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Crônicas de Lenor - A Origem dos Guardiões (e o início de tudo)


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4.  A Busca pela Caixa de Pandora

 

O grupo de expedição estava formado. À frente, o general Thanos Maximus, seguido por Hakkin, Korn, Kamaitachi, Limbus e Bellfist. Estavam na Floresta de Simková, a vinte quilômetros de Lenória. Seguiam em direção ao local, onde, segundo Maximus, a caixa teria sido levada.

 

O grupo andou durante horas, até que caísse à noite. Precisavam descansar. Começaram as buscas sem antes sequer reporem as energias gastas no torneio. Korn, Kamaitachi e Hakkin, por terem usado técnicas especiais, eram os que mais sentiam. À beira da fogueira, todos descansam, calados, num silêncio quase mortal. Sentado, e já sem o capacete, Maximus olha fixamente as chamas, como se conhecesse bem sua essência. Seu rosto agora podia ser visto: tinha longos cabelos brancos, lisos e pesados, caindo sobre o rosto. Sua pele era pálida, e seus olhos transmitiam uma melancolia quase palpável. Quem quebra a quietude do ambiente é Hakkin, que se dirige ao general:

 

- Então, general... Que tal falar um pouco mais sobre você? Parece que ninguém sabe muito a seu respeito, e já que vamos trabalhar juntos, ficaríamos mais à vontade sabendo com quem estamos andando.

 

Maximus respira fundo. Os guerreiros focam sua atenção no general. As palavras demoram a sair.

 

- Meu nome é Thanos Maximus. Eu era um grande guerreiro dos Países Baixos, até ter minhas terras conquistadas pelas tropas do Imperador Trackinous. Também era o último homem da resistência, e continuei lutando bravamente pelo que acreditava. Mas minha causa estava perdida. Meus companheiros estavam mortos, minha terra, maculada. Fui poupado, pois causei um certo espanto com relação à minha maneira de lutar. Logo, eu me tornaria o braço direito de Imperador, como seu general, chefe se suas tropas. Não posso reclamar, é uma posição bem confortável para um derrotado.

- Você pretende se vingar do Imperador? Um guerreiro como você deveria odiá-lo, sem contar que acabaria facilmente com seu exército. – voltou a questionar Hakkin.

- O meu dever agora é com o Imperador. E só. Não quero mais falar nisso.

 

Os presentes se entreolham. Bellfist, a essa hora, já dormia. Limbus permaneceria acordado, fitando friamente Maximus, que não desviava seus olhos das chamas.

 

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Já era dia. O grupo continuava a caminhada por entre a floresta, que ficara mais densa nas últimas horas. Os guerreiros já haviam se recuperado bem do dia anterior, encontravam-se mais bem dispostos. Já se passava algum tempo, quando de repente Maximus pára bruscamente.

 

- O que houve?

- Silêncio. Estão ouvindo?

- Já vi isso antes... – debocha Hakkin.

- Preparem-se. – Neste momento, Maximus se afasta, e saca de sua fabulosa espada. Ninguém entende nada. Hakkin e Bellfist já empunham também suas armas. Korn também saca suas bastardas e Kamaitachi já se concentrava em seus sentidos para prever de onde viriam os inimigos. Haviam percebido que se tratava de uma tocaia.

- ATACAR!!! – o mesmo grito estridente, uma vez ouvido por Hakkin na caverna que ligava a Floresta das Sombras ao mundo dos homens, pôde ser ouvido por todos. De vários arbustos saíam dezenas de pequenos seres azulados, armados com pequenas espadas e machados, por sinal, muito primitivos.

- Ah, não! Essas pragas de novo não! – gritava Hakkin, já disparando várias flechas em direção aos inimigos.

- Anões-azuis! Agrupem-se, eles atacam em bando! – bradava Thanos, para os outros guerreiros. Eram realmente muitos. Podiam ser vistos no mínimo de 30 a 40 inimigos, cercando os guerreiros por todos os lados. – Partir para a ofensiva, não podemos perder aqui!

 

Naquele momento, via-se por que merecia seu posto de general. Thanos tomava a iniciativa de forma esplendorosa, e massacrava seus inimigos com facilidade. Cada vez que girava sua espada, três ou quatro anões tinham suas vidas ceifadas por aquela descomunal lâmina. Os outros guerreiros não ficavam atrás. Korn, aproveitando as árvores muito próximas, as usa como pontos de apoio independentes para executar uma série fantástica de saltos, com leveza admirável, sempre girando seu corpo para atingir o máximo de inimigos com suas bastardas. Hakkin, com suas flechas, era insuperável. Com um tiro, empalava mais de um anão, sem dificuldade alguma. Com uma cadência de disparos velocíssima, vários oponentes tombavam antes de representar qualquer ameaça. Bellfist executava as pequenas criaturas sem piedade. Já tinha lavado suas espadas com sangue de alguns deles. Limbus, mesmo lutando valorosamente, nada pôde fazer para evitar que Kweck fosse morto pelos pequenos algozes.

 

- Malditos! – bradava o clérigo – Sintam a fúria de Osíris!

 

Com seu mangual, desferia golpes devastadores contra seus adversários. Devido a sua idade avançada, não conseguia atacar com tanta velocidade como seus companheiros.

 

Kamaitachi, a essa altura, já havia rasgado vários anões com suas garras, correndo por entre as árvores e buscando seus inimigos onde estivessem.

 

Aparentemente, o grupo de guerreiros levava larga vantagem. Mas não paravam de surgir mais e mais inimigos. Já se somavam mais de 50 anões mortos. Faltavam cerca de 80, que não paravam de avançar sobre os heróis.

 

- Corram! – ordena Maximus, com a espada em punho. Sem demora, o grupo obedece prontamente.

 

A mais ou menos 500 metros do local da batalha, tudo que pôde ser ouvido foi o grito de Thanos.

 

- Círculo das Furiosas Chamas!  – o grito é seguido de uma grande explosão, e um círculo de fogo que ia devastando tudo em seu caminho. Korn, Limbus, Bellfist, Hakkin e Kamaitachi não acreditavam no que viam.

 

Quando as chamas se cessaram, o grupo voltou ao local da luta. No centro da explosão, Maximus, e à sua volta, os corpos carbonizados e sem vida de cerca de 130 anões azuis. Finalmente Maximus tinha revelado um de seus truques.

 

- O que foi isso? – perguntou Bellfist.

- Algo que precisei fazer. – responde Maximus, guardando sua espada.

- Como assim?! Você explodiu isso tudo?!

 

Sem responder uma palavra, Maximus volta a tomar seu caminho, adentrando a floresta. Tudo o que restaria da mata, no local da batalha, era uma enorme clareira. Sem demora, o grupo resolve continuar a caminhada. Kamaitachi olhava com desconfiança o general. Algo estava errado nas ações daquele homem, e a energia que emanava era por demais sombria. O místico porém decide ver o rumo que irá tomar a expedição atrás da caixa, em busca de algum fato que revele o verdadeiro caráter de Maximus.

 

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De longe, os guerreiros já podiam ver o local onde supostamente encontrariam a caixa: uma grande torre, toda negra, muito além dos limites da Floresta de Simková. Encontrava-se no Vale Glenlivet, um vale de sombras e trevas. Diziam ser território de orcs, goblins e outros monstros. Paravam para tentar enxergar melhor que caminho tomar.

 

- Deixa comigo! – diz Hakkin, levitando a algumas dezenas de metros do chão. De lá de cima, pôde ver que era uma torre muito alta, negra, com gárgulas por toda a parte, e em seu topo uma estranha estátua, que não conseguia identificar.

- Ei pessoal, é por ali! – gritava o elfo negro, sem perceber que a estranha estátua começava a concentrar uma carga de energia muito forte. Quando tornou a admirar a obra, foi surpreendido por um poderoso feixe de energia, que o acerta em cheio. Muito ferido, o elfo não consegue manter a concentração e cai ao solo, quase inconsciente.

- Abram espaço, deixem-me passar! – pedia Limbus aos outros. O clérigo, pondo suas mãos sobre o peito do elfo negro, começa a recitar frases numa língua que os demais membros do grupo não entendem. Logo, de suas mãos, sairia uma forte luz branca, aplicada diretamente sobre Hakkin. Suas feridas se fechavam diante dos olhos de seus companheiros. Aos poucos, ia acordando, porém, fraco pelos ferimentos produzidos pelo raio.

- Caraca! O que você fez?! – perguntava Hakkin, surpreso.

- Magia de cura, é assim mesmo. Só que ainda não está perfeita, você não se recuperou totalmente. Seria melhor descansarmos, antes de entrarmos na torre. – diz Limbus.

- O que você viu? – pergunta Bellfist

- Uma torre enorme, negra, cheia de morcegos enormes de pedra e uma estranha estátua no topo, que disparou esse raio em mim... Aliás, o decorado do lugar deve ter um péssimo gosto.

- É a Torre Nazahrio. Vamos continuar amanhã, ao amanhecer. – propõe Maximus. A noite já caía novamente, continuar pelo vale àquela hora seria suicídio.

 

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No outro dia, o grupo já estava próximo da torre. Haviam atravessado totalmente a Floresta de Simková, e já se encontravam no Vale Glenlivet. Quanto mais se aproximavam da torre, mais Limbus sentia o mal à sua volta. Aquele solo era profano. Não conseguia se sentir à vontade. De repente, algo ocorre, para nervosismo do grupo. Dessa vez foi Kamaitachi quem pára.

 

- Protejam-se! – gritava o Dragão Branco. A mesma descarga que havia atingido Hakkin, era disparada contra o grupo de aventureiros. Kamaitachi, pelo treinamento que recebeu, não podia ser surpreendido com facilidade.

- O que diabos está acontecendo?! – pergunta Bellfist.

- Parece um tipo de encantamento para afastar invasores. Não podemos nos aproximar muito. Só temos uma chance, mas vocês devem agir quando eu der o sinal. – diz Maximus.

 

Todos concordam. Maximus, de espada em punho, corre com uma velocidade equiparável à de Kamaitachi para o campo aberto, próximo à entrada da Torre Nazario. Rapidamente, o general levanta sua espada. Sua intenção só é descoberta pelo grupo, quando um enorme raio cai sobre ele. Maximus permaneceria ali, contendo o raio para que Korn e os outros pudessem entrar.

 

- Agora, rápido! – gritava Thanos, já sentido as descargas. Sem demora, o grupo põe-se a correr em direção à torre. Kamaitachi, Bellfist e Korn derrubam a porta rapidamente, entrando assim, finalmente, na tão protegida fortaleza.

- E Maximus? – perguntava Limbus. Antes que pudessem responder, a descarga elétrica se cessaria. Maximus, de pé, guardaria sua espada e não conseguia conter uma sinistra risada. A entrada da torre agora se via selada por uma estranha barreira de energia. O general vira as costas e começa a se afastar da torre. Era uma armadilha, e Thanos havia os traído.

- Maldito, filho de uma ogra! Volta aqui! – vociferava Hakkin. Os cinco se viam presos, dentro de uma torre que não conheciam, numa pequena sala que só possuía duas saídas: a porta por onde entraram, e outra, que os guiaria para o interior da fortaleza. Tinham de tomar uma decisão.

- E agora, o que a gente faz? – pergunta Hakkin.

- Acho melhor entrarmos e buscarmos uma outra saída. – propõe Green Korn.

- De acordo – diz Limbus.

- Eu também – concorda Kamaitachi, que a essa altura, desistira de golpear a barreira e as grossas paredes de pedra.

- Fazer o quê? Também vou com vocês. – diz Bellfist.

- Então tá então. Vamos! – diz Hakkin, neste ato, abrindo a porta que os conduziria para o primeiro grande desafio de suas vidas.

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- ATACAR!!!! – Um grito estridente e agudo pôde ser ouvido pelos dois elfos negros. Neste momento, cerca de doze anões, de pele azulada, olhos vermelhos e vestindo apenas calças e gorros brancos, atacavam Hakkin e Morien por todos os lados

SMURFS!!!!!!!!!

Malditos elfos mataram os smurfs fofenhos! ahuahauaha

To no serviço e só deu tempo de ler o 1 capitulo, mas to adorando. Tb não ligo se tem ou não o pessoal do forum, to achando bem legal! ^^v

Vai ter os ursinhos gummy tb?!

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5. A Torre Nazahrio

 

A primeira sala deixa os heróis pasmos. Eles não podiam acreditar na cena que viam, era algo que não condizia em nada com a fachada da torre. Estavam numa grande sala, com o piso em granito, impecável, paredes e teto cheios de adereços em ouro e prata. Em vários pontos da sala, grandes almofadas de seda, com bandejas cheias de frutas e garrafões de vinho. Muitas jóias espalhadas pelo chão. Parecia um sonho.

 

De duas câmaras laterais, duas belas jovens surgem, convidando os aventureiros a repousarem em seus aposentos. Vestiam apenas véus, e tinham em seu corpo vários anéis e colares de ouro.

 

- Descansem seus corpos aqui, bravos guerreiros. – dizia uma delas – Vamos cuidar muito bem de vocês. – Tinham a voz aveludada. Era quase impossível resistir à beleza do azul de seus olhos. O grupo ainda mantém-se recuado, com exceção de Bellfist, que trata de cair nas graças de uma das jovens sem muita demora. Hakkin apenas observa.

- Não fiquem acanhados, podem vir rapazes... – diz a jovem que não está com Bellfist. Hakkin, como resposta, saca seu arco e o aponta para a bela dama.

- Minha flecha primeiro. – diz, antes de acertar um disparo certeiro no coração da mulher. O grupo olha atônito.

- Por que fez isso?! – perguntava Korn.

- Simples, isso tudo é muito suspeito. Onde já se viu duas mulheres gostosas como essas, morando dentro duma torre sombria e isolada, ainda mais nesse vale?! – rebate Hakkin, categórico. Nesse momento, tudo que ouvem é um pedido de ajuda por parte de Bellfist. A bela dama que estava com ele tratava de revelar seu verdadeiro rosto: eram sucubbus . Não demoraria muito para que a outra, que havia sido atingido pela flecha do elfo negro, se levantasse para atacar o grupo de heróis.

- Ah, porcaria, eu falei que aqui tinha treta! – diz Hakkin, preparando-se para disparar outra flecha. Limbus recitava cânticos para invocar um Santuário, uma magia que protegeria o grupo do mal. Kamaitachi e Green Korn partem para socorrer o paladino negro.

- Segura essa, sua sanguessuga! – Diz Korn, atacando com suas bastardas, O primeiro golpe é perfeito, atingindo em cheio o ombro de sua inimiga. Porém, no segundo ataque, perde o equilíbrio, e acaba por atingir Kamaitachi. O ferimento é leve, mas causa problemas ao Dragão Branco.

 

Enquanto isso, Hakkin e Limbus partem para atacar a outra vampira. Os ataques de Limbus mostram-se ineficazes contra tão veloz oponente. Hakkin acertaria mais três flechas no peito da adversária, que continuaria a atacar o elfo e o clérigo. A maior vantagem das vampiras era sua velocidade, elas se moviam facilmente pelo salão para atacar os heróis. Sem muita opção, e ferido, Kamaitachi apela novamente para o truque que usara no torneio.

 

- Shi-Ryu-Sui-Sen! – O salão seria coberto por uma grossa camada de gelo, que acaba por desequilibrar as inimigas. Bellfist, com sua força, consegue se libertar de sua algoz, e com as duas espadas longas, viria a abrir seu ventre com esplêndidos golpes desferidos com uma combinação perfeita de força e velocidade. Uma das vampiras viria a cair sem vida no chão.

 

Limbus e Hakkin ainda lutavam com a outra vampira. Ferida e com seus movimentos limitados pelo Chão de Gelo, ela se tornara um alvo fácil para o tiro certeiro do elfo negro, que a acertaria mais três tiros, todos em sua face horrenda. Tombaria, como sua companheira, morta.

 

Os heróis se reúnem novamente. Precisavam descansar, tratar das feridas. O belo local se desfaria, revelando ser uma enorme ilusão. Na verdade tratava-se de um grande salão abandonado e destruído. Com sua capacidade de encontrar armadilhas e passagens secretas, natural dos elfos negros, Hakkin, vasculhando a sala em busca de outras câmaras, encontra um pequeno baú.

 

Dentro dele, alguns vidros, contendo um líquido lilás. Limbus, como clérigo, e Korn, como Blade Singer, poderiam identificar o que seria o conteúdo daqueles frascos. Foram categóricos em dizer que se tratavam de Poções de Cura. Eram seis frascos, tendo sido dado um para Kamaitachi. Bellfist, mesmo sendo um paladino negro, tinha a capacidade de repousar as mãos sobre seu próprio corpo para curar feridas. Um dom de cura, que era limitado para uso próprio. Sendo um paladino negro, se tentasse curar terceiros, apenas lhes transmitiria doenças e pragas.

 

O grupo resolve dormir, para, posteriormente, seguir com sua nova missão: encontrar a saída da torre. Mas algo ainda os perturbava: E se a Caixa de Pandora estiver na torre? E o mais importante: quem a roubou?

 

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Todos decidem continuar. Após o embate, puderam ver que no final do grande salão havia uma porta, que os levaria a uma enorme escada em espiral. Kamaitachi resolve ir à frente, pois crê que poderá avisar seus companheiros caso um inimigo novo apareça, uma vez que não pode ser surpreendido. Só que seu alerta é ineficaz contra armadilhas. Enquanto subiam, o dragão branco sem querer esbarra num fio, ativando um pequeno dardo que o acerta no pescoço. Rapidamente o tira, temendo estar envenenado. Limbus analisa o pequeno projétil.

 

- Pode ficar tranqüilo, o veneno deste dardo já perdeu seu efeito aparentemente há alguns anos. Não irá lhe fazer mal algum.

- Muito obrigado. Mas, sinto por não poder ajudar com as armadilhas. Não consigo pressenti-las.

- Bem, – disse Hakkin – isso é um problema. Com certeza tem mais de uma dúzia dessas coisas espalhadas por aí. E algumas podem estar com veneno bom, esperando para matar alguém. Como vamos fazer, alguma sugestão?

- Eu tenho... – diz Korn, já cerrando os olhos e recitando palavras em linguajar élfico. Hakkin é o único a entender o que o Blade Singer planejava. Ao fim das palavras, um estranho brilho roxo saía das mãos do elfo dourado.

- Pronto. Agora, toquem minhas mãos.

Todos, um a um, tocam as mãos do Blade Singer. O curioso é que, a medida que iam tocando-o, suas mãos também passavam a emitir aquele leve brilho.

- Você conjurou uma magia de Pata de Aranha, certo? – pergunta Hakkin.

- Certo. Sigam-me! – a essa altura, Korn já subia as paredes, para continuar a escalada pelo teto. Lá, com certeza, evitariam as armadilhas que se encontravam na escada. A magia invocada pelo Blade Singer faz com que os membros do indivíduo pudessem aderir a qualquer superfície, por um determinado número de horas, como se fossem verdadeiras patas de aranhas.

Passado algum tempo, os heróis deparam-se com outra porta. Descem do teto onde estavam, parando em frente da mesma. Hakkin checa por armadilhas preparadas, mas não detecta nada.

 

Korn abre a porta. Diante deles uma sala redonda, com cerca de 20 metros de diâmetro, totalmente vazia e limpa, não tendo uma janela sequer. Do outro lado da sala, outra porta. Os dois elfos se entreolham. Ainda estão sob o efeito da magia, e por isso, resolvem cruzar a sala suspeita pelo teto. Kamaitachi e Limbus, com a magia enfraquecida, resolvem atravessar correndo. Bellfist esperaria para ver o que acontece.

 

Korn e Hakkin já estavam do outro lado da sala, com a porta aberta, esperando seus companheiros. Bellfist não esboça reação alguma. Kamaitachi e Limbus estão no centro do salão.

 

- Pode vir, Bellfist, é seguro.

 

De repente, o dragão branco sente sua perna se prendendo. Não conseguia se mover, e reparara que Limbus estava na mesma situação. Ao olharem o chão, espantaram-se com o que viam: daquela sala, brotavam dezenas de braços, talvez de espíritos de outros guerreiros que se aventuraram na torre. Agora, além de segurá-los, os braços começavam a puxá-los para baixo. Com certeza, morreriam esmagados. Num momento de desespero, o dragão branco crava suas garras no solo e dispara seu poder mais uma vez.

 

O chão de gelo congela todas as mãos em toda a sala, tornando-as frágeis o suficiente para serem quebradas pelos dois guerreiros. Mas outras mãos saíam, forçando sua passagem através do gelo. Sem demora, Kamaitachi e Limbus cruzam a sala. Bellfist, que até aquele momento não se movera, sai correndo e desliza por toda a extensão da sala, juntando-se aos seus companheiros.

 

- Vocês estão bem? – pergunta Korn.

- Tudo bem, foi só um susto... Só que o gelo de Kamaitachi não os segurará por muito tempo. Melhor continuarmos subindo as escadas. – diz Limbus. Green Korn, a essa altura, já conjurara outra vez a Pata de Aranha para ele e seus companheiros. Continuariam seguindo pelo teto, até a próxima sala.

 

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Passado um certo tempo, novamente o grupo se vê diante de uma porta, que os conduziria para a próxima sala. Desceram novamente do teto, e Hakkin, mais uma vez, checa a porta em busca de dispositivos ocultos.

 

- Ora, ora... Vejam só. – o elfo negro havia encontrado um fio muito fino, atravessando toda a entrada. – Todos no chão, vamos ver o que essa belezinha faz... – Com uma de suas flechas, Hakkin, de longe, parte o fio. Uma enorme lâmina gira, horizontalmente, através da porta. Com certeza, partiria em duas metades quem tentasse ali atravessar.

 

- Uau, essa é boa! – o grito de Hakkin não escondia seu espanto. Depois de recolhida a lâmina, o fio, antes partido, volta a se esticar, armando novamente a armadilha: tratava-se de uma armadilha mágica – Atravessem com cuidado, olha o degrau... – alerta o elfo negro. Todos evitam sem problema o fio, e entram no que parecia ser uma sala específica para rituais de sacrifício. Era uma sala grande, com enormes faixas nas paredes, todas fazendo alusão a Sirik. No centro, um pequeno altar, com o corpo de uma jovem sacrificada. Aparentemente, sua morte havia se dado há poucos dias, mesmo estando o corpo em estado avançado de decomposição. No chão, algumas urnas, cheias de sangue e um punhal com lâmina sinuosa, como uma cobra. No fim da sala, outra porta, que com certeza, os guiaria para a escada e, conseqüentemente, para outra sala.

 

- Tem alguma coisa aqui, peraí um pouco... – dizia Hakkin, enquanto vasculhava as paredes da sala. Tateando os tijolos mais aparentes, um a um, o elfo negro acaba por encontrar uma pequena alavanca, escondida atrás de uma saliência. Ao acioná-la, revela-se atrás de uma das enormes faixas uma passagem escondida, que os guiaria para um pequeno calabouço. Presas, três jovens pediam por socorro. Estavam famintas e feridas. Limbus, sem pensar muito, conjura novamente uma magia de cura, para que pudessem se recuperar. Korn e Hakkin, os mais fortes do grupo, arrebentam as correntes que as prendiam.

 

- Pronto tudo vai acabar bem... – tentava acalmá-las Limbus. Bellfist as conhecia: eram camponesas de Lenória que haviam sido dadas como desaparecidas a algumas semanas. Não tinha idéia de quem fez isso com elas. Mas pretendia descobrir.

- Quem prendeu vocês aqui?! Respondam! – indagava rudemente o paladino negro.

- Foi um homem horrível... Era...

 

A jovem foi interrompida pelo grito de uma de suas companheiras de cárcere. Ela havia visto o que restara de uma delas sobre o altar. Desesperadas, as três jovens entram em pânico e põem-se a correr de onde estavam.

 

- Não façam isso! – gritavam Limbus e Kamaitachi. Duas conseguem atravessar a porta, mas a terceira é pega pela armadilha. Seu corpo, com suas pernas separadas de seu tronco, agora se encontrava sem vida, estirada no chão. As outras duas, com certeza, seriam pegas na sala das mãos, ou numa das outras armadilhas espalhadas pela longa escadaria. Não havia mais nada a se fazer. Por dentro, Limbus e Korn sentiam o gosto do fracasso. Hakkin e Bellfist já estavam no outro lado do salão, esperando os outros para continuarem. Kamaitachi sente desprezo pela frieza de seus companheiros.

 

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O grupo de guerreiros continua a subir a torre pelo teto. Sem saber, já haviam evitado dezenas de armadilhas. De repente, algo chama a atenção de Hakkin: o broquel de Enryu começava a vibrar. O elfo negro não conseguia controlar seu braço, que tremia cada vez mais. Não tinha a mínima noção do que estava acontecendo. Só pára de prestar atenção no escudo quando Bellfist alerta o grupo.

 

- Tem alguém se aproximando! Falem baixo.

 

Limbus não conseguia detectar nenhuma presença maligna. Não sabia como Bellfist poderia saber que alguém se aproximava. Logo, seu alerta se mostraria verdadeiro: era possível ouvir passos, subindo a escada. Não estavam muito atrás. Como subiam normalmente, haviam alcançado o grupo, que subia pelo teto, operação mais segura, porém muito mais lenta.

 

- Vamos surpreendê-los. – diz Green Korn. Nesse momento, Kamaitachi começa a voltar, em silêncio. Não consegue ver quem sobe, pois está tudo muito escuro. Só sabe que está bem atrás deles agora. O escudo de Hakkin começa a tremer mais.

- Mas que diabos está acontecendo?! – diz o elfo negro.

- Agora! – grita Korn. Todos os que estavam no teto saltam em direção ao chão, com exceção de Hakkin, que ainda tentava entender o que estava havendo. Só o salto de Limbus é mal calculado, fazendo-o cair na escada. Nada de grave. Cercado, o pequeno grupo revela sua identidade, para espanto de Korn e os outros: eram Enryu, Párgaso e Androus. Agora Limbus entendia porque Bellfist pôde saber que Enryu e os outros se aproximavam: ao contrário dos Paladinos, que detectam o mal, os Paladinos Negros detectam o bem. Com certeza, a energia emanada de Enryu, era suficiente para Bellfist sentir sua aproximação. Aparentemente, os três haviam ido até a Torre Nazahrio em busca da caixa roubada.

- O que vocês estão fazendo aqui?! – pergunta Korn – Como sabiam desse lugar?!

- O general Thanos chegou na cidade e disse que não obteve sucesso na busca, e que vocês haviam fugido. Disse que talvez vocês tivessem se aventurado nesta Torre, mesmo sabendo que poderiam morrer. – explicou Enryu.

- Bastardo... – falou Bellfist. – ELE é o responsável por estarmos aqui! Mas... Espere um minuto! Como VOCÊS entraram, se o portal está bloqueado por um tipo de barreira?!

- Na verdade, quando chegamos, não havia nada. – disse Párgaso – Mas depois que entramos na torre, realmente, nos vimos presos por essa barreira que você mencionou.

- Vocês caíram na mesma armadilha que nós. – explicou Kamaitachi – Maximus nos disse que a caixa estaria nessa torre, nos indicou o caminho e nos deu cobertura para entrarmos. No momento em que entramos, ele simplesmente foi embora, nos deixando presos aqui dentro.

- Mas por que ele faria isso? – pergunta Androus.

- Isso, nós não sabemos. – diz Korn – Mas vamos ter uma noção, quando terminarmos de subir. Aliás, vocês viram duas jovens no caminho?

- Sim, cruzamos com elas há poucos minutos, elas estão bem, as deixamos na entrada do salão principal. Ficarão seguras lá por ora, pelo menos, assim esperamos. – diz Enryu.

 

Neste momento, Hakkin desce para se juntar ao grupo. Seu braço não pára de tremer.

 

- Esse lixo não pára... Ah, oi Enryu... Hehehe... Beleza?

- O que você está fazendo com o meu escudo? – pergunta calmamente o dragão de fogo.

- Ué, você me emprestou, não lembra?!

- Me devolva o broquel, por favor.

- Ahn... Tudo bem, tá quebrado mesmo... Ele não pára de chacoalhar meu braço.

- É porque ele faz parte da minha armadura – explica Enryu, recolocando seu escudo – Ele só se revela eficaz junto com a armadura completa. Com você, não seria mais que um escudo comum.

- Tudo bem então... “humano retardado, só fala agora...” – pensa o elfo negro – Bem, vamos continuar a subir!

O grupo agora havia recebido o reforço de Enryu, Androus e Párgaso. Os três com certeza seriam de grande valia para os guerreiros. Só que o que ainda não entendiam era a intenção de Maximus. “Talvez” – pensa Limbus – “a caixa realmente esteja aqui, e Maximus espera que a recuperemos para ele. Se pensa que vamos colaborar, está muito enganado. A fúria de Osíris o aguarda”.

 

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Passaram-se algumas horas desde que os guerreiros começaram a subir. Parecia que aquele era o maior lance de escadas até agora. Green Korn não tinha mais tanta energia para conjurar magias, então decidiu poupá-la, indo com o resto do grupo pelo chão. Depois de uma longa e vertiginosa subida é que os heróis iriam se deparar com uma nova porta. Essa, porém, era diferente das outras que eles haviam aberto anteriormente: era uma pouco maior, mas toda ornamentada em aço, com escritos e desenhos indecifráveis.

