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Crônicas de uma sombra


Aruke

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Ola, essa é a minha primeira fic e não trabalhei o tempo que gostaria nela, erros de português e estrutura provavelmente ocorreram, elogios e críticas serão muito bem vindo ^^

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                                    CRÔNICAS DE UMA SOMBRA

 

                                  I - ADEUS VELHO MUNDO

 

- Essa é uma era de heróis.

             Disse o rei pouco antes de falecer, frase alguma explica melhor a verdadeira essência de seu magnífico reino onde magia e criaturas fantásticas coexistem com humanos. Suas inalcançáveis montanhas, incontáveis florestas, perigosos desertos, mares que tocam o horizonte e suas distintas cidades escondiam muitos mistérios, em busca deles milhares de aventureiros arriscam suas vidas todos os dias, alguns procuram riquezas e fama, outros conhecimento e existem aqueles que buscam apenas uma força inigualável. Seu povo era forte e bravo e nenhum sonho ou objetivo era impossível de ser alcançado em suas terras, esse é o reino de Rune Midgar.

 

            Perto de uma dessas florestas existe uma antiga aldeia que parece ter parado no tempo, pois sua arquitetura clássica, com casas simples feitas de madeira e com telhados curvados permanecera imutável por centenas de anos; seu povo é amistoso e hospitaleiro sempre acolhendo viajantes dando-lhes comida e repouso, não há medo dentro de seus limites, pois também é conhecida por seus lendários caçadores cuja precisão além de inigualável é reconhecida por todo o mundo, alguns mais supersticiosos acreditam que a verdadeira missão desses caçadores era guardar a entrada de uma caverna amaldiçoada que boatos dizem existir em algum lugar dentro de seus domínios.

            E nessa aldeia residia um jovem garoto de cabelos curtos castanhos e olhos verdes cheios de vida, sua pele era branca e tinha uma constituição magra, não era fisicamente forte, mas era muito inteligente, tinha poucos amigos devido a sua personalidade introspectiva. Vivia apenas com sua mãe e sua vida era aparentemente feliz, não tinha grandes sonhos nem muitas aspirações, ele era apenas mais um garoto que passava desapercebido em sua pequena cidade. Seu nome era Rufus Nihil.

            Porém os habitantes daquela aldeia sabiam a verdade sobre a família Nihil e por isso nunca os aceitaram e sempre os trataram com desdém, o que ajudou a formar o jeito fechado de Rufus. Mas nada disso importava, tinha o amor e carinho de sua mãe e seus dois amigos inseparáveis Micab, um garoto grande com longos cabelos pretos e de aspecto pacifico devido a sua cara redonda e rosada e Portgas um pequeno rapaz loiro de cabeça quente, demonstrava isso em seu rosto carrancudo. Diferente de Rufus que não tinha nada planejado para seu futuro seus amigos tinham grandes sonhos, Micab almejava ser um famoso cavaleiro e um dia ser chefe da guarda real, enquanto Portgas queria ser um rico caçador colhendo recompensas por fugitivos, Rufus sentia que ambos não tinham capacidade para tanto, mas nunca comentou nada, pois admirava a dedicação e o empenho que eles tinham em seus treinamentos rudimentares e aparentemente pouco eficazes. Mesmo tendo pouco em comum eles eram bons amigos e viveram grandes pequenas aventuras em suas infâncias que muitas vezes se resumiam a apenas assistir escondido os treinos da guilda de arqueiros.

-         Vamos suas lesmas, nesse ritmo nós nunca vamos chegar a tempo de ver o treino dos arqueiros. – gritou Portgas

-         Não sei por que você ainda insiste em ver aquela coisa chata, nenhum de nós tem idade nem para virar aprendiz. – respondeu Rufus

-         Arrrrrrrrg, você é um molenga Rufus, nunca se sabe quando podemos ver algum segredo de batalha.

Micab apenas sorria e concordava com Portgas, era só isso que sabia fazer.

 

            Os anos foram passando e nada havia mudado, em lugares pacíficos como aquele eram raras as mudanças, podia ser monótono, mas passava um sentimento de segurança para seu povo. Rufus continuava sem rumo e seus amigos continuavam insistindo em seus treinos, Micab ainda era um aprendiz, pois a guilda dos espadachim residia em uma cidade muito distante, mas Portgas já havia se tornado um arqueiro como tanto sonhava. Intimavam Rufus para que treinasse com eles para que não fosse o único fraco do grupo, nunca o fez, não sabia o que queria fazer de sua vida, mas tinha a certeza que não queria lutar, queria apenas paz e tranqüilidade.

-         você continua o mesmo molenga de sempre, quando vai desistir dessas idéias idiotas de paz e começar a treinar com a gente? Vamos precisar de um noviço ou até mesmo um mercador, então vire um desses logo para nos ajudar! – gritou Portgas com uma voz que achava ser imponente.

- Talvez um dia, mas agora eu prefiro ficar aqui e ajudar em casa onde sou mais útil. - respondeu Rufus com uma irritante tranqüilidade.

            Sua casa era humilde, pois a única renda da família era a da venda de chapéus de palha que sua mãe fazia com uma perfeição invejável. Sabia que os negócios seriam melhores se não fosse a aversão que tinham deles, tornando o pequeno negocio quase que exclusivo para os viajantes e turistas, se sentia mal e responsável pela sofrível situação financeira da mãe, novamente nunca comentou nada, fingia estar sempre bem para não preocupa-la, era algo bem comum, tinha a tendência a agüentar o peso do mundo sozinho sem nunca reclamar ou culpar alguém por sua situação ruim, isso o fez amadurecer mais rápido que o normal e sem que percebesse seu coração lentamente se fechava para o mundo.

            O inverno daquele ano foi muito rigoroso, a neve não parava de cair e a temperatura de baixar, um tapete branco cobria tudo. Não se soube o por que, talvez por causa do frio os de saúde mais fraca ficaram doentes, entre eles a Sra. Nihil. A medicina não era muito desenvolvida e os curandeiros não conseguiram encontrar uma cura, nem mesmo as poções coloridas de cicatrização, como eram chamadas, funcionavam. Os anciões resolveram mandar um grupo de caçadores para a capital de Midgar em busca dos famosos sacerdotes que eram ditos possuidores de poderes divinos capazes de curar qualquer doença ou ferida. Mas a viajem seria perigosa e nada garantia o sucesso da missão, mas uma luz de esperança era necessária, lhes deram os melhores arcos e flechas dos mais variados elementos, além de uma soma considerável de zenys, a moeda local, e os mandaram em busca da salvação. O povo festejou e admirou a partida de seus heróis tendo a certeza de voltariam com a tão necessária ajuda.

-   Voltem logo!!! Tenham cuidado!!! Que os deuses guiem o seu caminho !!! - gritavam todos.

            Os dias passavam e o povo mantinha a fé de que seus bravos guerreiros logo voltariam, fizeram o máximo possível para agüentarem. Infelizmente a Sra. Nihil definhava na frente de seu filho e constantemente dizia a ele que tudo ficaria bem, angustiado, ele nada podia fazer para ajuda-la.

            Duas semanas passaram e ninguém retornou com a tão esperada ajuda e as primeiras fatalidades começaram a acorrer, velhos e crianças foram as primeiras vitimas, não demorou muito para que os mais resistentes falecessem também. Com o fim do inverno as perdas foram contabilizadas e estimaram que um terço da população havia sido consumida pelo que chamaram de a gripe sombria, pois sumiu na mesma maneira que apareceu, sem rastro algum. Porém nada podia medir a dor que surgiu com a primavera, pais perderam filhos e filhos ficaram órfãos, Rufus Nihil foi um deles; se antes não sabia o que fazer, agora mesmo que sua vida havia perdido o rumo, seus olhos haviam perdido o brilho e uma escuridão começou a tomar conta de seu coração até então puro.

            A aldeia estava tomada pelo mesmo sentimento de perda, mas ninguém o ajudou ou demonstrou compaixão, o desespero tomou conta de sua mente e o peso do mundo nunca lhe esmagara tanto os ombros, sentia-se culpado por não ter sido capaz de fazer nada e pela primeira vez desejou ser mais forte.

            Perguntava-se o que teria acontecido com os caçadores? Será que foram abatidos, se perderam ou apenas desistiram deles? Não! Nada importava mais, apenas acreditava que se tivesse força suficiente poderia ter ido junto e impedido que toda essa desgraça ocorresse. Era a sua maneira de lidar com a insuportável dor. 

            Após alguns meses de sofrimento decidiu que teria de desistir de seus ideais de paz e tranqüilidade e ingressar no mundo das lutas já que não queria nunca mais se sentir daquela maneira e precisaria ser mais forte se quisesse descobrir o que havia acontecido com os caçadores, já que o mundo era perigoso demais para alguém limitado e pobre como ele. Contentes com a decisão de seu amigo Portgas e Micab lhes deram uma adaga enferrujada e quase sem fio.

-         Obrigado pelo presente, mas vocês têm certeza que essa arma é útil, parece ser apenas uma faca de cozinha velha. – disse Rufus desanimado.

-    Como pode dizer isso dessa relíquia da minha família?!? Não sabe como posso me incomodar se souberem que eu lhe dei ela!!! - Portgas respondeu irritado

            Rufus aceitou o presente mesmo sabendo que na verdade era apenas uma faca  enferrujada, não tinha escolha, precisava de uma arma e sabia que no momento era a melhor opção que tinha. O que ele não sabia além de que seus amigos tinham armas melhores que não lhe emprestaram por puro egoísmo, era que em algum lugar de sua casa existia uma caixa que sua mãe havia escondido há muito tempo.

            Começou seu treino sem orientação alguma de seus companheiros, começou a duvidar da amizade deles, mas depois de vê-los lutarem achou melhor não depender de ninguém para aprender qualquer coisa, concordava que eram fisicamente fortes e habilidosos, mas usavam apenas força bruta para derrotar suas presas ao invés de algum tipo de estratégia e isso não lhe parecia correto. Suas primeiras lutas foram ridículas como ele achou que seriam, quase sendo morto por porings e lunáticos, seus golpes não eram precisos e quando acertavam causavam pouco dano, queria culpar o seu presente inútil, mas sabia que a sua habilidade bélica era inexistente e que ainda teria um longo caminho pela frente se quisesse realmente ser forte.

            Há cada novo dia, Portgas e Micab indiferentes a capacidade de Rufus o levavam para áreas de caça muito acima de seu baixo nível o que o fez desenvolver bem seus reflexos, desviando das furiosas e mortíferas investidas de esporos venenosos, salgueiros anciões e as vezes até pé grandes. Nessas horas sentia a diferença de forças entre ele e seus amigos que de maneira bruta e simples destruíam os mesmos monstros que tinha tanta dificuldade de se desviar. Sua determinação era o que o mantinha vivo e apesar de não gostar de tirar as vidas daquelas criaturas, sabia que era a única maneira de continuar, juntando miseráveis quantias de zeny pelos restos de seus pequenos abates para pagar por sua comida, seu coração doía cada vez mais, não sabia se era pela sua perda que o estava abatendo ou por seus valores terem sido arrancados de si.

            Em uma tarde Portgas encontrou seus amigos e impôs um plano que considerava incrível.

-         Essa noite nós vamos entrar na caverna que fica atrás da aldeia.

 

-         Mas essa caverna é terreno sagrado, ninguém pode entrar sem a autorização dos anciões. E afinal o que espera encontrar lá dentro? - Disse Rufus surpreso com a idéia

-         Ora essa seu idiota, nunca pensou o por que de ser proibido entrar? É claro que lá deve ter algum tesouro ou até mesmo uma maneira de ficar forte rápido, aqueles velhos egoístas não querem é dividir esse poder com o resto de nós! - respondeu Portgas como se tivesse sido ofendido

-         Você não acredita nessa bobagem, não é? - Rufus perguntou para Micab

-         Mas é claro que acredito, essa teoria faz muito sentido, se você não quiser ir não vá, mas nós vamos essa noite. – respondeu Micab olhando discretamente para Portgas

            Os dois cegos pela cobiça começaram a preparar suas melhores armas e poções para a noite que estava se aproximando, Rufus não havia se convencido da história contada, mas concordou em acompanha-los, mesmo sentindo no fundo de sua alma que não deviria ir ou deixa-los ir. Sabia também que sua presença faria pouca diferença, mas não agüentaria perder mais ninguém, se necessário daria sua vida para protege-los, uma bela e altruísta decisão da qual logo se arrependeria de ter tomado com tanta precipitação e inocência.

            A madrugada havia chegado e os jovens rapazes partiram escondidos para sua aventura proibida, dois deles carregados de suprimentos, espadas, arcos e flechas o outro com aspecto receoso carregava apenas uma faca velha, seguiram por uma trilha pouco usada e de difícil aceso que os levaria ao seu destino evitando assim os olhos treinados dos guardiões da aldeia e após algum tempo encontraram a entrada de um  antigo bosque.  

                        O céu estava limpo naquela noite, quase nenhuma nuvem cobria a majestosa lua cheia que parecia ser capaz de iluminar o mundo inteiro, no meio do antigo bosque um pequeno lago refletia sua beleza garantindo-lhe o aspecto de um grande espelho dada à pureza de suas águas; o vento, um pouco gélido, soprava delicadamente movendo as folhas das arvores e a grama, em gestos similares a uma dança causando uma harmonia incontestável de toda a natureza. Porém havia algo de perturbador nesse perfeito e bucólico cenário, não se ouvia som algum, como se todos os animais estivessem com medo de alguma força desconhecida e haviam se escondido.

            Sem perceber o perigo que os cercava os jovens entraram na clareira e se aproximaram do lago para descansar um pouco a fim de chegar na mística caverna com todas as suas forças.

-         Hahaha, viu seu cagão estamos quase na caverna e não vimos sequer um monstro, estamos com sorte hoje e você não queria vir, hahaha. - Disse o arrogante Portgas.

-         Ainda acho que devemos voltar esse silencio não é normal, alguma coisa parece errada aqui. -  Respondeu o temeroso Rufus.

-         Não seja imbecil, os  monstros devem ter me visto chegando e fugiram de medo, hahaha.

                        Rufus não respondeu dessa vez, o que fez o ego de Portgas inflar, apenas pensou que essa tinha sido a coisa mais idiota que já havia escutado e como seu amigo era intransigente seria melhor não contraria-lo, pois queria sair logo daquela sinistra clareira.

            De repente o delicado vento começou a soprar com agressividade como se estivesse tentando fugir de algo. Duas sombras saíram do meio das arvores em direção ao pequeno lago com uma velocidade tão grande que era impossível descrever suas reais formas, eram dois borrões negros, os três jovens que ali estavam levaram um susto tão grande que não conseguiam se mexer mesmo que suas vidas dependessem disso e no momento parecia que dependiam. Não parecendo se importar com eles, as duas sombras lutavam entre si com uma ferocidade inigualável, seus movimentos eram imperceptíveis e por onde passavam deixavam marcas de cortes parecidos com garras de animais. Não sabiam se eram homens ou demônios lutando, faíscas do choque de suas armas iluminavam ainda mais a já clara noite, Rufus fitava a surpreendentemente luta, com medo e admiração, nunca tinha visto tamanha demonstração de força e velocidade, por um breve momento desejou ser como aquelas sombras demoníacas, já Portgas e Micab só conseguiam pensar em como fugir dali sem serem percebidos, temendo por suas vidas.

