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As mortes de Trillian Tenenbaum


~JuhZ

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Olá pessoas ^^~

Esta fic é sobre minha rogue, Trillian Tenebaum e conta com a presença de minhas outras personagesn ~JuhZ Prince e Anji~Chan

^^

 

Tipo, na fic há presença de bebidas alcoolicas e poções alucinógenas; porque eu acho ridículo um mundo onde tem gente que joga magia nos outros não existir bebida =,=

Eu sei que se trata de um jogo pra crianças (ou não) e tal, mas eu achei que era algo que valia a pena por, porém, ninguém é bêbado inveterado aqui, ok  >xD

 

Espero que gostem x_X

 

As mortes de Trillian Tenenbaum

Diz-se que, em dado momento de sua eternidade, os deuses cansaram-se de cuidar da humanidade. De fato, era uma tarefa enfadonha e cansativa. Porém, a humanidade não poderia ser deixada ao leo. Então, unindo o poder de todo o panteão, Odin, senhor dos deuses, criou um grande Tabuleiro no qual toda a vida em Midgard podia ser observada de forma cômoda e eficaz.

No Tabuleiro cada ser humano, monstro e construção têm um equivalente; pequenas peças de oridecon, emperium, garleta e zargônio, que se movem num movimento de espelho em relação aos seres vivos.

O Tabuleiro original permanece diante do trono de Odin, porém, outros deuses criaram réplicas para si, para observarem Midgard com ainda mais facilidade. Assim, há Tabuleiros em diversas partes de Asgard; diante do trono de Hel, em Niffleheim, e no Valhalla diante das Valkyrias.

Logo, os Tabuleiros deixaram de ser apenas um instrumento de “trabalho” dos deuses, que passaram a usá-los como uma forma, um tanto vil, de divertimento. Eles passaram a apostar as vidas dos mortais.

O Tabuleiro de Odin foi encantado de forma que pudesse afetar a vida em Midgard e não só ser afetado por ela. Então, caso um deus apostasse que determinado mortal morreria afogado no mar de Alberta caso visse um saco de Zeny afundando, usava-se o Tabuleiro de Odin para proporcionar tal situação: arrumava-se a peça do mortal para olhar o saco de Zeny ser jogado ao mar, e assim começava a aposta. Será que ele se afogaria? Ou voltaria rico? Ou sequer pularia na água?

E assim, a vida passou a ser um joguete nas mãos dos deuses. Ouso afirmar que milhares de vidas perderam-se por causa disto.

Porém, algumas pessoas são imunes à jogatina divina por um fato deveras simples e intrigante: elas não correspondem a nenhuma peça nos Tabuleiros.

Ser um vácuo nos Tabuleiros é a mais divina das maldições. Aqueles que o são, são sempre pessoas excepcionais: os Bruxos mais perspicazes, os Gatunos mais hábeis, os Caçadores mais precisos... Isso se deve ao fato de que aqueles sem peças têm a alma completa. O que move as figuras de emperium e oridecon é uma lasca da alma do indivíduo; portanto, a imensa maioria das pessoas possui a alma incompleta.

Porém, há desvantagens, ou não seria uma espécie de maldição: as pessoas sem peças são invisíveis aos deuses. Suas agruras não são vistas por nenhum ser divino, tampouco suas orações são ouvidas. Por este motivo, nenhum Sacerdote, Monge ou Noviço é uma pessoa sem peças.

No entanto, a maior vantagem de não estar presente nos Tabuleiros é simples: ser imortal.

Essa é uma verdade pouco acreditada, pois as pessoas renegam a teoria de que são uma brincadeira dos deuses. É deveras repugnante; eu mesma, durante boa parte de minha existência, não acreditava nisso, até que vi um Tabuleiro com meus próprios olhos.

Eu os descobri quando contava cerca de dezessete anos de idade, por meio de uma estranha poção alucinógena feita por uma Alquimista de sobrenome Prince que eu conheço. Julguei que fosse apenas um delírio causado pela droga, mas Juhz disse-me que era verdade.

Obviamente eu não acreditei, e a julguei louca durante muito tempo.

_ Não me trates assim, Trillian – disse-me ela depois de outra discussão sobre os Tabuleiros, ela era obcecada por eles – sabes muito bem que não sou louca. Eles existem, e se me ajudares poderemos encontrá-los!

_ Juhz, minha cara – respondi-lhe com franqueza – pare com esta insensatez! Tua busca é infundada, não se pode correr atrás de miragens causadas por drogas!

_ Não fales assim! – ela sentiu-se ofendida, ficou calada por um momento e depois disse – Está tarde, vou deitar-me, amanhã conversamos.

Ela levantou-se da cadeira à minha frente e dirigiu-se ao quarto que havíamos alugado numa hospedaria simples em Prontera. Eu suspirei, e percebi que a havia ofendido. Porém, era tarde para chamá-la e pedir que ela me desculpasse. Juhz é uma pessoa estranha e fisicamente descoordenada, entretanto, muito sensata e concisa; para evitar dissabores ela havia retirado-se muito mais cedo do que de costume. E eu respeitei isso como a melhor forma de trégua.

A noite estava fria e o vento gelado entrava pela porta aberta da hospedaria arrepiando minhas pernas, eu as cobri com as abas vermelhas do meu casaco e tomei o último gole daquele copo de uísque. A poção de Juhz havia me deixado fraca e o uísque caía macio em minha garganta. Pedi mais uma dose e depois fui deitar-me.

Juhz estava deitada com o rosto virado para a parede e o carrinho de madeira cheio de itens estacionado aos pés da cama. Ela se mexeu de forma sonolenta quando abri a porta do quarto, mas sequer abriu os olhos com minha presença.

Tirei os sapatos e o casaco vermelho forrado de pele de lunático e o pus no espaldar da cadeira diante da penteadeira. Dei uma olhada rápida no espelho e desagradei-me com a visão, lavei o rosto e, sem olhar-me novamente, deitei na cama ao lado da de Juhz e dormi em poucos minutos.

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It's looking good.

Acredite, essa frase é uma das melhores criticas que eu ja fiz.

E ai, quais os diferentes metodos para sair do tabuleiro? O meu é um deles?

 

Nossa, obrigada ^^~

 

Na verdade você não "sai" do Tabuleiro, você nunca entra =3

As condições são +- as mesmas que pra ser vampiro ou lobisomem [criatividade rula hard X_x'] mas as que se referem ao nascimento da pessoa como: crianças que nascem deformadas, cujas mães morreram no parto, bastardos, filhos de viúvas, sétimo decendente direto de outra pessoa sem peça ^^~

 

Posto algo a mais qualquer hora =3

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E quanto à minha e a do Adrom?

Adrom: elfo, logo imortal.

Draken: ritual maligno, profano, corrompido e maldito que infunde o perpretador com grande quantidade da força negativa da pós-vida, ao mesmo tempo que liga a alma a um objeto especialmente desenhado e encantado para conte-la, em um processo similar àquele usado na criação de golens. Passagem extraida do Worum Maculos Lichdae, de autoria de Draken Sapphirion Frosthand, (normalmente eu poria uma dezena de titulos, mas não to a fim). ps: os adjetivos "maligno, profano, corrompido e maldito não estão no texto original.

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Bom, agradeço os elogios ^^~

 

Quanto ao ritual cruel, mau, infame, herege e outras coisas que eu não lembro: ele não te tiraria do Tabuleiro, as pessoas podem ser boas ou más independente das peças... eu já tinha dito que não se pode sair deles.

Quando eu criei a fic, não levei em consideração outras fics, logo elfos não existem na minha Rune-Midgard (talvez tenha sido uma falha minha...)

 

Mas, sob todos os efeitos: aqui está o capítulo 01, espero que gostem ^^~

 

Capítulo 01: A Missão

            Esta é a estória de como conheci Juhz, e sua meia-irmã Anji. Durante muito tempo, elas foram minhas únicas companhias, e por causa delas eu descobri a verdade sobre mim mesma.

            Devo dizer que o verdadeiro sobrenome de Juhz é Skydier, porém ela o repudia como nobres à pobreza. O pai de Juhz era um bruxo, e fugiu com uma sábia quando ela tinha seis anos. Erik Skydier era o nome dele, e passou a ser algo como uma palavra proibida na casa dela. Passaram-se anos antes que Luna, mãe de Juhz, conhecesse outro homem que a fizesse feliz.

            Este homem era Christopher Prince, pai de Anji, um distinto Cavaleiro, viúvo havia muitos anos. Assim, Luna e Christopher casaram-se e Juhz passou a adotar o sobrenome Prince, assim como Luna.

            Eu as conheci de uma forma um tanto embaraçosa, e até mesmo envergonho-me dos acontecimentos que culminaram em nosso primeiro encontro. Foi no verão, eu estava perdendo mais alguns dias de minha existência em Morroc, quando uma movimentação incomum chamou minha atenção.

            Aparentemente, a Abadia de Prontera havia enviado uma Missão para exorcisar a Pirâmide. À frente da grande Missão estava um Sacerdote de batalha prepotente e egocêntrico. Naquela época, ele era bastante conhecido por haver exorcisado um vampiro no subsolo da Torre de Geffen. Seu nome era Simão, ele tinha braços tão fortes quanto um Cavaleiro e cicatrizes cruzavam seu peito e pescoço deixando-se entrever pelo grande decote vermelho do hábito sacerdotal. Na cintura, carregava um Mangual Pesado muito velho, com bandagens enroladas no cabo.

            _ Não mais temeis os malditos habitantes da Pirâmide, cidadãos de Morroc – bradou ele no centro da cidade – a Abadia de Prontera compadeceu-se de vossa situação, e enviou-nos para acabar com aquela infame raça de mortos-vivos!

            Como todas as outras Missões, eles receberam um tratamento digno do próprio rei, os comerciantes lhes ofereciam seus melhores produtos por preços muito em conta; os estalajadeiros ofereciam os melhores aposentos de graça.

            _ Humpf, como se isso jamais houvesse acontecido – pensei eu, suspirei e desci o Sakkat sobre o rosto a fim de manter-me alheia ao falatório do Irmão Simão e à confusão que a nova Missão estava criando na cidade.

            Foi quando uma mão arrancou o Sakkat de minha cabeça num único movimento; saquei minha Main Gauche, por reflexo, e a encostei no peito do atrevido, e qual não foi minha surpresa quando vi que era o próprio Irmão Simão que havia tirado meu chapéu.

            _ Gatuna – disse-me ele com voz energética – pareces desapontada com nossa chegada.

            _ Estou cansada, caro senhor, das inúteis Missões da Abadia de Prontera – respondi-lhe com o olhar em chama, recolhendo minha Main Gauche à bainha. – Sabes bem que não sois o primeiro a proferir este discurso nesta cidade, e todos seus antecessores falharam, não serás vós que conseguireis.

            _ Estás certa sobre não sermos os primeiros – disse-me ele – mas estás enganada em julgar-nos como os outros. Já ouviste a estória de como eu exorcisei o vampiro da Torre de Geffen? Estamos fadados ao sucesso, minha cara, ao sucesso.

            _ Se é o que tu dizes senhor, como posso eu discordar – falei-lhe com ironia, ao que ele aceitou como honestidade e voltou à frente da Missão.

            Suspirei e segui para a Guilda dos Gatunos, na Pirâmide, onde Gatunos sem destino sempre podem encontrar algum conforto, descanso e talvez algo mais.

            _ O que te traz aqui, minha cara? – perguntou-me uma das guardas da Guilda.

            _ Venho atrás de algo que não sei – respondi-lhe – mas tenho uma notícia que talvez não tenha chegado a vossos ouvidos ainda.

            _ Se tens alguma notícia que deva chegar ao conhecimento do líder da Guilda, entre – disse-me ela apontando para uma porta logo adiante.

            _ Agradeço irmã – disse-lhe eu.

            Segui até a porta indicada por ela, e entrei receosa. Porém, a despeito de minha insegurança, segui a passos firmes. No fim do corredor havia um biombo de madeira, e detrás dele uma suave luz brilhava. Parei ante ao biombo e disse:

            _ Sou Trillian Tenenbaum, vossa irmã de profissão, trago-lhe notícias que julguei ser de vosso interesse, meu senhor.

            Uma movimentação balançou a chama do candeeiro atrás do biombo e um homem surgiu quase sem fazer ruídos. Era o líder máximo da Guilda dos Gatunos, trajava algo similar a um traje comum de Gatuno, porém usava uma longa capa escura com um capuz que fazia sombras em seu rosto, e apenas seus lábios ressecados e queixo mal barbeado podiam ser vistos.

            _ O que tens a me dizer que eu já não saiba?

            Engoli em seco e lhe contei sobe a Missão liderada por Irmão Simão.

            _ Irmão Simão – ele repetiu com um tom levemente surpreso – uma informação deveras interessante, cara Gatuna. Agradeço-lhe a presença de espírito de vir a mim contar-me isso. Agora, saia daqui, voltando sobre seus passos e peça à guarda que venha ver-me imediatamente.

            _ Ouvir é obedecer, meu senhor – disse-lhe eu, recuando de costas com a cabeça baixa e olhos pregados no chão.

            Tateando às costas achei a porta e a abri, saí sem virar-me e voltei a respirar decentemente quando a fechei.

            _ Vejo que trouxeste uma informação útil – disse-me a guarda – caso contrário não sairias de lá.

            _ Nosso mestre pediu-me que a avisasse que ele deseja vê-la imediatamente – disse-lhe eu.

            _ Ouvir é obedecer – disse ela em voz baixa, cumprimentou-me com a cabeça e seguiu para a sala do líder.

            Permaneci por uns minutos sentada com as costas apoiadas na parede, estava cansada, a noite havia sido péssima e aquele maldito Sacerdote havia acabado com meu sossego logo de manhã cedo. Levantei-me e segui para o segundo andar da Pirâmide, onde habitam Múmias e Esqueletos que não tiveram a sorte de ter suas almas levadas para o Valhalla, e por isso permaneciam presas àquela maldita Pirâmide. Todos aqueles que morrem na Pirâmide não têm suas almas carregadas pelas Valkyrias pelo simples fato de que elas não podem adentrar aquele lugar maldito.

            Por causa destes monstros, muitos aventureiros iam à Pirâmide atrás de experiência de batalha; sendo Múmias e Esqueletos monstros fisicamente semelhantes a humanos, lutar com eles trazia uma carga preciosa de conhecimento para se lutar com outros homens.

            Saquei minha Main Gauche, peguei um frasco contendo um líquido amarelado e doce que tomei num gole só, instantaneamente meu sangue começou a circular mais rápido e minha visão ficou mais apurada, benditas sejam, Poções da Concentração.

            Caminhei por alguns minutos antes de encontrar o primeiro Esqueleto, um maldito arqueiro, que me atacava à distância. Fui me esgueirando e escondendo até perto dele, catei umas pedras no chão e joguei-as na cabeça do monstro, que ficou atordoado e parou de atacar. Quando ele baixou a guarda avancei pra cima dele com a Main Gauche em riste. Foi uma luta que durou pouco tempo; sabia bem seus pontos fracos, ataquei as articulações dos braços e estes caíram deixando-o sem poder de fogo. Pouco depois o crânio dele era partido pelas minhas mãos.

            E assim foi durante muito tempo, matando Esqueletos e Múmias, juntando ossos e bandagens para vender aos comerciantes e fazer algum dinheiro. Em determinado momento eu estava exausta, sentei-me então próxima à escada que levava ao terceiro subsolo, e fiquei agradecendo por aquele lugar ser fresco.

            Foi quando ouvi uma grande movimentação vindo em minha direção, por um momento fiquei assustada, mas então percebi que não eram os passos vacilantes e frouxos dos mortos-vivos e sim passos determinados e certos de um grupo de aventureiros. Escondi-me nas sombras e fiquei observando a Missão descer para o andar seguinte. Sorrateiramente eu os segui, queria ver qual era a verdadeira força daquele Sacerdote falastrão.

            Era um grupo grande, cerca de quinze pessoas, entre Noviços, Sacerdotes e Monges. Todos confiantes, enérgicos e, com certeza, poderosos.            De repente, um grande grupo de Ísis apareceu. As mulheres-cobras se entreolharam por um segundo antes de atacar. Gritando de fúria, os monstros partiram para a ofensiva antes mesmo de o grupo conseguir se organizar para o confronto direto.

            Os Noviços ficaram assustados e permaneceram estáticos, com os olhos arregalados, boquiabertos com a destreza e o corpo das Ísis. Irmão Simão hesitou um momento antes de sacar o Mangual Pesado, o que deu a uma das Ísis a chance de golpeá-lo com as garras, abrindo mais uma fileira de cicatrizes em seu peito.

            A visão do sangue fresco e quente do Sacerdote só serviu para aumentar a fúria das Ísis. Irmão Simão limpou o sangue com a manga do hábito e tocou a pele do peito com a palma da mão, fechando os cortes imediatamente. As Ísis atacavam mais firmemente, enquanto apenas Irmão Simão, outros dois Sacerdotes e quatro Monges as combatiam diretamente, uma Sacerdotisa estava dando suporte a eles; distribuindo entre os guerreiros os dons da velocidade e força, curando os ferimentos e os abençoando.

            Irmão Simão combatia com fúria digna do mais valoroso Cavaleiro, derramava água benta na corrente do Mangual e brandia a arma contra o dorso escamoso das mulheres-cobras, queimando-lhes a pele. Enquanto permaneci escondida o vi derrotar duas Ísis, e ele já havia partido para atacar a terceira quando uma flecha o atingiu na coxa.

            Os gritos da batalha haviam chamado a atenção de outros monstros que estavam por perto, e um Esqueleto Arqueiro estava posicionado a alguns metros de Irmão Simão a alvejá-lo com sua flechas enferrujadas. O Sacerdote caiu segurando o ferimento, tentando limpar o sangue para poder curá-lo, mas a todo instante outra flecha o atingia, ferindo-o ainda mais.

            A Sacerdotisa que estava dando suporte invocou uma estranha parede luminosa esverdeada na frente dele, e eu achei que aquela luz não iria protegê-lo; porém, quando uma nova flecha tentou atravessar a barreira, ela se desfez antes de atingir o Irmão que arrancava as flechas do corpo e curava os ferimentos.

            Aos poucos, os Noviços e demais integrantes da Missão começaram a lutar, outro Sacerdote começou a ajudar a Sacerdotisa a dar suporte aos demais e em menos de vinte minutos o grupo de Ísis estava exterminado. Eles prosseguiram, mataram o Esqueleto Arqueiro e os Esqueletos Soldados que chegaram logo após a morte das Ísis.

            Ia continuar a segui-los quando percebi que alguém se aproximava furtivamente de mim; saquei a Main Gauche e permaneci no meu esconderijo. Assim que a Missão saiu de vista, um homem trajando vestes de Assassino e uma máscara negra na parte inferior do rosto revelou-se a poucos metros de mim, no centro do corredor.

            Ele caminhou lentamente até o ponto onde eu estava, e começou a analisar clinicamente as paredes, prendi a respiração e tentei encolher-me ainda mais no canto escuro no qual eu estava escondida. Ele revirou os olhos e com um movimento preciso agarrou-me pelo pescoço e ergueu-me alguns centímetros do chão, deixando-me apavorada a ponto de deixar cair a adaga.

            _ Trillian Tenenbaum, suponho – disse ele com os belos olhos verde-acinzentados friamente fixos nos meus.

            _ Sim – afirmei eu com a voz fraca devido ao enforcamento.

            _ Disseram-me que devia procurá-la.

            _ Aparentemente me encontraste.