 

Temendo o que estaria por trás daquela estranha porta, Hakkin e os outros decidem abrir apenas uma pequena fresta, para que pudessem ver o interior da próxima sala. Lá dentro, puderam ver claramente um quarto, com outra porta ao fundo, e em seu interior, várias prateleiras com livros e tomos. Num canto, uma mesa com papiros e penas, e no centro, próximo a uma lareira, uma grande poltrona, sobre um belo tapete. A poltrona estava de costas para a porta que abriram, mas podiam ver claramente alguém sentado nela. Tinham de decidir como procederiam ali.

 

- Tem alguém ali, como fazemos? – pergunta Androus.

- Eu acho que deveríamos entrar e quebrar tudo... – diz Hakkin.

- Não sabemos se ele é amigo ou inimigo... – responde Enryu.

- Nesta torre?! Acorda, idiota! É óbvio que se trata de um inimigo! – retruca Bellfist.

- Vamos partir para um ataque direto então! Eu vou. – decide Párgaso. Todo o grupo recua um pouco, antes do guerreiro chutar a porta e entrar atacando.

- Mil punhos de Tyr! – após o grito, uma avalanche de projéteis parte em direção à figura na poltrona. Só que, quando os golpes de Párgaso alcançam o adversário, eles o atravessam, como se este fosse um fantasma. Era uma Ilusão Programada do adversário. Tratava-se de mais uma armadilha. De repente, o guerreiro se viu atingido por pequenos mísseis de energia teleguiados, que o atingiriam em cheio nas costas. Mais uma vez, uma magia do adversário, que não podia ser visto pelos guerreiros.

- Cuidado, Párgaso, deve ser um mago ou um feiticeiro! Proteja-se! – gritava Korn, ainda do lado de fora do quarto. O grupo não podia mais ficar apenas assistindo. Enryu, Hakkin, Korn, Limbus, Kamaitachi e Androus entram na sala, em busca do adversário. Todos estavam prontos para a batalha, só que não conseguiam encontrar o inimigo. Androus não podia usar suas correntes, pois poderia acertar seus companheiros.

- Vocês irão morrer aqui! – gritava uma voz cadavérica, com certeza, do oponente que se escondia no quarto com alguma magia de invisibilidade.

- Ele está ali! – grita Enryu, golpeando com sua espada no ar. O grupo, com exceção de Limbus e Bellfist, não entende o que o dragão de fogo pretende com aquilo. Só entendem as intenções do guerreiro depois de ouvirem um grito horrendo, como se algo tivesse sido atingido.

- Como me encontrou, maldito?! – gritava furiosamente a voz.

- O seu corpo exala um odor do mal muito característico... Não poderá se esconder de mim.

- Desgraçado! – depois do grito, o inimigo se revelaria. Tratava-se de um velho mago, com um manto negro com alguns detalhes em dourado. No pescoço, um medalhão com o símbolo de Sirik. Com ódio dos guerreiros, o velho mago concentra uma fabulosa energia nas mãos e dispara mais uma vez os pequenos mísseis de energia. Korn reconhece a magia dos Mísseis Mágicos. Eram, desta vez, dezenas de projéteis, e algo dizia que não poderiam escapar. Foi quando Kamaitachi, pondo-se na frente do grupo, faria algo rapidamente, para surpresa do inimigo.

- Koori-Shou-Ryu-Sen!  – gritou o dragão branco, apontando para o chão. O que se viu depois disso foi uma enorme muralha de gelo brotar do solo até o teto do quarto, contando com mais ou menos um metro de espessura. Essa muralha apararia todos os disparos do mago, dando a Enryu tempo necessário para concentrar um novo ataque.

- Kaen-Ryu-Sen! – dessa vez os guerreiros puderam ver o verdadeiro poder das chamas do dragão de fogo: o inimigo seria lançado longe, tendo suas proteções destruídas pelo devastador golpe do adversário. No chão, e muito ferido, o mago ainda reuniu forças para praguejar contra os guerreiros.

- Vocês acham que venceram, mas meu mestre os destruirá logo... Vocês não perdem por esperar...

- Do que está falando velho?! – pergunta Bellfist, agora dentro do quarto.

- Podem esperar... – dizendo estas palavras, o velho desapareceria do local, ficando no chão apenas seu manto.

- Descanse em paz, verme. – diz Párgaso.

- Ainda é cedo para comemorar. – diz Enryu – Eu ainda posso senti-lo, mas não muito perto. Ele deve ter ido para o alto da torre! Vamos!

 

O grupo não perde tempo. Com Enryu na frente, Korn, Kamaitachi, Limbus, Bellfist, Hakkin, Androus e Párgaso continuam a subir as escadas rumo o topo da Torre Nazahrio. Durante a subida, Limbus volta a ser assolado pelos pensamentos que o consumiam no Vale dos Grandes Desertos: os sete elementos que deveria encontrar estariam ali? Sabia que podia ser um deles, como previa as escrituras, mas e os outros? Bellfist, como já sabia, era um paladino negro, não poderia ser um dos elementos. Hakkin, mesmo sendo mau, era leal a seus companheiros, talvez pudesse revelar um caráter bom no futuro. Korn e Enryu eram honrados, podiam sem problema algum ser dois dos elementos que procurava. Kamaitachi, Androus e Párgaso eram leais, porém neutros com relação aos seus atos. Seguiam os outros talvez por interesse, talvez por auto-preservação. Preferia continuar a observá-los, para que pudessem revelar suas verdadeiras intenções.

 

Faltava pouco agora. Sentiam que o som de seus passos não se perdia mais no infinito negro do interior daquela torre sombria. Logo se deparariam com um enorme portal, todo em ferro e aço, e, em seu centro, um enorme símbolo de Sirik. Tinham chegado ao último andar da torre. O grupo pára por uns instantes, pensando que desafios terão de encarar, uma vez aberto o portal. Todos se entreolham, em sinal de concordância. Abririam a grande porta, prontos para enfrentar o que estivesse ali dentro. Ao empurrarem o enorme obstáculo, o grupo surpreende-se com um salão muito grande, porém aparentemente abandonado, com várias faixas nas paredes e quadros pendurados. No chão, o corpo do mago que havia os havia atacado anteriormente. Estava morto, mas não pela batalha que havia ocorrido alguns andares abaixo, mas sim, aparentemente, esmagado por alguma coisa. Foi quando, ao fundo do salão, uma figura estranha chama a atenção dos guerreiros.

 

- Maximus?! – pergunta Androus. Porém, não se tratava do general Thanos. Quem eles viam era sim, tão grande quanto Maximus, porém, usava um capacete diferente, e, ao invés do corselete de couro, usava uma loriga segmentada, com dois enormes marfins sobre os ombros. Sua pele, como a de Thanos, era acinzentada, e possuía várias marcas de batalha. Não havia nem sinal da espetacular espada do general. Diante dele, nada mais que a Caixa de Pandora.

- Não sou Thanos. – diz com voz sombria a figura gigantesca – Mas estou a esperá-lo. Por isso não me incomodem.

- Por que roubou a caixa?! – pergunta Limbus.

- Não a roubei. Ela já estava aqui por alguma razão. Agora saiam se não quiserem morrer.

- Isso é uma ameaça? – pergunta Korn.

- Eu já disse... – antes que pudesse terminar a frase, o estranho é interrompido: o grande portal de aço é arremessado em direção à parede, arrebentando uma parte da torre.

- Brian! O que faz aqui, desgraçado?! – quem gritava era ninguém menos que o general Thanos Maximus, empunhando aquela colossal espada. Ele havia voltado, e aparentemente, disposto a conseguir a Caixa de Pandora de volta.

- Eu não sou Brian. – responde o estranho, levantando-se – Não mais. Uma vez que o poder maldito corrompeu o nome honrado que nosso clã carregava, esse nome não significa mais nada para mim. Agora só existe Ironfist. Prepare-se para morrer.  IRON-FIST!  – depois do grito, um grande raio se forma sobre o desconhecido, conjurando um enorme martelo. Era muito grande, palavras não são suficientes para descrever aquela arma, que deveria pesar cerca de meia tonelada. O martelo, no ar, cai sobre o guerreiro, que o pega com apenas um braço. Se a espada de Maximus causara espanto ao grupo, aquele martelo conseguia ser ainda mais surpreendente.

- Venha, Maldito! – grita Ironfist, partindo para cima de Thanos. Aparentemente, eram inimigos há muito tempo. Limbus fica confuso. Há algo nesses dois guerreiros que não é normal, mas ele não consegue definir o que é. Novamente a imagem dos elementos lhe é mostrada, mas o clérigo nada vê. Não sabe mais o que pensar. “Que Osíris guie seus passos” – disse-lhe o Arquiclérigo Tut. Mas sentia-se perdido. Só despertou para a realidade com o enorme estrondo produzido pela batalha.

- A torre está cedendo, temos que dar o fora! – grita Párgaso. A batalha era muito violenta, os dois lutavam como animais, e a torre parecia não agüentar tanto poder. Hakkin, pensando mais rápido, pega a Caixa e trata de carregá-la, porém, ao contrário do que planejava, avisa aos companheiros.

- Estou com a encomenda! Vamos sair logo dessa merda! – dizendo isso, salta pelo buraco na parede e, com uma corda e gancho que carregava consigo, prende-se numa saliência da torre, começando então, a descer pelo lado de fora. O ato é repetido por todos seus companheiros. Androus usa suas correntes, mas a violência da luta entre Thanos e Ironfist acaba por ceder parte da torre, derrubando o guerreiro de Aldraba de uma altura enorme. Com suas correntes, o desesperado guerreiro tenta de todas as maneiras aparar sua queda.

- Cuidado, Androus! – o grito de Enryu é em vão. Androus viria a cair no chão de forma violenta, o que lhe renderia duas fraturas expostas, uma em cada braço. Já no chão, o dragão de fogo parte para o socorro do amigo. Antes que pudesse alcançá-lo, um barulho enorme pôde ser ouvido por todos. O general Thanos havia sido arremessado para longe, caindo à cerca de 500 metros da Torre Nazahrio. Ao olharem para seu topo, os guerreiros puderam ver um sinistro par de olhos vermelhos, que voltava para o interior da sala. Antes de se recomporem da cena que acabavam de presenciar, ouviriam o general gritar, com voz descontrolada:

- Peguem eles! Não os deixem fugir com a caixa!

 

Era incrível. Mesmo arremessado do alto da torre, Thanos estava bem. De toda a parte, centenas de soldados da guarda de Lenória surgiam com armas em punho, investindo contra o grupo de heróis. Thanos os comandava, orientando-os a matarem “os que ousaram roubar a Caixa de Pandora das mãos do Imperador”. Tudo agora ficava claro para o grupo: Thanos é quem havia planejado o roubo, e se livraria dos mais fortes do torneio na busca na Torre Nazahrio. Pronto para atacar, o exército já cercara o grupo de guerreiros, que, com certeza não recuaria.

 

- Ataquem! – ordenava Thanos. Os homens do Imperador eram muitos, mas se tratavam apenas de soldados rasos. Não se comparavam aos guerreiros de primeira linha, participantes do torneio. Kamaitachi, com sua velocidade, golpeava ferozmente seus adversários. Limbus e Bellfist não ficavam atrás, e, com ataques devastadores, derrotavam seus oponentes. Korn, com suas bastardas, literalmente dançava com o aço enquanto cortava seus adversários. Enryu e Párgaso também não apresentavam dificuldade para derrubar dezenas de soldados de uma vez. Hakkin, que já colecionava vítimas com seu arco, via que os inimigos eram muitos, e que Maximus começara a se aproximar. Rapidamente, chega junto a Korn.

- Não é vergonhoso, nem desonroso abandonar uma luta. É hora de fugir, Maximus está chegando. Reúna o nosso pessoal e vamos dar o fora. Eu dou cobertura. – dito isto, o elfo dourado sai em busca de Kamaitachi, Limbus e Bellfist. Antes que pudesse encontrar Enryu e Párgaso, ouve Hakkin gritando.

- Darkness! – a enorme massa negra encobre todo o campo de batalha. Com sua infravisão, Hakkin encontra os outros quatro guerreiros de seu grupo. Antes de fugir, depara-se com Androus, caído no chão e desacordado. “Precisa da armadura inteira, né?” – pensa consigo. Já próximo a Androus, Hakkin se recorda de suas palavras no torneio: “Acaba comigo, escória”; “Detesto ser mandado”, responderia. Sem piedade, o elfo negro quebra o pescoço do cavaleiro, e rapidamente tira sua armadura. Mesmo com o excesso de peso, Hakkin consegue chegar aos outros, que nada vêem graças ao poder das sombras do elfo negro.

- Podem me seguir, eu guio vocês. – dito isto, o grupo põe-se a correr em direção ao outro extremo do Vale Glenlivet, abandonando a batalha. Não demoraria para o Darkness se dissipar, ao que ouviriam o grito de Enryu vindo do campo de batalha. “Malditos”, teria gritado o dragão de fogo, amaldiçoando o grupo que, agora, tinha em seu poder a fabulosa caixa.

 

------------------------------------------------------

 

Depois de horas correndo e de uma noite de descanso, o grupo finalmente pararia para ponderar os acontecimentos anteriores. Não sabiam quem era a estranha figura chamada Ironfist, nem qual sua relação com Maximus. Tinham agora também a Caixa de Pandora, mas não podiam voltar a Lenória, pois Maximus havia atribuído a eles a responsabilidade do roubo. Só uma coisa incomodava ainda mais Green Korn.

 

- Hakkin, onde você arrumou essa armadura? – pergunta o elfo dourado.

- Essa? – diz o elfo negro, enquanto a vestia – Ah, o Androus não ia mais precisar... Ele tava um pouco morto, sabe...

- Como assim, Androus morreu?! – pergunta Kamaitachi, atônito – Mas eu tinha certeza de que ele estava vivo depois da queda.

- Eu também, mas... vamos mudar de assunto?! Temos a Caixa Maravilhosa, que faz sabe lá Sirik o quê! O que vamos fazer agora, hein?!

- Bem, não podemos devolvê-la... – diz Bellfist – O que vocês acham de abri-la?

- Não sei... – diz Limbus – Não sabemos o que ela faz!

- Tudo bem, velhinho, – diz Hakkin – só que se voltarmos pra Lenória, a gente vai tudo passar os últimos anos de nossas vidas acorrentados, e isso prum elfo é tempo pra cacete. Isso se não resolverem matar a gente primeiro! Já pensou nisso?!

Hakkin tinha razão. Limbus concorda com Bellfist e Hakkin quanto abrir a caixa. Korn recua.

- Será que vale a pena? – pergunta o elfo dourado.

- Pensa, Korn!!! – diz Hakkin – E se o Imperador estiver certo? E se ela realiza desejos? Vamos, o que você mais desejaria?

 

O que mais desejava... Green Korn era um dos grandes discípulos do mentor dos Blade Singers, e teve, neste mentor, a figura do pai que nunca conheceu. Cresceu, desejando conhecer seu pai, e ser tão poderoso quanto ele, pois ouvira muitas histórias sobre os grandes feitos daquele elfo, o primeiro de todos os Blade Singers, mestre de seu mentor. Talvez tivesse, naquele momento, a chance que sempre sonhou.

 

- Tudo bem... Por mim, podem abrir a caixa.

- E você, Kama?! Abre ou vai tirar o corpo fora? – pergunta Hakkin.

- Faça o que quiser. – responde friamente o dragão branco.

- Tudo bem! Por maioria absoluta de votos, eu abro a Caixa! – dizendo isso, Hakkin tira o pequeno lacre da caixa dourada, abrindo assim sua tampa. De dentro dela, um grande brilho dourado corta os céus, liberando uma imensa energia. Hakkin e os outros sentem que é chegada a hora de realizarem seus desejos. Quando o brilho se cessa, tudo o que resta é a caixa aberta. Do céu, pousando lentamente sobre ela, um mapa, com uma leve aura dourada, indicando sete pontos no que parecia ser o desenho de Lenor, o mundo que habitavam.

- Mas que porcaria é essa?! – pergunta Hakkin com indignação – Cadê meu desejo?!

- Olhem esse mapa, – diz Korn – tem algo escrito nele. Deixa eu ver... – recitando versos em élfico, Green Korn lança sobre o mapa uma magia, que faz com que os símbolos, antes indecifráveis, tornem-se claramente legíveis para todos.

“Para os bravos guerreiros que ousarem se aventurar neste vasto mundo, na batalha contra o lado negro da existência, a Tríade Sagrada lhos oferece os oráculos que irão auxiliá-los na grande batalha contra o mal puro, no coração das trevas do homem”.

- Mas que porcaria é essa?! “Tríade Sagrada”?! “Mal puro”?! Eu quero meu desejo, não esse mapa! – diz Hakkin, largando o mapa nas mãos de Bellfist.

- Pelo que pude entender, – diz o Paladino Negro – esses sete pontos no mapa devem estar relacionados com os oráculos que diz neste mapa. Talvez pudéssemos ir atrás deles, o que vocês acham?

 

Limbus se surpreende com tudo isso. Os sete oráculos com certeza tinham algo a ver com os “sete elementos” que via em seus sonhos. Só não sabia o que era o chamado “mal puro”, nem o “coração das trevas do homem”. Mas tinha certeza que, a partir dali, começaria a encontrar as respostas para suas perguntas.

 

- E então? – volta a perguntar Bellfist – Vamos?

- Vamos. – diz Limbus, levantando-se e indo em direção a Bellfist. A iniciativa do companheiro os surpreende. Korn e Kamaitachi se juntam ao clérigo e ao paladino negro. Hakkin, sem ter para onde seguir, decide ir junto.

- Porcaria... Mas fazer o quê?! Quem sabe não rola um ouro, bebidas, jogos e prostitutas? Talvez valha a pena... – diz o elfo negro.

 

Partiria assim o grupo de cinco guerreiros, em busca dos oráculos que eram indicados no mapa por pequenos pontos brilhantes. Um deles estava a pouco mais de três dias de jornada, ao norte. A única preocupação do grupo é se iam cruzar novamente com Maximus e seu estranho inimigo.

 

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Muito boa a fic GK. E não precisa mudar a obra mesmo. Continue assim...

Em qual mundo se passou essa campanha?

Era um mundo próprio, com elementos de Forgotten.

 

Meus elementos??? q legal!!!

@,@

Lê direito, tem dois "t" nub. não resisti.

 

é que essa acc minha de agora tem soh um "t", mas a original (descanse em paz) tah escrita identicamente

 

=*

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*Mimando*

TORTURA. ARMADILHAS. HMM, YESSSSSS.

DO MORE OF IT.

Vai atiçar o Khelek mas todos queremos mais gente sem a parte inferior do corpo.

Ah é, "DARKNESS" é um tanto.. Medo. Sei lá. Primeira vez que eu li pensei no Dark Matter do Kirby.

 

Não.

Não vou falar pra continuar, por que você tá com dengue.

DESCANSE!!1

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6. A Busca Começa

Limbus, Green Korn, Kamaitachi, Bellfist e Hakkin seguiam a trilha que os levaria para o primeiro dos oráculos. Não tinham idéia de como seria tal objeto, mas de alguma forma, sentiam que saberiam identificá-lo quando o encontrassem. Durante a caminhada, em direção às Planícies Geladas de Ledger, um local famoso por suas histórias envolvendo criaturas horrendas, o grupo discutia o conteúdo do mapa. O que queria dizer com o “mal puro”? Ainda buscavam também respostas para tudo o que ocorrera na torre. Estavam muito impressionados com Ironfist e Maximus, e mais impressionados ainda com suas armas. Como podiam, aqueles dois guerreiros, manejarem com tanta facilidade tão vultosas armas?

 

No caminho, passam pelo pequeno vilarejo de Targs, próximo à fronteira que os levaria às Planícies Geladas. Resolvem parar para descansar e reabastecerem seus suprimentos. O vilarejo não tinha muitos serviços para oferecer aos heróis: além de uma pequena estalagem e de um bar, no outro extremo da vila havia um ferreiro e um alquimista.

 

Bellfist e Korn preferem descansar na estalagem, enquanto Hakkin resolve esfriar sua cabeça com alguns litros de hidromel. Kamaitachi decide buscar um ferreiro, enquanto Limbus ia ao alquimista.

 

Kamaitachi, ao chegar no ferreiro local, tem um baque: mesmo estando no ocidente, o ferreiro que ali vivia forjava armas orientais, como as que só se via na Ilha dos Grandes Dragões, sua terra natal. Logo, seria atendido pelo dono do estabelecimento.

 

- Ora, é raro ver um rosto familiar por aqui! Como posso ajudá-lo amigo?

- Gostaria de ver o que tem, por favor. – o dragão branco estava maravilhado: as armas forjadas por aquele indivíduo eram incríveis, pareciam ser de primeira qualidade.

- Algum problema?

- Não... É que não imaginava encontrar este tipo de armas num ferreiro deste continente.

- Oras, por que a surpresa? Você deve ser da Ilha dos Grandes Dragões, sou de lá também. Eu era um místico da Ordem dos Ilusionistas, antes de ela ser extinta pelos malditos Escorpiões Negros... A guerra me obrigou a fugir para esse continente há muitos anos atrás, pois temia pela vida de minha mulher e meu filho. Na época ele era só um bebê, hoje, já é um pai de família. Aliás, meu nome é Toguro. Você é um Dragão Branco, estou certo?

- Sim, sou...

- Posso ver sua glaive? Ela parece ser muito boa.

- Claro, fique à vontade. – Toguro analisava minuciosamente a arma do dragão branco.

- Eu posso torná-la mais resistente, assim não perderá o fio tão facilmente. Posso ver agora suas manoplas?

- Aqui estão. – Kamaitachi hesita um pouco para entregar aquelas que seriam suas armas mais antigas, porém, sentia que podia confiar naquele estranho. O pouco que ouvira sobre os Ilusionistas é que eram onmitsus[1] a serviço do Imperador. Seu alinhamento oscilava entre leais e bons e caóticos neutros. Não eram maus, e suas magias eram, na maioria, apenas para ludibriar o oponente, e não feri-lo.

- Por favor, me dê algumas horas com suas armas. Pode voltar daqui um tempo para buscá-las, prepararei para você, meu amigo, algo muito especial.

 

O dragão deixa suas armas aos cuidados de Toguro, retirando-se em seguida. Resolve se juntar a Limbus, na loja à frente, para passar o tempo. No alquimista, o clérigo de Osíris já havia adquirido algumas poções de cura e um frasco muito especial: segundo o vendedor, era uma poção de bafo-de-dragão. Kamaitachi, ao juntar-se ao clérigo, resolve também adquirir algumas poções de cura. Sendo um místico, não podia usar qualquer acessório de proteção, apenas seu quimono, o que o tornava muito vulnerável. Iria precisar de algumas dessas poções em momentos críticos. Ao saírem do alquimista, Kamaitachi começa a indagar a Limbus quanto ao conteúdo do frasco.

 

- O que é essa poção, clérigo?

- O alquimista me garantiu que é uma poção de bafo-de-dragão. Se realmente for, vou guardá-la para uma emergência.

- O que ela faz?

- Dizem que quem tomar desta poção, poderá soprar contra seu oponente um bafo de chamas tão forte quanto o de um dragão.

- Pena que não posso usá-la...

- Por que não?

- Como místico de Dragão Branco, meu elemento é o gelo e o frio. Não posso usar armas ou poções que se baseiam no fogo, sob pena de sofrer danos também.

- Ei, seus manés! – o grito é de Hakkin, que sai do bar agitando um frasco nas mãos – Olha só o que eu ganhei no carteado com os otários do bar! Uma poção vermelha que faz sabe lá Sirik o quê!! Aí, padre, o que é isso?

 

Limbus estava embasbacado: era uma poção de bafo-de-dragão, como a sua. O grupo agora tinha duas daquelas poderosas poções. Korn e Bellfist saem da estalagem, e resolvem se juntar ao grupo. Cabia a eles a responsabilidade de adquirir os mantimentos para a jornada. Já se passavam algumas horas, até que o grupo, já reunido, decidisse seguir viagem.

 

- Por favor, esperem um instante. – Pede Kamaitachi aos outros, indo em direção ao estabelecimento de Toguro. O prazo que o Ilusionista pediu já estava no fim. Ao chegar, o ferreiro já esperava o dragão branco com suas armas prontas sobre o balcão.

- Aqui está, meu amigo: uma glaive mais forte e suas manoplas com adágios para escalada. São dez peças de ouro por tudo.

- Um serviço como esse fica bem mais caro do que só por dez peças.

- Meu amigo: um dia você irá enfrentar os Escorpiões Negros, e você sabe disso. Quando esse dia chegar, faço questão de que muitos sejam mortos pelas armas que forjei. Sei que é um grande e valoroso guerreiro. Que Tyr olhe por você, dragão branco!

- O mesmo para você, Ilusionista...

 

Kamaitachi, enquanto se juntava ao grupo, percebia realmente que suas armas estavam mais resistentes. Sua glaive estava mais leve, e suas manoplas tinham agora garras maiores e mais afiadas, o que permitiria a ele escalar qualquer superfície sem problema. O grupo logo voltaria a seguir seu caminho em direção às Planícies Geladas.

 

------------------------------- 

 

Algumas horas de jornada, e o grupo finalmente chegaria às Planícies Geladas de Ledger. A temperatura era baixíssima, e os fortes ventos frios castigavam os guerreiros desprotegidos.

 

- Friofriofriofrio...

- Não reclama, elfo negro! – diz Korn.

 

Nas planícies cobertas de neve, o grupo ainda seguia a trilha indicada no mapa. As planícies geladas eram um enorme deserto inóspito, alvo e de baixíssimas temperaturas. Suas constantes tempestades de neve e estiagens faziam do lugar um ambiente sem vilas, casas, ou ermitãos. Era impossível estabelecer morada naquele lugar. Os poucos que tentaram, logo se viram diante de um novo obstáculo: as criaturas que ali vivem, que graças à ausência do homem, puderam crescer e se multiplicar, sem serem vítimas da caça ou da morte na mão de colonos. A caminhada já durava algumas horas para o grupo de aventureiros, quando, de repente, Kamaitachi interrompe os outros: havia percebido a aproximação de algo por baixo da neve, pronto para atacá-los.

 

- Cuidado! Atrás de nós! – Avisa o dragão branco, empunhando sua glaive rapidamente. Todos se viram, esperando o que estava por vir. De repente, de um monte de gelo, surgiria um gigantesco lobo das neves[2]. O animal encara o grupo, rosnando e pondo-se em posição de ataque. Para ele, os guerreiros não passavam de comida para saciar sua fome. Para o grupo, mais um obstáculo em sua jornada.

 

O primeiro a atacar é Korn. Com sua espada dourada, salta sobre o lobo atingindo suas costas com seu poderoso Toque Chocante. O animal, para surpresa do elfo dourado, quase não sente o golpe. Limbus invoca um Santuário de proteção para seus companheiros, enquanto Hakkin dispara suas flechas contra o lobo. A criatura, mesmo ferida não pára, e parte para cima de Kamaitachi e Bellfist. O dragão branco, com sua glaive, golpeia o peito do animal, enquanto Bellfist, derrubado pelo grande lobo, perfura o pescoço do algoz com suas duas espadas. Hakkin dá o disparo de misericórdia, no meio dos olhos do predador.

 

- Não foi tão difícil... – diz Limbus – Vamos continuar?

- Espera um pouco... – diz Hakkin – Tá frio pra cacete... Korn, me descola uma faca aí, pode ser?

- Tome... Mas o que espera fazer com isso?

- Olha só... – com a faca, o elfo negro põe-se a tirar a pele do lobo morto, e, com a neve do local, tira o sangue do couro, deixando tudo limpo. Com alguns pedaços da corda, confecciona quatro mantos toscos de pele de lobo, para aquecer a si mesmo e a seus companheiros.

- Só deu pra quatro mantos... Querem tirar no sorteio?

- Eu não preciso. – diz Kamaitachi – O frio e o gelo são meus elementos. Dê para quem precisa.

- Tudo bem, senhor do gelo... Agora podemos ir. – diz Hakkin, cobrindo-se com a pele do lobo. Dentro dos mantos, os guerreiros se sentem isolados do vento frio que antes os castigavam; sentem-se também muito bem aquecidos. Kamaitachi, antes de ir, retira as presas e as garras do lobo. Faria algo com eles mais tarde, para levar a sua Ordem, como prova de seus atos. Limbus permanece parado, encarando a carcaça sem vida do animal.

- Vâmo embora, padre! – grita Hakkin.

- Só um instante, por favor... – diz o clérigo. Limbus decide que iria fazer algo com o que restara da criatura. Iria usar seus poderes ligados a necromancia[3] sobre a carcaça do lobo, para assim, garantir o apoio necessário para a jornada que tinham à frente. O clérigo inicia seus rituais, que duram pouco mais de meia hora. Ao final, o gigantesco animal das neves se levantaria, sua carne descolaria de seu esqueleto animado, estando pronto para servir o clérigo sempre que precisasse. Limbus repara que suas garras e presas, antes arrancadas por Kamaitachi, haviam crescido novamente, muito maiores e mais afiadas.

 

------------------------------- 

 

O grupo continuava sua caminhada em busca do primeiro oráculo, junto agora de seu ilustre novo membro. Param para dormir em uma pequena caverna, já estavam andando há quase um dia, para continuarem sua caminhada no dia seguinte. Bellfist, por alguma razão, ainda se mantinha deveras afastado do grupo. Green Korn e Limbus não reparam, pois se sentem incomodados ainda mais com Hakkin usando a armadura de Androus.

 

- Hakkin, você ainda não explicou direito essa história da morte do Androus. – diz Korn, dirigindo-se ao elfo negro.

- O que você quer que eu diga? – diz o elfo negro – Por que você não pára de torrar um pouco a paciência, o cara estava morto, não ia mais precisar da armadura!

