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RagnaVerso - Voltando aonde alguém já esteve.


Gorah D'Moriam

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Voltando aonde alguém já esteve.

 

A tarde estava calma e o clima ameno não justificava a ansiedade do noviço que olhava pela janela com interesse. - Eu vou dar cheque-mate no seu próximo movimento Gorah! O espadachim falou confiante com uma certeza na voz que fez o noviço se virar.

 

- Alguém já te disse que tu joga um Xadrez irritante Dundun? Pegou uma peça e a moveu. A boca do espadachim se abriu. - Xeque-mate. Disse o noviço sorrindo e voltou a olhar para a janela. O espadachim ficou olhando tentando entender o que havia acontecido. Uma noviça apareceu chamando.

 

Os dois estavam em pé, na frente da pequena escrivaninha onde um velho sacerdote rabiscava alguma coisa. - Encontramos esses livros. Parecem diários. Mas não conseguimos entender bem o que está escrito. Estão lavados com sangue. Dunncan se aproximou e pegou um deles. A capa tinha o selo da abadia e o nome impresso na capa deixava clara sua origem. - Esses livros pertencem àquela expedição que desapareceu a uns 110 anos. Concluiu retomando da memória uma das várias lições de história que havia aprendido. - Exatamente. O sacerdote se levantou. Estou enviando vocês e mais alguns outros estudantes para uma busca. Vão contar com apoio de estudantes de outras escolas também. Os dois se entreolharam.

 

Já era noite quando Gorah e Dunncan chegaram em Geffen onde encontrariam os outros estudantes que os acompanhariam na busca. Dunncan estava interessado em desvendar o que estava escrito nos livros. Nessa época ele era mais interessado em desafios para a mente do que para o corpo. - O líder da expedição parece que queria saber tudo sobre paranormalidade. Ele pensou em voz alta. - Paranormalidade? O noviço pareceu ficar interessado. - É. Eu estou tentando decifrar os borrões dos diários. Eles dão boas indicações de para onde à gente tem que ir.

 

- Oíí! A maga cumprimentou com um aceno. Ao seu lado duas arqueiras e um gatuno também acenavam. Os dois amigos foram ter com eles. - Vocês devem ser Dunncan e Gorah né? Ela falou sorridente. - Meu nome é Tati. Esses são Sara, Lú e Toron. Os três olharam para o espadachim, estranhando os pequenos chifres que protuberavam de sua cabeça, quase imperceptíveis sob o cabelo. Se cumprimentaram e enquanto caminhavam, conversavam um pouco.

 

- Então é verdade que você virou noviço em Gorah! O gatuno deu um tapa nas costas do noviço que sorriu meio sem graça. - É. Um monte de coisa aconteceu. Toron ainda cutucou. - E cadê o cara que dizia que ia ser bruxo? O noviço não respondeu. Estava pensando na expedição, que agora, passados mais de 100 anos iria repetir tentando descobrir o que aconteceu.

 

O quarto do hotel era bem grande. As camas de solteiro estavam arrumadas e do outro lado o grupo estava sentado em torno de uma mesinha estudando os velhos diários sujos e borrados. Era uma tarefa bem difícil entender o que estava escrito. - É rúnico antigo né? Uma das arqueiras fazia careta enquanto consultava hora um dos diários, hora um dicionário que tinha no colo. - Sim. Acho que escreveram em rúnico antigo como forma de treinar, afinal eram todos lingüistas e arqueólogos. Dunncan estava concentrado fazendo anotações. Toron não parecia muito interessado. Brincava de jogar sua damascus para cima e pegar pela ponta da lâmina com a mão nua. Não tirava os olhos de uma das arqueiras. - E aí gracinha, acha que vira a gente se conhecer melhor? Lú não se fez de rogada. - Eu prefiro conhecer um orc. Eles me parecem mais inteligentes e interessantes. O espadachim, não pode deixar de rir. - Opa! Temos uma geladeira no grupo! Ele retrucou tentando sair por cima da situação.

 

Tinham se passado oito dias desde que eles se colocaram no caminho e estavam agora acampados perto de um pequeno riacho. As barracas montadas e a fogueira acesa indicavam que ficariam por alí algum tempo. - Tem certeza que esse é caminho Dundun? O espadachim fez uma careta. - Para de me chamar de Dundun pô? Gorah ignorou. - Eu estou com os mapas do planejamento original. Então esse é o caminho que eles deveriam ter feito. Mas não tem como ter certeza se é o caminho que fizeram. Olha, tá vendo aquela colina lá embaixo? Apontou com o braço todo. - Foi alí perto que acharam os diários. Então deve ter sido por aqui que encontraram. Nisso um forte relâmpago explodiu no céu sobre suas cabeças. O clarão e o susto fizeram com que se jogassem ao chão.

 

- Caramba! O noviço saiu correndo ao ver que Toron e Lú estavam jogados contra uma das barracas e uma tenue fumaça saia deles. Correu para eles, Dunncan logo atrás. Ele se abaixou segurando a cabeça do amigo enquanto usava sua cura de noviço. - Cê tá bem Toron? O gatuno não respondeu. Estava respirando fracamente. Ele olhou para Dunncan que segurava o ombro da arqueira. - Eu estou bem. Estávamos conversando com a Tati e a Sara quando alguma coisa jogou a gente longe.

