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Eclipse Final


Aruke

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Opa! Então já vai aí o capítulo 2!

 

Abraços,

- Rafa

 

***

Capítulo 2

- adeus, Juno

 

10h45

 

A manhã estava atípica em Juno. A cidade, com suas elevadas construções, era conhecida como “A cidade onde o sol nasce”, pois sempre recebia os raios solares primeiro.

 

Na Bilioteca, o maior prédio da cidade, dezenas de estudantes praticavam seus experimentos de Alquimia. Misturados a eles, estudantes de Magia buscavam o conhecimento suficiente para tornarem-se sábios. O comércio, que não fechava nunca, agora repunha as mercadorias vendidas durante a noite.

 

Porém, como dito, o dia estava atípico. A atmosfera parecia pesada; o ar, ruim de se respirar. Não havia muito barulho nas ruas, e era como se a qualquer momento o céu fosse explodir, de tão tenso que estava o clima. E em meio a isso, duas mulheres andavam sem preocupações aparentes.

 

- Aren está inquieto - disse Lara, olhando o belo falcão que a sobrevoava a amiga.

 

- É verdade. Os animais têm instintos melhores que os nossos. Espero que não seja nada muito grave que o esteja perturbando - respondeu a caçadora, sem parar de andar.

 

- Vamos comer algo. Estou faminta - a mercenária apontou para a taverna. Não recebeu uma resposta e virou-se para Paola. Percebeu que a Caçadora tinha corrido para um amontoado de gente, em uma das praças da cidade.

 

Os olhos hábeis de Paola logo notaram o brasão da Ordem do Dragão no peito do Bruxo caído no chão.Notou alguns sangramentos em suas vestes e se aproximou para ouvir o que ele dizia.

 

- Fujam enquanto há tempo - dizia o Bruxo, respirando pesado - Juno está prestes a tombar!

 

As pessoas riram. Um sacerdote se aproximou calmamente e invocou cinco vezes uma poderosa magia de Cura, revigorando o Bruxo.

 

- Seus ferimentos estão curados - disse o sacerdote - Recomendo que agora procure um médico pra ver essa insanidade em sua mente!

 

Mais risos se seguiram, e a multidão se disperou. O Bruxo se indignou e ficou subiu na base de uma das colossais estátuas estátuas.

 

- Escutem o que tenho a dizer! É sério! Juno será devastada em algumas horas! Saiam todos daqui o mais depressa possível! Escutem-me, maldição!

 

Paola e Lara observaram em silêncio os gritos desesperados daquele homem. Alguns cavaleiros atiraram moedas nos pés dele, rindo. O pavor era visível nos olhos do Bruxo.

 

- Acreditem em mim, pelo seu próprio bem! Glast Heim tombou, e as cidades marcadas agora serão erradicadas! Saiam daqui enquanto...

 

Mal dizia sua frase, o cabo de uma lança bateu nos pés dele, derrubando-o pesadamente no chão. Guardas de Juno rapidamente o imobilizaram e levaram-no para a entrada do palácio.

 

Nesse ínterim, porém, o Bruxo havia notado os olhares sérios das duas moças. E enquanto era algemado e levado, sussurrou de um modo que ecoou alto nas mentes delas.

 

- O que digo é verdade. Tirem as pessoas daqui antes do meio-dia. Salvem-se.

 

As duas se entreolharam. Paola teve uma sensação estranha e olhou para o longo caminho da montanha que conduzia normalmente os viajantes de Al De Baran até Juno.

 

Lara a observou de soslaio. Após alguns segundos de silêncio, as duas viraram em direção à Biblioteca e correram.

 

***

 

Campos de Juno, 11h20

 

Os Pecos do trio de amigos, após horas de viagem ininterrupta, finalmente tombaram, cansados e sedentos. Normalmente Julian teria parado para conseguir água para eles, mas a emergência da situação o fez sacrificar os animais até o limite.

 

- Perdoem-nos, estimadas montarias, - disse, saltando para o chão, deixando seu Peco deitar, exausto - mas foram de suma importância nesta empreitada. Vão, estão livres!

 

Maya e Giu também saltaram de seus Pecos, que acompanhando o de Julian, caíram no chão, acabados.

 

- Chegamos! Temos que encontrá-la! Giu, tem idéia de onde ela esteja?

 

- Não, amigo. Não estamos com o elo de um grupo ou guilda. E não consigo estabelecer contato mental com ela também.

 

Os três correram. Em instantes estavam na gloriosa entrada de Juno, com suas estátuas gigantes e feixes de luz que explodiam para os céus. Julian e Maya olharam para o grande relógio, no topo de um pedestal e que podia ser visto de qualquer lugar.

 

- Prestem atenção, - Julian falou sério, observando os dois - temos pouco mais de meia hora. Eu cobrirei a ala norte. Giu, vá para o leste. Maya, para o Oeste. Não importa o que aconteça, todos nós, independente de encontrar Paola, devemos estar nestes portões às 10 para o meio-dia. Cinco para o meio-dia, quem quer que esteja aqui, deve ir embora, com quem estiver acompanhado. Entendido?

 

- Por mim tudo bem, sei que vou encontrar logo minha irmã. Maya, ok?

 

A noviça não respondia, com os olhos abertos, fitando o nada, com a mente perturbada. Giu cutucou ela no ombro e não teve resposta.

 

- Cura, plz!1!1!! - falou o bardo, coçando a cabeça.

 

- Curo... curo sim... - sem se virar, a menina invocou a magia de Cura no bardo.

 

- MAYA! - Julian berrou, segurando ela pelos ombros. O choque a trouxe de volta para o mundo real - Acorde! Ouviu o que eu disse?

 

- S-sim, J-Julian, me perdoe. Ala Oeste. Dez para o meio-dia. Ok, entendido. Sim.

 

- Vamos!

 

Os três correram, separando-se nas direções combinadas.

 

***

 

11h40

 

- Ele pode estar dizendo a verdade, senhor! - Paola estava fora do sério, argumentando com um homem.

 

- Pode estar, ou não. - respondeu ele - Há uma probabilidade de 50% de que ele esteja dizendo a verdade. Ou não.

 

- Por favor, o senhor é conhecedor de grandes artes. Deve ter algum meio de falar com alguém em Glast Heim, apenas para nos dar paz.

 

- Sim, há uma chance. Eu posso usar meu brasão, que me permite comunicação com minha esposa, que está passando alguns dias em Glast Heim. Ela pode me responder. Ou não.

 

Paola engoliu seco. O homem calmamente foi até a janela e fitou o céu na direção de Glast Heim. Ficou concentrado por alguns momentos. Puxou um bracelete de sua guilda e observou ele, assustado.

 

- Engraçado - disse ele - Minha esposa, até essa noite, aparecia acordada aqui no meu Altigê. Agora ela não consta mais na lista. Alguma coisa ruim pode ter acontecido a ela.

 

Virou-se então para as duas moças e completou.

 

- Ou não.

 

- Eu vou matar esse desgraçado! E não vai ter “ou não”!!!

 

Lara, que até então estava quieta, explodiu de raiva. Paola a segurou como pôde, impedindo que a amiga cometesse um crime.

 

- Senhor, - Paola tentava usar uma voz suave, segurando a mercenária irritada - pode nos deixar conversar com o Bruxo preso? Por favor?

 

- Eu poderia, de fato. Vocês poderiam conversar com ele e esclarecer tudo isso, e voltarem às suas vidas comuns, sem importunar mais ninguém.

 

Lara se acalmou e Paola pôde soltá-la. As duas sorriram e entreolharam-se.

 

- Ou não - disse o homem, colocando a mão no queixo e fazendo cara de quem estava pensando em algo ruim.

 

- EU VOU TE MATAAAAR!!!

 

Diante da nova explosão de Lara, Paola novamente fez força para segurar a mercenária, enquanto o sábio filosofava solitário sobre as chances matemáticas das coisas acontecerem.

 

***

 

Centro de Juno, 11h45

 

Maya, suada, segurava o choro. Não tinha tido nem sinal de Paola nas buscas que fez. O horário do relógio a fez se desesperar. Começou a andar em direção à saída da cidade, mas parou ao ouvir uma melodia de cítara. Notou Giuseppe de pé em um banco, entoando uma canção para todos que podiam ouvi-lo.

 

[/lala]

Eu vim para lhes avisar do mal que vai se abater

Vim encontrar minha irmã e a vida lhe salvar

Mas vós riem de mim, pobre bardo a lhes entreter

E sequer algumas moedas não querem me jogar

 

Pois deixo a sentença, mesmo sendo réu

A destruição de tudo vai realmente acontecer

A terra vai se abrir e o fogo virá do céu

E já que não me ouvem vocês vão se fo...

[/lala]

 

Ele interrompeu a música ao ouvir o choro baixinho de Maya ali perto. Suspirou e deixou a cítara escorrer para suas costas, entre a roupa e a capa. Pegou o chapéu, tirou as moedas que lhe deram e caminhou até a direção da noviça.

 

- Ei, cego! - berrou um espadachim - Você não terminou a música! Como é o fim dela?

 

Giu abaixou a cabeça. Virou-se para ele e disse:

 

- Você verá em mais alguns minutos se continuar aqui na cidade, rapaz. Eu estou indo embora.

 

Giu pegou a mão de Maya e puxou a noviça para a saída.

 

- Que horas são, Maya?

 

- Onze e quarenta e seis.

 

Giu balançou a cabeça postivamente, devagar, agradecendo. Falou baixinho então.

 

- Que Odin o proteje e o guie até Paola, Julian.

 

***

 

Biblioteca, 11h46

 

O céu começou a mudar. Em instantes, o azul estava cinza e brilho do sol fora encoberto por nuvens escuras e pesadas. Um vendaval sobrenatural se abateu sobre a cidade. Julian correu até a porta da Biblioteca. Ali costumava se reunir a maior parte da população e dos visitantes de Juno.

 

- Odin, guia meus passos neste lugar até a irmã de meu amigo, se esta for a tua vontade.

 

Deu um beijo no Rosário e entrou na construção. Por causa do mau tempo, o lugar estava apinhado de gente. Julian notou que um tumulto se iniciava. Parecia, enfim, que algumas pessoas estavam acreditando que algo muito ruim aconteceria com Juno, e estavam começando a fugir da cidade.

 

Determinado, seguindo seus instintos e sua fé, ele entrou na sala certa. Viu Paola segurando Lara, que tentava, aparentemente sem motivo, matar um homem, com duas Adagas da Boa Ventura em suas mãos.

 

- Me solta! Ele vai morrer! Cabaço maldito! Desgraç...

 

A presença do templário impôs uma calma momentânea na sala. Paola, Lara e o homem olharam para Julian e sentiram-se mais tranquilos.

 

- Digo-lhes para que saiam de Juno imediatamente. O grande lorde todo-poderoso Odin guiou-me até aqui para lhes dar esta má-nova, e faz-se mister que esta cidade seja evacuada.

 

O sábio não duvidou das palavras de Julian. Andou até ele e colocou as mãos em seus ombros.

 

- Em um servo de Odin não se aplica matemáticas e chances. - disse ele - Se diz isso é porque é verdade.

 

- Julian, - Paola empurrou o sábio e ficou na frente dele - um Bruxo da sua guilda está preso.

 

- Onde? - Julian olhou para o homem.

 

- Ele estava pregando a desordem, não pude acred...

 

- ONDE ele está? - Julian olhou firme para o homem, que engoliu seco, intimidado.

 

- Segundo subsolo, corredor 2, cela b12 - a reposta foi imediata.

 

- Paola, Lara, escutem. A cidade não vai passar do meio-dia. Salvem suas vidas e a de quem puderem no caminho. Vou salvar meu amigo. Seu irmão e Maya o aguardam na saída. Corram.

 

Paola apenas assentiu com a cabeça, sem discutir, e correu. Lara parou e olhou o Templário.

 

- Você é corajoso.

 

- Também. Mas eu tenho fé. E ninguém ficará para trás.

 

Lara pegou o homem pelo braço, e sob o olhar de Julian, deixou a Biblioteca.

 

***

 

Portal de saída de Juno, 11h53

 

- Giu, veja!!!

 

Maya, que estava em cima de uma pedra, apontou para Paola e Lara, que vinham correndo em meio à multidão que fugia da cidade. O bardo balançou a cabeça negativamente.

 

- Fala sério, você deve estar de sacanagem comigo. Quer que eu VEJA o que?

 

A garota ruborizou na mesma hora. Abaixou a cabeça e apertou o vestido, envergonhada por ter pedido para o amigo cego “olhar” o que via.

 

- É que vi sua irmã, acompanhada de Lara.

 

- Então sobe na pedra e acena pra elas, criatura!!!

 

As duas viram Maya abanando os braços e pulando e correram na direção dela. Deram sorte de ver logo, pois ela escorregou e caiu, dando de cara no chão.

 

- Ai... Cura... - levantou-se, tirando a terra do vestido com batidas -... santa magia.

 

- Giu!

 

- Paola!

 

Os irmãos se abraçaram. Maya olhou para Lara, desesperada.

 

- Onde está Julian?

 

- Foi salvar um coleguinha. Vamos embora. - disse a mercenária, seca.

 

- Não, nós temos que...

 

Ninguém conseguiu ouvir nada. O céu, antes cinza, agora estava vermelho. Raios começaram a cair, acertando ocasionalmente os prédios e estátuas, espalhando destroços nas pessoas que fugiam.

 

A noviça, inicialmente abalada, subiu na pedra. Conforme os feridos passavam correndo por ela, deixando a cidade, ela invocava sua cura neles.

 

- Venham! - gritou Giu - Paola, Maya, Lara... vamos!

 

Maya olhou o relógio, desesperada. Eram 11h55. Nem sinal de Julian.

 

- Vamos ou não teremos tempo! - Paola segurou Giu pela mão e puxou ele.

 

Lara parou, olhando a noviça, que se equilibrava na pedra, procurando Juilan.

 

- Vamos embora, Maya, você ouviu o bardo. Esse lugar vai virar história em alguns minutos.

 

Os olhares das duas se cruzaram. Maya notou uma certa angústia em Lara. O olhar da noviça implorava ajuda. Lara engoliu seco ao ver o ponteiro do relógio se mover para o 56.

