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Project Engel


Tanathos Engel

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[Nota: Essa fic vem sendo publicada em outro local a algum tempo já, e agora estou colocando aqui no fórum do bRO. Planejo adicionar os demais capítulos assim que possível. Além disso, obrigado por ler esse texto, e espero que aprecie ^^]

 

 

 

Prelúdio

 

 

 Era uma tarde fria. O Outono na região de Juno sempre era assim. Ventos fortes açoitavam as janelas das casas, produzindo um uivo melancólico. Lá fora as folhas se desprendiam das árvores, e enquanto os habitantes, com lenços no rosto para se protegerem da poeira, caminhavam, podiam ver sua dança pelos ares em miríades de piruetas e cambalhotas aleatórias. A luz do final da tarde, que se aproximava, derramava-se sobre as casas, tornando tudo ainda mais belo e triste. O cenário perfeito para um poeta contar uma história.

  Dentro de uma casa duas pessoas estavam observando tudo isso por uma janela. Um deles era um templário, ele tinha longos e rebeldes cabelos azuis, caindo até o meio de suas costas. Seus olhos eram dourados com pupilas negras em forma de fenda, olhos de demônio, seus dentes caninos eram prolongados. Tinha uma pele pálida, um semblante calmo, e olhava o horizonte despreocupadamente. O outro era um arqueiro. Cabelos castanhos e lisos lhe caiam por um dos lados do rosto, e ele estava com o cachecol bem enrolado no pescoço por causa do frio, mesmo vivendo em Lutie nunca se acostumara a ele. Seus olhos também eram peculiares, azuis claríssimos, glaciais, pareciam com duas rosas de gelo a quem os olhasse. Também era pálido, e também estava calmo enquanto observava a cidade pela janela.

 Quem olhasse os dois atentamente veria algo de semelhante neles, e possivelmente muitas coisas diferentes. Pareciam aguardar algo, ou alguém. O arqueiro puxou um instrumento musical de trás do sofá. Era uma espécie de violão, porém dotado de dez cordas, ao invés das seis tradicionais, e logo começou a dedilhar uma melodia. O templário meramente observou, e após algum tempo falou:

- Está pronto para começar? – Ele levantou uma sobrancelha num gesto indagador.

- Mais ou menos, Tanathos, você sabe disso...Estou apenas procurando as palavras. Buscando minha musa inspiradora – Um sorriso acompanhou estas últimas palavras, junto com o acorde final da melodia.

- Você sempre foi um cara estranho, Vincent.

- E você nunca me criticou por isso. E então, por onde devo começar?

- Pelo começo logicamente. Você sabe o que realmente me interessa nessa história. – O templário olhou para o arqueiro com uma expressão irônica no rosto.

- Ah...O começo, sim, sim, toda boa história tem um começo, e por onde devo começar esta? Dúvida cruel, mas, quem sabe, talvez eu conheça a resposta. Até por que, nela provavelmente está o segredo para matar a teu inimigo, o Sr. Tanathos Dämon.

- E então? Aonde começou a história de nossos pais? De nossos ancestrais?

  Vincent sorriu, e novamente voltou a tocar o incomum instrumento. Tanathos se sentou no sofá da sala e aguardou, seria uma longa noite. Vincent logo concluía mais uma vez sua melodia e voltava a olhar para Tanathos.

- Sabe Tana, as coisas acontecem quando menos se espera que elas aconteçam. Não é uma regra, pois isso é justamente o princípio da casualidade em si. Talvez tudo que tenha acontecido naquela época não tenha passado de um acaso, uma falha numa equação do tempo e do espaço, ou talvez tenha sido tão determinado o quanto pode ser, ou não, este nosso encontro aqui. Mas ora essa! Quem sou eu para falar coisas assim? – Ele sorri, um sorriso plácido, calmo, um sorriso que mostra sua paixão ao que faz – Eu sou um contador de histórias, essa é minha função, e vou cumpri-la. Terá sua história meu caro, mas não me pergunte como ou por que aconteceu, não sei até hoje, desconfio que ninguém saiba. – Ele faz uma pequena pausa, mas logo retoma, num tom sério – Mas eu te garanto uma coisa meu caro amigo, acaso ou não, foi magnífico, algo digno de se ver apenas uma vez.

- E então Vinc?Como foi? – Vincent sorri mais uma vez, e logo começa a contar histórias.

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1º Ato: Pelos sonhos do passado

 

 

  O pequeno aprendiz corria em meio as escaldantes areias do deserto. Os lobos famintos e sanguinários corriam atrás do pequeno aprendiz em meio as escaldantes areias do deserto. Kratos estava ligeiramente pensativo, o que era um fenômeno uma vez que ele tinha alguns lobos querendo um pedaço de suas nádegas para o almoço. Pensava em que mente genial teria se formado a idéia de que para considerar mercadores aptos a comprar e vender eles teriam de correr meia Rune-Midgard com uma caixa na mão, e voltarem com um pedaço de papel. Obviamente, tudo isso mediante o pagamento de uma taxa de admissão para o teste.

  Bem, a verdade era que sua situação não era tão má assim. Dois vultos o observavam de cima de uma colina, servos de sua renomada família. Estavam ali para protegê-lo e obviamente garantir que Kratos seria aprovado no teste, mostrando ser um sucessor digno da família Von Havenheit. Mas o próprio jovem mestre Kratos viera pedir a eles que não o ajudassem sobre hipótese alguma, pois como poderia se tornar ele um grande criador se não conseguia sequer passar num teste estúpido daqueles? Os dois obviamente obedeceram, mas os três sabiam que ao mínimo sinal de perigo real eles iriam intervir.

  Kratos continuava sua corrida desesperada, e logo avistou o que tanto queria ver. As muralhas da cidade de Morroc se erguiam perante seus olhos, e ao longe ele pode enxergar os portões e ,o que logicamente era melhor ainda, os guardas deles. Ele chegou disparado e se atirou cidade adentro, os lobos em sua cola. Mas logo o avanço das feras foi barrado por um sólido par de lanças e então os guardas começaram o trabalho de açougueiro que lhes era tão familiar. Kratos observou o óbvio massacre e se virou para seguir caminho quando uma voz grave se elevou no ambiente:

- EI!Você aí moleque!—Kratos se encolheu e se virou já sabendo o que esperar. O chefe da guarda, velho conhecido de seu pai, o olhava com cara de poucos amigos. Ele antecipava o que viria pela frente. Uma bela de uma bronca. Não era exatamente correto trazer uma matilha de lobos assassinos para dentro de uma cidade cheia de gente.

- Eu acho que vou perguntar ao seu pai com quem você tem andado! Parece que andou fumando um pouco de erva colorida por aí! Trazer uma matilha de lobos na sua cola para dentro de MORROC?! Por que não pediu a Ismael e Reneé que acabassem com eles?! – Kratos apenas escutou sem dizer nada e se preparou para dizer seus argumentos, que seriam massacrados um após o outro, quer ele tivesse razão ou não.

- É que eu estou fazendo o teste para mercador e... Bem, não queria pedir a ajuda de ninguém, nem receber proteção. – Ele viu uma veia saltar na têmpora do chefe da guarda, se encolheu mais ainda e aguardou.