            O embate continuou até que em um momento inesperado as sombras pararam e ficaram de costas entre si, agora se podia ver claramente suas verdadeiras formas, eram homens vestidos de preto, seus rostos eram cobertos por mascaras deixando apenas os olhos visíveis e usavam não uma, mas duas espadas pequenas que pareciam brotar de seus braços. Mesmo depois de alguns segundos a posição de ataque era mantida, mas algo estava diferente, havia uma poça de sangue aos pés de um dos homens, ele tombou e não se mexeu mais, o outro homem não saiu ileso da luta um corte profundo foi feito em seu peito e suas armas haviam sido esmigalhadas, após arrancar do pescoço de seu oponente um colar cujo pingente era uma mulher com uma faca do peito, o homem percebeu a presença dos jovens e os encarou com olhos similares aos de um verdadeiro demônio, em um segundo se deslocou e apareceu na frente deles, Portgas e Micab caíram de costas no chão pelo susto quase chorando de medo, Rufus que estava mais a frente sentia o mesmo medo dos amigos, mas não demonstrava, apenas olhava dentro dos assustadores olhos avermelhados daquele homem que apesar de possuir um corpo esguio era imponente.

            O homem pegou uma pequena pedra vermelha de um bolso escondido e a jogou nos pés de Rufus, a gema emanava uma energia estranha e instintivamente Rufus se jogou em cima dela pouco antes de explodir e liberar uma nuvem de poeira roxa, seu corpo havia absorvido boa parte da poeira e do impacto da explosão, o arremessando para trás. Gravemente ferido e desnorteado Rufus viu seus amigos fugirem aproveitando o barulho e a nuvem como distrações, o abandonando. Tentou se levantar e por alguns segundos conseguiu, mas não tinha mais forças e caiu de joelhos, algo estava errado, não conseguia respirar nem sentir seus membros, uma enorme dor tomou conta de seu corpo, parecia que estava sendo perfurado por centenas de facas incandescente, fazendo-o vomitar e tossir sangue, apesar de tudo se recusava a desistir, a raiva o mantinha consciente. Milhares de pensamentos e imagens giravam em sua mente naquele momento, nenhum fazia sentido, apenas repetia para si mesmo que não podia morrer ainda.

O homem de preto não perseguiu os dois que fugiram preferiu ficar assistindo a cena ao ver a insistência do jovem. Aproximou-se lentamente, retirando sua mascara revelando seus curtos e despenteados cabelos pretos e se abaixou até ele.

-         Gostei de você rapaz, espero que não morra, meu nome é Mionness, se sobreviver venha me procurar nos desertos de Morroc. - Disse em um tom de voz calmo diferente de sua aparência ameaçadora

            Após ter dito isso Mionness desapareceu no ar, Rufus continuou se arrastando tentando sobreviver a qualquer custo, mas logo desmaiou sem saber se acordaria algum dia.

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Pois é, terminei o segundo capítulo e já que ninguem postou nada ainda, não pude fazer melhorias.=/ 

Seria muito bom mesmo algumas opiniões, pois quero me tornar um escritor melhor...

 

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II – A ESPADA DE LOBO

 

            Já havia passado do meio dia, através de uma minúscula janela no teto o sol iluminava uma pútrida e subterrânea cela repleta de baratas, musgo e correntes enferrujadas; era pequena e no meio tinha uma maquina estranha com formato de uma mesa cheia de roldanas, rodas dentadas, pesos e cordas, que fazia a cela parecer menor, ao lado um monte de feno que era usado como cama, nele dormia uma jovem de longos cabelos pretos caindo em seu rosto belo e pueril, tinha um aspecto exausto e sujo. A cela podia ser considerada privada, pois se encontrava em uma sala com quarto pilares de pedra e apenas uma saída, uma enorme e pesada porta de madeira.

             Ouvindo a porta ranger, lentamente a jovem se revirou e tentou levantar, com muita dificuldade conseguiu apenas se sentar, pois seus pulsos e tornozelos estavam presos a correntes, ao fazer tal movimento suas roupas esfarrapadas descobriram parte de seu corpo revelando cortes e hematomas, marcas claras de tortura. Mesmo aparentando um estado tão decadente, seus olhos azuis demonstravam um fogo, uma determinação raramente vista, mal tinha forças para espantar os roedores que a cercavam e comiam seu alimento, mas seus olhos obstinados criavam uma atmosfera quase que imponente no local. Ignorando o olhar ameaçador, dois homens entraram na cela, um era pequeno, tinha a aparência grotesca, rosto deformado e parecia não ser muito inteligente, vestia um velho uniforme de soldado cheio de manchas de sangue seco e buracos; o outro apesar do oleoso cabelo verde penteado para trás e de um rosto pouco agradável aos olhos tinha a aparência mais nobre, usava uma versão melhor do mesmo uniforme, coberto com uma armadura prateada enfeitada com uma comprida capa vermelha a qual apenas cavaleiros tinham permissão de usar e uma espada longa na cintura e a ele lhe foi dado acesso exclusivo sobre a moça, talvez tivesse negado o serviço se soubesse quem ela era, mas dentro daquelas paredes os carcereiros nunca sabiam quem eram seus prisioneiros ou o por que de estarem presos, apenas lhe fora requisitado que descobrisse o nome do líder de um clã rebelde.

-     Bom dia donzela. Dormiu bem? Hehehe.  Pronta para outra sessão ou quem

sabe prefere me contar o que queremos saber? - disse com um tom arrogante e debochado o cavaleiro.

            Ela não respondeu nada, talvez não conseguisse ou mais provável, não queria. O cavaleiro, conhecido pelos seus métodos como carrasco, se aproximou para perguntar novamente e quando menos esperava, usando as poucas forças que lhe restavam, a jovem arremessou-se com uma tremenda velocidade em direção a ele, mas as correntes a impediram de alcança-lo.

-         Se for assim que prefere. - ele falou com um sorriso quase obsceno no rosto.

            E começou a soca-la com tamanha força que chegava a lhe doer o punho, o fato de ser uma mulher e estar imobilizada não o continha e de certo modo até o estimulava. Quando percebeu que ela estava quase desmaiando mandou o de aparência grotesca, chamando-o de ogro, retirar as correntes e a coloca-la na estranha mesa mecânica, amarando seus braços e pernas nas extremidades com as cordas que a mesa possuía.

            Girou uma manivela e a mesa ficou em pé, puxou uma alavanca e os pesos foram soltos caindo atrás da mesa, dolorosamente esticando os braços e pernas da injuriada mulher que se recusava a gritar, o sofrimento era visível em seu rosto, e a cada alavanca puxada mais pesos caiam aumentando a dor. Ele adorava aquele som metálico e fazia questão de demonstrar, sorrindo cada vez mais a cada novo barulho, não sendo o suficiente, o carrasco puxou uma adaga encravada de jóias e lentamente a passava na pele da jovem fazendo seu sangue escorrer até o chão. Afastado da dali o ogro assistia a cena com um olhar triste e demonstrava uma certa angustia pelo sofrimento demasiado que a moça sentia, mas não fazia, nem dizia nada sobre o que estava sentindo temendo um castigo ainda pior de seu superior uma vez que já fora severamente castigo por contradize-lo anteriormente.

            Após alguns minutos o carrasco resolveu parar um pouco para esperar-la recuperar as energias, não queria vê-la morta uma vez que perderia sua diversão e a informação necessária. Sentado, ficou olhando calmamente cada parte do corpo da jovem amarrada e quase inconsciente, novamente um sorrio deturpado apareceu seu rosto.

-         Retire-se da cela e só volte quando eu o chamar.- ele disse para ogro.

-         Senhor... Eu... - o ogro respondeu hesitante.

-         Você o que? Saia agora seu animal imprestável!  

                        O ogro abaixou a cabeça e saiu pressentindo que algo ainda pior aconteceria com a moça, nutria de uma afeição pela moça, pois mesmo trabalhando na prisão não era uma pessoa de má índole, tinha até uma certa ingenuidade decorrente de sua fraca capacidade mental.

            Permaneceu parado após fechar a pesada porta de madeira que levava a cela da jovem e com a orelha encostada nela escutou o barulho metálico da armadura do seu superior tocar o chão de pedra e logo após barulhos de madeira rangendo. Os grunhidos do carrasco o estavam perturbando, pois mesmo sendo ingênuo percebeu o que estava acontecendo ali dentro, um sentimento de inveja e ciúme começou a tomar conta de seu coração, alguns minutos passaram e o silencio tomou conta do lugar, percebendo isso correu para longe afim de que sua presença não fosse percebida, o carrasco abriu a porta de madeira e saiu com um olhar satisfeito e cansado.

-         Terminamos por hoje, tire-a da mesa e a acorrente. - disse ofegante.

                        Apenas balançou a cabeça de maneira afirmativa enquanto observava com olhos irados o carrasco sair da prisão, entrou na cela para cumpri seu dever e encontrou a jovem desmaiada, coberta de sangue e outras secreções. Ele a soltou das amarras e com um pano velho a limpou e carinhosamente a colocou em cima da cama de feno, com grande pesar na alma a acorrentou novamente.

            O ogro não conseguia dormir naquela noite, se revirava em sua pequena porem confortável cama pensando no que mais o carrasco podia fazer com a jovem e se ela estava bem após a severa tortura que recebera, decidiu contrariar as ordens de seus superiores e foi vê-la. Como seu quarto era na própria prisão não teve problemas para entrar na sala em que se encontrava a cela, a jovem estava sentada com um olhar de fúria, mas quando viu que ele estava lá, rapidamente mudou sua feição agressiva para uma mais frágil, pois havia percebido como o ogro a olhava e decidiu tirar proveito disso.

            Ele cuidadosamente se aproximou dela, quase como se tivesse medo daqueles enormes olhos azuis que o encaravam.

-         Por favor, me ajude, eu não agüento mais isso. – ela pediu com uma voz meiga quase chorando.

            A face do ogro começou a ficar rubra.:

-         O queeee.. eeeeu... posssssooo... faaaazer? -  ele perguntou gaguejando.

-         Apenas me traga algumas poções, são aqueles vidrinhos com um liquido vermelho dentro e a minha espada só isso, por favor. - disse com lagrimas escorrendo.

            Ele comovido seguiu até a sala de itens confiscados, era pequena e tinha apenas aquilo que os presos portavam antes de serem levados as suas celas, como não havia nada de valor dentro nunca estava guardada e sua porta era bastante frágil, arrombou-a e pegou aquilo que lhe fora requisitado, por sorte havia apenas uma espada lá dentro, sua bainha era velha, feia e era impossível de ser sacada. Retornando a cela.

-     Agora me solte, por favor, eu não quero mais ficar aqui.- pediu a jovem chorando mais

-         Eeeu.. não... tenhnho... aaaa... chave. -  respondeu com tristeza.

            Então apenas jogou as poções à jovem, que a pesar de não ter sido solta demonstrou muito agradecimento, o que o fez sorrir. Ela bebeu as poções que produziram um enorme efeito regenerativo, fechando as inúmeras feridas causadas pelo carrasco e restaurando boa parte de sua energia, após estar recuperada, ele lhe passou a velha espada e ao toca-la a jovem se sentiu completa novamente e a espada pareceu se sentir da mesma maneira, pois saiu de sua bainha facilmente, em seguida desferiu quatro golpes que partira todas as correntes que a aprisionavam e usou mais alguns para quebra a fechadura da cela. O ogro ainda estava parado na mesma posição que assumira para lhe jogar os itens, como se esperasse algum tipo de retribuição, ao perceber isso ela se aproximou e abraçou seu pescoço com os dois braços, ele retribuiu o gesto ficando ainda mais corado.  O abraço da jovem estava cada vez mais apertado e suas mãos começaram a encostar na cabeça dele, deixando-o cada vez mais feliz e excitado, de repente seu olhar meigo voltou a ser repleto de fúria.

-         Obrigado e desculpe. - ela sussurrou em seu ouvido

            E antes que ele percebesse em um movimento rápido ela girou suas mãos e quebrou seu pescoço, fazendo-o cair morto no chão, não demonstrou remorso apenas pegou as roupas dele, vestiu-as e colocou o corpo morto no monte de feno, o cobrindo de maneira que não poderiam reconhece-lo.

            Mais uma manhã iluminava aquela prisão, tudo parecia normal, não havia sinal algum do acontecimento da noite anterior. O carrasco entrou alegremente na sala como fazia todos os dias desde o encarceramento da jovem, mas dessa vez mais animado, pois ontem havia passado a noite em claro pensando em novas e sádicas técnicas que queria testar na moça, estava em um estado tão alegre que nem notara a ausência do ogro ou a inércia da jovem dentro da cela, preocupava-se apenas em satisfazer seus desejos. Repetiu a mesma irritante frase:

-   Bom dia donzela, dormiu bem? Hehehe

            Mas dessa vez nenhum músculo foi movido, estranhando a calma de sua fogosa diversão, se aproximou para inspeciona-la, quando percebeu que a porta fora arrombada rapidamente afastou o feno que a cobria para descobrir em seu lugar o corpo já gelado do ogro. Assustado com a situação pensou nas desagradáveis conseqüências que a fuga dela lhe traria e antes que pudesse se levantar e tomar alguma atitude a respeito sons de passos velozes saíram detrás de um dos pilares indo ao encontro do carrasco que rapidamente se virou para identificar a fonte do barulho, percebeu apenas uma lamina reluzente se aproximando de sua cabeça, rolou para traz a fim de evitar o golpe e puxou sua espada, descobriu que seu atacante era a jovem que tanto agredira.

-         A jovem donzela não acreditou que um golpe banal desses me pegaria desprevenido? Não alcancei esse titulo a toa.

     Continuou aliviado:

-         hehe, pensei que a donzela já estaria longe, sua teimosia me poupou de muitos problemas.

Dessa vez quem possuía um sorriso malicioso era a jovem.

-         Eu não iria embora sem um pedaço seu e você sabe qual eu quero - respondeu contente.

            O carrasco começou a rir, mas logo parou, ficando sem ar ao notar a espada que a jovem empunhava. Tinha a lamina longa, mais acinzentada que o normal e era levemente curvada, uma espada oriental conhecida como tsurugi, mas não era isso que chamou sua atenção, na lamina havia dois lobos encravados, não conseguia desviar o olhar deles e seu rosto empalideceu.

Não parava de repetir:

-         Dois lobos, dois lobos, dois lobos... não pode ser... você é...