 

- Cocô* - xingou antes de correr de volta para dentro da cidade.

 

*nota: era merd, mas o filtro não deixa... -_-

 

***

 

- Corram! Saiam daqui!!!

 

Conforme passava pelos corredores, Julian batia com sua espada nos cadeados das celas. Os presos, ali, claro, mereciam pagar por seus crimes. Mas a idéia de deixar pessoas morrerem sem uma chance de sobrevivência fazia o servo de Odin ter crises nervosas de consciência. Preferia pecar libertando aquelas pessoas do que deixá-las para morrer daquele modo.

 

- Cela b12... achei! - disse, constatando que era a última do corredor.

 

Julian preparou-se para bater no cadeado da cela, mas parou. O subsolo já estava com deslizamentos e pequenos desmoronamentos. Não conhecia aquele Bruxo da Ordem do Dragão que estava na cela, mas certamente não se esqueceria mais dele. Vítima de um desmoronamento de pedras pesadas e maciças, a cabeça dele tinha sido separada do corpo, e estava caída perto das grades. Em meio ao caos, ajoelhou-se e segurou o Rosário.

 

- Que sua alma encontre a paz no Valhalla, diante de nosso lorde Odin. Teu corpo pereceu, mas tua alma viverá na eternidade, até o dia do Ragnarok.

 

- Você tem problemas mentais.

 

Julian virou para ver Lara, que mal acreditava que tinha chegado ali.

 

- O que?

 

- Você é louco - ela pegou ele pelo braço e puxou sem o menor cuidado, para que deixassem o lugar.

 

- Eu estava orando pela alma de meu falecido amigo.

 

- Se quiser, pode ficar aqui e ir encontrar ele pessoalmente logo mais.

 

Julian sorriu enquanto se livrava das mãos de Lara, para correr sozinho.

 

- Eu sabia que você viria, Lara.

 

- Se acha tão irresistível assim?

 

- Não. - disse ele, mantendo a serenidade enquanto corria - Mas uma vez que alguém faça o juramento da Cavalaria, nunca mais o quebra.

 

Lara não respondeu. Suspirou para espantar as lembranças do passado e correu com Julian para fora.

 

Os dois cruzaram a cidade em grande velocidade. Súbito, Julian parou.

 

- Lara!

 

Ela se virou. Ele levantou os braços e olhou para as amarras de sua armadura metálica. A mercenária, sem piscar e sem perguntar, golpeou. Em segundos, a armadura e as braçadeiras caíram no chão. Antes de continuar correndo, ela não deixou de notar a carta inserida na armadura.

 

- Lá se vai uma Carta Angeling - disse ela.

 

- Vai-se a carta, ficamos nós.

 

O céu, como na tensão que antecedia a desgraça, explodiu. Uma luz quase cegante tomou conta dele por um segundo. A seguir, centenas de raios começaram a descer com mais fúria, atingindo o chão. Pessoas que estavam encarando aquilo apenas como uma tempestade um pouco mais forte e que tinham recusado-se a abandonar Juno, começaram e ser eletrocutadas. Animais presos em grades e caixas, desesperados, se debatiam e sangravam, tentando se salvar. Meteoritos do tamanho maior que a praça central de Prontera começaram a cair flamejantes dos céus, junto com os raios. As estátuas colossais foram se desfazendo uma a uma, afundando no chão, apenas como um monte de lixo.

 

Um destroço que voou de uma das estátuas atingiu Lara, que corria na frente de Julian. A mercenária cambaleou e apagou. Porém, antes que seu corpo desfalecido tocasse o chão, Julian passou o braço e a jogou sobre o ombro esquerdo.

 

"Não olhe para trás", pensou, ouvindo a destruição acontecer em suas costas.

 

Na sua frente, o chão começava a ceder. Imbuído de sua fé e força, ele pulava os trechos falhos. Faltavam alguns metros e sentiu que não conseguiria.

 

- Odin, - disse - guarda nossas almas.

 

De trás de uma pedra grande, Maya apareceu. A noviça esticou os braços e invocou sua magia em Julian.

 

- Aumentar Agilidade!!!

 

Revigorado, Julian avançou na direção de Maya.

 

- Aumentar AGH!

 

Maya quase vomitou quando Julian passou o braço livre em sua barriga, interrompendo a magia que também invocava sobre si e a jogou no ombro direito.

 

- Senhor...

 

A noviça, descrente, pendurada no ombro de Julian, viu Juno afundar em um monte de entulho e pedras gigante. Ouviu o grito de centenas, que morriam soterrados com a cidade que despencava de suas alturas exageradas. Era o fim da cidade do Norte.

 

[/lala]

Super Julian, amigo, que bom estar contigo em sua oração

Você salvou as donzelas e trouxe essas duas pro meu coração!”*

[/lala]

 

Mesmo em meio ao caos, Giu continuava fazendo gracinhas. Julian deitou as duas no chão e andou até o bardo.

 

- Er... você acha que devo parar?

 

Sem responder, Julian pegou a cítara de Giu e puxou as cordas, até estourar elas.

 

- Sim, você acha que devo parar.

 

Maya curou Lara, que acordou, balançando a cabeça. Paola abraçou Giu e ficou olhando para o nada, onde há alguns momentos havia Juno. Julian deu um passo para a frente do grupo. Atrás deles, outros sobreviventes observavam em silêncio o vazio, que agora era preenchido por uma crescente nuvem de poeira.

 

O templário ficou quieto por alguns instantes. Um calafrio lhe subiu a espinha ao constatar que havia sido a última pessoa viva a pisar em Juno. Mais do que a dor da perda de uma cidade, aquilo lhe rendeu um péssimo pressentimento.

 

Ajoelhou-se, pegou o Rosário e começou uma oração longa e emocionada. Quando percebeu, havia dois sacerdotes ajoelhados do seu lado, de olhos fechados, orando. Tentou voltar a orar, mas ouviu um murmurinho atrás de si. Todos os sobreviventes, alguns chorando, outros contendo as lágrimas, rezavam pelas almas perdidas ali.

 

*Cantar na melodia da música do Balão Mágico (Super, Fantástico, amigo, que bom estar contigo no nosso balão...)

 

***

 

Interlúdio #1

 

A grande embarcação Drakkar conhecida como “Mjolnir”, ou “Martelo de Thor”, singrava o mar do leste. Na proa dele, o templário observava o mar revolto, com ondas nervosas e vento forte. Os olhos negros contemplavam uma ilha terminar de afundar, sumindo com todos os seus tesouros; em especial com uma pedra, estrategicamente colocada ali.

 

Um Cavaleiro se aproximou do templário e fez postura de cumprimento.

 

- General Nekrunn!

 

- Diga, rapaz - respondeu o templário, virando-se, com o cabelo loiro e curto movendo-se com o vento.

 

- Acabamos de ser informados. Juno foi destruída.

 

O semblante do general ficou entristecido. Ele virou-se para o mar e novamente olhou as águas, agora calmas. Não havia o menor sinal de que a Ilha da Tartaruga tinha existido um dia.

 

- Glast Heim, Juno, Ilha da Tartaruga... - suspirou e desceu da Proa para o convés, acompanhado do Cavaleiro - estamos vivendo a História, rapaz. Mas receio de que não sobre ninguém para contá-la. Ou sequer ouví-la.

 

Os dois ficaram observando o mar enquanto o sol se firmava no céu.

 

***

 

Interlúdio #2

 

- Eu queria ir ver meus irmãos um pouco, tio.

 

O homem, alvo do comentário do aprendiz, ignorou. Sua armadura verde refletia um sol poderoso, quase que absoluto em seu brilho. Mais forte que a luz de sua armadura, porém, era o dourado dos grandes chifres de seu elmo. Com um dos braços para trás, aquele ser divino tocou o cabelo vermelho do menino.

 

- Seus irmãos estão um pouco ocupados, pequeno Tarcon. Assim como o tio Heimdall. Por isso que eu estou aqui. Logo vou precisar da sua ajuda. E aí talvez você veja os Belmont novamente.

 

- Aí, obrigado, tio! Valeu mesmo!

 

Enganar crianças era algo realmente fácil. Aliás, enganar qualquer um não era difícil para o deus das mentiras. E um sorriso fino e cínico surgiu nos lábios de Loki.

 

***

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não sou muito bom em mitologia, quem é Heimdall?

É o deus nórdico que vigia a ponte que liga a terra dos Aesires ao mundo dos mortais.

Ele também é conhecido por ser o maior inimigo de Loki, que é o deus da trapaça e da dissimulação.

Eles inclusive mataram um ao outro no Dia do Ragnarok.

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Ta realmente boa... Oq vc quis dizer com "usar ela na iniciaçao de novos membros"?

Quanta gente aqui crê que Loki é (foi, era, qual sera o tempo mais adequado...) um Aesir?

Umm... mais uma memoria para meu lich... que ja tinha 1356 anos nessa época... Memórias, memórias, doces memórias...

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Ele era um Aesis já que em algums mitos falam de Loki sendo ou filho ou Irmão de Odin,mas ele acaba traindo os Aesis,matando balder,e tendo como filhos Fenrir(que depois tem 2 filhos skoll e haiti"odio")e jomungard a serpente que esta em todos os mares de rune midgard(ela e do tamanho de rune-midgard) ela que ira matar Odin no ragnarok.

 

(Ele era um Aesis mas acaba traindo os outros.

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Ta realmente boa... Oq vc quis dizer com "usar ela na iniciaçao de novos membros"?

Quanta gente aqui crê que Loki é (foi, era, qual sera o tempo mais adequado...) um Aesir?

Umm... mais uma memoria para meu lich... que ja tinha 1356 anos nessa época... Memórias, memórias, doces memórias...

 

É que sempre que fazemos a iniciação de um membro na guilda, rola uma cerimônia de boas-vindas, e o membro afirma o compromisso dele na luta pela paz e tudo mais. E contamos essa história de maneira resumida.

 

Depois do final da história (são 8 capítulos), só pra fins de curiosidade, eu posto as duas cerimônias aqui! :)

 

Abraços,

- Rafa

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Interessante... Parece uma iniciação demorada...

E Loky era filho de gigantes, nunca foi Aesir, e incluindo, ele "se uniu" à giganta Angbroda e juntos eles deram à luz a Fenrir, Hel, e a Jormungand. Freya, Freyr e Njord tambem não eram Aesires, eram deuses mais antigos, chamados Vanires (parecido com os Olimpicos e os Titãs da mitologia grega, na verdade é quase a mesma coisa).

Draken Frosthand: sua fonte mais confiavel de cultura inutil[/heh]

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Isso muda alguma coisa? Deixa eu por duas passagens do texto:

Ele não pertence aos Aesir, embora viva com eles (Eu disse que ele não é Aesir)

Filho do gigante Farbauti com a giganta Laufey, (Eu disse que ele é filho de Gigantes)

O primeiro casamento de Loki com a giganta Angrboda gerou quatro criaturas monstruosas, assustadoras e maléficas: Fenrir, o lobo, a grande serpente, Jormungand, O fantasma, angerlus e Hel, a deusa parcialmente decomposta do mundo inferior. Ele teve dois filhos, Vali e Narvi, de um segundo casamento. (Eu tambem disse isso, só não sabia do resto das crias dele...)

Os atalhos das passagens que eu tirei vão dar em paginas da Wikipedia, não tem nada sobre o angerlus, então ignorem esse, vai dar numa pagina vazia.

Agora só faltou a parte dos Vanires...

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Capítulo 3

- abraço

 

O sol começava a deitar no oeste de Prontera. Nas ruas da capital o comentário era um só: a destruição que atingira Glast Heim e Juno. Pessoas debatiam sobre o que seria real e o que seria invenção. Na verdade, não era nada fácil conceber que de Juno não restasse nada, e que a esplendorosa Glast Heim agora era um antro de mortos-vivos.

 

Apesar disso, os guardas de Prontera faziam sua ronda nas muradas do castelo. E ficaram abismados ao notar a multidão que se aproximava, vinda do norte. Eram centenas de pessoas. Conforme se aproximavam, era possível notar quão abatidas estavam. Algumas choravam. Outras estavam sujas e com o semblante desesperançoso. E na frente delas, um grupo se destacava: um templário, uma noviça, um bardo, uma mercenária e uma caçadora.

 

- Depressa, - disse um dos guardas - abram os portões.

 

Em silêncio, aquele séquito fúnebre passou pelos salões do castelo. Os que já ali estavam, ao ver o povo de Juno passando, desesperaram-se, constatando que os boatos eram verdade. A cidade estava destruída completamente.

 

Enquanto o povo foi para o centro de Prontera, incerto do que fazer, o grupo dos cinco parou na sala do trono. Ninguém pediu para que parassem. Mas Julian notou que o Rei, de espreita, observava toda aquela gente passando. E quando a figura real se mostrou, o cavaleiro do dragão ajoelhou-se diante dele.

 

- Estamos de volta de Juno, majestade. Garanto-lhe pela minha honra e pelo nome do senhor Odin de que nenhum ser vivo ou morto conseguirá visitar a cidade novamente.

 

Um silêncio constrangedor imperou ali por alguns momentos. O Rei, porém, ficou observando Julian com muito pesar, como se algo horrível passasse por sua mente. Como se lutasse para se controlar, o Rei deu um passo adiante e, a seguir, recuou. Cerrou os punhos e finalmente estendeu a mão para o templário.

 

- Levante-se, Cavaleiro. Vá descansar, como eu havia lhe recomendado esta manhã. Não há nada que você ou eu possamos fazer para reparar o que aconteceu.

 

Ainda de cabeça baixa, Julian molhou o chão abaixo de sua cabeça, por causa das lágrimas que lhe escorreram. Ficou de pé e sussurrou um “com licença, milorde”, antes de se virar e caminhar para a saída do salão. Parou, porém, ao notar que entrara pela porta seu líder máximo da Ordem do Dragão, Mestre Christian.

 

Paola, ao notar o Lorde, controlou a vontade de ir até ele. Um olhar dele, porém, a fez estacar no lugar. Aren, o falcão de Paola, não deixou de dar um pequeno vôo para pousar no luvão metálico dele.

