquanto agitava o cajado para lembrar sua localização.

- O mesmo que o Thanat. – Murmurou Mylenna.

- Pois bem! Levem o pequenino até a biblioteca e forneçam-lhe quantos livros ele quiser. Quanto ao jovem, tragam minhas melhores Odaliscas. E, como um presente a todos, deixarei que passem a noite no meu palácio.

Todos sorriram enquanto trocavam olhares. Uma noite de reis seria algo muito bem desejado, relaxante. Uma noite digna de reis para os heróis e para as crianças que sobreviveram à loucura do Marduk. Em meio às festividades, num local onde ninguém via, uma torre ergueu-se num lugar ermo. Ninguém sentiu o terremoto, ninguém viu os animais entrarem em pânico. O causador disso esfregava suas mãos desproporcionais e sorria.

- Em breve, Midgard. Muito em breve. – Disse com voz gutural.

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Yay! Demorou mais saiu! Que bom! Agora o Akahai já concretizou seu plano maligno de escrever o 3º (e ótimo) Capítulo e então nunca mais lançar o 4º, matando todos os leitores de ansiedade! [/mal]

Porém acho que esse cap ta muuuuuiiiiiiiiiiiiittttttoooooooooooo grande
 Maravilha! Capítulos pequenos são para os fracos.
Em meio às festividades, num local onde ninguém via, uma torre ergueu-se num lugar ermo.
Torrí de Thanatús!! =D
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