                        Antes que terminasse a frase a jovem, ainda com o sorriso malicioso, começou a se aproximar dele. Beirando o desespero o carrasco partiu para o ataque desferindo incontáveis e furiosos golpes os quais a jovem bloqueava com muito esforço e sabia que se a situação não fosse invertida, sua derrota seria inevitável. Não conseguia achar uma brecha para um contra-ataque, havia calculado mal, sua força não havia sido recuperada plenamente e seu oponente apesar de ser um homem deplorável era muito mais habilidoso do que esperava.

            A luta continuava e a confiança dele aumentava a cada golpe que a empurrava mais e mais para a parede, até que cometeu um erro fatal, pensou por um instante que os rumores não eram verdadeiros e acreditou que iria ganhar. Desferiu um golpe lateral que achava ser o final, mas a jovem conseguiu bloquear colocando sua espada paralela ao corpo, aproveitou o descuido do inimigo e o acertou com uma cotovelada no nariz que o deixou tonto, aplicou em seguida um golpe certeiro que o desarmou e completou o atingindo na garganta com o cabo de sua arma, ele caiu no chão nocauteado pela dor e falta de ar.

            O carrasco foi acordado pelo mesmo som metálico que tanto adorava, só que dessa vez era ele que estava preso, ainda desnorteado, escutou a voz da jovem que estava parada ao seu lado ajustando a maquina.

-         Que bom que acordou, não teria graça de fazer isso em alguém desmaiado.

-         Por favor, não me mate eu lhe dou o que você quiser, mas, por favor, não me mate.

-         Tolinho, quem disse que eu vou te matar, eu disse que não sairia daqui sem um pedaço seu e é só isso que eu vou fazer.

            Sentiu um frio na espinha ao ouvir aquela frase que só piorou quando a jovem terminou de assegurar que estava imóvel. Já havia retirado as chaves, a armadura e as armas dele antes de prende-lo, pensou em usa-las, mas eram pesadas e grandes demais. Calmamente pegou a mesma adaga coberta de jóias que era usada em sua tortura e abaixou as calças dele.

-         Por favor, por favor, não faça isso eu posso te ajudar a escapar. - disse implorando clemência

-         Não preciso de sua ajuda.

-         Mas o castelo é complexo você vai precisar de um guia.

-         Conheço muito bem esse castelo.

            Respondeu a jovem enquanto aproximava a adaga cada vez mais, fazendo-o gritar mais alto.

-   NÃOOOOOOOO... Alguém me ajude!!!

            Indiferente aos gritos e com um golpe rápido o sangue jorrou em abundancia manchando as já sujas roupas da jovem, o choque foi tanto que o homem desmaiara pela segunda vez naquela manhã. Satisfeita com sua vingança a jovem conseguiu finalmente se concentrar em sua fuga, atravessou a grande porta de madeira e deixou para traz o lugar que tanta dor lhe causou.

            Seguiu por longos corredores e atravessou inúmeras celas repletas de seres que um dia foram humanos, pois após anos encarcerados essa condição lhes fora arrancada, suas costas curvadas, corpos secos e rostos assustados lhes faziam parecer ratos. Normalmente teria ao menos pensado em ajuda-los, mas a única coisa em sua mente era a fugir o mais rápido possível, possuía todas as chaves e conhecia aqueles corredores, sabia que não demoraria até concretizar seu desejo e nada, nem ninguém iria impedi-la, pensou isso após cravar sua espada no coração do único soldado que guardava a saída e ouvir-lo gritar, mas algo a distraiu, uma voz que surgiu de dentro de uma das celas:

-         ei garota, foi um bom golpe, agora que tal me tirar daqui?

            Era de um rapaz de cabelos brancos que tapavam seus olhos acinzentados, usava uma jaqueta de couro marrom, estava sentado e suas mãos estavam presas por luvas de metal que impediam o movimento dos dedos, isso chamou a atenção da jovem que por alguns instantes o olhou com duvida.

- não se preocupe garota, só quero que tires essas coisas de mim, depois eu me viro sozinho...

             O rapaz se aproximou das grades de sua cela e a jovem relutante e cautelosa retirou as luvas enquanto era observada atentamente pelos olhos cinzas e mesmo depois de removidas os dois ficaram parados por mais alguns instantes.

-  te devo uma - agradeceu com um pequeno sorriso.

            Virou as costas ao rapaz sem falar nada e subiu correndo o ultimo lance de escadas que a levaram até a parte superior do castelo, para seu infortúnio o grito não passou desapercebido, cinco soldados com armaduras haviam corrido para averiguar o ocorrido, três usavam espadas pesadas de duas mãos e capacetes, os outros dois apenas espadas simples de uma mão e escudos; ela estava com sua tsurugi sacada, pingando o sangue de sua ultima vitima, ainda cansada de sua luta com o carrasco lentamente assumiu a posição de batalha e se preparou para o inevitável combate contra os soldados que ao vê-la coberta de sangue se separaram para cerca-la.

 

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Ola, essa é a minha primeira fic e não trabalhei o tempo que gostaria nela, erros de português e estrutura provavelmente ocorreram, elogios e críticas serão muito bem vindo ^^

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                                    CRÔNICAS DE UMA SOMBRA

 

                                  I - ADEUS VELHO MUNDO

 

- Essa é uma era de heróis.

             Disse o rei pouco antes de falecer, frase alguma explica melhor a verdadeira essência de seu magnífico reino onde magia e criaturas fantásticas coexistem com humanos. Suas inalcançáveis montanhas, incontáveis florestas, perigosos desertos, mares que tocam o horizonte e suas distintas cidades escondiam muitos mistérios, em busca deles milhares de aventureiros arriscam suas vidas todos os dias, alguns procuram riquezas e fama, outros conhecimento e existem aqueles que buscam apenas uma força inigualável. Seu povo era forte e bravo e nenhum sonho ou objetivo era impossível de ser alcançado em suas terras, esse é o reino de Rune Midgar.

 

            Perto de uma dessas florestas existe uma antiga aldeia que parece ter parado no tempo, pois sua arquitetura clássica, com casas simples feitas de madeira e com telhados curvados permanecera imutável por centenas de anos; seu povo é amistoso e hospitaleiro sempre acolhendo viajantes dando-lhes comida e repouso, não há medo dentro de seus limites, pois também é conhecida por seus lendários caçadores cuja precisão além de inigualável é reconhecida por todo o mundo, alguns mais supersticiosos acreditam que a verdadeira missão desses caçadores era guardar a entrada de uma caverna amaldiçoada que boatos dizem existir em algum lugar dentro de seus domínios.

            E nessa aldeia residia um jovem garoto de cabelos curtos castanhos e olhos verdes cheios de vida, sua pele era branca e tinha uma constituição magra, não era fisicamente forte, mas era muito inteligente, tinha poucos amigos devido a sua personalidade introspectiva. Vivia apenas com sua mãe e sua vida era aparentemente feliz, não tinha grandes sonhos nem muitas aspirações, ele era apenas mais um garoto que passava desapercebido em sua pequena cidade. Seu nome era Rufus Nihil.

            Porém os habitantes daquela aldeia sabiam a verdade sobre a família Nihil e por isso nunca os aceitaram e sempre os trataram com desdém, o que ajudou a formar o jeito fechado de Rufus. Mas nada disso importava, tinha o amor e carinho de sua mãe e seus dois amigos inseparáveis Micab, um garoto grande com longos cabelos pretos e de aspecto pacifico devido a sua cara redonda e rosada e Portgas um pequeno rapaz loiro de cabeça quente, demonstrava isso em seu rosto carrancudo. Diferente de Rufus que não tinha nada planejado para seu futuro seus amigos tinham grandes sonhos, Micab almejava ser um famoso cavaleiro e um dia ser chefe da guarda real, enquanto Portgas queria ser um rico caçador colhendo recompensas por fugitivos, Rufus sentia que ambos não tinham capacidade para tanto, mas nunca comentou nada, pois admirava a dedicação e o empenho que eles tinham em seus treinamentos rudimentares e aparentemente pouco eficazes. Mesmo tendo pouco em comum eles eram bons amigos e viveram grandes pequenas aventuras em suas infâncias que muitas vezes se resumiam a apenas assistir escondido os treinos da guilda de arqueiros.

-         Vamos suas lesmas, nesse ritmo nós nunca vamos chegar a tempo de ver o treino dos arqueiros. – gritou Portgas

-         Não sei por que você ainda insiste em ver aquela coisa chata, nenhum de nós tem idade nem para virar aprendiz. – respondeu Rufus

-         Arrrrrrrrg, você é um molenga Rufus, nunca se sabe quando podemos ver algum segredo de batalha.

Micab apenas sorria e concordava com Portgas, era só isso que sabia fazer.

 

            Os anos foram passando e nada havia mudado, em lugares pacíficos como aquele eram raras as mudanças, podia ser monótono, mas passava um sentimento de segurança para seu povo. Rufus continuava sem rumo e seus amigos continuavam insistindo em seus treinos, Micab ainda era um aprendiz, pois a guilda dos espadachim residia em uma cidade muito distante, mas Portgas já havia se tornado um arqueiro como tanto sonhava. Intimavam Rufus para que treinasse com eles para que não fosse o único fraco do grupo, nunca o fez, não sabia o que queria fazer de sua vida, mas tinha a certeza que não queria lutar, queria apenas paz e tranqüilidade.

-         você continua o mesmo molenga de sempre, quando vai desistir dessas idéias idiotas de paz e começar a treinar com a gente? Vamos precisar de um noviço ou até mesmo um mercador, então vire um desses logo para nos ajudar! – gritou Portgas com uma voz que achava ser imponente.

- Talvez um dia, mas agora eu prefiro ficar aqui e ajudar em casa onde sou mais útil. - respondeu Rufus com uma irritante tranqüilidade.

            Sua casa era humilde, pois a única renda da família era a da venda de chapéus de palha que sua mãe fazia com uma perfeição invejável. Sabia que os negócios seriam melhores se não fosse a aversão que tinham deles, tornando o pequeno negocio quase que exclusivo para os viajantes e turistas, se sentia mal e responsável pela sofrível situação financeira da mãe, novamente nunca comentou nada, fingia estar sempre bem para não preocupa-la, era algo bem comum, tinha a tendência a agüentar o peso do mundo sozinho sem nunca reclamar ou culpar alguém por sua situação ruim, isso o fez amadurecer mais rápido que o normal e sem que percebesse seu coração lentamente se fechava para o mundo.

            O inverno daquele ano foi muito rigoroso, a neve não parava de cair e a temperatura de baixar, um tapete branco cobria tudo. Não se soube o por que, talvez por causa do frio os de saúde mais fraca ficaram doentes, entre eles a Sra. Nihil. A medicina não era muito desenvolvida e os curandeiros não conseguiram encontrar uma cura, nem mesmo as poções coloridas de cicatrização, como eram chamadas, funcionavam. Os anciões resolveram mandar um grupo de caçadores para a capital de Midgar em busca dos famosos sacerdotes que eram ditos possuidores de poderes divinos capazes de curar qualquer doença ou ferida. Mas a viajem seria perigosa e nada garantia o sucesso da missão, mas uma luz de esperança era necessária, lhes deram os melhores arcos e flechas dos mais variados elementos, além de uma soma considerável de zenys, a moeda local, e os mandaram em busca da salvação. O povo festejou e admirou a partida de seus heróis tendo a certeza de voltariam com a tão necessária ajuda.

-   Voltem logo!!! Tenham cuidado!!! Que os deuses guiem o seu caminho !!! - gritavam todos.

            Os dias passavam e o povo mantinha a fé de que seus bravos guerreiros logo voltariam, fizeram o máximo possível para agüentarem. Infelizmente a Sra. Nihil definhava na frente de seu filho e constantemente dizia a ele que tudo ficaria bem, angustiado, ele nada podia fazer para ajuda-la.

            Duas semanas passaram e ninguém retornou com a tão esperada ajuda e as primeiras fatalidades começaram a acorrer, velhos e crianças foram as primeiras vitimas, não demorou muito para que os mais resistentes falecessem também. Com o fim do inverno as perdas foram contabilizadas e estimaram que um terço da população havia sido consumida pelo que chamaram de a gripe sombria, pois sumiu na mesma maneira que apareceu, sem rastro algum. Porém nada podia medir a dor que surgiu com a primavera, pais perderam filhos e filhos ficaram órfãos, Rufus Nihil foi um deles; se antes não sabia o que fazer, agora mesmo que sua vida havia perdido o rumo, seus olhos haviam perdido o brilho e uma escuridão começou a tomar conta de seu coração até então puro.

            A aldeia estava tomada pelo mesmo sentimento de perda, mas ninguém o ajudou ou demonstrou compaixão, o desespero tomou conta de sua mente e o peso do mundo nunca lhe esmagara tanto os ombros, sentia-se culpado por não ter sido capaz de fazer nada e pela primeira vez desejou ser mais forte.

            Perguntava-se o que teria acontecido com os caçadores? Será que foram abatidos, se perderam ou apenas desistiram deles? Não! Nada importava mais, apenas acreditava que se tivesse força suficiente poderia ter ido junto e impedido que toda essa desgraça ocorresse. Era a sua maneira de lidar com a insuportável dor. 

            Após alguns meses de sofrimento decidiu que teria de desistir de seus ideais de paz e tranqüilidade e ingressar no mundo das lutas já que não queria nunca mais se sentir daquela maneira e precisaria ser mais forte se quisesse descobrir o que havia acontecido com os caçadores, já que o mundo era perigoso demais para alguém limitado e pobre como ele. Contentes com a decisão de seu amigo Portgas e Micab lhes deram uma adaga enferrujada e quase sem fio.

-         Obrigado pelo presente, mas vocês têm certeza que essa arma é útil, parece ser apenas uma faca de cozinha velha. – disse Rufus desanimado.

-    Como pode dizer isso dessa relíquia da minha família?!? Não sabe como posso me incomodar se souberem que eu lhe dei ela!!! - Portgas respondeu irritado

            Rufus aceitou o presente mesmo sabendo que na verdade era apenas uma faca  enferrujada, não tinha escolha, precisava de uma arma e sabia que no momento era a melhor opção que tinha. O que ele não sabia além de que seus amigos tinham armas melhores que não lhe emprestaram por puro egoísmo, era que em algum lugar de sua casa existia uma caixa que sua mãe havia escondido há muito tempo.

            Começou seu treino sem orientação alguma de seus companheiros, começou a duvidar da amizade deles, mas depois de vê-los lutarem achou melhor não depender de ninguém para aprender qualquer coisa, concordava que eram fisicamente fortes e habilidosos, mas usavam apenas força bruta para derrotar suas presas ao invés de algum tipo de estratégia e isso não lhe parecia correto. Suas primeiras lutas foram ridículas como ele achou que seriam, quase sendo morto por porings e lunáticos, seus golpes não eram precisos e quando acertavam causavam pouco dano, queria culpar o seu presente inútil, mas sabia que a sua habilidade bélica era inexistente e que ainda teria um longo caminho pela frente se quisesse realmente ser forte.