 

- Mestre, o que está acontecendo? - Julian perguntou com tristeza mesclada a indignação.

 

- Apenas o que tinha que acontecer. É a vontade dos deuses e, nesse caso, somos comandados deles, para que tudo aconteça como eles querem.

 

- Eles nos deram livre arbítrio, senhor. Não posso aceitar que sejamos comandados assim.

 

- Não crê em Odin, Julian?

 

- Sim senhor - respondeu ele, com a cabeça baixa novamente.

 

- Então não questione os desígnios divinos.

 

Christian passou por Julian e andou a passos lentos na direção do Rei. Aparentava estar ferido. Fez um leve movimento de braço e Aren voltou para Paola. Ele não se deu ao trabalho de olhar a Caçadora.

 

- Mestre, - Julian falou de cabeça baixa ainda, de costas - o que aconteceu na Caverna da Aliança? O que aconteceu entre os generais da Ordem e o dragão Oparg?

 

Giu cutucou Maya, que estava do seu lado.

 

- Eu queria ter olhos funcionando - disse baixinho - apenas para ver o rosto do Mestre Christian agora.

 

O Lorde olhou devagar por cima do ombro. Era observado e ouvido pelos cinco, além do Rei e alguns poucos presentes da realeza ali.

 

- Tudo que um exército não pode levar ou usar, Julian, ele destrói. Essa é uma das leis mais conhecidas da guerra.

 

- Senhor, - continuou Julian - Oparg é o mais antigo aliado dos homens no Ragnarok. Sem ele, nenhum de nós estaria aqui - agora Julian tinha se virado e se aproximado de seu líder.

 

- Não precisa me contar minha própria história. Oparg salvou a mim e ao meu grupo no começo de tudo. Fundamos a Ordem do Dragão em sua honra. Sem ele, provavelmente nenhuma cidade teria sido erguida. Não precisa ensinar a oração ao vigário.

 

O Rei, em um momento raro de ser ver, abaixou a cabeça também. Aquelas lembranças incomodavam Tristan, que fora um aventureiro no passado, e que fez parte desse tal grupo que Oparg salvou.

 

- Aconteceu o que tinha que acontecer, Julian. - Christian encarou o templário. Ambos estavam com os olhos marejados - Oparg não pertence mais a este mundo.

 

- Então... então vocês... - o templário de um passo para trás e quase caiu. Lara correu e amparou-o, evitando o tropeço.

 

Christian respirou fundo e encarou o Rei. Voltou o olhar, a seguir, para aquele pequeno grupo.

 

- Os generais da Ordem do Dragão cumpriram seu papel máximo nas escrituras da Aliança, que nunca foram reveladas a ninguém que não fosse o Rei ou menos do que capitão. Chegou o dia do final de tudo, a última noite, e se o Dragão do Bem não pôde ser usado em nome da Justiça, ele foi sacrificado para que não fosse utilizado pelas forças do Mal.

 

- Ei, Maya! - sussurou novamente Giu - Eu ouvi isso mesmo? Um dragão morreu? - o bardo coçou o cavanhaque - Hmm... isso dará uma bela canção.

 

- Eu... peço licença para me retirar, Lorde - o templário estava abalado com as revelações.

 

- Toda, Cavaleiro.

 

Julian se virou. Lara notou que ele estava quase caindo, abalado com o que acontecera nas útlimas horas até aquele momento, e ajudou-o a sair da sala. Maya puxou Giu pelo braço, seguindo a dupla. Paola encarou Christian nos olhos por demorados segundos, antes de respirar fundo e deixar o salão, acompanhando os demais.

 

***

 

Valhalla

 

O menino Tarcon brincava com algo em suas mãos. Sentado na grama verde, o menino jogava algo pequeno de uma mão para outra, entretido. Uma sombra, porém, o fez parar e olhar para trás. Era o irmão de Thor, Loki.

 

- Oi, tio! - disse ele.

 

- Oi, garotinho. Quer brincar um pouco?

 

- Já posso ver meus irmãos? - perguntou enquanto guardava o objeto em seu bolso.

 

- Ainda não. Mas você vai ver alguns amigos seus. Lembra daquela história que te contei? Do cavaleiro desaparecido da Ordem?

 

- Lembro sim, lembro. Era bonita. Ele sumiu numa viagem de barco né?

 

Loki sorriu, ajoelhando ao lado dele.

 

- Sim, menino. O Dragão Vermelho, Cavaleiro da patética Ordem do Dragão Imbecil, que foi para o mar e, dizem, nunca mais foi visto.

 

- Coitado, né?

 

- Sim. E agora vamos brincar disso.

 

Loki fez um movimento de braço, e ele e Tarcon foram levados para outro ponto do Valhalla, uma sala enorme, branca, com uma corredor na parede sul e uma pequena porta dourada com um “1000” em cima, na parede norte. No centro da sala, uma armadura completa e algumas armas.

 

- É hora de fingir que é Dragão Vermelho, Tarcon. Vista-se.

 

Com outro movimento de braço de Loki, Tarcon foi erguido por uma força invisível no ar. Uma luz explodiu rapidamente, e ele não parecia mais um garoto. Agora era um homem adulto, com longa barba vermelha e trançada. O deus da mentira fez um movimento de mão, e a armadura, peça por peça, encaixou-se nele. Por fim, Tarcon caiu de joelhos no chão.

 

- Onde... onde estou? - falou com a voz grave, forte.

 

- Calma, garoto. - a voz de Loki parecia enfeitiçar Tarcon - Ainda está aqui com o tio. Seu amiguinho, Heimdall, foi ao encontro de Odin, e a ponte que ele guarda está desprotegida.

 

Tarcon balançou a cabeça, tentando organizar os pensamentos. Em sua mente embaralhavam-se imagens de uma viagem de navio, com alguns soldados sob seu comando, como general da Ordem do Dragão. Via, então, Heimdall conversando com ele, dando-lhe chá e biscoitos. Tudo se misturava, e com a voz enfeitiçante de Loki, não conseguia firmar o pensamento.

 

- Vou te ajudar a se lembrar, Tarcon. Você estava em uma viagem de barco, mas ele naufragou. E você afundou até as profundezas do mar. Só que as Obeaunes cuidaram de você, atraídas pela sua virilidade. E você foi escravo delas até agora.

 

- Eu... fui?! - a cabeça do agora Cavaleiro doía.

 

- Foi. E você voltou em uma hora propícia. - Loki apontou para a porta dourada - No meio da guerra que virá, você ouvirá minha voz. E então você vai ajudar seu grande amigo, o general Nekrunn Brindgard.

 

- Sim... ajudarei Nekrunn...

 

- Você trará ele até esta sala. Pois Hellen, a bela esposa do general Dragão Negro está ali, esperando ele.

 

- Vou sim, vou trazer Nekrunn para a senhora Hellen.

 

Loki puxou sem modos Tarcon pelos braços, pelo corredor. Tarcon olhou ao redor, e reparou que estava na saída do Templo Escondido.

 

- Agora vá, Dragão Vermelho. Procure seu amigo. Ajude ele. E na hora certa, leve-o até sua esposa.

 

- O-obrigado... tio... Loki...

 

O deus da mentira sorriu e desapareceu da frente de Tarcon. O Cavaleiro olhou ao redor e viu Prontera iluminada naquele começo de noite. Não tinha certeza de como tinha ido parar ali, mas foi até a cidade. E foi sem perceber que um corvo o observava desde o Valhalla.

 

***

 

Nos campos de Prontera, no quadrante 5, Paola estava sentada em uma elevação. Seu falcão repousava no galho de uma árvore. Estava sozinha há alguns minutos, olhando perdida para as águas que passavam um pouco abaixo. O barulho típico da floresta reinava ali, mas ela se virou, com o arco preparado, apontando para o lado.

 

- Calma, sou eu - alguém disse.

 

- Pensei que não viria mais, Chris.

 

A Caçadora soltou o arco e flecha e abraçou Christian. Ele retribuiu, e ficaram assim longos momentos, antes de se beijarem.

 

- Se eu tivesse te perdido com Juno, não sei o que faria, Paola.

 

- Faria o que te faz líder, Chris. Continuaria lutando.

 

Em silêncio, devagar, ele se sentou na grama. Paola sentou-se do seu lado e passou os braços em volta de um dos braços dele, abraçando-se ao amado.

 

- É verdade? Vocês mataram Oparg?

 

- Sim. O que falei é verdade. O dragão morreu lutando com os oito generais da Ordem do Dragão.

 

Christian deixou o elmo de lado. Deitou a cabeça no colo de Paola e ficou fitando os campos de Prontera, até a murada da cidade, para onde estavam virados. Ela, murmurando uma canção que ouvira de Giuseppe, fazia carinho nos cabelos dele.

 

- Sabe, Paola, a guerra nos força a escolhas difíceis.

 

- É verdade, amor.

 

Christian soltou a espada da bainha. Paola pegou a arma e observou. Conhecida popularmente como “Língua de Fogo”, aquela não era uma simples arma elemental. Se houvesse uma classificação entre as armas elementais, aquela podia ser considerada a elite. Empunhadura vermelha, lâmina dourada, impecável e com brilho próprio. E mais do que isso tudo, aquela espada era a “pedra fundamental” da Ordem do Dragão. Fora Oparg, em uma cerimônia com as Valquírias do Valhalla, quem forjara ela e a entregara como presente para os homens, em sinal da aliança entre o Dragão Sábio e os membros da Ordem que protegeria os reinos. Seu nome era “Flanamir”, a Espada da Aliança.

 

Christian reparou no olhar dela na espada. Suspirou e fechou os olhos.

 

- É irônico pensar que o golpe final que matou Oparg veio da arma que ele próprio forjou. Irônico e triste.

 

No mesmo instante Paola soltou a espada e abraçou forte Christian, calada. Ele se livrou com carinho do abraço e se levantou. Puxou-a para ficar de pé também. Aren soltou um granido e levantou vôo, afastando-se para deixá-los em paz.

 

- Paola... - disse ele, segurando as duas mãos dela - ... acredita que devemos preservar o que amamos em tempos difíceis, como a guerra?

 

- Sim, é claro. O amor é a base de tudo, Chris.

 

O Cavaleiro olhou para a noite que começava. Engoliu seco, lembrando-se de coisas que sabia e que não tinha compartilhado com ninguém, a não ser seus generais, capitães e o Rei.

 

- Sabe, a guerra vai começar em breve. Na verdade, meu amor, vai começar em algumas horas - disse ele.

 

- Tem certeza disso? - ela se aproximou e encostou a cabeça no peito dele, de olhos fechados.

 

- Sim, tenho tanta certeza de que ela vai começar em algumas horas do mesmo jeito que tenho certeza de que amo você.

 

- Eu também amo você, Chris.

 

- Se eu te pedir para não lutar na guerra e fugir, o que você me diria?

 

- Eu diria que apenas morta não iria lutar do seu lado.

 

Christian abraçou mais forte Paola. Olhou para o céu com os olhos avermelhados. Lágrimas escorriam aos montes deles. Seu coração disparou.

 

- Eu sou um dos homens mais visados deste reino, Paola. E meus inimigos atacarão primeiro as pessoas que amo.

 

- Estou incluída nisso? - ela riu baixinho, se divertindo com aquilo, ainda abraçada a ele.

 

- Você está no topo da lista apenas, amor - respondeu, quase chorando.

 

- Nada que três Armadilhas, duas Rajadas de Flechas e um Ataqe Aéreo não resolvam querido! - brincou, apertando mais o amado.

 

- Não posso ter fraquezas nessa guerra vindoura, Paola. Nada pode me abalar. Eu serei a força e exemplo de todos que me seguirão na pior das batalhas. Não posso errar em minhas escolhas.

 

- Você é uma fortaleza, Chris. Vou sempre me orgulhar das suas decisões, “meu líder” - Paola beijou o peito dele e abraçou-o de olhos fechados.

 

- Fico feliz que me entenda. E saiba que eu te amo. Para sempre.

 

Christian, com a mão esquerda, levantou o rosto de Paola e a beijou. Ficaram assim alguns momentos, até que Paola arregalou os olhos. Sua boca se abriu, descrente com a dor que sentia. Seu corpo amoleceu. Ela tentou falar, mas não conseguiu.

 

- Espere por mim no Valhalla, amor - disse Christian, acabando-se em lágrimas, com os lábios trêmulos - eu... eu vou até você... quando tudo acabar eu... eu vou...

 

Paola tentou se soltar do abraço de Christian, mas não conseguiu. Ele tinha uma Damascus escondida no bracelete da armadura. E agora a lâmina da adaga estava enterrada até o talo nas costa da Caçadora, sob o coração dela. O sangue quente escorreu das costas até as pernas, e começou a pingar na grama.

 

- P... por... q... - a voz dela não saia, com os olhos cheios de lágrimas. Conforme tentava falar, sangue saía de sua boca.

 

- Aqui eu te salvo do destino previsto. Oferto o meu coração e minha única fraqueza, que é a mulher que amo. E torno-me o guerreiro perfeito, para morrer como foi determinado nesta guerra que encerrará esta Era. Desse modo - continuou ele, em meio às lágrimas - eu a poupo do final que lhe fora profetizado.

 

A Caçadora usou o resto de suas forças para levantar o braço direito. Deu um tapa muito, muito fraco no rosto de Christian. Os dedos deslizaram pelo pescoço dele, até encontrarem o Rosário pendurado no pescoço dele. A cabeça pendeu para o lado. Seus olhos, ainda abertos, agora fitavam o nada, sem vida. E naquele lugar, sozinho, Christian ajoelhou-se e abraçou forte o cadáver, chorando no meio da escuridão da noite. E a lâmina de Flanamir, talvez por indignação, talvez por tristeza, apagou-se.

 

***

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Duas perguntas:

1- Essa historia vai se cruzar com a do Nekrunn "O Homem que foi invejado por um Deus"? (não lembro o nome direto mas acho que é assim.

2- foi você que escreveu essa historia?

Um comentario:

Isso sim é uma guerra de verdade, em que as pessoas fazem escolhas tão dolorosas que parece preferivel desistir e se entregar à desesperança (desesperança não é desespero, é apatia, desistencia e sofrimento interior).