- Não queria pedir a ajuda de ninguém? NINGUÉM? E aqueles guardas fizeram o quê? Deram-te parabéns por ter matado os lobos? EU ACHO QUE NÃO! – Desse ponto em diante Kratos meramente suspirou e deixou os berros do chefe como tema de fundo, passando a observar a cidade. Ele tinha de entregar a encomenda para o assistente de tintureiro, ou algo assim. Olhando com atenção conseguiu avistar uma estalagem, lá deveria haver alguma informação útil. Afinal, já que esse era um teste, a dificuldade deveria ser achar o cliente, demonstrando a perseverança do candidato em fazer uma venda. –...E EU VOU CONTAR TUDO ISSO PARA O SEU PAI! Entendeu?!

- Uh? Ahn? Ah...Claro! – O chefe da guarda olhou para ele e balançou a cabeça.

- Vá, suma da minha vista logo, e vá terminar o bendito teste.

 

  Por algum motivo Kratos não ficara surpreso ao descobrir que seu cliente estava de fato na hospedaria em si. Bando de preguiçosos. Ele suspirou. Estava na sede da guilda dos mercadores, apenas esperando seus trajes. Logo em seguida teria de partir. De volta para o maldito deserto.

 

 

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  Tanathos Sankt estava deitado na sombra de uma árvore perto de Izlude. O vento agitava os fios de cabelo que caiam pelo seu olho direito, e ele cochilava levemente. Ele pensava com orgulho na espada que repousava ao seu lado, uma leve e ágil espada de uma mão e uma lâmina, que ele ganhara de sua família para o dia em que se tornasse espadachim. Seu pai lhe dizia que as origens daquela arma remontavam a uma terra distante, para o leste.

  Naquele dia ele tinha sido aprovado no teste de espadachim, e se tornara apto a usar aquela arma. Honrara sua família, e quando pensava aonde iria começar a treinar algo bateu na sua cabeça, parecia ser um galho.

- Olha vovô!Um cadáver! Vamos cutucar ele?—Uma pequena garotinha, vestida com uma espécie de roupão florido amarrado na cintura, cutucava ele com um galho com algumas folhas. Atrás da garota estava um homem, com seus quarenta e poucos anos, cabelos brancos amarrados num rabo de cavalo, e trajes semelhantes aos da garota, porém menos adornados. Ele olhava a arma ao lado dele com interesse. Tanathos logo tratou de colocar a mão no punho da mesma, pois sabia que era comum gatunos vestirem trajes bonitinhos antes de roubar alguém. Afinal, quem desconfiaria de um austero senhor de terno? Ainda atento ele falou num tom calmo:

- Er...Mocinha acho que há uma confusão aqui. Eu estou vivo, creio eu. – A menina toma um susto ao ver o “cadáver” falar, mas logo entende e sorri para ele.

- Entendo, desculpe senhor. Mas tenho de dizer que seria muito mais interessante se fosse um cadáver. – Sankt não abandona a compostura e continua sorrindo, mas não deixa de estranhar a morbidez da garota. Esses pensamentos são interrompidos quando uma voz grave se propaga em volta dele, e o mesmo passa a prestar atenção no que o senhor diz.

- Perdão, senhor, minha neta é um pouco curiosa demais. Espero que não tenha causado incômodo a você.

- De modo algum. – ele sorri novamente, e logo pergunta – E a garotinha é sua neta? O senhor é bem jovem para ser avô, hein? – O estranho ri, parece um trovão.

- Acho que 59 anos são suficientes para isso – Sankt olha para ele espantado, pois a constituição dele era forte, aparentava ser bem mais jovem. Logo ele entendeu o olhar do homem para a espada. Aquele senhor era um guerreiro, do tipo que lutou a vida inteira, que tinha sangue suficiente nas mãos para pintar uma sala. Era difícil acreditar que alguém assim pudesse estar passeando com a neta calmamente.

- Hm...Senhor, não pude deixar de notar o seu olhar para a minha arma. Algum motivo especial? – O velho senhor assume uma postura mais séria, embora mantenha o bom humor. A neta dele brinca com um Poring ali perto.

- Essa arma é uma Espada proveniente de Amatsu. É uma terra oriental, distante daqui. Eu e minha neta somos de lá, e viemos aqui visitar um amigo da Guilda dos Espadachins. Eu olhei para sua arma com interesse, pois só vi outra assim.

- Aonde viu a outra, senhor?

- Há muito tempo ela foi forjada para uma guerra contra uma Facção daqui, de Rune-Midgard. Entretanto ela sumiu durante a batalha, há indícios que ela ainda esteja por aí. – O tom do homem é calmo, mas seu olhar não esconde seus pensamentos. Ele claramente intuiu que era a mesma arma que estava ali. Tanathos sabia que era, a história da facção era verdadeira, ele sabia que sim. Sankt segurou o punho com mais força, e o homem percebeu. Ele soltou uma estridente gargalhada ao ver isso.

- Vejo que você possui uma percepção bem alta para as intenções dos outros. Mas não se preocupe, não planejo tomá-la de volta como se fosse um direito meu. Não, agora ela é sua. Mas eu me pergunto uma coisa. Quem quer que tenha te dado esta arma, te ensinou a lutar com ela? – Ele sorri astutamente, ao mesmo tempo em que Sankt se encolhe ligeiramente. Seu pai não o havia ensinado a manejar a exótica arma, o que era um problema, mas ele tinha deixado para pensar nisto depois. Aparentemente o seu pai contava que ele aprendesse a fazê-lo com o tempo, mas ao testar a arma Sankt tinha constatado que seu manejo era peculiar, e as posturas tradicionais de combate não pareciam funcionar bem.

- É, deu para perceber que não. Seu pai sempre foi um irresponsável mesmo. – Ao ouvir isso Sankt meramente fica olhando o estranho com uma cara de alguém que começou a voar a não processou o fato.

- Você conhece meu pai? – O homem ri.

- Talvez. Diga uma coisa garoto, gostaria de treinar? – O ar de diversão some do rosto dele ao dizer isso. É uma proposta séria. Sankt resolve ganhar tempo.

- Esteve brincando comigo este tempo inteiro?

- Você sabe que a resposta é sim. Sua vez agora, sim ou não?

- Foi meu pai que o mandou aqui?

- O que isso muda? – Ele permanece impertubável, compreendendo que aquilo é apenas uma distração, e resolve entrar no jogo.

- Quero construir minha força com minhas mãos. Não desejo ajuda, se é para ter algum tipo de mérito que seja merecido. – O velho olha para ele friamente.

- Não vou te ajudar, vou te treinar, se isso dará bons ou maus resultados só depende de você. – Sankt parece pensar.

- Que tipo de oferta gratuita maluca é essa? Você aparece do nada e ofe...

-Chega! – O homem o interrompe no meio da frase. – Sim ou não? – Sankt olha seriamente para o rosto do oriental, e a loucura digna de sua personalidade vem à tona, ora, por quê recusar?

- Sim, eu aceito, Doutor Bem-Humorado. Mas nem tão cedo, preciso fazer algo antes.

- Acha que sou médico para você marcar consulta e aparecer quando quiser?

- É um compromisso inadiável. – O velho pensa após ele dizer isso e suspira.

- Um ano. A partir de hoje. Se você não chegar ao meu dojo em Amatsu em um ano esqueça o treino. – Logo ele se vira e chama a neta.

- Posso saber aonde vai? – Sankt se levanta, pega suas coisas e sai andando. Vai para o sul.

- Para o deserto! – Fala alto, se distanciando – Posso saber o seu nome?

- Tatsumaki!