- Mas a morte dele ainda não ficou clara. – diz Limbus – Ele estava vivo antes de você invocar o seu “darkness”... Você teria alguma coisa a ver com isso, Hakkin?

- Olha aqui, vocês...

- Quietos! – diz Kamaitachi – Não estão sentindo o chão vibrar?

 

Todos param de discutir. Era verdade, o chão realmente estava vibrando. Os tremores estavam aumentando cada vez mais, porém, não sabiam dizer a causa de tais tremores. Logo, Kamaitachi, mais uma vez, alerta seus companheiros do perigo imediato, graças aos seus sentidos aguçados.

 

- Ah, não, de novo não... – diz Hakkin.

- Corram! – grita Kamaitachi. Logo, surgiria o motivo dos tremores. Ou melhor, os motivos: dois enormes vermes do gelo sairiam de suas tocas em busca de alimento. Limbus repara que se assemelham aos vermes da areia que conhece, da terra onde vive, porém estes são de cor branca, levemente azulada. Mediam mais ou menos 100 metros de comprimento, e eram capazes de engolir um ser humano inteiro.

- Cuidado, essas coisas são perigosas! – avisa Limbus, mais uma vez conjurando um Santuário de proteção para seus amigos.

- Ela vai sentir o gosto do aço de minhas lâminas. – diz Korn, com um leve sorriso no rosto, já carregando suas espadas com seu Toque Chocante. Correndo em direção a um dos vermes, Korn salta e usa o corpo da criatura como apoio, para alcançar a cabeça do segundo monstro. Com uma cambalhota dupla, atinge sem dificuldades o primeiro e o segundo golpe, descarregando toda a letal carga de suas espadas em uma das bestas. Furiosa, ela parte para cima dos guerreiros. Hakkin, para melhor atingir seus oponentes, levita, tomando uma boa distância. Devidamente posicionado, o elfo negro começa a descarregar suas flechas, mas, para sua infelicidade, elas quase não penetram no corpo das criaturas, e estavam acabando rapidamente.

 

Kamaitachi partiria para o ataque contra o outro verme. Correndo, atacava com sua glaive o corpo do enorme inimigo, girando com extrema velocidade sua arma. O som do aço cortando o ar podia ser ouvido por todos na forma de um longo e uníssono assobio. Irritada pelos ataques, a besta atacaria diretamente o dragão branco, que, cercado pelo corpo da criatura, não conseguiria se esquivar, sendo engolido inteiro pelo verme.

 

- Não, maldito! – o grito de Limbus ecoa pelos montes gelados que os cercam. Com suas mãos impostas em direção ao verme, o clérigo ordena que seu lobo ataque o inimigo sem piedade. O esqueleto animado por Limbus era realmente impressionante: mantinha quase todas as características do lobo das neves enquanto vivo. Com ataques vorazes, o lobo atacava com suas garras e presas afiadas o adversário, que já se debatia graças aos ferimentos. Limbus preocupava-se com o estado de seu companheiro, nunca alguém havia conseguido sobreviver dentro de um verme gigante como aqueles. Porém, algo chama a atenção do clérigo: o monstro se debateria de forma ainda mais violenta. A uma certa altura de seu tronco, parte dele começava a congelar, aparentemente de dentro para fora. Subitamente, essa parte se quebraria, possibilitando a fuga de Kamaitachi. Devido à gravidade dos ferimentos, o verme não resiste muito e acaba por cair, sem vida, diante do clérigo e do dragão branco.

 

- Kamaitachi, você está bem?! O que você fez?! – perguntava Limbus ao companheiro, levemente ferido devido à jornada desagradável.

- Eu detive minha queda com minhas garras, e usei meu poder para poder abrir uma passagem através da criatura. Mesmo assim, ainda me feri um pouco. Mas agora temos que nos preocupar com outras coisas. Veja!

 

Bellfist, Korn e Hakkin não conseguiam dar conta do outro verme. Era maior que o primeiro, e, aparentemente, mais feroz. Hakkin estava sem flechas, e os golpes de Bellfist quase não atravessavam a carapaça da gigantesca criatura. Korn, preparava-se para invocar uma nova magia, dessa vez, para atordoar o inimigo. Com suas espadas embainhadas, o elfo dourado pula sobre o corpo do oponente, escalando-o, para aproximar-se da cabeça. Já próximo de seu alvo, Korn salta no espaço vazio e dispara, diretamente contra seu adversário algo que chocaria seus companheiros.

 

- Nuvem Fétida! – dito isto, um pequeno globo é disparado das mãos do elfo, vindo a explodir na cara do verme de gelo, liberando uma nuvem de gás no mínimo insuportável para o olfato humano, algo muito pior que o odor liberado por centenas de corpos podres numa fossa cheia de fezes e urina. Para espanto de todos, a besta realmente se viu atordoada pelo fedor da nuvem que cercava sua cabeça. Tonto e sem ação, o grande monstro seria um alvo fácil para os guerreiros.

 

Quando preparavam para atacar, o grupo sente o chão tremer novamente. Mas desta vez, era uma vibração diferente, era como se algo muito grande estivesse correndo naquela direção. Logo surgiria, derrubando árvores, um enorme mamute branco com olhos vermelhos como brasas, que investiria contra o monstro de gelo. Com um só golpe, o esplêndido animal crava suas presas no tronco do verme, separando-o em dois com extrema facilidade. O grupo, embasbacado, olha a cena, mas não acredita. O mamute, por alguns instantes, ainda os encara, antes de seguir seu rumo ao norte das planícies.

 

- E então? – pergunta Limbus – Vamos seguí-lo?

- Ele está indo para onde deveríamos ir... Vamos atrás dele! Vai que isso é coisa do Maximus?! – Retruca Hakkin.

- Então vamos! – diz Korn, seguindo os outros quatro. De longe, o mamute percebe que está sendo acompanhado e mantém seu ritmo. Limbus se surpreende com aquele animal, que aparentemente, os guiava para o primeiro oráculo. Horas depois, o grupo se vê diante de uma enorme caverna, no coração da planície. O mamute não se detém em momento algum e continua caverna adentro. Os guerreiros param. Precisam descansar dos confrontos, para depois explorarem a caverna. Segundo o mapa, o primeiro oráculo repousava em seu interior.

 

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A entrada da caverna era enorme, com certeza tinha mais de 10 metros de altura. O mapa indicava seu nome: Coração de Gelo. Os guerreiros nunca tinham ouvido falar daquele lugar. Suas paredes possuíam vários cristais incrustados, que aparentemente eram responsáveis pela pouca luminosidade do local. Kamaitachi, mesmo não se recordando de alguma vez estar ali, sente-se aconchegado e seguro no interior do Coração de Gelo.

 

- Vamos seguir o rastro do mamute até onde alcançarmos. – diz Bellfist, apontando para várias pegadas no chão. O grupo começaria a explorar a caverna, era realmente bela e assustadora. Sua paredes eram de pedra negra, porém seu chão era regular, como se feito pelas mãos do homem. Algumas seções da caverna também apresentavam formas regulares, lembrando salões, ante-salas e até mesmo quartos. Mesmo assim, seu teto era tomado de estalactites. Dentro do Coração de Gelo, a temperatura era surpreendentemente mais amena que na planície gelada, mas mesmo assim, ainda era baixa demais para um ser humano comum. A caminhada continua, até o grupo deparar-se, algum tempo depois, com uma bifurcação.

- E aí, gênio da lavoura? – pergunta Hakkin – Pra que lado?

- Vamos à direita. O que você acha, Bellfist? – pergunta Limbus.

- Por que eu? Por acaso tenho cara de mapa?! – pergunta rudemente o cavaleiro.

- Claro que não, meu caro. Mas como paladino, você deveria sentir o mal, estou certo? Diga o que sente para escolhermos o melhor caminho... – responde o clérigo.

- Olha aqui velho...  – Bellfist hesita por um instante – Dane-se, vamos pela direita.

- Ótimo! – retruca Limbus. Não havia feito à toa as perguntas para o jovem paladino. Reparara há muito tempo na aura do mal que emanava de Hakkin e Bellfist. “Hakkin” – pensou – “pelo menos é leal ao grupo. Mas Bellfist tem o coração negro, e temo por sua reação quando estivermos diante do oráculo”.

 

À direita, os heróis se deparam com um longo corredor, muito escuro, já que a pouca luz refletida nos cristais não alcançavam aquele lugar. O grupo se detém. Não continuariam enquanto não soubessem se havia algo ali ou não. Hakkin, sacando uma flecha incendiária, pede espaço para o grupo. Apesar de sua infravisão, não enxergava o que os esperava ao fim daquele caminho.

 

- Vamos ver o que nos espera... – o elfo negro dispara com seu arco contra as trevas daquela caverna. O que se ouve depois é algo no mínimo curioso: a flecha parecia ter acertado alguma coisa, pois o som produzido pelo projétil não parecia com o de rochas sendo perfuradas. Logo em seguida, um grito muito alto pôde ser ouvido por todos no corredor. No fundo, saindo das trevas, a pequena luz da flecha se movia, em direção aos guerreiros. Hakkin havia acertado um Yeti[4], um ser primitivo, com 6 metros de altura, e feições similares a de um ser humano. Carregava consigo uma enorme clava, feita a partir de um tronco de árvore. Vestia-se com peles inteiras de no mínimo, três lobos das neves. Estava furioso, e pronto para investir contra o grupo.

- Lá vem ele! – alerta Hakkin aos outros. O grupo se divide. Kamaitachi, com sua velocidade, corre para escalar as paredes com suas novas garras, se prendendo numa estalactite, bem sobre o inimigo. De lá, tem em seu adversário um alvo fácil.

- Koori-Ryu-Tsui-Sen![5] – grita o dragão, apontando uma das mãos para a cabeça do monstro. O ar se torna mais frio, e o ambiente gelado da caverna auxilia Kamaitachi a conjurar seu poder. Uma enorme esfera de gelo vem a se formar no ar, desabando sobre o Yeti. Deveria pesar pelo menos meia tonelada. Muito ferido, torna-se vítima dos ataques do resto do grupo.

 

Hakkin, que passara a noite fabricando novas flechas, podia atacar a distância sem problema algum. Korn usava seu Toque Chocante, mas esse se mostrava de pouca valia. Limbus, de longe, resolve agir.

 

O clérigo ordena que seu lobo ataque o gigante. Enquanto isso, pega algumas pedras do chão e passa a recitar cânticos na língua de seu povo. As pedras passam a emanar um forte brilho vermelho, e o clérigo, tomando distância, prepara-se para arremessá-las.

 

- Tome isto, besta infernal! – bradava o clérigo, ao arremessar as pedras. Ele havia conjurado naqueles pedaços de rocha uma pequena magia, tornando as simples pedras, Pedras Mágicas. Elas assumiriam a forma de verdadeiros projéteis cortantes, mais rápidos que as flechas de Hakkin. Com uma mira impecável, Limbus atinge seu inimigo em três pontos diferentes de seu tronco. Furioso, e também muito ferido pelo lobo, o gigante parte para o ataque contra o grupo de heróis. Com sua clava, ataca Korn e Kamaitachi, que conseguem se desviar. O lobo de ossos investe contra o oponente, mas o gigante, girando sua arma, golpeia em cheio o novo animal de Limbus, que não suporta a violência do golpe e acaba por se desfazendo em vários pedaços.

- Droga, monstro maldito, morra! – Bellfist, com suas duas espadas longas, corre para o ataque, investindo contra o Yeti.

- Não faça isso, Bellfist! – grita Limbus. O paladino negro não ouve. De armas em punho, salta para atacar pelo menos as pernas de seu algoz, cravando suas espadas no gigante, que, debatendo-se, lança-o para longe. Uma das espadas ficaria presa na rótula do Yeti. Levantando-se com uma de suas espadas, o jovem Bellfist tinha seu orgulho ferido. Para ele, ninguém era capaz de derrotá-lo, muito menos um ser estúpido como aquele. O cavaleiro investe mais uma vez contra a criatura, ignorando os apelos de seus companheiros.

- Volte, seu idiota, você vai morrer! – gritava Korn.

- Saia daí! – gritava Kamaitachi, que não poderia disparar o poder que concentrava nas mãos, sob pena de atingir seu companheiro.

- Calem-se, vermes! – bradava Bellfist – Vou mostrar para vocês o verdadeiro poder de um Paladino Negro!

 

O grupo se surpreende. Bellfist acabaria com a farsa naquele momento. Antes que pudessem protestar, o guerreiro volta a atacar o Yeti com apenas uma espada.

 

- Morra, besta maldita! Morra nas mãos de Bellfist!

 

O monstro se volta contra o guerreiro, e, girando sua clava, atinge o jovem Paladino Negro em cheio, arremessando-o contra as duras paredes da caverna. Bellfist perde sua outra espada, e seu braço agora estava quebrado. No chão, tenta se concentrar para que possa curar seus ferimentos. Porém, já é tarde demais: o Yeti, com outro golpe, volta a arremessar o corpo do cavaleiro contra a parede oposta. Agarrando-o e suas enormes mãos, a criatura esmaga Bellfist contra o teto, que acaba por ser empalado por uma estalactite, arremessando-o em seguida no chão. Para horror de seus companheiros, o jovem Bellfist, que os acompanhara até aquele momento, encontrava-se sem vida.

 

- Nããããão! – grita Hakkin e os outros. Todos partiriam para o ataque de maneira veloz. Kamaitachi, de uma só vez, libera o Chão de Gelo, que derruba facilmente o grande inimigo. Com suas garras e foices, juntamente com Korn e suas bastardas, passa a cortar o inimigo com ferocidade assustadora. A criatura tenta se desvencilhar de seus algozes, mas sente seu corpo sendo preso pelo poder de Limbus. Os guerreiros estavam em frenesi, tomados pelo ódio, diante da cena da morte de seu companheiro. Não demoraria para que o momento de fúria se cessasse, com a derrotado gigantesco adversário.

- E agora? – pergunta Kamaitachi – Limbus, você pode fazer alguma coisa por Bellfist?

- Infelizmente não. – diz o clérigo – E mesmo que pudesse, minha magia não surtiria efeito neste ser de coração impuro. O que podemos fazer é velar seu corpo e deixá-lo aqui.

- Largá-lo aqui?! – indigna-se Hakkin – Ficou louco, velho? Ele estava conosco, não podemos fazer isso!

- Se você quiser, pode carregá-lo. Mas aviso que só irá nos atrapalhar. Com certeza, esse monstro não é o único habitante desta caverna. Já pensou nisso?

 

O grupo se silencia. Infelizmente, Limbus tinha razão. Korn, Hakkin, Kamaitachi e o clérigo de Osíris deixam o corpo de Bellfist no interior da caverna, em posição de sepultamento, com seus braços cruzados sobre seu peito, segurando suas espadas. O grupo ora, cada um para seu Deus, de modo que velem pela alma do guerreiro. Todos se levantam, e continuam sua busca caverna adentro, agora, com um membro a menos no grupo.

 

(continua)

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[1] “Ninja”, numa terminologia moderna.

 

[2] Ao contrário dos lobos normais, estes grandes animais chegam a medir de cinco a sete metros de comprimento, além de pesarem centenas de quilos.

 

[3] Esfera das magias ligadas à morte.

 

[4] No imaginário popular, seria o Abominável Homem das Neves, ou o Pé Grande.

 

[5] “Fulgor do Impacto do Dragão de Gelo”

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OHNOEZ OUTRO PINGUÇO!!1 RUN TO DA HILLZ.

Hm.

Bellfist pwned, gostei.

Também gostei dos vermezinhos, rola um desses na outra fic? :3

 

Agora, às críticas..

Não tem o que criticar! ONE!

Só o tamanho mesmo, que me dá uma baita preguiça de ler. Mas a história é envolvente e me faz querer ler mais, então o tamanho não é muito problema.

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6. A Busca Começa (cont.)

 

Não demoraria muito para que o grupo se deparasse com outra bifurcação. E outra, outra, outra... O Coração de Gelo não era uma caverna comum: tratava-se de um labirinto.

 

- Ótimo, alguém pode dizer onde estamos?! – diz Hakkin.

- Você diz antes ou depois da última curva que fizemos? – debocha Korn.

- Não é hora de brincar, bailarino! Diz aí, onde a gente tá?!

- Tudo bem, é só você dizer como conseguiu a armadura do Androus.

- É verdade, Hakkin. – diz Limbus – É uma boa hora para você esclarecer a história da morte de Androus.

- Ah, não, pelo amor de Sirik! A gente tá perdido, o Bellfist morreu, o velho tava até agora a pouco com um saco de ossos de trocentos metros do lado, e vocês ainda vêm com esse assunto de novo?! Dá um tempo pra minha cabeça, vai! Concorda, Kama?

 

Kamaitachi estava muito quieto. Tinha certeza de que nunca estivera naquele lugar, mas ao mesmo tempo, sentia-se assustadoramente protegido. Sem motivo aparente, põe-se a andar numa direção ignorada pelo grupo.

 

- Vamos por aqui. – diz o dragão branco.

- Aonde ele vai? – pergunta Korn.

- Sei lá, vai atrás dele! – diz Hakkin, empurrando o companheiro e seguindo Kamaitachi. Logo, o grupo chegaria num pequeno espaço, sem saída, mas com iluminação maior que o restante da caverna. Hakkin repara em algo: num canto, encoberto por pedras, um jarro dourado, com um lacre em sua tampa, repousava quase escondido num canto da caverna. Tinha características de ser pertencente aos anões, não os azuis, mas sim os normais, uma sociedade pacífica com relação aos humanos, mas violenta com relação aos orcs.

- Tudo bem, esquadrão da mágica: dá pra ver o que é isto daqui? – pergunta o elfo negro.

 

Korn e Limbus passam a analisar o jarro. Não é translúcido, e por isso, não podiam ver seu conteúdo. Sabiam que dentro dele estava uma grande quantidade de alguma espécie de líquido. Seu formato remetia à idéia de que, em contato com o ar, seu conteúdo tornar-se-ia vapor rapidamente. A partir da forma do objeto e de seus desenhos, Limbus e Korn passam a opinar quanto o que poderia ser aquela poção.

 

- Por ser dourado, e pelos desenhos em sua tampa, trata-se de uma poção de cura muito forte, capaz de cicatrizar até as mais profundas feridas. – diz Limbus.

- Mas e o lacre da tampa? Por que é tão forte? Eu acho que deve ser algum tipo de veneno. – diz Korn.

- Tudo bem, na dúvida, eu levo com a gente – diz Hakkin – A gente nunca sabe quando vai precisar desse tipo de coisa, não é? E aí Kama, pra que lado?

- Não sei... Vamos andar a esmo, marcando nossos passos de alguma maneira para não nos perdermos.

 

O grupo continua a explorar a caverna. Antes de entrar num novo corredor, Kamaitachi marca com suas garras um “X” na parede. Assim, evitariam dar várias voltas no mesmo lugar. Resolvem parar para descansar durante algumas horas, antes de continuarem sua jornada.

 

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- Ei, olhem isto! – O aviso é de Limbus, que chamava a atenção de seus companheiros para grandes marcas no chão, muito semelhantes às pegadas do mamute que os havia salvado anteriormente. – Vamos seguir estas pegadas, talvez aquele mamute conheça o caminho dentro deste labirinto.

 

O grupo recomeça sua jornada. As pegadas os guiam cada vez mais para o interior do Coração de Gelo. Kamaitachi continuava a marcar o caminho com suas garras. Algum tempo depois, as pegadas sumiriam. No chão e nas paredes da caverna, sinais visíveis de que ocorrera ali, recentemente, uma grande batalha. A trilha estava perdida.

 

- Tudo bem, e agora? Pra que lado, meu bom homem? – pergunta Hakkin.

- Não sei... Parece que houve uma luta muito violenta aqui... Perdemos nossa pista. – diz o místico.

- Esperem! – diz Green Korn – Estão ouvindo esse som?

 

O grupo pára por um momento. Era o som de uma respiração ofegante, cansada. Vinha de um lugar um pouco mais adiante de onde o grupo se encontrava. Com cautela, o grupo vai seguindo os ruídos. A luz é escassa. Green Korn e Hakkin, por serem elfos, são dotados de infravisão, e por isso, guiavam Kamaitachi e Limbus por dentro da caverna. Repararam o estranho comportamento do dragão branco. Era como se ele já estivesse estado ali, mesmo tendo ele dito que não.

 

Em pouco tempo, os quatro guerreiros encontrariam uma pequena câmara, isolada num dos corredores da caverna. Dentro dela, para surpresa de todos, o grande mamute branco, que repousava sobre o solo. Estava muito ferido, e respirava com dificuldade. Com certeza, protagonizou a batalha que causou os estragos vistos pelo grupo no interior da caverna.

 

- É o mamute! – diz Korn – Limbus, você pode curá-lo com sua magia?

- Infelizmente não, meu amigo. Ele é muito grande, não iria produzir efeitos satisfatórios.

- Ei, pensa comigo! – interrompe Hakkin – E se a gente usar esse jarro aqui? Pode ser uma poção de cura, como o Limbus falou!

- Ótima idéia! – diz o clérigo.

- Não sei não, pra mim ainda é um pote de veneno... – diz o elfo dourado.

- Ei, relaxa Korn, você acha que nosso amigo Limbus aqui ia fazer alguma coisa pra nos ferrar?

- Lógico que não, mas e se ele estiver errado? E se for outra armadilha? Ao abrir esse jarro, o que tem aí dentro vai se tornar vapor, e nós todos aqui podemos morrer se for realmente veneno.

 

Hakkin se detém. Realmente era um risco que corriam. Foi quando o elfo negro, novamente, surpreenderia o grupo com outra idéia. Com o jarro em suas mãos, Hakkin aproxima-se do grande mamute e deixa o objeto no chão, próximo ao corpo do grande animal. Depois, volta para perto de seus companheiros, do lado de fora da câmara.

 

- Se for veneno, só o bicho se ferra... Se não for, missão cumprida. – dito isto, o arqueiro prepara uma de suas flechas, apontando-a em direção ao jarro. Sem hesitar, e com uma mira impecável, Hakkin acerta em cheio seu alvo, rompendo o lacre sem muita dificuldade, abrindo a tampa do objeto. De dentro do jarro, uma enorme nuvem de gás lilás tomava conta do espaço fechado, envolvendo completamente o corpo do mamute. Os heróis evitam a fumaça, por desconhecerem sua natureza. Logo, o gás seria disperso. O grupo fita o grande mamute caído no chão, e para espanto de todos, seus ferimentos começam a cicatrizar rapidamente. Limbus estava certo. Tratava-se de uma poderosa poção de cura.

 

Ao se aproximarem, o grande animal, levemente atordoado, se levanta, encarando aqueles que teriam sido seus salvadores. O grupo se vê diante daquele estupendo animal, surpresos com seu imenso tamanho. Logo, o mamute começaria a ser envolto por uma intensa aura vermelha. O brilho proveniente de seu corpo era muito forte, o que obrigava todos a protegerem suas vistas. Ao final do ocorrido, o grupo se surpreende mais uma vez: estavam frente a frente com o sujeito que havia lutado contra Thanos na Torre Nazario: Ironfist. Aparentemente, ele era o mamute que havia salvado suas vidas anteriormente, e que os guiara para a caverna Coração de Gelo.

 

- Muito obrigado por me salvarem. Com toda certeza, essa caverna seria meu túmulo, devido à gravidade de meus ferimentos. – diz Ironfist para os outros.

- Você é aquele mamute?! Peraí, explica tudo que tá tudo confuso! – diz Hakkin.

- Sim, sou o mamute que vocês viram. É um poder da esfera da licantropia[1] que aprendi a dominar, para poder enfrentar melhor meus inimigos.

- Inimigos... como Maximus? – pergunta Kamaitachi.

 

Ironfist o encara. Seu olhar de ódio pela simples menção do nome de Thanos respondia prontamente a pergunta do dragão branco.

 

- Qual sua relação com o general Maximus? – pergunta Korn.

 

O guerreiro se silencia por uns instantes. De repente, começaria a tirar o enorme capacete de metal e sua máscara, para finalmente revelar seu rosto. Korn e os outros viam, mas não acreditavam: Ironfist era idêntico a Thanos, com exceção de uma enorme cicatriz que carregava no lado direito do rosto, que brotava do supercílio e continuava ao longo de sua face. A semelhança entre os dois era assustadora.

 

- Thanos Maximus é meu irmão gêmeo. Essa cicatriz que carrego foi feita por ele, durante nosso primeiro combate. Eu tenho minhas razões para odiá-lo, por isso desejo acabar com ele com minhas próprias mãos.

- Por isso ele o chamou de Brian. – questiona Limbus – Seu nome verdadeiro é Brian Maximus, ou estou errado?

- Antigamente eu respondia por esse nome. Hoje, só existe Ironfist.

- Tudo bem, tudo bem, tudo muito tocante, mas temos um oráculo para achar, lembram-se?! – interrompe Hakkin.

- Eu os acompanharei. – diz Ironfist – Sou grato por terem salvado minha vida, e por isso, irei pagá-los com minha lealdade.

- Bem vindo ao grupo, então. Com a morte de Bellfist, precisaremos mesmo de ajuda.

- O paladino negro morreu? Onde está o corpo?

- Alguns corredores para trás, por quê? – pergunta Korn.

- Me levem até o local onde vocês o deixaram! Rápido!

 

O grupo se apressa. Graças às marcas deixadas nas paredes da caverna, Hakkin guia o grupo para o local da batalha com o Yeti. O cheiro do sangue ainda podia ser sentido no ar, e as marcas da batalha ainda estavam muito aparentes. Havia se passado mais ou menos um dia desde o confronto.

 

- Onde está o corpo? – pergunta Ironfist.

- Mais para frente, no corredor escuro.

 

O grupo acompanha o novo companheiro para o local onde estaria o corpo de Bellfist. Ao chegarem, os heróis são tomados por um calafrio: no chão, apenas as duas espadas do paladino negro, numa poça de sangue que se formara naquele local. Nenhum sinal do corpo, nem de que fora arrastado para algum lugar. Havia simplesmente desaparecido.

 

- Chegamos tarde... – murmura Ironfist. Dito isto, o guerreiro põe-se a caminhar novamente para o interior da caverna. Korn, Hakkin e os outros, sem entender o que ele quis dizer com aquilo, resolvem segui-lo. Talvez ele pudesse guiá-los para o oráculo. Limbus tremia. Sentia que um mal muito grande estivera naquele lugar recentemente, depois do confronto com o monstro. Só não sabia dizer com que objetivo. Nem por que razão o corpo de Bellfist desaparecera.

 

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Passaram-se algumas horas, e o grupo seguia seu caminho labirinto adentro. Ironfist realmente parecia conhecer o lugar, pois não hesitava na escolha da direção a seguir. Kamaitachi sentia que Ironfist e Thanos tinham algo a mais em comum, além do parentesco. Nunca havia visto guerreiros de tão alto nível em sua vida. Talvez fossem páreo até para seu mestre. “Não” – pensou – “Isso nunca”.

 

No meio do caminho, os guerreiros se deparariam com mais um obstáculo: uma parede de teias, muito resistente, fechava a única passagem disponível daquele corredor da caverna. Tinham de passar por ali para seguir em frente.

 

- Sem problema! Teia é uma coisa que queima fácil, olha só!

 

Hakkin, acendendo outra flecha de fogo, encosta a labareda num pedaço da teia. Rapidamente, todo o tecido branco que recobria aquela seção da caverna seria consumido por uma chama rápida, limpando o caminho para os heróis.

 

- Pronto, agora é só passar... – O elfo negro é interrompido pelo som estridente de quatro aranhas gigantes que estavam no local. Com certeza, eram as responsáveis pela teia que Hakkin acabara de destruir. E isso, definitivamente, as deixou furiosas.

 

As aranhas atacam o grupo em bando. Não são simples aranhas super-desenvolvidas: essas criaturas têm como defesa um jato de ácido que cospem sobre suas vítimas. Todas usam essa arma que têm ao seu dispor contra o grupo de heróis, que, devido ao pouco espaço do local, tem dificuldades para se esquivarem.

 

- Elfos negros montam nessas coisas! Dá um jeito, Hakkin! – grita Korn.

- Não é bem assim não, bonitão! A gente cria essas coisas em cativeiro, não pega já adulta! Eu sou um arqueiro, droga, não um druida! – O elfo negro bradava e atacava seus adversários com extrema agilidade. Atingira várias flechas em uma das aranhas, que viria a tombar diante do grupo de guerreiros. Ironfist permanecia imóvel.

- Não vai ajudar? – pergunta Kamaitachi.

- Não fui eu quem começou essa briga.

- Covarde... – Dizendo isso, o dragão branco começa a correr em direção às aranhas. Com um salto, enterra a glaive sobre uma das criaturas, vindo a completar o salto rasgando, com suas garras, outra delas em duas partes. O místico golpeava com muita frieza seus inimigos, e sem muitas dificuldades, havia dado cabo a mais duas adversárias.

 

A última avança sobre Green Korn. O elfo dourado, com um pequeno salto, gira suas espadas, retalhando o corpo da criatura. O som das lâminas cortando o ar ecoava entre os corredores do Coração de Gelo. A última aranha tombaria morta, depois do ataque fulminante do Blade Singer. Era mais uma vitória para o jovem grupo de guerreiros.

 

Hakkin examina o local da luta em busca de novos inimigos. Percebe, sem querer, uma pequena rocha solta dentro de uma das câmaras onde estavam as aranhas. Retirando a rocha, o elfo negro encontra um novo baú. Dentro, um pequeno pedaço de madeira, com seu corpo talhado e trabalhado em toda sua extensão, e uma flecha negra, que emitia um estranho brilho esmeralda de sua ponta. Sem saber o que faziam aqueles objetos, Hakkin recorre novamente aos conhecimentos místicos de Green Korn e Limbus.