            _ E não poderia deixar de fazê-lo, escondida como uma amadora. Surpreende-me aquele Sacerdote prepotente não tê-la visto.

            Não baixei o rosto diante daquela afirmação pelo simples fato de que não podia fazê-lo, o Assassino segurava-me fortemente pelo pescoço e meu queixo estava preso em seu pulso.

            _ E o que desejas comigo, caro irmão?

            _ Vosso líder chamou-me e contou-me sobre a Gatuna que havia tido coragem de ir até ele contar sobre a Missão que a Abadia de Prontera havia enviado. Como você deve saber, não é de nosso interesse que a Pirâmide seja exorcisada. Todos aqueles que um dia tornam-se Assassinos ou Arruaceiros iniciam a jornada como Gatunos, e nem o meu líder, nem o seu, nem o dos Arruaceiros, gostaria que um bando de padres acabasse com nossos guardas.

            _ Nossos guardas? – repeti eu sem entender.

            _ Sim, Gatuna tola – ele me imprensou contra a parede, fixando o olhar frio em mim – os Esqueletos e Múmias protegem a Guilda de invasores. Grande parte dos Esqueletos e Múmias foi, um dia, Gatunos e Gatunas que morreram nessa Pirâmide e permaneceram aqui para protegê-la. Todas as Missões enviadas aqui foram sabotadas, a fim de evitar que os malditos padres pudessem destruir nossa forma mais primordial de defesa.

            Ele falava de forma lenta e deliberada, seu rosto a poucos centímetros do meu, seu corpo me prendendo na parede. Eu estava quase sufocando, e acho que meus olhos disseram isto para ele, pois ele me largou no chão no momento em que a falta de oxigênio falou mais alto em meu sangue.

            _ Garota fraca – disse-me com voz fria, fitando-me com desprezo – por que te tornaste Gatuna, se és tão frágil?

            _ Sinto dizer-te isto, irmão; mas minhas razões dizem respeito somente à mim.

            O olhar dele abrandou-se um pouco com minha declaração.

            _ De qualquer forma, seu líder mandou que eu a achasse para que juntos pudéssemos sabotar a Missão dos padres de Prontera.

            _ Porque eu? – perguntei desconfiada.

            _ Por que foste tu que levaste a notícia a ele a tempo de chamar meu líder antes de a Missão ter começado. Eu fui chamado assim que eles decidiram iniciar a sabotagem ainda hoje, seu líder mandou que eu a procurasse, como forma de recompensá-la pela informação.

            Recompensa?! Repeti incrédula para mim mesma; decidi que, se saísse viva e bem daquela situação, compraria um bom dicionário para meu líder, a fim de que ele descobrisse exatamente o que significa esta palavra.

            O Assassino pegou minha adaga no chão e analisou-a demoradamente antes de devolvê-la a mim. Ele esperou que eu a embainhasse e me levantasse antes de recomeçar a falar.

            _ Nossa missão hoje é abalar a estrutura daqueles fantoches dos deuses. Devemos quebrar aquela insuportável união e fidelidade que reina entre eles, para que possamos expulsá-los o mais cedo o possível.

            _ Irmão, se me permite a pergunta, por que sabotarmos apenas a Missão dos padres de Prontera e não todos os aventureiros que vêm aqui matar as Múmias e Esqueletos.

            _ Por que os demais vêm aqui atrás de treinamento, que é algo aceitável; porém, os cães de Odin desejam destruir nossos guardas para tomar nossa Guilda de assalto. É fato sabido que eles nos repudiam enquanto matadores e baderneiros.

            Baixei a cabeça, digerindo tal resposta. A desavença entre Gatunos, Assassinos e Arruaceiros e Noviços, Sacerdotes e Monges era algo que, embora não fosse declarado, era conhecido por todos em Rune-Midgard; mas a afirmação de meu irmão de profissão havia me deixado deveras confusa e um tanto desapontada com os santos seguidores dos deuses.

            _ Recomponha-te agora e me siga, vamos atrás daqueles padres.

            Levantei-me e segui com o Assassino atrás da Missão, os encontramos enfrentando um grupo de Múmias Anciãs. Escondemo-nos e ficamos a observá-los, analisando cada membro da Missão atrás de um elo fraco. Permanecemos quietos durante bastante tempo, quando o Assassino falou, cheguei a assustar-me com sua voz rouca e fria próxima a mim:

            _ Estás vendo aquele Noviço de cabelos negros usando uma Auréola? – eu assenti com a cabeça, e ele continuou – Ao que parece, ele é o mais novo membro da Missão, talvez seja ele a fraqueza que estamos procurando.

            _ Talvez; mas só porque ele aparenta ser o mais inexperiente não significa que seja o mais suscetível ao nosso ataque. Acredito que devemos observá-los um pouco mais, irmão; parecem-me todos muito confidentes. Talvez algo lhes aconteça e revele o verdadeiro elo fraco.

            Olhei para meu companheiro e vi as sombras em sua máscara delinearem um sorriso. “Permaneçamos atentos, então” disse-me ele.

            E assim o fizemos, até que um gritinho ecoou entre a Missão; uma Monja havia derrotado uma Múmia Anciã e segurava entre as mãos algo semelhante a um pedaço de couro.

            _ Uma Luva! – exclamou ela – Com suporte para uma carta! Quanta sorte a minha, com isso poderei comprar minha Soqueira!

            Os membros da Missão rodearam a moça, felicitando-a; porém, o Noviço de cabelos negros olhou-a com um brilho invejoso nos olhos. Meu companheiro cutucou-me as costelas e apontou para o garoto, sorrimo-nos e nos afastamos para podermos conversar.

            _ O garoto, ele é o elo fraco daquela corrente – os olhos frios do Assassino brilhavam de forma maníaca – é a ele que devemos atacar.

            _ Sim, irmão, estavas certo a respeito do jovem Noviço – disse eu sorrindo. – Temos que nos aproveitar, mas como?

            Permanecemos calados e pensativos até que ouvimos Irmão Simão anunciar à Missão que iriam fazer uma pausa para descançar e comer. A idéia ocorreu a mim e meu companheiro quase simultaneamente.

            _ Temos que descobrir qual bolsa é daquele Noviço – disse ele.

            _ E colocar a Luva da Monja nela – completei.

            Os membros da Missão agradeceram a pausa, os Sacerdotes invocaram Escudos Mágicos ao redor do grupo, para evitar ataques; sentaram-se no chão, abriram as bolsas e começaram a tirar sucos, frutas e carne de dentro delas. Se não fosse por estarem na Pirâmide de Morroc, poder-se-ia dizer que estavam fazendo um piquenique. Meu companheiro e eu espreitamos até perto da Monja que havia encontrado a Luva, ele furtou o equipamento do bolso externo da sacola dela com grande perícia, e a entregou a mim.

            O Noviço estava sentado um pouco afastado dos outros, encostado numa parede, comendo biscoitos de gengibre em forma de bonequinhos. A bolsa estava ao seu lado com a aba externa aberta, para minha grande alegria. Rápida e habilmente eu coloquei a Luva entre as coisas do Noviço, sorrindo comigo mesma virei o rosto e dei de cara com uma Noviça que, estranhamente, fixava meus olhos, apesar de eu estar escondida.

            Afastei-me do Noviço, e o olhar da Noviça continuou pregado em mim, fui até o local onde havia combinado de me encontrar com meu companheiro, e lá estava ele, virado meio de costas tomando água de um cantil. Sem virar-se para mim ele ofereceu-me água:

            _ Tome um gole você também, estamos seguindo aquela Missão há um bom tempo, talvez devêssemos dar uma pausa enquanto eles estão parados também.

            Agradeci a água e senti-me no chão próxima a ele, para minha surpresa, ele sentou-se também. Tomei um gole do cantil e devolvi-o a ele. Foi quando ouvimos um grito vindo da Missão, escondemo-nos e fomos ver o que havia acontecido.

            A Monja que havia achado a Luva estava revirando suas coisas, jogadas no chão, em busca do equipamento. Ela gritava, jogando bandagens, poções e demais utilidades para longe. Irmão Simão foi ter com ela, e a moça lhe contou o que havia acontecido.

            _ Há um larápio entre nós – urrou o líder da Missão – e eu não aceito isso! Exijo que quem roubou a Luva de Sara se denuncie agora mesmo!

            Como ninguém se pronunciou, o Sacerdote pegou a bolsa mais próxima, de uma Sacerdotisa, e jogou todo o conteúdo no chão, quebrando várias poções e espalhando Gemas Azuis por todo lado.

            _ Eu irei vasculhar a bolsa de cada membro desta Missão até achar o maldito que furtou sua própria irmã!

            Ele adiantou-se um passo e pegou a bolsa de um Noviço de olhos claros e medrosos, tirou tudo que havia dentro e entregou a bolsa vazia ao garoto, que estava muito assustado. E assim ele fez, até chegar ao Noviço de cabelos negros; o garoto estava tranqüilo, entregou a bolsa de bom grado e fez uma expressão de terror ao ver a Luva cair quando Irmão Simão virou a bolsa para baixo.

            _ Tu! – os olhos do Sacerdote brilharam em fúria – Tu, Ezequiel, como ousaste roubar tua irmã?

            _ Juro-lhe Irmão, não fui eu! – Ezequiel tremia diante do olhar furioso do Irmão – Alguém fez isso!

            _ Foste tu, Ezequiel – a Monja Sara foi ter com eles – não acredito! Tu, meu irmão de fé e sangue! Como poderás olhar nossa mãe novamente?

            _ Irmã, juro-lhe por Odin que não fui eu!

            Irmão Simão enfureceu-se ainda mais quando o garoto pronunciou o nome de Odin, meu companheiro e eu nos entreolhamos satisfeitos: a semente de nossa sabotagem havia brotado e florescido muito mais cedo do que imaginávamos. Por hora, nosso trabalho estava feito; discretamente saímos dali e fomos à Guilda dos Gatunos, ter com o líder a respeito do que havia se passado.

            Porém, sem que nos déssemos conta, a Noviça que me havia encarado estava nos seguindo, a passos silenciosos e ligeiros. A garota tinha longos cabelos castanhos e usava um Chapéu de Munak, com a fita-talismã virada para o lado para que pudesse enxergar.

            _ Esplêndido! – exclamou o líder dos Gatunos depois de ouvir nosso relato – Muito bom mesmo, então eu não estava errado ao pedir que tu levasses Trillian junto, Kevin.

            _ Não, senhor; estavas com um bom pressentimento em relação a ela, e ele estava correto.

            _ Senhorita Tenenbaum – disse-me o líder Gatuno – este é Kevin Raveneye, sub-líder de nossa Guilda-irmã, a Guilda dos Assassinos de Morroc. Creio que chegou sua hora, não, Kevin?

            _ Sim, devo ir reportar-me a meu superior, encontramo-nos amanhã, senhorita Tenenbaum – ele saiu andando de costas, assim como eu havia feito.

            _ Você sabe onde estão hospedados os servos de Odin? – perguntou-me meu líder, ao que eu respondi sim – Então quero que te apresentes aqui assim que eles vierem para cá.

            _ Ouvir é obedecer, meu senhor – fiz uma reverência e saí de costas novamente.

            Calmamente voltei para a taverna na qual estava morando provisoriamente, passei antes no centro de Morroc vender os itens que havia conseguido. Cheguei à taverna pouco antes de o sol se pôr, comi um pouco dos doces de Sésamo que estavam vendendo na sala de entrada, joguei uma moeda ao bardo que tocava para os clientes e fui deitar-me.

            No dia seguinte acordei junto com o sol, desperta pelo mesmo pesadelo que me acometia quanto vinha a Morroc. Tomei um banho rápido, tomei o desjejum junto com a simpática dona da taverna e fiquei esperando que a Missão chegasse ao portão que ia à Pirâmide. Assim que eles passaram, todos taciturnos e com aparência cansada, corri até a Guilda e fui ter com meu mestre; Kevin estava lá também.

            _ A Missão acabou de cruzar os portões da cidade, vindo para cá, meu senhor.

            _ Como estavam eles, depois do que fizestes a eles ontem?

            _ Pareciam cansados, e sem dúvida desconfiados e desapontados uns com os outros.

            Meu líder e Kevin rejubilaram-se com a notícia, puseram-se a deliberar e mandaram-me acompanhar a Missão; Kevin encontrar-me-ia quando eles tivessem tomado uma decisão.

            Pus-me então a seguir os cães de Odin, notei a falta de Ezequiel e Sara entre eles, o que me causou um calafrio de alegria. Irmão Simão estava carrancudo e calado, olhando com tristeza para a Missão incompleta. Chegaram ao quarto andar calados e começaram a combater sem ânimo.

            _ Irmão, vou ausentar-me durante um minuto e volto logo – disse a Noviça com Chapéu de Munak que me havia encarado.

            _ Claro, Anji, contanto que volte logo.

            A garota concordou e saiu de perto do grupo, indo para mais longe de mim, respirei aliviada e criei coragem de aproximar-me mais deles perdendo a Noviça de vista. Perdi a noção de quanto tempo fiquei a deliciar-me da patética situação da Missão; aqueles cães não iriam limpar nossa Pirâmide para tomar-nos de surpresa. Foi quando vi um movimento atrás de mim com o canto do olho, achei que fosse Kevin; mas logo percebi que se tratava da Noviça. A maldita havia dado toda a volta por um grande bloco no centro do labirinto para pegar-me de costas. Ela brandiu o Mangual Pesado sobre mim, prendendo a corrente em meu pulso.

            _ Gatuna maldita! Porque fizeste aquilo ontem?

            _ Solte-me garota, estás louca! – fiquei chocada em saber que a Noviça realmente me havia visto – Nunca a vi antes, nunca lhe fiz mal algum!

            _ Não mintas para uma serva dos deuses, Gatuna – com um movimento firme a corrente do Mangual apertou ainda mais meu pulso e fez com que eu caísse. – Porque fizeste aquilo a Sara e Ezequiel? Irmão Simão os expulsou da Missão e ficamos desfalcados por isso!

            _ Tanto melhor – disse eu abandonando a mentira – quanto menos de vocês estiverem aqui, tanto melhor para os meus! Não serei eu a Gatuna a permitir que vocês nos tomem de assalto!

            _ Do que falas garota?

            _ Não te finjas de inocente, sei bem as intenções por detrás de tua Missão aqui – disse isso enquanto tateava o chão, achei uma pedra de bom tamanho perto de mim e a joguei na cabeça da Noviça, que cambaleou para trás e soltou o Mangual, liberando minha mão.

            Afastei-me e permaneci em posição defensiva, com a Main Gauche em punho, olhos estreitos, coração batendo forte. A Noviça limpou o sangue do corte na testa e o curou, pegou o Mangual no chão e permaneceu a me encarar. Nem sei por quanto tempo, mas sei que depois do que me pareceu a eternidade ela pegou algo do bolso e partiu para me atacar com o Mangual erguido. A poucos passos de mim, ela atirou a coisa – uma Gema Azul – no chão e a partiu com o Mangual. Um portal abriu-se entre nós, ela saltou sobre ele e me agarrou pelo braço, puxando-me para dentro da distorção dimensional junto com ela.

            Caímos pesadamente no centro de Morroc, emboladas e tontas; levantamo-nos depressa e sem hesitar um só segundo atacamo-nos com fúria.

            _ Maldita cortesã dos deuses! – exclamei furiosa.

            _ Que Hel lhe acolha com amor, infame baderneira herege – a língua da Noviça era tão atroz quanto seu Mangual, durante algum tempo lutamos mais com ofensas do que com nossas armas, mas uma hora os insultos findaram e a luta física fez-se mais intensa.

            Estávamos bastante feridas quando desferimos o último ataque, a corrente do Mangual enrolou-se em meu pulso novamente, e eu a sustentava apesar de sentir os ossos rachando; a Noviça aparou minha Main Gauche com a Vembrassa. Ficamos estáticas, encarando-nos, os olhos azuis da garota colados aos meus verdes. Foi quando uma forte rajada de vento trouxe areia aos nossos olhos, obrigando-nos a nos separar.

            O vento havia sido criado por um dos guardas da cidade; conhecidos como dobradores de ar, eles criam tempestades de areia para ajudar na contenção de baderneiros, bandidos, monstros e presenças indesejadas no geral. O guarda, um homem forte trajando uma túnica cor de bronze e armadura leve de cobre, segurou-nos pelos ombros e sem dizer palavra nos carregou até a Sede da Guarda Municipal.

            _ Meu senhor, estas duas estavam causando tumulto no centro – disse ele a um distinto senhor sentado em uma escrivaninha.

            _ Bom trabalho – o senhor levantou-se e nos encarou. – Senhorita Tenenbaum, que desagradável surpresa. E... uma das Noviças da Missão da Abadia de Prontera, que decepção! Bem, de qualquer forma, leve-as daqui! Talvez algumas noites na carceragem faça bem a elas.

            O guarda assentiu com a cabeça, tirou todos nossos equipamentos, armas, asas de mosca e borboleta e itens em geral e trancafiou-nos numa cela imunda com um beliche e uma única janela gradeada.

            _ Tudo culpa sua, maldita Gatuna!

            _ Tudo por que vocês vieram para nos destruir, seria o mais correto!

            _ Do que você está falando, afinal? – ela sentou na cama de baixo do beliche e me encarou. – Você nos acusa de algo que eu nem sequer sei do que se trata!

            _ Trata-se dessa falsa tentativa de exorcismo, desse seu infame estratagema para nos esmagar! – exclamei segurando o pulso esquerdo, ferido pela corrente do Mangual.

            _ Estratagema para esmagá-los? – a garota repetiu.

            _ Sim, vocês nos invejam e temem e por isso querem destruir nossa Guilda, para verem-se livres de nós.

            _ É certo que é desejo da Abadia que as Guildas dos Gatunos, Assassinos e Arruaceiros sejam destruídas; mas não queremos vosso sangue em nossas mãos, tampouco sua pedra-chave em nosso Salão de Glória.

            _ Se é verdade, então porque vieram para cá?

            _ Para exorcisar a Pirâmide! Para que mais seria?

            Baixei o rosto, analisando o que ela me havia dito. Seus olhos azuis brilhavam com paixão e fé quando afirmava que não tinham o objetivo de nos destruir. Porém, era a palavra de Kevin contra a dela. Mas afinal, o que eu sabia dele? A garota deitou-se e eu permaneci em pé, no centro da cela, pensando.

            _ Garota estúpida – a voz fria de Kevin soou atrás de mim.

            _ Kevin!

            _ Como pudesse deixar que isto lhe acontecesse? E nosso objetivo de destruir os cães de Odin? – o brilho maníaco havia voltado aos olhos dele.

            _ Não fales assim, Kevin – fui até as grades e o encarei – não somos mercenários sedentos de sangue!

            _ Estás certa disso? – ele ergueu uma das sobrancelhas com descrença.

            _ Kevin...

            _ Estás excluída de nossos planos, senhorita Tenenbaum, sinto muito; tinhas um futuro e tanto trabalhando conosco. Adeus.

            Ele virou-se e sem dizer mais nada foi embora. Eu deixe-me cair pelas grades até ficar de joelhos. Eu havia sido... excluída? Por meus próprios irmãos de Guilda? Não podia acreditar... “E nosso objetivo de destruir os cães de Odin?” Destruí-los?

            Foi então que eu vi: Kevin havia retorcido a verdade; não era a Abadia que queria destruir-nos, éramos nós que queríamos destruí-los. Fiquei arrasada, apertando o ferimento no pulso esquerdo, com lágrimas a correr pelos olhos. Quando eu finalmente havia achado uma meta, ela me foi tirada da forma mais cruel e arrebatadora.