Parece até uma novela... o capitulo acaba na melhor parte e agente fica se roendo de curiosidade pra ver o proximo...

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Que bom que estão gostando! :)

 

Essa história é bem legal.

vc modificou algo nela, ou apenas está postando novamente?

eita faz tempo que eu li essa /heh

 

 

Eu to fazendo modificações mínimas. Quando eu escrevi a original, ainda não tinha Heritage aqui. Então os Lordes eram "Lorde Cavaleiros", essas coisas! Também incluí uma ou outra referência das novas cidades. E um dos Epílogos, que mostra o começo da Ordem do Dragão na Era atual, vai mudar um pouquinho. Assim, vou mudar o jeito que algumas cenas acontecem, pra manter a coerência com os contos que mostraram que o Leafar que renasceu a OD atual, na verdade, era um clone. Só pra quem ler as duas histórias, nesse epílogo, encontrar as pistas (que não coloquei na época, para não perder a graça da descoberta).

 

Duas perguntas:

1- Essa historia vai se cruzar com a do Nekrunn "O Homem que foi

invejado por um Deus"? (não lembro o nome direto mas acho que é assim.

2- foi você que escreveu essa historia?

Um comentario:

Isso sim é uma guerra de verdade, em que as pessoas fazem escolhas

tão dolorosas que parece preferivel desistir e se entregar à

desesperança (desesperança não é desespero, é apatia, desistencia e

sofrimento interior).

Parece até uma novela... o capitulo acaba na melhor parte e agente fica se roendo de curiosidade pra ver o proximo...

 

Obrigadão pelo comentário! A idéia é manter mesmo o interesse... eu quase coloquei um "Cenas do próximo capítulo"! Hehehehe! E acho que o clima de guerra é meio que assim mesmo. Quando você assume algo maior que você, gera esse conflito do pessoal e do coletivo. E é inevitável se mergulhar em dúvidas e remorso por cada atitude tomada. Não importa o que você escolha: alguém vai se ferir. E você vai ter que viver com isso para sempre.

 

1 - Essa história cruza e antecede a história do Nekrunn. O Diogo (o jogador do Nekrunn) escreveu a "O mortal que foi invejado por um deus" depois que eu terminei o Eclipse Final original. Ajudei ele a sincronizar alguns acontecimentos pra ficar coerente.

 

2 - Eu escrevi o Eclipse. O Diogo escreveu a do mortal invejado por um deus. Ele só me mandava os capítulos até onde encontrava com o Eclipse ou tinha alguma referência pra ver se tava tudo beleza! :)

 

Mais tarde eu posto o próximo capítulo!

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Leafar eu nao estranharia se daqui a alguns anos vissemos o seu nome em um livro nas livrarias [:D]

 

Amém! *-*

 

Capítulo 4

- O Primeiro Sinal

 

A noite finalmente caíra sobre Prontera. Os sobreviventes de Juno amontoavam-se nas ruas, buscando algum lugar para dormir. As bancas de frutas estavam vazias. O Rei Tristan tinha liberado comida e água para todos, garantindo ao menos um pouco de conforto para aquela gente sofrida.

 

A luzes da cidade estavam todas acesas. E uma dessas luzes era a da sala de Julian, na igreja de Prontera. Respeitando seus votos de ajudar ao próximo, o templário tinha cedido seus aposentos no castelo para vítimas de Juno. Ele tinha deitado no chão, segurando firme o Rosário. Perto dele, Maya, Lara e Giu descansavam também. Na verdade, nenhum dos quatro tinha conseguido dormir. Tentavam convencer o corpo de que o sono lhes faria bem. Mas era impossível alguém conseguir fechar os olhos diante da destruição que presenciaram.

 

Devagar, a porta de madeira da sala foi aberta. Lara, que tinha as adagas ocultas sob uma almofada, apertou as mãos nelas, pronta para atacar. Mas seus dedos se afrouxaram ao reconhecer o general Dragão Negro.

 

- General Nekrunn - disse Julian, levantando devagar o corpo, colocando-se sentado.

 

- Saudações a todos - disse ele, olhando ao redor - e lamento que tenham que viver no meio dessa desgraça. Três cidades destruídas em menos de dez horas...

 

- Como assim, TRÊS? - Giu nervosamente pegou a cítara e buscou dedilhar as cordas para se acalmar. Porém, o instrumento ainda estava sem sua parte vital, quebrada por Julian na queda de Juno.

 

- Ainda não estão sabendo? Há quanto tempo estão nessa sala?

 

Maya abaixou a cabeça, olhando para o chão. Lara virou-se para a janela. Giu posicionou a cabeça de modo que seu ouvido ficasse virado para Nekrunn. E Julian levantou-se em silêncio, contendo o desespero visível em seus olhos. O general continuou falando.

 

- Glast Heim virou o lar de criaturas mortas-vivas. Juno e Amatsu foram destruídas, não restou nem pó. E a Ilha da Tartaruga afundou no mar.

 

- Amatsu também? - Lara se virou, olhando descrente o templário.

 

- A Ilha da Tartaruga... afundou... - o bardo engoliu seco e encostou na parede, com um suspiro de profunda tristeza.

 

Julian foi até a janela e olhou a cidade. Prontera estava lotada. As ruas mostravam-se quase intransponíveis, de tanta gente que tinha ali. Além do povo de Juno, agora o de Amatsu também se aglomerava na capital, como se ali houvesse uma chance de redenção ou sobrevivência.

 

Sob o silêncio dos demais, olhou a escrivaninha. Foi até ela e sentou-se. Com calma, abriu a primeira gaveta. Puxou um livro de capa de couro marrom. Abriu-o em seguida da última página escrita. Pegou tinta, pena e começou a escrever. Nekrunn, curioso, se aproximou para ver.

 

- Essa é uma promessa que fiz à Valquíria Brünhilde. - explicou Julian - Há mais ou menos um mês estou relatando coisas e explicando acontecimentos neste diário.

 

Nekrunn não disse nada. Virou-se para sair, e sentiu um terrível frio na espinha ao ver quem estava na sua frente, na porta aberta. Era o general Dragão Vermelho, Tarcon Belmont. Julian parou de escrever, atônito, ao ver o irmão que estava desaparecido há meses.

 

- Onde você esteve? - Nekrunn perguntou, admirado.

 

- Eu... me perdi. - respondeu Tarcon, olhando agora Julian - Meu barco naufragrou. Estive como escravo das Obeaunes, até que consegui fugir.

 

- Irmão! - Julian se levantou e prontamente abraçou o cavaleiro.

 

Tarcon não abraçou com a mesma ênfase que Julian, com o olhar um pouco perdido. Nekrunn o observou curioso, imaginando que tipo de aventuras teriam acontecido com o Dragão Vermelho.

 

- Eu vim no momento crucial, Nekrunn. - disse Tarcon, agora soltando-se de Julian - Os inimigos de Odin atacarão, pois esta é a noite da profecia. A noite mais longa do século.

 

- Veio em boa hora, general. - o Dragão Negro respondeu com firmeza, feliz de rever o amigo - Vamos, temos que nos reunir com os demais, para traçar nossas estratégias.

 

- Sim. - Tarcon virou-se para Julian - Eu voltarei outra hora para conversarmos, Julian. Com licença.

 

Nekrunn e Tarcon se retiraram, conversando. Julian respirou aliviado por ver que não perdera outro irmão, e voltou a se concentrar nas páginas que escrevia. Lara, porém, saiu da sala discretamente, seguindo a dupla.

 

***

Cemitério de Geffen

 

Diante da eminente guerra, até a paz do cemitério sob a torre estava abalada. E entre túmulos e jazigos, o deus da mentira caminhava sob a forma de um de seus avatares prediletos - um guerreiro alto, com dois machados de lâmina dupla nas costas e um elmo pesadíssimo de ouro, com chifres enormes.

 

Foi até as profundezas, na mais afastada cripta, e com desdém, leu o nome ali gravado.

 

- Conde Vladmir Tepes. Vulgo Drácula. Oh, que cliché!

 

Com dois golpes dos machados, Loki destruiu o tampão de cimento que tapava a entrada.

 

- Luz, por favor? - sorrindo, deu dois tapinhas com as mãos. Um globo de luz surgiu girando em volta dele.

 

Desceu alguns metros de escada e percorreu um labirinto, até encontrar um enorme caixão negro e vermelho. Sem o menor cuidado, pegou o caixão e arremessou-o na parede, estilhaçando-o.

 

- Amigui-nhooo! Adivinha quem veio para o jantar? Eu!

 

Remexeu a madeira destruída e viu o corpo decomposto de Drácula. Fez uma cara de nojo e simulou que ia vomitar. Parou então, encarando os restos do vampiro.

 

- Patético. E uma criatura como você ainda se julga boa o suficiente para “apavorar” os mortais. Bah! Você é uma negação!

 

Loki apoiou-se no que um dia foi o peito de Drácula, e acabou afundando o pé nele.

 

- Ops! Tá flácido hein? Olha a falta que umas abdominais fazem a uma pessoa! Hahahahahahaha!

 

O deus arrancou o pé do peito do cadáver e fez sua melhor cara de compreensivo - na verdade, tentou. Seu sorriso denunciava o cinismo em cada milímetro de seu rosto.

 

- Bom, chega de graça. Aposto que você é meio frustrado, não? Eu digo, reviver a cada dez anos e ficar vivo apenas uma noite, quando os Belmont te matam, sei lá, deve ser... medíocre! Hahahahahaha!

 

Loki puxou a manga de sua camisa e deixou o braço à mostra. Abaixou-se ao lado de Drácula e murmurou perto de onde supostamente seria a orelha dele.

 

- O último que te matou, o Julian, ainda está vivo, sabia? É... não morreu na guerra de Geffen. O desgraçado tem, como dizem algumas religiões, o santo forte. Que coisa, não?

 

Com a unha, Loki cortou levemente sua pele. Pegou uma gota do seu sangue e passou no canino podre e sujo de Drácula. As órbitas oculares do crânio brilharam.

 

- Aaaaah, seu safadinho! Sabia que estava me ouvindo! Gostou do trago? Sangue de divindade é assim. Levanta até defunto, literalmente! Hahahahahaha! Está pronto para se vingar? Olha só que chance, hein? Menos de dez anos e o senhor “eu tenho dentes grandes” vai poder dar o troco!

 

Com um sorriso insano, Loki rasgou o próprio braço. Seu sangue divino escorreu por cima do crânio putrefato, que começou a ganhar vida. Carne e pele começaram a surgir e se restaurar, sob a risada maléfica do deus das mentiras. Em alguns instantes, Drácula estava de pé, com a pele branca, cabelos emaranhados e olhar de maníaco, maravilhado em estar de volta.

 

- Eu vou - falou, com a voz espectral e os caninos à mostra - destroçar o Belmont!

 

- Naaa nananananaa! - Loki fez cara de reprovação, como se estivesse falando com uma criança idiota - Você sempre perde porque é burro. E dessa vez você vai fazer amizade com aquele amiguinho ali.

 

Drácula olhou para as sombras e viu que tinha alguém ali. Sorriu quando reconheceu quem era, e olhou para Loki satisfeito.

 

- Isso, - disse Loki - agora divirtam-se. Vão arrasar e destruir alguma cidade, para chamar a atenção dele. E não se preocupe com o nascer do sol. A luz solar não tocará Midgard por um bom tempo.

 

E enquanto se afastava, Loki sussurrou para si próprio.

 

- E se depender de mim, não brilhará nunca mais.

 

***

Tarcon e Nekrunn conversavam sobre estratégias de guerra. Tarcon evitava a todo custo falar onde esteve ou o que lhe acontecera nos últimos meses. E nesse tom a conversa seguiu, até ser interrompida pela entrada na sala de reuniões de Christian. Seu semblante era o mais sereno e sombrio possível.

 

- Tarcon, - disse com a voz seca - bem-vindo de volta.

 

Um olhar ao redor revelou que apenas os três estavam ali.

 

- Senhor, - disse Nekrunn, preocupado - o senhor está bem?

 

Christian respirou fundo, e apesar de tentar se conter, uma lágrima escorreu em seu rosto, entregando-o.

 

- Paola nos aguarda pós-guerra no Valhalla.

 

Os generais ficaram em silêncio e se entreolharam. Voltaram então seu olhar para Christian.

 

- Com a partida dela, garanto a vocês que seu Mestre está pronto para a batalha da profecia. A mulher que amo está morta. Nada mais me resta nessa vida. Nada vai distrair meu pensamento ou chantagear meu coração.

 

Nekrunn reparou no sangue mal lavado nas mãos de Christian e engoliu seco. Tarcon também notou, mas não falou nada.

 

- Se me permite, senhor, - disse o Dragão Negro - eu vou ali no canto da sala orar pela alma de Paola.

 

Christian assentiu com a cabeça. Tarcon olhou os dois passarem por ele e franziu a testa. Pegou então algo no bolso de trás de sua calça, por baixo da armadura. Era um pequeno embrulho em formato redondo. Olhou aquilo, tentando se lembrar por que tinha ele em seu poder, e sua cabeça doeu.

 

- Tarcon, - disse Christian, com a voz forte - reúna os demais generais e capitães. Devemos estar todos prontos quando surgir do céu o Primeiro Sinal!

 

- Claro, senhor, agora mesmo.

 

Na pressa em sair e cumprir a ordem, Tarcon errou o bolso, e o objeto embrulhado caiu no chão. Saiu afobado e deixou a porta entreaberta. Subitamente, o objeto sumiu do chão. A porta fora ligeiramente mais aberta. E momentos depois, no corredor, Lara surgiu, saindo de seu esconderijo furtivo. A mercenária correu de volta para a sala de Julian, segurando algo.

 

***

Sob o olhar de Maya, Julian tinha fechado o diário. Agora o enrolava com uma espessa capa de couro, e o deixava bem preso e protegido. Colocou-o então em sua bolsa de campanha.

 

A porta da sala foi aberta com força. Lara entrou rapidamente e foi até a mesa.

 

- Paola está morta! - disse ela, indignada.

 

- O que? - Giu, que estava distraído, voltou sua atenção para Lara.