            Há cada novo dia, Portgas e Micab indiferentes a capacidade de Rufus o levavam para áreas de caça muito acima de seu baixo nível o que o fez desenvolver bem seus reflexos, desviando das furiosas e mortíferas investidas de esporos venenosos, salgueiros anciões e as vezes até pé grandes. Nessas horas sentia a diferença de forças entre ele e seus amigos que de maneira bruta e simples destruíam os mesmos monstros que tinha tanta dificuldade de se desviar. Sua determinação era o que o mantinha vivo e apesar de não gostar de tirar as vidas daquelas criaturas, sabia que era a única maneira de continuar, juntando miseráveis quantias de zeny pelos restos de seus pequenos abates para pagar por sua comida, seu coração doía cada vez mais, não sabia se era pela sua perda que o estava abatendo ou por seus valores terem sido arrancados de si.

            Em uma tarde Portgas encontrou seus amigos e impôs um plano que considerava incrível.

-         Essa noite nós vamos entrar na caverna que fica atrás da aldeia.

 

-         Mas essa caverna é terreno sagrado, ninguém pode entrar sem a autorização dos anciões. E afinal o que espera encontrar lá dentro? - Disse Rufus surpreso com a idéia

-         Ora essa seu idiota, nunca pensou o por que de ser proibido entrar? É claro que lá deve ter algum tesouro ou até mesmo uma maneira de ficar forte rápido, aqueles velhos egoístas não querem é dividir esse poder com o resto de nós! - respondeu Portgas como se tivesse sido ofendido

-         Você não acredita nessa bobagem, não é? - Rufus perguntou para Micab

-         Mas é claro que acredito, essa teoria faz muito sentido, se você não quiser ir não vá, mas nós vamos essa noite. – respondeu Micab olhando discretamente para Portgas

            Os dois cegos pela cobiça começaram a preparar suas melhores armas e poções para a noite que estava se aproximando, Rufus não havia se convencido da história contada, mas concordou em acompanha-los, mesmo sentindo no fundo de sua alma que não deviria ir ou deixa-los ir. Sabia também que sua presença faria pouca diferença, mas não agüentaria perder mais ninguém, se necessário daria sua vida para protege-los, uma bela e altruísta decisão da qual logo se arrependeria de ter tomado com tanta precipitação e inocência.

            A madrugada havia chegado e os jovens rapazes partiram escondidos para sua aventura proibida, dois deles carregados de suprimentos, espadas, arcos e flechas o outro com aspecto receoso carregava apenas uma faca velha, seguiram por uma trilha pouco usada e de difícil aceso que os levaria ao seu destino evitando assim os olhos treinados dos guardiões da aldeia e após algum tempo encontraram a entrada de um  antigo bosque.  

                        O céu estava limpo naquela noite, quase nenhuma nuvem cobria a majestosa lua cheia que parecia ser capaz de iluminar o mundo inteiro, no meio do antigo bosque um pequeno lago refletia sua beleza garantindo-lhe o aspecto de um grande espelho dada à pureza de suas águas; o vento, um pouco gélido, soprava delicadamente movendo as folhas das arvores e a grama, em gestos similares a uma dança causando uma harmonia incontestável de toda a natureza. Porém havia algo de perturbador nesse perfeito e bucólico cenário, não se ouvia som algum, como se todos os animais estivessem com medo de alguma força desconhecida e haviam se escondido.

            Sem perceber o perigo que os cercava os jovens entraram na clareira e se aproximaram do lago para descansar um pouco a fim de chegar na mística caverna com todas as suas forças.

-         Hahaha, viu seu cagão estamos quase na caverna e não vimos sequer um monstro, estamos com sorte hoje e você não queria vir, hahaha. - Disse o arrogante Portgas.

-         Ainda acho que devemos voltar esse silencio não é normal, alguma coisa parece errada aqui. -  Respondeu o temeroso Rufus.

-         Não seja imbecil, os  monstros devem ter me visto chegando e fugiram de medo, hahaha.

                        Rufus não respondeu dessa vez, o que fez o ego de Portgas inflar, apenas pensou que essa tinha sido a coisa mais idiota que já havia escutado e como seu amigo era intransigente seria melhor não contraria-lo, pois queria sair logo daquela sinistra clareira.

            De repente o delicado vento começou a soprar com agressividade como se estivesse tentando fugir de algo. Duas sombras saíram do meio das arvores em direção ao pequeno lago com uma velocidade tão grande que era impossível descrever suas reais formas, eram dois borrões negros, os três jovens que ali estavam levaram um susto tão grande que não conseguiam se mexer mesmo que suas vidas dependessem disso e no momento parecia que dependiam. Não parecendo se importar com eles, as duas sombras lutavam entre si com uma ferocidade inigualável, seus movimentos eram imperceptíveis e por onde passavam deixavam marcas de cortes parecidos com garras de animais. Não sabiam se eram homens ou demônios lutando, faíscas do choque de suas armas iluminavam ainda mais a já clara noite, Rufus fitava a surpreendentemente luta, com medo e admiração, nunca tinha visto tamanha demonstração de força e velocidade, por um breve momento desejou ser como aquelas sombras demoníacas, já Portgas e Micab só conseguiam pensar em como fugir dali sem serem percebidos, temendo por suas vidas.

            O embate continuou até que em um momento inesperado as sombras pararam e ficaram de costas entre si, agora se podia ver claramente suas verdadeiras formas, eram homens vestidos de preto, seus rostos eram cobertos por mascaras deixando apenas os olhos visíveis e usavam não uma, mas duas espadas pequenas que pareciam brotar de seus braços. Mesmo depois de alguns segundos a posição de ataque era mantida, mas algo estava diferente, havia uma poça de sangue aos pés de um dos homens, ele tombou e não se mexeu mais, o outro homem não saiu ileso da luta um corte profundo foi feito em seu peito e suas armas haviam sido esmigalhadas, após arrancar do pescoço de seu oponente um colar cujo pingente era uma mulher com uma faca do peito, o homem percebeu a presença dos jovens e os encarou com olhos similares aos de um verdadeiro demônio, em um segundo se deslocou e apareceu na frente deles, Portgas e Micab caíram de costas no chão pelo susto quase chorando de medo, Rufus que estava mais a frente sentia o mesmo medo dos amigos, mas não demonstrava, apenas olhava dentro dos assustadores olhos avermelhados daquele homem que apesar de possuir um corpo esguio era imponente.

            O homem pegou uma pequena pedra vermelha de um bolso escondido e a jogou nos pés de Rufus, a gema emanava uma energia estranha e instintivamente Rufus se jogou em cima dela pouco antes de explodir e liberar uma nuvem de poeira roxa, seu corpo havia absorvido boa parte da poeira e do impacto da explosão, o arremessando para trás. Gravemente ferido e desnorteado Rufus viu seus amigos fugirem aproveitando o barulho e a nuvem como distrações, o abandonando. Tentou se levantar e por alguns segundos conseguiu, mas não tinha mais forças e caiu de joelhos, algo estava errado, não conseguia respirar nem sentir seus membros, uma enorme dor tomou conta de seu corpo, parecia que estava sendo perfurado por centenas de facas incandescente, fazendo-o vomitar e tossir sangue, apesar de tudo se recusava a desistir, a raiva o mantinha consciente. Milhares de pensamentos e imagens giravam em sua mente naquele momento, nenhum fazia sentido, apenas repetia para si mesmo que não podia morrer ainda.

O homem de preto não perseguiu os dois que fugiram preferiu ficar assistindo a cena ao ver a insistência do jovem. Aproximou-se lentamente, retirando sua mascara revelando seus curtos e despenteados cabelos pretos e se abaixou até ele.

-         Gostei de você rapaz, espero que não morra, meu nome é Mionness, se sobreviver venha me procurar nos desertos de Morroc. - Disse em um tom de voz calmo diferente de sua aparência ameaçadora

            Após ter dito isso Mionness desapareceu no ar, Rufus continuou se arrastando tentando sobreviver a qualquer custo, mas logo desmaiou sem saber se acordaria algum dia.

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Pois é, terminei o segundo capítulo e já que ninguem postou nada ainda, não pude fazer melhorias.=/ 

Seria muito bom mesmo algumas opiniões, pois quero me tornar um escritor melhor...

 

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II – A ESPADA DE LOBO

 

            Já havia passado do meio dia, através de uma minúscula janela no teto o sol iluminava uma pútrida e subterrânea cela repleta de baratas, musgo e correntes enferrujadas; era pequena e no meio tinha uma maquina estranha com formato de uma mesa cheia de roldanas, rodas dentadas, pesos e cordas, que fazia a cela parecer menor, ao lado um monte de feno que era usado como cama, nele dormia uma jovem de longos cabelos pretos caindo em seu rosto belo e pueril, tinha um aspecto exausto e sujo. A cela podia ser considerada privada, pois se encontrava em uma sala com quarto pilares de pedra e apenas uma saída, uma enorme e pesada porta de madeira.

             Ouvindo a porta ranger, lentamente a jovem se revirou e tentou levantar, com muita dificuldade conseguiu apenas se sentar, pois seus pulsos e tornozelos estavam presos a correntes, ao fazer tal movimento suas roupas esfarrapadas descobriram parte de seu corpo revelando cortes e hematomas, marcas claras de tortura. Mesmo aparentando um estado tão decadente, seus olhos azuis demonstravam um fogo, uma determinação raramente vista, mal tinha forças para espantar os roedores que a cercavam e comiam seu alimento, mas seus olhos obstinados criavam uma atmosfera quase que imponente no local. Ignorando o olhar ameaçador, dois homens entraram na cela, um era pequeno, tinha a aparência grotesca, rosto deformado e parecia não ser muito inteligente, vestia um velho uniforme de soldado cheio de manchas de sangue seco e buracos; o outro apesar do oleoso cabelo verde penteado para trás e de um rosto pouco agradável aos olhos tinha a aparência mais nobre, usava uma versão melhor do mesmo uniforme, coberto com uma armadura prateada enfeitada com uma comprida capa vermelha a qual apenas cavaleiros tinham permissão de usar e uma espada longa na cintura e a ele lhe foi dado acesso exclusivo sobre a moça, talvez tivesse negado o serviço se soubesse quem ela era, mas dentro daquelas paredes os carcereiros nunca sabiam quem eram seus prisioneiros ou o por que de estarem presos, apenas lhe fora requisitado que descobrisse o nome do líder de um clã rebelde.

-     Bom dia donzela. Dormiu bem? Hehehe.  Pronta para outra sessão ou quem

sabe prefere me contar o que queremos saber? - disse com um tom arrogante e debochado o cavaleiro.

            Ela não respondeu nada, talvez não conseguisse ou mais provável, não queria. O cavaleiro, conhecido pelos seus métodos como carrasco, se aproximou para perguntar novamente e quando menos esperava, usando as poucas forças que lhe restavam, a jovem arremessou-se com uma tremenda velocidade em direção a ele, mas as correntes a impediram de alcança-lo.

-         Se for assim que prefere. - ele falou com um sorriso quase obsceno no rosto.

            E começou a soca-la com tamanha força que chegava a lhe doer o punho, o fato de ser uma mulher e estar imobilizada não o continha e de certo modo até o estimulava. Quando percebeu que ela estava quase desmaiando mandou o de aparência grotesca, chamando-o de ogro, retirar as correntes e a coloca-la na estranha mesa mecânica, amarando seus braços e pernas nas extremidades com as cordas que a mesa possuía.

            Girou uma manivela e a mesa ficou em pé, puxou uma alavanca e os pesos foram soltos caindo atrás da mesa, dolorosamente esticando os braços e pernas da injuriada mulher que se recusava a gritar, o sofrimento era visível em seu rosto, e a cada alavanca puxada mais pesos caiam aumentando a dor. Ele adorava aquele som metálico e fazia questão de demonstrar, sorrindo cada vez mais a cada novo barulho, não sendo o suficiente, o carrasco puxou uma adaga encravada de jóias e lentamente a passava na pele da jovem fazendo seu sangue escorrer até o chão. Afastado da dali o ogro assistia a cena com um olhar triste e demonstrava uma certa angustia pelo sofrimento demasiado que a moça sentia, mas não fazia, nem dizia nada sobre o que estava sentindo temendo um castigo ainda pior de seu superior uma vez que já fora severamente castigo por contradize-lo anteriormente.

            Após alguns minutos o carrasco resolveu parar um pouco para esperar-la recuperar as energias, não queria vê-la morta uma vez que perderia sua diversão e a informação necessária. Sentado, ficou olhando calmamente cada parte do corpo da jovem amarrada e quase inconsciente, novamente um sorrio deturpado apareceu seu rosto.

-         Retire-se da cela e só volte quando eu o chamar.- ele disse para ogro.

-         Senhor... Eu... - o ogro respondeu hesitante.

-         Você o que? Saia agora seu animal imprestável!  

                        O ogro abaixou a cabeça e saiu pressentindo que algo ainda pior aconteceria com a moça, nutria de uma afeição pela moça, pois mesmo trabalhando na prisão não era uma pessoa de má índole, tinha até uma certa ingenuidade decorrente de sua fraca capacidade mental.

            Permaneceu parado após fechar a pesada porta de madeira que levava a cela da jovem e com a orelha encostada nela escutou o barulho metálico da armadura do seu superior tocar o chão de pedra e logo após barulhos de madeira rangendo. Os grunhidos do carrasco o estavam perturbando, pois mesmo sendo ingênuo percebeu o que estava acontecendo ali dentro, um sentimento de inveja e ciúme começou a tomar conta de seu coração, alguns minutos passaram e o silencio tomou conta do lugar, percebendo isso correu para longe afim de que sua presença não fosse percebida, o carrasco abriu a porta de madeira e saiu com um olhar satisfeito e cansado.

-         Terminamos por hoje, tire-a da mesa e a acorrente. - disse ofegante.

                        Apenas balançou a cabeça de maneira afirmativa enquanto observava com olhos irados o carrasco sair da prisão, entrou na cela para cumpri seu dever e encontrou a jovem desmaiada, coberta de sangue e outras secreções. Ele a soltou das amarras e com um pano velho a limpou e carinhosamente a colocou em cima da cama de feno, com grande pesar na alma a acorrentou novamente.

            O ogro não conseguia dormir naquela noite, se revirava em sua pequena porem confortável cama pensando no que mais o carrasco podia fazer com a jovem e se ela estava bem após a severa tortura que recebera, decidiu contrariar as ordens de seus superiores e foi vê-la. Como seu quarto era na própria prisão não teve problemas para entrar na sala em que se encontrava a cela, a jovem estava sentada com um olhar de fúria, mas quando viu que ele estava lá, rapidamente mudou sua feição agressiva para uma mais frágil, pois havia percebido como o ogro a olhava e decidiu tirar proveito disso.

            Ele cuidadosamente se aproximou dela, quase como se tivesse medo daqueles enormes olhos azuis que o encaravam.

-         Por favor, me ajude, eu não agüento mais isso. – ela pediu com uma voz meiga quase chorando.