 

 

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  Um pequeno bando de salgueiros dividia a “carne” de um Poring recém abatido, eram cerca de sete. Tinham olhos apenas para a refeição, e por isso não puderam perceber o par de olhos azuis claros que os observava. Em cima do galho de uma árvore Vincent Renoir assistia os movimentos de seus alvos calmamente. Vestia ainda os trajes de aprendiz, mas por pouco tempo. Faltavam apenas alguns pontos para que fosse aprovado no teste e virasse um arqueiro. Uma peculiaridade sobre o dito Vincent era que apesar de ser aprendiz ele empunhava firmemente um arco negro com adornos prateados, arma que nenhum outro aprendiz conseguiria manejar. Embora se você pensar bem, o impressionante não era ele usar o arco. Era fazê-lo melhor que diversos arqueiros. Vincent sorri, a idéia de eliminar um alvo o deixa em estado de êxtase.

- Sinto muito, mas para vocês a estrada acaba aqui. – Ele salta.

  O que acontece em seguida é de encher os olhos. Enquanto ele ainda está no ar duas flechas são disparadas e atingem dois salgueiros entre os olhos com tanta força que eles se partem em dois. O resto do grupo ainda está meio vidrado na comida, mas começa a se dar conta de que dois deles tinham sido dividos ao meio. O instante de hesitação custa à vida de outros três salgueiros, que caem um após o outro, sem ter ao menos a chance de ver o seu algoz. Os dois restantes começam a se mover na direção de onde vieram às flechas, com suas garras levantadas, mas o local está vazio.

- Desculpem, mas não é meu hábito ficar parado demais. Além disso, vocês são verdadeiras lesmas em termos de velocidade.– Duas flechas perfuram as costas dos salgueiros que caem inertes, sem sequer compreender como morreram.

  Após alguns segundos ,quando o prazer do combate se esvai da mente de Vincent,    ele começa a andar entre os corpos abatidos e a recolher os troncos, necessários para contar pontos no teste de arqueiro. Ele recolhe um bom número deles, e logo em seguida os coloca num alforje que tinha deixado aos pés da árvore. Ele confere e constata que possui pontos mais que suficientes para ser aprovado, e começa a se dirigir a Payon, assoviando uma música calmamente.

 

  A assistente da Guilda dos Arqueiros olha para Vincent meio abismada, pois ele tinha estado ali se inscrevendo a menos de meia hora, e já tinha terminado tudo, e com uma pontuação alta. Devia ser algum tipo de recorde. O estranho garoto a olhava o tempo todo com aquelas duas moedas azuis no rosto, o tempo todo parecendo observar, mirar e atirar. Em todos aqueles anos ela jamais tinha visto alguém com um espírito de artilheiro tão grande, e aquilo a assustava. Ela vai ao depósito da guilda e pega os trajes de arqueiro.

- Eu poderia pegar o arco, mas creio que você não vá querer. Se quiser podemos lhe dar a soma em dinheiro equivalente. – Ela fala isso enquanto volta do depósito e entrega rapidamente os trajes a ele, ansiosa em livrar-se do mesmo.

- Não é necessário, preciso ir logo para o Oeste. – A mulher se surpreende um pouco com aquilo e não resiste a perguntar:

- Mas para o Oeste fica o Deserto de Sograt, você não pode se aventurar por lá ainda! Além disso, vai fritar vivo com essa pele branca. – Vincent meramente sorri e fala calmamente:

- O sol não me incomoda, eu que costumo incomodá-lo. E quanto a eu não estar preparado...Olha, eu não apostaria muito dinheiro nisso se fosse você.

 Ele dá meia volta e logo sai dali, deixando para traz uma atendente que não se incomoda nem um pouco com ausência dele.

 

 

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  Kratos estava sentado na areia envolto em um manto. À sua frente uma fogueira lutava bravamente com a escuridão absoluta do deserto à sua volta. Era época de lua nova, e nesses dias a noite no deserto se assemelhava a umas férias no Abismo. O vento gélido o açoitava como o mais cruel dos chicotes, mas ele não se incomodava com aquilo. Um pequeno bule de café, fortemente escorado com pedras, estava sobre a fogueira, esquentando. Kratos esperava.

  Logo um vulto apareceu ao Leste de onde ele estava, caminhava a passos rápidos e leves, também usando um manto longo como o dele. Uma pequena tocha reluzia em sua mão, e um arco repousava em suas costas. Logo Vincent se aproxima e apaga a tocha com um gesto, pousando suas coisas no chão e sentando perto da fogueira. Ele olha em volta, como procurando mais algo ou alguém.

- Ele está atrasado, como sempre. – Kratos ri.

- Não seria ele se não fosse assim. – Após isso ambos se calam e aguardam.

  Basta uma hora de espera para que o terceiro deles apareça, vindo do Norte. Ele repete mais ou menos o que Vincent fez ao chegar, com a diferença que ao invés de um arco, ele pousa uma espada nas areias do deserto.

 

  Logo os três pegam cada um uma xícara de café, e bebem alguns goles. Colocam-se em posições confortáveis, pois a noite será longa. Sankt quebra o silêncio, e mal podia ele imaginar que essas palavras, ditas por ele de modo casual e brincalhão, eram como a primeira gota de um gigantesco temporal. Para eles tudo parecia simples, ali, com seus companheiros em meio ao Deserto de Sograt, esperando pela próxima aventura. Eles teriam sua aventura, mas acho que se pudessem escolher, talvez tivessem preferido ter acabado com a carreira de aventureiros deles ali. Pena que um deles não pode mais escolher nada.

- E então, meus caros recém-integrados a Guilda dos Arqueiros e dos Mercadores, vamos palestrar? – Sankt sorri. Por algum motivo Kratos pensaria por muitos anos que aquele sorriso, apesar de amigável, parecia um aviso. Um aviso de que aquele seria um dos últimos sorrisos que veriam por um bom tempo.

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[Nota: Essa fic vem sendo publicada em outro local a algum tempo já, e agora estou colocando aqui no fórum do bRO. Planejo adicionar os demais capítulos assim que possível. Além disso, obrigado por ler esse texto, e espero que aprecie ^^]

 

 

 

Prelúdio

 

 

 Era uma tarde fria. O Outono na região de Juno sempre era assim. Ventos fortes açoitavam as janelas das casas, produzindo um uivo melancólico. Lá fora as folhas se desprendiam das árvores, e enquanto os habitantes, com lenços no rosto para se protegerem da poeira, caminhavam, podiam ver sua dança pelos ares em miríades de piruetas e cambalhotas aleatórias. A luz do final da tarde, que se aproximava, derramava-se sobre as casas, tornando tudo ainda mais belo e triste. O cenário perfeito para um poeta contar uma história.

  Dentro de uma casa duas pessoas estavam observando tudo isso por uma janela. Um deles era um templário, ele tinha longos e rebeldes cabelos azuis, caindo até o meio de suas costas. Seus olhos eram dourados com pupilas negras em forma de fenda, olhos de demônio, seus dentes caninos eram prolongados. Tinha uma pele pálida, um semblante calmo, e olhava o horizonte despreocupadamente. O outro era um arqueiro. Cabelos castanhos e lisos lhe caiam por um dos lados do rosto, e ele estava com o cachecol bem enrolado no pescoço por causa do frio, mesmo vivendo em Lutie nunca se acostumara a ele. Seus olhos também eram peculiares, azuis claríssimos, glaciais, pareciam com duas rosas de gelo a quem os olhasse. Também era pálido, e também estava calmo enquanto observava a cidade pela janela.