 

- Sua irmã morreu, Giu. Christian sabe o que aconteceu, mas não falou. Eu tive que sair da sala antes que minha habilidade falhasse e me descobrissem.

 

O bardo abraçou a cítara e começou a chorar. Primeiro, foram apenas suspiros baixos. Eles foram aumentando gradativamente, até culminarem em um grito, seguido por um choro alto e forte, doído. Maya prontamente andou até o bardo e se ajoelhou do lado dele. Abraçou-o forte, penalizada.

 

Antes que Julian tivesse qualquer reação, Lara pegou o embrulho e mostrou para o templário. Ele o analisou e seus olhos se arregalaram.

 

- COMO você conseguiu isso?

 

- Estava com Tarcon. Ele parece abalado, perturbado.

 

Rapidamente ele se levantou e pegou um livro em sua estante. Folheou e comparou o objeto em suas mãos com o que estava desenhado. A semelhança era perfeita.

 

- “Semente de Yggdrasil, a árvore da vida”. - começou a ler - “Se plantada em solo fértil e bento, gerará uma extensão de Yggdrasil, cujas folhas são capazes de trazer os mortos de volta”.

 

Ao ouvir isso, Giu pulou desesperado em cima de Julian. O templário jogou a semente para Lara momentos antes de ser derrubado pelo bardo desesperado.

 

- Dá! Me dá isso! Vou plantar essa árvore e trazer Paola de volta!

 

- Giu, acalme-se! - Julian se levantou e segurou o bardo pelos braços - Onde está seu bom senso, homem? Plantar uma árvore não é algo assim, instantâneo! Ela leva ANOS para crescer! Não há nada que possa ser feito agora!

 

O bardo se desesperou mais ainda e começou a gritar. Ficou se debatendo. Maya sussurrava “calma, por favor”, mas não era ouvida. Sem condições, Julian deu um murro na cara do cego, fazendo-o o tombar no chão. O contato com o chão gelado fez Giu se acabar em lágrimas, encolhido, chorando. Maya e Lara olharam assustadas para Julian. O templário ajoelhou, com o Rosário nas mãos e fechou os olhos.

 

- Perdoa-me, Odin, pela agressão que cometi a meu irmão. Dá calma a alma dele e paz a todos nós, lorde que nos vigia do Valhalla.

 

- O que mais falta acontecer? - Maya perguntou, enquanto invocava sua Cura no bardo.

 

Repentinamente a porta da sala se abriu. Era um Espadachim da Ordem do Dragão. Olhou a todos rapidamente, até parar o olhar em Julian, que era quem procurava.

 

- Mestre Christian quer vê-lo agora.

 

Julian olhou para Maya e Giu. Viu que a noviça cuidava do bardo. Foi então atrás do Espadachim, que tinha corrido. Lara, a exemplo do que fez com Tarcon e Nekrunn, correu atrás deles.

 

***

Com dificuldade, o Espadachim, Julian e Lara chegaram até a sala de reuniões. Agora até mesmo o castelo estava lotado de gente. Julian passou pela porta. Um guarda ia barrar Lara, mas Julian olhou feio, possibilitando a entrada dela ali. Os dois foram até o líder Dragão Dourado, Christian, que estava do lado do Rei Tristan. Para surpresa de ambos, o rei estava trajado em roupa de batalha, como o Lorde que sempre fora.

 

- Julian, - adiantou-se Christian - não vamos perder tempo. Preciso que cumpra uma última missão.

 

- Pois não, senhor.

 

- O Primeiro Sinal surgiu. A guerra começou.

 

- Onde foi o sinal, meu lorde?

 

- Payon. A cidade está sob ataque.

 

Julian ficou ouvindo com atenção. Christian parou de falar por um momento e observou o templário. Prosseguiu, então.

 

- Sabe, eu prometi a seus pais que nenhuma missão seria maior do que a da sina da sua família. Seu legado é destruir o mal ao qual foi incumbido. E assim será.

 

- Não me diga que... - Julian deu um passo adiante, descrente.

 

- Seu inimigo o aguarda em Payon. Boa sorte, Cavaleiro do Dragão.

 

O mestre deu as costas para Julian, para continuar falando com o rei. Nekrunn olhou preocupado.

 

- Senhor, - disse Nekrunn, depois de chamar a atenção de Christian - vai enviar Julian sozinho para enfrentar o Primeiro Sinal? Não seria bom mandar mais gente com ele?

 

- O Primeiro Sinal não é nada comparado aos demais, general. - respondeu o mestre - Mesmo que Julian falhe, a maior das batalhas acontecerá aqui, em Prontera. E não temos tempo ou forças disponíveis para essas maldições familiares.

 

- Peço sua autorização para ir com ele, senhor.

 

- Negada. Você ficará do meu lado esperando o Quinto Sinal. Cavaleiro, - Christian olhou uma última vez para Julian - boa sorte.

 

- Com licença senhores, preciso partir.

 

Ao dizer isso, Julian virou-se e correu. Lara encarou Nekrunn e Christian, e acompanhou o templário de volta para seus aposentos.

 

- Julian! - Maya gritou desesperada ao ver o templário e Lara entrarem - Giu foi embora!

 

Ele não respondeu. Empurrou uma estante para o chão, revelando um cofre. Mexeu rapidamente no botão com números, girando-o para os lados. Abriu-o e pegou uma carta com um Angeling desenhado nela. A seguir, foi até um dos cantos da sala, onde uma armadura repousava em um suporte. Pela bela aparência, a armadura parecia bem refinada. Ele encaixou a carta no lugar, e começou a vesti-la. Olhou para a Noviça, que entendeu que ele queria sua ajuda. Ela começou a apertar as amarras das placas, enquanto ele olhava para os escudos na parede, escolhendo qual o acompanharia.

 

- Onde você vai? - perguntou a noviça, em tom quase desesperador.

 

- Para Payon. Drácula está lá. Ele é o primeiro sinal.

 

- Deixa eu ir com você!

 

- Não! É minha sina enfrentar ele!

 

Por fim, foi até a parede e pegou o terceiro escudo de uma série deles, enfileirados. Era possível notar o contorno de um Khalitzburg gravado em sua superfície. Virou-se, mas Maya estava em sua frente.

 

- Eu não sou útil aqui... não há nada que eu possa fazer! Por favor, Julian! Por favor!

 

A garota ficou de joelhos e cruzou as mãos, implorando para ir junto. O templário virou-se para Lara, que respondeu com um olhar. Julian então levantou Maya e deu uma sacola para ela.

 

- Coloque tudo que achar útil e vamos.

 

Virou-se para Lara e falou em um tom mais baixo.

 

- Não sei o que acontecerá nas próximas horas. Nem comigo, nem com todos nós. Plante essa semente de Yggdrasil, Lara.

 

- Faria isso mesmo que não me pedisse. Boa sorte, Julian.

 

A mercenária deixou a sala e sumiu nos corredores do castelo. Em mais alguns minutos, Julian e Maya tentavam atravessar Prontera. Ele segurou a garota firme e foi até o criador de Pecos. Quase não conseguiu dois, de tanta gente solicitando os animais. Demoraram meia hora para cruzar a cidade, até a saída sul. Montaram nos Pecos e foram para Payon a toda velocidade.

 

***

 

- Fogo!!!!

 

Dezenas de flechas flamejantes cortavam o ar, na direção de Drácula. O vampiro se acabava de rir com o ataque de dezenas de arqueiros e caçadores.

 

- Fogo, contra mim? Estão lendo livros demais! Mwahahaha!

 

Um a um, os arqueiros e caçadores iam tombando sob os ataques do vampiro. A resistência de Payon tornava-se inútil contra ele, enquanto as chamas consumiam parte do castelo e das casas.

 

E em meio às chamas e escombros na entrada, um par de Pecos entrou. Drácula parou o ataque e sorriu, com os caninos à mostra. Julian e Maya desceram de suas montarias e encararam o vampiro. O templário, empunhando firmemente seu escudo, correu. Sua capa balançou gloriosa enquanto corria, dando a quem via aquela cena um fio de esperança. Parou a corrida cravando uma das botas na frente, e apontou a espada para o morto-vivo.

 

- Morra, monstro! Você não pertence a este mundo! - gritou Julian*.

 

- Ha! Não foi pelas minhas mãos que retornei! Fui chamado aqui por pessoas que quiseram me pagar tributo!

 

- Tributo? Você rouba as almas dos homens e os torna seus escravos!

 

- Talvez o mesmo possa ser dito de todas as guildas e seus líderes... - o vampiro sorriu, cínico.

 

- Suas palavras são vazias como a sua alma! O homem não precisa de um demônio como você!

 

- O que é um homem? Uma pilha miserável de segredos, não é, Belmont? Mas chega de falar! É hora da minha revanche!

 

Drácula ergueu as mãos para o alto. Da terra, dezenas de Carniçais surgiram, avançando contra a dupla.

 

- Oh meu deus! OMG! - Maya desesperou-se - Cura! Cura! Cura! Julian, não vou conseguir!

 

Como podia, Maya começou a invocar sua Cura nos mortos-vivos. Não estava fazendo muito efeito, já que eles eram fortes e ela não tinha muito poder. Julian fechou os olhos. Sua capa balançou com a energia que concentrou.

 

- Abaixe-se atrás de mim. - falou baixinho.

 

Quando estavam cercados e a primeira criatura atacou, Julian abriu os olhos e proferiu o nome de sua técnica sagrada mais poderosa.

 

- CRUX... MAGNUM!! - sua voz saiu forte de sua boca, em um misto de fé e determinação.

 

Uma grande cruz luminosa se riscou no chão e explodiu para o alto. Os gemidos dos Carniçais cessaram junto com a luz, que tinha limpado a área, desintegrando todos. A armadura de Julian brilhou, mostrando que o dano de retorno não o tinha pego, graças à carta que usava.

 

O templário sacou a espada e correu na direção de Drácula. Estacou, porém, pasmo. Maya, que se levantava, olhou Julian parado e se espantou. Foi até o lado dele e viu a mesma coisa que o Templário. Seu coração acelerou ao reconhecer o rosto do Caçador que surgira das sombras.

 

- Não pode ser... - Julian ficou boquiaberto ao ver quem estava do lado do vampiro.

 

- Meu... meu amor... - Maya caiu de joelhos - ... Edan!

 

Junto com um trovão que explodiu no céu escuro, Drácula riu com vontade. Edan não disse nada. Apenas sacou seu arco, e sob o olhar do estático irmão, mirou e disparou.

 

***

 

*Nota do autor: a troca de frases é uma adaptação do diálogo inicial do jogo “Castlevania: Symphony of The Night”, entre Richter e Drácula. Pequena homenagem a esta série que tanto gosto. ;)

 

***

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Leafar eu nao estranharia se daqui a alguns anos vissemos o seu nome em um livro nas livrarias [:D]

 

Amém! *-*

 

Capítulo 4

- O Primeiro Sinal

 

A noite finalmente caíra sobre Prontera. Os sobreviventes de Juno amontoavam-se nas ruas, buscando algum lugar para dormir. As bancas de frutas estavam vazias. O Rei Tristan tinha liberado comida e água para todos, garantindo ao menos um pouco de conforto para aquela gente sofrida.

 

A luzes da cidade estavam todas acesas. E uma dessas luzes era a da sala de Julian, na igreja de Prontera. Respeitando seus votos de ajudar ao próximo, o templário tinha cedido seus aposentos no castelo para vítimas de Juno. Ele tinha deitado no chão, segurando firme o Rosário. Perto dele, Maya, Lara e Giu descansavam também. Na verdade, nenhum dos quatro tinha conseguido dormir. Tentavam convencer o corpo de que o sono lhes faria bem. Mas era impossível alguém conseguir fechar os olhos diante da destruição que presenciaram.

 

Devagar, a porta de madeira da sala foi aberta. Lara, que tinha as adagas ocultas sob uma almofada, apertou as mãos nelas, pronta para atacar. Mas seus dedos se afrouxaram ao reconhecer o general Dragão Negro.

 

- General Nekrunn - disse Julian, levantando devagar o corpo, colocando-se sentado.

 

- Saudações a todos - disse ele, olhando ao redor - e lamento que tenham que viver no meio dessa desgraça. Três cidades destruídas em menos de dez horas...

 

- Como assim, TRÊS? - Giu nervosamente pegou a cítara e buscou dedilhar as cordas para se acalmar. Porém, o instrumento ainda estava sem sua parte vital, quebrada por Julian na queda de Juno.

 

- Ainda não estão sabendo? Há quanto tempo estão nessa sala?

 

Maya abaixou a cabeça, olhando para o chão. Lara virou-se para a janela. Giu posicionou a cabeça de modo que seu ouvido ficasse virado para Nekrunn. E Julian levantou-se em silêncio, contendo o desespero visível em seus olhos. O general continuou falando.

 

- Glast Heim virou o lar de criaturas mortas-vivas. Juno e Amatsu foram destruídas, não restou nem pó. E a Ilha da Tartaruga afundou no mar.

 

- Amatsu também? - Lara se virou, olhando descrente o templário.

 

- A Ilha da Tartaruga... afundou... - o bardo engoliu seco e encostou na parede, com um suspiro de profunda tristeza.

 

Julian foi até a janela e olhou a cidade. Prontera estava lotada. As ruas mostravam-se quase intransponíveis, de tanta gente que tinha ali. Além do povo de Juno, agora o de Amatsu também se aglomerava na capital, como se ali houvesse uma chance de redenção ou sobrevivência.

 

Sob o silêncio dos demais, olhou a escrivaninha. Foi até ela e sentou-se. Com calma, abriu a primeira gaveta. Puxou um livro de capa de couro marrom. Abriu-o em seguida da última página escrita. Pegou tinta, pena e começou a escrever. Nekrunn, curioso, se aproximou para ver.

 

- Essa é uma promessa que fiz à Valquíria Brünhilde. - explicou Julian - Há mais ou menos um mês estou relatando coisas e explicando acontecimentos neste diário.

 

Nekrunn não disse nada. Virou-se para sair, e sentiu um terrível frio na espinha ao ver quem estava na sua frente, na porta aberta. Era o general Dragão Vermelho, Tarcon Belmont. Julian parou de escrever, atônito, ao ver o irmão que estava desaparecido há meses.