            _ Viu o que eu disse, Gatuna – a voz suave da Noviça soou próxima a mim – não queremos destruí-los. Sois vós que nos querem no chão.

            _ Perdoe-me Noviça – eu me virei para encará-la, mas não consegui, abaixei o rosto ao ver seus olhos azuis – perdoe-me... Qualquer coisa que eu possa fazer para ajudá-los eu farei, perdoe-me.

            Ela me abraçou com suavidade, durante algum tempo ficamos quietas.

            _ Diante dos olhos de Odin, sois tão vítima quanto eu, fostes enganada por teus próprios irmãos, e esta é a pior traição de todas. É meu dever e vontade perdoá-la, ainda mais diante do que vi.

            Ela tomou meu pulso ferido entre as mãos esguias e curou-o.

            _ Muito obrigada, Noviça. A propósito, meu nome é Trillian Tenenbaum, estou honrada em tê-la conhecido, agora que sei da verdade.

            _ Muito prazer, Trillian, sou Anji Prince; mas me chame apenas de Anji, por favor.

            Permanecemos caladas durante algum tempo, quando já caía a noite, o guarda veio trazer-nos o jantar: pão de centeio e leite. Comemos agradecidas e depois do jantar finalmente conseguimos quebrar o silêncio entre nós. Conversamos até que a lua reinou sozinha no céu, uma noite fria e sem estrelas, quando o sono nos nocauteou deitamo-nos e em poucos minutos dormimos.

            Na manhã seguinte o guarda tirou Anji da cela logo cedo.

            _ Tens sorte, Noviça, alguém veio tirá-la daqui.

            _ Até mais Anji – despedi-me dela através das grades.

            Na sala anterior à cela havia uma Alquimista de pince-nez aparentando preocupação; eu a vi de relance antes de o guarda fechar a porta do corredor. Minutos mais tarde Anji voltou com o guarda e me tirou da cela.

            _ Juhz, esta é Trillian Tenenbaum, a Gatuna louca da qual lhe falei agora – apresentou-me Anji à Juhz.

            _ Muito prazer, Trillian, sinto o que lhe aconteceu – a garota apertou minha mão com força e energia. – Recebi uma mensagem ontem à noite dizendo-me o que havia acontecido a Anji e vim para tirá-la daqui. Ela exigiu que você viesse conosco.

            _ Sou-lhes grata Anji, Juhz – eu sorri para a Noviça e a Alquimista e elas retribuíram o sorriso; os primeiros sorrisos sinceros que eu via em muito tempo.

            Saímos da Sede da Guarda Municipal rapidamente, Anji ficou vermelha ao assinar o primeiro carimbo de uma Guarda Municipal em sua ficha de civil, eu dei de ombros ao assinar o sexto carimbo de Morroc, que estava ao lado de dois de Payon e um de Alberta. Recebemos nossos pertences de volta e fomos ao chafariz para que elas pegassem um portal Kafra para Prontera.

            _ Adeus, minhas caras – eu lhes disse – quando voltarem a Morroc me procurem.

            _ O que você faz aqui mesmo, Trillian? – perguntou-me Juhz.

            _ Honestamente, nada – eu ri sem graça – ainda mais depois do que aconteceu ontem. Acho que não serei mais bem-vinda à Pirâmide ou à Guilda.

            _ Venha conosco então – propôs Anji – se é para não fazerdes nada, que o faça conosco. Em Prontera, longe deste deserto e de teus irmãos que podem querer fazer-te mal.

            Refleti durante apenas um segundo; nada mais me prendia àquela cidade. Sem sequer voltar à taverna para pegar minhas coisas eu entrei no portal com elas, com a roupa do corpo e o dinheiro dos bolsos. Durante um segundo tudo não passou de um borrão de cores e sons, mas logo a bela capital do Reino ergueu-se à nossa frente.

            _ Bem-vinda ao lar, Trillian – disseram-me Anji e Juhz ao mesmo tempo.

            _ Acreditem, é bom estar aqui.

            E foi assim, sendo enganada, traída, ferida em meu corpo e orgulho, presa e redimida; que eu as conheci. Elas moravam numa casinha simples logo ao Norte do Feudo das Valkyrias, durante algum tempo eu dormi na sala, mas depois conseguimos juntar Zeny o bastante para comprarmos um beliche e eu passei a dormir no mesmo quarto que Anji.

            Assim, sendo acolhida por uma Noviça com a qual eu duelei ferrenhamente e uma Alquimista que quebrava tudo à volta, que eu deixei minha miserável existência em Morroc para poder repensar num objetivo que consumisse minha vida. E ele não demorou a aparecer.

 

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Dobradores de Ar? Eu sinto a presença d eum plagio cuspido e escarrado de Avatar! Sério, não podia ter usado um Bruxo e sua Nevasca, ou um Sabio e seu Tornado, ou um mago e alguma coisa?

Meu ritual não é tão ruim assim não, os modos de realiza-lo são variados, a escolha do celebrante, alguns são hediondos, mas alguns não são (tão) ruins... E verdade... só o que ele faz é prender "o que sobrou' da alma ao mundo fisico.

E os elfos são imortais de envelhecimento, mas meio metro de ferro no estomago são pra sempre... Pelo que eu avaliei do titulo sua personagem faz o mesmo que um Lich, morreu volta em um semana...

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Draken... Não tem jeito, fio! Ela nos condenou ao tabuleiro... Ao maldito tabuleiro! [/snif]

 

[/:p]

 

Ju! Está ótimo o seu texto! Muito bom mesmo!!! ^^y Gostei do enredo, do roteiro, e a grafia está primorosa! Adorei a questão da rivalidade entre as classes Ladinas e as classes Sagradas. [/ok]

 

Mas, Ju, dá uma lida na Wikipédia, pesquisando sobre Mitologia Nórdica, e vc vai ver q os Elfos estão lá! São as criações do deus Frey, e são chamados de Valar! ^^y A Wikipédia tem uma referência bem completa lá, falando, inclusive, da criação d Midgard, entre outros detalhes.

 

Continua, q eu já sou leitor fiel! [/ok]

 

Beijos!

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@Draken

 

plágio... magina /lala

é que eu acho tão bonita esta denominação *-* [não sou boa com "criações de cargos"]

hauahuahuaha

Gostei do "método de como matar um elfo"  xD

 

@Adrom

 

hmm... agora você me pegou xD

vou olhar lá sim, muito obrigada a dica e desculpem a falha

[OMG mais coisas pra eu pensar depois /aiai]

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Dobradores de Ar? Eu sinto a presença d eum plagio cuspido e escarrado de Avatar! Sério, não podia ter usado um Bruxo e sua Nevasca, ou um Sabio e seu Tornado, ou um mago e alguma coisa?

 

É que tipo, guardiões do deserto que criam tempestades de areia são legais, e estão em vários livros/contos/estórias em geral; e nem todos os membros das Guardas Municipais podem fazer isso, depende da cidade =x

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Colocava "Guardiões da Tempestade de Areia" ou "Guerreiros do Deserto" ou botava cavaleiros com Zefiro e com uma rede magica ou coisa do genero...

Metodo pra matar um elfo? Nem, é metodo pra matar mesmo, se quiser eu posso enunciar listas de metodos para matar as mais diferentes coisas...

 

Medo.... MUITO MEDO³³³

Ah, eu já disse, eu acho uma nomenclatura bonita ;-;

nom briga com eu que eu viro emo [xP]

 

[próximo capítulo em breve... mas nem tão breve assim -_-v]

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O... m... g...!! Excelente história, gramática quese perfeita (hehe, eu sou meio chatinha com a gramática ^^") e história envolvente... sim, muito, muito, muito bom! Uma das melhores fics que eu já vi aqui, continue assim (y)

Ler coisas assim me dá vontade de escrever minha própria fic... *vozinha dentro da cabeça:"você deveria estar DESENHANDO!" >> eu sei T.T*

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Ahhhh que bom que estão gostando *-*

 

Nanne: eu me esforço bastante pra deixar a gramática bonita, também sou chata com isso ^^

Draken: you got it, numa próxima edição eu vou por outro nome, tá -__-'

 

E aqui vamos nós, Segundo Capítulo!! \o\

Escrevi há algum tempo mas esqueço de trazer pra lan e postar [sem net em casa é fods]

 

Aparição do Ferreiro do meu namorado inlife/ingame *-*

[o char principal dele é o sacer]

mas... por que eu to explicando tudo isso >_>'

[mania de explicar tudo... olha aí de novo]

 

De qualquer forma, agora é tarde pra vocês!!!

 

Capítulo 02: Primeiro Objetivo

Quase um ano havia se passado desde minha saída de Morroc quando eu me dei conta de minha verdadeira situação: estagnação. Anji havia se tornado Monja alguns meses depois de nos conhecermos e Juhz começara a ganhar fama pelas ruas de Prontera por suas poções.

Quanto a mim, permanecia uma Gatuna um pouco preguiçosa e sem um objetivo maior à frente. Durante algum tempo, o ar fresco e úmido da capital fez-me um bem inimaginável, eu treinava nos arredores da cidade ou nos esgotos até o sol se pôr e no fim do dia ainda tinha ânimo para oferecer no centro da cidade alguns equipamentos que eu eventualmente achava, barganhar com Mercadores e vender as inutilidades aos comerciantes normais. Porém, o ânimo foi-se com o tempo.

Em certo momento, lutar contra os insetos do esgoto não mais me acrescentava qualquer coisa, era entediante e eu me cansava facilmente. Foi então que Anji sugeriu que fôssemos juntas à Vila Orc. Aceitei a sugestão e naquele mesmo dia fomos à Vila.

Chegamos lá por um portal Kafra, o sol brilhava forte e havia uma brisa muito agradável soprando. A Vila é um lugar contraditório, é um dos mais belos lugares para se visitar, entretanto, é a morada dos odiosos e cruéis Orcs, uma maldita raça de monstros fisicamente semelhantes aos humanos, porém sem qualquer resquício de sentimentos, moral ou razão. Entregamos à Kafra nosso Colar de Retorno; um item que nos puxa para junto de si quando rasgamos uma asa de borboleta, por exemplo. É bem útil para evitar caminhadas longas; porém só se pode voltar a um mesmo ponto, a menos que você o entregue à outra Kafra.

Anji abençoou-nos e nos concedeu o dom da velocidade para chegarmos mais rápido ao lugar onde iríamos treinar. Chegando lá, ela invocou suas Esferas Espirituais, pequenos focos de energia que concediam mais força a ela. Sorrimo-nos e fomos enfrentar os primeiros Orcs, eram Guerreiros.

Depois que voltara do Monastério, onde se tornara uma Monja, Anji havia criado habilidades de combate sem iguais, em pouquíssimo tempo ela já havia derrotado dois dos Orcs Guerreiros, enquanto eu ainda estava começando a me acostumar a golpear aqueles monstros enormes e medonhos.

Treinamos durante grande parte da manhã, muitas vezes tivemos que usar asas de mosca para fugir das multidões de Orc que investiam contra nós. Estávamos exaustas e perto do meio-dia resolvemos procurar um lugar tranqüilo para podermos descançar um pouco e comer algo. Sentamo-nos próximas a uma velha construção Orc abandonada e começamos a almoçar.

Suco de cenoura, caldo de ervas e bonequinhos de gengibre. Sentíamos falta de Juhz, ela era uma companhia ótima para momentos de descanso, porém ela não podia treinar conosco na Vila porque não tinha aptidão para lutar e não queríamos que ela se ferisse. Tampouco ela desejava ser um peso morto para nós.

Terminamos de almoçar, permanecemos sentadas mais alguns minutos e depois voltamos ao treinamento. Quando estávamos nos dirigindo à planície no centro da Vila um homem passou entre nós, esbarrando em Anji.

_ Hei! – exclamou a garota.

_ Perdoe-me senhorita – pediu o homem unindo as mãos sobre o peito num gesto de perdão – estava tão absorto que não percebi que ia de encontro às senhoritas.

_ Tudo bem – disse-lhe Anji.

O homem sorriu sem graça e deu um passo para longe de nós, porém eu o segurei pelo colete vermelho forrado de pêlos de Lunático.

_ Devolva – disse eu sem encarar o Arruaceiro.

_ Do que estás falando, senhorita?

_ Não te faças de inocente – virei-me para o homem e o encarei – devolva o dinheiro da Monja agora!

Ele suspirou profundamente e tirou um saquinho de couro com um Z bordado em linha vermelha de um dos bolsos do colete.

_ Meu dinheiro! – Anji arrancou o saquinho das mãos do homem.

_ Não ouses fazer isto novamente – disse eu soltando o colete do homem e dirigindo a ele um olhar mortal enquanto ele se afastava. Meus olhares mortais sempre foram de grande valia.

_ Muito obrigada, Trillian – disse-me Anji assim que o Arruaceiro se afastou – eu sequer havia notado o que ele havia feito. Como conseguisses perceber? Foi tão rápido!

_ Todo Gatuno sabe furtar coisas dos outros, Anji – respondi-lhe – é algo tão natural para pessoas como eu, que sempre percebemos quando alguém rouba algo, mesmo que seja muito rápido e discreto.

_ Que bom que você estava aqui então – Anji sorriu-me – ou eu teria que voltar para casa a pé.

Sorri-lhe de volta; porém, algo havia começado a me incomodar; uma queimação no fundo de minha mente, como uma memória que desejava vir à tona e não tinha forças.

Continuamos treinando, um pouco mais lentas agora que havíamos acabado de comer. Eu já havia me acostumado aos Orcs, tinham grande resistência física e força, porém, eram bastante lentos, o que era uma vantagem para mim. Nas vezes que me acertavam golpes de machado, Anji me curava e ela também me defendia das flechas dos Orcs Arqueiros invocando Escudos Sagrados sobre mim. Eu estava concentrada nos Orcs, porém uma parte de minha mente permanecia absorta naquela queimação que havia começado ao ver o Arruaceiro. Aquela sensação de memória perdida querendo voltar.

Diversas vezes Anji perguntou-me o que estava acontecendo, "seus olhos estão estranhos" dizia-me com ar de preocupação. "Não é nada, Anji" – perdi as contas de quantas vezes eu lhe repeti esta frase naquele dia. Várias vezes eu vi o Arruaceiro com o canto do olho, e ele sempre desviava o olhar de mim, talvez por isso a lembrança não conseguisse forças para voltar.

Foi quando um acaso trouxe o homem para meu campo de visão novamente e eu o vi lutar contra os Orcs. Era ágil, muito mais do que eu, esquivava-se de três machados ao mesmo tempo com uma leveza invejável. Porém, apesar de não estar sendo atingido, estava tendo dificuldades: não conseguia ferir os Orcs com eficiência. Os pesados escudos de madeira, capacetes e couraças impediam que sua Gladius penetrasse na pele azul e grossa dos monstros.

O homem lutava com fúria espantosa, porém, sem efeito. Em dado momento, ele golpeou o capacete de um dos Orcs com o cabo da adaga e ele caiu, deixando a cabeça do monstro desprotegida, e o Arruaceiro logo lhe cravou a Gladius entre os olhos, matando-o imediatamente.

Meus olhos tornaram-se abismos e eu perdi minha coordenação, permaneci apenas observando o Arruaceiro, enquanto, lentamente, a lembrança me vinha à mente.

Os outros dois Orcs, ao verem o companheiro morto, lançaram-se sobre o homem com muito mais força. Ele esquivou-se do machado do primeiro e com precisão admirável cortou as tiras de couro que prendiam a couraça sobre o peito do Orc. Com outro golpe perfeito, ele arrancou o escudo do monstro; deixando-o sem defesa. Arrancou os machados de ambos os Orcs num único movimento, e tirou o capacete do último também. Então a Gladius fez-se sentir na carne dos monstros, que duraram pouco tempo desprotegidos contra a fúria daquele Arruaceiro.

_ Tril... – Anji chacoalhou-me pelo ombro com um pouco de força – Trillian! O que está havendo?

Virei-me com os olhos ainda transformados em abismos verdes, ela recuou e jogou uma Poção Verde em mim, julgando-me com algum status anormal.

_ Sinto muito Anji – disse-lhe com verdadeiro pesar – estou preocupando-te à toa.

_ Minha preocupação não é vã – ela tomou meu rosto nas mãos – estás pálida, Tril, tome isto e vamos voltar para casa – ela entregou-me uma asa de borboleta que eu rasguei sem pestanejar.

Parada ao lado da Kafra, esperando Anji chegar para voltarmos a Prontera, remoia a lembrança com pesar. Como pudera esquecer daquilo?

Assim que Anji apareceu, tratei de pôr uma expressão simples e insuspeita no rosto; pagamos à Kafra para que ela nos abrisse um portal para casa e em pouco tempo já estávamos de volta ao lar. Juhz havia recém chegado também, estivera negociando no centro desde cedo e estava satisfeitíssima com os negócios que havia feito.

_ Ah, estou tão cansada – disse ela sentando-se no sofá e começando a mexer nos espólios de sua guerra comercial – mas valeu a pena! Comprei uma carta Hidra por um preço ridículo! Acho que o pobre Mercador era um novato... – ela calou-se um pouco, refletindo. – Mas quem se importa.

Anji riu com ela e pediu licença para ir tomar banho, permaneci calada sentada numa cadeira perto de Juhz.

_ Tenho uma coisa para ti – disse-me ela com um sorriso radiante.

_ Para mim?

_ Sim! – ela levantou e foi até mim com uma carta na mão – Um Ferreiro contou-me que é uma carta boa para Gatunos; eu fiquei receosa de comprar, mas como estava muito barato eu a comprei para ti!

_ Nem sei como agradecer-te, Juhz – uma emoção inédita tomou conta de mim, era a primeira vez que eu ganhava um presente que não vinha com uma segunda intenção por trás. Peguei a carta e a segurei com carinho, era uma carta Sorrateiro, encantada com o espírito de uma cobra do deserto e com um desenho da mesma.

_ Faça bom uso dela e eu ficarei satisfeita – disse-me ela voltando ao carrinho para catalogar as compras e fazer o balanço de seus lucros.

Continuei a encarar a carta, encantada, com os olhos brilhando. Apesar de estar exultante com o presente, fiquei um tanto desconfiada de que o Ferreiro havia enganado Juhz: carta Sorrateiro serve para infligir Dano Duplo aos ataques, mas esta é uma habilidade de qualquer Gatuno, logo, era uma carta inútil para mim. Resolvi que um dia daria utilidade a ela, por hora eu a guardei num baú junto com outras cartas e equipamentos que havia conseguido durante meus treinamentos. Permaneci na penumbra do quarto até que Anji voltou, enrolada numa toalha branca e com os cabelos pingando.

_ Tril, estás tão estranha, minha amiga – ela olhou-me com tristeza. – O que aconteceu a ti?

_ Anji, juro-lhe que estou bem; apenas fui tomada de uma preocupação que há muito não me atingia.

_ Há algo que eu possa fazer para ajudar-te?

_ Não.

Sorri-lhe e fui tomar banho para que pudéssemos jantar. Na cozinha, Juhz já preparava a comida. Entrei no banheiro com a cabeça latejando, liguei o chuveiro na água fria e permaneci longos minutos apenas sentindo-a cair sobre meus ombros, penetrando entre meus cabelos e descendo por meu corpo até ir ralo abaixo.

Havia feridas superficiais ao longo de meus braços e pernas, minhas costas estavam um pouco queimadas do sol e tudo isto ardia ao entrar em contato com a água. Porém, o que mais ardia eram meus olhos, corroídos de lágrimas.