 

- Dunncan, ajuda aqui! Gorah tentava erguer o gatuno. Ele tá desmaiado. Tati apareceu em seguida. - Eu teleportei. Tava com minha clip do teleporte e com o susto, quando ví já tava do outro lado. Apontou para as árvores mais adiante. Chegou junto da arqueira. - Cadê a Sara? Todos olharam em volta. Gorah e Dunncan quase deixaram o gatuno cair quando viram a cena. Caída num canto, com os cabelos chamuscados e a pele enegrecida, a arqueira estava morta. A maga e a outra arqueira, embora meio zona, se abraçaram e começaram a chorar. OS dois colocaram o gatuno sob uma esteira e se aproximaram. Gorah tocou a pele da menina. Estava quente. - Ela deve ter sido atingida também pelo raio. Dunncan cobriu o corpo com um pano. - Olha. Ela tava descalça. Deve ter sido isso.

 

Pela manhã a sepultura já estava pronta e o corpo da menina devidamente enterrado. Gorah havia passado a noite toda orando ajoelhado em vigília. A maga sentou do seu lado assim que acordou. Os outros ainda dormiam. - Você passou a noite toda com ela? Ela bocejou com os olhos ainda inchados de tanto chorar. - É minha culpa. Ele murmurou. A maga ficou surpresa. - Como pode ser tua culpa um raio cair do céu e acertar ela? É culpa dos deuses. O noviço olhou para ela. - Mas eu sou o líder da expedição. Devia ter prestado atenção e chamado atenção dela para não andar descalça. Ele suspirou. - O que a gente vai dizer pros pais dela?

 

- A verdade. Que estávamos acampados, um raio caiu, acertou ela e ela morreu. Dunncan chegou perto deles. O Toron acordou. Melhor vocês virem ver. E voltou para dentro de uma das barracas. Os dois o seguiram. Sentada ao lado do gatuno, a arqueira limpava o suor do rosto dele com um pano. - E aí meu, cê tá legal? O gatuno abriu os olhos. O susto fez o noviço dar um passo para frente para ver melhor. O que antes eram dois olhos esverdeados e profundos eram agora uma massa cinzenta metalizada. - Lógico. Uma faísquinha daquelas não ia me fazer nada. Ele falou meio sem convicção. Gorah o abençoou e usou da sua cura. - Você está conseguindo enxergar? A maga perguntou. - Nunca enxerguei tão bem! Ele sentou-se, recobrado pela cura do noviço. Podemos continuar nossa jornada? - Acho melhor você descansar mais um pouco. O espadachim se levantou e saiu. Gorah foi atrás, seguido pela maga e pela arqueira.

 

- O que vocês acham? Dunncan coçava o queixo, como se estivesse processando montes de idéias e pensamentos de uma só vez. - Sei lá. Nunca ví um olho daquela cor. A maga alisava seu cabelo com as mãos. - Bom, ele disse que está bem ué. A gente agora tem um problemão. Ou continuamos a busca ou voltamos para casa. O noviço falou com uma sobriedade que surpreendeu o espadachim. Um falcão fez um ruído estridente ao mesmo tempo em que desceu em rasante. Dunncan já estava de espada em punhos por reflexo. - Calma! É o Freeflee. O falcão do meu irmão. Lú ergueu o braço. A ave pousou gentilmente em sua luva. Ela pegou um pequeno bilhete atado na perna da águia e leu em voz alta. - Mamãe e papai estão preocupados e me pediram que enviasse o Freeflee para obter notícias. Espero que esteja tudo bem.

 

Mais alguns dias se passaram. Gorah, Dunncan, Tati, Toron e Lú continuaram sua missão após mandarem o falcão de volta contando o que aconteceu. Deram instruções exatas de onde o corpo da pobre arqueira poderia ser encontrado e do que havia acontecido. Toron parecia completamente refeito do incidente e o único sinal visível do fato eram seus olhos metálicos que brilhavam refletindo a luz do sol. Eles caminhavam com as pesadas mochilas nas costas. A carga nas costas do espadachim estava quase dobrada, pois levava também algumas coisas que eram da pobre Sara. Lú carregava os arcos e flechas da amiga.

 

- Finalmente chegamos ao local. Dunncan deixou a pesada mochila cair das costas fazendo um barulho abafado na grama molhada pela relva que cobria todo o lugar. O sol havia começado a se erguer no céu. Resolveram que era hora de fazer um lanche. E foi o que fizeram. - Vocês acham que já foram pegar o corpo da Sara? Taty perguntou enquanto mexia o açúcar no seu caneco de café, que haviam esquentado sob a pequena fogueira que ela mesma fez com sua magia. - Provavelmente. O espadachim mordeu um pedaço grande de pão. Gorah continuava em silêncio, bebendo uma caneca de vinho, que tirara de sabe-se onde. - De onde você tirou isso? A maga perguntou incrédula. - Você é muito novo para beber! Dunncan riu. Sabia que o noviço adorava vinho e que aquilo para ele era a mesma coisa que água. Não tinha o menor efeito nele. Podia beber litros e litros e continuava sóbrio. - Relaxa. Ele bebe vinho de manhã desde que eu conheço ele. Pegaram os diários e começaram a estudá-los novamente. Somente Lú e Toron não faziam o mesmo. Concentrados no que faziam os três não perceberam o olhar espantado da arqueira que olhava fixamente enquanto o gatuno, com um dedo apontado, brincava de fazer algumas pequenas pedras flutuar em pleno ar.

 

 (continua)

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