            A face do ogro começou a ficar rubra.:

-         O queeee.. eeeeu... posssssooo... faaaazer? -  ele perguntou gaguejando.

-         Apenas me traga algumas poções, são aqueles vidrinhos com um liquido vermelho dentro e a minha espada só isso, por favor. - disse com lagrimas escorrendo.

            Ele comovido seguiu até a sala de itens confiscados, era pequena e tinha apenas aquilo que os presos portavam antes de serem levados as suas celas, como não havia nada de valor dentro nunca estava guardada e sua porta era bastante frágil, arrombou-a e pegou aquilo que lhe fora requisitado, por sorte havia apenas uma espada lá dentro, sua bainha era velha, feia e era impossível de ser sacada. Retornando a cela.

-     Agora me solte, por favor, eu não quero mais ficar aqui.- pediu a jovem chorando mais

-         Eeeu.. não... tenhnho... aaaa... chave. -  respondeu com tristeza.

            Então apenas jogou as poções à jovem, que a pesar de não ter sido solta demonstrou muito agradecimento, o que o fez sorrir. Ela bebeu as poções que produziram um enorme efeito regenerativo, fechando as inúmeras feridas causadas pelo carrasco e restaurando boa parte de sua energia, após estar recuperada, ele lhe passou a velha espada e ao toca-la a jovem se sentiu completa novamente e a espada pareceu se sentir da mesma maneira, pois saiu de sua bainha facilmente, em seguida desferiu quatro golpes que partira todas as correntes que a aprisionavam e usou mais alguns para quebra a fechadura da cela. O ogro ainda estava parado na mesma posição que assumira para lhe jogar os itens, como se esperasse algum tipo de retribuição, ao perceber isso ela se aproximou e abraçou seu pescoço com os dois braços, ele retribuiu o gesto ficando ainda mais corado.  O abraço da jovem estava cada vez mais apertado e suas mãos começaram a encostar na cabeça dele, deixando-o cada vez mais feliz e excitado, de repente seu olhar meigo voltou a ser repleto de fúria.

-         Obrigado e desculpe. - ela sussurrou em seu ouvido

            E antes que ele percebesse em um movimento rápido ela girou suas mãos e quebrou seu pescoço, fazendo-o cair morto no chão, não demonstrou remorso apenas pegou as roupas dele, vestiu-as e colocou o corpo morto no monte de feno, o cobrindo de maneira que não poderiam reconhece-lo.

            Mais uma manhã iluminava aquela prisão, tudo parecia normal, não havia sinal algum do acontecimento da noite anterior. O carrasco entrou alegremente na sala como fazia todos os dias desde o encarceramento da jovem, mas dessa vez mais animado, pois ontem havia passado a noite em claro pensando em novas e sádicas técnicas que queria testar na moça, estava em um estado tão alegre que nem notara a ausência do ogro ou a inércia da jovem dentro da cela, preocupava-se apenas em satisfazer seus desejos. Repetiu a mesma irritante frase:

-   Bom dia donzela, dormiu bem? Hehehe

            Mas dessa vez nenhum músculo foi movido, estranhando a calma de sua fogosa diversão, se aproximou para inspeciona-la, quando percebeu que a porta fora arrombada rapidamente afastou o feno que a cobria para descobrir em seu lugar o corpo já gelado do ogro. Assustado com a situação pensou nas desagradáveis conseqüências que a fuga dela lhe traria e antes que pudesse se levantar e tomar alguma atitude a respeito sons de passos velozes saíram detrás de um dos pilares indo ao encontro do carrasco que rapidamente se virou para identificar a fonte do barulho, percebeu apenas uma lamina reluzente se aproximando de sua cabeça, rolou para traz a fim de evitar o golpe e puxou sua espada, descobriu que seu atacante era a jovem que tanto agredira.

-         A jovem donzela não acreditou que um golpe banal desses me pegaria desprevenido? Não alcancei esse titulo a toa.

     Continuou aliviado:

-         hehe, pensei que a donzela já estaria longe, sua teimosia me poupou de muitos problemas.

Dessa vez quem possuía um sorriso malicioso era a jovem.

-         Eu não iria embora sem um pedaço seu e você sabe qual eu quero - respondeu contente.

            O carrasco começou a rir, mas logo parou, ficando sem ar ao notar a espada que a jovem empunhava. Tinha a lamina longa, mais acinzentada que o normal e era levemente curvada, uma espada oriental conhecida como tsurugi, mas não era isso que chamou sua atenção, na lamina havia dois lobos encravados, não conseguia desviar o olhar deles e seu rosto empalideceu.

Não parava de repetir:

-         Dois lobos, dois lobos, dois lobos... não pode ser... você é...

                        Antes que terminasse a frase a jovem, ainda com o sorriso malicioso, começou a se aproximar dele. Beirando o desespero o carrasco partiu para o ataque desferindo incontáveis e furiosos golpes os quais a jovem bloqueava com muito esforço e sabia que se a situação não fosse invertida, sua derrota seria inevitável. Não conseguia achar uma brecha para um contra-ataque, havia calculado mal, sua força não havia sido recuperada plenamente e seu oponente apesar de ser um homem deplorável era muito mais habilidoso do que esperava.

            A luta continuava e a confiança dele aumentava a cada golpe que a empurrava mais e mais para a parede, até que cometeu um erro fatal, pensou por um instante que os rumores não eram verdadeiros e acreditou que iria ganhar. Desferiu um golpe lateral que achava ser o final, mas a jovem conseguiu bloquear colocando sua espada paralela ao corpo, aproveitou o descuido do inimigo e o acertou com uma cotovelada no nariz que o deixou tonto, aplicou em seguida um golpe certeiro que o desarmou e completou o atingindo na garganta com o cabo de sua arma, ele caiu no chão nocauteado pela dor e falta de ar.

            O carrasco foi acordado pelo mesmo som metálico que tanto adorava, só que dessa vez era ele que estava preso, ainda desnorteado, escutou a voz da jovem que estava parada ao seu lado ajustando a maquina.

-         Que bom que acordou, não teria graça de fazer isso em alguém desmaiado.

-         Por favor, não me mate eu lhe dou o que você quiser, mas, por favor, não me mate.

-         Tolinho, quem disse que eu vou te matar, eu disse que não sairia daqui sem um pedaço seu e é só isso que eu vou fazer.

            Sentiu um frio na espinha ao ouvir aquela frase que só piorou quando a jovem terminou de assegurar que estava imóvel. Já havia retirado as chaves, a armadura e as armas dele antes de prende-lo, pensou em usa-las, mas eram pesadas e grandes demais. Calmamente pegou a mesma adaga coberta de jóias que era usada em sua tortura e abaixou as calças dele.

-         Por favor, por favor, não faça isso eu posso te ajudar a escapar. - disse implorando clemência

-         Não preciso de sua ajuda.

-         Mas o castelo é complexo você vai precisar de um guia.

-         Conheço muito bem esse castelo.

            Respondeu a jovem enquanto aproximava a adaga cada vez mais, fazendo-o gritar mais alto.

-   NÃOOOOOOOO... Alguém me ajude!!!

            Indiferente aos gritos e com um golpe rápido o sangue jorrou em abundancia manchando as já sujas roupas da jovem, o choque foi tanto que o homem desmaiara pela segunda vez naquela manhã. Satisfeita com sua vingança a jovem conseguiu finalmente se concentrar em sua fuga, atravessou a grande porta de madeira e deixou para traz o lugar que tanta dor lhe causou.

            Seguiu por longos corredores e atravessou inúmeras celas repletas de seres que um dia foram humanos, pois após anos encarcerados essa condição lhes fora arrancada, suas costas curvadas, corpos secos e rostos assustados lhes faziam parecer ratos. Normalmente teria ao menos pensado em ajuda-los, mas a única coisa em sua mente era a fugir o mais rápido possível, possuía todas as chaves e conhecia aqueles corredores, sabia que não demoraria até concretizar seu desejo e nada, nem ninguém iria impedi-la, pensou isso após cravar sua espada no coração do único soldado que guardava a saída e ouvir-lo gritar, mas algo a distraiu, uma voz que surgiu de dentro de uma das celas:

-         ei garota, foi um bom golpe, agora que tal me tirar daqui?

            Era de um rapaz de cabelos brancos que tapavam seus olhos acinzentados, usava uma jaqueta de couro marrom, estava sentado e suas mãos estavam presas por luvas de metal que impediam o movimento dos dedos, isso chamou a atenção da jovem que por alguns instantes o olhou com duvida.

- não se preocupe garota, só quero que tires essas coisas de mim, depois eu me viro sozinho...

             O rapaz se aproximou das grades de sua cela e a jovem relutante e cautelosa retirou as luvas enquanto era observada atentamente pelos olhos cinzas e mesmo depois de removidas os dois ficaram parados por mais alguns instantes.

-  te devo uma - agradeceu com um pequeno sorriso.

            Virou as costas ao rapaz sem falar nada e subiu correndo o ultimo lance de escadas que a levaram até a parte superior do castelo, para seu infortúnio o grito não passou desapercebido, cinco soldados com armaduras haviam corrido para averiguar o ocorrido, três usavam espadas pesadas de duas mãos e capacetes, os outros dois apenas espadas simples de uma mão e escudos; ela estava com sua tsurugi sacada, pingando o sangue de sua ultima vitima, ainda cansada de sua luta com o carrasco lentamente assumiu a posição de batalha e se preparou para o inevitável combate contra os soldados que ao vê-la coberta de sangue se separaram para cerca-la.

 

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Olá,

peço desculpas por não postar antes pois estava impossibilitado d fazer meu cadastro aqui no forum.

Gostaria de dizer que sua fic está excelente, digo que você tem o melhor português das fics que li aqui no forum e peço-lhe que continue pois fiquei muito intereçado em ver a continuação.

Parabens

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Valeu pelo apoio gente, estou prestando mais atenção para não cometer mais erros de português, não tenho muito tempo para revisar, pois é final de ano e tudo está meio corrido, por isso vou tentar postar um novo capitulo a cada uma ou duas semanas.

obs: o proximo capítulo está quase pronto, até sexta vai estar aqui

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e como prometido um novo capítulo, um pouco antes até, mas não se acostumem com essa pontualidade, hehe

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IV – MIRAGENS, AREIA E UMA BOTA

 

            Já passaram duas semanas desde a noite em que Rufus havia decidido seguir até Morroc, a cidade do deserto, e devido a um incidente na floresta com algumas jibóias e outras cobras maiores chamadas de sorrateiros, havia perdido boa parte dos suprimentos que tinha pego durante o caminho. Agora se encontrava completamente perdido no meio de um mar de areia branca amarelada, estava sobrevivendo às custas de pequenas ervas que brotavam no meio do deserto, não sabia como era possível resistirem ao calor e a escassez  de água, mas saber que eram comestíveis era tudo o que importava.

            Como todas as dunas eram iguais, não havia pontos de referencia, sabia apenas que devia ir para o oeste e dependia do sol poente para tal. O calor era insuportável, estava com a camisa amarrada na cabeça para protege-la do sol escaldante que queimava sua pele, mostrando ao mundo suas primeiras cicatrizes, uma em especial chamava muita atenção, era quase do formato de uma estrela e estava no meio do seu peito, as noites eram quase piores que os dias, pois a temperatura baixava muito, essa enorme diferença era uma das razões daquele lugar ser tão mortífero, Rufus continuava em frente apesar da exaustão, o vento soprava areia em seus olhos tornando difícil saber para onde estava indo, seu corpo estava encharcado de suor e suas pernas tremiam a cada passo, cambaleando de tontura.

            Quando estava prestes a desistir, avistou na linha do horizonte algo que trouxe de volta seu ânimo, um pequeno oásis com palmeiras e lago no centro, muito feliz correu em direção dele, mas não percebeu que a distancia não diminuía independente do quanto corria, era mais uma das armadilhas daquele lugar, a desidratação causava alucinações nas pessoas. Continuou a correr até despencar de uma duna e desce-la rolando, só parou ao atingir em cheio uma grande ave amarela, era estranha, andava em duas patas grossas e suas asas eram pequenas demais para possibilitar o vôo, além disso, estava selada e com rédeas em seu bico colorido, apesar de ainda estar vendo tudo girando, Rufus inspecionou o a sela do animal e por sorte achou uma bolsa com três cantis de água e algumas frutas, seu estado era tão precário que nem passou por sua mente, o motivo daquela ave estar sozinha no meio do nada.

            Rapidamente bebeu todo o conteúdo de um dos cantis e tentou levar o animal para perto de algumas pedras onde havia sombra, lugares assim eram difíceis de serem encontrados no deserto, mas ao se aproximar delas a ave começou a ficar inquieta e agressiva, não conseguia mais a controlar, tentava fugir de lá com muito esforço, Rufus conseguiu apenas se apossar da bolsa antes da ave arrebentar as rédeas e escapar em desespero, nem tentou persegui-la, sabia que nunca a alcançaria.

            Então apenas sentou e descansou encostado em uma das rochas, imaginando o motivo de tanto medo, apenas conseguiu se lembrar que já havia escutado sobre essas aves, eram chamadas de Peco-pecos e eram as montarias preferidas dos cavaleiros.

-         Foi muita sorte encontrar esse peco aqui no meio do nada com tanta comida e água, sem contar essas pedras enormes que fizeram algumas sombras bem agradáveis – falou isso antes de morder uma suculenta maçã vermelha.

-         Pensando bem... O que será que aconteceu com o cavaleiro que montava ele, nunca ouvi falar de um que abandou sua montaria.

-         Ufa... Vamos ver, o sol está se movendo para esquerda então... humm... Pelo menos estou indo na direção certa, só foi uma pena o peco ter fugido, seria bom ter um meio de transporte...

-         ...Ou ao menos um pouco de carne, dizem que a carne deles é uma iguaria em algumas ilhas distantes. – falou enquanto olhava para sua faca e literalmente cair de sono.

            Quando acordou já era noite e decidiu continuar ali por mais um tempo, pois ainda estava muito cansado, mais alguns minutos passaram e um tédio tomou conta de sua mente.

-         Sabe de uma coisa, a lamina está meio gasta, acho que vou usar essas pedras para afia-la.

            Rufus passou a faca de um lado para o outro em uma das pontas da rocha, sentiu uma leva trepidação no chão, mas não se importou e continuou a afiar. Os tremores aumentaram e parecia que a pedra estava se desmontando e nesse momento ele percebeu que não era o chão que tremia e sim a própria rocha.

-         Isso não deve ser um bom sinal – caminhou de costas para se afastar dela.

            O enorme pedregulho se ergueu e revelou sua verdadeira forma, era um gigante de pedra com braços muito longos que tocavam o chão e sua boca possuía dois enormes dentes que alcançavam a linha dos olhos. Rufus já estava em posição de combate, o monstro podia ser enorme, mas parecia ser muito lento, o que lhe daria uma enorme vantagem, mas quando estava pronto para fazer sua primeira investida, o gigante soltou um barulhento urro e todas as pedras que estavam lá começaram a se mexer também.