 

Ao examinarem os objetos, os dois foram taxativos ao afirmarem de que se tratavam de itens mágicos, e por sinal, muito raros. O pequeno pedaço de madeira era na verdade uma Varinha Egas, um artefato que tinha o poder de dissipar e desfazer magias de petrificação. A flecha era uma Flecha Zumbi, uma arma muito especial: ao acertar um oponente morto com a flecha, ele ressuscitaria, mas como escravo das vontades de quem disparou o projétil. Hakkin trata logo de guardar a flecha, enquanto fica com Korn a Varinha Egas. O grupo prosseguiria sua busca dentro do labirinto.

 

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A busca continua. Após um curto descanso, os heróis chegariam numa parte mais aberta e iluminada da caverna. Ouviam já há algum tempo um som de águas correndo, som esse que ia aumentado cada vez mais. Logo, encontrariam um córrego que cortava o caminho que seguiam, e apesar de não ser muito largo, tinha uma correnteza muito forte. Sobre ele, vários blocos de gelo soltos, sendo levados pelas águas. Com certeza arrastaria quem tentasse cruzar ali a nado.

 

Hakkin atravessa flutuando o local. Os demais companheiros não têm como sair dali. O teto é muito alto e cheio de estalactites, o que impedia Korn de usar sua magia de Pata de Aranha.

 

- Vem logo, cambada de frouxo! Não vou esperar vocês!

- Cala a boca, drow[2] chato dos Infernos!

- Atravessa a nado então, primo. Hehehe...

- Com licença. – pede Kamaitachi. De joelhos em frente ao lago, o místico mergulha parcialmente suas mãos, sem as manoplas, na correnteza. O ar da caverna começa a esfriar cada vez mais. Logo, uma explosão azul sairia da palma das mãos do dragão branco, que congelaria parte do córrego, formando uma enorme e espessa ponte de gelo. O grupo agora tinha por onde atravessar.

- Pronto. Agora podemos continuar a seguir nosso caminho.

 

Hakkin, embasbacado, quase esquece de continuar seguindo os outros.

 

Todos continuariam seguindo Ironfist. A caverna naquele trecho era mais iluminada, o que facilitava mais a vida dos guerreiros. Mais uma vez, Kamaitachi interromperia a caminhada, sendo acompanhado por Ironfist. Estavam numa câmara um pouco maior, oval, cercados por paredes de pedras. O dragão branco sentia que estavam cercados, mesmo não vendo seus oponentes. Korn e os outros estavam se acostumando já aos alertas de Kamaitachi, que não se surpreendia com armadilhas preparadas por quaisquer adversários. De armas em punho, Hakkin e os outros se preparam para o que viesse a atacá-los.

 

Logo, das paredes, começariam a sair grandes Vermes de Pedra, seres de aparência similar a de lacraias, só que com cerca dois metros de extensão. O grupo se viu cercado por três destas horrendas criaturas. Antes que pudessem dizer alguma coisa, sentiram o ar se tornar pesado, tomado por um odor de ferro e enxofre: Ironfist acabava de invocar seu martelo de batalha. O grupo não conseguia deixar de se surpreender com aquela espetacular arma. O grande guerreiro esmaga, sem piedade, um dos vermes, com apenas um golpe.

 

- Pata que pareu... – sibila Hakkin.

- O que você disse?

- Pombas, Korn, cê viu como ele luta?! É pior que o Maximus!

- Tá, e daí?

- “E daí”?! Como “e daí”, bailarino?! E se ele for que nem o Maximus?! E se ele quiser pegar a gente na reta?! Nós tâmo tudo f...

- Se liga, elfo negro! O homem tá do nosso lado!

- Menos conversa, mais ação! – Quem grita é Limbus, que parte para o ataque junto com Kamaitachi. O clérigo, com suas Pedras Mágicas, ataca o outro verme. Hakkin dispara várias flechas contra o mesmo inimigo, que não resistiria ao ataque. Korn e Kamaitachi partem para cima do outro sem demora. O Blade Singer, com suas belas espadas, atinge o corpo do verme, que muito ferido, tenta fugir do local. Ao perfurar a rocha, Kamaitachi ainda o agarra com suas manoplas, e, junto com Korn, arranca o inimigo da pedra para acabar de vez com sua vida. Tinham certeza que se aquele ficasse vivo, mais apareceriam. No momento em que iam atacar, o Verme de Pedra esborrifa um estranho gás no dragão branco, que, sem hesitar, crava sua glaive no corpo, agora sem vida, daquele que era seu algoz.

- Você está bem? Que gás era aquele?! – Pergunta Korn.

- Estou bem, não foi nada... – Kamaitachi não sabia o que ia acontecer. Conhecia as histórias envolvendo aqueles estranhos seres, mas nunca soube se eram realidade. Tudo o que restava fazer era esperar, e continuar a caminhada nas entranhas do Coração de Gelo.

 

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O tempo passava rapidamente. Os heróis já não tinham noção de quanto tempo estavam dentro daquele labirinto. Talvez um ou dois dias, não tinham como saber. Parecia que a passagem de tempo, entre dia e noite, era imperceptível dentro da caverna, iluminada por suas centenas de cristais.

 

Todos seguem para o que parece ser o final do labirinto. São interrompidos por um protesto de dor vindo de Kamaitachi. Ao se voltarem para o dragão branco, percebem que seu braço, por baixo do quimono, começava a se tornar pedra. O processo não era recente, o dragão branco, por alguma razão, não alertara seus companheiros de seu estado. “Realmente,” – pensou Kamaitachi – “são aquelas as criaturas que tornam homens em pedras...” – o místico já se entregava, quando Korn, empunhando o artefato que encontrara na caverna, passa a recitar os cânticos nele inscrito.

 

Hakkin e Limbus não entendem a intenção do elfo dourado. O que eles não lembravam é que o artefato nas mãos do Blade Singer era a Varinha Egas, capaz de desfazer magias de petrificação. Da ponta do pequeno artefato, um feixe com aparência líquida é transmitida ao corpo do dragão branco. Seu braço, lentamente, volta ao normal. Ironfist assiste a tudo calado.

 

- Muito obrigado, elfo...

- Esquece. Vamos continuar a caminhada, aparentemente estamos chegando no final da caverna. Ironfist, você conhece esse lugar?

- Vagamente... Mas você tem razão, logo estaremos no fim deste labirinto.

- Graças a Sirik, não agüento mais ficar aqui dentro! Esse elfo precisa beber, sabe?!

- Estranho, – diz Ironfist – eu podia jurar que o dono desta armadura era o cavaleiro da ilha de Aldraba... Como a conseguiu?

- É mesmo Hakkin, – diz Korn – você ainda não explicou direito como conseguiu essa armadura e nem como o Androus morreu.

- Verdade, verdade... – diz Limbus – Por que não nos diz agora Hakkin?

- Ai, cacete, de novo esse papo?! Quantas vezes eu vou ter de dizer que...

 

Novamente o grupo é interrompido. Desta vez não era nenhum inimigo, ou armadilha ou emboscada, mas sim, algo que fugia completamente do cenário rochoso daquele labirinto: uma enorme porta de aço estava diante deles. Não havia outros caminhos a serem seguidos. Tinham, aparentemente, chegado ao final do labirinto.

 

- É aqui? – pergunta Limbus.

- Sei lá, só sei que já tô sem saco pra ficar ouvindo baboseira de vocês! Vâmo logo que eu tô cansado, quero pegar essa merda de oráculo e dar o fora!

 

O arqueiro abre o portal sem demora, sendo seguido por Korn, Ironfist e os outros. A câmara era muito escura, o que obriga Hakkin a acender outra flecha incendiária. O que os heróis veriam não os agradaria muito: estavam diante de um enorme dragão branco, e este não parecia muito feliz por ter seu sono secular interrompido por um grupo de estranhos. Ao fundo, outro portal de aço, maior que o outro que acabaram de abrir.

 

- Quem são vocês e o que querem aqui? – pergunta a grande criatura, com sua imponente voz, capaz de ecoar pelos quatro cantos daquele túmulo gelado.

- Somos um pequeno grupo de guerreiros, em busca de um oráculo oferecido pela... Deixa-me ver... – Korn pega o mapa. – Pela “Tríade Sagrada”!

- Meu dever é velar pela segurança do oráculo, para que não caia nas mãos erradas. Tomem o caminho de volta e saiam desta caverna.

- Com todo o respeito, – interrompe Limbus – não sairemos daqui sem o que viemos buscar.

- Esquece a conversa e parte pra briga logo! – Hakkin começava a disparar uma série de flechas incendiárias contra o oponente, iluminando o local. O grupo, sem escolha, parte para o ataque. Kamaitachi usa mais uma vez seu poder, soterrando o inimigo em meia tonelada de gelo. Antes que pudesse se recuperar, Limbus ataca com as pedras mágicas. Korn usa seu toque chocante e Ironfist, desta vez, investe contra o adversário.

- Iron-Mamooth![3] – gritaria o guerreiro. Um raio se formaria sobre seu corpo, mas, ao invés de conjurar sua espetacular arma, Ironfist seria atingido por uma grande descarga elétrica de cor vermelha. Em poucos segundos ele se tornaria novamente o grande mamute. Numa velocidade impressionante, Ironfist ataca o dragão com suas presas, prensando o adversário contra a parede.

 

Hakkin, do outro lado da sala pensa consigo mesmo. “Vamos ver o que essa belezinha pode fazer”. O elfo negro projeta seus braços em direção ao oponente, mas nada acontece: as correntes da armadura de Androus pareciam sem vida, não se assemelhavam em nada com aquelas espetaculares armas-vivas do cavaleiro de Aldraba.

 

- Peraí, mas que porcaria, não tá funcionando! Mas eu tô com a armadura completa! Que merda, que bosta, que c... – o elfo é interrompido por Kamaitachi que o joga no chão: o dragão estava atacando com um fortíssimo bafo de gelo, que congelava tudo o que atingia. Apesar de atingido, o místico parecia não ter sofrido dano algum.

- Acorda, arqueiro, ou vai virar estátua de gelo! Esquece as correntes e ataque com suas flechas!

 

Kamaitachi partiria para a ofensiva, desta vez junto com Green Korn: enquanto o místico projetava seu chão de gelo na espessa couraça do inimigo, o elfo dourado, com suas espadas, tratava de despedaçar parte do grande oponente. O grande dragão encontrava-se bastante ferido, mas não se dava por vencido.

 

- Seus ataques patéticos não podem acabar comigo, seres desprezíveis. Vocês irão sucumbir aos meus ataques, como muitos outros antes sucumbiram!

 

 O dragão atacava mais ferozmente. Tinha seus ataques e movimentos limitados por Ironfist, que, na forma de mamute, ainda prendia o inimigo na parede da caverna. Aparentemente, seu bafo de gelo não causava efeito algum sobre Ironfist, que mesmo atingido duas vezes, continuava a segurar o forte adversário para que os outros pudessem atacar. A violência dos golpes do mamute, combinados com os espasmos da criatura, são suficientes para derrubar parte do teto da caverna, revelando o céu das Planícies Geladas de Ledger. Aquela seção da caverna era próxima à encosta da montanha. O dia estava deveras nublado, o que chama a atenção de Limbus.

 

- Afastem-se todos! – grita Limbus, levantando seus braços em glória a Osíris, invocando mais uma vez seu poder contra seus adversários – Sinta agora a fúria do julgamento!!! – Impondo seus braços em direção ao dragão, um estrondo pôde ser ouvido. Do lado de fora, o céu começava a tornar-se mais escuro. De repente, um enorme raio cortaria os céus do vale, entrando pelo buraco da caverna e atingindo em cheio o grande dragão. Os outros guerreiros, já afastados, assistem a tudo embasbacados: Limbus mostrava ter mais poder do que podiam imaginar.

 

Muito ferido, o valoroso oponente se debate devido à magnitude do ataque.

 

- Vocês me derrotaram... não sou mais digno de proteger este oráculo, mas vocês, com sua união, mostraram-se puros o suficiente para ter acesso ao mesmo. Prossigam, o oráculo repousa logo atrás deste portal...

 

O dragão vem a morrer diante dos heróis, que, a essa altura, comemoravam a posse do primeiro oráculo. Hakkin aproxima-se do corpo do dragão, com uma faca em mãos.

 

- Nada pessoal, grandão... Mas conheço as propriedades de sua couraça. – o arqueiro começava a tirar placas da couraça do dragão. O mesmo é repetido pelos outros membros do grupo, com exceção de Ironfist e Kamaitachi, que assistem a tudo. Da mesma maneira que confeccionara mantos com a pele do grande lobo das neves, o elfo negro confecciona, com a ajuda dos outros, corseletes com as placas do dragão: rezavam as lendas que qualquer armadura feita com escamas de dragão, adquiriria as propriedades do mesmo, dependendo de sua natureza. Por se tratar de um dragão branco, ou seja, do gelo, o usuário da armadura estaria protegido ao máximo contra frio e magias glaciais.

 

Limbus, mais uma vez, recita seus cânticos sobre o corpo do dragão. Assim como o lobo das neves se levantara outrora para servir ao clérigo, depois de algumas horas, o esqueleto daquele que antes fora seu oponente levanta-se, para tornar-se servo do guerreiro de Osíris.

 

- Vamos agora abrir a última porta! – dizia Hakkin. Ironfist a essa altura, já havia tomado novamente forma humana. Os outros guerreiros permanecem parados atrás do elfo negro, que já começava a empurrar o pesado portal de aço com a ajuda de Green Korn. Dentro da última câmara, uma figura sombria aparentemente já aguardava a chegada dos heróis. Usava um tipo de armadura que se assemelhava mais a uma carapaça, de um material de aparência estranha, entre o aço e o couro. Sua pele, seus olhos, tudo nele era negro como as trevas, parecia ser uma sombra encarnada, exceto por seu cabelos brancos. Limbus mal consegue focar sua vista no adversário: o mal que emanava daquele ser era quase palpável. Do lado da estranha figura, um globo de aparência vítrea, porém envolto numa aura de energia branca muito forte, apoiado sobre um pedestal dourado. Tudo indicava ser aquele o primeiro oráculo. Próximo a ele, um grande bloco de gelo, muito semelhante a um cristal. Dentro dele, preso, o corpo de um guerreiro trajando um kimono parecido com o de Kamaitachi e uma imponente armadura branca. Em suas costas, várias faixas e fitas, soltas, formando uma espécie de par de asas. O bloco parecia estar lá há muitos anos, como se aquele guerreiro ali estivesse para velar pelo oráculo.

 

Kamaitachi sente um calafrio na espinha. Era como se já conhecesse aquele ser desconhecido e aquele lugar, tudo era muito familiar. O místico fica confuso com tudo o que estava acontecendo. O silêncio é quebrado por Ironfist.

 

- Nos encontramos de novo, ser maligno...

- Sim... Pena que você não tenha aprendido a lição depois de nosso último confronto. Se não quiser morrer agora, sugiro que corra enquanto é tempo.

- Iron-Fist! – o martelo já era empunhado pelo poderoso aliado de Korn e dos outros.

- Você é um idiota, Ironfist, se pensa que pode me derrotar, um guerreiro de classe superior.  – dizendo isso, a figura aterradora saca uma espada no-dachi[4]. Tinha a lâmina de mais ou menos um metro e meio, sendo na parte posterior prata, e na parte anterior, negra. O cabo, bem como a bainha, era inteiramente confeccionado em madeira branca, tendo na empunhadura dois dragões talhados. A visão daquela espada é um baque para Kamaitachi: sentia seu corpo ser inundado por adrenalina. Não sabia por que razão, mas seu corpo tremia, não de medo, mas por saber que havia algo naquela espada muito mais forte que os poderes que aparentava ter. O dragão branco começava a lutar por sua sanidade.

 

O digladio entre Ironfist e o desconhecido teria início. O embate é feroz, os movimentos dos dois eram como cortes de luz no ar, movendo-se mais rápido do que os olhos humanos podiam seguir. Ironfist era um pouco mais preso por causa do tamanho de sua arma, mas não ficava atrás de seu inimigo, pelo contrário, movia-se quase tão rápido quanto. A caverna toda começa a tremer. Atrás do grupo, a grande porta de ferro começava a se fechar.

 

- Temos que dar o fora! – grita Hakkin.

- Mas e o oráculo?! – diz Limbus.

- Não vai servir de nada se você estiver morto, mané! Vamos sair logo daqui!

 

O grupo começa a correr para fora da câmara. Ironfist fica combatendo a figura desconhecida. O interior da caverna começava a ser tomado por neve e rochas que caíam do teto. Limbus, antes de partir com o grupo, deixa o dragão de ossos para ajudar o companheiro em sua luta. Seguindo Kamaitachi, que corria muito à frente de todos, o grupo chegaria em pouco mais de uma hora à saída da caverna. Estranhavam o comportamento do dragão branco naquele momento: parecia tomado por uma força estranha, já que apenas corria, ignorando as marcas no caminho, mas mesmo assim, acaba encontrando um caminho mais curto para os vales gelados.

 

Na saída da caverna, o grupo pára, tentando recuperar o fôlego perdido. O dia estava claro em Ledger, parecia que o sol tinha alçado vôo aos céus há poucas horas.

 

- Temos que voltar lá para pegar o oráculo! – diz Green Korn.

- Dá um tempo aí, bailarino! O Iron já deve ter dado um jeito naquele pulha, e a gente volta lá, é bem simples...

- Não sei, Hakkin... – interrompe Limbus – Aquele ser não era o que aparentava. Seu corpo jorrava o mal pelos poros... um mal puro, muito forte. E pela conversa que ele teve com Ironfist antes da luta, aparentemente ele já derrotou nosso companheiro.

- Como assim “nosso companheiro”?! A gente mal conhece o cara, e você já quer casar ele com a gente?!

- Hakkin, ele salvou nossas vidas e nos ajudou contra o dragão na caverna! Por que não confia nele?

- Por que fui criado pra não confiar em ninguém. Mais alguma pergunta?!

- Só uma: você ainda não explicou direito como conseguiu essa armadura.

- É verdade, Hakkin! – diz Korn – Você ainda não explicou direito essa história da morte do Androus... Por que não fala agora?

- Pelo amor das minhas bolas! Não agüento mais vocês me interrogando sobre isso, porra! Quem perguntar sobre essa armadura mais uma vez vai se ver comigo!

- Ótimo, queria mesmo testar suas habilidades! – O grupo se volta para a clareia que precede a entrada da caverna. De lá, surgem ninguém menos que Párgaso, Enryu e Androus, vestindo uma cota de malha simples. Enryu e Párgaso ressuscitaram seu companheiro, provavelmente com a ajuda de algum arquiclérigo em Lenória.

 

(continua)

 

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[1] Esfera de magia de transmutação, que permite ao ser humano assumir a forma de um animal. As mais comuns são as formas de lobo (lobisomem) e urso (werebear).

 

[2] Elfo negro.

 

[3] “Mamute de Aço”

 

[4] Espada de ataque deveras maior que uma katana regular – sua lâmina chega a medir 1,5 metro.

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– Devolva a armadura de Androus agora, escória! - brada Enryu.

 

O elfo negro vê-se sem saída. Começa a tirar a armadura do guerreiro de Aldraba, e, peça por peça, começa a jogá-la no chão, próximo aos pés de Androus.

 

- Agora, – diz Enryu – saiam da nossa frente, antes que seja pior para vocês.

- Isso é uma ameaça? O que tem aí não é do interesse de vocês. – interpela Green Korn.

- Eu não sei o que vocês querem com essa caverna, ou o que está acontecendo aí dentro, mas seja o que for, nós vamos investigar. E vocês podem dar o fora daqui! – diz Párgaso.

- Você não está sendo educado.  Talvez eu tenha de ensiná-los boas maneiras. – debocha Hakkin.

- Pode vir elfo negro... Estou louco pra me vingar de você! – diz Androus, colocando seu elmo, terminando assim de vestir sua armadura.

- Claro, vai ser uma honra matá-lo... novamente.

- Então admite seu crime, desgraçado... Aqui será seu jazigo! – diz Enryu, partindo com a espada sobre Hakkin. Seu golpe é detido no último instante pela glaive de Kamaitachi, que até aquele momento, não havia se manifestado.

- Se quiser matar o elfo, tudo bem... Mas faça longe de mim, pois enquanto um companheiro meu estiver por perto, tenha certeza que a briga é minha também. – O dragão branco parecia mais frio que o clima das Planícies Geladas. Seus olhos fitavam seu adversário de maneira inquisitória. Korn e Limbus sabiam que um confronto com Enryu e os outros, ali, seria inevitável. Hakkin já apontava seu arco em direção aos adversários. A luta iria começar.

- Morram, idiotas! – o início do confronto se dá com o sinal do elfo negro. Ele dispara suas flechas de maneira vertiginosa, porém, teria todas elas defendidas pelo escudo de Enryu e as correntes de Androus. Naquele momento, Limbus percebe finalmente por que nem o escudo e nem a armadura de Androus funcionavam com Hakkin: aparentemente, aquelas armas mágicas tinham espíritos presos dentro delas, tendo com Enryu e Androus uma ligação empática única, que permitia a eles usarem todo o poder que pudessem dispor delas.

 

Korn permanece frente a frente com Párgaso. Com certeza, protagonizariam a revanche da luta em Ragnarok, na qual o guerreiro fora humilhado pelo elfo dourado. O mesmo valia para Kamaitachi e Enryu. Porém, nenhum dos dois se movia: se analisavam cuidadosamente. Era óbvio que deveriam estar a menos de um centímetro da distância máxima de suas respectivas armas. A iniciativa de qualquer um deles podia reservar a vitória ou a derrota certa.

 

Do outro lado do campo de batalha, o confronto é interrompido com a chegada de Ironfist. Não aparentava estar muito ferido. Korn corre em direção ao companheiro, deixando Párgaso sozinho. Não entendia como podia ter chegado até a saída tão rápido quanto eles.

 

- Ironfist, o que aconteceu lá dentro?! Como você está?!

- Estou bem, mas o bastardo fugiu. Quem são essas figuras, e por que estão lutando com vocês?

- É uma história longa, mas se quiser nos ajudar...

 

Antes de terminar a frase, Korn volta sua atenção para a clareira de onde surgiu Enryu e os outros: a mudança da direção dos ventos frios trouxe um forte cheiro de enxofre. Vinha chegando, empunhando sua espada, o general Thanos Maximus. Com certeza, seguiu o Dragão de Fogo e seus companheiros até o Coração de Gelo. Os olhos de Ironfist brilham de ódio. Sem dizer uma palavra, e ignorando os ferimentos, corre para o confronto contra seu irmão. O choque dos dois é estrondoso, e a cada minuto, dezenas de árvores eram derrubadas, aumentando ainda mais a clareira do local. Aproveitando o momento de descuido, Enryu aproveita para atacar Kamaitachi, enquanto Androus parte para cima de Hakkin. Korn, com suas espadas, avança contra o cavaleiro de Aldraba antes que pudesse fazer qualquer mal ao elfo negro. O dragão branco, avisado por seus sentidos, defende-se da investida traiçoeira do Dragão de Fogo. Aquela atitude era distante à de um paladino.

 

Párgaso, até aquele momento esquecido na luta, começa a concentrar energia em seus punhos. Limbus percebe a intenção do guerreiro, e espera pelo momento certo para atacar. Não demoraria até que o companheiro de Enryu invocasse seu poder.

 

- Mil Punhos de...

- Quietus! – Grita o clérigo de Osíris para Párgaso, impondo suas mãos contra o inimigo. Da boca do guerreiro das Planícies do Norte, não saía mais som algum. Sem poder recitar seu poder, o cavaleiro não podia mais disparar seu devastador golpe. Em seguida, Limbus Garnier usaria contra ele sua magia para prender corpos, o que imobilizaria o guerreiro por tempo indeterminado.

 

Hakkin, vendo-se cercado pelas correntes de Androus, usa seu Darkness no campo de batalha. Como no combate em Ragnarok, o elfo negro começa a brincar com o cavaleiro de Aldraba, acertando suas flechas primeiro em seus braços, depois em suas pernas. Por fim, com pressa de acabar com o confronto, Hakkin mira seu arco para disparar contra a cabeça de Androus, e dar um fim, de uma vez por todas, no cavaleiro de Aldraba. Foi quando sentiu seu corpo sendo envolvido por uma das correntes do inimigo: como não levitara, tornara-se um alvo fácil para seu algoz.

 

- Agora... você vai... pro inferno comigo... escória...

- Você primeiro! – o grito de Korn desconcentra Androus, permitindo com que Hakkin se livre das correntes. Descarregando seu toque chocante no cavaleiro de Aldraba, o Blade Singer deixa o caminho livre para que Hakkin possa, finalmente, acabar com a vida de seu oponente, com um tiro certeiro em seu coração.

 

De longe, a magia de imobilização de Limbus começava a perder efeito. Green Korn percebe que logo Párgaso se libertaria, e por isso, dispara sua Nuvem Fétida contra o inimigo. O odor é tão forte que Párgaso fica paralisado, perdendo total controle sobre seus movimentos. Quase desmaia algumas vezes. Talvez não o tenha feito por ser um guerreiro rigorosamente treinado.

 

Quem parecia estar em problemas era Kamaitachi. Enryu era muito forte: lembra-se que venceu o confronto no torneio porque o Dragão de Fogo desistiu da luta. Limbus, Hakkin e Korn unem-se ao dragão branco para auxiliá-lo no confronto. Ao fundo, a luta de Maximus e Ironfist toma proporções cada vez mais animalescas: os dois já haviam acabado com boa parte daquela planície, e a cada golpe desferido, algo era destruído. Os dois não pareciam ter limite em suas ações.

 

Durante o combate, Kamaitachi toma uma boa distância do Dragão de Fogo, e impondo suas mãos sobre o oponente, invoca seu poder.

 

- Koori-Ryu-Jin-Tousei![1] – Graças ao ar extremamente frio da região, a Esfera de Gelo do dragão branco se formaria rapidamente, pronta para desabar sobre Enryu. Mas, antes que o atingisse, o dragão de fogo usa a Onda de Chamas de sua armadura para derreter parte do gigantesco bloco de gelo que desabaria sobre ele. Kamaitachi repara que a onda de chamas projetada por Enryu, ao contrário do fogo branco do torneio, era composta por labaredas negras. Algo estava errado.

- A situação tá feia... E aí, padre, esse aí não é tão fácil como os outros!

- Não sei o que fazer... espere! – Limbus, por um instante, lembra do frasco que adquiriu no vilarejo de Targs, com o alquimista local: a poção de bafo-de-dragão. Sem demora, o clérigo pega o frasco e o destampa.

- Saia daí! – bradava o clérigo, nesse ato tomando todo o conteúdo do vidro. Logo em seguida, Limbus, para espanto de seus companheiros, sopraria uma enorme labareda de chamas, que varreria o corpo de Enryu. Apesar disso, o Dragão de Fogo continuava a lutar bravamente e não deterá seus ataques. Parecia que, por ser um guerreiro do elemental fogo, tinha uma resistência maior àquele elemento do que os demais guerreiros.

 

Hakkin ainda vibrava com o que o clérigo tinha feito. Limbus, sem saber o que fazer, voltaria a apelar para suas magias contra Enryu. O dragão branco o interrompe.

 

- Parem. Essa luta é minha, e não posso admitir que vocês interfiram.

- Você acha que dá conta dele sozinho? – pergunta Korn.

- Esse combate será vencido pelo mais forte. Se eu perder, será porque não fui merecedor da vitória, só isso. Mas até lá, não se metam.

- Faça como quiser. – Korn pede aos outros que recuem. Kamaitachi, largando sua glaive, se prepara para o ataque com suas garras.

 

Enryu, com sua espada em punho, se atem a caminhar em direção ao dragão branco. Recuando um passo, o guerreiro de gelo manifestaria mais um de seus poderes.

 

- Kamaitachi-no-jutsu![2] – Uma fina linha dourada corre o corpo do guerreiro, que põe-se a correr no campo de batalha. A velocidade do dragão branco era impressionante. Porém, o que mais chama a atenção de Korn e dos outros é que, a cada mudança de direção, uma imagem do guerreiro surgia, correndo em direção oposta.

- Um jogo de ilusões? – pergunta Hakkin.

- Não acho que seja magia, se fosse, eu sentiria... – diz Limbus.

- É velocidade pura. Apura a vista, elfo negro, que você acompanha o rapaz. – diz Korn. O Blade Singer, especialista em ilusões, percebia claramente que não havia ali magia alguma.

 

Enryu se coloca em postura defensiva. Precisava esperar o primeiro ataque de seu oponente para definir a direção de seu contra-ataque. Logo, Kamaitachi começaria a desferir a primeira seqüência de ataques contra o Dragão de Fogo. Os punhos do dragão branco e suas garras surgiam de todos os lados, o que obriga Enryu a tomar uma postura ofensiva.

 

- Kaen-bakudan[3]! – Um círculo de chamas explode em torno do paladino de fogo, o que obriga Kamaitachi a se afastar. As chamas, em pequenas esferas, continuam circulando em torno do corpo do guerreiro, formando um campo defensivo. O dragão de gelo teria de mudar sua estratégia.

 

Kamaitachi volta a correr, porém, detém-se a poucos metros do oponente, que o aguarda com sua espetacular espada em punho. Girando o corpo, atinge as pernas do místico, ferindo-o profundamente. O dragão branco golpeia o solo violentamente.