_ Demoraste no banho, Tril – censurou-me Juhz quando passei pelo corredor usando meu roupão atoalhado com os cabelos enrolados na toalha – o jantar está quase pronto, sugiro que te apresses.

_ Não irei demorar-me, Juhz, pode acalmar-te.

Peguei uma muda de roupas no armário e, por acaso, olhei-me no espelho que Anji tinha posto no interior da porta. Durante alguns segundos perdi o olhar em meu corpo. Ora, estava com mais de dezesseis anos, mas imaginava-me sempre como uma criança pequena; olhando-me no espelho àquela hora, vi que havia crescido muito mais do que minha auto-imagem podia supor. A toalha prendia meus cabelos deixando meus ombros à mostra, ombros um pouco largos demais para meu gosto. Soltei a toalha e meus cabelos verdes caíram sobre os ombros, deixando-me um pouco mais satisfeita ao vê-los parcialmente cobertos.

Respirei fundo, fechei a porta do armário e vesti-me rapidamente; estava saindo quando voltei para olhar-me novamente: o que estaria me acontecendo, afinal? Então eu me perguntei pela primeira vez, se seria atraente afinal.

Saí do quarto irritada comigo mesma, sentei-me à mesa com Juhz e Anji e logo relaxei ouvindo as estórias de Juhz sobre os Mercadores do centro de Prontera. Uma raça única, segundo ela; e de fato o eram, uma vez que ela sempre trazia novos relatos deles para contar-nos durante o jantar. Esta noite, ela nos contava sobre uma Ferreira que conseguia reforçar a lâmina de qualquer arma até nove vezes sem quebrar; Juhz seguiu contando sobre a Ferreira, sentada ao nosso lado enquanto lavávamos a louça. Logo ela passou a falar sobre os negócios.

_ Porque o mercado está carente de novas poções! – dizia ela, indignada – As pessoas precisavam ousar mais, hoje eu vi um Alquimista vendendo Poções Compactas, fiquei admirada! Ele conseguiu deixar a poção tão concentrada que ela não é só mais leve como também mais eficiente que uma poção comum.

_ Você deveria tentar – dissemos Anji e eu juntas.

_ És muito talentosa, minha irmã – disse Anji sorrindo – Deverias tentar, pergunte a ele como fazer esta Poção Compacta, quem sabe não seja o que falta para que tu cries algo ainda melhor?

_ Sabes de uma coisa – Juhz levantou-se resoluta – tens razão, Anji! Eu irei descobrir como fazer esta Poção Compacta e irei aprimorar o processo de criação e vou fazer algo realmente revolucionário!

_ Tenho certeza que sim – disse-lhe eu sorrindo.

_ Mas – ela respirou fundo – só amanhã, por que hoje estou exausta...

Anji e eu rimos do jeito dela falar; mas Juhz estava certa, estava tarde e estávamos todas exaustas. Despedimo-nos e fomos dormir.

_ Anji – um ressonar assustado respondeu-me – estás acordada?

_ Hmm...

_ Quero dizer-te algo.

_ Hmm...

_ Vou partir daqui amanhã.

_ O que?

_ Vou partir – debrucei-me sobre a beirada de minha cama para encará-la – amanhã eu vou voltar a Morroc.

_ Para quê?

_ Para cumprir um dever para comigo mesma.

_ Mas... – ela mordeu o lábio – tens certeza de que precisas ir? Pode ser perigoso voltar para lá.

_ Sim – estendi-lhe a mão e ela a segurou – mas voltarei antes que sintam minha falta.

_ Mesmo?

_ Prometo-lhe, minha amiga, eu jamais as deixaria.

_ Então eu aceito que vás – ela sorriu sonolentamente, soltou minha mão e virou-se para voltar a dormir.

Permaneci calada, encarando o teto com os olhos arregalados e ardidos de sono. Não sei dizer em que momento meus devaneios tornaram-se sonhos, uma vez que ambos tratavam da lembrança que havia voltado. Na manhã seguinte acordei assustada, respirando com dificuldade e suando frio.

_ O pesadelo de Morroc – ri-me de minha estupidez, depois de ter aquela lembrança de volta, o pesadelo fez sentido. Saltei de minha cama e caí suavemente no chão, sem sequer fazer barulho. Fui para a cozinha onde Juhz preparava o café da manhã e lhe contei sobre meu plano de voltar a Morroc.

Ela ouviu em silêncio e concordou com minha partida, sequer perguntou o porquê de minha súbita necessidade de ir a Morroc. Mais que ninguém, ela entendia as razões que as pessoas tinham para fazer algo e não divulgar os motivos. Anji apareceu logo depois, juntas tomamos o café da manhã em silêncio.

Juhz abraçou-me demoradamente e deu-me mil recomendações antes de sair para o centro de Prontera. Anji fez o mesmo e foi à Vila Orc para continuar treinando, suspeito que elas não queriam ver-me partir com os próprios olhos.

Fui até o quarto e vesti meu traje de Gatuna, amarrei o laço vermelho em minha cintura com algumas lágrimas a fazerem meus olhos brilhar. Por mais que soubesse que em breve estaria de volta àquela casa, não pude deixar de sentir-me triste por ter que deixá-la, mesmo que temporariamente. Abri meu baú, peguei e vesti uma longa capa de viagem com capuz e meu velho Sakkat; guardei minha antiga Main Gauche, diversas asas de mosca, poções variadas, alguma Gemas Azuis, a carta Sorrateiro e outras utilidades em minha bolsa cinzenta de couro de Sasquasch.

Embainhem minha Damascus à porta de casa, tranquei-a bem e guardei a chave dentro da boca da "adorável" Planta Carnívora que Juhz criava no beiral da varanda. Com um suspiro e uma última olhada para casa, eu segui para o Sul, atravessando o Feudo das Valkyrias encantada com a suntuosidade dos Castelos e dos estandartes com o emblema de vários Clãs pendurados à frente deles.

Passei por Prontera o mais rápido que pude, tomando ruas secundárias que encompridavam meu caminho, para evitar encontrar Juhz e ter que me despedir "de verdade" dela. Já era quase hora do almoço quando eu deixei para trás a capital e sua muralha e portões e toda sua alegre confusão mercantil.

Durante todo o dia em caminhei sem parar, rumo a Morroc; quando tinha fome, pegava uma das maçãs que havia trazido e a comia sem parar de andar. Quando o sol já estava quase totalmente posto eu estava quase saindo da planície arborizada aos arredores de Prontera; ao longe eu já podia avistar a mancha dourada e vermelha que era Sograt refletindo a luz rubra do pôr-do-sol.

Aproveitando os últimos raios do sol daquele dia, reuni lenha e fiz uma pequena fogueira próxima a uma árvore que me serviria de ponto de acampamento por aquela noite. Com alguma dificuldade fiz um fogo decente e forte, e consegui um Lunático para que pudesse jantar algo mais substancioso que uma maçã.

Admito que fiquei repugnada ao limpar as entranhas do pobre coelho, mas, com um pouco de paciência, sal e alguns minutos no fogo, rendeu-me um bom jantar.

Recostei-me então à árvore e fiquei observando o fogo, perdida em devaneios, quando ouvi um guincho agudo e tristonho. Olhei à volta e vi um filhote de Lunático rondando meu acampamento.

_ Ai, meus deuses – sussurrei para o coelhinho – não me digas que eu jantei tua mãe... – mordi o lábio com um sentimento de pesar.

O filhote olhou-me com seus olhinhos escuros e virou a cabeçinha de lado, como a indagar-me pela mãe. Lentamente, consegui chegar perto do bichinho e o peguei com carinho. Ele soltou um guincho triste, mas não se debateu nem tentou morder minhas mãos. Peguei uma cenoura em minha bolsa e dei uma lasca para ele, o filhotinho a cheirou e comeu rapidamente, fazendo um barulho engraçado.

_ Desculpe-me filhotinho, eu não sabia que era tua mamãe – ele me olhou novamente e pulou até mim.

Naquela noite o Lunático dormiu em meu colo, aquecendo-me do frio noturno; e na manhã seguinte ficou cercando minhas pernas enquanto eu arrumava minhas coisas para partir.

_ Queres ir comigo? Não podes, para onde eu vou, não se pode levar coelhinhos, sinto muito – ele lançou-me um olhar de cachorro que caiu da mudança. – Não me olhes assim... por favor... ahhhh, que seja, podes vir.

O Lunático seguiu-me o dia todo, mesmo quando chegamos ao deserto. Ao anoitecer eu brinquei com ele durante um bom tempo, depois jantamos um Condor, que eu torci para não ser pai de nenhum filhotinho que me aparecesse. Resolvi então que teria que dar um nome ao Lunático, por que não poderia chamá-lo de "Lunático" a vida toda. Resolvi balizá-lo de Radamanthis.

Na manhã seguinte Radamanthis e eu comemos cenouras e começamos a caminhada bem cedo para podermos avançar enquanto o sol não estava muito forte.

A caminhada entre Prontera e Morroc tomou-me cinco dias e quatro noites. Lá pelas três horas do quinto dia, chegamos à cidade; achei que teria algum sentimento como "de volta ao lar" quando visse os muros de pedra e barro, mas tudo o que eu pensei foi "preciso tornar-me uma Arruaceira, e partir daqui o quanto antes".

Fui a uma hospedaria e pedi o aposento mais barato que tinham, levei minha bolsa até o quarto e fui tomar banho. O chuveiro não tinha pressão e a água que caía parecia mais uma garoa do que uma ducha. Depois de muito tempo saí do banheiro enrolada numa toalha áspera da hospedaria. Troquei-me e fui com Radamanthis ao centro, vender algumas coisas que havia achado no caminho para levantar fundos para a estadia.

Jantei num restaurante que conhecia dos tempos em que morava na cidade, comprei cenouras e maçãs para Radamanthis e antes das dez horas já estava de volta, alimentando meu Lunático e olhando alguns mapas dos arredores de Morroc cedidos pelo dono da hospedaria.

Logo pela manhã cedo eu estava acordada, vestindo meus trajes de Gatuna, meu Sakkat e minha capa; pronta para ir à Guilda dos Arruaceiros.

Fui à Kafra e pedi que ela me abrisse um portal para Comodo, de onde seria mais fácil chegar à Guilda. Comodo, a cidade da noite eterna, é um dos mais famosos destinos turísticos de Rune-Midgard, cheio de aventureiros atrás de diversão boa e barata; além de cavernas alagadiças onde jovens heróis vão treinar com freqüência.

Pedi à Kafra que me dissesse como chegar à Ilha de Comodo:

_ Vais tornar-te uma Arruaceira? – perguntou-me com voz aguda e animada.

_ Sim, é o que pretendo.

Ela riu escandalosamente e me deu uma indicação clara de como chegar à Ilha, agradeci-lhe e segui o caminho indicado por ela. Era um caminho longo, e eu havia perdido a noção das horas por causa da penumbra que reina, dia e noite, em Comodo.

Cheguei à Ilha bastante cansada, mas não havia tempo de parar; comi uma maçã e dei um pedaço a Radamanthis e seguimos para o Farol, onde poderia pedir mais informações. No Farol, uma Dançarina e um Bardo faziam um show aos aventureiros que estavam por lá, observando-os de longe havia uma Arruaceira. Aproximei-me da mulher e pedi-lhe a informação, que ela deu sem ânimo. Agradeci e fui embora.

O caminho não era tão longo, porém, muito acidentado, com escadas muito íngremes e antigas, morros de areia solta e muitas outras desventuras. Cheguei à Guilda exausta, com os joelhos e mãos ralados, e o suor escorrendo pelo rosto. Sentei-me à porta e descansei alguns minutos, tomei uma Poção Laranja para recuperar as energias e entrei resoluta a tornar-me uma Arruaceira.

A Guilda era uma espécie de labirinto, cheia de escadas e portas pesadas que rangiam muito, levei algum tempo até encontrar alguém.

_ O que desejas? – indagou-me um Arruaceiro de meia-idade sentado num baquinho próximo a uma porta.

_ Tornar-me uma Arruaceira – disse ao homem, com voz firme.

_ Isso eu já sabia, Gatuna tola – ele levantou-se do banquinho e me olho de cima – mas, ninguém deseja tomar para si uma profissão a menos que tenha um objetivo. Um garoto que se torna Cavaleiro deseja manter a ordem; um que se torna Bardo deseja levar alegria aos lugares onde passa, e tu: o que desejas?

Refleti por um segundo, o que eu desejava tornando-me Arruaceira? A resposta mais correta seria "vingança", mas não acreditei que isso agradaria ao homem. "Liberdade" respondi-lhe com simplicidade "desejo ser dona de minha vida".

_ Correto – ele sorriu e fez-me várias perguntas sobre vários assuntos; pedindo-me inclusive que demonstrasse algumas de minhas habilidades de Gatuna. Ao fim de quase uma hora ele guiou-me até uma sala onde eu seria testada fisicamente.

_ Bem vinda, irmã – a Arruaceira que eu havia encontrado no Farol veio ao meu encontro – bom saber que conseguiste chegar aqui.

_ Tuas indicações foram claras, irmã, não teria como eu não chegar.

_ Alguns fracassam antes de chegar; são fracos e não têm persistência para alcançar este lugar. Pelo simples fato de teres chegado aqui, metade de teu teste físico já foi feito: agora, deves passar por nosso labirinto. Siga-me.

Segui com ela por várias portas e corredores até chegarmos a um portal grande, entalhado com runas antigas.

_ Aqui começa nosso labirinto – disse-me a Arruaceira – deves passar por ele, a qualquer custo. Há monstros de todos os níveis aí dentro; não é preciso que os derrote, apenas que passes por eles.

Concordei com a cabeça, ela sorriu e tomou Radamanthis nas mãos.

_ Será melhor para seu Lunático esperar comigo no fim do labirinto, pode ser perigoso para um ser tão pequeno e inocente.

Voltei a concordar, fiz um carinho em Radamanthis e atravessei o portal para iniciar o teste. O labirinto era feito de pedras cinza, com paredes muito grossas e teto alto, a cada metro havia um archote aceso. Fui caminhando, escutando com atenção, andando sem fazer ruídos.

Já havia entrado em dois becos sem saída quando vi, à distância, um grupo de Múmias, cerca de dez ou doze. Esgueirei-me silenciosamente, torcendo para que elas não me vissem. Pisei em falso e fiz um ruído seco numa pedra solta do chão. As Múmias viraram-se furiosas em minha direção, pensei em enfrentá-las; mas, como a Arruaceira havia dito que não seria necessário, resolvi apenas fugir para evitar perda de tempo.

Correndo com todas as forças que minhas pernas cansadas me permitiram, consegui uma pequena vantagem sobre as Múmias, entrando em vários corredores aleatórios e, incrivelmente, sem cair em becos sem saída. Arfando, encostei-me a uma parede do labirinto, tomei outra Poção Laranja e segui em frente.

Seguindo pelo mesmo corredor, cheguei a uma trifurcação, fiquei indecisa sobre qual caminho tomar e permaneci parada; foi quando ouvi um som seco e pesado atrás de mim, como se alguém arrastasse uma pedra muito pesada. Ergui as sobrancelhas e virei-me: uma caixa, semelhante a um baú, estava posta no meio do corredor no qual eu estava.

_ Um baú? – fui até a caixa e a encarei fixamente, ela se movia suavemente, como se respirasse; estiquei o braço para tocá-la quando ela se abriu com um clique.

Uma sombra projetou-se da caixa e estendeu garras afiadíssimas para tentar pegar-me.

_ Venha a mim, Gatuna – o ser na caixa, um Mímico, sussurrou em voz rouca – venha ver o que há dentro de mim... irei mostrar-lhe coisas que nunca viu...

Afastei-me imediatamente do Mímico, mas ele arrastava a caixa na minha direção puxando-a pelo chão, fazendo o barulho seco que eu havia ouvido. Rapidamente resolvi seguir pelo caminho da direita, corri enlouquecidamente enquanto o Mímico ia arrastando-se muito rápido atrás de mim. Foi com um alívio extremo que vi uma bifurcação à frente, enveredei por um corredor e escondi-me. O Mímico parou na bifurcação, analisou o ambiente e seguiu pelo outro corredor.

Permaneci escondida durante muito tempo, quando julguei seguro, revelei-me e segui pelo corredor, depois de algum tempo eu cheguei a um portal semelhante ao da entrada, recortados contra a luz que entrava pelo portal estavam a Arruaceira e Radamanthis. Corri para eles, o Lunático pulou em meu colo e lambeu-me o rosto com a lingüinha rosada e macia.

_ Parabéns irmã – ela me levou para uma sala – estou mesmo orgulhosa de você! Conseguiste em apenas duas horas e meia, muitos passam a noite aí dentro. Passarei teus resultados ao nosso líder para ele avaliar-te. Sugiro-lhe que aproveite o tempo, coma e durma – ela ofereceu-me chá e pita numa sala reservada nos fundos da sala em que estávamos.

_ Acatarei tua sugestão – sentei-me numa grande poltrona e comi um pouco, mas aos poucos fui adormecendo, o cansaço era tamanho, que sequer tive pesadelos ou sonhos. Na manhã seguinte Adrienne acordou-me, com um grande sorriso no rosto e um fardo de roupas.

_ Trillian! Foste aceita como uma Arruaceira – disse-me ela assim que eu acordei. – Nosso líder considerou-te digna de ser uma de nós, uma Arruaceira, livre e dona de tua vida, como tu mesma disse!

Com os olhos brilhando eu a abracei e peguei o fardo de roupas que ela me estendeu; Adrienne saiu da salinha enquanto eu me trocava. Tirei meu fiel traje de Gatuna com um pesar alegre, dobrei-o com carinho e o guardei em minha bolsa. Vesti a meia-calça estilo arrastão com orgulho, calcei as sandálias, vesti a bermuda, o cinto e, por fim, o longo sobretudo vermelho forrado de pêlos de Lunático.

Saí da salinha, Adrienne parabenizou-me novamente. Durante duas semanas eu permaneci na Guilda, aprendendo diversas técnicas relacionadas às "artes da arruaça", como dizia Adrienne, que foi minha mestra. Ela disse que havia muitas coisas para se aprender, começamos do básico: caminhar escondida, furtar enquanto lutava, técnicas de "persuasão", manejo de adagas...

_ Mas, ao contrário dos Assassinos, nós podemos empunhar arcos com perfeição – disse-me ela certo dia – embora poucos façam esta escolha...

_ Desejo aprender a manejar arcos também, Adrienne! – disse sem pestanejar

_ Tens certeza? Há muitas vantagens, eu concordo, como atirar de longe, mas assim tu perderá tua capacidade de dar Dano Duplo!

Pensei durante um segundo:

_ Não vou não.

_ Sim, vais; é impossível dar Dano Duplo com arco e flecha, a menos que tenhas...

_ Uma carta Sorrateiro – completei a frase puxando a Sorrateiro que Juhz havia me dado de dentro da bolsa.

_ Certo então – Adrienne sorriu e ensinou-me a manejar arcos.

Ao fim das duas semanas de treinamento despedimo-nos com pesar, havíamos nos tornados boas amigas.

_ Mas o que tu aprendeu ainda não é tudo – disse-me ela – deves voltar aqui quando dominares estas técnicas com perfeição, então Nathan irá ensinar-lhe o avançado das artes da arruaça.

Nathan, o Arruaceiro de meia-idade, que agora eu sabia ser líder máximo da Guilda, veio despedir-se de mim minutos antes de eu partir; desejou-me sorte e que eu voltasse em breve.