 Quem olhasse os dois atentamente veria algo de semelhante neles, e possivelmente muitas coisas diferentes. Pareciam aguardar algo, ou alguém. O arqueiro puxou um instrumento musical de trás do sofá. Era uma espécie de violão, porém dotado de dez cordas, ao invés das seis tradicionais, e logo começou a dedilhar uma melodia. O templário meramente observou, e após algum tempo falou:

- Está pronto para começar? – Ele levantou uma sobrancelha num gesto indagador.

- Mais ou menos, Tanathos, você sabe disso...Estou apenas procurando as palavras. Buscando minha musa inspiradora – Um sorriso acompanhou estas últimas palavras, junto com o acorde final da melodia.

- Você sempre foi um cara estranho, Vincent.

- E você nunca me criticou por isso. E então, por onde devo começar?

- Pelo começo logicamente. Você sabe o que realmente me interessa nessa história. – O templário olhou para o arqueiro com uma expressão irônica no rosto.

- Ah...O começo, sim, sim, toda boa história tem um começo, e por onde devo começar esta? Dúvida cruel, mas, quem sabe, talvez eu conheça a resposta. Até por que, nela provavelmente está o segredo para matar a teu inimigo, o Sr. Tanathos Dämon.

- E então? Aonde começou a história de nossos pais? De nossos ancestrais?

  Vincent sorriu, e novamente voltou a tocar o incomum instrumento. Tanathos se sentou no sofá da sala e aguardou, seria uma longa noite. Vincent logo concluía mais uma vez sua melodia e voltava a olhar para Tanathos.

- Sabe Tana, as coisas acontecem quando menos se espera que elas aconteçam. Não é uma regra, pois isso é justamente o princípio da casualidade em si. Talvez tudo que tenha acontecido naquela época não tenha passado de um acaso, uma falha numa equação do tempo e do espaço, ou talvez tenha sido tão determinado o quanto pode ser, ou não, este nosso encontro aqui. Mas ora essa! Quem sou eu para falar coisas assim? – Ele sorri, um sorriso plácido, calmo, um sorriso que mostra sua paixão ao que faz – Eu sou um contador de histórias, essa é minha função, e vou cumpri-la. Terá sua história meu caro, mas não me pergunte como ou por que aconteceu, não sei até hoje, desconfio que ninguém saiba. – Ele faz uma pequena pausa, mas logo retoma, num tom sério – Mas eu te garanto uma coisa meu caro amigo, acaso ou não, foi magnífico, algo digno de se ver apenas uma vez.

- E então Vinc?Como foi? – Vincent sorri mais uma vez, e logo começa a contar histórias.

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1º Ato: Pelos sonhos do passado

 

 

  O pequeno aprendiz corria em meio as escaldantes areias do deserto. Os lobos famintos e sanguinários corriam atrás do pequeno aprendiz em meio as escaldantes areias do deserto. Kratos estava ligeiramente pensativo, o que era um fenômeno uma vez que ele tinha alguns lobos querendo um pedaço de suas nádegas para o almoço. Pensava em que mente genial teria se formado a idéia de que para considerar mercadores aptos a comprar e vender eles teriam de correr meia Rune-Midgard com uma caixa na mão, e voltarem com um pedaço de papel. Obviamente, tudo isso mediante o pagamento de uma taxa de admissão para o teste.

  Bem, a verdade era que sua situação não era tão má assim. Dois vultos o observavam de cima de uma colina, servos de sua renomada família. Estavam ali para protegê-lo e obviamente garantir que Kratos seria aprovado no teste, mostrando ser um sucessor digno da família Von Havenheit. Mas o próprio jovem mestre Kratos viera pedir a eles que não o ajudassem sobre hipótese alguma, pois como poderia se tornar ele um grande criador se não conseguia sequer passar num teste estúpido daqueles? Os dois obviamente obedeceram, mas os três sabiam que ao mínimo sinal de perigo real eles iriam intervir.

  Kratos continuava sua corrida desesperada, e logo avistou o que tanto queria ver. As muralhas da cidade de Morroc se erguiam perante seus olhos, e ao longe ele pode enxergar os portões e ,o que logicamente era melhor ainda, os guardas deles. Ele chegou disparado e se atirou cidade adentro, os lobos em sua cola. Mas logo o avanço das feras foi barrado por um sólido par de lanças e então os guardas começaram o trabalho de açougueiro que lhes era tão familiar. Kratos observou o óbvio massacre e se virou para seguir caminho quando uma voz grave se elevou no ambiente:

- EI!Você aí moleque!—Kratos se encolheu e se virou já sabendo o que esperar. O chefe da guarda, velho conhecido de seu pai, o olhava com cara de poucos amigos. Ele antecipava o que viria pela frente. Uma bela de uma bronca. Não era exatamente correto trazer uma matilha de lobos assassinos para dentro de uma cidade cheia de gente.

- Eu acho que vou perguntar ao seu pai com quem você tem andado! Parece que andou fumando um pouco de erva colorida por aí! Trazer uma matilha de lobos na sua cola para dentro de MORROC?! Por que não pediu a Ismael e Reneé que acabassem com eles?! – Kratos apenas escutou sem dizer nada e se preparou para dizer seus argumentos, que seriam massacrados um após o outro, quer ele tivesse razão ou não.

- É que eu estou fazendo o teste para mercador e... Bem, não queria pedir a ajuda de ninguém, nem receber proteção. – Ele viu uma veia saltar na têmpora do chefe da guarda, se encolheu mais ainda e aguardou.

- Não queria pedir a ajuda de ninguém? NINGUÉM? E aqueles guardas fizeram o quê? Deram-te parabéns por ter matado os lobos? EU ACHO QUE NÃO! – Desse ponto em diante Kratos meramente suspirou e deixou os berros do chefe como tema de fundo, passando a observar a cidade. Ele tinha de entregar a encomenda para o assistente de tintureiro, ou algo assim. Olhando com atenção conseguiu avistar uma estalagem, lá deveria haver alguma informação útil. Afinal, já que esse era um teste, a dificuldade deveria ser achar o cliente, demonstrando a perseverança do candidato em fazer uma venda. –...E EU VOU CONTAR TUDO ISSO PARA O SEU PAI! Entendeu?!

- Uh? Ahn? Ah...Claro! – O chefe da guarda olhou para ele e balançou a cabeça.

- Vá, suma da minha vista logo, e vá terminar o bendito teste.

 

  Por algum motivo Kratos não ficara surpreso ao descobrir que seu cliente estava de fato na hospedaria em si. Bando de preguiçosos. Ele suspirou. Estava na sede da guilda dos mercadores, apenas esperando seus trajes. Logo em seguida teria de partir. De volta para o maldito deserto.

 

 

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  Tanathos Sankt estava deitado na sombra de uma árvore perto de Izlude. O vento agitava os fios de cabelo que caiam pelo seu olho direito, e ele cochilava levemente. Ele pensava com orgulho na espada que repousava ao seu lado, uma leve e ágil espada de uma mão e uma lâmina, que ele ganhara de sua família para o dia em que se tornasse espadachim. Seu pai lhe dizia que as origens daquela arma remontavam a uma terra distante, para o leste.

  Naquele dia ele tinha sido aprovado no teste de espadachim, e se tornara apto a usar aquela arma. Honrara sua família, e quando pensava aonde iria começar a treinar algo bateu na sua cabeça, parecia ser um galho.