 

- Koori-Ryu-Jin-Tousei! – Uma gigantesca coluna de gelo brota do solo frio daquela planície, atingindo em cheio o peito do paladino de fogo. Enryu é jogado longe, mas isso não detém o ataque de Kamaitachi, que nesse momento já concentrava sua energia mais uma vez.

 

Próximo do local da batalha, Maximus e Ironfist continuam o feroz digladio. Párgaso permanecia sendo vigiado por Korn e Limbus, que sentia cada vez mais dificuldades em manter a eficácia da sua magia.

 

Kamaitachi parte com suas manoplas mais uma vez. Sua velocidade logo criaria uma segunda imagem para lutar ao seu lado, o que torna a batalha mais difícil para Enryu. Não estavam numa arena de terra, e sim num vasto campo de gelo. O dragão branco sabia tirar vantagem do terreno sobre seu oponente. Não demoraria para que as esferas de fogo do paladino desaparecessem junto com o feroz ataque do místico de gelo.

 

- Não parece com a mesma luta que tivemos antes. – diz Enryu.

- As razões são outras, dragão de fogo. O que está em jogo aqui não é a glória de nossos nomes, e sim algo muito maior que sua vã capacidade é capaz de vislumbrar.

- Não me interessam suas razões, dragão branco. Vamos pôr um fim nisso logo.

- Vamos... Koori-Ran-Bu[4]! – Kamaitachi dispara uma poderosa rajada de farpas de gelo contra o dragão de fogo. Enryu, com seu fabuloso escudo, se defende da investida de seu inimigo.

- Truques como esse não hão de me derrubar!

- E quem disse que quero te derrubar com isso? – Kamaitachi já posicionava-se atrás de seu inimigo. Enryu bloqueara a própria visão com sua defesa, tornando-se uma presa fácil para o místico. – Koori-Ryu-Jin-Sen[5]!

 

Um grande dragão de gelo é disparado das mãos do místico de gelo, arremessando Enryu contra as grandes paredes de pedra do Coração de Gelo. O impacto da técnica é de uma violência tão grande, que parte da armadura do paladino é destruída.

 

Kamaitachi cambaleia. Gastara muita energia na luta contra Enryu, bem como encontrava-se gravemente ferido pelas chamas do oponente. Não saíra ileso das esferas de fogo do guerreiro. O dragão de fogo levanta-se com dificuldades.

 

- Acabe comigo... maldito... – diz Enryu.

- Reconheça sua derrota, dragão... Acabou. – diz o místico.

 

Korn ampara o companheiro. Estava realmente debilitado.

 

- Não... serei... derrotado por... vermes como... vocês...

 

Dizendo isso, Enryu, com sua fabulosa espada, perfura o próprio abdômen, morrendo assim, com sua honra preservada. Párgaso, de longe, e já fora do efeito das magias de Limbus e Korn, assiste a tudo apavorado. Enryu era o mais forte dos três, e sucumbira diante do grupo de heróis. Assustado, o cavaleiro das Planícies do Norte começa a correr.

 

- Ei, ei, ei, segura ele! – Hakkin, com seu arco, ainda acerta uma de suas flechas no braço do inimigo. Párgaso estava longe demais para ser alcançado pelo Chão de Gelo de Kamaitachi, que tinha as pernas feridas no combate contra o Dragão de Fogo, e por isso, não poderia correr atrás de seu oponente. Num ato impensado, arremessa sua glaive contra Párgaso, atingindo uma árvore próxima ao inimigo. Muito cansados, os guerreiros não tinham forças para seguir o adversário, que acaba por fugir. Precisam cuidar de seus ferimentos, mas não têm nem tempo para se recuperarem, pois Ironfist e Thanos continuavam a travar a feroz luta.

 

Ironfist, com um golpe de seu martelo, arremessa Thanos longe. A luta começava a atingir as áreas próximas onde o grupo de guerreiros estava. Sem saída, Korn chama os outros para voltarem à caverna. Hakkin, antes de ir, vê o corpo de Enryu e Androus no chão. Enryu, graças à poção de bafo-de-dragão, tinha seu corpo carbonizado, e boa parte de sua armadura estava destruída, portanto não poderia ser ressuscitado. O elfo negro, sem pestanejar, saca a Flecha Zumbi que carrega consigo e atira no corpo do cavaleiro de Aldraba. A flecha é absorvida, e a armadura, antes prateada, torna-se negra. Androus levanta-se, como escravo de Hakkin.

 

- Beleza! Se não posso usar sua armadura, você usa pra mim! Vamos com os outros para dentro da caverna!

 

Em pouco mais de duas horas, o grupo volta ao local onde o oráculo se encontra. A sala está destruída, mas mesmo assim, não há sinal algum de que o bloco de cristal e o oráculo tenham sofrido dano. A chegada de Hakkin espanta o grupo.

 

- Hakkin?! ANDROUS?! O que você fez dessa vez, arqueiro?!

- Nada primo... só que você lembra daqueeeeela Flecha Zumbi? Então...

- Você usou o artefato no Androus?! Mas... seu... (Helm, tenha piedade dessa criatura)...

- Bem, estamos aqui, o oráculo ali... rolou um boato de que alguém ia pegá-lo...

 

O grupo se entreolha. Não sabiam o que podia acontecer caso alguém tocasse o oráculo. E se ficassem na mesma situação do guerreiro desconhecido, presos num enorme bloco de cristal? Ninguém queria arriscar.

 

- Tudo bem, nesse caso... Androus! Use sua corrente para pegar o oráculo, agora!

 

O cavaleiro de Aldraba, sem dizer uma palavra, usa suas correntes para envolver a esfera. Antes que pudesse retirá-la do pedestal, é atingido por uma forte descarga elétrica, transmitida através das correntes. Androus é lançado longe. Todos se entreolham novamente. Korn, vendo que não ia adiantar ficar parado, vai em direção ao globo e o toca. Uma forte luz é emanada do oráculo, que desaparece, e faz surgir uma pequena manopla, exatamente sobre o pedestal. Korn tenta pegá-la, mas não consegue: é como se fosse apenas uma imagem, uma ilusão. O mesmo ocorre com Kamaitachi e Limbus. Hakkin, já desenganado, se aproxima do local.

 

- Tudo isso por uma ilusão de luxo, mas que merda! – Pragueja o elfo negro, chutando o objeto. Para surpresa do grupo, Hakkin conseguia tocar na manopla, ela era tangível para ele. Sem hesitar, o arqueiro a pega e a põe na sua mão direita. Era uma manopla dourada, com cinco orifícios, cada qual com um símbolo diferente. Segundo Limbus, após analisar o objeto, quatro daqueles símbolos indicavam, cada um, um tipo de dragão: Raio, Chamas, Ácido e Gelo. O quinto símbolo, separado dos outros quatro, possuía um sinal que o clérigo de Osíris não conseguiu identificar. Assim que pôs a manopla, a câmara treme, e parte da parede do fundo da caverna desaba, revelando uma nova câmara.

- E aí, quem se habilita? – pergunta Korn. Hakkin e Kamaitachi entram, e vêem do que se tratava: era uma câmara menor, com um enorme cristal que emanava uma aura prateada. Sobre ele, um fino feixe de luz dourada, que o atingia bem na ponta, produzindo um forte brilho azul. Kamaitachi se aproxima e toca no feixe de luz: o brilho azul é interrompido, e o grande cristal pára de brilhar. Do feixe, cai uma pequena pedra azul, parecida com uma ametista, e com o símbolo do Gelo em seu interior. Hakkin pega a pequena pedra e dá para Limbus.

- Bem, Hakkin, parece-me que essa pedra se encaixa no primeiro orifício da sua manopla, que representa o elemento água... Tente coloca-la.

 

O elfo negro estava excitado com tudo aquilo. Encontraram o primeiro oráculo, e o escolhido fora ele. Sem titubear, encaixa a primeira pedra em sua manopla. Os olhos de Hakkin, antes negros, tornam-se brancos por um instante: o elfo negro entra em transe, e em sua mente, vê um guia que lhe ensina como usar a manopla:

 

“Muito prazer, escolhido. Você provou ser hábil no manejo de arcos e flechas, e por isso foi agraciado com a manopla dos Arcos Elementais. Esta pedra é a que possui o poder do arco de gelo, o Ice Bow[6]. Para conjurá-lo, imponha sua mão para o alto e chame sua arma pelo nome. Continue sua busca pelas outras pedras, escolhido. Que seu Deus olhe por você”.

 

Passado o recado, os olhos do elfo negro voltam a escurecer. Hakkin sai do transe, para alívio de seus companheiros.

 

- Ei, elfo, o que aconteceu? – pergunta Kamaitachi.

- Vamos, Hakkin, responda! – diz Limbus.

 

Hakkin não respondia às perguntas de seus companheiros. Apenas olhava fixamente à manopla em seu punho. Com um sorriso no rosto, levanta sua mão e chama por sua nova arma:

 

- ICE-BOW!!! – O ar torna-se mais frio, e nas mãos do arqueiro, começa a surgir uma grande lança de gelo, que viria a quebrar-se, revelando um arco longo composto de cristal, porém, sem corda. Hakkin aponta a arma para a parede e puxa o vazio, como se houvesse ali alguma corda. Para surpresa de todos, inclusive do próprio Hakkin, surge nas mãos do elfo uma flecha de gelo, preso num fino “fio” de névoa que corria pelo arco. Ao disparar a flecha contra a parede, boa parte da câmara se congela, revelando ali o poder do primeiro Arco Elemental.

 

- Cara, isso é demais, é tudo o que eu queria, é... O que estamos fazendo aqui, vamos logo achar as outras pedras!

- Calma, Hakkin, antes temos de reunir os outros oráculos... – diz Limbus.

- Reunir os oráculos o cacete, eu quero achar logo as outras pedras!

- Mas, nós temos um problema: como vamos sair por aí com esse zumbi nos seguindo de lá pra cá? Párgaso fugiu, e vai alertar seus companheiros contra nós. Eu acho que devemos nos livrar dele enquanto é tempo, andar com Androus por aí vai chamar muito a atenção... – diz Korn.

- Relaxa, eu dou um jeito nisso, agora. – Hakkin saca outra flecha de gelo, mas dessa vez, é uma flecha de luz branca, aparentemente muito mais poderosa que a flecha de gelo lançada antes. O elfo negro segura o projétil no arco durante longos 30 segundos, aparentemente carregando a energia do tiro. Quando finalmente dispara, atingido Androus, o corpo do cavaleiro de Aldraba é totalmente congelado, e se parte em milhares de pedaços, inclusive com suas poderosas correntes.

 

- Pronto, agora podemos ir! – O grupo assiste a tudo calado. Hakkin tinha em seu poder uma arma muito perigosa. Com certeza, se tivessem esse arco na luta contra Enryu, este seria facilmente derrotado. O único detalhe que perturbava Limbus é que era uma arma muito poderosa nas mãos de alguém naturalmente mau. Se o elfo negro se voltasse contra o grupo, o único que talvez tivesse alguma chance fosse Kamaitachi, dada a sua imunidade àquele elemento.

 

Do lado de fora da caverna, o embate entre Ironfist e Thanos tinha fim. O irmão de Maximus, muito ferido, encontrava-se escorado na parede externa da caverna. Do outro lado, um longo rastro de sangue indicava que Thanos fugira novamente. Limbus dá ao grande guerreiro uma de suas poções de cura. Ironfist recupera-se aos poucos.

 

- O bastardo fugiu novamente, como o covarde que sempre foi... Vocês conseguiram o primeiro oráculo?

- Sim, só que apenas Hakkin conseguiu pegá-lo. Você sabe nos dizer por quê?

- Não conheço muito a história dos oráculos. Dizem que eles são espíritos de luz muito fortes, que escolhem aqueles que são capazes de manejar as armas por eles oferecidas. Se o elfo negro foi o único capaz de pegá-la, é porque o oráculo o escolheu.

- Viu só, eu sou f...

- Deixe-me ver o mapa por favor. – interrompe Ironfist.

 

O grupo olha o mapa para decidir seu próximo passo. Curiosamente, o primeiro ponto que seguiam haviam mudado de lugar: estava bem onde os guerreiros estavam, já que Hakkin estava com o oráculo.

 

- Aqui indica que o próximo oráculo está ao sudeste... Podíamos passar por Duke Abridge, vamos dispor de serviços melhores do que os de Targs, o que acham? – pergunta Korn.

- Então vamos... Ironfist, você vem conosco?

- Sim. Aparentemente, Maximus também está atrás dos oráculos, por isso quero encontrá-lo. Irei acompanhá-los em sua jornada, meus amigos.

- Bem vindo ao grupo então, grandão! Bem, cambada, o que estamos esperando? Vamos nessa! – diz Hakkin.

 

Os guerreiros finalmente encontram o primeiro oráculo e partem do Coração de Gelo. Kamaitachi ainda pára e encara o lugar, com um estranho aperto no peito. É interrompido por Limbus, que o chama para que, com o novo companheiro, sigam viagem rumo ao sul.

 

- Espere um pouco, clérigo. O corpo de Enryu ainda está lá... Ele merece um sepultamento digno.

 

O dragão branco chega junto ao corpo do Dragão de Fogo, retirando sua espada e seu elmo. Posicionando o corpo de Enryu deitado ao solo, Kamaitachi toca seu antigo inimigo no peito e invoca sua muralha de gelo, que envolve todo o corpo do adversário. Com um empurrão, o bloco de gelo viria a afundar no rio próximo, tornando-se para sempre a sepultura fria daquele bravo guerreiro.

 

- O que vai fazer com a espada e o elmo de Enryu, Kamaitachi? – pergunta Limbus.

- Presentear um amigo...

 

No meio da jornada em direção a Duke Abridge, os guerreiros param em Targs. Kamaitachi vai visitar Toguro, o ferreiro que lhe melhorou as armas.

 

- Ora, olá amigo! Teve sucesso em sua jornada?

- Sim, graças aos deuses...

- Está bem ferido... Parece que foram duras batalhas.

- Sim, foram... Mas bem, venho lhe trazer algo que talvez te interesse. – O místico põe sobre a mesa a Katana do Dragão e o elmo de Enryu. O ferreiro arregala os olhos.

- Onde conseguiu isso?

- Por que, você reconhece essa arma e esse elmo?

- Bem, são idênticos aos pertencentes a um grande guerreiro inconstante que vivia em nossa ilha. Sabe, ainda recebo notícias de nossa terra por meio de amigos, e já tinha recebido algo sobre um guerreiro que vinha se destacando não só por seu estilo de combate, mas também por suas atitudes. Tinha ele seus momentos no lado bom e momentos no lado negro da existência. Seu nome era...

- Enryu, discípulo do Mestre Ancião?

- Sim, ele mesmo! Não me diga que você...

- Sim, nos enfrentamos, e ele acabou derrotado. Não suportou a humilhação e acabou com sua própria vida. Mas, por que disse que era inconstante? Ele parecia ser um guerreiro honrado quando o conheci.

- Isso Enryu sempre foi... Porém, com a morte de sua irmã, ele passou a culpar tudo e todos por sua desgraça, e enlouqueceu. Criou duas personalidades que viviam travando duelos pessoais em sua mente.

 

Agora tudo ficara claro para o dragão branco: por isso que no junco que o trouxe a Lenória, quando atacados por um kraken, Enryu não fez nada para ajudar ninguém, enquanto no torneio tentou ajudar todos da maneira que pudesse. Estava explicada a razão pela qual as chamas do Dragão de Fogo se manifestavam ora como chamas brancas, ora como chamas negras.

 

- Tyr vele por sua alma agora... Bem, eu lhe trouxe essas coisas para que você, como forma de gratidão às melhorias feitas em minhas armas. Foram de muita utilidade, acredite.

- Ora, isso não era necessário... Espere aqui um momento, vou lhe trazer algo.

 

Logo, o ferreiro voltaria com uma caixa negra, envolta por um pano de seda cor de chumbo. Ao abrir, revela uma katana muito bonita, com a lâmina toda negra.

 

- Este – diz Toguro – é o meu presente para você. Esta é Kagebattou[7], a Katana das Sombras, uma arma muito utilizada pelos mestres da minha ordem. Existem pouquíssimas destas espalhadas pelo mundo, e essa era a que eu usava, quando ainda era um guerreiro, exatamente como você hoje. Empunhe essa espada, e você será capaz de se mover tão silenciosamente quanto o vento, e poderá se esconder completamente nas sombras, podendo inclusive entrar nelas. Vá agora, meu amigo: busque seu destino, pois, para os olhos de Tyr, você é um de seus grandes filhos!

 

Kamaitachi estava embasbacado com a beleza da arma. Não tinha palavras para agradecer o ferreiro. De seus lábios, um sibilo assume a forma de palavras de gratidão.

 

- Muito obrigado... Amigo.

 

O dragão branco via-se surpreso com suas próprias palavras: não fora instruído a formar laços de amizade com qualquer pessoa, isso era um sinal de fraqueza na ordem. Mas sentia que em Toguro, um ferreiro fugido de uma guerra que massacrou seus semelhantes, podia ter um amigo, alguém em quem confiar. Nunca havia sentido isso antes. Sem dizer mais nada, cumprimenta da forma tradicional seu semelhante e volta para junto de seus companheiros. Naquele momento, passa a ver o grupo com novos olhos. Começa a tentar alimentar por aquelas pessoas um sentimento de união cada vez maior. Limbus percebe, e sente que Kamaitachi evoluíra muito naquele instante.

 

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[1] “Impulso do Dragão Sagrado de Gelo”

 

[2] “Técnica do Kamaitachi” – Neste caso, faz-se referência à criatura lendária de mesmo nome.

 

[3] “Explosão de Fogo”.

 

[4] “Pó de Gelo sob Vento Turbulento”

 

[5] “Fulgor do Dragão Sagrado de Gelo”

 

[6] “Arco de Gelo”, literalmente.

 

[7] “Espada das Sombras”, numa tradução literal.

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7. O Encontro Com o Velho Guerreiro 

 

Os guerreiros finalmente chegam a Duke Abridge. A segunda maior cidade do reino era uma cidade portuária, ponto de encontro de navios e embarcações de todo o mundo, responsável pela grande miscigenação do lugar. Era comum esbarrar com elfos dourados, meio-elfos, humanos, anões, halflings, elfos prateados, muitos deles guerreiros ou pequenos comerciantes.

 

Green Korn e os outros procuram um lugar para descansar, antes de prosseguirem com sua jornada. Precisavam também de novos suprimentos, vez que os que adquiriram em Targs já haviam acabado. Hakkin, no meio do caminho, vê-se atraído pelo som de risos e boa música: próximo à praça central, uma grande taverna funcionava, em plena luz do dia.

 

- Ei, cambada, vamos dar uma relaxada ali! Olha só, parece que tá bom lá dentro, vamos!

- Hakkin, temos de buscar um lugar para repousar... – diz Limbus.

- E tem melhor lugar que um bom e macio banco de bar? Ora, vamos nessa, nenhuma estalagem vai fugir da gente, tem umas trocentas delas espalhadas por aí! Eu tô indo, quem vem comigo?

 

 O grupo pensa um pouco. Talvez alguns momentos em meio a um ambiente descontraído acalme um pouco os heróis, depois de sucessivas batalhas. Além do mais, ainda era de dia, iriam descansar apenas à noite.

 

Dentro do bar, o elfo negro se sente em casa: no balcão, o dono do estabelecimento encara os cinco que acabavam de entrar. Sem demora, Hakkin já pede sua bebida. Korn, Kamaitachi, Ironfist e Limbus permanecem numa mesa próxima. Ouvem, em conversas paralelas, que em Lenória, o torneio de Ragnarok havia sido um fracasso, vez que a Caixa fora roubada, aparentemente, por alguns dos participantes. Ouvem também algo sobre o desaparecimento do general Maximus. Thanos não havia voltado para a Capital dos Homens. Realmente, estava atrás dos oráculos.

 

- Ironfist, – interpela Korn – você é irmão de Maximus, mas ainda não disse por que quer matá-lo. Sei que podemos confiar em você, mas qual a razão de seu ódio por Thanos?

- Pode parecer estranho para você, mas tenho minhas razões, e prefiro guardá-las para mim...

- Sim, - diz Kamaitachi – mas tem algo em vocês dois que me surpreendeu muito: onde conseguiram suas armas, e como conseguem manejá-las daquela maneira? É algo praticamente impossível para um ser humano comum.

- Isso é algo que ainda não posso revelar.

- Por quê?

- Porque... – Ironfist é interrompido ao ouvir a discussão de Hakkin com o dono do bar. Aparentemente, o elfo negro descobriu que o proprietário também vende cavalos, mas o preço deles era muito maior do que podiam pagar. Consciente de que todos precisavam de montarias, o arqueiro lança um desafio:

- Você quer cem peças de ouro por cada cavalo, certo?

- Certo.

- Bem, por que não partimos para uma apostinha básica: chame seus melhores homens, e vamos disputar uma rodada de braço de ferro. Se nós ganharmos, você nos dá os cavalos e todo o seu dinheiro. Se nós perdermos, damos a você nosso dinheiro e nossas armas. Você aceita?

- Hakkin, o que você pensa que tá fazendo?! – grita Korn ao ouvir a proposta do elfo negro.

- Tudo bem, eu aceito. – diz o dono do estabelecimento – Reykjavik, venha cá!

 

Dos fundos do estabelecimento, surge um meio-orc, tão grande quanto Ironfist. Este, posiciona-se na mesa com o braço pronto para o duelo. Hakkin engole seco. Korn falta pular na jugular do companheiro. Kamaitachi e Limbus se entreolham, concordando com o fato de que Hakkin fizera uma grande besteira.

 

- Vamos lá, arqueiro, Reykjavik está esperando!

 

Nesse momento, para surpresa do grupo, quem se senta em frente ao oponente é Ironfist. Com os olhos vermelhos, encara friamente o adversário. Segura sua mão e prepara-se para a disputa.

 

- Comecem! – grita um cliente, escolhido como juiz. Ironfist começa a forçar o braço do adversário, que por sinal era muito forte. A força empregada por ambos no duelo era incrível. Mesmo com seu porte, o irmão de Thanos tinha dificuldade para mover o braço do meio-orc. O dono do bar já comemorava sua vitória. Foi quando Ironfist diz algo, quase sibilando, que mudou o rumo daquela disputa.

- Iron... – dizendo essa simples palavra, os olhos do guerreiro começavam a brilhar mais forte. Sua massa muscular havia crescido quase imperceptivelmente, mas o suficiente para derrubar o braço do adversário sobre a mesa, partindo esta ao meio e arremessando o meio-orc ao solo. O bar se cala. Aparentemente, ninguém nunca havia ganhado de Reykjavik antes. Hakkin vai em busca do que é seu por direito.

- Bem, fizemos um acordo, e como vencemos, quero seus cavalos e dinheiro. Nada pessoal, e sem mágoas, tudo bem?

- Você acha que vou dar as coisas assim para você, elfo maldito? Dê o fora daqui você e seus amigos, antes que a situação fique feia para vocês!

 

O grupo se via cercado por mais ou menos 20 pessoas. Aparentemente eram mercenários, bucaneiros ou outros homens de armas. Hakkin volta-se contra o dono do estabelecimento.

 

- Errado: a situação já ficou feia pra você, idiota! – dizendo isso, o elfo negro flecha a mão do dono do bar, prendendo-o na parede. O grupo se divide e passa a atacar seus algozes, inicialmente tentando apenas se defender, mas logo, visto que não havia chances de um acordo, assumem uma posição mais ofensiva.

 

Kamaitachi, Korn e Limbus tentam apenas ferir seus adversários, deixando-os inconscientes no chão. Hakkin, com suas flechas, não se importa em acertar fatalmente ou não seus oponentes. Ironfist convoca seu martelo, o que faz com que muitos fujam do bar. Via-se frente a frente com o meio-orc que enfrentara. Seu oponente estava armado com um duplo-machado orc, arma muito difícil de ser manuseada. Durante o confronto, Reykjavik provou ser um grande oponente, usando fantasticamente a exótica arma. Ironfist, que já havia evitado todos os golpes sem dificuldade alguma, decide acabar com aquele confronto inútil acertando em cheio seu adversário, que viria a ser lançado para fora do bar. Hakkin, vendo que o tumultuo chegava ao fim, pula para trás do balcão e pega todo o dinheiro, que somava mais ou menos 200 peças de ouro.

 

- Vamos dar o fora dessa pocilga! E você aí, ô mané, bota na minha conta, valeu?

 

Enquanto saíam, o grupo é interrompido por um senhor idoso, que assistira a todo o combate, calado, num canto do estabelecimento.

 

- Bravos guerreiros, esperem! Por favor, esperem!

- Pois não, senhor? – diz Korn.

- É, que foi, velho? – diz Hakkin.

- Por favor, tenho uma proposta para lhes fazer. Uma proposta irrecusável. Sigam-me.

 

Todos encaram o senhor. Não o conheciam, nem sabiam suas intenções. Limbus aconselha o grupo a seguí-lo: não sentira nenhuma força maligna ou intenção maldosa. Cruzando as ruas da cidade, o grupo é guiado até um pequeno castelo, próximo à costa de Duke Abridge. Na entrada, uma surpresa: aquele velho senhor era o dono daquele lugar.

 

- Por favor, entrem, fiquem à vontade...

- Bem, que proposta é essa que têm para nos fazer? – pergunta Kamaitachi.

- Sentem-se, por favor, a conversa será um pouco longa...

 

Todos se acomodam em grande poltronas, numa belíssima sala, cheia de troféus. Um em especial chama a atenção do grupo: o tapete era feito de uma pele inteira de uma Pantera Deslocadora[1], monstro ferocíssimo e muito perigoso. Nas paredes, desde cabeças de trolls[2], e uma suposta presa de Dragão Vermelho. Num canto, uma armadura full plate avermelhada, com uma montante muito bonita e um escudo com o brasão de um griffon[3].

 

- Meu nome é Siegfried McLeoud. Há muitos anos atrás fui um dos grandes guerreiros que defendeu Duke Abridge de uma invasão órquica, que objetivava pilhar e destruir a cidade. Durante décadas me aventurei por esse mundo, enfrentando todo o tipo de perigo. Mas um dia fui derrotado pelo mais impiedoso de todos os adversários: o tempo. Estava velho e cansado, e com os tesouros que adquiri, construí esse pequeno castelo, onde moro com minha querida filha... O problema é que ela foi raptada por um antigo desafeto, que quer se vingar de mim destruindo a única coisa que ainda me importa nesse mundo. Estou velho demais para ir atrás deles, e por isso, busquei nos últimos dias por guerreiros que quisessem tentar resgatá-la. É por isso que eu os chamei aqui: o pouco que vocês fizeram naquela taverna foi o suficiente para me convencer de que vocês são as pessoas certas para essa missão. Eu ofereço mil peças de ouro, para cada um, se conseguirem trazer minha filha de volta. Por favor, aceitem minha oferta.

 

Todos se encaram. A proposta era realmente tentadora, e além de conseguirem bons recursos, conseguiriam também o respeito de um grande guerreiro. Hakkin interfere pelo grupo.

 

- Quinhentas peças agora, e as outras quinhentas na volta. E queremos um pequeno exército ao nosso dispor, além de um mapa indicando o local do resgate, mais suprimentos.

- Tudo o que vocês quiserem, para mim, a única coisa que importa é o bem estar de minha filha.

- Fechado então, velho. Acaba de conseguir um grupo de primeira para efetuar o resgate!

 

Korn encara Limbus e Kamaitachi. Não sabia como Ironfist iria reagir com a situação que surgia naquele momento. Para surpresa dos três, o guerreiro, por algum motivo muito forte, também concorda, fazendo apenas uma ressalva.

 

- Guarde seu dinheiro quanto a mim. Não faço questão de pagamento algum, apenas trarei sua filha de volta.

- É isso aí moço, guarde seu dinheiro quanto a ELE, quanto ao resto, fica o combinado, hehehe...

- Muito obrigado, bravos guerreiros! Esta noite darei um banquete em homenagem a vocês, e faço questão que pernoitem aqui! Vocês podem partir amanhã, ao amanhecer?

- Sem problema algum. – diz Korn.

- Ótimo! Minha camareira irá instalá-los agora. Samantha! Por favor, leve esses cavalheiros para seus respectivos quartos.

 

O grupo se cala com a entrada da criada do velho guerreiro. A camareira era realmente muito bonita. Tinha a pele alva como um lírio, e cabelos negros como a noite. Seus olhos eram de um azul tão profundo quanto o espaço celeste. Seu uniforme não escondia suas formas voluptuosas, que convidavam os homens para o pecado. Logo, ela indicaria a Ironfist e os outros o caminho de seus quartos, e o caminho do salão, onde seria dado o banquete.

 

A noite logo cairia em Duke Abridge. Siegfried, na ponta da mesa, onde se sentavam o grupo de heróis e alguns convidados, brinda pelo sucesso da missão de Korn e seus companheiros. A festa segue alegre, com muita bebida e comida. Hakkin, como de costume, cria diversos embaraços para seus companheiros, embebedando-se e flertando com Samantha pelos cantos. Korn e Kamaitachi discutem sobre a missão. Ironfist prefere admirar os troféus do velho guerreiro. Limbus, por seus votos clericais, recolhe-se para descansar. Durante o banquete, Korn repara num dos soldados que iriam os acompanhar. Tinha cabelos loiros e feições imponentes. Seu porte impunha um certo ar de liderança. Havia algo nele que o destacava dos demais. O Blade Singer pára de pensar nisso, voltando sua atenção para o dragão branco, com quem voltaria a discutir a missão de resgate. Em poucas horas, partiriam rumo à Ilha de Bone Cleaver.