Radamanthis e eu caminhamos até que o sol posicionou-se exatamente sobre nós, castigando-nos com fúria celestial. Sequer tínhamos vontade de comer, tamanha a insolação e desidratação que nos consumiam.

_ Acho que isso vai nos ajudar – disse eu tirando uma asa de borboleta da bolsa; abracei Radamanthis e a rasguei, para minha surpresa, permanecemos no mesmo lugar. – O que será que houve?

Soltei o pequeno coelho no chão e comecei a mexer em minha bolsa, para minha tristeza suprema, meu Colar de Retorno estava lá comigo. Eu havia esquecido de dá-lo para a Kafra quando deixara Morroc. Radamanthis olhou-me confuso, fiz-lhe um carinho entre as orelhas e seguimos caminhando.

Não havia pegado comida para a viajem na Guilda, tinha apenas duas maçãs para todo o caminho até Morroc, ou, no mínimo, até Comodo.

Avançávamos lentamente, mais três poções e também não teríamos o que beber. Ao fim do segundo dia de caminhada, chegamos ao Farol, onde dormimos e tivemos uma boa refeição. Seguimos, um pouco mais animados, no dia seguinte. Não havia comida para comprarmos no Farol, tínhamos apenas mais meia maçã e uma Poção Laranja.

O sol ainda não se havia posto quando resolvi parar, o casaco que indicava minha nova classe era longo e muito quente, e a sombra que o Sakkat fazia sobre meu rosto não impedia que o reflexo do sol na areia queimasse meus olhos.

Sentei ao pé de uma palmeira mirrada, que serviu mais como apoio do que como sombra. Radamanthis mal se movia, com a lingüinha de fora e os olhinhos baixos. O cansaço e dor físicos eram cruéis, o tronco duro da palmeira parecia-me até mesmo confortável. Desci ainda mais o chapéu sobre o rosto e fechei os olhos, quem sabe se dormisse naquele momento, o frio da noite me acordaria e eu poderia seguir sem o sol a castigar-me.

O pesadelo de Morroc, aquela maldita seqüência de imagens que me atormentara incontáveis vezes, e que agora eu entendia. Era muito estranho que eu não o tivesse associado àquela lembrança antes; mas, eu sequer tinha aquela lembrança antes de me encontrar com o Arruaceiro na Vila Orc. Hoje eu sei o porquê disso, mas na época eu me remoí nestes pensamentos horas antes de pegar no sono debaixo daquela palmeira franzina.

Do fundo do meu torpor ouvi alguns sons que mal chegavam a mim, gritos de uma voz masculina, uivos de Lobos do Deserto, sons de luta...

_ Até que enfim acordaste! – a voz masculina soou próxima a mim, num tom de alívio – Pensei que teria que chamar um Sacerdote, ou Noviço ao menos para te curar, mas pelo jeito só com cuidados médicos simples tu conseguiu te recuperar.

Tentei sentar, mas a mão forte do rapaz que falava comigo pousou em meu ombro e fez com que eu permanecesse deitada. Onde eu estava, era fresco e não muito claro; pisquei com força algumas vezes antes de focalizar os olhos castanhos do Ferreiro que estava comigo.

_ Quem és tu, hmm... Onde estou? – minha cabeça latejava.

_ Ah, sou Marcus – disse-me o Ferreiro sorrindo – Marcus Diavlo, muito prazer, senhorita...

_ Trillian – respirei fundo, o ar estava levemente perfumado – onde estou?

_ Ah, estás em meu acampamento, lógico – Marcus levantou-se e saiu de meu campo de visão. – Eu a encontrei ontem no começo da noite, perto da palmeira que demarca o território dos Lobos do Deserto. Tiveste sorte, senhorita Trillian, por eu estar passando naquele momento; muitos morreram nas garras daqueles Lobos, assim como faria a senhorita caso eu não tivesse aparecido.

Ele voltou com um vasilhame de porcelana, ajudou-me a sentar e amparou-me com o braço esquerdo enquanto virava uma Poção Azul em minha garganta com a outra mão.

_ Esta poção vai recuperar sua energia e combater os efeitos da insolação e desidratação. O efeito é mais lento, porém muito mais duradouro do que de uma Poção Laranja ou Amarela.

_ Muito obrigada, senhor Marcus.

_ Senhor? Estás de brincadeira, não – o jovem Ferreiro riu – não me chames de senhor, não devo ser tão mais velho do que tu mesma.

_ Então não me chames de senhorita – ele voltou a deitar-me com cuidado e disse que iria sair para conseguir comida para jantarmos.

Permaneci deitada, um pouco sonolenta, mas sem dores, numa espécie de saco de dormir consideravelmente macio, num lugar fresco e seguro. Estava muito melhor do que estivera nos últimos dias. Depois de algum tempo ouvi um sonzinho familiar, Radamanthis aproximou-se feliz e deitou-se em cima de mim ronronando. Marcus voltou algum tempo depois trazendo um Condor e algumas ervas amarelas consigo.

_ Estás bem, senh... Trillian? Talvez devesse vir para fora da tenda comigo, respirar ar fresco, andar um pouco, estás deitada a quase vinte e quatro horas.

Levantei-me com a ajuda dele, minhas pernas bambearam um segundo, mas ele me manteve de pé, seguimos para fora da tenda, onde havia uma fogueira cercada de pedras com um Condor assando trespassado por uma estaca. Sentamo-nos perto do fogo e permanecemos em silêncio, observando o fogo crepitando e a carne do Condor aos poucos tornar-se escura e começar a exalar cheiro de comida.

_ Salvaste minha vida – disse por fim – por quê?

_ Porque não é certo deixar que alguém morra – disse-me ele como se considerasse tal hipótese loucura. – Os seres humanos têm apenas a si mesmos, não podemos permitir que um monstro mate um de nossos semelhantes. Ainda mais sendo uma jovem senhorita que sequer podia defender-se no momento.

Baixei o rosto e encarei meus pés durante muito tempo, ele voltou a calar-se e começou a mexer no Condor.

_ Não sei se eu faria o mesmo em seu lugar – disse por fim. – Talvez eu passasse reto, escondida... – levantei o rosto, ele me encarava estupefato – Acho que não ajudaria uma garota que estivesse dormindo, como você fez, teria sido falha dela dormir naquele lugar. Foi falha minha.

_ Você acha que seria capaz de ver alguém morrer e não fazer nada? – ele me entregou um pedaço de carne na mesma vasilha na qual eu tomara a Poção Azul – Seria o mesmo que assassinar esta pessoa, não sois Assassina, sois Arruaceira, prezas a vida e a liberdade...

_ As minhas.

_ Então talvez eu tenha errado ao te salvar – os olhos do Ferreiro demonstravam uma tristeza imensurável. – Feri-me ao te salvar, gastei tempo e dinheiro contigo, e tu não faria o mesmo por outra pessoa; aqueles que não se esforçam pelos outros, não merecem que os outros se esforcem por eles.

_ Tu te feriu ao me salvar? – levantei-me e fui até perto dele. – Estás melhor?

_ De que te importa, Arruaceira egoísta? Termina de comer e vá embora daqui!

_ Marcus...

_ Não és uma boa pessoa, és egoísta e não tens respeito pela vida alheia – o tom de voz dele era frio. – Não sois mais bem vinda aqui, mas como não sou mesquinho como tu, deixarei que termines de comer.

Ele levantou-se e foi para a tenda, fechando a cortina ao passar; claro sinal de que eu realmente não era mais bem vinda. Terminei de comer rapidamente, assoviei para que Radamanthis viesse e ele não demorou a pular para junto de mim, tomei-o no colo e suspirei.

_ Adeus, Marcus, agradeço-lhe o que fizeste por mim – virei-me e comecei a caminhar para longe do acampamento do Ferreiro quando ouvi que ele me chamava.

_ Esqueceste tuas coisas – disse-me jogando minha bolsa para mim antes mesmo de eu entrar no círculo de luz da fogueira.

Peguei a bolsa no chão e continuei a caminhar, a noite estava bastante clara por causa da lua nova e não muito fria. Estava bem descansada e caminhei até o meio-dia do dia seguinte, Marcus havia posto algumas cenouras em minhas coisas, possivelmente para Radamanthis. Eu peguei duas, comi uma e dei a outra ao Lunático. Continuamos caminhando e no fim da tarde estávamos em Comodo, onde fui a um bar comemorar, mesmo que sozinha, a realização de minha primeira meta.

Segundo o relógio do bar, eram seis e meia da manhã quando eu saí de lá, tomei um portal Kafra para Morroc, voltei à hospedaria e dormi até as três da tarde. Tomei um banho demorado, um remédio para enxaqueca, comi e fui ao centro da cidade.

Desde que Adrienne havia me ensinado a usar arcos, eu estava decepcionada com o desempenho de minha Damascus; fui então atrás de um bom arco para mim. Caminhei um bom tempo até achar um jovem Mercador oferecendo uma Gakkung com suporte para duas cartas.

_ Por quanto estás vendendo a Gakkung, menino? – perguntei-lhe

_ Seiscentos mil Zeny, senhorita – respondeu-me ele, solícito e sorridente.

_ Dou-lhe quatrocentos e cinqüenta e mais minha Damascus reforçada seis vezes – disse-lhe olhando-o fundo nos olhos. Era um truque que Adrienne havia ensinado, consistia em forçar a mente do outro a acatar sua vontade apenas com o olhar, as grandes vítimas dessa técnica de persuasão normalmente eram os Mercadores e comerciantes em geral.

O garoto tentou gaguejar algo, por fim tomou o saquinho de couro com o dinheiro e a adaga entregando-me o arco. Agradeci-lhe, comprei flechas com outro garoto e fui para a hospedaria com Radamanthis a me seguir. Dormi cedo e logo pela manhã segui rumo a Prontera.

No segundo dia de viagem o dia estava nublado e um pouco frio. Radamanthis e eu comemos um pedaço do pão que havíamos comprado em Morroc e caminhamos tranquilamente até sermos surpreendidos por uma movimentação suspeita à nossa frente.

Quatro homens, entre eles um Sábio muito musculoso e um Espadachim mal encarado, estavam formando uma roda em volta do que parecia ser uma quinta pessoa. Haviam lascas de madeira queimada e retalhos fumegantes ao redor do grupo. O Espadachim chutou a pessoa que estava ajoelhada no centro e ela gemeu dolorosamente.

Meu primeiro instinto foi seguir reto, porém, Radamanthis censurou-me com um guincho agudo. Encarei o Lunático e vi que ele estava certo, pensei em Marcus e decidi que eu não podia ser alguém tão mau assim.

O Sábio iniciou a conjuração de uma magia sobre a pessoa, mas antes de ele poder terminar havia uma flecha cravada em seu joelho, o que desfez sua concentração.

_ O que queres mulher? – perguntou-me o homem arrancando a flecha da perna – Estás louca?

Permaneci calada enquanto puxei outra flecha do aljave e a coloquei em posição, acertei-o no outro joelho, ele caiu pesadamente no chão. O Espadachim e os outros dois homens partiram enfurecidos para atacar-me. Coloquei cinco flechas no arco ao mesmo tempo e abati um dos homens, que caiu contorcendo-se no chão. Outra Rajada e lá se ia o segundo homem. O Espadachim, entretanto, estava usando uma pesada Armadura de Madeira, que impedia que as flechas o atingissem.

Quando ele estava a poucos metros de mim, com a Tsurugi em riste, minha única opção foi esconder-me. Ele parou, espada pronta, virando-se para tentar me ver. Agora que eu sabia caminhar enquanto estava escondida dei a volta nele e, quando estava atrás do garoto revelei-me. Antes mesmo de ele perceber e tentar me atacar, a Armadura estava se desfazendo em placas frouxas de madeira.

Voltei a me esconder enquanto ele tentava, em vão, manter a Armadura montada. Tomei distância e, assim que ele desistiu de segurar a Armadura, eu apareci e atingi-lhe o ombro, fazendo-o derrubar a espada, outra flecha e ele estava no chão, com o joelho esquerdo destruído por uma flecha dupla.

Fui até o homem amarrado perto dos destroços de um Carrinho, e tirei o saco de linhagem da cabeça dele.

_ Marcus! – exclamei surpresa, cortando as cordas que o prendiam com minha antiga Main Gauche que eu ainda guardava – O que houve?

_ Fui emboscado – disse-me ele, esfregando os pulsos feridos – salteadores, estavam atrás de meu dinheiro – ele me encarou demoradamente. – Por que me salvaste Arruaceira?

_ Porque sou uma Arruaceira – respondi-lhe ajudando-o a levantar – prezo pela vida e liberdade.

_ As suas – retorquiu o Ferreiro vasculhando os destroços do Carrinho atrás de algo intacto.

_ As de quem merece, – respondi-lhe – os humanos têm só aos seus semelhantes; deixar que alguém sofra sem fazer nada é o mesmo que ser seu algoz.

O Ferreiro olhou-me surpreso, e disse que seguia para Prontera e que precisava continuar o caminho.

_ Aceitas escolta até lá? – perguntei-lhe com um doce sarcasmo

_ De uma Arruaceira?

_ Sim, uma que não é tão egoísta e que preza pela vida dos que merecem preocupação por parte dela.

_ Aceito – ele sorriu demoradamente, e juntos seguimos até Prontera.

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I sense haste... Sério, você postou às pressas, tem uns errinhos primariamente letras mal colocadas mas alguns acentos tambem.

Huhuhuhu... Marcus Diavlo? Tem alguma relação com o Magus Diablo? Ou ssssera apenasss coinciidenciia...

Pensei numa cenazinha na pergunta do porque ser arruaceira, o classico pensamento "nãodiga[insira o real motivo aqui]" correndo repetidamente pela mete da pessoa...

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Ficou muito bom o capitulo... ^^ Como pode ser o Magus se o char pricipal dele eh um wizz e não um sacer, como ela disse antes de postar o capitulo? o.O

Ferreiro ¬¬, e me deixa especular em paz, um cara tem que se divertir de algum modo, e pra mim nada é mais divertido do que levantar suspeitas (na verdade eu tambem gosto de dissimular, trapacear, torturar, enganar, e espalhar o desespero e a pestilencia no meu rastro decadente ma sisso é outra historia)

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Ficou muito bom o capitulo... ^^ Como pode ser o Magus se o char pricipal dele eh um wizz e não um sacer, como ela disse antes de postar o capitulo? o.O

Ferreiro ¬¬, e me deixa especular em paz, um cara tem que se divertir de algum modo, e pra mim nada é mais divertido do que levantar suspeitas (na verdade eu tambem gosto de dissimular, trapacear, torturar, enganar, e espalhar o desespero e a pestilencia no meu rastro decadente ma sisso é outra historia)

 

Eu já disse que você me assusta, Draken º-º?

Eu não entendi isso  "Pensei numa cenazinha na pergunta do porque ser arruaceira, o classico pensamento "nãodiga[insira o real motivo aqui]" correndo repetidamente pela mete da pessoa..."

e quanto aos errinhos, bem, humanidade owna às vezes >xD

 

E não, o Magus não é o meu namorado, nem conheço ele xD

Meu namo é o SacerdoteDiablo, o nome dele é Marcos daí eu dei uma arrumada pra ficar mais lekal xD

E o nome do Ferreiro dele é Inutil xD, mas eu achei que seria indelicado pôr esse nome no moço x__________X"

 

Próximo capítulo em faze de construção...

Ah, vocês acham que tão muito compridos os capítulos? '-'

eu tento diminuir mas não consigo deixar curtinhos x_X'

 

Draken, tem fic sua aqui também?

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Ja assitiu os simpsons? tem um episodio em que perguntam pro Homer qual o motivo de ele querer adotar um irmaozinho, ai ele pensa "nãodigavingançanãodigavingança" ai saiu Vingança, depois disso veio o pensamento "pra mim chega, eu vou embora *som de passos*"

Eu assuto muitas pessoas, eu aposto que assusto mais que o Khelek, muhahahahhaa.

Eu tenho dois trabalhos em andamento, uma fic megalomaniaca que ponho no forum do meu clã mas não tenho a intensão de por aqui (é megalomaniaca) e um Texto chamado "Worum Maculus Lichdae", que é um tratado sobre magia necromantica, criação de golens, e coisas do tipo, escrita pelo meu char Draken Sapphirion Frosthand, 1º dos Lich, Mestre da Necromancia, Senhor das Tempestades, Pai dos Deathword, Imperador das Profundezas, Tirano dos mortos, Lorde de tudo o que é Maldito......

......................................................................................................................................................................................

...............................................................................................................................................................................

................................................ e Flagelo de Toda a Humanidade. Mas no momento eu to num bloqueio do escritor desgraçado...

 

A, sim não se incomode em diminuir os capitulos, se capitulo comprido desanimasse a leitura ninguem lia Guerra Santa e Olhos Vermelhos.

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Ja assitiu os simpsons? tem um episodio em que perguntam pro Homer qual o motivo de ele querer adotar um irmaozinho, ai ele pensa "nãodigavingançanãodigavingança" ai saiu Vingança, depois disso veio o pensamento "pra mim chega, eu vou embora *som de passos*"

Eu assuto muitas pessoas, eu aposto que assusto mais que o Khelek, muhahahahhaa.

Eu tenho dois trabalhos em andamento, uma fic megalomaniaca que ponho no forum do meu clã mas não tenho a intensão de por aqui (é megalomaniaca) e um Texto chamado "Worum Maculus Lichdae", que é um tratado sobre magia necromantica, criação de golens, e coisas do tipo, escrita pelo meu char Draken Sapphirion Frosthand, 1º dos Lich, Mestre da Necromancia, Senhor das Tempestades, Pai dos Deathword, Imperador das Profundezas, Tirano dos mortos, Lorde de tudo o que é Maldito......

......................................................................................................................................................................................

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................................................ e Flagelo de Toda a Humanidade. Mas no momento eu to num bloqueio do escritor desgraçado...

 

A, sim não se incomode em diminuir os capitulos, se capitulo comprido desanimasse a leitura ninguem lia Guerra Santa e Olhos Vermelhos.

 

Well, honestamente o Khlek nem me assusta '-'

Mas você sim ^^y

 

e eu n vi esse episodio dos simpsons, mas, que mal pergunte, oque um irmãzinho tem haver com vingança o_O'

 

entçao eu manterei os episodios assim /lala

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E aqui estou eu de novo....

 

Capítulo 3 =O~~~

 

tenho que postar bastante porque daqui a pouco começam as aulas T______________T~~

[respira fundo]

 

(trabalhando numa RT com esta fic \lala)

tomara que não tenha muitos erros... eu tenho a mania de escrever por "tacadas" e às vezes dá pau-interno ;-;

Pelo sim pelo não... espero que gostem ^^~

 

         Capítulo 03: A Poção e o Tabuleiro

 

            Marcus e eu chegamos a Prontera dois dias depois de nosso reencontro, chegamos a capital perto do meio dia e fomos almoçar juntos antes de eu ir para casa e ele para a taverna onde iria alojar-se.

            _ Até mais, Trillian – disse ele à porta da taverna – vemo-nos em breve, espero.

            _ Tchau, Marcus – abracei-o e sorri – até breve.

            Radamanthis saltou do colo do Ferreiro e caiu no meu, levando o Lunático nos braços caminhei até o açougueiro, comprei carne para o jantar e algumas especiarias mais no meio do caminho. Cheguei em casa exausta, a Planta Carnívora de Juhz tinha agora uma companheira, uma Parasita. As duas olharam-me com desconfiança.

            _ Calma lá, Flora – disse chegando perto da Planta Carnívora.