- Olha vovô!Um cadáver! Vamos cutucar ele?—Uma pequena garotinha, vestida com uma espécie de roupão florido amarrado na cintura, cutucava ele com um galho com algumas folhas. Atrás da garota estava um homem, com seus quarenta e poucos anos, cabelos brancos amarrados num rabo de cavalo, e trajes semelhantes aos da garota, porém menos adornados. Ele olhava a arma ao lado dele com interesse. Tanathos logo tratou de colocar a mão no punho da mesma, pois sabia que era comum gatunos vestirem trajes bonitinhos antes de roubar alguém. Afinal, quem desconfiaria de um austero senhor de terno? Ainda atento ele falou num tom calmo:

- Er...Mocinha acho que há uma confusão aqui. Eu estou vivo, creio eu. – A menina toma um susto ao ver o “cadáver” falar, mas logo entende e sorri para ele.

- Entendo, desculpe senhor. Mas tenho de dizer que seria muito mais interessante se fosse um cadáver. – Sankt não abandona a compostura e continua sorrindo, mas não deixa de estranhar a morbidez da garota. Esses pensamentos são interrompidos quando uma voz grave se propaga em volta dele, e o mesmo passa a prestar atenção no que o senhor diz.

- Perdão, senhor, minha neta é um pouco curiosa demais. Espero que não tenha causado incômodo a você.

- De modo algum. – ele sorri novamente, e logo pergunta – E a garotinha é sua neta? O senhor é bem jovem para ser avô, hein? – O estranho ri, parece um trovão.

- Acho que 59 anos são suficientes para isso – Sankt olha para ele espantado, pois a constituição dele era forte, aparentava ser bem mais jovem. Logo ele entendeu o olhar do homem para a espada. Aquele senhor era um guerreiro, do tipo que lutou a vida inteira, que tinha sangue suficiente nas mãos para pintar uma sala. Era difícil acreditar que alguém assim pudesse estar passeando com a neta calmamente.

- Hm...Senhor, não pude deixar de notar o seu olhar para a minha arma. Algum motivo especial? – O velho senhor assume uma postura mais séria, embora mantenha o bom humor. A neta dele brinca com um Poring ali perto.

- Essa arma é uma Espada proveniente de Amatsu. É uma terra oriental, distante daqui. Eu e minha neta somos de lá, e viemos aqui visitar um amigo da Guilda dos Espadachins. Eu olhei para sua arma com interesse, pois só vi outra assim.

- Aonde viu a outra, senhor?

- Há muito tempo ela foi forjada para uma guerra contra uma Facção daqui, de Rune-Midgard. Entretanto ela sumiu durante a batalha, há indícios que ela ainda esteja por aí. – O tom do homem é calmo, mas seu olhar não esconde seus pensamentos. Ele claramente intuiu que era a mesma arma que estava ali. Tanathos sabia que era, a história da facção era verdadeira, ele sabia que sim. Sankt segurou o punho com mais força, e o homem percebeu. Ele soltou uma estridente gargalhada ao ver isso.

- Vejo que você possui uma percepção bem alta para as intenções dos outros. Mas não se preocupe, não planejo tomá-la de volta como se fosse um direito meu. Não, agora ela é sua. Mas eu me pergunto uma coisa. Quem quer que tenha te dado esta arma, te ensinou a lutar com ela? – Ele sorri astutamente, ao mesmo tempo em que Sankt se encolhe ligeiramente. Seu pai não o havia ensinado a manejar a exótica arma, o que era um problema, mas ele tinha deixado para pensar nisto depois. Aparentemente o seu pai contava que ele aprendesse a fazê-lo com o tempo, mas ao testar a arma Sankt tinha constatado que seu manejo era peculiar, e as posturas tradicionais de combate não pareciam funcionar bem.

- É, deu para perceber que não. Seu pai sempre foi um irresponsável mesmo. – Ao ouvir isso Sankt meramente fica olhando o estranho com uma cara de alguém que começou a voar a não processou o fato.

- Você conhece meu pai? – O homem ri.

- Talvez. Diga uma coisa garoto, gostaria de treinar? – O ar de diversão some do rosto dele ao dizer isso. É uma proposta séria. Sankt resolve ganhar tempo.

- Esteve brincando comigo este tempo inteiro?

- Você sabe que a resposta é sim. Sua vez agora, sim ou não?

- Foi meu pai que o mandou aqui?

- O que isso muda? – Ele permanece impertubável, compreendendo que aquilo é apenas uma distração, e resolve entrar no jogo.

- Quero construir minha força com minhas mãos. Não desejo ajuda, se é para ter algum tipo de mérito que seja merecido. – O velho olha para ele friamente.

- Não vou te ajudar, vou te treinar, se isso dará bons ou maus resultados só depende de você. – Sankt parece pensar.

- Que tipo de oferta gratuita maluca é essa? Você aparece do nada e ofe...

-Chega! – O homem o interrompe no meio da frase. – Sim ou não? – Sankt olha seriamente para o rosto do oriental, e a loucura digna de sua personalidade vem à tona, ora, por quê recusar?

- Sim, eu aceito, Doutor Bem-Humorado. Mas nem tão cedo, preciso fazer algo antes.

- Acha que sou médico para você marcar consulta e aparecer quando quiser?

- É um compromisso inadiável. – O velho pensa após ele dizer isso e suspira.

- Um ano. A partir de hoje. Se você não chegar ao meu dojo em Amatsu em um ano esqueça o treino. – Logo ele se vira e chama a neta.

- Posso saber aonde vai? – Sankt se levanta, pega suas coisas e sai andando. Vai para o sul.

- Para o deserto! – Fala alto, se distanciando – Posso saber o seu nome?

- Tatsumaki!

 

 

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  Um pequeno bando de salgueiros dividia a “carne” de um Poring recém abatido, eram cerca de sete. Tinham olhos apenas para a refeição, e por isso não puderam perceber o par de olhos azuis claros que os observava. Em cima do galho de uma árvore Vincent Renoir assistia os movimentos de seus alvos calmamente. Vestia ainda os trajes de aprendiz, mas por pouco tempo. Faltavam apenas alguns pontos para que fosse aprovado no teste e virasse um arqueiro. Uma peculiaridade sobre o dito Vincent era que apesar de ser aprendiz ele empunhava firmemente um arco negro com adornos prateados, arma que nenhum outro aprendiz conseguiria manejar. Embora se você pensar bem, o impressionante não era ele usar o arco. Era fazê-lo melhor que diversos arqueiros. Vincent sorri, a idéia de eliminar um alvo o deixa em estado de êxtase.

- Sinto muito, mas para vocês a estrada acaba aqui. – Ele salta.

  O que acontece em seguida é de encher os olhos. Enquanto ele ainda está no ar duas flechas são disparadas e atingem dois salgueiros entre os olhos com tanta força que eles se partem em dois. O resto do grupo ainda está meio vidrado na comida, mas começa a se dar conta de que dois deles tinham sido dividos ao meio. O instante de hesitação custa à vida de outros três salgueiros, que caem um após o outro, sem ter ao menos a chance de ver o seu algoz. Os dois restantes começam a se mover na direção de onde vieram às flechas, com suas garras levantadas, mas o local está vazio.

- Desculpem, mas não é meu hábito ficar parado demais. Além disso, vocês são verdadeiras lesmas em termos de velocidade.– Duas flechas perfuram as costas dos salgueiros que caem inertes, sem sequer compreender como morreram.