 

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Logo pela manhã, Korn, Limbus, Kamaitachi, Hakkin e Ironfist embarcariam com 30 soldados enviados por Siegfried, para acompanhá-los na busca pela filha do velho guerreiro na Ilha de Bone Cleaver. Receberam do senhor um mapa, suprimentos e metade do pagamento adiantado, como combinado. Não tinham muitas informações sobre a ilha. Sabiam apenas por via de boatos que lá era lar de monstros e bestas criadas pela magia do lugar. Logo saberiam se isso era verdade ou não.

 

Entre os 30 soldados, Green Korn repara na presença do jovem que vira na festa da noite anterior.

 

- Ansioso para a luta? – pergunta o Blade Singer.

- Um pouco... senhor.

- Ei, deixa as formalidades de lado! Como se chama?

- Nazareth, senhor. Nazareth McManus.

- Bem, Nazareth, me chamo Green Korn. Deixa eu te apresentar o grupo, depois você passa para os outros soldados... O sujeito de cabelo arrepiado é Kamaitachi, o mais velho é Limbus, o maior é Ironfist e o elfo negro com cara de idiota é Hakkin...

- Eu ouvi isso, bailarino! – brada o elfo negro do outro lado do barco.

- Bem, como eu ia dizendo... Espero que esteja vivo quando voltarmos. Você deve ser um grande guerreiro, vai se dar bem.

- Assim espero... Meu pai era um guerreiro, espero poder ser como ele. Se bem que, quando comecei meu treinamento, foi numa ordem de Paladinos.

- Então você é um Paladino?

- Quase... – ri o guerreiro – Já tenho a base da doutrina de um paladino, só falta evoluir...

- Relaxa, rapaz... Isso você vai poder fazer na ilha... Boa sorte, valeu?

- Para você e seus companheiros também...

- Mas eu não acredito! É você mesmo, rapaz! – Quem gritava em direção a Green Korn era ninguém menos que Jack Cornell, o capitão do navio que havia levado o Blade Singer pela primeira vez a Lenória. – Mas como você está mudado! O que você andou aprontado, seu camarão de sete barbas?

- É bom te ver também Jack... Mas, você não é capitão de navio cargueiro? O que está fazendo aqui, como capitão de embarcação de guerra?

- Ah, sabe como é... Faz-se um bico aqui, outro acolá... Sou só um velho marujo em busco de dinheiro e de um pouco de emoção... Levar vocês a Bone Cleaver é tudo o que eu preciso...

- Ahn... Beleza então...

- Mas rapaz, há quanto tempo... Tão vendo esse cara aqui, macacada?! Ele lavou o meu convés com a bunda de uma corja inteira de corsários, e sozinho! E é amigo MEU, ou seja, mexeu comigo, mexeu com ele!

- (minha mãe do céu... Helm tenha piedade de mim...)

- Ei, bailarino! – Brada Hakkin – Esse mané é amigo seu?! Só podia ser... HAHAHA!!!

- Éééé... Muito bom te ver, Jack, mas tenho que voltar pra junto do grupo... Grande abraço...

- Falou, amigão! Cês viram? MEU amigo...

 

Faltava pouco mais de seis horas de viagem. Green Korn reúne-se com seus companheiros, para discutir sobre a missão e acertar os últimos detalhes antes do desembarque. Limbus, que olhara de longe a conversa de Korn e Nazareth, percebe o que o Blade Singer reparara inconscientemente: aquele jovem possuía uma aura muito forte, tinha uma proteção natural contra o mal, algo raro em paladinos e praticamente impossível em simples soldados rasos. O clérigo de Osíris, que não se esquecera de seus sonhos, olha à sua volta: estava reunido com mais quatro pessoas, somando cinco elementos. Não sabia se eram aqueles quatro os guerreiros que formariam os “sete elementos para enfrentar o mal puro”. Mas sabia que aquele jovem soldado podia ser, com toda certeza, um deles.

 

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[1] Monstro semelhante a uma pantera, porém, com duas cabeças e várias caudas, capaz de criar ilusões quando se move.

 

[2] Monstro com grande poder de regeneração, porém, vulnerável ao fogo e à luz solar.

 

[3] Monstro mitológico similar a um leão, porém com cabeça e asas aquilinas.

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8. O Resgate na Ilha de Bone Cleaver 

 

Depois de horas em alto mar, o grupo finalmente chega à ilha. Ironfist, à frente do grupo de guerreiros e dos 30 soldados, dá as últimas instruções antes de começarem a busca. Hakkin, usando sua levitação, sobe a cerca de 50 metros acima do chão. Repara numa grande construção à leste, muito além da floresta que teriam de atravessar, sobre uma montanha não muito alta, mas aparentemente, muito bem protegida. Voltando ao solo, o elfo negro indica a direção aos seus companheiros. O grupo começaria a jornada em busca da filha de Siegfried, a jovem Pietra McLeoud.

 

A mata era realmente muito cerrada. Por todos os lados, animais exóticos e mortalmente belos. Durante a caminhada, Green Korn começa a conversar com Ironfist e os outros.

 

- Quem será esse “desafeto” de Siegfried, que raptou sua filha e a trouxe para cá? Você sabe de alguma coisa, Ironfist?

- Sei pouco a respeito... Siegfried me disse que se trata de um necromante[1] muito poderoso, que passou os últimos anos criando monstros com sua magia. Disse também que esses seres vivem espalhados pela ilha, fiéis à vontade de seu criador. Por isso, devemos ficar atentos para evitar qualquer ataque surpresa.

- Um necromante... Curioso – diz Limbus. Mesmo sendo um clérigo de Osíris, Limbus Garnier tinha alguns de seus poderes voltados para a esfera da necromancia. Ia ser curioso ver o que o poder desse mago havia criado.

- Mas, vem cá, – diz Hakkin – há quanto tempo esse mané tá aqui? Não, porque se ele tá aqui já há algum tempo, deve ter um monte desses bichos soltos por aí...

- Não se preocupe, elfo. Seja quem forem, serão derrotados por nós. – diz Kamaitachi.

- Não estou preocupado não, fuinha, só quero que sobre alguns para eu acertar com meu arco “especial”, sacou?

 

Kamaitachi não responde. O grupo continua sua caminhada por dentro da mata, que se tornara mais densa. O dragão branco, com suas garras, e o elfo dourado, com suas bastardas, abrem o caminho por entre galhos e arbustos. Ironfist, que se encontrava à frente do grupo, pára. Sem dizer uma palavra, conjura seu martelo. Korn e Limbus, por meio de sinais, mandam que os soldados fiquem prontos. Ironfist havia percebido uma estranha movimentação nos arbustos e nas copas das árvores mais à frente. O grande guerreiro pede distância do grupo, que se afasta rapidamente, voltando cerca de 100 metros. Levantando seu martelo, Ironfist se prepara.

 

- Estejam prontos! – brada o guerreiro, golpeando o solo com sua arma, produzindo uma onda de choque fortíssima que viria a abrir uma enorme clareira. O grupo de heróis e o exército quase são arremessados longe. A densa mata agora era uma área desmatada e aberta. Os soldados permanecem atônitos com o poder do grande guerreiro. Não demoraria para que surgissem os causadores da agitação na floresta: saindo em meio às árvores caídas e arbustos arrancados, vários lobisomens levantavam-se, encarando os aventureiros que ousaram invadir os domínios de seu Mestre. Eram mais ou menos 12 criaturas, todas prontas para atacar.

 

Ironfist os encara com seu grande martelo em punho. Limbus, Hakkin, Kamaitachi e Korn já se encontravam prontos para o ataque. Os trinta soldados aguardavam por um sinal para darem início ao ataque. Um dos seres, com um longo e sonoro uivo, dá a ordem para que os outros lobisomens ataquem. A batalha teria início.

 

- Tomem cuidado, apesar de poucos, eles são mais ágeis! – Bradava Green Korn para o exército. O Blade Singer, com suas bastardas, golpeava seus adversários de maneira feroz. Porém, a agilidade daquelas bestas era sobre-humana, e muitas vezes os inimigos conseguiam se esquivar. Kamaitachi libera o Chão de Gelo no local da luta, para limitar os ataques dos adversários. Limbus, pegando algumas pedras no chão, ataca os monstros com seu ataque de Pedras Mágicas. Os soldados partem ferozmente sobre os monstros, armados de espadas longas e escudos. À frente deles, Nazareth, que a essa hora atingia mais uma criatura da ilha.

 

Os lobisomens também atacam violentamente. Sem demora, sete soldados são dilacerados pelas garras dos inimigos. O grupo de heróis começa a atacar com mais força. Ironfist, com sua esplêndida arma, esmaga um dos lobisomens, e ainda golpeia outro que se preparava para atacá-lo, arremessando a besta contra uma árvore. Limbus usa sua magia para prender corpos, e aprisiona mais um lobisomem, que viria a ser morto por Nazareth.

 

Alheio ao combate, Hakkin ainda não se manifestara. Restavam mais ou menos seis lobisomens no campo de batalha. Impondo sua mão para o alto, o elfo negro manifesta sua arma.

 

- Ice-Bow! – O belo arco de cristal se formaria nas mãos do arqueiro, que rapidamente, atinge três tiros em três lobisomens diferentes. Estes agora não passavam de estátuas de gelo sem vida. Kamaitachi, com suas garras, dá cabo a mais um lobisomem, enquanto Korn, com seu toque chocante, carbonizava outro. O último fica por conta de Limbus, que, levantando seus braços, invoca um raio, que atingiria em cheio o último dos monstros.

- Estão todos bem? – Sai perguntando Green Korn e Limbus para os outros. O grupo havia sofrido muitas baixas, mais ou menos oito soldados haviam tombado diante do ataque das ferozes bestas.

- Nada que umas horas de descanso não curem. – Diz Kamaitachi – Vamos parar por um instante, tratar dos feridos, e continuar depois nossa jornada.

- Parar agora pode ser perigoso... – diz um dos soldados.

- Não se fizermos a ronda. Cada um faz uma hora de vigília, durante quatro ou cinco horas... Não precisamos de mais que isso para continuarmos.

 

Todos concordam. Realmente, tirando Ironfist e Hakkin, todos os outros estavam feridos. Era preciso repousar e dar tempo para que Limbus, com suas magias de cura, pudesse atender aos que mais precisassem. As poções de cura eram muitas, mas tinham de ser poupadas.

 

Logo cairia a noite em Bone Cleaver. O grupo decide dormir para prosseguir a busca no dia seguinte, logo ao amanhecer.

 

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Logo pela manhã, Ironfist e os outros continuam a jornada. Estavam recuperados do confronto anterior. Limbus, com seus poderes, havia levantado um dos lobisomens para ser seu servo. O esqueleto agora acompanhava o grupo, com suas garras e presas afiadas.

 

De todos os soldados, o que parecia mais espantado era Nazareth. Parecia nunca ter participado de uma aventura antes. Isso chama a atenção de Green Korn.

 

- Surpreso com tudo isso?

- Não, senhor, mas é que nunca tinha visto guerreiros com tanto poder... Veja o que esse senhor fez, levantou a ossada de uma das criaturas!

- Ah, mas isso é por que você não viu quando ele levantou a ossada de um dragão...

- Ele fez isso com um dragão?!

- O Limbus tem mania de levantar esqueletos para servirem aos interesses do grupo... Com o tempo você se acostuma.

- Sei... Mas e o elfo negro? Onde conseguiu aquela arma?

- Num oráculo desses da vida, perdido numa caverna... Por quê?

- Já tinha ouvido falar a respeito de armas como aquela... Pertencentes a guerreiros da guarda pessoal do Imperador de Lenória, há uns trinta anos atrás...

 

O diálogo é interrompido por Ironfist. Novamente, pressentira que algo estava à espreita. A mata já não era mais densa naquela área da floresta. Kamaitachi começa a olhar à sua volta. Tenta entrar em harmonia com o ambiente para saber de onde vem a agitação. Com um sinal, o dragão pede para que todos se preparem. Não demoraria muito para que o místico voltasse sua atenção para a parte esquerda da floresta. Sabia que seus inimigos estavam ali.

 

- À esquerda!

- Formação ofensiva! – Bradava Ironfist, correndo sem seu martelo. No meio do caminho, enquanto corria, o guerreiro é atingido por um forte raio. Cessado o clarão, quem estava ali correndo já era o grande mamute branco. Derrubando árvores e abrindo caminho mata adentro, Ironfist encontra seus próximos adversários. Eram sim, como os lobisomens, homens-animais, porém, aparentavam ser mais poderosos.

 

Eram cinco criaturas muito grandes, todas com pelo menos dois metros de altura. Os seres tinham fisionomia humana, porém, aparência bestial. Eram um Homem-Leão, um Homem-Tigre, um Homem-Chacal, um Minotauro e uma Mulher-Leopardo. Aparentemente, o leão era quem comandava os outros.

 

O silêncio toma o lugar. O grande mamute põe-se à frente de todos, que a essa altura, já estavam prontos para atacar. Os 22 soldados remanescentes, com Nazareth à sua frente, ficam próximos ao local da batalha. Ironfist, com um urro, parte para cima dos homens-animais, seguido de Korn, Hakkin, Kamaitachi e Limbus. Nazareth viria logo atrás com os soldados. Com um golpe violento, Ironfist trata logo de acertar o Homem-Chacal em cheio, arremessando contra as árvores. Os outros monstros se separam, e partem também para o ataque. O Homem-Leão permanece imóvel, de braços cruzados, apenas assistindo ao combate.

 

Com uma velocidade assustadora, a Mulher-Leopardo e o Homem-Tigre avançam sobre o exército. Nazareth não recua, e com sua espada, ataca as bestas furiosas. Dois soldados já eram vítimas da ferocidade de seus algozes. Nazareth, para vingar seus companheiros, atinge um golpe na altura do ombro do Homem-Tigre, e outro na perna de sua companheira. Furioso, o monstro ataca o soldado, que se defende com seu escudo. De longe, Green Korn percebe que o guerreiro precisa de ajuda e parte para seu auxílio.

 

- Agüenta aí, moleque, o reforço tá chegando!

- Rápido... ele... é... muito forte! – Gritava Nazareth, defendendo-se com dificuldades dos ataques do inimigo. O Blade Singer, com suas bastardas, salta sobre o Homem-Tigre, desviando sua atenção do jovem soldado. Usando uma árvore alguns metros atrás, Korn impulsiona-se na direção de seu inimigo. Nazareth, aproveitando o descuido do monstro, atinge-o na altura do abdômen, e passa a atacar a Mulher-Leopardo, que a essa hora já havia feito mais três vítimas. A criatura debate-se de dor, quando percebe, muito tarde, o ataque do elfo dourado, que, usando sua mão esquerda, apoia-se sobre o ombro do inimigo, e, caindo em suas costas, trata de cravar a bastarda dourada em sua nuca. Já no chão, Korn descarrega seu toque chocante no adversário para dar de vez cabo à sua vida.

 

Ali perto, Nazareth, continua a atacar a Mulher-Leopardo. Porém, mesmo com sua bravura, o soldado não era páreo para o monstro. Quem compra a briga com a criatura é Kamaitachi, que com suas garras, desfere um golpe nas costas da adversária, apenas com o intuito de chamar sua atenção. Estava para ter início uma luta que iria medir não só os poderes, mas a velocidade dos golpes de cada um. Correndo em direção ao inimigo, o dragão branco começa sua investida. Para sua surpresa, a Mulher-Leopardo conseguia correr tão rápido quanto ele, acompanhando todos os movimentos do místico. Kamaitachi se surpreende, pois mesmo com a perna ferida, sua adversária conseguia se mover com extrema facilidade.

 

O dragão branco ataca com suas manoplas, mas tem seus golpes evitados pela adversária. Agora era a vez da criatura atacar o místico. Com suas garras, a Mulher-Leopardo atinge Kamaitachi na perna, que, com o ferimento, já tinha seus movimentos mais limitados. O guerreiro resolve parar para lutar com sua inimiga, pois se continuasse correndo, levaria grande desvantagem. O monstro também pára, e parte diretamente para cima do dragão branco. Kamaitachi desvia de seus ataques, e, impondo suas mãos em direção ao adversário, invoca a poderosa muralha de gelo:

 

- Koori-Ryu-Tsui-Sen! – O enorme bloco de gelo cairia sobre a criatura, que não conseguiria se desviar, tamanho era o diâmetro da muralha conjurada por Kamaitachi. Soterrado por centenas de quilos de gelo, o monstro seria alvo fácil para o místico, que com sua glaive, acabaria de vez com o confronto.

 

Hakkin e Limbus continuam a travar o combate com o Minotauro. A luta é equilibrada, já que o monstro não é nem um pouco veloz, mas em compensação, resistia muito bem às flechas do elfo negro e aos golpes de mangual de Limbus. Nem mesmo o lobisomem do clérigo de Osíris, com suas garras, parecia causar dano ao forte monstro.

 

- Pare de brincar, Hakkin, e usa seu arco de gelo!

- Pra que, se tá tão divertido?

- Divertido para você, que está aí flutuando... Por Osíris! – Limbus consegue se desviar de um golpe que seria certeiro na altura de seu pescoço.

- Nossa! Ei, padre, até que você não aparenta ser tão velho! Desviou legal dessa, hein?

- Pare de brincadeira e acaba logo com ele usando seu arco!

- Falou, falou... Ice-Bow! – O arco de Hakkin é invocado, e apontando para a criatura, estava pronto para disparar – Sai um chifrudo congelado no capricho! – O elfo negro dispara sua flecha em direção ao peito do minotauro. Parte do monstro se congelaria, fazendo com que a besta parasse momentaneamente. Porém, logo depois, ele voltaria a atacar, mesmo gravemente ferido pelo gelo da arma de Hakkin.

- Dispare outra, elfo!

- Não precisa mandar duas vezes! – Hakkin logo dispararia com uma cadência igual à que disparava com seu arco comum. Com mais três tiros, o minotauro finalmente tornar-se-ia uma estátua de gelo. Para garantir, Limbus impõe suas mãos contra o inimigo e invoca uma de suas magias.

- Quebre! – Gritando isso, a grande estátua de gelo se quebraria em vários pedaços. Era a magia de Despedaçar, utilizada contra seres vítreos ou de cristal.

 

Ironfist não teve dificuldades em massacrar o pobre Homem-Chacal, que já se assemelhava mais com uma massa de carne disforme. Restava somente o Homem-Leão, que não se movera do lugar em que estava desde o início do conflito. O grande mamute toma novamente forma humana, e, pondo a mão direita para cima, invoca o poderoso martelo.

 

- Iron-Fist! – A arma cai sobre a mão do bravo guerreiro, que chega a afundar um pouco no chão. – Fiquem aqui: ele é meu. – Dizendo isso, Ironfist caminha em direção do adversário, que começa a seguir também em direção ao guerreiro. Os dois param por um instante, antes de começar o combate. Logo, o que se veria era quase um clarão: a luta tinha início. Os dois atacavam ferozmente. Ironfist parecia se conter, não atacava com a mesma ferocidade com que atacava Maximus, mas mesmo assim dava trabalho para seu adversário. Golpeando o Homem-Leão em cheio com seu martelo, Ironfist o arremessa longe, mas este ainda consegue cair de pé. Longe de seu adversário, o monstro começa a concentrar uma forte energia nas suas mãos. Não demoraria muito, e o Homem-Leão dispararia contra Ironfist um poderoso feixe de energia, de cor avermelhada. O guerreiro é atingido em cheio no peito, chegando a ser jogado para trás, mas apara-se em uma árvore, quase a derrubando. O monstro começava a carregar novamente o golpe, quando Ironfist, voltando-se para seus companheiros, os alerta.

 

- Protejam-se! – dizendo isso, e com o martelo em punho, Ironfist salta a uma altura vertiginosa. Korn, Limbus, Kamaitachi, Hakkin, Nazareth e os nove soldados que restaram tentam descobrir a intenção de seu companheiro. Logo, do martelo de Ironfist, começaria a surgir uma forte aura vermelho-fogo, com a aparência de chamas. O guerreiro começava a cair no chão, pronto para golpear o adversário.

- Corre, cambada, que a coisa vai feder! – Bradava Hakkin aos outros, que já corriam do local desesperadamente. Ao golpear o adversário, o local é envolto por um enorme clarão, seguido de um estrondo ensurdecedor. O que viria após seria uma onda de choque devastando tudo à sua volta, inclusive jogando longe o grupo de heróis, que só não sofreu danos maiores porque já estava a uma boa distância.

- Mas que diabos foi isso?! – perguntava um dos soldados.

- Uma maneira discreta do Iron de dizer “adeus, trouxa”... Vamos lá! – diz Hakkin.

 

De volta ao local da luta, o grupo encontra uma clareira enorme, com uma gigantesca cratera em seu centro. Dentro da cratera, Ironfist, empunhando sua arma. A alguns metros dali, o corpo sem vida do Homem-Leão. Aparentemente ele não havia sido golpeado diretamente, mas a violência do ataque de Ironfist foi suficiente para acabar com ele.

 

- Caraca... – diz o elfo negro.

- Foi uma técnica especial que tive de usar. Nada mais.

- Já ouvi esse papo antes! Qualé, quantas “técnicas especiais” você tem? – pergunta Hakkin.

- Isso não tem importância. Vamos reunir os que restaram e parar para tratar dos ferimentos. Temos uma longa jornada ainda para chegar à fortaleza. Esses cinco deveriam ser as últimas defesas externas de nosso inimigo.

- Concordo, - diz Limbus – vou tratar os casos menos graves com minhas magias, os outros podem usar as poções de cura que dispomos. Vamos fixar acampamento fora dessa clareira para não ficarmos muito expostos.

- Certo. Nazareth, como estão os homens?

- Bem, senhor. Tivemos muitas baixas, mas os outros ainda estão em condições de lutar.

- Ótimo. Vamos lá. – diz Korn, dirigindo-se com os outros em direção à lateral da clareira, numa área mais fechada da mata. Limbus, antes de ir, começa seus rituais sobre o corpo do Homem-Leão, que logo, assim como o lobisomem, se levantaria para servir o clérigo. “Eu adoro esse trabalho” – pensa Limbus, enquanto vai se juntar ao grupo. A caminhada seria longa, mas em menos de um dia, chegariam à fortaleza do desconhecido desafeto de Siegfried McLeoud.

 

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Amanhece na desconhecida ilha. Em pouco mais de 12 horas, o grupo de heróis com seu exército chegam à imensa fortaleza, no cume da montanha mais alta de Bone Cleaver. Realmente, não existiam mais monstros para defendê-la do lado de fora. Entre suas monstruosas muralhas, um enorme portão de aço, com um símbolo indecifrável em seu centro. Ironfist se aproxima, juntamente com Green Korn e os outros.

 

- Vamos forçar o portão, talvez consigamos abri-lo.

- Certo! – Concorda o elfo dourado e os outros. Ao tocarem o gigantesco obstáculo, eles ouvem uma estridente risada, indicando desprezo por parte de alguém. Não sabiam de onde vinha o som, não viam nada a sua volta. Foi quando Limbus indicou para seus companheiros o responsável pela inquietação: um pequeno ser, com duas asas semelhantes às de um morcego, dotado de apenas uma boca, cheia de dentes pontiagudos, voava sobre o incauto grupo de guerreiros. Parecia ser um mensageiro.

- Seus idiotas, pensam que vão conseguir simplesmente adentrar a fortaleza de meu mestre e obter sucesso em sua empreitada? São mais tolos do que parecem! Pois eu lhes digo o seguinte: o que está por trás destas muralhas, será com certeza, o jazigo de vocês! Vamos, entrem! Gemini Cross espera por vocês! HAHAHA...

- Se tem uma coisa que me irrita, é um ser tosco voando que fala mais que eu! – Hakkin dispararia contra o ser uma de suas flechas, mas esta passaria direto através dele: era uma ilusão programada pelo necromante, dono daquela fortaleza, para amedrontar os heróis.

- Esquece, elfo, vamos entrar! – Kamaitachi começaria a empurrar o portal juntamente com Ironfist, Korn e Limbus. Nazareth e os outros oito soldados começariam a ajudar também. Logo, veriam o porquê do aviso da pequena ilusão: a fortaleza era enorme, e dispunha de várias entradas. Com certeza, levariam meses para percorrer todos os cômodos e passagens daquele lugar. Até lá, Pietra poderia estar morta. Era um enorme labirinto que deveria ser transposto por Ironfist e os outros.

- Viram o que eu quis dizer? – Interrompe a criatura – Nem em cem anos conseguirão o que querem! HAHAHA...

 

O grupo permanece calado. Queira ou não, ele tinha razão. Mal sabiam por onde começar. Foi quando Limbus, retirando seu manto e largando suas armas ao solo, põe-se de joelhos no chão. Com um pedaço de carvão que trazia consigo dentro de uma pequena sacola, começa a desenhar no chão um círculo e vários símbolos, semelhantes a runas. Ao terminar, coloca-se no centro do círculo e começa a orar devotamente ao seu Deus, Osíris, a divindade do julgamento na Terra dos Grandes Desertos.

 

- Rezar não adianta, padre... – Debocha Hakkin.

- Calado! – Manda Ironfist. Era a primeira vez que o guerreiro tomava alguma atitude repreensiva com relação ao grupo. Isso causa um certo espanto nos presentes. Nazareth não sabe por que, mas começa a sentir uma sensação de paz muito grande. Kamaitachi e Korn também sentem algo, mas não sabem dizer o que é. Aos poucos, para espanto do grupo, as marcas no chão começam a emitir um leve brilho dourado. Os olhos do clérigo tornam-se brancos, e o ar à sua volta começa a ser tomado por uma forte energia. As marcas de carvão agora estão completamente douradas, liberando um forte brilho em torno de Limbus. Pondo seus braços em direção aos céus, Limbus Garnier evoca fervorosamente por seu Deus.

- Osíris! – O grito do clérigo ecoa por toda a ilha de Bone Cleaver. Uma explosão de luz acontece no local onde Limbus encontra-se, formando uma enorme coluna de energia. Ao lado do círculo, a energia dourada começa a formar um portal, de brilho muito intenso. De dentro, começava a sair uma imponente figura, carregando consigo uma foice com dois gumes. Sua lâmina era simétrica, e, assim como seu cabo, totalmente dourada e coberta de runas. O ser trajava-se com uma armadura full plate dourada, com o símbolo de Osíris em seu peito, e, em suas costas, várias faixas douradas, movimentando-se com se vivas fossem, tomando formas semelhantes às de dois pares de asas. Diante do grupo, estava ninguém menos que o Avatar[2] do Deus Osíris. Limbus o evocou, para que pudesse ajudar o grupo em seu objetivo.

 

Sem dizer uma palavra, o Avatar encara um por um dos guerreiros. Encara por fim o clérigo, que, ainda de joelhos, explica a situação para seu Deus.

 

- Perdoe-me por incomodá-lo, meu Senhor, mas não vi outra maneira para proceder, diante de tal situação. Peço humildemente que possas nos guiar por entre os corredores desta fortaleza, até que encontremos a jovem inocente que se encontra sob jugo do dono deste local, um ser maligno que brinca com a vida como se um semelhante ao Senhor fosse. Por favor, meu Senhor, nos ajude.

- Levanta-te, Limbus... – Ordena o Avatar. – Tu, meu filho, não compreendes ainda a magnitude de tua missão neste mundo. Tu és um dos Sete Pilares da Tríade, que veio a este mundo combater o mal puro que assola a humanidade. Seu dever é o de fazer o bem, e de encontrar os outros que irão auxiliá-lo nesta guerra. Mesmo que essa missão, em que se envolveste agora, não pareça ter nada a ver com teus sonhos e pressentimentos, tem sim a ver com tua índole, de ajudar aos que precisam nas horas de sofrimento. Irei sim, meu filho, ajudá-lo neste momento, porém, ajudar-te-ei somente até onde me convir ser necessário.

- Obrigado, Senhor. Agradeço também por esclarecer essa dúvida que perdurava em minha alma nos últimos meses.

- Não há o que agradecer, meu filho. Mande seus companheiros nos seguir agora.

 

Limbus volta-se ao grupo e pede para que Ironfist e os outros comecem a seguí-lo. Ninguém conseguiu entender o diálogo entre Limbus e a divindade, vez que os dois conversavam na língua natal da Terra dos Grandes Desertos. Acharam prudente também não procurar saber do que se tratava, vez que, se fosse para ser do conhecimento geral, Limbus o tornaria. Já o clérigo de Osíris sentia uma paz indescritível dentro de si. As histórias eram reais, ele era o escolhido dos Deuses para vir a Lenor e combater o mal puro. Era um dos pilares, um dos elementos que cita o mapa dos oráculos, que carregava com o grupo.

 

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Durante a caminhada, o Avatar segue diretamente pela estrutura da fortaleza, destruindo portas e paredes quando necessário. Dentro de alguns cômodos da fortaleza, soldados correm apavorados com a presença dos guerreiros. Em outros cômodos, mesas cerimoniais e câmaras com experimentos fracassados do vilão. O grupo é tomado por uma revolta muito grande. O Avatar segue calado.

 

Algumas horas de caminhada depois, o grupo adentra uma grande sala, repleta de armas. O curioso é que todas estavam banhadas em sangue, enquanto outras se encontravam com restos de corpos, dentro de símbolos com alusão a Sirik, Helm[3], Tyr, e outras divindades. O Avatar pára nesta sala e começa a destruir tudo. Aparentemente, o necromante queria prender nas armas os espíritos dos guerreiros que uma vez as possuíram. Era um ritual deveras macabro e tenebroso.