            Ela deve ter reconhecido minha voz, pois fez aquilo que eu sempre julguei ser um sorriso e cuspiu a chave em minha mão estendida. Enfiei a chave melada no buraco da fechadura e abri a porta sem fazer barulho.

            A casa estava vazia, era muito cedo para Juhz ou Anji estarem de volta; fui ao quarto onde guardei meus trajes de Gatuna, a capa de viagem e o Sakkat, pus a Gakkung sobre meu baú, sentindo um calafrio ao lembrar do Mímico.

            Dei comida a Radamanthis e tomei um banho demorado, tirando toda a sujeira da viagem, o suor, a areia que persistia desde a Guilda e o sangue seco de alguns ferimentos feitos durante a longa caminhada de Morroc até Prontera.

            Depois de totalmente recomposta, fui preparar o jantar, torcendo para que Anji e Juhz chegassem na hora certa. Limpei a carne, piquei as ervas e temperos, pus a água para ferver. Estava cuidando do ponto do molho quando ouvi a porta abrir-se.

            _ Ah, estou exausta! Estes Mercadores estão cada vez mais... mais...

            _ Newbies?

            _ Trillian! – Juhz correu ao meu encontro, abraçamo-nos longamente – Quanta falta sentimos de ti, Tril! Que saudades!

            _ Também senti muita falta de vocês, Juhz, muita falta – afastamo-nos um passo e olhamo-nos – Que cicatriz é esta em teu pescoço?

            _ Acidentes de percurso – disse-me ela rindo e tampando a queimadura com a mão. – Mas e tu, que me dizes, Arruaceira Trillian Tenenbaum!

            Rimos muito juntas, matando a saudade que havia sido cruel durante o mês que estive fora. Juhz apaixonou-se por Radamanthis e não quis largá-lo nem na hora de ir tomar banho, com muito esforço convenci-a de que o chuveiro não era lugar de Lunático e ela deixou-o entre os itens em seu Carrinho.

            Pouco antes de o jantar estar pronto e Juhz sair do banho, Anji chegou e a cena repetiu-se. Ela contou-me que continuava treinando na Vila Orc, mas que estava começando a procurar outros lugares porque lá ela estava começando a entediar-se.

            O jantar foi maravilhoso, conversamos muito, matamos a saudade, ouvimos os novos contos de Juhz sobre os Mercadores. Depois ela contou-me sobre as experiências com as Poções Compactas e sobre o novo experimento que estava fazendo, o qual havia feito a queimadura em seu pescoço.

            _ Mas a cada dia eu estou mais perto de criar uma nova poção – disse ela com os olhos brilhantes – uma que seja tão forte quanto uma Fúria Selvagem, mas que possa ser consumida por todos! Uma que deixe qualquer iniciante fracassado tão valente, forte e destro quando o mais poderoso herói!

            _ Vá com calma, minha irmã – disse-lhe Anji – não queremos mais acidentes, certo?

            _ Mas só tivemos três acidentes sérios – retrucou Juhz – isso é quase nada!

            _ Três acidentes sérios – repeti um pouco assustada.

            _ Tecnicamente foram dezessete acidentes – disse Juhz contando-os nos dedos – mas sérios apenas três.

            Anji e eu olhamos para ela com um misto de graça e preocupação. Além da queimadura no pescoço, ela tinha quase perdido um olho quando um tubo de ensaio explodiu e agora nós tínhamos uma janela a mais na varanda fechada aos fundos da casa que Juhz usava como laboratório.

            Dormimos tarde e na manhã seguinte ficamos em casa, depois do almoço Juhz foi ao centro de Prontera e Anji foi à Vila Orc, eu permaneci em casa, ainda estava um pouco cansada da viagem e preferia estar em perfeito estado antes de voltar a treinar. Fui à varanda e fiquei brincando com Radamanthis e com as plantas de Juhz. Alguns aventureiros passaram ao largo da casa rumo a Prontera, e a Parasita expulsou-os do nosso terreno usando suas folhas afiadas. Eu tive uma séria conversa com ela, apesar de me sentir ridícula discutindo regras de boa convivência com uma planta.

            Anji chegou antes de Juhz, com um enorme ferimento no ombro que, mesmo sem sangrar, continuava aberto.

            _ O sangramento parou depois que eu o curei – disse-me Anji – mas a pele não se recompôs, isso é muito estranho.

            Analisando o ferimento descobri que não cicatrizava por que estava envenenado, desinfetei o ferimento, purguei o veneno e disse à Anji que o curasse novamente e então a pele aos poucos se recompôs.

            _ Ah, muito melhor agora, obrigada Tril.

            _ Não há de que, Anji, – disse-lhe – agora, sugiro que vá tomar banho enquanto eu faço o jantar e assim quando Juhz chegar ela poderá banhar-se sem demora para jantarmos cedo.

            Anji concordou e foi ao quarto pegar roupas e uma toalha. Estava pensando no que fazer para o jantar enquanto olhava a geladeira quando Juhz voltou. Conversamos um pouco e ela foi fazer o balanço dos lucros, vinte minutos depois ela foi tomar banho. Estava quase terminando os bolinhos de arroz quando as duas se apresentaram para o jantar.

            _ Hoje eu estava conversando com o Alquimista que começou a fazer as Poções Compactas – contou-nos Juhz – e ele ficou interessado na minha idéia de fazer uma poção nova; finalmente alguém naquele mercado retrógrado concordou comigo! Ele concordou que é injusto que as poções mais eficientes, as Fúrias Selvagens, só possam ser usadas por tão poucas classes sem causar efeitos colaterais. Ele se comprometeu a fazer alguns testes e me passar os resultados.

            _ Que ótimo, irmã – disse Anji com um sorriso preocupado.

            Na manhã seguinte eu voltei a treinar na Vila Orc com Anji. Ela já estava em outro nível, enfrentava hordas de Orcs sem dificuldades e seu corpo forte mal era arranhado pelos golpes dos monstros; ela havia aprendido a evitar danos piores. Nas poucas vezes que ficava realmente ferida, usava sua habilidade de Passo Etéreo e distanciava-se dos Orcs o bastante para poder curar-se e voltar ao combate. Quanto a mim, basta dizer que o arco havia sido um ótimo negócio! Ficava sempre num ponto alto, à vista de Anji, atacando os Orcs à distância, Juhz havia me dado flechas feitas de Cristal Azul, que feriam os Grand Orcs com muito mais eficiência.

            No fim da tarde voltamos para casa e enquanto eu tomava banho Anji foi preparar o jantar. Eu havia recém saído do banho quando Juhz embarafustou casa adentro e, sem dizer palavra, foi direto ao laboratório. Anji e eu entreolhamo-nos confusas e eu disse que iria ver o que havia acontecido enquanto ela terminava o jantar.

            _ Juhz, o que houve? – perguntei-lhe assim que entrei no laboratório

            _ Viktor deu-me uma idéia incrível! – exclamou ela sem sequer olhar para mim

            _ Quem?

            _ Viktor, o Alquimista das Poções Compactas, – disse-me com ar aborrecido – quem mais seria? – ela remexia enfurecidamente em dezenas de tubos de ensaio, pegando potes e sacos de ingredientes, acendendo e apagando as chamas azuis nos suportes sob os tubos de ensaio – Desta vez tenho certeza que dará certo!

            _ Juhz, querida – disse-lhe eu segurando-a pelos ombros e tentando levá-la para fora – não é o momento de fazer isso, porque você não toma um banho e janta antes de fazer isso?

            _ Pare com isto, Tril – ela maneou os ombros fazendo-me recolher as mãos – estou num momento inspirado, preciso aproveitar! Diga à Anji que eu não demoro!

            Voltei para dentro de casa preocupada, “só tivemos três acidentes sérios”, em seus “momentos de inspiração” Juhz tinha seu potencial ao desastre elevado ao quadrado. A reação de Anji foi a mesma, mas ela sabia que de nada adiantaria tentar persuadir Juhz a fazer aquilo depois.

            Sentamo-nos à mesa sem Juhz e estávamos quase terminando de comer quando ela apareceu, com as sobrancelhas chamuscadas, um tubo de ensaio contendo um liquido dourado fumegante e um sorriso que quase não cabia em seus lábios pequenos.

            _ Consegui! – anunciou ela triunfalmente – Consegui: uma poção que aumenta a concentração e força drasticamente sem causar efeitos colaterais!

            _ Como tens certeza? – perguntei-lhe, desconfiada

            _ Eu testei, – respondeu ela com simplicidade – tomei um gole assim que ela parou de soltar fagulhas.

            _ Soltar fagulhas! – repetimos Anji e eu, assustadas.

            _ Nada de mais, – disse ela dando de ombros – estou me sentindo ótima! Meus olhos chegam a arder com toda a luz e cor que tem aqui, sinto o cheiro de tudo à minha volta, sinto-me como se pudesse ir à Asgard e tomar Brisingamen para mim sem me preocupar!

            _ Sem preocupar-se pode até ser, – disse Anji – mas preocupa a mim este teu estado alterado!

            _ Não estragues com minha alegria, Anji, por favor – pediu-lhe Juhz. – O efeito passa e eu prometo-lhe não fazer nada errado enquanto estiver invencível.

            _ Invencível?

            _ É assim que me sinto, Tril, invencível!

            Com esta declaração ela sentou-se e comeu vorazmente, estávamos lavando a louça quando ela estacou, com um prato na mão e os olhos perdidos no vazio.

            _ Juhz! – exclamou Anji – Tinha certeza de que isso não daria certo, Juhz!!

            No entanto a Alquimista permaneceu muda, com os olhos transformados em dois círculos cor de mel sem vida, com o prato na mão ela virou-se para a luz da lua que entrava pela janela e começou a declamar, folhando páginas de um livro invisível que era na verdade o prato ainda cheio de espuma. Disse então, com voz oca e sem vida:

            _ Odin, o senhor dos deuses, tem diante de seu trono um grande Tabuleiro, que mostra toda a vida em Midgard. Ele é chamado de Tabuleiro Mestre, porque baseado nele outros deuses criaram Tabuleiros semelhantes para si. Durante muito tempo eles observaram a vida dos homens por meio dos Tabuleiros, até que Loki, deus das trapaças, sugeriu que transformassem o Tabuleiro de Odin num jogo. Segundo ele, seria interessante apostar com os mortais e assim os deuses passaram a usar as peças do Tabuleiro Mestre para criar as mais diversas situações para que pudessem apostar quais seriam as reações dos mortais à elas. Existem Tabuleiros em Asgard, muitos deles lá: diante de Odin, de Loki, Thor, Freya, muitos deuses os possuem. Há um Tabuleiro em Niffleheim, no Valhalla, entre as raízes de Yggdrasil e...

            _ JUUUHZ! – Anji chacoalhou-a pelos ombros com força, fazendo-a derrubar o prato.

            _ Hã? – Juhz piscou os olhos com força e encarou, assustada, os olhos meio furiosos e meio preocupados de Anji – Que houve?

            _ Eu é que lhe pergunto! Enlouqueceste e não me avisaste?! – a parte preocupada de Anji cedeu lugar à parte furiosa – O que tens na cabeça? Jellopies?

            _ Perdoe-me Anji – Juhz caiu de joelhos com as mãos apertando as têmporas – sinto-me enjoada. O que aconteceu? Perdi minha consciência assim que tomei minha poção nova.

            _ Eu cuido dela, Anji – disse-lhe a fim de evitar que a Monja enlouquecesse à custa da irmã – por favor termine a louça e deixe Juhz comigo.

            Ela respirou fundo, concordou com a cabeça e começou a juntar os cacos de porcelana no chão enquanto eu ajudava Juhz a se levantar e ia com ela ao banheiro para que ela lavasse o rosto.

            _ O que aconteceu, Tril? – perguntou-me Juhz quando estávamos no banheiro, eu lhe contei que ela havia entrado numa espécie de transe algum tempo depois de tomar a poção – E o que eu fiz durante este transe?

            _ Falaste alguma coisa a respeito de um tabuleiro que Odin tem, deve ser alguma lenda que ouviste e veio à tua mente em teu torpor.

            _ Tabuleiro de Odin, isto me soa familiar – disse ela enquanto secava o rosto – acho que estás certa, deve ser alguma lenda que eu tenha ouvido há muito tempo.

            _ Estás melhor agora, Juhz?

            _ Sim, agora estou, meus olhos ardem um pouco, mas me sinto ótima.

            _ Mastigue isto – disse enfiando-lhe uma erva verde na boca para acalmar seu sistema nervoso. Depois de alguns minutos ela cuspiu o bagaço da erva dizendo que a ardência havia parado. Naquela noite Anji dormiu no quarto de Juhz e ela dormiu comigo para que eu cuidasse dela caso algo acontecesse.

            Durante o tempo em que moraram sozinhas, antes de me conhecerem, Juhz já havia aprontado das suas e deixado Anji à beira de ter diversos tipos de colapsos nervosos e surtos psiquiátricos, mesmo tendo ambas a mesma idade, Juhz sempre fora inconseqüente enquanto Anji era por demais severa. Dessa vez eu achei melhor que eu cuidasse da Alquimista, para dar uma folga à cabeça quente de Anji. Na manhã seguinte ela não estava sentindo-se bem então eu renunciei ao meu treino matinal para ficar com ela.

            _ Não preciso que fiques comigo, Tril – disse-me Juhz – eu posso ficar sozinha.

            _ Não quero que fiques sozinha – disse com severidade.

            _ Radamanthis fica comigo – replicou ela agarrando-se ao Lunático.

            _ Radamanthis e eu ficamos com você – atalhei sem alterar-me. – O que pretendes fazer que eu não possa ficar junto?

            _ Não pretendo fazer nada, Tril – respondeu-me ela fazendo-se de ofendida – porque pensas isso de mim?

            _ Fale Juhz Prince.

            _ Juro-lhe que não é nada, Tril, queria apenas ir à Biblioteca ver se acho algo a respeito da lenda que Erik contava-me quando eu era criança.

            _ Erik? Teu pai?

            _ Sim – ela baixou os olhos – ele contava-me sobre os Tabuleiros dos deuses, queria ir à Biblioteca ver se achava algum registro desta lenda.

            _ Vou contigo, não precisas ir sozinha.

            _ Certo então...

            Seguimos então para a Biblioteca de Prontera, ao passarmos pelo Feudo cruzamos com um Sacerdote que se preparava para entrar no Calabouço de seu Castelo, pedimos que ele nos concedesse o dom da velocidade para chegarmos mais rápido à Biblioteca. Com um sorriso simpático ele nos abençoou e concedeu-nos a velocidade divina. Em alguns minutos chegamos à Biblioteca.

            _ Com licença meu senhor – disse Juhz ao bibliotecário – onde posso achar livros referentes a lendas?

            _ Naquela estante à esquerda da janela, minha jovem – respondeu-lhe o bibliotecário sorridente.

            Fomos à estante indicada e começamos a procurar, depois de algum tempo sentamo-nos a uma mesa com uma braçada de grossos livros empoeirados cada uma. Começamos a analisar os índices dos volumes que nos pareceram melhores com Radamanthis a pular entre nossas pernas.

            _ A criação dos deuses, diferentes visões lendárias e científicas para a vida em Midgard; este parece-me promissor – murmurou Juhz ao abrir o terceiro livro.

            _ O anterior também parecia – disse-lhe com ironia.

            _ Fale menos e leia mais, por favor – respondeu ela sem tirar os olhos do livro.

            Continuamos lendo índices e prefácios durante boa parte da manhã até que, no penúltimo livro da grande pilha à minha frente, um capítulo chamou minha atenção.

            _ Veja este, Juhz – disse-lhe apontando com o dedo um dos capítulos no índice do livro – “Apostas celestiais: a verdade sobre o inexplicável”.

            Ela pegou o livro e abriu na página em que começava o tal capítulo: “Diz-se que, em dado momento de sua eternidade, os deuses cansaram-se de cuidar da humanidade” – leu ela em voz baixa. “De fato, era uma tarefa enfadonha e cansativa. Porém, a humanidade não poderia ser deixada ao leo. Então, unindo o poder de todo o panteão, Odin, senhor dos deuses, criou um grande Tabuleiro no qual toda a vida em Midgard podia ser observada de forma cômoda e eficaz”...

            Com os olhos brilhando e as mãos tremendo ligeiramente ela murmurou “é este mesmo!”, levantamo-nos da mesa e levamos o livro até o balcão do bibliotecário, onde ele anotou num grande registro a saída de “Lendas sobre a vida, tudo sobre a criação do mundo e sua queda”. Ao sair da Biblioteca achamos uma Noviça e pedimos-lhe o dom da velocidade também, ela sorriu e disse que não podia, pois estava sem poder mágico, agradecemos e seguimos em frente. Depois de mais de uma hora de caminhada chegamos a casa. A Flora cuspiu um pedaço empapado de papel quando chegamos, Juhz pegou-o e viu que se tratava de um bilhete de Viktor pedindo-lhe desculpas pelo erro de cálculo.

            _ Erro de cálculo? Ele só pode estar brincando! – exclamou Juhz ao ler o bilhete – Como assim para eu esquecer as garras de Lobo do Deserto? Usar uma garra de Grifo no lugar... quem sabe dê certo – murmurou ela indo ao laboratório.

            _ Juhz, o que Anji disse sobre esse experimento?

            _ Que eu não deveria prosseguir com ele enquanto não estivesse em meu perfeito juízo?

            _ Exatamente, e tu estás?

            _ E algum dia estive? – disse ela enquanto se afastava – Podes fazer o favor de ler o livro para mim enquanto faço isso?

            _ E tu vais prestar atenção nas suas coisas ao mesmo tempo? – perguntei-lhe enquanto a seguia até o laboratório

            _ Claro que sim – respondeu ela enquanto ligava um dos bicos do fogareiro e começava a misturar ingredientes num béquer grande.

            Suspirei profundamente, abri o livro na pagina certa e comecei a ler em voz alta. O texto, escrito em runas antigas, era um pouco difícil de ser lido, em minha opinião; eu era letrada em nosso alfabeto simples e cotidiano, aquelas runas rebuscadas e antigas às vezes fugiam à minha compreensão. Enquanto lia, Juhz continuava a mexer em suas experiências, vez ou outra pedia-me que repetisse alguma frase ou perguntava-me “o que achas que aconteceria se eu colocasse um pouco mais de gengibre nesta poção?”.           

            _ Que estranho, tem uma coisa aqui no livro, parece tinta, não consigo ler tudo.

            _ Use isto – disse-me Juhz entregando-me um frasco com um líquido pegajoso transparente.

            Peguei um pincel e espalhei o liquido sobre a tinta que aos poucos dissolveu-se, limpei-a com um paninho e voltei a ler:

            _ Voltando de onde tínhamos parado: “... há Tabuleiros em diversas partes de Asgard; diante do trono de Hel, em Niffleheim, e no Valhalla diante das Valkyrias...” e aqui a parte que estava coberta de tinta “os deuses então confiaram a um imortal a guarda de um Tabuleiro em Midgard, numa caverna que arde como o inferno e é guardada por monstros de lava e fogo...”.

            _ Em Midgard – repetiu Juhz espantada – na Caverna de Magma! Por favor, prossiga Tril!

            Continuei lendo e depois de meia hora terminei o texto, Juhz olhava-me boquiaberta, segurando um tubo de ensaio com um liquido amarelo que cheirava mal.

            _ Temos que ir lá, Tril!

            _ Não fales asneiras, Juhz, por favor. Isto é só uma lenda!