 

- Onde você esteve? - Nekrunn perguntou, admirado.

 

- Eu... me perdi. - respondeu Tarcon, olhando agora Julian - Meu barco naufragrou. Estive como escravo das Obeaunes, até que consegui fugir.

 

- Irmão! - Julian se levantou e prontamente abraçou o cavaleiro.

 

Tarcon não abraçou com a mesma ênfase que Julian, com o olhar um pouco perdido. Nekrunn o observou curioso, imaginando que tipo de aventuras teriam acontecido com o Dragão Vermelho.

 

- Eu vim no momento crucial, Nekrunn. - disse Tarcon, agora soltando-se de Julian - Os inimigos de Odin atacarão, pois esta é a noite da profecia. A noite mais longa do século.

 

- Veio em boa hora, general. - o Dragão Negro respondeu com firmeza, feliz de rever o amigo - Vamos, temos que nos reunir com os demais, para traçar nossas estratégias.

 

- Sim. - Tarcon virou-se para Julian - Eu voltarei outra hora para conversarmos, Julian. Com licença.

 

Nekrunn e Tarcon se retiraram, conversando. Julian respirou aliviado por ver que não perdera outro irmão, e voltou a se concentrar nas páginas que escrevia. Lara, porém, saiu da sala discretamente, seguindo a dupla.

 

***

Cemitério de Geffen

 

Diante da eminente guerra, até a paz do cemitério sob a torre estava abalada. E entre túmulos e jazigos, o deus da mentira caminhava sob a forma de um de seus avatares prediletos - um guerreiro alto, com dois machados de lâmina dupla nas costas e um elmo pesadíssimo de ouro, com chifres enormes.

 

Foi até as profundezas, na mais afastada cripta, e com desdém, leu o nome ali gravado.

 

- Conde Vladmir Tepes. Vulgo Drácula. Oh, que cliché!

 

Com dois golpes dos machados, Loki destruiu o tampão de cimento que bloqueava a entrada.

 

- Luz, por favor? - sorrindo, deu dois tapinhas com as mãos. Um globo de luz surgiu girando em volta dele.

 

Desceu alguns metros de escada e percorreu um labirinto, até encontrar um enorme caixão negro e vermelho. Sem o menor cuidado, pegou o caixão e arremessou-o na parede, estilhaçando-o.

 

- Amigui-nhooo! Adivinha quem veio para o jantar? Eu!

 

Remexeu a madeira destruída e viu o corpo decomposto de Drácula. Fez uma cara de nojo e simulou que ia vomitar. Parou então, encarando os restos do vampiro.

 

- Patético. E uma criatura como você ainda se julga boa o suficiente para “apavorar” os mortais. Bah! Você é uma negação!

 

Loki apoiou-se no que um dia foi o peito de Drácula, e acabou afundando o pé nele.

 

- Ops! Tá flácido hein? Olha a falta que umas abdominais fazem a uma pessoa! Hahahahahahaha!

 

O deus arrancou o pé do peito do cadáver e fez sua melhor cara de compreensivo - na verdade, tentou. Seu sorriso denunciava o cinismo em cada milímetro de seu rosto.

 

- Bom, chega de graça. Aposto que você é meio frustrado, não? Eu digo, reviver a cada dez anos e ficar vivo apenas uma noite, quando os Belmont te matam, sei lá, deve ser... medíocre! Hahahahahaha!

 

Loki puxou a manga de sua camisa e deixou o braço à mostra. Abaixou-se ao lado de Drácula e murmurou perto de onde supostamente seria a orelha dele.

 

- O último que te matou, o Julian, ainda está vivo, sabia? É... não morreu na guerra de Geffen. O desgraçado tem, como dizem algumas religiões, o santo forte. Que coisa, não?

 

Com a unha, Loki cortou levemente sua pele. Pegou uma gota do seu sangue e passou no canino podre e sujo de Drácula. As órbitas oculares do crânio brilharam.

 

- Aaaaah, seu safadinho! Sabia que estava me ouvindo! Gostou do trago? Sangue de divindade é assim. Levanta até defunto, literalmente! Hahahahahaha! Está pronto para se vingar? Olha só que chance, hein? Menos de dez anos e o senhor “eu tenho dentes grandes” vai poder dar o troco!

 

Com um sorriso insano, Loki rasgou o próprio braço. Seu sangue divino escorreu por cima do crânio putrefato, que começou a ganhar vida. Carne e pele começaram a surgir e se restaurar, sob a risada maléfica do deus das mentiras. Em alguns instantes, Drácula estava de pé, com a pele branca, cabelos emaranhados e olhar de maníaco, maravilhado em estar de volta.

 

- Eu vou - falou, com a voz espectral e os caninos à mostra - destroçar o Belmont!

 

- Naaa nananananaa! - Loki fez cara de reprovação, como se estivesse falando com uma criança idiota - Você sempre perde porque é burro. E dessa vez você vai fazer amizade com aquele amiguinho ali.

 

Drácula olhou para as sombras e viu que tinha alguém ali. Sorriu quando reconheceu quem era, e olhou para Loki satisfeito.

 

- Isso, - disse Loki - agora divirtam-se. Vão arrasar e destruir alguma cidade, para chamar a atenção dele. E não se preocupe com o nascer do sol. A luz solar não tocará Midgard por um bom tempo.

 

E enquanto se afastava, Loki sussurrou para si próprio.

 

- E se depender de mim, não brilhará nunca mais.

 

***

Tarcon e Nekrunn conversavam sobre estratégias de guerra. Tarcon evitava a todo custo falar onde esteve ou o que lhe acontecera nos últimos meses. E nesse tom a conversa seguiu, até ser interrompida pela entrada na sala de reuniões de Christian. Seu semblante era o mais sereno e sombrio possível.

 

- Tarcon, - disse com a voz seca - bem-vindo de volta.

 

Um olhar ao redor revelou que apenas os três estavam ali.

 

- Senhor, - disse Nekrunn, preocupado - o senhor está bem?

 

Christian respirou fundo, e apesar de tentar se conter, uma lágrima escorreu em seu rosto, entregando-o.

 

- Paola nos aguarda pós-guerra no Valhalla.

 

Os generais ficaram em silêncio e se entreolharam. Voltaram então seu olhar para Christian.

 

- Com a partida dela, garanto a vocês que seu Mestre está pronto para a batalha da profecia. A mulher que amo está morta. Nada mais me resta nessa vida. Nada vai distrair meu pensamento ou chantagear meu coração.

 

Nekrunn reparou no sangue mal lavado nas mãos de Christian e engoliu seco. Tarcon também notou, mas não falou nada.

 

- Se me permite, senhor, - disse o Dragão Negro - eu vou ali no canto da sala orar pela alma de Paola.

 

Christian assentiu com a cabeça. Tarcon olhou os dois passarem por ele e franziu a testa. Pegou então algo no bolso de trás de sua calça, por baixo da armadura. Era um pequeno embrulho em formato redondo. Olhou aquilo, tentando se lembrar por que tinha ele em seu poder, e sua cabeça doeu.

 

- Tarcon, - disse Christian, com a voz forte - reúna os demais generais e capitães. Devemos estar todos prontos quando surgir do céu o Primeiro Sinal!

 

- Claro, senhor, agora mesmo.

 

Na pressa em sair e cumprir a ordem, Tarcon errou o bolso, e o objeto embrulhado caiu no chão. Saiu afobado e deixou a porta entreaberta. Subitamente, o objeto sumiu do chão. A porta fora ligeiramente mais aberta. E momentos depois, no corredor, Lara surgiu, saindo de seu esconderijo furtivo. A mercenária correu de volta para a sala de Julian, segurando algo.

 

***

Sob o olhar de Maya, Julian tinha fechado o diário. Agora o enrolava com uma espessa capa de couro, e o deixava bem preso e protegido. Colocou-o então em sua bolsa de campanha.

 

A porta da sala foi aberta com força. Lara entrou rapidamente e foi até a mesa.

 

- Paola está morta! - disse ela, indignada.

 

- O que? - Giu, que estava distraído, voltou sua atenção para Lara.

 

- Sua irmã morreu, Giu. Christian sabe o que aconteceu, mas não falou. Eu tive que sair da sala antes que minha habilidade falhasse e me descobrissem.

 

O bardo abraçou a cítara e começou a chorar. Primeiro, foram apenas suspiros baixos. Eles foram aumentando gradativamente, até culminarem em um grito, seguido por um choro alto e forte, doído. Maya prontamente andou até o bardo e se ajoelhou do lado dele. Abraçou-o forte, penalizada.

 

Antes que Julian tivesse qualquer reação, Lara pegou o embrulho e mostrou para o templário. Ele o analisou e seus olhos se arregalaram.

 

- COMO você conseguiu isso?

 

- Estava com Tarcon. Ele parece abalado, perturbado.

 

Rapidamente ele se levantou e pegou um livro em sua estante. Folheou e comparou o objeto em suas mãos com o que estava desenhado. A semelhança era perfeita.

 

- “Semente de Yggdrasil, a árvore da vida”. - começou a ler - “Se plantada em solo fértil e bento, gerará uma extensão de Yggdrasil, cujas folhas são capazes de trazer os mortos de volta”.

 

Ao ouvir isso, Giu pulou desesperado em cima de Julian. O templário jogou a semente para Lara momentos antes de ser derrubado pelo bardo desesperado.

 

- Dá! Me dá isso! Vou plantar essa árvore e trazer Paola de volta!

 

- Giu, acalme-se! - Julian se levantou e segurou o bardo pelos braços - Onde está seu bom senso, homem? Plantar uma árvore não é algo assim, instantâneo! Ela leva ANOS para crescer! Não há nada que possa ser feito agora!

 

O bardo se desesperou mais ainda e começou a gritar. Ficou se debatendo. Maya sussurrava “calma, por favor”, mas não era ouvida. Sem condições, Julian deu um murro na cara do cego, fazendo-o o tombar no chão. O contato com o chão gelado fez Giu se acabar em lágrimas, encolhido, chorando. Maya e Lara olharam assustadas para Julian. O templário ajoelhou, com o Rosário nas mãos e fechou os olhos.

 

- Perdoa-me, Odin, pela agressão que cometi a meu irmão. Dá calma a alma dele e paz a todos nós, lorde que nos vigia do Valhalla.

 

- O que mais falta acontecer? - Maya perguntou, enquanto invocava sua Cura no bardo.

 

Repentinamente a porta da sala se abriu. Era um Espadachim da Ordem do Dragão. Olhou a todos rapidamente, até parar o olhar em Julian, que era quem procurava.

 

- Mestre Christian quer vê-lo agora.

 

Julian olhou para Maya e Giu. Viu que a noviça cuidava do bardo. Foi então atrás do Espadachim, que tinha corrido. Lara, a exemplo do que fez com Tarcon e Nekrunn, correu atrás deles.

 

***

Com dificuldade, o Espadachim, Julian e Lara chegaram até a sala de reuniões. Agora até mesmo o castelo estava lotado de gente. Julian passou pela porta. Um guarda ia barrar Lara, mas Julian olhou feio, possibilitando a entrada dela ali. Os dois foram até o líder Dragão Dourado, Christian, que estava do lado do Rei Tristan. Para surpresa de ambos, o rei estava trajado em roupa de batalha, como o Lorde que sempre fora.

 

- Julian, - adiantou-se Christian - não vamos perder tempo. Preciso que cumpra uma última missão.

 

- Pois não, senhor.

 

- O Primeiro Sinal surgiu. A guerra começou.

 

- Onde foi o sinal, meu lorde?

 

- Payon. A cidade está sob ataque.

 

Julian ficou ouvindo com atenção. Christian parou de falar por um momento e observou o templário. Prosseguiu, então.

 

- Sabe, eu prometi a seus pais que nenhuma missão seria maior do que a da sina da sua família. Seu legado é destruir o mal ao qual foi incumbido. E assim será.

 

- Não me diga que... - Julian deu um passo adiante, descrente.

 

- Seu inimigo o aguarda em Payon. Boa sorte, Cavaleiro do Dragão.

 

O mestre deu as costas para Julian, para continuar falando com o rei. Nekrunn olhou preocupado.

 

- Senhor, - disse Nekrunn, depois de chamar a atenção de Christian - vai enviar Julian sozinho para enfrentar o Primeiro Sinal? Não seria bom mandar mais gente com ele?

 

- O Primeiro Sinal não é nada comparado aos demais, general. - respondeu o mestre - Mesmo que Julian falhe, a maior das batalhas acontecerá aqui, em Prontera. E não temos tempo ou forças disponíveis para essas maldições familiares.

 

- Peço sua autorização para ir com ele, senhor.

 

- Negada. Você ficará do meu lado esperando o Quinto Sinal. Cavaleiro, - Christian olhou uma última vez para Julian - boa sorte.

 

- Com licença senhores, preciso partir.

 

Ao dizer isso, Julian virou-se e correu. Lara encarou Nekrunn e Christian, e acompanhou o templário de volta para seus aposentos.

 

- Julian! - Maya gritou desesperada ao ver o templário e Lara entrarem - Giu foi embora!

 

Ele não respondeu. Empurrou uma estante para o chão, revelando um cofre. Mexeu rapidamente no botão com números, girando-o para os lados. Abriu-o e pegou uma carta com um Angeling desenhado nela. A seguir, foi até um dos cantos da sala, onde uma armadura repousava em um suporte. Pela bela aparência, a armadura parecia bem refinada. Ele encaixou a carta no lugar, e começou a vesti-la. Olhou para a Noviça, que entendeu que ele queria sua ajuda. Ela começou a apertar as amarras das placas, enquanto ele olhava para os escudos na parede, escolhendo qual o acompanharia.

 

- Onde você vai? - perguntou a noviça, em tom quase desesperador.

 

- Para Payon. Drácula está lá. Ele é o primeiro sinal.

 

- Deixa eu ir com você!

 

- Não! É minha sina enfrentar ele!

 

Por fim, foi até a parede e pegou o terceiro escudo de uma série deles, enfileirados. Era possível notar o contorno de um Khalitzburg gravado em sua superfície. Virou-se, mas Maya estava em sua frente.