 

Korn, assistindo a tudo, repara numa adjacência da parede, e, com suas espadas, começa a forçar o local. Um enorme bloco de concreto cairia dali, revelando uma espada longa de lâmina bronze com uma pequena máscara no guarda-mão, de cor dourada. Seu cabo trazia símbolos de alusão a Helm. O Blade Singer fica encantado com a arma, e resolve guardá-la. Logo, voltaria ao grupo, que prosseguiria sua caminhada.

 

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A caminhada perduraria por mais algumas horas. Já viam que não se tratava de uma simples fortaleza, mas sim de uma cidadela, isolada de todo e qualquer contato com o mundo exterior. Por fim, o Avatar indica ao grupo um longo corredor, com várias tochas iluminando-o por toda sua extensão.

 

- Sigam por este caminho – Disse, desta vez, sendo entendido por todos – Ele os levará direto para o desafio ao qual vocês foram alertados. Transposto este obstáculo, terão vocês sucesso no resgate da jovem que vieram aqui encontrar. Boa sorte, bravos guerreiros. Parto agora, deixando um agrado para o sucesso de vossa missão. – Dito isso, o Avatar some envolto num enorme clarão dourado, sem antes projetar um pouco desta luz sobre os guerreiros. Logo eles sentiriam uma energia fortíssima, recuperando seus corpos cansados da longa jornada e dos ferimentos adquiridos com os sucessivos combates. Tinham seus ferimentos totalmente curados.

- Bem, - diz Hakkin aos outros – é isso aí... Vamos nessa, estou louco pra ver o que é esse “desafio ao qual fomos alertados”...

- É, bem que eu queria saber o que é que vamos enfrentar... – Diz Green Korn – Será que tem algo a ver com o tal “Gemini Cross” do qual falou aquela criaturinha, do lado de fora da fortaleza?

- Pode ter certeza disso, mané! – O grito é ouvido por todos, mas ninguém sabe de onde vem. É quando o elfo dourado se lembra da espada que encontrou na sala de armas. Ao sacar a espada, percebe que a pequena máscara se movia: era uma arma-viva.

- E aí, beleza? Pode me chamar de Slash Caliber, espada cantante ao seu dispor, louca pra detonar alguns otários! E aí, gatão, qual o seu nome?!

- Er... Korn...

- E aí, senhor Korn?! Vamos fazer uma grande dupla! Você segura, eu corto, você bate, eu dilacero, vai ser uma beleza!

- Tá bom, tá bom, cala um pouco a boca, certo? O que você sabe sobre esse tal Gemini Cross?

- Muuuuuita coisa! Quer saber sobre ele?

- Sim.

- Tem certeza?

- Sim.

- Absoluta?

- Sim...

- Mesmo-mesmo?

- Podemos parar com a palhaçada, por favor?! (Helm, por que faz isso comigo?)

- OK! Credo, não sou orelhudo que nem você, mas escuto bem, valeu? Pra falar a verdade, nem tenho orelhas... HÁ! Seguinte, o Gemini Cross, como eu, é um dos experimentos únicos do Nigro. Ele...

- Peraí, peraí, quem é Nigro?

- O mago necromante dono desta fortaleza... “Peraí” digo eu, cê quer saber sobre o Gemini ou sobre o Nigro?!

- O Gemini, por favor...

- Tudo bem. Como eu ia dizendo, o Gemini é como eu, um dos experimentos únicos do Nigro. Eu sou a única arma viva que ele conseguiu produzir, e o Gemini, o único ser híbrido desta ilha.

- Como assim, híbrido?

- Híbrido, ué! Ele é meio ser vivo, meio golem de ferro... algo desse estilo, bem... digamos... mortal, sei lá... bem perigoso, feio, etc e tal, manja?

- Sei, e ele tá no final desse corredor.

- Certo! Até que você não é tão tapado!

- Tá bom então. Pessoal, segundo a espada, fica no final desse corredor!

- Caramba, bailarino, – diz Hakkin – fui com a cara dessa espada... Pelo menos ela não é tão fresca que nem você.

- ...

 

O grupo continuaria seguindo até o final do corredor, onde deparariam com um portal de aço muito reforçado. Ironfist segue para abri-lo, mas antes de tocá-lo, este se abre sozinho. Atrás dele, a mesma criatura que os recebeu na entrada da cidadela, encontrava-se ali.

 

- Ora, ora, não é que o grupo de idiotas chegou até aqui em menos de um dia? Posso dizer que é uma proeza, mas ao mesmo tempo, uma idiotice, já que seguiram até o seu calvário rapidamente. Querem realmente resgatar a jovem filha de McLeoud? Ela está atrás deste portal. Vão logo buscá-la! HAHAHA... – A imagem voltaria a desaparecer. Ironfist, Green Korn, Kamaitachi, Limbus, Hakkin, Nazareth e os oito soldados remanescentes entram no que seria uma espécie de arena. A porta atrás deles começa a se fechar, ao mesmo tempo em que, do outro lado do campo de batalha, outra começava a se abrir. Do fundo escuro, apenas se via o brilho vermelho de um par de olhos. A espada de Korn fica eufórica.

- É ele, tenho certeza! É isso aí gatão, o pau vai comer agora, cê vai ver!

 

Logo surgiria, por dentre as sombras, um enorme lobisomem, de mais ou menos quatro metros de altura. Seu antebraço esquerdo, todo seu braço direito e parte de seu peito eram próteses metálicas magicamente aplicadas: eram partes de golem num ser vivo, algo nunca visto por nenhum dos guerreiros. O coração do monstro era exposto, por trás de uma redoma muito grossa de cristal. A criatura bestial tinha garras enormes, quase do tamanho de espadas curtas, e presas que pareciam ser capazes de dilacerar até mesmo o aço das armaduras mais resistentes. A criatura permanece imóvel, defronte ao grupo de guerreiros. Ironfist trata logo de invocar seu martelo, enquanto os outros começam a se preparar para a luta. O pequeno ser alado entraria voando na arena, pondo-se atrás da criatura.

 

- Gemini! Estes intrusos ousaram invadir a fortaleza do mestre! Mate todos!

 

O longo uivo dado pela criatura podia ser ouvido mesmo do lado de fora da fortaleza. Ele estava pronto para atacar, e sem demora, partiria para cima do grupo de heróis.

 

- Separem-se! – Manda Ironfist, golpeando em cheio a besta com seu martelo. Kamaitachi também começaria a correr em torno do monstro, com velocidade espantosa. Korn e Hakkin, com seus poderes élficos, voavam em torno do adversário, enquanto Limbus ordenava ao seu Lobisomem e ao Homem-Leão que atacassem o inimigo. Nazareth, à frente dos soldados, avança sobre o monstro com sua espada em punho. O ataque maciço é devastador, mas aparenta não surtir efeito algum sobre Gemini, que, com suas garras, consegue afastar Ironfist e os outros de perto de si.

- Gemini! – Ordenava a criatura alada – Use o ataque Gemini-Cross![4]

 

O grande lobisomem começava a concentrar uma enorme energia em suas garras. Logo, dispararia numa velocidade vertiginosa, atacando em ordem, Kamaitachi, Ironfist, Limbus, o lobisomem e os soldados. Sua velocidade era impressionante, superava muito a do dragão branco. O ataque é violento, e acaba por ferir gravemente Kamaitachi, o clérigo de Osíris e destrói, literalmente, a ossada do lobisomem que o servia. Ironfist, mesmo atingido, continua o ataque. Quatro soldados perderiam suas vidas no devastador ataque.

 

Kamaitachi, mesmo caído no chão e ferido, começa a se concentrar. Seu corpo começa a emanar uma aura branca, e o ar torna-se mais frio. Com força total, invoca seu chão de gelo.

 

- Shi-Ryu-Sui-Sen! – O poder do místico recobriria toda a arena. Gemini Cross ainda conseguia correr, prendendo seus pés no chão com suas garras, mas não conseguia mais atingir velocidade máxima. O esforço é absurdo, o que leva o místico a perder os sentidos.

 

Limbus, já desmaiado no chão, é socorrido por um dos soldados. Vendo a cena, o Homem-Leão volta-se para Gemini e passa a concentrar uma forte energia nas mãos. O mesmo ataque empregado contra Ironfist no confronto anterior seria utilizado agora contra o enorme adversário. Impondo suas mãos em direção ao lobisomem, o Homem-Leão dispara uma fortíssima descarga de energia diretamente no peito do monstro. Desequilibrado, torna-se presa fácil para o Toque Chocante de Green Korn e para o Ice Bow de Hakkin.

 

Ali perto, era a vez de Kamaitachi ser socorrido por Nazareth. Aos poucos, o dragão recuperava os sentidos. O monstro, mesmo ferido, continuava a atacar com ferocidade admirável. Mais três soldados perderiam a vida, e era a vez de Hakkin ser golpeado. O elfo negro perde a concentração, fazendo com que o arco de gelo desapareça. Diante de tal situação, Ironfist dá um enorme salto, com a mesma energia em forma de chamas que usou contra o Homem-Leão envolvendo seu martelo.

 

- Desculpem-me, mas vocês também serão atingidos... – É o único aviso de Ironfist, que usaria mais uma vez seu devastador golpe. Todos se reúnem num canto da arena. Kamaitachi, ainda não totalmente recuperado, faz um esforço sobre-humano para invocar sua muralha de gelo para proteger a si e a seus companheiros do ataque de Ironfist contra Gemini. O resultado final não é muito diferente do que o ocorrido na floresta: um enorme clarão, seguido de uma devastadora onda de choque, que acabaria com a arena e destruiria vários pilares e paredes no local. Desta vez, o ataque foi empregado diretamente contra Gemini Cross, que não resistiria à violência do golpe: parte de seu peito, junto com seu braço esquerdo, estavam completamente destruídos. Seu corpo desaba ao lado de Ironfist, numa pequena cratera ao centro da arena. Gemini absorvera boa parte do impacto.

- Como estão todos? – Pergunta Ironfist.

- Todos bem... – Diz Green Korn - Nem a muralha de gelo de Kamaitachi agüentou a violência do seu golpe, mas tratou de nos proteger muito bem.

- Como estão o místico e o clérigo?

- Estão bem, ainda temos poucas poções de cura, dá pra tratar de todos... Aliás, onde está o exército? – Korn não reparara, mas os trinta soldados que os acompanharam estavam mortos, com exceção de Nazareth. De todos, fora o único sobrevivente. Os outros sucumbiram ao longo da jornada na ilha de Bone Cleaver. O jovem guerreiro encontrava-se desolado por ver que foi o único que restara. Seus companheiros, seus amigos, estavam todos mortos. Só sentiu conforto em seu peito quando abordado por Ironfist.

- Não se sinta sozinho, meu amigo. Você é um guerreiro muito bravo, sobreviveu aos maiores perigos desta ilha. Seus companheiros estão agora, com certeza, ao lado de Tyr, por terem morrido cumprindo a missão de um verdadeiro guerreiro justo.

- Muito obrigado, senhor...

- Aqui não existe nenhum senhor... Guarde-o para quando encontrar seu Deus, meu amigo... Vamos seguindo, temos ainda de encontrar a jovem McLeoud.

- Sim... – Nazareth já transparecia um certo conforto com relação aos últimos acontecimentos. Seguiriam adiante Ironfist, seguido por Nazareth, Korn, Limbus, Hakkin e Kamaitachi. Estes três últimos, muito feridos, eram auxiliados por seus companheiros. As poções de cura chegavam ao fim, e ainda estavam muito cansados.

 

Entrando pela passagem de onde saíra Gemini Cross, o grupo encontraria um longo corredor, com uma pequena porta no final. Ao abrirem, encontram um velho senhor, preso numa estranha estrutura, por vários tubos e drenos, contendo diversos tipos de líquidos, de variadas cores, que circulavam incessantemente por seu corpo. Ao seu lado, uma bela jovem, deitada sobre uma estranha mesa. Não estava morta, nem havia sinais de que algum mal havia sido feito. Limbus nada sente com relação a ela, mas sente quanto àquela estranha figura: estava definhando, próximo da morte.

 

- Sejam bem-vindos, bravos “heróis”... O que querem aqui?

- Viemos a pedido de Siegfried McLeoud para resgatar sua filha das mãos de um antigo desafeto, que atende pelo nome de Nigro. – Diz Korn.

- Bem, eu sou Nigro, e essa jovem é a filha de McLeoud... Não posso impedi-los de resgatá-la, podem levá-la, apenas quero ficar em paz...

 

Korn pega a jovem em seus braços e a entrega a Ironfist. Estava bem, apenas desacordada. Antes de irem embora, o Blade Singer volta-se ao necromante.

 

- Por que essa vingança? E por que desistir tão facilmente? Suas atitudes não têm lógica alguma, velho!

- Lógica? O que sabe sobre lógica? Meu rapaz, a vingança não tem lógica. Vivemos num mundo em que o ódio é capaz de produzir coisas poderosas, inclusive a vingança. Onde existe ódio, não existe a lógica. Eu enfrentei McLeoud há mais ou menos 30 anos... Eu já era um mago de idade avançada, querendo apenas criar um ser perfeito, uma máquina de matar sob meu comando, quando o “grande herói” resolveu acabar com tudo... Toda a minha pesquisa, de mais de cinqüenta anos, até aquele dia, estava perdida. Tive de começar do zero, me isolei nesta ilha onde pude recomeçar meus experimentos. Fiz novas descobertas, mas meu ódio por Siegfried nunca diminuiu. Nos últimos anos, me vi portador de uma moléstia incurável, o que me obrigou a me enclausurar neste artefato, que me garantiu essa sobrevida que tenho levado nos últimos dez anos... E foi aqui, por meio de meus criados, que descobri que meu inimigo havia abandonado as batalhas e tinha constituído família... Meu desejo era acabar com tudo o que ele tinha, e por isso, raptei sua bela filha... Mas olhem para mim agora. O ódio me consumiu, sou só um velho tentando desesperadamente agarrar algumas migalhas de tempo para continuar vivo... Não existe mais razão para minha vingança, se não estarei vivo para ver o sofrimento de meu desafeto... Podem partir... Só espero que algum Deus... tenha... piedade de... minha alma...

 

Nigro viria a morrer diante dos olhos de Korn e de seus companheiros. Limbus aproxima-se do necromante para velar seu corpo.

 

- Que Osíris faça seu julgamento, meu amigo...

 

O grupo começa a seguir o caminho de volta. Param num cômodo vazio para descansar, para, em seguida, continuarem a jornada para fora da fortaleza. Em pouco tempo estariam de volta aos arredores da ilha de Bone Cleaver, onde Jack Cornell esperava-os com o navio que os levaria de volta.

 

- Macacos me mordam e tubarões me belisquem! Vocês acharam a filha do velho McLeoud mesmo! Suas sardinhas abissais, vocês são incríveis!

- Valeu, Jack... Agora toca essa embarcação de volta a Duke Abridge, pode ser?

- É pra já, amigão!

- Putz, quem é esse mané, hein, Korn?! – Pergunta a espada.

- É isso aí, eu falei a mesma coisa na hora que o conheci! – Interrompe Hakkin.

- Por Helm, vai ser uma longa viagem...

 

O grupo começava a seguir o caminho de volta a Duke Abridge. Tiveram sucesso em resgatar a filha do velho guerreiro Siegfried McLeoud. Todos procuravam descansar durante a volta, inclusive Ironfist. Os únicos que permaneciam acordados eram Limbus e Nazareth. O jovem guerreiro ainda pensava em tudo que havia acontecido: as batalhas, os monstros, os poderes que viu, a morte de seus amigos... Não entendia por que fora o único que ficora vivo, num exército de trinta homens. O clérigo de Osíris, de longe, encara Nazareth com um sorriso no rosto. Tinha as respostas para as perguntas do jovem soldado, e já sentia o que esperava por ele no futuro. Em sua mente, Limbus ouve uma mensagem que daria de vez cabo à suas suspeitas com relação a Nazareth.

 

“Se é o que você quer saber, meu filho – diz, na mente de Limbus, o Avatar de Osíris – a resposta é sim: este jovem também é um dos pilares que irá combater o mal. Una-o ao grupo, pois ele será um dos mais importantes elementos nesta batalha”

“Por que tu dizes isto, meu senhor?” – Diz mentalmente o clérigo.

“O tempo dir-te-á, meu filho” – Dito isto, a voz se cala. Limbus sente uma incrível sensação de paz dentro de seu peito. Sabia agora que era um dos elementos, e que Nazareth era outro, como suspeitava. Restava saber se seus outros companheiros eram os que iriam completar os chamados “Sete Pilares da Tríade”. Até lá, seguiria seus instintos e pediria para que Osíris guiasse seu caminho. Iria descansar agora. Logo chegariam a Duke Abridge.

 

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[1] Mago da esfera da necromancia.

 

[2] Representante do Deus, geralmente um guerreiro celestial que encarna o próprio poder da divindade.

 

[3] Deus da Batalha.

 

[4] “Cruz de Gêmeos”

 

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Aí está, mais um capítulo da Saga.

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8. O Resgate na Ilha de Bone Cleaver 

 

Depois de horas em alto mar, o grupo finalmente chega à ilha. Ironfist, à frente do grupo de guerreiros e dos 30 soldados, dá as últimas instruções antes de começarem a busca. Hakkin, usando sua levitação, sobe a cerca de 50 metros acima do chão. Repara numa grande construção à leste, muito além da floresta que teriam de atravessar, sobre uma montanha não muito alta, mas aparentemente, muito bem protegida. Voltando ao solo, o elfo negro indica a direção aos seus companheiros. O grupo começaria a jornada em busca da filha de Siegfried, a jovem Pietra McLeoud.

 

A mata era realmente muito cerrada. Por todos os lados, animais exóticos e mortalmente belos. Durante a caminhada, Green Korn começa a conversar com Ironfist e os outros.

 

- Quem será esse “desafeto” de Siegfried, que raptou sua filha e a trouxe para cá? Você sabe de alguma coisa, Ironfist?

- Sei pouco a respeito... Siegfried me disse que se trata de um necromante[1] muito poderoso, que passou os últimos anos criando monstros com sua magia. Disse também que esses seres vivem espalhados pela ilha, fiéis à vontade de seu criador. Por isso, devemos ficar atentos para evitar qualquer ataque surpresa.

- Um necromante... Curioso – diz Limbus. Mesmo sendo um clérigo de Osíris, Limbus Garnier tinha alguns de seus poderes voltados para a esfera da necromancia. Ia ser curioso ver o que o poder desse mago havia criado.

- Mas, vem cá, – diz Hakkin – há quanto tempo esse mané tá aqui? Não, porque se ele tá aqui já há algum tempo, deve ter um monte desses bichos soltos por aí...

- Não se preocupe, elfo. Seja quem forem, serão derrotados por nós. – diz Kamaitachi.

- Não estou preocupado não, fuinha, só quero que sobre alguns para eu acertar com meu arco “especial”, sacou?

 

Kamaitachi não responde. O grupo continua sua caminhada por dentro da mata, que se tornara mais densa. O dragão branco, com suas garras, e o elfo dourado, com suas bastardas, abrem o caminho por entre galhos e arbustos. Ironfist, que se encontrava à frente do grupo, pára. Sem dizer uma palavra, conjura seu martelo. Korn e Limbus, por meio de sinais, mandam que os soldados fiquem prontos. Ironfist havia percebido uma estranha movimentação nos arbustos e nas copas das árvores mais à frente. O grande guerreiro pede distância do grupo, que se afasta rapidamente, voltando cerca de 100 metros. Levantando seu martelo, Ironfist se prepara.

 

- Estejam prontos! – brada o guerreiro, golpeando o solo com sua arma, produzindo uma onda de choque fortíssima que viria a abrir uma enorme clareira. O grupo de heróis e o exército quase são arremessados longe. A densa mata agora era uma área desmatada e aberta. Os soldados permanecem atônitos com o poder do grande guerreiro. Não demoraria para que surgissem os causadores da agitação na floresta: saindo em meio às árvores caídas e arbustos arrancados, vários lobisomens levantavam-se, encarando os aventureiros que ousaram invadir os domínios de seu Mestre. Eram mais ou menos 12 criaturas, todas prontas para atacar.

 

Ironfist os encara com seu grande martelo em punho. Limbus, Hakkin, Kamaitachi e Korn já se encontravam prontos para o ataque. Os trinta soldados aguardavam por um sinal para darem início ao ataque. Um dos seres, com um longo e sonoro uivo, dá a ordem para que os outros lobisomens ataquem. A batalha teria início.

 

- Tomem cuidado, apesar de poucos, eles são mais ágeis! – Bradava Green Korn para o exército. O Blade Singer, com suas bastardas, golpeava seus adversários de maneira feroz. Porém, a agilidade daquelas bestas era sobre-humana, e muitas vezes os inimigos conseguiam se esquivar. Kamaitachi libera o Chão de Gelo no local da luta, para limitar os ataques dos adversários. Limbus, pegando algumas pedras no chão, ataca os monstros com seu ataque de Pedras Mágicas. Os soldados partem ferozmente sobre os monstros, armados de espadas longas e escudos. À frente deles, Nazareth, que a essa hora atingia mais uma criatura da ilha.

 

Os lobisomens também atacam violentamente. Sem demora, sete soldados são dilacerados pelas garras dos inimigos. O grupo de heróis começa a atacar com mais força. Ironfist, com sua esplêndida arma, esmaga um dos lobisomens, e ainda golpeia outro que se preparava para atacá-lo, arremessando a besta contra uma árvore. Limbus usa sua magia para prender corpos, e aprisiona mais um lobisomem, que viria a ser morto por Nazareth.

 

Alheio ao combate, Hakkin ainda não se manifestara. Restavam mais ou menos seis lobisomens no campo de batalha. Impondo sua mão para o alto, o elfo negro manifesta sua arma.

 

- Ice-Bow! – O belo arco de cristal se formaria nas mãos do arqueiro, que rapidamente, atinge três tiros em três lobisomens diferentes. Estes agora não passavam de estátuas de gelo sem vida. Kamaitachi, com suas garras, dá cabo a mais um lobisomem, enquanto Korn, com seu toque chocante, carbonizava outro. O último fica por conta de Limbus, que, levantando seus braços, invoca um raio, que atingiria em cheio o último dos monstros.

- Estão todos bem? – Sai perguntando Green Korn e Limbus para os outros. O grupo havia sofrido muitas baixas, mais ou menos oito soldados haviam tombado diante do ataque das ferozes bestas.

- Nada que umas horas de descanso não curem. – Diz Kamaitachi – Vamos parar por um instante, tratar dos feridos, e continuar depois nossa jornada.

- Parar agora pode ser perigoso... – diz um dos soldados.

- Não se fizermos a ronda. Cada um faz uma hora de vigília, durante quatro ou cinco horas... Não precisamos de mais que isso para continuarmos.

 

Todos concordam. Realmente, tirando Ironfist e Hakkin, todos os outros estavam feridos. Era preciso repousar e dar tempo para que Limbus, com suas magias de cura, pudesse atender aos que mais precisassem. As poções de cura eram muitas, mas tinham de ser poupadas.

 

Logo cairia a noite em Bone Cleaver. O grupo decide dormir para prosseguir a busca no dia seguinte, logo ao amanhecer.

 

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Logo pela manhã, Ironfist e os outros continuam a jornada. Estavam recuperados do confronto anterior. Limbus, com seus poderes, havia levantado um dos lobisomens para ser seu servo. O esqueleto agora acompanhava o grupo, com suas garras e presas afiadas.

 

De todos os soldados, o que parecia mais espantado era Nazareth. Parecia nunca ter participado de uma aventura antes. Isso chama a atenção de Green Korn.

 

- Surpreso com tudo isso?

- Não, senhor, mas é que nunca tinha visto guerreiros com tanto poder... Veja o que esse senhor fez, levantou a ossada de uma das criaturas!

- Ah, mas isso é por que você não viu quando ele levantou a ossada de um dragão...

- Ele fez isso com um dragão?!

- O Limbus tem mania de levantar esqueletos para servirem aos interesses do grupo... Com o tempo você se acostuma.

- Sei... Mas e o elfo negro? Onde conseguiu aquela arma?

- Num oráculo desses da vida, perdido numa caverna... Por quê?

- Já tinha ouvido falar a respeito de armas como aquela... Pertencentes a guerreiros da guarda pessoal do Imperador de Lenória, há uns trinta anos atrás...

 

O diálogo é interrompido por Ironfist. Novamente, pressentira que algo estava à espreita. A mata já não era mais densa naquela área da floresta. Kamaitachi começa a olhar à sua volta. Tenta entrar em harmonia com o ambiente para saber de onde vem a agitação. Com um sinal, o dragão pede para que todos se preparem. Não demoraria muito para que o místico voltasse sua atenção para a parte esquerda da floresta. Sabia que seus inimigos estavam ali.

 

- À esquerda!

- Formação ofensiva! – Bradava Ironfist, correndo sem seu martelo. No meio do caminho, enquanto corria, o guerreiro é atingido por um forte raio. Cessado o clarão, quem estava ali correndo já era o grande mamute branco. Derrubando árvores e abrindo caminho mata adentro, Ironfist encontra seus próximos adversários. Eram sim, como os lobisomens, homens-animais, porém, aparentavam ser mais poderosos.

 

Eram cinco criaturas muito grandes, todas com pelo menos dois metros de altura. Os seres tinham fisionomia humana, porém, aparência bestial. Eram um Homem-Leão, um Homem-Tigre, um Homem-Chacal, um Minotauro e uma Mulher-Leopardo. Aparentemente, o leão era quem comandava os outros.

 

O silêncio toma o lugar. O grande mamute põe-se à frente de todos, que a essa altura, já estavam prontos para atacar. Os 22 soldados remanescentes, com Nazareth à sua frente, ficam próximos ao local da batalha. Ironfist, com um urro, parte para cima dos homens-animais, seguido de Korn, Hakkin, Kamaitachi e Limbus. Nazareth viria logo atrás com os soldados. Com um golpe violento, Ironfist trata logo de acertar o Homem-Chacal em cheio, arremessando contra as árvores. Os outros monstros se separam, e partem também para o ataque. O Homem-Leão permanece imóvel, de braços cruzados, apenas assistindo ao combate.

 

Com uma velocidade assustadora, a Mulher-Leopardo e o Homem-Tigre avançam sobre o exército. Nazareth não recua, e com sua espada, ataca as bestas furiosas. Dois soldados já eram vítimas da ferocidade de seus algozes. Nazareth, para vingar seus companheiros, atinge um golpe na altura do ombro do Homem-Tigre, e outro na perna de sua companheira. Furioso, o monstro ataca o soldado, que se defende com seu escudo. De longe, Green Korn percebe que o guerreiro precisa de ajuda e parte para seu auxílio.

 

- Agüenta aí, moleque, o reforço tá chegando!

- Rápido... ele... é... muito forte! – Gritava Nazareth, defendendo-se com dificuldades dos ataques do inimigo. O Blade Singer, com suas bastardas, salta sobre o Homem-Tigre, desviando sua atenção do jovem soldado. Usando uma árvore alguns metros atrás, Korn impulsiona-se na direção de seu inimigo. Nazareth, aproveitando o descuido do monstro, atinge-o na altura do abdômen, e passa a atacar a Mulher-Leopardo, que a essa hora já havia feito mais três vítimas. A criatura debate-se de dor, quando percebe, muito tarde, o ataque do elfo dourado, que, usando sua mão esquerda, apoia-se sobre o ombro do inimigo, e, caindo em suas costas, trata de cravar a bastarda dourada em sua nuca. Já no chão, Korn descarrega seu toque chocante no adversário para dar de vez cabo à sua vida.

 

Ali perto, Nazareth, continua a atacar a Mulher-Leopardo. Porém, mesmo com sua bravura, o soldado não era páreo para o monstro. Quem compra a briga com a criatura é Kamaitachi, que com suas garras, desfere um golpe nas costas da adversária, apenas com o intuito de chamar sua atenção. Estava para ter início uma luta que iria medir não só os poderes, mas a velocidade dos golpes de cada um. Correndo em direção ao inimigo, o dragão branco começa sua investida. Para sua surpresa, a Mulher-Leopardo conseguia correr tão rápido quanto ele, acompanhando todos os movimentos do místico. Kamaitachi se surpreende, pois mesmo com a perna ferida, sua adversária conseguia se mover com extrema facilidade.

 

O dragão branco ataca com suas manoplas, mas tem seus golpes evitados pela adversária. Agora era a vez da criatura atacar o místico. Com suas garras, a Mulher-Leopardo atinge Kamaitachi na perna, que, com o ferimento, já tinha seus movimentos mais limitados. O guerreiro resolve parar para lutar com sua inimiga, pois se continuasse correndo, levaria grande desvantagem. O monstro também pára, e parte diretamente para cima do dragão branco. Kamaitachi desvia de seus ataques, e, impondo suas mãos em direção ao adversário, invoca a poderosa muralha de gelo:

 

- Koori-Ryu-Tsui-Sen! – O enorme bloco de gelo cairia sobre a criatura, que não conseguiria se desviar, tamanho era o diâmetro da muralha conjurada por Kamaitachi. Soterrado por centenas de quilos de gelo, o monstro seria alvo fácil para o místico, que com sua glaive, acabaria de vez com o confronto.

 

Hakkin e Limbus continuam a travar o combate com o Minotauro. A luta é equilibrada, já que o monstro não é nem um pouco veloz, mas em compensação, resistia muito bem às flechas do elfo negro e aos golpes de mangual de Limbus. Nem mesmo o lobisomem do clérigo de Osíris, com suas garras, parecia causar dano ao forte monstro.

 

- Pare de brincar, Hakkin, e usa seu arco de gelo!