            _ Meu pai contava-me esta lenda quando eu era criança, ele dizia que era verdade. Depois que ele fugiu minha mãe nunca mais contou-me ela – ela cerrou o punho livre. – Ela disse-me que tudo que Erik dissera havia sido mentira, mas ela estava enganada, meu pai jamais mentiria para mim!

            Ela socou a bancada de trabalho e vários tubos de ensaio e potes derramaram o conteúdo sobre a madeira polida, num segundo uma densa fumaça negra formou-se e cobriu nossas cabeças, impedindo-nos de respirar.

            Saímos correndo do laboratório, eu agarrada ao livro e ela levando o tubo de ensaio com o maior cuidado. Porém a fumaça pestilenta foi muito mais rápida e antes mesmo de estarmos na sala ela já havia tomado conta da casa.

            _ Anji vai matar-me com certeza – murmurou Juhz enquanto olhávamos, pelo lado de fora, a fumaça escapar pelas frestas das janelas.

            _ É – suspirei e pus a mão em seu ombro – ela irá matar-te com toda certeza. Mas não podemos ficar aqui, vamos à Prontera alugar um quarto e mandar uma mensagem à Anji. Acho que em alguns dias a fumaça dissolver-se-á e poderemos voltar para casa.

            Cruzamos então o Feudo pela segunda vez naquele dia, ao chegarmos a Prontera dirigi-me à Kafra que trabalhava no posto norte:

            _ Boa tarde, poderíamos mandar uma mensagem, por favor?

            _ Para onde? – perguntou-me a garota

            _ Vila Orc – respondi-lhe – nossa amiga está treinando lá e gostaríamos de mandar um recado para ela.

            _ Pode ditar – disse a Kafra preparando um aparelho de telégrafo.

            _ “Anji, devido a alguns problemas técnicos nossa casa está interditada. Estaremos na Taverna Lar de Heimdall, encontre-nos lá, por favor. Tril e Juhz”. Anji é uma Monja que costuma treinar na Vila diariamente, ela é morena tem os cabelos longos e olhos azuis e usa um Chapéu de Monge.

            _ A mensagem foi enviada – disse a Kafra ao terminar de bater os pontos no telégrafo – o envio custa vinte Zeny.

            Paguei a ela, agradeci e fui com Juhz à Taverna.

            _ Lar de Heimdall, por quê? – perguntou-me Juhz durante o caminho – Poderíamos ficar na Bênção de Thor, é muito mais bem conceituada.

            _ E muito mais cara também, esqueceste? E, além disso, tem um amigo meu hospedado em Heimdall e eu gostaria de reencontrá-lo.

            _ Que seja – murmurou ela brincando com as orelhas de Radamanthis enquanto caminhávamos. – Estou preocupada com a reação de Anji, ela ficará possessa!

            _ Acalma-te, ela não fará nada.

            Chegamos à Taverna e pedimos um quarto para três.

            _ Só quartos duplos, senhorita – disse-me o atendente.

            _ Quarto para uma pessoa?

            _ Também.

            Suspirei e pedi um quarto duplo e um para uma pessoa. Juhz e eu levamos nossas coisas para o quarto duplo e reservamos o simples para Anji, seria mais seguro para ambas que dormissem separadas.

            _ Marcus Diavlo – perguntei ao atendente – ainda está hospedado aqui?

            _ O senhor Diavlo...

            _ Não me chames de senhor – a voz de Marcus soou logo atrás de mim. – Que fazes aqui, Trillian?

            _ Tivemos alguns problemas caseiros – disse-lhe virando-me para cumprimentá-lo. – Ficaremos hospedadas aqui por alguns dias.

            _ Ficarão? Quem mais além de ti?

            _ Juhz e Anji, falei-lhe delas durante a viagem. – respondi-lhe, nesse momento Juhz desceu as escadas com Radamanthis no colo – Hei Juhz! Venha aqui conhecer meu amigo Marcus Diavlo.

            _ Muito prazer, sou Juhz Prince – ela soltou Radamanthis e apertou a mão de Marcus com força.

            _ Que espécie de acidente doméstico vocês tiveram? – perguntou-me com ar de preocupação

            _ Ela explodiu o laboratório – respondi-lhe suspirando e apontando para Juhz.

            _ Uma Alquimista que explodiu o próprio laboratório? – riu ele surpreso

            _ Onde tu estavas que mal lhe pergunte – disse-lhe eu.

            _ Na Guarda Municipal – respondeu-me – alguém encontrou aqueles salteadores algumas horas depois de eles terem me atacado. Aparentemente eram procurados há algum tempo, então a Guarda pediu que eu me apresentasse e prestasse queixa e os identificasse para fins de julgamento.

            Dei de ombros e perguntei-lhe o que ele faria naquele momento, “vou a Izlude visitar um velho amigo, mais tarde estarei de volta”, “vemo-nos depois então?”, “só se aceitares jantar comigo”, “encontramo-nos aqui as oito”.

            _ Até a noite então, até mais senhorita Prince – despediu-se ele caminhando rumo a Izlude.

            Um pouco antes do pôr-do-sol Anji apareceu, furiosa, na estalagem.

            _ O que fizeste desta vez, Juhz? “Problema técnico” é exatamente o termo que você usaria para dizer que explodiste a casa com tuas experiências!

            _ Ela chegou bem perto – murmurei para o atendente que brincava com Radamanthis como uma criança enquanto observávamos, de longe, a chegada de Anji e sua conversa com Juhz.

            Depois de cerca de cinco minutos, nos quais Juhz pôde apenas abaixar a cabeça diante da torrente de palavras furiosas de Anji, ela conseguiu explicar o que havia acontecido. Aparentemente a fera estava amansada, Anji cumprimentou-me de passagem e foi direto ao quarto para dormir, sem sequer comer.

            Suspirando de alívio, Juhz pediu um jantar para uma pessoa à cozinheira e eu a acompanhei enquanto ela jantava, estava muito excitada de ter redescoberto a lenda que Erik lhe contava quando era criança. Foi este o único assunto durante todo o jantar, as sete e meia eu pedi licença para tomar banho e arrumar-me para o jantar e as oito em ponto Marcus bateu à porta do quarto.

            _ Trillian? Estás pronta?

            _ Sim, estou indo.

            Encontrei-o virado de costas para minha porta, ao pé da escada. Não usava sua habitual indumentária de Ferreiro, e sim roupas de “gente comum”, como qualquer um que não teve coragem de largar sua própria segurança e conforto para ir atrás de algo maior. Porém, também eu estava sem meu manto de Arruaceira, sentia falta de uma de minhas mangas e do roçar suave do pêlo de Lunático mais grosso das bainhas do casaco.

            _ Vamos – sorri-lhe enganchando meu braço ao dele, ele sorriu-me de volta e saímos para a luz incerta do anoitecer, conversando como amigos de longa data. Jantamos no mesmo restaurante onde havíamos almoçado no dia em que chegamos a Prontera.

            _ Um brinde – propôs ele erguendo o copo de vinho – ao nosso encontro e, principalmente, ao nosso reencontro.

            Tocamos os copos delicadamente enquanto eu sentia as faces esquentando rápida e gradativamente.     

            _ Do jeito que falaste poder-se-ia ter uma interpretação errônea para teu brinde.

            Ele deu de ombros e disse que eu havia entendido o que ele disse e que era o importante. Conversamos e rimos, depois da refeição fomos a um bar onde jovens solteiros encontravam-se. Dizia-se que era o Bar dos Mal-amados, e embora todos lá dentro maldissessem o amor, poucos saíam solitários de lá.

            _ Hoje é um dia especial – disse ele ao barman – o que sugeres?

            _ Sugiro que provem este – disse o rapaz sorrindo e indicando um drinque no cardápio.

            _ “Beijo roubado” – li em voz alta, um pouco incrédula – acho que prefiro um uísque mesmo.

            _ Então veja-nos dois, por favor – disse Marcus ao rapaz que serviu-nos e foi atender um homem que mal se agüentava na cadeira.

            Bebemos e conversamos, e quando dei por mim estávamos numa grande roda de conversa, cercados por muitos desconhecidos e falando com eles como se nos conhecêssemos há eras; no centro do círculo uma Dançarina cantava um dueto empolgante com um Bardo e, para minha total surpresa, um rapaz chamou-me para dançar.

            Marcus riu-se de minha situação e, para desespero dele, uma garota baixinha e com rosto de boneca de porcelana agarrou-o pelo braço e puxou-o para a pista de dança junto com mais várias pessoas.

            Saímos do bar com o nascer do sol projetando nossas sombras, longas e muito escuras, à nossa frente, ele apoiou-se em mim e quase caímos no meio da rua principal da cidade.

            _ És bastante forte para bebida, Tril – disse-me ele rindo-se de si mesmo – que vergonha, um homem usando uma frágil senhorita como apoio por não conter-se nas pernas.

            _ Não sou uma frágil senhorita, esqueceste? E tu que és fraco para o álcool.

            Chegamos à taverna e o atendendo olhou-nos com um misto de repreensão e cumplicidade, entregou-nos as chaves dos quartos e desejou-nos um bom descanso. Despedimo-nos no corredor, entrei no quarto silenciosamente e poucos minutos depois de eu adormecer Juhz despertou e começou a reler o livro que havíamos pegado na Biblioteca. Anotava algumas coisas num caderno, comparava dados com outros livros e analisava um grande mapa do país que havia pedido emprestado ao dono da taverna.

            O almoço já não estava mais sendo servido na cozinha da taverna quando eu acordei com os olhos embaçados e a cabeça girando. Adrienne havia me ensinado a beber, duas semanas de intenso convívio com ela havia sido o suficiente para eu tomar gosto por uma boa dose ao fim do dia; acho que minha mestra teria orgulho de minha noitada.

            _ Até que enfim acordaste! – Juhz sorriu-me simpaticamente do alto de seu estado de não-ressaca – Precisamos conversar.

            _ Sobre?

            _ Nossa viagem à Caverna de Magma, o que mais seria?

            Sentei-me na cama: esfreguei os olhos, bocejei, pedi licença e fui ao banheiro lavar o rosto e escovar os dentes. Ou seja: retornar ao meu estado de ser humano. Voltei ao quarto e ela estava sentada com o mapa aberto sobre a cama, sorriu-me novamente e começou a falar.

            _ Nós estamos aqui – disse-me ela apontando Prontera com o dedo – e Magma é aqui. Eu conversei com a Kafra mais cedo e ela me informou que daqui não temos como chegar a Juno usando portais Kafra.

            _ Maravilha...

            _ Ela disse que em Al De Baran nós podemos, mas em Prontera também não há portais para Al De Baran, teremos que andar, no mínimo, até Geffen, ou pegar um portal para lá também, mas ficaria muito caro.

            _ Será que nenhum Sacerdote de alma boa poderia nos fazer este favor?

            _ Levaríamos muito tempo para achar um Sacerdote que tenha Juno mentalizada para abrir-nos o portal; eles raramente vão lá. É possível que consigamos alguém para levar-nos a Geffen.

            _ E quanto à Anji? Ela não irá conosco?

            _ Não tenho certeza de que ela gostaria de ir conosco – ela revirou-se incomodamente. – Ela preferirá treinar, acredite em mim.

            Juhz foi então ao centro de Prontera pôr alguns negócios em dia e ver se achava algum Sacerdote que pudesse abrir um portal para Geffen, ou Al De Baran para nós. Ao fim do dia ela ainda não havia voltado, eu estava conversando com um ressaqueado Marcus quando Anji chegou, exultante e sorridente.

            _ Fui convocada, Tril! – exclamou ela assim que me viu

            _ Convocada? Para quê?

            _ A Abadia irá formar outra Missão, eu fui escolhida para ser a Monja-chefe! – ela sentou-se junto a nós e continuou falando – Aparentemente Irmão Simão falou-lhes de meu desempenho na Missão da Pirâmide, e naquela época eu era apenas uma Noviça. Hoje um Noviço foi encontrar-me na Vila e levou-me uma carta de Irmão Necrus chamando-me à Missão.

            _ Mas isto é maravilhoso, Anji – sorri-lhe – achei que tu nunca mais seria chamada à outra Missão, pelo que eu lhe fiz na Missão à Pirâmide.

            _ Eu também achava isso, mas pelo visto estávamos enganadas! – ela levantou-se de um salto – Depois de amanhã partiremos para Geffen, iremos exorcisar os subsolos da cidade.

            _ Geffen – repeti eu já traçando o plano para a viagem à Magma.

            Pedimos licença a Marcus e subimos juntas para o quarto de Anji, lá eu contei a ela sobre a viagem que Juhz e eu planejávamos fazer e ela concordou em levar-nos junto com a Missão até Geffen. Fui ao quarto e rapidamente arrumei minhas coisas, antes de eu terminar Juhz chegou e eu lhe contei o que havia acontecido. Ela sequer acreditava em tamanha sorte.

            Quando desci novamente Marcus estava conversando com um jovem Alquimista de longos cabelos ruivos.

            _ Tril, este é Viktor – disse ele apresentando-me ao rapaz – ele é meu primo de segundo grau, ontem foi à casa dele que eu fui.

            _ Muito prazer – apertei a mão do Alquimista que sorriu aumentando ainda mais uma cicatriz em forma de meia lua na face esquerda.

            _ O prazer é meu, senhorita – ele olhou-me atentamente – por acaso és Trillian Tenenbaum?

            _ Sim, como sabes?

            _ Tu moras com Juhz Prince, não?

            _ Viktor! – Juhz surgiu atrás de nós e cumprimentou o Alquimista – Que fazes aqui?

            _ Vim ver meu primo – respondeu ele apontando para Marcus. – Mas é uma sorte tê-la encontrado, queria mostrar-lhe uma coisa.

            Eles pediram ao dono da taverna licença para usarem a cozinha durante alguns minutos, Marcus e eu fomos junto; Viktor e Juhz liam com atenção uma lista que ele havia trazido e misturavam ingredientes numa panela de ferro grosso. Como não entendíamos coisa alguma de alquimia, Marcus e eu ficamos apenas observando as cores e aromas que dançavam na panela a cada novo ingrediente posto na mistura.

            _ Acho que agora está bom – disse Juhz sorrindo para Viktor. – O processo foi similar ao que eu usei em casa, antes de praticamente explodir meu laboratório, a cor da poção ficou igual.

            _ E onde está a tua poção? – perguntou ele

            _ Quando os restos de criação derramaram-se na mesa, criaram uma fumaça pestilenta que infectou a poção – respondeu ela tristonha – e eu cuidei tanto para conseguir mantê-la limpa... Está lá em cima com minhas coisas, não consegui desfazer-me dela.

            Viktor dormiu na taverna naquela noite e no dia seguinte, logo pela manhã, ele e Marcus partiram para Alberta, onde iriam encontrar a irmã dele e ajudá-la a tornar-se Ferreira. Anji saiu cedo também para ir à Abadia tratar dos últimos ajustes para a Missão. Juhz e eu permanecemos na taverna; lá pelas sete da tarde, enquanto eu tentava remendar alguns furos no meu casaco vermelho, Juhz tagarelava sobre a viagem, sobre Magma e sobre a certeza que ela tinha quanto aos Tabuleiros.

            _ Não te iludas assim – disse-lhe com firmeza enquanto tentava, pela octagésima sexta vez, pôr a linha na agulha – é só uma lenda; aliás, nem sei porque concordei em ir contigo.

            _ Tu aceitaste porque no fundo sabes que é verdade tanto quanto eu – respondeu ela.

            _ Ou porque drenaste o resto de minha sanidade.

            Terminei de consertar o casaco e o vesti para analisar o resultado, caminhei um pouco pelo quarto observando os movimentos do tecido recém cerzido. Como não estava prestando atenção ao chão, tropecei em Radamanthis que dormia no meio do quarto e enfiei a testa na quina da penteadeira, abrindo um talho profundo na cabeça. O Lunático acordou assustado e correu escada abaixo indo refugiar-se com o atendente, de quem havia virado xodó.

            _ Tril! – Juhz saltou da cama e veio em socorro sacando uma toalhinha de uma das bolsinhas do cinto e pressionando o corte com ela – Ah, que horror, justo agora que Anji não está aqui! Acalma-te, irei lá embaixo e antes que tu percebas estarei de volta com uma poção cicatrizante.

            Dizendo isso ela embarafustou escada abaixo, me deixando sozinha a pressionar a toalhinha que já estava empapada de sangue na testa. Não sabia dizer o que mais me preocupava: a cicatriz e possível inflamação decorrentes do corte, ou depender de Juhz para evitá-las. Levantei-me do chão e sentei na cama de Juhz, depois de alguns minutos ela voltou com uma poção amarelada e a deixou sobre a penteadeira.

            _ Tenho que correr lá embaixo de novo – disse ela à porta – a cozinheira ordenou-me que arrumasse a bagunça que fiz lá na cozinha, volto logo.

            Levantei-me temerosa, talvez fosse melhor apostar na cicatriz e inflamação do que na poção de Juhz, não que ela fosse incompetente, mas nem o melhor dos Alquimistas faz algo perfeito estando nervoso e na cozinha alheia. Fui ao banheiro e tirei a toalha do rosto, e lá estava o corte: profundo, com cerca de três centímetros de comprimento e com sangue seco a escurecer-lhe as bordas.

            Lavei o corte com cuidado, peguei o frasco em cima da cama de Juhz e o tomei de um gole só, instantaneamente senti-me leve e revigorada. O corte fechou num segundo e eu sequer sentia dores na cabeça. Desci a escada sorridente, cheguei à cozinha, agradeci Juhz e a ajudei a limpar a bagunça que ela havia deixado na pia e mesa.

            _ Mas a poção fez efeito muito rápido – comentou ela enquanto terminávamos de limpar tudo – achei que tu ficaria mal por algum tempo ainda antes de sair saltitando por aí, Tril. Tril?

            Estaquei com o pano de chão nas mãos, com o olhar perdido nas marcas de infiltração de água próximas à torneira. Comecei a sentir um calor que julgava impossível de sentir longe de Sograt, o suor escorria-me pelo rosto e pescoço e de repente o que eu via à minha frente não era a parede azulada com manchas de infiltração da cozinha da taverna e sim um grande salão redondo, todo talhado numa rocha castanho-avermelhada com um grande tabuleiro resplandecente de elunium coberto de peçinhas de emperium e oridecon.

            Passeei por aquele salão, observando as peças sobre o Tabuleiro, quando vi a um canto um trono simples, porém belo feito de prata; sentado no trono estava um homem de ar sofrido e olhos muito brilhantes, ele estendeu a mão em minha direção e disse, em voz rouca:

            _ Venha, minha querida, teu lugar a espera.

            O calor aumentava enquanto eu caminhava para perto do homem, senti como se segurasse uma brasa viva quando toquei sua mão estendida, então o frio veio. Veio na forma de um copo d´água que Juhz jogou em meu rosto.

            _ O que houve? – perguntei, aflita, olhando ao redor e constatando que estava na cozinha da taverna.

            _ Tu entraste em transe, Trillian! – exclamou ela, assustada – Por acaso tomaste a poção estragada que foi poluída pela fumaça lá em casa?

            _ Tomei a que tu deixaste para mim em cima de tua cama – respondi-lhe apertando as têmporas com os dedos.

            _ Tomaste a poção errada, Arruaceira tola! Eu deixei a certa sobre a penteadeira, tomaste a poção que foi contaminada por aquela fumaça pestilenta!

            Ela me amparou até chegarmos a uma mesa, pedi uma dose para tentar pôr os pensamentos no lugar, ela olhou-me nos olhos e disse que eu havia caminhado a cozinha inteira com o braço estendido, tentando alcançar algo e murmurando coisas como “já vou meu mestre, tua herdeira está chegando”. O uísque chegou e eu tomei um grande gole.