-         Realmente... Isso não é um bom sinal. – disse com uma expressão assustada.

            Quando as outras rochas se levantaram Rufus descobriu o porque da ave estar sozinha, embaixo de uma delas estavam os restos esmagados do que parecia um dia ter sido um cavaleiro, nesse instante deveria tomar uma importantíssima decisão, ficar e lutar com os mais de dez gigantes ou correr o mais rápido que suas cansadas pernas poderiam, essa duvida não durou nem um segundo e com sua faca em punho ele firmou seus pés no chão e correu com uma rapidez perigosamente lenta, o deserto o havia deixado muito debilitado, e para sua surpresa os gigantes não eram tão lentos como imaginava e o perseguiam com muita persistência, mas novamente uma visão na linha do horizonte o animou, era o peco que havia fugido com muita razão, correu em direção a ele e se jogou em cima de qualquer maneira, tentando se segurar nos pedaços arrebentados das rédeas e gritou com toda força nos ouvidos do animal que disparou com uma velocidade surpreendente.

            Estando montado no peco, se é que daria para chamar estar pendurado no pescoço com uma perna balançando montar, conseguiu despistar os monstros e após algumas horas uma grande distancia havia sido percorrida, apenas esperava estar indo na direção certa, no desespero esqueceu de se assegurar disso, precisaria esperar o sol nascer para ter certeza, tentou olhar para as estrelas na esperança de alguma direção, mas astrologia não era uma de suas habilidades. Mas mesmo assim decidiu continuar, algo lhe dizia para não parar ali, tinha a impressão de estar sendo seguido.

            Ainda noite, Rufus avistou algumas palmeiras e um pouco de grama, indicações de que havia água por perto e onde há água existe civilização, pensou, conseguiu com muito esforço desviar o peco naquela direção, estava muito admirado com a resistência do animal que não tinha parado uma vez sequer para descansar. Quando chegou perto de uma das palmeiras o peco despencou desmaiado no chão fazendo Rufus ser projetado para frente e caindo quase que de boca, se levantou em seguida, aproximou-se da ave e descobriu que o motivo da queda foi um homem que saltou de dentro da areia, usava uma jaqueta de couro bege e calças marrons, seus sapatos tinham uma espécie de pelúcia na sola, seu cabelo era vermelho e espetado e em sua cabeça havia um tipo de faixa de couro com prolongamentos ao lado das orelhas e grandes óculos na testa.

-         Passe tudo que você tem e eu te deixo ir embora inteiro – impôs o homem

-         E por acaso parece que eu tenho alguma coisa? – respondeu indignado e cuspindo areia.

-         Você não me engana guri, ta andando de peco e me diz que é pobre, agora me passa tudo!!!

-         Eu estou avisando, me deixe em paz senão... – retirou da bainha sua faca.

-         Senão o que? Vai me matar com esse estiletozinho – falou rindo.

            Estava de péssimo humor àquela hora e sem ponderar investiu contra o assaltante com uma estocada, ele facilmente desviou para o lado direito e aproveitou a posição favorável para segurar o pulso, torce-lo, desarmar Rufus e joga-lo no chão.

-         Você não achou que conseguira acertar um gatuno com esse movimento lento, não é? – começou a gargalhar e pegou o estileto do chão – a escolha foi tua guri.

            Aproximou-se dele pronto para rasgar seu pescoço, levantou o braço, enquanto Rufus tentava se afastar ainda no chão, mas quando ia desferir o golpe, um som vindo de longe o fez parar e fazer uma expressão de pavor, era um uivo muito alto que foi seguido por mais quatro, o gatuno sabia o que esse som significava, era o sinal de que os piores predadores do deserto estavam por perto e se preparavam para atacar. Ele olhava para todos os lados tentando prever de onde viria o ataque, ignorando Rufus que estava confuso com o nervosismo dele, após alguns momentos sem nada acontecer, o ladrão resolveu deixar aquele local.

            Caminhou um pouco, seguro de que estaria a salvo se fugisse, mas falhou ao não escutar os vários passos que estavam chegando perto dele, quando de repente, vários lobos marrons saltaram de cima de uma duna e o atacaram com extrema voracidade, rapidamente o cercando e o derrubando sem lhe dar uma chance de revidar e ao mesmo tempo um segundo grupo cercou o peco destroçando o corpo do homem e da ave, devorando-os. Rufus ficou chocado com a cena, era a primeira vez que havia visto uma morte tão brutal, certo de que seria o próximo nem ao menos se mexeu esperando que já tivessem saciado sua fome. Eles apenas o rodeavam, parecia que estavam à espera de algo, repentinamente pararam e abriram caminho para um lobo grande, era o maior de toda a alcatéia, provavelmente era o macho alfa, seu corpo estava cheio de cicatrizes e o mais estranho de tudo era que usava um tapa olho no globo ocular esquerdo.

            Rufus estava totalmente cercado e aquela enorme criatura estranha estava a menos de dez centímetros dele, estava suando frio, não conseguia pensar em nada, apenas recordou que a ultima vez que se sentiu assim não acabou muito bem. O grande lobo começou a cheira-lo, sobretudo a cicatriz parecida com uma estrela que possuía no peito, não conseguia respirar e encolheu a barriga tentando ficar o mais estático possível. A besta olhou fixamente nos olhos dele e uivou, em segundos todos os lobos se dispersaram e por ultimo ela foi embora, ele suspirou aliviado e continuou sentado na areia imaginando o por que deles terem poupado sua vida.

-         Afinal... O que esta acontecendo comigo? – olhou para suas mãos.

            Não foi a primeira vez que situações estranhas aconteceram com ele desde o incidente quase mortal com Mionness, algo havia acontecido com seu corpo, por mais que havia treinado desde de sua partida, sua evolução era excepcional, muito acima do normal, além da descoloração de seus olhos e cabelo que apesar de não perturba-lo no começo, depois de algumas semanas a idéia não saia de sua cabeça e agora ser ignorado por lobos famintos, algo não estava certo, mas aquele não era o momento nem o lugar de refletir seria melhor não forçar sua sorte e seguir em frente antes que mais alguma fera aparecesse para tentar arrancar sua cabeça, mas antes de ir recuperou sua faca que descobriu se chamar estileto e retirou as botas do cadáver, eram muito boas e as suas estava se deteriorando de tão velhas, teria pego mais coisas, mas eram as únicas posses do gatuno que continuaram inteiras.No próximo dia Rufus chegou em Morroc, esfregou os seus olhos com força para ter certeza que não era mais uma miragem, não acreditou que conseguiu cruzar aquela imensidão sozinho, havia superado a primeira de muitas provações que sabia que teria de enfrentar.

            Viu as espantosas muralhas que cercavam a cidade, bem a sua frente estava um arco gigantesco sem muitos adornos que servia de entrada, após cruza-lo se deparou com um lugar muito diferente do que imaginava, pensou que seria mais como uma aldeia, mas ao invés disso encontrou uma enorme cidade que apesar das casas serem feitas de tijolos de barro sua arquitetura era fantástica tendo inúmeros formatos diferentes e artísticos, se deparou com varias tendas de vendedores com produtos que nunca havia visto antes. O povo tinha a pele queimada pelo sol e usava roupas largas e um pano enrolado na cabeça, mas apesar do que parecia não era um ambiente muito acolhedor, pois todos andavam com muita cautela evitando encostar ou esbarrar em qualquer pessoa ou coisa, tentou pedir informações mas ninguém nem ao menos parou, nunca imaginou que um lugar no meio do deserto seria tão frio.

            Andou mais um pouco pela cidade e ao chegar no centro se espantou com o tamanho do castelo que havia lá, estranhou os telhados esféricos e achou refrescante e bonito o canal repleto de água que o cercava. Estava perdido no meio de uma multidão e decidiu encontrar a taverna de Morroc, bêbados são sempre um bom meio de se obter informações, pelo menos era assim em Payon, a bebida entrava e a verdade saia, esperava que fosse assim lá também, escolheu ao acaso uma direção e começou a andar, depois de algumas horas caminhando em vão e perguntando para todos que passavam, finalmente acho o bar que procurava, como esperado estava cheio, com muita musica e risos. Dirigiu-se para o garçom atrás do balcão e quando ia perguntar sobre os homens de preto, dois homens o abordaram, um era muito magro com o rosto fino e um pequeno rabo de cavalo castanho, o outro era mais corpulento e careca, ambos usavam roupas parecidas com as de um gatuno.

-         onde você conseguiu essas botas? – perguntou o corpulento

-         como assim? Eu achei essas botas no deserto – achou melhor mentir, pois se ele fossem como o dono delas, estaria com muito problemas.

-         Acho difícil de acreditar - disse o magro segurando o estileto de Rufus na mão.

-         Ei! Isso é meu, como você pego? – se virou e o encarou

            O careca acertou um golpe na nuca de Rufus, fazendo-o desmaiar, a taverna ficou em silêncio por um segundo, mas retornou as festividades em seguida como se nada tivesse acontecido.

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Gostei muito do capitulo novo, novamente fiquei encantado pela narrativa, alguns errinhos pequenos d português mas trankilo, não atrapalhan em nda.....

 

So tenho um pedido, axo que está demorando um pouco acima das expectativas p/ historia evoluir, digo isso porque gostei muito, mas nesse capitulo pouco aconteceu, apenas o aparecimento da duvida quanto a cicatriz e o final que deixa em aberto p/ o proximo capitulo.

 

No mais parabens, estarei esperando o proximo e torcendo para ser espetacular.

 

Abraços

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Gostei muito do capitulo novo, novamente fiquei encantado pela narrativa, alguns errinhos pequenos d português mas trankilo, não atrapalhan em nda.....

 

So tenho um pedido, axo que está demorando um pouco acima das expectativas p/ historia evoluir, digo isso porque gostei muito, mas nesse capitulo pouco aconteceu, apenas o aparecimento da duvida quanto a cicatriz e o final que deixa em aberto p/ o proximo capitulo.

 

No mais parabens, estarei esperando o proximo e torcendo para ser espetacular.

 

Abraços

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Em primeiro lugar obrigado pelos elogios e sugestão

Não se preocupem que agora eu estou revisando mais atentamente e não estou confiando tanto no word, então os erros tendem a diminuir, sobre a história, eu sei que está meio lenta, mas estou apenas preparando o pano de fundo para algo maior, bem maior.

O próximo capitulo está quase pronto e só para avisar, algumas perguntas serão respondidas, um novo personagem ira se juntar ao protagonista e como sempre novas preguntas surgirão  ^^

obs: devido a motivos de força maior (vestibulares), após o próximo capitulo demorarei mais para escrever, quero me dedicar aos estudos, então não tenho previsões para o seguinte, só queria avisar para não acharem que desisti, terminando as provas volto com tudo.

abraço

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obs: devido a motivos de força maior (vestibulares), após o próximo capitulo demorarei mais para escrever, quero me dedicar aos estudos, então não tenho previsões para o seguinte, só queria avisar para não acharem que desisti, terminando as provas volto com tudo.

abraço

 

Sei como é isso, eu to na fase de concursos.... dureza..... mas esperarei trankilo heheheheh

boa sorte

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                                 V – UM ENCONTRO DIFERENTE

 

            Rufus estava ajoelhado em uma sala com paredes de pedra e nenhuma janela, não havia nada dentro, seus braços estavam amarrados em suas costas e um homem usando roupas típicas daquela região estava parado em sua frente, possuía uma barba fina e preta, seus cabelos também pretos eram penteados para trás, não parecia ser uma má pessoa apesar da expressão seria em seu rosto.

-         Então rapaz, como foi que você conseguiu essas botas? – perguntou usando uma voz calma.

-         Hã?... eu... onde estou?... – ainda estava desnorteado pela pancada e sua cabeça latejava de dor.

-         Só vou perguntar mais uma vez rapaz, então se concentre! – gritou jogando a água de seu cantil no rosto de Rufus.

-         Coff... Coff... Eu achei no deserto – olhou sério para o homem.

-         Não minta! Um gatuno nunca se separa de seus equipamentos e somente a nossa classe possui esse tipo de bota – chutou o seu rosto e o fez cair.

-          Nossa, mas como você é irritado... Tudo bem eu admito, peguei de um corpo no meio do deserto, ele foi atacado por lobos – cuspiu sangue e sorriu.

-         E como você sabe disso?

-         Eu estava lá quando aconteceu...

-         Não teme a morte rapaz? Você espera que eu acredite que sobreviveu a um ataque de lobos que nem um dos nossos foi capaz de suportar?

-         Essa é a verdade – olhos firmemente nos olhos dele

-         Qual o seu nome rapaz?

            Por alguma razão que não entendeu no momento, Rufus não respondeu rapidamente como de costume, lembrou de tudo o que lhe havia acontecido nas ultimas semanas, toda a dor e sofrimento, tudo que havia perdido, às vezes que esteve perto da morte e principalmente daquele lobo que o cheirou, a imagem dele não saia de sua cabeça. Tudo isso levou apenas um segundo, mas foi o suficiente para faze-lo chegar a uma conclusão, Rufus Nihil havia morrido naquela noite na clareira.

-         Meu nome é... Lupus Lycaon...

            O homem era na verdade o líder da guilda dos gatunos e após escutar toda a história o acolheu e o treinou, uma oferta que não pode recusar, não tinha muita escolha, era isso ou ser executado pela morte de outro gatuno, podiam ser bandidos, mas possuíam um código de honra muito forte. Ele havia demonstrado uma certa facilidade e afeição às habilidades daquela classe de ladrões, era muito ágil e possuía muita destreza nas mãos, possibilitando praticar com perfeição o furto e se ocultar em qualquer terreno com capas especiais, capacidades que caracterizam a guilda.

             Além de melhorar seu corpo, também aprendeu muito sobre armas, monstros, sobre Midgar em geral e mais importante descobriu o que eram assassinos e que a não ser que queiram, era impossível encontra-los, fazendo-o deixar de lado momentaneamente sua busca por Mionness. O único preço foi ter que deixar, com muita relutância, a caixa de sua mãe, que de acordo com o líder era como um depósito para garantir que não trairia o grupo, sendo assegurado de que quando estivesse preparado a receberia de volta. Muitas lutas pela sobrevivência sucederam aquele dia, Rufus Nihil havia desaparecido por completo se tornando uma memória distante de seu passado, a única parte que sobrou dele foi a sede de vingança e agora estava fisicamente pronto para sacia-la. Isso fez Lupus descobrir outro aspecto positivo de fazer parte de um bando como aquele, a abundancia de informações que os membros eram capazes de adquirir, sem muito esforço foi capaz de rastrear Micab até prontera, com uma pequena diferença, era chamado de Sir Micab agora e exercia um alto cargo na guarda real.

-         Quem diria que aquele pau mandado iria conseguir chegar tão longe – resmungou para si mesmo segurando um livro repleto de nomes e locais.