  Após alguns segundos ,quando o prazer do combate se esvai da mente de Vincent,    ele começa a andar entre os corpos abatidos e a recolher os troncos, necessários para contar pontos no teste de arqueiro. Ele recolhe um bom número deles, e logo em seguida os coloca num alforje que tinha deixado aos pés da árvore. Ele confere e constata que possui pontos mais que suficientes para ser aprovado, e começa a se dirigir a Payon, assoviando uma música calmamente.

 

  A assistente da Guilda dos Arqueiros olha para Vincent meio abismada, pois ele tinha estado ali se inscrevendo a menos de meia hora, e já tinha terminado tudo, e com uma pontuação alta. Devia ser algum tipo de recorde. O estranho garoto a olhava o tempo todo com aquelas duas moedas azuis no rosto, o tempo todo parecendo observar, mirar e atirar. Em todos aqueles anos ela jamais tinha visto alguém com um espírito de artilheiro tão grande, e aquilo a assustava. Ela vai ao depósito da guilda e pega os trajes de arqueiro.

- Eu poderia pegar o arco, mas creio que você não vá querer. Se quiser podemos lhe dar a soma em dinheiro equivalente. – Ela fala isso enquanto volta do depósito e entrega rapidamente os trajes a ele, ansiosa em livrar-se do mesmo.

- Não é necessário, preciso ir logo para o Oeste. – A mulher se surpreende um pouco com aquilo e não resiste a perguntar:

- Mas para o Oeste fica o Deserto de Sograt, você não pode se aventurar por lá ainda! Além disso, vai fritar vivo com essa pele branca. – Vincent meramente sorri e fala calmamente:

- O sol não me incomoda, eu que costumo incomodá-lo. E quanto a eu não estar preparado...Olha, eu não apostaria muito dinheiro nisso se fosse você.

 Ele dá meia volta e logo sai dali, deixando para traz uma atendente que não se incomoda nem um pouco com ausência dele.

 

 

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  Kratos estava sentado na areia envolto em um manto. À sua frente uma fogueira lutava bravamente com a escuridão absoluta do deserto à sua volta. Era época de lua nova, e nesses dias a noite no deserto se assemelhava a umas férias no Abismo. O vento gélido o açoitava como o mais cruel dos chicotes, mas ele não se incomodava com aquilo. Um pequeno bule de café, fortemente escorado com pedras, estava sobre a fogueira, esquentando. Kratos esperava.

  Logo um vulto apareceu ao Leste de onde ele estava, caminhava a passos rápidos e leves, também usando um manto longo como o dele. Uma pequena tocha reluzia em sua mão, e um arco repousava em suas costas. Logo Vincent se aproxima e apaga a tocha com um gesto, pousando suas coisas no chão e sentando perto da fogueira. Ele olha em volta, como procurando mais algo ou alguém.

- Ele está atrasado, como sempre. – Kratos ri.

- Não seria ele se não fosse assim. – Após isso ambos se calam e aguardam.

  Basta uma hora de espera para que o terceiro deles apareça, vindo do Norte. Ele repete mais ou menos o que Vincent fez ao chegar, com a diferença que ao invés de um arco, ele pousa uma espada nas areias do deserto.

 

  Logo os três pegam cada um uma xícara de café, e bebem alguns goles. Colocam-se em posições confortáveis, pois a noite será longa. Sankt quebra o silêncio, e mal podia ele imaginar que essas palavras, ditas por ele de modo casual e brincalhão, eram como a primeira gota de um gigantesco temporal. Para eles tudo parecia simples, ali, com seus companheiros em meio ao Deserto de Sograt, esperando pela próxima aventura. Eles teriam sua aventura, mas acho que se pudessem escolher, talvez tivessem preferido ter acabado com a carreira de aventureiros deles ali. Pena que um deles não pode mais escolher nada.

- E então, meus caros recém-integrados a Guilda dos Arqueiros e dos Mercadores, vamos palestrar? – Sankt sorri. Por algum motivo Kratos pensaria por muitos anos que aquele sorriso, apesar de amigável, parecia um aviso. Um aviso de que aquele seria um dos últimos sorrisos que veriam por um bom tempo.

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 2º Ato: Palavras e uma Rosa em meio as Dunas  

 

- E então?Como ficamos? – Sankt perguntou olhando

para os demais de modo indagador.

 

- Bem, alcançamos nosso objetivo primário, deixamos de ser aprendizes. Mas

ainda temos um longo caminho pela frente, todos sabemos disto. – Agora Vincent

falava, Kratos permanecia calado, pois sabia que aquilo não era só o que tinham

de definir naquele encontro. Ele resolveu quebrar o silêncio e ser mais direto,

não havia necessidade de melindres com amigos tão próximos.

 

- Bem, temos apenas mais uma decisão a tomar. De que lado ficaremos? – Sankt e

Vincent se calaram perante a pergunta, pois essa era a pergunta. A única que

realmente importava.

 

 

 

 

 

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  É fato conhecido de qualquer estudioso que para que uma civilização

avance é necessário um sistema político que a organize. O sistema político deve

possuir amplos poderes e a capacidade de decidir o que é melhor para o Estado.

Mas, e se ele não estiver indo bem?

 

  Certos fanáticos por conspirações afirmam que há muito tempo o Reino de

Rune-Midgard e a República de Schwartzwald passavam por uma crise econômica e

política. O comércio estava estagnado, e o povo caindo na miséria absoluta.

Então, diante desta situação desesperadora, os mais poderosos guerreiros, os

mais ricos comerciantes e os mais influentes políticos resolveram criar duas

facções. Estas seriam Hades e Zeus. Essas facções teriam como sua função

policiar o governo garantindo que tudo estivesse nos eixos, permitindo que a

população, e conseqüentemente os membros das mesmas, prosperassem em paz. Pouco

se saberia sobre as organizações, e menos ainda sobre seus membros, que

guardariam o segredo mesmo sobre ameaça de morte. Graças aos recursos econômicos,

políticos e bélicos ilimitados as facções poderiam intervir como quisessem na

história de seus territórios. Conta-se que a Hades seria responsável por

garantir a prosperidade na República, enquanto Zeus guardaria pelo Reino.

Jamais se expondo, sempre na surdina e mortalmente eficientes, estes seriam os

membros de ambas as facções.

 

  Uma bela inspiração para um bardo contar histórias numa taverna. O

problema é que os tais fanáticos por conspiração nem sempre estão errados.

 

  Além disso, poderia se perguntar: E se uma das facções não cumprisse com

o dever deliberadamente, para tirar vantagem sobre a outra? A resposta é óbvia.

Haveria guerra, uma guerra na surdina, uma guerra de espiões e assassinos, mas

ainda assim uma guerra.

 

 

 

 

 

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-Bem, isso é com vocês dois. Nós três sabemos que minha escolha nisto é zero. –

Sankt fala. Seu nome, Tanathos Sankt, é uma estranha coincidência quando se

relaciona a Hades. Afinal, nesta mitologia, Tanathos é o filho de Hades. Mais

que mera coincidência. A família Tanathos é responsável pelo setor bélico da

Hades a mais de três séculos. Mesmo sendo apenas um espadachim, a partir do

momento que ingressasse na Hades, seria no mínimo um tenente, graças ao seu

sangue nobre.

 

  Vincent e Kratos fazem uma careta com a afirmação. Sabem como o amigo

deles é revoltado com aquilo.

 

-Bem, acho que não tem muito que se dizer. O fato é: A Zeus cometeu um erro.

Eles resolveram quebrar uma tradição e trazer problemas desnecessários, e devem

ser punidos por isso. Acho que também fico e luto na Hades. E você, Kratos? –

Vincent termina de falar, e espera a resposta do último dos três. Kratos

suspira.