 

- Eu não sou útil aqui... não há nada que eu possa fazer! Por favor, Julian! Por favor!

 

A garota ficou de joelhos e cruzou as mãos, implorando para ir junto. O templário virou-se para Lara, que respondeu com um olhar. Julian então levantou Maya e deu uma sacola para ela.

 

- Coloque tudo que achar útil e vamos.

 

Virou-se para Lara e falou em um tom mais baixo.

 

- Não sei o que acontecerá nas próximas horas. Nem comigo, nem com todos nós. Plante essa semente de Yggdrasil, Lara.

 

- Faria isso mesmo que não me pedisse. Boa sorte, Julian.

 

A mercenária deixou a sala e sumiu nos corredores do castelo. Em mais alguns minutos, Julian e Maya tentavam atravessar Prontera. Ele segurou a garota firme e foi até o criador de Pecos. Quase não conseguiu dois, de tanta gente solicitando os animais. Demoraram meia hora para cruzar a cidade, até a saída sul. Montaram nos Pecos e foram para Payon a toda velocidade.

 

***

 

- Fogo!!!!

 

Dezenas de flechas flamejantes cortavam o ar, na direção de Drácula. O vampiro se acabava de rir com o ataque de dezenas de arqueiros e caçadores.

 

- Fogo, contra mim? Estão lendo livros demais! Mwahahaha!

 

Um a um, os arqueiros e caçadores iam tombando sob os ataques do vampiro. A resistência de Payon tornava-se inútil contra ele, enquanto as chamas consumiam parte do castelo e das casas.

 

E em meio às chamas e escombros na entrada, um par de Pecos entrou. Drácula parou o ataque e sorriu, com os caninos à mostra. Julian e Maya desceram de suas montarias e encararam o vampiro. O templário, empunhando firmemente seu escudo, correu. Sua capa balançou gloriosa enquanto corria, dando a quem via aquela cena um fio de esperança. Parou a corrida cravando uma das botas na frente, e apontou a espada para o morto-vivo.

 

- Morra, monstro! Você não pertence a este mundo! - gritou Julian*.

 

- Ha! Não foi pelas minhas mãos que retornei! Fui chamado aqui por pessoas que quiseram me pagar tributo!

 

- Tributo? Você rouba as almas dos homens e os torna seus escravos!

 

- Talvez o mesmo possa ser dito de todas as guildas e seus líderes... - o vampiro sorriu, cínico.

 

- Suas palavras são vazias como a sua alma! O homem não precisa de um demônio como você!

 

- O que é um homem? Uma pilha miserável de segredos, não é, Belmont? Mas chega de falar! É hora da minha revanche!

 

Drácula ergueu as mãos para o alto. Da terra, dezenas de Carniçais surgiram, avançando contra a dupla.

 

- Oh meu deus! OMG! - Maya desesperou-se - Cura! Cura! Cura! Julian, não vou conseguir!

 

Como podia, Maya começou a invocar sua Cura nos mortos-vivos. Não estava fazendo muito efeito, já que eles eram fortes e ela não tinha muito poder. Julian fechou os olhos. Sua capa balançou com a energia que concentrou.

 

- Abaixe-se atrás de mim. - falou baixinho.

 

Quando estavam cercados e a primeira criatura atacou, Julian abriu os olhos e proferiu o nome de sua técnica sagrada mais poderosa.

 

- CRUX... MAGNUM!! - sua voz saiu forte de sua boca, em um misto de fé e determinação.

 

Uma grande cruz luminosa se riscou no chão e explodiu para o alto. Os gemidos dos Carniçais cessaram junto com a luz, que tinha limpado a área, desintegrando todos. A armadura de Julian brilhou, mostrando que o dano de retorno não o tinha pego, graças à carta que usava.

 

O templário sacou a espada e correu na direção de Drácula. Estacou, porém, pasmo. Maya, que se levantava, olhou Julian parado e se espantou. Foi até o lado dele e viu a mesma coisa que o Templário. Seu coração acelerou ao reconhecer o rosto do Caçador que surgira das sombras.

 

- Não pode ser... - Julian ficou boquiaberto ao ver quem estava do lado do vampiro.

 

- Meu... meu amor... - Maya caiu de joelhos - ... Edan!

 

Junto com um trovão que explodiu no céu escuro, Drácula riu com vontade. Edan não disse nada. Apenas sacou seu arco, e sob o olhar do estático irmão, mirou e disparou.

 

***

 

*Nota do autor: a troca de frases é uma adaptação do diálogo inicial do jogo “Castlevania: Symphony of The Night”, entre Richter e Drácula. Pequena homenagem a esta série que tanto gosto. ;)

 

***

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Leafar eu nao estranharia se daqui a alguns anos vissemos o seu nome em um livro nas livrarias [:D]

 

Amém! *-*

 

Capítulo 4

- O Primeiro Sinal

 

A noite finalmente caíra sobre Prontera. Os sobreviventes de Juno amontoavam-se nas ruas, buscando algum lugar para dormir. As bancas de frutas estavam vazias. O Rei Tristan tinha liberado comida e água para todos, garantindo ao menos um pouco de conforto para aquela gente sofrida.

 

A luzes da cidade estavam todas acesas. E uma dessas luzes era a da sala de Julian, na igreja de Prontera. Respeitando seus votos de ajudar ao próximo, o templário tinha cedido seus aposentos no castelo para vítimas de Juno. Ele tinha deitado no chão, segurando firme o Rosário. Perto dele, Maya, Lara e Giu descansavam também. Na verdade, nenhum dos quatro tinha conseguido dormir. Tentavam convencer o corpo de que o sono lhes faria bem. Mas era impossível alguém conseguir fechar os olhos diante da destruição que presenciaram.

 

Devagar, a porta de madeira da sala foi aberta. Lara, que tinha as adagas ocultas sob uma almofada, apertou as mãos nelas, pronta para atacar. Mas seus dedos se afrouxaram ao reconhecer o general Dragão Negro.

 

- General Nekrunn - disse Julian, levantando devagar o corpo, colocando-se sentado.

 

- Saudações a todos - disse ele, olhando ao redor - e lamento que tenham que viver no meio dessa desgraça. Três cidades destruídas em menos de dez horas...

 

- Como assim, TRÊS? - Giu nervosamente pegou a cítara e buscou dedilhar as cordas para se acalmar. Porém, o instrumento ainda estava sem sua parte vital, quebrada por Julian na queda de Juno.

 

- Ainda não estão sabendo? Há quanto tempo estão nessa sala?

 

Maya abaixou a cabeça, olhando para o chão. Lara virou-se para a janela. Giu posicionou a cabeça de modo que seu ouvido ficasse virado para Nekrunn. E Julian levantou-se em silêncio, contendo o desespero visível em seus olhos. O general continuou falando.

 

- Glast Heim virou o lar de criaturas mortas-vivas. Juno e Amatsu foram destruídas, não restou nem pó. E a Ilha da Tartaruga afundou no mar.

 

- Amatsu também? - Lara se virou, olhando descrente o templário.

 

- A Ilha da Tartaruga... afundou... - o bardo engoliu seco e encostou na parede, com um suspiro de profunda tristeza.

 

Julian foi até a janela e olhou a cidade. Prontera estava lotada. As ruas mostravam-se quase intransponíveis, de tanta gente que tinha ali. Além do povo de Juno, agora o de Amatsu também se aglomerava na capital, como se ali houvesse uma chance de redenção ou sobrevivência.

 

Sob o silêncio dos demais, olhou a escrivaninha. Foi até ela e sentou-se. Com calma, abriu a primeira gaveta. Puxou um livro de capa de couro marrom. Abriu-o em seguida da última página escrita. Pegou tinta, pena e começou a escrever. Nekrunn, curioso, se aproximou para ver.

 

- Essa é uma promessa que fiz à Valquíria Brünhilde. - explicou Julian - Há mais ou menos um mês estou relatando coisas e explicando acontecimentos neste diário.

 

Nekrunn não disse nada. Virou-se para sair, e sentiu um terrível frio na espinha ao ver quem estava na sua frente, na porta aberta. Era o general Dragão Vermelho, Tarcon Belmont. Julian parou de escrever, atônito, ao ver o irmão que estava desaparecido há meses.

 

- Onde você esteve? - Nekrunn perguntou, admirado.

 

- Eu... me perdi. - respondeu Tarcon, olhando agora Julian - Meu barco naufragrou. Estive como escravo das Obeaunes, até que consegui fugir.

 

- Irmão! - Julian se levantou e prontamente abraçou o cavaleiro.

 

Tarcon não abraçou com a mesma ênfase que Julian, com o olhar um pouco perdido. Nekrunn o observou curioso, imaginando que tipo de aventuras teriam acontecido com o Dragão Vermelho.

 

- Eu vim no momento crucial, Nekrunn. - disse Tarcon, agora soltando-se de Julian - Os inimigos de Odin atacarão, pois esta é a noite da profecia. A noite mais longa do século.

 

- Veio em boa hora, general. - o Dragão Negro respondeu com firmeza, feliz de rever o amigo - Vamos, temos que nos reunir com os demais, para traçar nossas estratégias.

 

- Sim. - Tarcon virou-se para Julian - Eu voltarei outra hora para conversarmos, Julian. Com licença.

 

Nekrunn e Tarcon se retiraram, conversando. Julian respirou aliviado por ver que não perdera outro irmão, e voltou a se concentrar nas páginas que escrevia. Lara, porém, saiu da sala discretamente, seguindo a dupla.

 

***

Cemitério de Geffen

 

Diante da eminente guerra, até a paz do cemitério sob a torre estava abalada. E entre túmulos e jazigos, o deus da mentira caminhava sob a forma de um de seus avatares prediletos - um guerreiro alto, com dois machados de lâmina dupla nas costas e um elmo pesadíssimo de ouro, com chifres enormes.

 

Foi até as profundezas, na mais afastada cripta, e com desdém, leu o nome ali gravado.

 

- Conde Vladmir Tepes. Vulgo Drácula. Oh, que cliché!

 

Com dois golpes dos machados, Loki destruiu o tampão de cimento que bloqueava a entrada.

 

- Luz, por favor? - sorrindo, deu dois tapinhas com as mãos. Um globo de luz surgiu girando em volta dele.

 

Desceu alguns metros de escada e percorreu um labirinto, até encontrar um enorme caixão negro e vermelho. Sem o menor cuidado, pegou o caixão e arremessou-o na parede, estilhaçando-o.

 

- Amigui-nhooo! Adivinha quem veio para o jantar? Eu!

 

Remexeu a madeira destruída e viu o corpo decomposto de Drácula. Fez uma cara de nojo e simulou que ia vomitar. Parou então, encarando os restos do vampiro.

 

- Patético. E uma criatura como você ainda se julga boa o suficiente para “apavorar” os mortais. Bah! Você é uma negação!

 

Loki apoiou-se no que um dia foi o peito de Drácula, e acabou afundando o pé nele.

 

- Ops! Tá flácido, hein? Olha a falta que umas abdominais fazem a uma pessoa! Hahahahahahaha!

 

O deus arrancou o pé do peito do cadáver e fez sua melhor cara de compreensivo - na verdade, tentou. Seu sorriso denunciava o cinismo em cada milímetro de seu rosto.

 

- Bom, chega de graça. Aposto que você é meio frustrado, não? Eu digo, reviver a cada dez anos e ficar vivo apenas uma noite, quando os Belmont te matam, sei lá, deve ser... medíocre! Hahahahahaha!

 

Loki puxou a manga de sua camisa e deixou o braço à mostra. Abaixou-se ao lado de Drácula e murmurou perto de onde supostamente seria a orelha dele.

 

- O último que te matou, o Julian, ainda está vivo, sabia? É... não morreu na guerra de Geffen. O desgraçado tem, como dizem algumas religiões, o santo forte. Que coisa, não?

 

Com a unha, Loki cortou levemente sua pele. Pegou uma gota do seu sangue e passou no canino podre e sujo de Drácula. As órbitas oculares do crânio brilharam.

 

- Aaaaah, seu safadinho! Sabia que estava me ouvindo! Gostou do trago? Sangue de divindade é assim. Levanta até defunto, literalmente! Hahahahahaha! Está pronto para se vingar? Olha só que chance, hein? Menos de dez anos e o senhor “eu tenho dentes grandes” vai poder dar o troco!

 

Com um sorriso insano, Loki rasgou o próprio braço. Seu sangue divino escorreu por cima do crânio putrefato, que começou a ganhar vida. Carne e pele começaram a surgir e se restaurar, sob a risada maléfica do deus das mentiras. Em alguns instantes, Drácula estava de pé, com a pele branca, cabelos emaranhados e olhar de maníaco, maravilhado em estar de volta.

 

- Eu vou - falou, com a voz espectral e os caninos à mostra - destroçar o Belmont!

 

- Naaa nananananaa! - Loki fez cara de reprovação, como se estivesse falando com uma criança idiota - Você sempre perde porque é burro. E dessa vez você vai fazer amizade com aquele amiguinho ali.

 

Drácula olhou para as sombras e viu que tinha alguém ali. Sorriu quando reconheceu quem era, e olhou para Loki satisfeito.

 

- Isso, - disse Loki - agora divirtam-se. Vão arrasar e destruir alguma cidade, para chamar a atenção dele. E não se preocupe com o nascer do sol. A luz solar não tocará Midgard por um bom tempo.

 

E enquanto se afastava, Loki sussurrou para si próprio.

 

- E se depender de mim, não brilhará nunca mais.

 

***

Tarcon e Nekrunn conversavam sobre estratégias de guerra. Tarcon evitava a todo custo falar onde esteve ou o que lhe acontecera nos últimos meses. E nesse tom a conversa seguiu, até ser interrompida pela entrada na sala de reuniões de Christian. Seu semblante era o mais sereno e sombrio possível.

 

- Tarcon, - disse com a voz seca - bem-vindo de volta.

 

Um olhar ao redor revelou que apenas os três estavam ali.

 

- Senhor, - disse Nekrunn, preocupado - o senhor está bem?

 

Christian respirou fundo, e apesar de tentar se conter, uma lágrima escorreu em seu rosto, entregando-o.