            Porém Portgas não foi encontrado, achou que os dois estariam juntos, mas pelo visto teria que persegui-los um de cada vez, sendo assim se dirigiu até prontera, dessa vez muito mais preparado e sabendo como sobreviver no deserto de Sograt.

            Lentamente abriu os olhos cinzas e percebeu que aquilo tinha sido apenas um sonho, o mais certo seria chamar de lembrança. Dois anos passaram desde aquele dia e agora estava sentado em uma cela pequena com suas mãos imobilizadas por manoplas de ferro, usava a clássica jaqueta marrom dos gatunos, seus cabelos brancos cobriam seus olhos, seus músculos estavam mais definidos e sua pele mais queimada pelos meses no deserto, bem a sua frente do outro da grade, um guarda vigiava a saída do calabouço com apenas um bastão de madeira. Não estava preso há muito tempo, talvez uns dois ou três dias, cometeu um erro que o levou até lá e não iria o repetir novamente. Se suas mãos não estivessem imobilizadas, poderia abrir a fechadura com muita facilidade, mas os guardas estavam familiarizados com os gatunos e desenvolveram algemas para incapacitar seus principais instrumentos de trabalho, seus dedos.

            Enquanto tentava arquitetar um plano para escapar, o silencio perturbador do lugar foi quebrado pelos gemidos e gritos de socorros dos outros condenados.

-         Fiquem quietos suas pragas! – gritou o guarda batendo com o bastão no chão.

            Lupus percebeu algo que o guarda não havia, passos rápidos estavam se aproximando deles, de repente sem ter tempo de reagir, uma espada perfurou o corpo do guarda que gritou estranhamente alto para um soldado. Lycaon continuava sentado, essas cenas não o afetavam mais, apenas notou que o portador da espada era uma linda jovem com cabelos pretos que encostavam em seus ombros, suas roupas eram grandes de mais para seu pequeno corpo e parecia estar muito cansada.

-         Hei garota, foi um bom golpe, agora que tal me tirar daqui? – tentando chamar a atenção dela.

            Ela parou e o olhou, principalmente as estranhas manoplas de ferro. Apesar da crueldade do golpe os olhos dela demonstravam medo e receio, não estava bem e ele havia percebido isso, algo havia acontecido com aquela garota, pensou.

-         Não se preocupe garota, só quero que tires essas coisas de mim, depois eu me viro sozinho... – tentando assegurar que não tinha intenções de segui-la.

            Vagarosamente se ergueu e passo a passo aproximou-se das grades e levantou os braços na altura dos ombros dela, que retirou da cintura um molho de chaves e removeu o incomodo empecilho das mãos dele enquanto era observada atentamente pelos olhos cinzas, porém mesmo depois de removidas, os dois ficaram parados por mais alguns instantes cruzando olhares, Lupus aproveitou essa oportunidade para afanar um adaga incrustada de jóias que ela possuía presa na cintura perto das chaves.

- te devo uma - agradeceu com um pequeno sorriso.

            A jovem sem perceber que tinha sido roubada, virou as costas e subiu um lance de escadas que levava para parte superior do castelo em que se encontravam. Agora, com as mãos livres, utilizou a adaga para abrir com extrema facilidade a fechadura, ao sair teve cuidado para não pisar no sangue do guarda morto e com muito cuidado subiu as mesmas escadas.

            Ao chegar lá, encontrou a jovem lutando ferozmente com cinco soldados de armadura, três usavam espadas pesadas de duas mãos e capacetes, os outros dois apenas espadas simples de uma mão e escudos. A situação não podia ser mais perfeita, com a distração que ela estava causando, poderia tranqüilamente continuar a sua busca por vingança, ela certamente conseguiria os segurar por mais alguns minutos e teriam que pedir reforços, diminuindo a segurança dos níveis superiores, entretanto, um aperto no peito não o deixou seguir sua lógica, por mais que tentasse suas pernas não o obedeciam e a cada golpe que passava rente ao corpo da jovem o fazia transpirar.

            Não sendo capaz de controlar essa sensação, saltou das sombras e cravou a adaga na nuca de um dos soldados com escudo que morreu instantaneamente,  todos ficaram surpresos com a repentina aparição, a jovem aproveitou para decepar as mãos do soldado com espada longa e usou o impulso do golpe para girar em cento e oitenta graus e atingir a cabeça do outro com a lamina de sua espada, os dois soldados restantes estavam encurralados pela velocidade dos movimentos do gatuno e da força dos golpes da jovem,  derrubaram suas armas e fugiram, a jovem se apoiou em sua tsurugi fincada no chão para recuperar o fôlego e Lupus apesar de saber que os dois trariam muitos problemas, ignorou novamente a lógica, os deixando escapar e se aproximou dela para saber se estava ferida.

-         Você está bem garota? – colocando a mão em suas costas.

-         ... Idiota! Não preciso da ajuda de ninguém – gritou a jovem, desferindo um soco na cara dele.

            Ele poderia ter desviado do golpe, mas ficou impassível e o recebeu em cheio, um filete de sangue escorreu de seu lábio, não estava mais se reconhecendo, era chamado pelos outros gatunos de frio e calculista, nunca fez amizades depois de se juntar a eles e era capaz de qualquer coisa para cumprir seus objetivos, não se importava com nada nem ninguém e agora isso lhe acontece.

-         Pela força desse soco, parece que você precisa sim – colocou a mão no rosto e sorriu.

-         Tu deixou aqueles dois escaparem e não é idiota? Não preciso de um imbecil metido a herói me protegendo, sei me cuidar sozinha – franzindo as finas sobrancelhas.

-         Não gosto de dever nada a ninguém, só aproveitei a chance pra retribuir o favor, não fique pensando besteiras senhorita – nem ele mesmo soube a razão de a chamar assim.

-         ... – seu olhar mostrava um ódio enorme por ele.

            Ambos escutaram sons de muitos passos metálicos, a jovem se levantou e correu na direção oposta do barulho, sabia que não tinha mais condições de continuar lutando, o gatuno fugiu também, por mais habilidoso que fosse não teria chance alguma contra um pequeno exército, ela parecia saber onde estava indo, então decidiu segui-la. O Fato não foi muito apreciado pela moça, que tentou despista-lo correndo mais rápido e fazendo várias curvas, conseguia acompanhar com facilidade, mas se irritou com a imaturidade dela, os dois estavam em situações parecidas e podiam se auxiliar, pelo menos até escaparem, mas se ela prefere enfrentar toda guarda de Prontera sozinha, que assim seja.

-         Faça como quiser senhorita – cochichou em seu ouvido e correu para esquerda enquanto ele continuou reto, mas logo se deparou com três cavaleiros fortemente armados em sua frente.

            O corredor em que se encontrava era largo, facilitando a movimentação dos cavaleiros, estava visivelmente em desvantagem, então procurou a melhor forma de escapar, se tivesse sua capa, chamada de manteau, poderia usa-la para se camuflar, mas agora não era a hora de pensar em possibilidades inviáveis, eles se aproximavam e o caminho pelo qual veio logo estaria bloqueado por mais soldados, inspecionou o corredor e notou uma janela com um vitral colorido no final dele, atrás dos cavaleiros, resolveu tentar alcança-la, por mais arriscado e incerto que fosse, era sua única opção.  Os três caminhavam lado a lado barrando a passagem, atirou a adaga furtada no que estava mais perto da parede, ele bloqueou com facilidade levantando seu escudo, Lupus aproveitou o momento para avançar em direção a ele, pulou contra a parede, se impulsionou e pisando na cabeça do cavaleiro saltou sobre a linha formada pelos três, que tentaram se girar rapidamente para enfrenta-lo, mas suas pesadas armaduras não permitiram faze-lo a tempo, correu o mais rápido que pode e se jogou através do vitral, fazendo centenas de pequenos pedaços de vidro colorido serem arremessados para todos os lados, naquele instante só pensava em uma coisa: espero que esse seja o primeiro andar. Mas era um andar superior e a queda não seria nada agradável, por alguns segundos tentou frear a queda colocando seus pés na parede, não funcionou, porém o impacto o fez ser jogado para longe dela em direção à uma árvore, quebrou todos os galhos com o corpo tentando se segurar e atingiu o chão, deixando-o muito ferido, mesmo assim continuou correndo e se misturou a imensidão de pessoas que se encontravam naquelas ruas.

            Aquela era Prontera, a capital do reino, repleta de ruas e becos, normalmente lotados de mercadores tentando obter algum lucro, as casas feitas de madeira e tijolos eram simples, porém o verdadeiro atrativo da cidade era os inúmeros serviços que se podia adquirir, desde um simples corte de cabelo até comprar a proteção de algum aventureiro para treinar em áreas mais arriscadas, não esquecendo da imponente catedral cujas torres rasgam os céus e abriga o poder divino dos noviços, sacerdotes e dos supostos guerreiros de Deus, os templários, e da poderosa guilda dos cavaleiros, em poucas palavras ela é o centro econômico, médico e religioso do reino.

            Lupus estava no meio da rua principal, a mais movimentada de todas, mas mesmo tendo as centenas de pessoas como esconderijo, devido ao alvoroço que sua fuga havia causado seria apenas uma questão de tempo até que toda cidade estivesse lhe procurando, precisava sair de lá o mais rápido possível, mas antes necessitava reaver alguns suprimentos, todo seu dinheiro e algumas roupas civis que havia ocultado atrás de uma estalagem antes de adentrar o castelo, um velho truque que lhe fora ensinado pelos gatunos, só esperava que ninguém tivesse encontrado. Esperou algumas horas para se dirigir até a hospedaria, pois seria o primeiro lugar que procurariam um fugitivo de outra cidade, seguiu até um beco de difícil aceso atrás dela, sempre tomando muito cuidado para não ser notado, era imundo, cheio de caixas velhas e podres, muito estreito no começo e mais amplo no fim, o esconderijo perfeito.

Para sua surpresa não encontrou apenas suas coisas, a jovem que havia o libertado se encontrava lá também, sentada no chão encostada na parede, apesar de muito cansada a aparência dela mostrava que não teve metade do trabalho de Lupus para escapar do castelo.

-         Tu de novo? O que tu quer comigo pra me seguir até aqui? – a jovem se levantou com dificuldade puxando sua tsurugi.

-         A senhorita teve a mesma idéia que eu, mas agora esta me irritando e não tem condições de me enfrentar, saia da minha frente e me deixe pegar minhas coisas. – se aproximando dela.

-         Eu não acredito, tu deve ser um espião, não chegue mais perto!

-         ... Sua idiota – Lupus segurou a espada com as duas mãos e aplicou uma rasteira na jovem, a fazendo cair e a desarmando ao mesmo tempo, depois jogou a tsurugi longe dela.

-          ... – ficou sem palavras, apenas o seu olhar havia mudado de ódio para confusão.

-         Acredita em mim agora? Problema seu se ainda não. – removendo uma placa de madeira da parede em que a jovem estava encostada e pegando a mochila que colocou seus equipamentos.

-         Isso explica o cartaz – falou baixo olhando para um pedaço de papel amassado.

            Lupus trocava de roupa enquanto a jovem resmungava sozinha, a presença dela não o inibiu, seria mais fácil não ser notado se não estivesse com o habitual traje de gatuno. Quando terminou, ficou muito parecido com um mercador, devido às calças largas, a camisa cinza e o colete marrom, além de um pano azul que amarrou na cabeça para esconder seus cabelos brancos e uma mochila pendurada em suas costas. Quase deixando o lugar reparou no papel que a garota segurava, sua curiosidade falou mais alto e arrancou da mão dela, seu rosto estava rubro de raiva quando viu que o papel era um cartaz de procura-se e não apenas continha o retrato dela como o seu próprio, embaixo deles havia escrito “procurados pelo atentado à vida do rei”, foi impressionante a rapidez com que foram feitos.

-         A culpa é sua por isso! – gritou para a moça em um tom baixo para não serem descobertos – Presumiram que estávamos juntos! Não vou ser culpado por algo que você fez!

-         Mas eu não fiz nada contra o rei! Apenas queria conversa com ele! – gritou de volta no mesmo tom.

-         E você espera que eu acredite que toda guarda imperial esteve atrás de você sem motivo algum! Se entregue e diga que não tenho nada a ver com você!

-         Agora quem está sendo idiota? Tu acha que vai fazer diferença? Eles querem um pescoço e no momento é o nosso – recuperando a posse e se levantando. – Não gosto disso tanto quanto você, mas não achei que chegaria a tanto, agora precisamos sair de Prontera o mais rápido possível.

-         Como assim “precisamos”? Lá dentro eu quase morri por que você não quis que escapássemos juntos e agora quer formar um time? O problema é seu – perdendo a calma, rangendo os dentes e fechando o punho com muita força.

-         Em primeiro lugar o problema é nosso, esse cartaz diz isso. Em segundo lugar, eu não tenho como passar pelos guardas do jeito que estou e em terceiro lugar, é só eu dar um grito que eles nos acham aqui, se eu não escapo, ninguém escapa – sorriu com o canto da boca e levantou a sobrancelha direita.

-         ... – seu silencio disse tudo. Abriu sua mochila e atirou violentamente uma muda de roupas na garota e algumas poções laranjas.

            Diferente dele, a jovem o fez virar de costas enquanto se trocava, Lupus se sentia cada vez mais alterado desde que ela cruzou seu caminho. Não tendo roupas femininas, a jovem apresentou uma aparência andrógena após colocar as vestes similares as dele, mas com cores diferentes e com sua espada envolta por uma toalha amarrada em suas costas. Ainda era dia quando os dois se dirigiram para a saída ao sul da cidade, que possuía maior fluxo de pessoas, não possibilitando uma vistoria mais completa dos guardas, mas só para ter certeza, Lupus discretamente arremessou uma pedra em um peco que estava parado perto da saída, que começou a gralhar e bicar todos que estavam por perto, os guardas foram averiguar o distúrbio e os dois aproveitaram a distração para passar sem serem percebidos, alcançando os campos de Prontera, uma planície gigantesca com algumas árvores, era um ambiente muito verde.

-         Pronto, saímos de lá, agora adeus e espero que nossos caminhos nunca mais se cruzem. – ainda muito irritado com ela, que mesmo assim continuou caminhando no lado dele – O que você pensa que está fazendo? Vá embora de uma vez

-         Tu ta indo pra Morroc não é? Eu preciso ir para lá mesmo e seria muito bom ter um guia para cruzar o deserto, então vamos logo – ignorando a ordem do gatuno. – E não pense que vai conseguir me desarmar de novo, já recuperei minhas forças. E pelo visto tu ta desarmado, vai precisar de alguma proteção contra os monstros de lá.

            Mesmo aconselhado, tentou desarmar a jovem, que demonstrou estar muito mais forte do que antes, deixando-o estirado no chão.

-         Agora está decidido? – olhou para ele no chão. – Ahhh e a propósito meu nome é Ivy flamel e o seu?

-     ... Lupus Lycaon... – ainda no chão, completamente indignado com a garota.