 

- Sim, eu acho que vou para a Hades também, afinal, foi isto que planejamos

desde o começo. –Kratos não gostava muito de guerras. Preferia um laboratório a

uma batalha, em qualquer ocasião. Mas lutaria mesmo assim.

 

  Vincent e Kratos costumavam brincar com Sankt graças à nobreza do mesmo,

mas eles não ficavam muito atrás. Se a família Tanathos era comandante do setor

bélico, a Von Havenheit estava entre uma das cinco famílias mais ricas do

continente, e os Renoir eram políticos e artistas famosos. Eles tinham um dito direito

de escolha, dado a todos os membros das famílias, entre entrar ou não no

embate. Mas era algo simbólico, pois desde cedo eram educados para isto.

 

  Sankt pega a sua arma e a contempla por algum tempo. Pensa no treino que

tem de fazer, e que não pode desperdiçar.

 

- Bem, terminou sendo o que deveria ser. Não tínhamos outra opção, e sabíamos

disso, Vamos encarar nossas escolhas seriamente, e é só. – Vincent e Kratos

meramente concordaram. Ele estava certo, o que poderiam acrescentar?

 

- Mas...Sankt, Kratos, se realmente desejamos fazer a diferença no embate,

precisamos nos fortalecer, e além disto seguir logo para a República. Temos de

nós apresentar, e declararmos nossas intenções.

 

- É eu sei. Não temos outra escolha. Se for assim, está definido nosso

destino... Vamos voltar para casa. Para a República de Schwartzwald. – Os

outros dois concordam com Sankt, e logo é Kratos quem fala.

 

- Estamos meio cansados, vamos dormir por aqui esta noite, acho que não tem

perigo. Amanhã seguiremos pela República, e lá vamos ver se somos capazes de

ajudar em algo. Caso não, partiremos direto para o treino. – Vincent e Kratos

começam a se preparar para dormir, no entando Sankt continua observando sua

arma.

 

-Pessoal quanto ao treino... – Vincent e Kratos se viram e o olham, mas Sankt

balança a cabeça e sorri. – Nada, não é nada. Outra hora falamos sobre isso. –

Ele também vai dormir.

 

  Os três adormecem e esperam o sol que anuncia o fim de sua infância. A

partir daquele momento decidiram ser soldados, apesar de terem ainda doze ou

treze anos, tinham tomado a decisão de um adulto. Ainda não eram maduros,

embora fossem se tornar rapidamente, logo logo. Mas eles estavam sonolentos

demais para refletir sobre algo assim, e sua maior preocupação no momento era

com a longa viagem que teriam pela frente.

 

 

 

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  Os primeiros raios de sol entraram

preguiçosamente pelos olhos dos três viajantes naquele vale de dunas, em pleno

Deserto de Sograt. Vincent, decerto o mais enérgico dos três, foi o primeiro a

se levantar. Ainda sentia os resquícios do frio da noite desértica, e a

fogueira que tinha os aquecido na noite anterior agora era pouco mais que um amontoado

de brasas. Ele se espreguiçou, e tratou de acordar os demais. Os três tinham

vindo de um local com um clima bem mais agradável que o dali durante do dia, e

mesmo que pudessem conviver com o calor do deserto, seria útil aproveitar as

poucas horas do dia que eram frias. Sankt e Kratos acordaram lentamente, mas

entenderam o motivo do despertar forçado e trataram de se por despertos.

 

- Deu para descansar, mas espero que não tenhamos adentrado tanto assim no

deserto. Eu consegui me localizar até aqui, mas refletindo sobre o encontro

esqueci de calcular a distância. – Era Sankt quem falava isso, ao mesmo tempo

em que recolhia seus poucos pertences.

 

- Não tenho dados exatos, mas não chegamos a entrar tanto assim. Se viajarmos

hoje a bons passos e adentrarmos um pouco à noite, se não sofrermos

interrupções, chegamos hoje mesmo. Caso não seja possível assim, no mais tardar

amanhã ao meio-dia. – Vincent falou aquilo já de pé, esperando que os dois

recolhessem suas coisas, o que não demorou muito.

 

- Bem, suponho que vamos comer enquanto andamos, certo? – Kratos falou,

colocando a mochila nas costas com uma mão, e com a outra tirando três pães com

algum tipo de recheio. Jogou dois deles para seus amigos que os pegaram

habilmente. Os três estavam prontos, logo começaram a caminhar, falando pouco a

princípio. O deserto se estendia a sua frente.

 

  Caminharam ainda com uma temperatura agradável, mas logo puderam sentir

o sol surgindo à sua direita, enquanto se dirigiam para o Norte. Impiedoso e

miseravelmente quente, eles logo começaram a sentir os efeitos de uma caminhada

prolongada naquele tipo de terreno. Suas pernas entravam fundo na areia, e eram

obrigados a subir dunas que pareciam colinas. Além disso, volta e meia tinham

de achar caminho em meio a alguma formação rochosa incomum ou penhasco, embora

nenhum deles muito alto, que lhes apareciam pela frente.

 

  Mas nenhum deles reclamava disto, pois sabia que aquilo era pouco

comparado ao que realmente podiam sofrer no deserto. É certo afirmar que eles

não eram exatamente o mercador, arqueiro e espadachim mais normais do mundo. De

fato, em alguns aspectos eles eram superiores a uma boa maioria de seus

semelhantes em profissão. Mas isso de modo algum mudava o fato de que eram um

arqueiro, um mercador e um espadachim. Guerreiros mais fortes tinham caído ali.

Havia naquele local criaturas fortes e agressivas. Desse modo, eles ficaram

felizes em não encontrar nenhuma delas nas primeiras horas do dia, quando ainda

estavam longe da saída do deserto. E de algum tipo de ajuda.

 

 

 

 

 

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  Estavam num trecho particularmente difícil. Um penhasco se estendia

próximo à entrada daquela área, e aparentemente não havia uma passagem que se

pudesse chamar de segura. O penhasco se estendia por toda a extensão que podiam

ver, até se chocar com uma parede rochosa muito mais alta. Era também mais alto

que os que já tinham encontrado.

 

- Se algum de vocês tiver cordas acho que seria possível descermos até um ponto

aonde um pulo não iria machucar, muito.- Kratos sugeria, enquanto observava a

base da formação rochosa ao lado dos outros dois.

 

- Será que não poderíamos voltar e contornar isso tudo, Kratos?

 

- Nem em sonho, Sankt, não sabemos a tamanho daquela verdadeira montanha de

pedra aonde isto aqui termina. Além disso, isso aumentaria, e muito, o tempo de

viagem. Não seria legal ficar sem água no meio do deserto, se é que me entende.

– Sankt meramente assentiu.

 

- E você, Vinc? O que acha?

 

  Vincent estava quieto, e olhando fixamente para a base do penhasco,

mexendo ocasionalmente a cabeça. Naquele momento algo estranho aconteceu com os

olhos dele. Foi como se as pupilas se dividissem, formando uma espécie de mira

sobre os olhos do amigo. Sankt e Kratos se arrepiaram ao ver aquilo, pois era

bem estranho. Mas já tinham visto antes, e sabiam que não significava boa

coisa.

 

- Não pensem que será fácil. O deserto nos guardou mais uma armadilha.

 

- De que tipo? – Um suspiro se seguiu à frase falada por Sankt.

 

- Tem um Lobo do Deserto na base disto aqui, e pelo comportamento dele, está

com fome.