            _ Tiveste uma visão sobre o Tabuleiro em Magma – disse ela com os olhos brilhando.

            _ Foi uma ilusão, apenas isto – retruquei – tu me incomodas tanto com isto que até em devaneios estes malditos Tabuleiros me aparecem. Devo estar ficando louca como tu!

            _ Não me trates assim, Trillian, sabes muito bem que não sou louca. Eles existem, e se me ajudares poderemos encontrá-los!

            _ Juhz, minha cara – respondi-lhe com franqueza – seria melhor pararmos com esta insensatez! É uma busca infundada, não se pode correr atrás de lendas e miragens causadas por drogas!

            _ Não fales assim! – ela baixou o rosto, suspirou e disse – Está tarde, vou deitar-me, amanhã conversamos.

            Suspirei profundamente, terminei aquela dose e pedi outra, a dor de cabeça causada pela poção diminuiu gradativamente e quando eu subi para o quarto já estava completamente curada dela. Radamanthis recusou-se a deixar o colo do atendente e ir comigo, irritada eu subi as escadas e entrei silenciosamente no quarto. Juhz estava deitada de costas para mim, encolhida virada para a parede, joguei o casaco vermelho sobre o espaldar da cadeira e vi o frasco com a poção certa refulgir à luz do inicio da noite. Olhei-me no espelho; o corte, apesar de cicatrizado, brilhava levemente criando um efeito que me causava mal estar. Fui ao banheiro, lavei o rosto, escovei os dentes e penteei o cabelo, depois fui deitar-me sem olhar o espelho novamente.

            Na manhã seguinte, mal o sol raiara e Anji já nos havia acordado. Respirei fundo antes de encarar Juhz e pedir desculpas pelo meu comportamento, ela sorriu e disse entender-me. Ela guardou os últimos livros na bolsa e checou alguns itens no Carrinho. Desci um pouco antes delas para entregar ao atendente sucos de cenoura e algumas recomendações para que ele cuidasse de Radamanthis durante minha ausência, os dois passaram muito tempo juntos desde nossa chegada e achei justo que o rapaz ficasse com ele enquanto eu não pudesse. Perdi longos minutos mimando meu coelho antes de ir para a cozinha com Juhz e Anji, comemos apenas algumas frutas e tomamos leite doce no café da manhã, e antes mesmo das seis e meia estávamos a caminho da Abadia, onde o próprio Irmão Necrus abriria um portal para levar a Missão a Geffen.

            Ele fez um breve discurso no qual eu não prestei atenção e então, com um gesto solene, ele arremessou a Gema Azul no chão, estilhaçando a pedra que brilhou um segundo antes de transformar uma área de um metro de diâmetro numa dobra dimensional. Anji sorriu confiante e entrou no portal antes de todos, então, um a um os outros membros da Missão adentraram o portal, por fim Juhz e eu entramos e o portal transformou-se num vácuo e deixou de existir após nossa passagem.

            _ Aqui é onde nos despedimos, minhas queridas – disse Anji enquanto nos abraçava fortemente – desejo-lhes sorte.

            _ A ti também, minha irmã – disse-lhe Juhz com lágrimas nos olhos cor de mel – ver-nos-emos em breve.

            _ Boa sorte, Anji – abracei-a com força – até mais.

            Saímos então da frente da Torre de Geffen, rumando para o centro da cidade, enquanto Anji ditava ordens à Missão. No centro de Geffen havia poucas pessoas, alguns Mercadores com vendas abertas e alguns Mestres de Clã recrutando pessoas para lutar junto de seus seguidores. Avistamos então uma jovem Sacerdotisa de cabelos muito vermelhos sentada num banco com uma plaqueta escrita “Abro portais por mil Zenys ou quinhentos com Gema” e uma expressão de tédio no rosto.

            _ Com licença senhorita – disse Juhz ao aproximar-nos da moça – tens portal para Al De Baran?

            _ Sim: Al De Baran, Prontera, Payon – disse a moça – a maioria das cidades importantes.

            _ Poderia abrir-nos um para Al De Baran, por favor? – pediu-lhe Juhz entregando uma Gema Azul e um saquinho com quinhentos Zenys

            A moça sorriu e apertou a pedra contra o peito mentalizando a cidade de Al De Baran, jogou-a então no chão estilhaçando-a e abrindo o portal.

            _ Tenham uma boa viagem e boa sorte – disse ela enquanto éramos engolidas pela secção espaço-dimensional.

            Saímos próximas à rampa de entrada da Torre do Relógio de Al De Baran, numa grama fofa cheia de jovens aventureiros sentados descansando e esperando por seus companheiros. Levamos alguns minutos para encontrar a Kafra em meio à intensa agitação comercial da pequena avenida do comércio da cidade.

            _ Bom dia, sejam bem-vindas a Al De Baran, em que posso ser útil?

            _ Bom dia, poderia abrir-nos um portal para Juno?

            _ Com prazer, custa mil e duzentos Zenys – respondeu a Kafra, ela tomou o dinheiro e acionou a estranha máquina que abria os portais.

            Entramos no portal e saímos na bela e estranha cidade de Juno, o lar dos Sábios e da Valkyria renegada que fazia renascer os guerreiros que provavam ser dignos. Queríamos poder passear pela cidade, mas também não queríamos perder tempo e o caminho até a Caverna era longo e bastante perigoso. A cidade era quase deserta, demoramos algum tempo até achar uma pessoa que pôde nos informar a direção que teríamos que tomar para chegar a Magma.

            Era um caminho e tanto, realmente. Passamos boa parte do dia caminhando por paisagens áridas, fugindo de Poeiras e evitando canteiros naturais de Plantas Geográficas, mas por fim, bem depois do meio-dia nós chegamos à entrada da Caverna. Ao lado da boca da Caverna havia um quadro de recados avisando aos mais desatentos os perigos aos quais se sujeitam os que entram em Magma.

            Honestamente o aviso era desnecessário, apenas alguém muito burro não sentiria o perigo de entrar naquele lugar, nem as Poeiras e os Bodes iam à entrada da Caverna. O calor e o enxofre impediam até mesmo o nascimento de Geográficas. Juhz e eu aproveitamos a relativa segurança do lugar e descansamos um pouco e comemos também. Depois de estarmos totalmente recompostas da caminhada entramos na Caverna.

            Ao cruzarmos a fina névoa que marca a entrada de Magma fomos engolfadas por um mormaço que fez com que eu me sentisse mal imediatamente, meus olhos embaçaram e minha cabeça ficou pesada. Ao meu lado, Juhz tirou uma estranha pedra azul de dentro do Carrinho, partiu-a em duas e entregou uma metade a mim, imediatamente senti-me fresca e confortável.

            _ O que é essa pedra, Juhz?

            _ Gelo Místico – respondeu ela amarrando seu pedaço no pingente negro que fechava sua capa – estava escrito num dos livros que eu li que ajudam a manter a temperatura baixa, achei que seria útil.

            Guardei minha parte num dos bolsos do casaco e seguimos caminhando, apreensivas por não encontrar nenhum Golem de Lava ou Explosão no caminho. Já havíamos caminhado bastante, orientadas pelo mapa que Juhz trazia consigo quando descobrimos a razão da ausência de monstros. A Caverna é formada por várias passarelas suspensas sobre um lago de lava, e a ausência de paredes permite que se tenha uma boa visão geral, então nós vimos um grupo de aventureiros treinando numa plataforma não muito distante de onde estávamos. Em pé na plataforma estavam uma Bruxa e um Sacerdote esperando por um Cavaleiro que ia aos cantos mais distantes da Caverna atraindo vários monstros para que a Bruxa pudesse matá-los.

            O homem, heroicamente sentado em seu Peco, percorria toda Magma com eficiência, às suas costas uma boa dúzia de Golens de Lava arrastava-se tentando feri-lo. No entanto ele parecia sequer sentir as grandes mãos de lava próximas de si tentando agarrá-lo.

            _ Como ele consegue, parece que o calor não o incomoda nem um pouco! – exclamou Juhz, fascinada

            _ Olhe a roupa dele, está encantada com o espírito de um Pasana – disse-lhe apontando uma espécie de fantasma que cobria as costas do homem – isto concede a ele uma resistência sobre-humana ao calor e fogo.

            Juhz apenas concordou com a cabeça e seguimos então para o túnel estreito que levava ao nível inferior da Caverna, por causa do Cavaleiro não encontramos um único monstro o caminho todo, e não há palavras para dizer o quão felizes ficamos com isto. O nível inferior da Caverna era muito parecido com o anterior, porém não havia um Cavaleiro para distrair os monstros enquanto passávamos e fomos obrigadas a ir aos poucos, correndo de algumas Explosões, despistando Diaboliks e passando longe de Golens; mas ao fim de tudo chegamos a uma reentrância na parede que, segundo Juhz era a entrada para o salão do Tabuleiro.

            Ela entrou na frente e tivemos alguma dificuldade para passar o frágil Carrinho de madeira pela fenda na rocha, assim que ele passou, eu entrei também. Durante um segundo eu fiquei atônita, era um grande salão cavado numa rocha castanho-avermelhada, com lindas runas muito antigas gravadas nas paredes, e um caminho reluzente de placas de Sangue Escarlate. Juhz sequer continha-se, analisando as runas com olhos mais brilhantes que os azulejos de pedras de fogo.

            _ Existe Tril, eu sabia que existia – murmurava ela, encantada com o lugar.

            A um canto do salão havia uma parte com o piso mais baixo, todo coberto de Sangues Escarlate e sobre o piso vermelho e reluzente havia um grande Tabuleiro feito de elunium com milhares de peçinhas de emperium, oridecon, garleta ou zargônio. Juhz caiu de joelhos diante do Tabuleiro enquanto eu apenas olhava estupefata e um pouco temerosa. Ela levantou-se e começou a olhar o Tabuleiro que era como um grande mapa vivo de todo o mundo.

            _ Veja Tril – ela me chamou para perto do Tabuleiro e começou a apontar enquanto falava – aqui está nossa casa, feita de zargônio e a Flora e a Parasita na varanda! Aqui a taverna, a Abadia, tudo!

            O Tabuleiro era retangular, os lados maiores tinham cerca de cinco metros de comprimento e os menores três, divididos em retângulos menores numerados, as peças que equivaliam às construções e monstros eram feitas de zargônio ou garleta perfeitamente proporcionais ao Tabuleiro, as pequenas pessoinhas eram de emperium ou oridecon e moviam-se de forma natural e bela, podia-se ver centenas de pequenas explosões de luz simbolizando as magias que Bruxos, Magos, Sábios ou outras pessoas utilizavam.

            Percorremos o perímetro do Tabuleiro até acharmos Magma, ao lado da entrada da caverna havia uma espécie de botão redondo. Hesitantes, apertamo-lo e o azulejo no qual a Caverna estava elevou-se no ar mostrando-nos todos os níveis do lugar. Uma pecinha de oridecon montada num Peco de garleta percorria o primeiro nível seguida de vários Golens de zargônio.

            _ Olhe Tril, somos... nós? – Juhz apontava para uma reentrância transparente na Caverna do Tabuleiro, onde havia uma miniatura dele mesmo e uma Alquimistinha de emperium observando-o – Mas, cadê tu?

            _ Podes olhar à vontade, Juhz Skydier – uma voz rouca sussurrou – tu nunca encontrarás tua amiga.

            Olhamos para o canto de onde vinha a voz e, para meu desespero, havia um homem de sorriso triste e olhos brilhantes sentado num trono prateado.

            _ Como sabes meu nome? – Juhz estava lívida encarando o homem sem enfrentar seus olhos

            Ele sorriu novamente, levantou-se do trono e aproximou-se de nós.

            _ Passei tantos e tantos anos observando este Tabuleiro que conheço cada habitante desse país, ele é como uma parte de mim. Com apenas uma olhada posso achar qualquer pessoa, qualquer lugar...

            _ És o Observador deste Tabuleiro?

            _ Sim, minha cara, estou aqui há muito, muito tempo, desde os tempos em que Glast Heim era orgulhosa e Prontera apenas uma vila – respondeu o homem. – Sou o Observador, meu nome é Jerry Chant, é Jonathan Vergez, é James Zimmer...

            _ Quantos nomes tens, afinal – atalhou Juhz.

            _ Um para cada uma de minhas vidas – respondeu o Observador com simplicidade – mas um nome só é útil quando se convive com outras pessoas, aqui eu sou apenas o Observador, ou o Guardião.

            _ Cada uma de tuas vidas – repeti, confusa – mas como podes ter mais de uma?

            _ Não sei teu nome, adorável Arruaceira, podes dizê-lo?

            _ Mas disseste que conhece todas as peças do Tabuleiro.

            _ Exatamente – afirmou ele placidamente, e apontou para o salão no qual estávamos no Tabuleiro – e por acaso vês alguma peça que te simboliza?

            Aproximei-me do Tabuleiro e vi que apenas a pequena Alquimista estava presente no salão, recuei um passo, apavorada e o encarei firmemente.

            _ Assim como eu, tu és uma maldita abençoada – seu sorriso transbordou de uma tristeza que me fez dor o coração – estás fadada a viver eternamente, sem ninguém olhando por ti. Como eu, tu verá o ir e vir das eras e não serás tocada por elas; e assim como eu, irás cansar-te disso e terás que esperar pela sorte de vir alguém que possa sacrificá-la.

           _ Sacrificar-me – cai pesadamente no chão com os olhos arregalados – sinto muito, mas não compreendo tuas palavras.

            Ele aproximou-se de mim e ajoelhou-se ao meu lado, tomando meu rosto em suas mãos ele falou:

            _ Se vieste para cá, conheces a lenda sobre este Tabuleiro, certo – confirmei com a cabeça. – Mas o que provavelmente tu não sabes é que há pessoas que não têm peças nos Tabuleiros, são pessoas como você e eu, malditos imortais abençoados cuja alma não deixa este mundo.

            _ Perdoe-me, mas continuo sem entender.

            _ Desde que os Tabuleiros foram criados, nenhum deus se dá mais ao trabalho de descer à terra para observar a humanidade, logo, os que não têm peças tornaram-se invisíveis para eles – ele olhou-me fundo nos olhos “entendeste?”, “até aqui sim”. – O que move estas peças é uma pequena parte da alma da pessoa que ela simboliza, quando uma pessoa morre as Valkyrias vêem a morte da peça e vão até o corpo buscar a alma e levá-la ao Valhalla. Mas nossas almas são completas e por isso não deixam nosso corpo, e como não temos peças as Valkyrias também não vêem nossas mortes, por isso tornamo-nos imortais.

            _ Como elfos?

            _ Não – respondeu ele – elfos são considerados imortais por terem uma longevidade que supera em várias vezes a dos humanos, porém eles podem ser mortos; mas mesmo que nos cortem a cabeça do pescoço poderemos levantar-nos novamente.

            _ Decapitados?

            _ Podemos recompor partes perdidas do corpo em questão de horas, ou dias em determinados casos – ele suspirou. – Há muito tempo eu desisti de contar meus anos de vida, mas garanto-lhe que são mais de mil e também posso garantir-lhe que poucas partes de meu corpo têm essa idade.

            Observei-o melhor, a pele era clara e lisa embora tivesse olheiras profundas, os olhos eram azuis muito escuros e ele definitivamente não aparentava ter mais que trinta e alguns anos. Tornou-se lógico que ele se renovava sempre que a velhice tornava-se incomoda.

            _ Entendi tudo até agora, Observador, entretanto – disse-lhe Juhz enquanto observava o Tabuleiro, a capacidade dela de prestar atenção a duas coisas sempre me impressionou – em que ponto a palavra “sacrifício” torna-se necessária aqui?

            Ele a encarou e sorriu, ela sustentou-lhe o olhar.

            _ Só há uma forma de um imortal morrer – disse ele – uma soma de fatores que culminam neste ato. O primeiro fator: o imortal tem que querer morrer, segundo ele deve ser morto por outro imortal que esteja ciente disso, e terceiro ele deve ser apunhalado com isso – ele tirou da bainha uma estranha faca com cabo de metal polido e lâmina de madeira lustrosa.

            _ Então, tu queres que eu o sacrifique – tentei recuar, mas ele segurou-me fortemente pelo ombro.

            _ Sim, cara Arruaceira – seu sorriso demonstrou novamente toda a tristeza do mundo – aliás, ainda não me disseste teu nome.

            _ Trillian Tenenbaum – respondi-lhe.

            _ Trillian... Tenenbaum... – ele balançou a cabeça – eu quero o nome que recebeste ao nascer, e não depois de tua morte.

            _ Tricia Thunders – respondi-lhe – então eu realmente morri naquele dia?

            _ Sim, vejo em teus olhos que já morreste uma vez, e estarei enganado se disser que não morrerás outras tantas vezes antes de tomar meu lugar.

            _ Tomar teu lugar?

            _ Sim, este Tabuleiro deve ser guardado por um imortal; desde que Odin o pôs aqui é meu dever guardá-lo, mas sinto que está chegando a hora de eu... morrer.

            _ Morrer, e o que acontecerá à tua alma?

            _ Deixará de existir – respondeu ele com simplicidade – como se jamais tivesse existido um Jerry Chant, ou Jonathan Vergez, ou James Zimmer...

            _ E qual é o teu nome?

            _ Jack Sevenfold – ele riu ruidosamente – há muitos anos não me apresentava assim a alguém. Tricia, eu gostaria imensamente que tu ficasses aqui comigo e se tornasse minha herdeira.

            _ Eu aceitaria, Jack, se não tivesse que viver ainda algum tempo.

            _ Tempo... isto não significa nada para ti – ele encarou-me longamente. – Mas se desejas ainda fazer algo antes que o tempo de algum deles – apontou para o Tabuleiro indicando todos aqueles que possuíam peças – se acabe, não irei impedi-la, apenas peço-lhe do fundo de meu coração que venha a mim quando findar tua quarta vida.

            _ Prometo-lhe que virei – olhei-o nos olhos e ele sorriu – acho que talvez tu possas me ajudar, então.

            _ O que precisas?

            _ Achar certos mortais e entregá-los à Hel.

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Sua... huf... monstra... puf... eu... *respira fundo e se recompõe*.

Eu demorei quarenta minutos pra ler esse capitulo... quando eu disse para não se incomodar em diminuir não era pra levar ao pé da letra.

E cuidado com as mesóclises, senão vai acabar que nem o Adrom ([email protected] ... como isso virou um link?)

Vamos lá, continue a historia mas veja se diminui os proximos capitulos... Esse ai merece o titulo de o capitulo mais longo da historia da sessão de Fanfics.

 

Edit: NÃO cliquem naquele link de e-mail, ele não existe e vai fechar sua internet com a mensagem "O Internet Explorer encontrou uma falha e teve de ser fechado".

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Fiaaaaaaaaa..... Cacilda!!! o.O

 

O Draken tem razão! Fiquei lendo por longérrimos minutos! Divida seus próximos capítulos. Dificilmente deixe-os passar de 2 páginas do Word, senão pode ficar enfadonho, e os leitores q não lhe são fiéis ficarão com preguiça d lê-los.

 

Fora isso, a estória está ótima!!! Muito boa intriga, descrições igualmente boas! [/ok]

 

@Draken...

O certo seria novelista portuguêS.... Sem o "A"! Sou homem, fio! [/heh]  E eu gosto de mesóclises... [/snif] O q vc tem contra elas? Em dados momentos, é certo usá-las (não em todos, obviamente). Crucificar-te-ei por teus comentários! [/:p]

 

Grande abraço! [/ok]

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