 

- Paola nos aguarda pós-guerra no Valhalla.

 

Os generais ficaram em silêncio e se entreolharam. Voltaram então seu olhar para Christian.

 

- Com a partida dela, garanto a vocês que seu Mestre está pronto para a batalha da profecia. A mulher que amo está morta. Nada mais me resta nessa vida. Nada vai distrair meu pensamento ou chantagear meu coração.

 

Nekrunn reparou no sangue mal lavado nas mãos de Christian e engoliu seco. Tarcon também notou, mas não falou nada.

 

- Se me permite, senhor, - disse o Dragão Negro - eu vou ali no canto da sala orar pela alma de Paola.

 

Christian assentiu com a cabeça. Tarcon olhou os dois passarem por ele e franziu a testa. Pegou então algo no bolso de trás de sua calça, por baixo da armadura. Era um pequeno embrulho em formato redondo. Olhou aquilo, tentando se lembrar por que tinha ele em seu poder, e sua cabeça doeu.

 

- Tarcon, - disse Christian, com a voz forte - reúna os demais generais e capitães. Devemos estar todos prontos quando surgir do céu o Primeiro Sinal!

 

- Claro, senhor, agora mesmo.

 

Na pressa em sair e cumprir a ordem, Tarcon errou o bolso, e o objeto embrulhado caiu no chão. Saiu afobado e deixou a porta entreaberta. Subitamente, o objeto sumiu do chão. A porta fora ligeiramente mais aberta. E momentos depois, no corredor, Lara surgiu, saindo de seu esconderijo furtivo. A mercenária correu de volta para a sala de Julian, segurando algo.

 

***

Sob o olhar de Maya, Julian tinha fechado o diário. Agora o enrolava com uma espessa capa de couro, e o deixava bem preso e protegido. Colocou-o então em sua bolsa de campanha.

 

A porta da sala foi aberta com força. Lara entrou rapidamente e foi até a mesa.

 

- Paola está morta! - disse ela, indignada.

 

- O que? - Giu, que estava distraído, voltou sua atenção para Lara.

 

- Sua irmã morreu, Giu. Christian sabe o que aconteceu, mas não falou. Eu tive que sair da sala antes que minha habilidade falhasse e me descobrissem.

 

O bardo abraçou a cítara e começou a chorar. Primeiro, foram apenas suspiros baixos. Eles foram aumentando gradativamente, até culminarem em um grito, seguido por um choro alto e forte, doído. Maya prontamente andou até o bardo e se ajoelhou do lado dele. Abraçou-o forte, penalizada.

 

Antes que Julian tivesse qualquer reação, Lara pegou o embrulho e mostrou para o templário. Ele o analisou e seus olhos se arregalaram.

 

- COMO você conseguiu isso?

 

- Estava com Tarcon. Ele parece abalado, perturbado.

 

Rapidamente ele se levantou e pegou um livro em sua estante. Folheou e comparou o objeto em suas mãos com o que estava desenhado. A semelhança era perfeita.

 

- “Semente de Yggdrasil, a árvore da vida”. - começou a ler - “Se plantada em solo fértil e bento, gerará uma extensão de Yggdrasil, cujas folhas são capazes de trazer os mortos de volta”.

 

Ao ouvir isso, Giu pulou desesperado em cima de Julian. O templário jogou a semente para Lara momentos antes de ser derrubado pelo bardo desesperado.

 

- Dá! Me dá isso! Vou plantar essa árvore e trazer Paola de volta!

 

- Giu, acalme-se! - Julian se levantou e segurou o bardo pelos braços - Onde está seu bom senso, homem? Plantar uma árvore não é algo assim, instantâneo! Ela leva ANOS para crescer! Não há nada que possa ser feito agora!

 

O bardo se desesperou mais ainda e começou a gritar. Ficou se debatendo. Maya sussurrava “calma, por favor”, mas não era ouvida. Sem condições, Julian deu um murro na cara do cego, fazendo-o o tombar no chão. O contato com o chão gelado fez Giu se acabar em lágrimas, encolhido, chorando. Maya e Lara olharam assustadas para Julian. O templário ajoelhou, com o Rosário nas mãos e fechou os olhos.

 

- Perdoa-me, Odin, pela agressão que cometi a meu irmão. Dá calma a alma dele e paz a todos nós, lorde que nos vigia do Valhalla.

 

- O que mais falta acontecer? - Maya perguntou, enquanto invocava sua Cura no bardo.

 

Repentinamente a porta da sala se abriu. Era um Espadachim da Ordem do Dragão. Olhou a todos rapidamente, até parar o olhar em Julian, que era quem procurava.

 

- Mestre Christian quer vê-lo agora.

 

Julian olhou para Maya e Giu. Viu que a noviça cuidava do bardo. Foi então atrás do Espadachim, que tinha corrido. Lara, a exemplo do que fez com Tarcon e Nekrunn, correu atrás deles.

 

***

Com dificuldade, o Espadachim, Julian e Lara chegaram até a sala de reuniões. Agora até mesmo o castelo estava lotado de gente. Julian passou pela porta. Um guarda ia barrar Lara, mas Julian olhou feio, possibilitando a entrada dela ali. Os dois foram até o líder Dragão Dourado, Christian, que estava do lado do Rei Tristan. Para surpresa de ambos, o rei estava trajado em roupa de batalha, como o Lorde que sempre fora.

 

- Julian, - adiantou-se Christian - não vamos perder tempo. Preciso que cumpra uma última missão.

 

- Pois não, senhor.

 

- O Primeiro Sinal surgiu. A guerra começou.

 

- Onde foi o sinal, meu lorde?

 

- Payon. A cidade está sob ataque.

 

Julian ficou ouvindo com atenção. Christian parou de falar por um momento e observou o templário. Prosseguiu, então.

 

- Sabe, eu prometi a seus pais que nenhuma missão seria maior do que a da sina da sua família. Seu legado é destruir o mal ao qual foi incumbido. E assim será.

 

- Não me diga que... - Julian deu um passo adiante, descrente.

 

- Seu inimigo o aguarda em Payon. Boa sorte, Cavaleiro do Dragão.

 

O mestre deu as costas para Julian, para continuar falando com o rei. Nekrunn olhou preocupado.

 

- Senhor, - disse Nekrunn, depois de chamar a atenção de Christian - vai enviar Julian sozinho para enfrentar o Primeiro Sinal? Não seria bom mandar mais gente com ele?

 

- O Primeiro Sinal não é nada comparado aos demais, general. - respondeu o mestre - Mesmo que Julian falhe, a maior das batalhas acontecerá aqui, em Prontera. E não temos tempo ou forças disponíveis para essas maldições familiares.

 

- Peço sua autorização para ir com ele, senhor.

 

- Negada. Você ficará do meu lado esperando o Quinto Sinal. Cavaleiro, - Christian olhou uma última vez para Julian - boa sorte.

 

- Com licença senhores, preciso partir.

 

Ao dizer isso, Julian virou-se e correu. Lara encarou Nekrunn e Christian, e acompanhou o templário de volta para seus aposentos.

 

- Julian! - Maya gritou desesperada ao ver o templário e Lara entrarem - Giu foi embora!

 

Ele não respondeu. Empurrou uma estante para o chão, revelando um cofre. Mexeu rapidamente no botão com números, girando-o para os lados. Abriu-o e pegou uma carta com um Angeling desenhado nela. A seguir, foi até um dos cantos da sala, onde uma armadura repousava em um suporte. Pela bela aparência, a armadura parecia bem refinada. Ele encaixou a carta no lugar, e começou a vesti-la. Olhou para a Noviça, que entendeu que ele queria sua ajuda. Ela começou a apertar as amarras das placas, enquanto ele olhava para os escudos na parede, escolhendo qual o acompanharia.

 

- Onde você vai? - perguntou a noviça, em tom quase desesperador.

 

- Para Payon. Drácula está lá. Ele é o primeiro sinal.

 

- Deixa eu ir com você!

 

- Não! É minha sina enfrentar ele!

 

Por fim, foi até a parede e pegou o terceiro escudo de uma série deles, enfileirados. Era possível notar o contorno de um Khalitzburg gravado em sua superfície. Virou-se, mas Maya estava em sua frente.

 

- Eu não sou útil aqui... não há nada que eu possa fazer! Por favor, Julian! Por favor!

 

A garota ficou de joelhos e cruzou as mãos, implorando para ir junto. O templário virou-se para Lara, que respondeu com um olhar. Julian então levantou Maya e deu uma sacola para ela.

 

- Coloque tudo que achar útil e vamos.

 

Virou-se para Lara e falou em um tom mais baixo.

 

- Não sei o que acontecerá nas próximas horas. Nem comigo, nem com todos nós. Plante essa semente de Yggdrasil, Lara.

 

- Faria isso mesmo que não me pedisse. Boa sorte, Julian.

 

A mercenária deixou a sala e sumiu nos corredores do castelo. Em mais alguns minutos, Julian e Maya tentavam atravessar Prontera. Ele segurou a garota firme e foi até o criador de Pecos. Quase não conseguiu dois, de tanta gente solicitando os animais. Demoraram meia hora para cruzar a cidade, até a saída sul. Montaram nos Pecos e foram para Payon a toda velocidade.

 

***

 

- Fogo!!!!

 

Dezenas de flechas flamejantes cortavam o ar, na direção de Drácula. O vampiro se acabava de rir com o ataque de dezenas de arqueiros e caçadores.

 

- Fogo, contra mim? Estão lendo livros demais! Mwahahaha!

 

Um a um, os arqueiros e caçadores iam tombando sob os ataques do vampiro. A resistência de Payon tornava-se inútil contra ele, enquanto as chamas consumiam parte do castelo e das casas.

 

E em meio às chamas e escombros na entrada, um par de Pecos entrou. Drácula parou o ataque e sorriu, com os caninos à mostra. Julian e Maya desceram de suas montarias e encararam o vampiro. O templário, empunhando firmemente seu escudo, correu. Sua capa balançou gloriosa enquanto corria, dando a quem via aquela cena um fio de esperança. Parou a corrida cravando uma das botas na frente, e apontou a espada para o morto-vivo.

 

- Morra, monstro! Você não pertence a este mundo! - gritou Julian*.

 

- Ha! Não foi pelas minhas mãos que retornei! Fui chamado aqui por pessoas que quiseram me pagar tributo!

 

- Tributo? Você rouba as almas dos homens e os torna seus escravos!

 

- Talvez o mesmo possa ser dito de todas as guildas e seus líderes... - o vampiro sorriu, cínico.

 

- Suas palavras são vazias como a sua alma! O homem não precisa de um demônio como você!

 

- O que é um homem? Uma pilha miserável de segredos, não é, Belmont? Mas chega de falar! É hora da minha revanche!

 

Drácula ergueu as mãos para o alto. Da terra, dezenas de Carniçais surgiram, avançando contra a dupla.

 

- Oh meu deus! OMG! - Maya desesperou-se - Cura! Cura! Cura! Julian, não vou conseguir!

 

Como podia, Maya começou a invocar sua Cura nos mortos-vivos. Não estava fazendo muito efeito, já que eles eram fortes e ela não tinha muito poder. Julian fechou os olhos. Sua capa balançou com a energia que concentrou.

 

- Abaixe-se atrás de mim. - falou baixinho.

 

Quando estavam cercados e a primeira criatura atacou, Julian abriu os olhos e proferiu o nome de sua técnica sagrada mais poderosa.

 

- CRUX... MAGNUM!! - sua voz saiu forte de sua boca, em um misto de fé e determinação.

 

Uma grande cruz luminosa se riscou no chão e explodiu para o alto. Os gemidos dos Carniçais cessaram junto com a luz, que tinha limpado a área, desintegrando todos. A armadura de Julian brilhou, mostrando que o dano de retorno não o tinha pego, graças à carta que usava.

 

O templário sacou a espada e correu na direção de Drácula. Estacou, porém, pasmo. Maya, que se levantava, olhou Julian parado e se espantou. Foi até o lado dele e viu a mesma coisa que o Templário. Seu coração acelerou ao reconhecer o rosto do Caçador que surgira das sombras.

 

- Não pode ser... - Julian ficou boquiaberto ao ver quem estava do lado do vampiro.

 

- Meu... meu amor... - Maya caiu de joelhos - ... Edan!

 

Junto com um trovão que explodiu no céu escuro, Drácula riu com vontade. Edan não disse nada. Apenas sacou seu arco, e sob o olhar do estático irmão, mirou e disparou.

 

***

 

*Nota do autor: a troca de frases é uma adaptação do diálogo inicial do jogo “Castlevania: Symphony of The Night”, entre Richter e Drácula. Pequena homenagem a esta série que tanto gosto. ;)

 

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Ok... provavelmente foi um engano mas pq colocou o mesmo post duas vezes seguidas?

De onde saiu a ideia de que Amatsu havia sido destruida? Eu nunca ouvi essa...

Belmont... Dracula... Um completo zero em castlevania como eu reconheceu na hora essa historia sera que alguem não notou quando ouviu pela 1° vez que o sobrenome do seu char era Belmont?

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Omg! 3 hit combo! Uuuultra... uuuultra... uuultra...

 

Desculpe, foi sem querer!

 

Essa de Amatsu destruída é uma licença da história. Particularmente eu acho meio non-sense isso de "ok, eu sou o rei e vou liberar novas rotas comerciais. Agora vocês, que frequentam Prontera há 2 anos, podem ir visitar Kunlun, Amatsu, Louyang, Juno, Einbroch...".

 

Tipo, ninguém NUNCA ouviu falar das outras cidades? Sei lá, não gosto dessas desculpas esfarrapadas padrão Gravity de "agora a rota comercial está aberta". Com exceção das futuras cidades que realmente serão longínquas, prefiro acreditar que elas foram fundadas/reconstruídas recentemente. E isso é só uma licença da história! Se não curtiu, não precisa incorporar isso em ON nenhum! :)

 

Aliás, outra curiosidade: o post original dessa história foi de antes do patch de Juno. Tanto que...

*burro, quase escreve spoiler*

 

Ok, depois eu comento isso. [/...]

 

Abraços,

- Rafa

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