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Interessante... Uniu duas historias em periodos de tempo diferentes de modo que poucos pudessem dizer. Eu achava que as coisas aconteciam simultaneamente no 1° e 2° capitulos, alem de presumir que o aprisionado fosse um mago, hehe... Muito bom, muito bom mesmo.

Mas uma dica... use menos "tu" e mais "você", gatunos não são exatamente nobres educados de estirpe, e a garota com certeza não é uma Lady da alta sociedade, faça eles conversarem como gente do status social deles, tome a Tenko (personagem, não autora) por exemplo, ela cresceu (até certo ponto) entre a nobreza, mas os dialogos não usam tu, repetidamente (bem raro na verdade).

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Opa, não tinha visto os capitulos novos ainda, o português continua muito bom.... comentando cada um

Cap V - já esperava um encontro entre os dois, mas não do modo como foi feito, me surpreendeu e ficou excelente, belissima ideia.

Cap. VI - mais um personagem intrigante, trazendo para a trama a classe dos alquimistas, que são uma das melhores para trazer fatos p/ qualquer historia

Cap. VII - mostrou que os dois são fora do normal, apesar de serem apenas classe 1 ainda, muito bom.

Continue assim que esterei aqui lendo comentando.

 

Abraços e feliz ano novo

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Já faz um tempo que n posto nada... bem... no momento estou passando por um problema pessoal que drenou a minha vontade de escrever, eu quero muito terminar essa história, mas agora estou sem condições.

peço desculpas à todos que acompanham e deixo digo que quando me recuperar as cronicas voltarão

abraço e desculpa novamente

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 I'M BACK BABY... pois é, ainda to resolvendo as coisas por aqui, mas voltei a escrever, desculpe a demora ^^

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                                      VIII – TRISTEZA

 

-         Eu sei que você está ai – gritou um homem de cabelos castanhos parado perto de uma praia

-         Parece que você recuperou a sua velha forma física, treinou muito templário? – rindo e caminhando lentamente para fora de uma sombra feita por uma árvore.

-         No estado em que você está até um poring sentiria sua presença, mercenário – cruzou os braços e continuou olhando para o mar sem se importar com o homem das sombras – eu entendo que você precisava de um tempo, nós todos precisávamos, mas isso não é desculpa para sumir por quase um ano, ainda mais quando a situação está tão crítica – virou e olhou diretamente nos olhos dele.

-         Eu era fraco, não podia fazer nada para ajuda-los, não pude nem... – deslocou-se rapidamente e tentou se esconder novamente nas sombras.

-         Não termine essa frase, eu sei, também me senti da mesma maneira e, por favor, não tente se esconder você não vai conseguir.

-         Você não estava lá quando aconteceu, não é a mesma coisa – pela primeira vez na conversa se colocou diante do templário.

-         Não seja infantil senão vai acabar falando algo do qual irá se arrepender, agora não é hora de discutir isso, precisamos voltar e lhe informar de tudo o que aconteceu no tempo que você ficou fora – descruzou os braços e franziu as sobrancelhas.

-         Eu não pretendo voltar, ele ainda está com vocês, não é? – desviou o olhar para o chão.

-         Nós precisamos dele por enquanto – tentou colocar a mão no ombro do mercenário.

-         Não consigo entender como pode lutar ao lado dele depois de tudo – retirou a mão com um tapa – por isso que não vou voltar, quando encontra-lo de novo só um de nós sairá vivo.

-         Que tipo de mercenário é você? Mesmo depois de tanto tempo ainda não foi capaz de matar seu coração – gritou.

-         E que tipo de templário é você? Onde está todo aquele papo de justiça divina e de punir o mal?

-         Eu vou punir o mal, só que de nada irá adiantar matar aquele homem, ele apenas seguiu ordens e agora está tentando se redimir, não que isso torne mais fácil o meu convívio com ele, estou apenas seguindo a minha justiça. – espremeu os punhos com angustia.

-         O verdadeiro culpado... Johann... Eu sei, mas tente entender que eu estou seguindo a minha justiça também – sussurrou, demonstrando dificuldade de proferir essas palavras.

            Os dois homens ficaram parados em silêncio, não conseguiam se olhar diretamente nos olhos, pareciam estar sofrendo muito, contradizendo a pacifica noite de verão e apesar de não ter nuvens no céu, a lua não queria se revelar, quem visse a cena diria que era pela tensão que eles deixavam no ar e não pelo fato de ser a fase nova dela. Alguns minutos se passaram e nenhum movimento foi feito. O templário estava vestido com roupas informais, uma calça larga e preta e uma blusa branca, em sua cintura estava uma espada com a bainha velha e gasta, o mercenário estava com suas vestes típicas, porém nenhuma arma a vista.

-         Por que você veio até aqui então? - O soldado de deus quebrou o silêncio.

-         Você sabe o porque.

-         Vingança não é? Você acha que ela ia aprovar isso? – gesticulando com as mãos

-         Eu tenho certeza que sim

-         Mas não as custas de toda a missão, enquanto não acabarmos com Johann, Midgard não verá um dia de paz e você pretende acabar com a nossa melhor chance de se aproximar dele por causa de vingança?

-         Eu não me importo com Midgard – nesse momento seus olhos possuíam um brilho opaco e sem compaixão – esse mundo pode explodir que não me importa nada, já perdi tudo mesmo – antes de terminar de falar o outro homem desferiu um soco.

-         Nunca mais diga isso novamente! – gritou – já se esqueceu da minha filha, ela não te importa? Tudo o que faço é para dar um futuro digno para ela em um mundo seguro.

-         Fazia tempo que não me acertavam no rosto, isso me trás lembranças – riu.

-         Não mude de assunto! Você realmente não se importa com ela?

-         No momento nem um pouco - riu

-         Qual o seu problema?!? Eu te conheço há muito tempo e sei que você não é assim

-         Você não me conhece mais, eu morri naquele dia – o templário abaixou a guarda por um instante, tempo suficiente para o mercenário devolver o soco – e ninguém mais me bate no rosto, agora saia da minha frente ou senão.

-         Eu não quero lutar com você, nós precisamos de suas habilidades, mas se continuar insistindo com essa vingança, não tenho outra escolha a não ser te parar de uma vez por todas – segurou a bainha com a mão esquerda e colocou a direita sobre o cabo. – não pense que não sou capaz, ainda mais com o futuro de minha filha em jogo.

            Ignorando o aviso do templário, tentou se ocultar e passar pela esquerda de seu adversário em grande velocidade, mas ele não foi enganado e derrubou o mercenário com uma rasteira, mas não foi o suficiente para acabar com a obstinação dele, que usou os braços para aparar a queda e rolar no chão se colocando de uma maneira a continuar correndo em direção ao esconderijo do clã. Foi segurado pela faixa amarrada em sua cintura e jogado para trás.

-         Você está desarmado, não tem chance de ganhar assim – segurando novamente o cabo de sua espada.- e mesmo que conseguisse me derrotar, como pretende mata-lo com todo o clã ao redor dele ou você acha que ainda não perceberam que está aqui?

            O mercenário ficou em silêncio, percebeu que não teria como, sequer, chegar perto de seu alvo nas condições que estava. Lentamente a razão voltava a sua mente e desfez a posição de batalha, guardou algumas pedras vermelhas, que havia pegado antes de ser jogado, dentro de seu uniforme escuro e sem proferir uma única palavra virou as costas e se afastou do local. Por mais que o outro quisesse  impedir a sua partida, não sabia o que podia dizer a ele, sabia que ele podia mata-lo facilmente com o veneno das pedras que fez questão de mostrar guardando, mas não o fez, isso significava que o jovem que ele conhecia ainda não havia desaparecido por completo.

-         Você se arriscou muito vindo aqui sozinho para impedi-lo – disse um velho de cabelos azuis e camisola amarela saindo de trás de uma árvore.

-         Há quanto tempo está ai Janus? – mais aliviado, mas ainda com um olhar melancólico.

-         Tempo suficiente, estranho não terem percebido antes, tanta tensão assim não faz bem para a saúde – se aproximou  - então esse era o garoto que você e Francis me falaram? Não me parece um garoto, na verdade mal me parece um ser humano.

-         Não fale assim Janus, você sabe o que aconteceu – mirando o ponto no horizonte para onde ele havia se afastado.

-         Você também passou pelo mesmo que ele, mas a sua personalidade não se alterou, além dos olhos tristes é claro, mas não o culpo. Já ele... – insinuou

-         O que tem ele?

-         Ele parece um demônio, não senti uma única vez algo de bom na presença dele.

-         Mas ele podia ter me matado se quisesse, isso é algo a ser relevado.

-         Deduzo que ele veio apenas para sondar o terreno e analisar a situação, para assim poder obter sucesso em sua missão – acariciou sua barba azulada.

-         Mas se for isso mesmo, por que se deixar perceber e me confrontar? – quase perdendo a calma, mas ainda a mantendo.

-         Jogo psicológico, esses assassinos são muito bem treinados, tenho certeza que você ponderou isso também.

-         Não faça isso, não pensei em nada disso - o velho levantou uma sobrancelha – tudo bem, esses pensamentos cruzaram a minha mente, mas não pretendo desistir dele, sei que ele ainda está lá dentro em algum lugar – apertou a bainha com força – eu devo isso a ele por não ter chegado a tempo de impedir.

-         E para que tanto esforço, ele não quer ser salvo, faça ao mundo um favor e extermine aquele homem antes que ele cause alguma desgraça.

-         Eu não vou fazer isso, vou traze-lo de volta – fechou os olhos – sinto muito.

-         Como sempre Zack, você passou com louvor no meu teste, seu pai ficaria orgulhoso – sorriu – vamos fazer o melhor enquanto você estiver fora, não se preocupe.

-         Você sabia disso antes mesmo de eu decidir, não é velho Emeth? – sorriu de volta.

-         Quem sabe jovem, quem sabe, só tome cuidado com aquele rapaz, a alma dele está quebrada e nunca se sabe do que uma pessoa assim é capaz de fazer.

-         Obrigado Janus – colocou a mão no ombro do senhor. – não devo demorar mais que alguns dias..

-         Tudo bem, agora vá atrás dele antes que se afaste mais, está ficando tarde e eu estou com sono, amanhã eu repasso a notícia para o clã – caminhou em direção as árvores de onde havia saído e sumiu nas sombras.

            Na manhã seguinte em um salão sem janelas e com uma enorme mesa redonda no centro, tinha o símbolo da cruz com a cobra enrolada com duas asas e uma coroa pintado nela, e estava cercada de cadeiras. Alguns guerreiros muito diferentes um do outro entravam e se sentavam na espera de todos os lugares serem ocupados para poder começar a reunião. A grande maioria conversava tranqüilamente, alguns até riam por causa de histórias de feitos que não deram muito certo ou contos de infância, parecia uma grande família se reencontrando após muito tempo e matando a saudade com exceção de um homem loiro e relativamente baixo que usava bermudas marrons com suspensórios, ele, apesar do ambiente alegre, não conversava com ninguém. Apenas duas cadeiras estavam desocupadas, de repente o barulho da porta rangendo fez o silêncio tomar conta do recinto e todas as atenções se voltarem para ela, era esperado a chegada de dois homens, mas apenas um deles entrou, um velho de cabelos e barba azuis, Janus Emeth.

-         Creio que todos perceberam o que ocorreu ontem à noite – parou e olhou para uma jovem garota que estava sentada no outro lado da mesa – bem, quase todos. - sorriu

-         Ei, não achei graça nenhuma – disse a garota, emburrada e todos riram.

-         E isso irá afetar a missão de alguma forma? – perguntou um monge de cabelos pretos e curtos, cortando as risadas.

-         Acredito que não, ele provavelmente voltará em alguns  dias – o sábio bocejou e se sentou. – agora vamos rever mais uma vez o plano e depois podemos tirar o resto do dia de folga.

-         Como vocês podem estar tão calmos? – gritou uma mulher de cabelos curtos castanhos que usava um vestido roxo e óculos com a armação bem fina – nós precisamos da liderança dele e ele resolve ir atrás de um mercenário qualquer, arriscando a própria vida e tudo pelo que lutamos até agora?! – se levantando e dando um soco na mesa.

-         Calma, Annie, confie no Zack, ele sabe o que está fazendo – interveio o monge.

-         Quantas vezes eu vou ter que te dizer Lou shi, que meu nome é Anna Catharina e não “Annie”, “aninha” ou “Cathy” , você sabe que eu odeio. Além do que eu tenho razão, nosso clã já está forte do jeito que está não precisamos de um assassino nele.

-         Se não fosse esse assassino, não existira esse clã ou sua memória é tão fraca assim Anna? E como você mesma disse, além do que você sabe o que aconteceu com ele – respondeu outra mulher, tinha longos cabelos vermelhos como o fogo que tapavam metade de seu rosto e o corpo inteiro cheio de curvas que se usadas podiam distrair com facilidade as pessoas que o olhassem e suas poucas roupas faziam questão de que fosse visto – é a nossa vez de ajuda-lo – o homem loiro abaixou a aba do chapéu que estava usando para tapar seus olhos.

            O silêncio foi retomando no salão, esse assunto era considerado tabu naquela roda, todos parecia estar relembrando do passado, alguns sorriam disfarçadamente outros mantiam a seriedade, mas todos estavam tristes por dentro naquele instante, menos a jovem garota que parecia confusa. Um homem, de cabelo trançado e roxo, sentado ao lado da atraente mulher, pegou um alaúde que havia colocado atrás de sua cadeira e começou a dedilhar de olhos fechados uma melodia cheia de mágoa.

-         Ei Lou, o que aconteceu? – indagou sussurrando a jovem de cabelos verde claro e sardas no rosto.

-         Não cabe a mim te responder Charlie – tentando não mostra a lágrima que escorria em seu rosto – pergunte para o Zack quando ele voltar, é melhor assim.

-         Já chega Barth, desse jeito vamos morrer aqui de desanimo, temos mais o que fazer – disse um jovem de cabelos castanhos, tapado por uma longa capa, interrompendo a música, engolindo o choro e abrindo um sorriso de ponta a ponta do rosto para disfarçar.

-         Francis tem razão, vamos deixar o Zack resolver isso e vamos rever mais uma vez o plano, falta muito pouco para o dia do confronto chegar. – disse Janus também sorrindo

            Enquanto isso longe dali no meio de uma floresta não muito densa, perto o suficiente do mar para poder sentir o cheiro salgado da maresia, o mercenário estava abaixado com as mãos colocadas em cima de uma lápide simples, seu corpo tapava as inscrições e nada parecia perturba-lo, nem mesmo os passos de se aproximavam dali.

-         Sabia que você estaria aqui – disse Zack mantendo uma distância segura

-          O que você quer? Veio para terminar a disputa de ontem? – se mantendo imóvel.

-         Não quero lutar, vim apenas para conversar – retirou a bainha da cintura e jogou sua arma ao lado do túmulo.

-         Tudo foi dito ontem, não há mais nada a dizer.

O templário se aproximou com calma.

 

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