- Pra que, se tá tão divertido?

- Divertido para você, que está aí flutuando... Por Osíris! – Limbus consegue se desviar de um golpe que seria certeiro na altura de seu pescoço.

- Nossa! Ei, padre, até que você não aparenta ser tão velho! Desviou legal dessa, hein?

- Pare de brincadeira e acaba logo com ele usando seu arco!

- Falou, falou... Ice-Bow! – O arco de Hakkin é invocado, e apontando para a criatura, estava pronto para disparar – Sai um chifrudo congelado no capricho! – O elfo negro dispara sua flecha em direção ao peito do minotauro. Parte do monstro se congelaria, fazendo com que a besta parasse momentaneamente. Porém, logo depois, ele voltaria a atacar, mesmo gravemente ferido pelo gelo da arma de Hakkin.

- Dispare outra, elfo!

- Não precisa mandar duas vezes! – Hakkin logo dispararia com uma cadência igual à que disparava com seu arco comum. Com mais três tiros, o minotauro finalmente tornar-se-ia uma estátua de gelo. Para garantir, Limbus impõe suas mãos contra o inimigo e invoca uma de suas magias.

- Quebre! – Gritando isso, a grande estátua de gelo se quebraria em vários pedaços. Era a magia de Despedaçar, utilizada contra seres vítreos ou de cristal.

 

Ironfist não teve dificuldades em massacrar o pobre Homem-Chacal, que já se assemelhava mais com uma massa de carne disforme. Restava somente o Homem-Leão, que não se movera do lugar em que estava desde o início do conflito. O grande mamute toma novamente forma humana, e, pondo a mão direita para cima, invoca o poderoso martelo.

 

- Iron-Fist! – A arma cai sobre a mão do bravo guerreiro, que chega a afundar um pouco no chão. – Fiquem aqui: ele é meu. – Dizendo isso, Ironfist caminha em direção do adversário, que começa a seguir também em direção ao guerreiro. Os dois param por um instante, antes de começar o combate. Logo, o que se veria era quase um clarão: a luta tinha início. Os dois atacavam ferozmente. Ironfist parecia se conter, não atacava com a mesma ferocidade com que atacava Maximus, mas mesmo assim dava trabalho para seu adversário. Golpeando o Homem-Leão em cheio com seu martelo, Ironfist o arremessa longe, mas este ainda consegue cair de pé. Longe de seu adversário, o monstro começa a concentrar uma forte energia nas suas mãos. Não demoraria muito, e o Homem-Leão dispararia contra Ironfist um poderoso feixe de energia, de cor avermelhada. O guerreiro é atingido em cheio no peito, chegando a ser jogado para trás, mas apara-se em uma árvore, quase a derrubando. O monstro começava a carregar novamente o golpe, quando Ironfist, voltando-se para seus companheiros, os alerta.

 

- Protejam-se! – dizendo isso, e com o martelo em punho, Ironfist salta a uma altura vertiginosa. Korn, Limbus, Kamaitachi, Hakkin, Nazareth e os nove soldados que restaram tentam descobrir a intenção de seu companheiro. Logo, do martelo de Ironfist, começaria a surgir uma forte aura vermelho-fogo, com a aparência de chamas. O guerreiro começava a cair no chão, pronto para golpear o adversário.

- Corre, cambada, que a coisa vai feder! – Bradava Hakkin aos outros, que já corriam do local desesperadamente. Ao golpear o adversário, o local é envolto por um enorme clarão, seguido de um estrondo ensurdecedor. O que viria após seria uma onda de choque devastando tudo à sua volta, inclusive jogando longe o grupo de heróis, que só não sofreu danos maiores porque já estava a uma boa distância.

- Mas que diabos foi isso?! – perguntava um dos soldados.

- Uma maneira discreta do Iron de dizer “adeus, trouxa”... Vamos lá! – diz Hakkin.

 

De volta ao local da luta, o grupo encontra uma clareira enorme, com uma gigantesca cratera em seu centro. Dentro da cratera, Ironfist, empunhando sua arma. A alguns metros dali, o corpo sem vida do Homem-Leão. Aparentemente ele não havia sido golpeado diretamente, mas a violência do ataque de Ironfist foi suficiente para acabar com ele.

 

- Caraca... – diz o elfo negro.

- Foi uma técnica especial que tive de usar. Nada mais.

- Já ouvi esse papo antes! Qualé, quantas “técnicas especiais” você tem? – pergunta Hakkin.

- Isso não tem importância. Vamos reunir os que restaram e parar para tratar dos ferimentos. Temos uma longa jornada ainda para chegar à fortaleza. Esses cinco deveriam ser as últimas defesas externas de nosso inimigo.

- Concordo, - diz Limbus – vou tratar os casos menos graves com minhas magias, os outros podem usar as poções de cura que dispomos. Vamos fixar acampamento fora dessa clareira para não ficarmos muito expostos.

- Certo. Nazareth, como estão os homens?

- Bem, senhor. Tivemos muitas baixas, mas os outros ainda estão em condições de lutar.

- Ótimo. Vamos lá. – diz Korn, dirigindo-se com os outros em direção à lateral da clareira, numa área mais fechada da mata. Limbus, antes de ir, começa seus rituais sobre o corpo do Homem-Leão, que logo, assim como o lobisomem, se levantaria para servir o clérigo. “Eu adoro esse trabalho” – pensa Limbus, enquanto vai se juntar ao grupo. A caminhada seria longa, mas em menos de um dia, chegariam à fortaleza do desconhecido desafeto de Siegfried McLeoud.

 

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Amanhece na desconhecida ilha. Em pouco mais de 12 horas, o grupo de heróis com seu exército chegam à imensa fortaleza, no cume da montanha mais alta de Bone Cleaver. Realmente, não existiam mais monstros para defendê-la do lado de fora. Entre suas monstruosas muralhas, um enorme portão de aço, com um símbolo indecifrável em seu centro. Ironfist se aproxima, juntamente com Green Korn e os outros.

 

- Vamos forçar o portão, talvez consigamos abri-lo.

- Certo! – Concorda o elfo dourado e os outros. Ao tocarem o gigantesco obstáculo, eles ouvem uma estridente risada, indicando desprezo por parte de alguém. Não sabiam de onde vinha o som, não viam nada a sua volta. Foi quando Limbus indicou para seus companheiros o responsável pela inquietação: um pequeno ser, com duas asas semelhantes às de um morcego, dotado de apenas uma boca, cheia de dentes pontiagudos, voava sobre o incauto grupo de guerreiros. Parecia ser um mensageiro.

- Seus idiotas, pensam que vão conseguir simplesmente adentrar a fortaleza de meu mestre e obter sucesso em sua empreitada? São mais tolos do que parecem! Pois eu lhes digo o seguinte: o que está por trás destas muralhas, será com certeza, o jazigo de vocês! Vamos, entrem! Gemini Cross espera por vocês! HAHAHA...

- Se tem uma coisa que me irrita, é um ser tosco voando que fala mais que eu! – Hakkin dispararia contra o ser uma de suas flechas, mas esta passaria direto através dele: era uma ilusão programada pelo necromante, dono daquela fortaleza, para amedrontar os heróis.

- Esquece, elfo, vamos entrar! – Kamaitachi começaria a empurrar o portal juntamente com Ironfist, Korn e Limbus. Nazareth e os outros oito soldados começariam a ajudar também. Logo, veriam o porquê do aviso da pequena ilusão: a fortaleza era enorme, e dispunha de várias entradas. Com certeza, levariam meses para percorrer todos os cômodos e passagens daquele lugar. Até lá, Pietra poderia estar morta. Era um enorme labirinto que deveria ser transposto por Ironfist e os outros.

- Viram o que eu quis dizer? – Interrompe a criatura – Nem em cem anos conseguirão o que querem! HAHAHA...

 

O grupo permanece calado. Queira ou não, ele tinha razão. Mal sabiam por onde começar. Foi quando Limbus, retirando seu manto e largando suas armas ao solo, põe-se de joelhos no chão. Com um pedaço de carvão que trazia consigo dentro de uma pequena sacola, começa a desenhar no chão um círculo e vários símbolos, semelhantes a runas. Ao terminar, coloca-se no centro do círculo e começa a orar devotamente ao seu Deus, Osíris, a divindade do julgamento na Terra dos Grandes Desertos.

 

- Rezar não adianta, padre... – Debocha Hakkin.

- Calado! – Manda Ironfist. Era a primeira vez que o guerreiro tomava alguma atitude repreensiva com relação ao grupo. Isso causa um certo espanto nos presentes. Nazareth não sabe por que, mas começa a sentir uma sensação de paz muito grande. Kamaitachi e Korn também sentem algo, mas não sabem dizer o que é. Aos poucos, para espanto do grupo, as marcas no chão começam a emitir um leve brilho dourado. Os olhos do clérigo tornam-se brancos, e o ar à sua volta começa a ser tomado por uma forte energia. As marcas de carvão agora estão completamente douradas, liberando um forte brilho em torno de Limbus. Pondo seus braços em direção aos céus, Limbus Garnier evoca fervorosamente por seu Deus.

- Osíris! – O grito do clérigo ecoa por toda a ilha de Bone Cleaver. Uma explosão de luz acontece no local onde Limbus encontra-se, formando uma enorme coluna de energia. Ao lado do círculo, a energia dourada começa a formar um portal, de brilho muito intenso. De dentro, começava a sair uma imponente figura, carregando consigo uma foice com dois gumes. Sua lâmina era simétrica, e, assim como seu cabo, totalmente dourada e coberta de runas. O ser trajava-se com uma armadura full plate dourada, com o símbolo de Osíris em seu peito, e, em suas costas, várias faixas douradas, movimentando-se com se vivas fossem, tomando formas semelhantes às de dois pares de asas. Diante do grupo, estava ninguém menos que o Avatar[2] do Deus Osíris. Limbus o evocou, para que pudesse ajudar o grupo em seu objetivo.

 

Sem dizer uma palavra, o Avatar encara um por um dos guerreiros. Encara por fim o clérigo, que, ainda de joelhos, explica a situação para seu Deus.

 

- Perdoe-me por incomodá-lo, meu Senhor, mas não vi outra maneira para proceder, diante de tal situação. Peço humildemente que possas nos guiar por entre os corredores desta fortaleza, até que encontremos a jovem inocente que se encontra sob jugo do dono deste local, um ser maligno que brinca com a vida como se um semelhante ao Senhor fosse. Por favor, meu Senhor, nos ajude.

- Levanta-te, Limbus... – Ordena o Avatar. – Tu, meu filho, não compreendes ainda a magnitude de tua missão neste mundo. Tu és um dos Sete Pilares da Tríade, que veio a este mundo combater o mal puro que assola a humanidade. Seu dever é o de fazer o bem, e de encontrar os outros que irão auxiliá-lo nesta guerra. Mesmo que essa missão, em que se envolveste agora, não pareça ter nada a ver com teus sonhos e pressentimentos, tem sim a ver com tua índole, de ajudar aos que precisam nas horas de sofrimento. Irei sim, meu filho, ajudá-lo neste momento, porém, ajudar-te-ei somente até onde me convir ser necessário.

- Obrigado, Senhor. Agradeço também por esclarecer essa dúvida que perdurava em minha alma nos últimos meses.

- Não há o que agradecer, meu filho. Mande seus companheiros nos seguir agora.

 

Limbus volta-se ao grupo e pede para que Ironfist e os outros comecem a seguí-lo. Ninguém conseguiu entender o diálogo entre Limbus e a divindade, vez que os dois conversavam na língua natal da Terra dos Grandes Desertos. Acharam prudente também não procurar saber do que se tratava, vez que, se fosse para ser do conhecimento geral, Limbus o tornaria. Já o clérigo de Osíris sentia uma paz indescritível dentro de si. As histórias eram reais, ele era o escolhido dos Deuses para vir a Lenor e combater o mal puro. Era um dos pilares, um dos elementos que cita o mapa dos oráculos, que carregava com o grupo.

 

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Durante a caminhada, o Avatar segue diretamente pela estrutura da fortaleza, destruindo portas e paredes quando necessário. Dentro de alguns cômodos da fortaleza, soldados correm apavorados com a presença dos guerreiros. Em outros cômodos, mesas cerimoniais e câmaras com experimentos fracassados do vilão. O grupo é tomado por uma revolta muito grande. O Avatar segue calado.

 

Algumas horas de caminhada depois, o grupo adentra uma grande sala, repleta de armas. O curioso é que todas estavam banhadas em sangue, enquanto outras se encontravam com restos de corpos, dentro de símbolos com alusão a Sirik, Helm[3], Tyr, e outras divindades. O Avatar pára nesta sala e começa a destruir tudo. Aparentemente, o necromante queria prender nas armas os espíritos dos guerreiros que uma vez as possuíram. Era um ritual deveras macabro e tenebroso.

 

Korn, assistindo a tudo, repara numa adjacência da parede, e, com suas espadas, começa a forçar o local. Um enorme bloco de concreto cairia dali, revelando uma espada longa de lâmina bronze com uma pequena máscara no guarda-mão, de cor dourada. Seu cabo trazia símbolos de alusão a Helm. O Blade Singer fica encantado com a arma, e resolve guardá-la. Logo, voltaria ao grupo, que prosseguiria sua caminhada.

 

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A caminhada perduraria por mais algumas horas. Já viam que não se tratava de uma simples fortaleza, mas sim de uma cidadela, isolada de todo e qualquer contato com o mundo exterior. Por fim, o Avatar indica ao grupo um longo corredor, com várias tochas iluminando-o por toda sua extensão.

 

- Sigam por este caminho – Disse, desta vez, sendo entendido por todos – Ele os levará direto para o desafio ao qual vocês foram alertados. Transposto este obstáculo, terão vocês sucesso no resgate da jovem que vieram aqui encontrar. Boa sorte, bravos guerreiros. Parto agora, deixando um agrado para o sucesso de vossa missão. – Dito isso, o Avatar some envolto num enorme clarão dourado, sem antes projetar um pouco desta luz sobre os guerreiros. Logo eles sentiriam uma energia fortíssima, recuperando seus corpos cansados da longa jornada e dos ferimentos adquiridos com os sucessivos combates. Tinham seus ferimentos totalmente curados.

- Bem, - diz Hakkin aos outros – é isso aí... Vamos nessa, estou louco pra ver o que é esse “desafio ao qual fomos alertados”...

- É, bem que eu queria saber o que é que vamos enfrentar... – Diz Green Korn – Será que tem algo a ver com o tal “Gemini Cross” do qual falou aquela criaturinha, do lado de fora da fortaleza?

- Pode ter certeza disso, mané! – O grito é ouvido por todos, mas ninguém sabe de onde vem. É quando o elfo dourado se lembra da espada que encontrou na sala de armas. Ao sacar a espada, percebe que a pequena máscara se movia: era uma arma-viva.

- E aí, beleza? Pode me chamar de Slash Caliber, espada cantante ao seu dispor, louca pra detonar alguns otários! E aí, gatão, qual o seu nome?!

- Er... Korn...

- E aí, senhor Korn?! Vamos fazer uma grande dupla! Você segura, eu corto, você bate, eu dilacero, vai ser uma beleza!

- Tá bom, tá bom, cala um pouco a boca, certo? O que você sabe sobre esse tal Gemini Cross?

- Muuuuuita coisa! Quer saber sobre ele?

- Sim.

- Tem certeza?

- Sim.

- Absoluta?

- Sim...

- Mesmo-mesmo?

- Podemos parar com a palhaçada, por favor?! (Helm, por que faz isso comigo?)

- OK! Credo, não sou orelhudo que nem você, mas escuto bem, valeu? Pra falar a verdade, nem tenho orelhas... HÁ! Seguinte, o Gemini Cross, como eu, é um dos experimentos únicos do Nigro. Ele...

- Peraí, peraí, quem é Nigro?

- O mago necromante dono desta fortaleza... “Peraí” digo eu, cê quer saber sobre o Gemini ou sobre o Nigro?!

- O Gemini, por favor...

- Tudo bem. Como eu ia dizendo, o Gemini é como eu, um dos experimentos únicos do Nigro. Eu sou a única arma viva que ele conseguiu produzir, e o Gemini, o único ser híbrido desta ilha.

- Como assim, híbrido?

- Híbrido, ué! Ele é meio ser vivo, meio golem de ferro... algo desse estilo, bem... digamos... mortal, sei lá... bem perigoso, feio, etc e tal, manja?

- Sei, e ele tá no final desse corredor.

- Certo! Até que você não é tão tapado!

- Tá bom então. Pessoal, segundo a espada, fica no final desse corredor!

- Caramba, bailarino, – diz Hakkin – fui com a cara dessa espada... Pelo menos ela não é tão fresca que nem você.

- ...

 

O grupo continuaria seguindo até o final do corredor, onde deparariam com um portal de aço muito reforçado. Ironfist segue para abri-lo, mas antes de tocá-lo, este se abre sozinho. Atrás dele, a mesma criatura que os recebeu na entrada da cidadela, encontrava-se ali.

 

- Ora, ora, não é que o grupo de idiotas chegou até aqui em menos de um dia? Posso dizer que é uma proeza, mas ao mesmo tempo, uma idiotice, já que seguiram até o seu calvário rapidamente. Querem realmente resgatar a jovem filha de McLeoud? Ela está atrás deste portal. Vão logo buscá-la! HAHAHA... – A imagem voltaria a desaparecer. Ironfist, Green Korn, Kamaitachi, Limbus, Hakkin, Nazareth e os oito soldados remanescentes entram no que seria uma espécie de arena. A porta atrás deles começa a se fechar, ao mesmo tempo em que, do outro lado do campo de batalha, outra começava a se abrir. Do fundo escuro, apenas se via o brilho vermelho de um par de olhos. A espada de Korn fica eufórica.

- É ele, tenho certeza! É isso aí gatão, o pau vai comer agora, cê vai ver!

 

Logo surgiria, por dentre as sombras, um enorme lobisomem, de mais ou menos quatro metros de altura. Seu antebraço esquerdo, todo seu braço direito e parte de seu peito eram próteses metálicas magicamente aplicadas: eram partes de golem num ser vivo, algo nunca visto por nenhum dos guerreiros. O coração do monstro era exposto, por trás de uma redoma muito grossa de cristal. A criatura bestial tinha garras enormes, quase do tamanho de espadas curtas, e presas que pareciam ser capazes de dilacerar até mesmo o aço das armaduras mais resistentes. A criatura permanece imóvel, defronte ao grupo de guerreiros. Ironfist trata logo de invocar seu martelo, enquanto os outros começam a se preparar para a luta. O pequeno ser alado entraria voando na arena, pondo-se atrás da criatura.

 

- Gemini! Estes intrusos ousaram invadir a fortaleza do mestre! Mate todos!

 

O longo uivo dado pela criatura podia ser ouvido mesmo do lado de fora da fortaleza. Ele estava pronto para atacar, e sem demora, partiria para cima do grupo de heróis.

 

- Separem-se! – Manda Ironfist, golpeando em cheio a besta com seu martelo. Kamaitachi também começaria a correr em torno do monstro, com velocidade espantosa. Korn e Hakkin, com seus poderes élficos, voavam em torno do adversário, enquanto Limbus ordenava ao seu Lobisomem e ao Homem-Leão que atacassem o inimigo. Nazareth, à frente dos soldados, avança sobre o monstro com sua espada em punho. O ataque maciço é devastador, mas aparenta não surtir efeito algum sobre Gemini, que, com suas garras, consegue afastar Ironfist e os outros de perto de si.

- Gemini! – Ordenava a criatura alada – Use o ataque Gemini-Cross![4]

 

O grande lobisomem começava a concentrar uma enorme energia em suas garras. Logo, dispararia numa velocidade vertiginosa, atacando em ordem, Kamaitachi, Ironfist, Limbus, o lobisomem e os soldados. Sua velocidade era impressionante, superava muito a do dragão branco. O ataque é violento, e acaba por ferir gravemente Kamaitachi, o clérigo de Osíris e destrói, literalmente, a ossada do lobisomem que o servia. Ironfist, mesmo atingido, continua o ataque. Quatro soldados perderiam suas vidas no devastador ataque.

 

Kamaitachi, mesmo caído no chão e ferido, começa a se concentrar. Seu corpo começa a emanar uma aura branca, e o ar torna-se mais frio. Com força total, invoca seu chão de gelo.

 

- Shi-Ryu-Sui-Sen! – O poder do místico recobriria toda a arena. Gemini Cross ainda conseguia correr, prendendo seus pés no chão com suas garras, mas não conseguia mais atingir velocidade máxima. O esforço é absurdo, o que leva o místico a perder os sentidos.

 

Limbus, já desmaiado no chão, é socorrido por um dos soldados. Vendo a cena, o Homem-Leão volta-se para Gemini e passa a concentrar uma forte energia nas mãos. O mesmo ataque empregado contra Ironfist no confronto anterior seria utilizado agora contra o enorme adversário. Impondo suas mãos em direção ao lobisomem, o Homem-Leão dispara uma fortíssima descarga de energia diretamente no peito do monstro. Desequilibrado, torna-se presa fácil para o Toque Chocante de Green Korn e para o Ice Bow de Hakkin.

 

Ali perto, era a vez de Kamaitachi ser socorrido por Nazareth. Aos poucos, o dragão recuperava os sentidos. O monstro, mesmo ferido, continuava a atacar com ferocidade admirável. Mais três soldados perderiam a vida, e era a vez de Hakkin ser golpeado. O elfo negro perde a concentração, fazendo com que o arco de gelo desapareça. Diante de tal situação, Ironfist dá um enorme salto, com a mesma energia em forma de chamas que usou contra o Homem-Leão envolvendo seu martelo.

 

- Desculpem-me, mas vocês também serão atingidos... – É o único aviso de Ironfist, que usaria mais uma vez seu devastador golpe. Todos se reúnem num canto da arena. Kamaitachi, ainda não totalmente recuperado, faz um esforço sobre-humano para invocar sua muralha de gelo para proteger a si e a seus companheiros do ataque de Ironfist contra Gemini. O resultado final não é muito diferente do que o ocorrido na floresta: um enorme clarão, seguido de uma devastadora onda de choque, que acabaria com a arena e destruiria vários pilares e paredes no local. Desta vez, o ataque foi empregado diretamente contra Gemini Cross, que não resistiria à violência do golpe: parte de seu peito, junto com seu braço esquerdo, estavam completamente destruídos. Seu corpo desaba ao lado de Ironfist, numa pequena cratera ao centro da arena. Gemini absorvera boa parte do impacto.

- Como estão todos? – Pergunta Ironfist.

- Todos bem... – Diz Green Korn - Nem a muralha de gelo de Kamaitachi agüentou a violência do seu golpe, mas tratou de nos proteger muito bem.

- Como estão o místico e o clérigo?

- Estão bem, ainda temos poucas poções de cura, dá pra tratar de todos... Aliás, onde está o exército? – Korn não reparara, mas os trinta soldados que os acompanharam estavam mortos, com exceção de Nazareth. De todos, fora o único sobrevivente. Os outros sucumbiram ao longo da jornada na ilha de Bone Cleaver. O jovem guerreiro encontrava-se desolado por ver que foi o único que restara. Seus companheiros, seus amigos, estavam todos mortos. Só sentiu conforto em seu peito quando abordado por Ironfist.

- Não se sinta sozinho, meu amigo. Você é um guerreiro muito bravo, sobreviveu aos maiores perigos desta ilha. Seus companheiros estão agora, com certeza, ao lado de Tyr, por terem morrido cumprindo a missão de um verdadeiro guerreiro justo.

- Muito obrigado, senhor...

- Aqui não existe nenhum senhor... Guarde-o para quando encontrar seu Deus, meu amigo... Vamos seguindo, temos ainda de encontrar a jovem McLeoud.

- Sim... – Nazareth já transparecia um certo conforto com relação aos últimos acontecimentos. Seguiriam adiante Ironfist, seguido por Nazareth, Korn, Limbus, Hakkin e Kamaitachi. Estes três últimos, muito feridos, eram auxiliados por seus companheiros. As poções de cura chegavam ao fim, e ainda estavam muito cansados.

 

Entrando pela passagem de onde saíra Gemini Cross, o grupo encontraria um longo corredor, com uma pequena porta no final. Ao abrirem, encontram um velho senhor, preso numa estranha estrutura, por vários tubos e drenos, contendo diversos tipos de líquidos, de variadas cores, que circulavam incessantemente por seu corpo. Ao seu lado, uma bela jovem, deitada sobre uma estranha mesa. Não estava morta, nem havia sinais de que algum mal havia sido feito. Limbus nada sente com relação a ela, mas sente quanto àquela estranha figura: estava definhando, próximo da morte.

 

- Sejam bem-vindos, bravos “heróis”... O que querem aqui?

- Viemos a pedido de Siegfried McLeoud para resgatar sua filha das mãos de um antigo desafeto, que atende pelo nome de Nigro. – Diz Korn.

- Bem, eu sou Nigro, e essa jovem é a filha de McLeoud... Não posso impedi-los de resgatá-la, podem levá-la, apenas quero ficar em paz...

 

Korn pega a jovem em seus braços e a entrega a Ironfist. Estava bem, apenas desacordada. Antes de irem embora, o Blade Singer volta-se ao necromante.

 

- Por que essa vingança? E por que desistir tão facilmente? Suas atitudes não têm lógica alguma, velho!

- Lógica? O que sabe sobre lógica? Meu rapaz, a vingança não tem lógica. Vivemos num mundo em que o ódio é capaz de produzir coisas poderosas, inclusive a vingança. Onde existe ódio, não existe a lógica. Eu enfrentei McLeoud há mais ou menos 30 anos... Eu já era um mago de idade avançada, querendo apenas criar um ser perfeito, uma máquina de matar sob meu comando, quando o “grande herói” resolveu acabar com tudo... Toda a minha pesquisa, de mais de cinqüenta anos, até aquele dia, estava perdida. Tive de começar do zero, me isolei nesta ilha onde pude recomeçar meus experimentos. Fiz novas descobertas, mas meu ódio por Siegfried nunca diminuiu. Nos últimos anos, me vi portador de uma moléstia incurável, o que me obrigou a me enclausurar neste artefato, que me garantiu essa sobrevida que tenho levado nos últimos dez anos... E foi aqui, por meio de meus criados, que descobri que meu inimigo havia abandonado as batalhas e tinha constituído família... Meu desejo era acabar com tudo o que ele tinha, e por isso, raptei sua bela filha... Mas olhem para mim agora. O ódio me consumiu, sou só um velho tentando desesperadamente agarrar algumas migalhas de tempo para continuar vivo... Não existe mais razão para minha vingança, se não estarei vivo para ver o sofrimento de meu desafeto... Podem partir... Só espero que algum Deus... tenha... piedade de... minha alma...

 

Nigro viria a morrer diante dos olhos de Korn e de seus companheiros. Limbus aproxima-se do necromante para velar seu corpo.

 

- Que Osíris faça seu julgamento, meu amigo...

 

O grupo começa a seguir o caminho de volta. Param num cômodo vazio para descansar, para, em seguida, continuarem a jornada para fora da fortaleza. Em pouco tempo estariam de volta aos arredores da ilha de Bone Cleaver, onde Jack Cornell esperava-os com o navio que os levaria de volta.

 

- Macacos me mordam e tubarões me belisquem! Vocês acharam a filha do velho McLeoud mesmo! Suas sardinhas abissais, vocês são incríveis!

- Valeu, Jack... Agora toca essa embarcação de volta a Duke Abridge, pode ser?

- É pra já, amigão!

- Putz, quem é esse mané, hein, Korn?! – Pergunta a espada.

- É isso aí, eu falei a mesma coisa na hora que o conheci! – Interrompe Hakkin.

- Por Helm, vai ser uma longa viagem...

 

O grupo começava a seguir o caminho de volta a Duke Abridge. Tiveram sucesso em resgatar a filha do velho guerreiro Siegfried McLeoud. Todos procuravam descansar durante a volta, inclusive Ironfist. Os únicos que permaneciam acordados eram Limbus e Nazareth. O jovem guerreiro ainda pensava em tudo que havia acontecido: as batalhas, os monstros, os poderes que viu, a morte de seus amigos... Não entendia por que fora o único que ficora vivo, num exército de trinta homens. O clérigo de Osíris, de longe, encara Nazareth com um sorriso no rosto. Tinha as respostas para as perguntas do jovem soldado, e já sentia o que esperava por ele no futuro. Em sua mente, Limbus ouve uma mensagem que daria de vez cabo à suas suspeitas com relação a Nazareth.

 

“Se é o que você quer saber, meu filho – diz, na mente de Limbus, o Avatar de Osíris – a resposta é sim: este jovem também é um dos pilares que irá combater o mal. Una-o ao grupo, pois ele será um dos mais importantes elementos nesta batalha”

“Por que tu dizes isto, meu senhor?” – Diz mentalmente o clérigo.

“O tempo dir-te-á, meu filho” – Dito isto, a voz se cala. Limbus sente uma incrível sensação de paz dentro de seu peito. Sabia agora que era um dos elementos, e que Nazareth era outro, como suspeitava. Restava saber se seus outros companheiros eram os que iriam completar os chamados “Sete Pilares da Tríade”. Até lá, seguiria seus instintos e pediria para que Osíris guiasse seu caminho. Iria descansar agora. Logo chegariam a Duke Abridge.

 

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[1] Mago da esfera da necromancia.

 

[2] Representante do Deus, geralmente um guerreiro celestial que encarna o próprio poder da divindade.

 

[3] Deus da Batalha.

 

[4] “Cruz de Gêmeos”

 

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Aí está, mais um capítulo da Saga.

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