 

  Os três sabiam o que aquilo significava. Lobos do Deserto não eram as

criaturas mais fortes do mundo, mas certamente estavam bem acima do nível

deles. Para piorar a situação, tinham a fama de serem bem agressivos.

 

- Alguma chance de você abatê-lo daqui, com flechas?

 

- Não, ele está numa posição que não permite ângulo de tiro. – Os três se

calaram após esta afirmação, mas Kratos resolveu tomar uma atitude após

refletir por algum tempo, e falou:

 

- Bem, querendo ou não, teremos de seguir em frente, é o jeito. Vamos dar um

jeito de descer até lá, e tentaremos passar despercebidos por ele. Caso não,

lutaremos e de alguma maneira nos livramos dele.

 

- Cara, você é terrivelmente delicado algumas vezes, se é que me entende –

Vincent ria enquanto falava isso, mas com os olhos concordava completamente com

o plano. Sankt apenas sorria. Finalmente um pouco de ação.

 

 

 

 

 

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  Pouco a pouco o plano para descer o penhasco foi se formando. Eles

tinham feito uma corda bem longa utilizando nós, e o resultado tinha sido

melhor que aquele que Kratos previra. Provavelmente alcançariam o chão descendo

por ela. Além disso, resolveram andar trezentos metros para o Leste, a fim de

evitar o lobo.

 

  Como a superfície da lateral do penhasco era incrivelmente lisa, a

descida seria rápida. Os três tinham notado aquilo, e uma vez que possuíam

vários pertences valiosos, decidiram por usar mão de um truque simples.

 

  Vincent amarrou a corda a uma flecha de aço, e mirou em um cacto a

poucos metros da base do penhasco. Um tiro certeiro proporcionou a eles um fio

aonde puderam amarrar seus pertences, e dar aos mesmos uma descida mais

confortável. Logo que eles alcançaram o chão, Vincent deu um puxão na corda e

foi para a segunda parte do plano. Procurou uma pedra fixa ali perto e amarrou

a corda ali com um laço, de modo a garantir segurança. Em seguida arremessou a

mesma pelo penhasco vendo aonde ela ia parar.

 

  A corda ficou a mais ou menos dois metros do chão.

 

- Um pulo bastante razoável, ainda mais vestindo apenas as roupas do corpo.

Pena que vamos perder a corda.

 

- Acontece. Agora, eu vou primeiro, certo? – Sankt falou aquilo, os dois

concordaram.

 

  Então ele pegou a corda e envolveu a mão com ela tornando a pegada mais

segura. Logo foi se inclinando pelo penhasco, fixando os pés na rocha,

procurando suavizar a descida. Ele dava pequenos saltos, e pouco a pouco foi

vencendo a altura. Chegando ao fim do penhasco saltou os dois metros restantes

e rolou no chão, logo em seguida levantou-se limpando as roupas e sinalizando

para que os outros viessem.

 

  Vincent foi o segundo, e fora um momento tenso em que ele pareceu perder

o apoio na rocha e que ia começar a deslizar sem controle, foi tudo bem. Kratos

estava se preparando para descer e começou assim que viu Vincent chegando.

Sankt e ele tinham ido pegar os pertences dos três. Ele começou a descer.

 

  Quando faltavam pouco mais de três metros para a descida Kratos teve o

vislumbre de algo se aproximando, e quando virou o rosto para a direita pôde

ver um condor voando em sua direção. O animal não ia atacá-lo, mas ia passar

por ali, e estava voando bem rápido. Kratos teve tempo apenas de se agarrar

melhor a corda quando recebeu o impacto. Ele bateu de encontro ao seu rosto, e

por puro reflexo ele soltou a corda, caindo de costas no chão arenoso. O tombo

não tinha sido nada demais, pelo menos não pior que a areia que o mesmo

engolira. Logo ele escutou Sankt e Vincent vindo em sua direção apressados, com

os pertences dos três, pelo chacoalhar de metal que ele pôde ouvir.

 

- Kratos, você está legal, cara? – Sankt estava ao lado dele abaixado, checando

se o amigo estava bem. Kratos se levantou e espanou a roupa, tirando a areia do

corpo.

 

- Sim sim, fora uns baldes de areia estou novo em folha. Vamos, quero deixar

esse deserto maldito logo. – Eles se levantaram e Kratos pegou suas coisas que

estavam com Sankt, entretanto, Vincent olhava para Kratos com uma cara

temerosa.

 

- Vinc? O que foi? – Vincent deu o tipo de sorriso que se dá quando se perde

uma aposta e apontou o braço de Kratos. Kratos olhou o que ele apontava e

arregalou os olhos. Ao seu lado Sankt fazia o mesmo. Entenderam o sorriso do

companheiro.

 

- É melhor irmos, e correndo.

 

  Então os três saíram em disparada pelo deserto, e por onde o grupo

passava um pequeno rastro de sangue ficava repousando na areia.

 

 

 

 

 

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  É fato de conhecimento geral que o olfato dos animais caninos,

especialmente os predadores, é extremamente aguçado.

 

  Não longe dali um faminto lobo do deserto sentiu algo que não sentia a

um bom tempo. Cheiro de sangue, carne fresca. Era difícil conseguir caça

naquela parte do deserto, e ele estava faminto há dias. Naquele momento sua

limitada consciência se resumia a “Matar” e “Comer”. Ele obedeceu aquelas duas

necessidades básicas de sua existência e começou a se movimentar. A fadiga

tinha sumido, perante a possibilidade de uma refeição farta.

 

  Os pequenos aventureiros correm pelas escaldantes areias do deserto. O

lobo, faminto e sanguinário, corre atrás dos pequenos aventureiros em meio as

escaldantes areias do deserto.

 

 

 

 

 

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  Não demorou muito para que o predador alcançasse a presa. O movimento

dos três era limitado pelas dificuldades que suas pernas humanas, tão bem

acostumadas à terra firme, enfrentavam no terreno arenoso. Já o lobo seguia

atrás deles por um terreno que conhecia, com patas adaptadas durante séculos

para aquilo, além de um instinto predatório natural. 

 

  Com sua visão e agilidade mais aguçadas Vincent foi o primeiro a

perceber que fugir não era mais uma opção. Pediu que os outros parassem de

correr e se preparassem. Eles nem perguntaram o que era, não precisavam

fazê-lo.

 

- Acha que temos alguma chance? – Sankt empunhava valentemente sua espada

oriental olhando na direção do rastro de sangue.

 

- Talvez, algum plano?

 

- Depende do Kratos. Kratos, quantas poções você tem aí?

 

- Hm...Acho que cinco brancas, e umas dez vermelhas. O que planeja?

 

- Planejo o óbvio – Sankt tirou rapidamente o cinto onde ficavam as poções que

usaria em batalha, assim poderia usá-las sem precisar parar. – As Coloque aqui,

rápido, e me dê de volta. Vamos no esquema de sempre. Eu vou – enquanto fala

ele pega a arma e faz dois cortes nas costas dos antebraços, faz uma careta de

dor, mas continua falando. – Servir de isca. Enquanto isso vocês se jogam sobre

ele e batem o máximo que puderem. Se dermos sorte ele vai estar debilitado o

suficiente para cair.

 

- Se não dermos? – Vinc perguntava calmamente.

 

- Comecem a pensar no que vão dizer para os deuses.

 

  Eles se puseram em posição de batalha e logo viram se aproximando deles

o lobo faminto, mal enxergando alguma coisa além de suas presas.

 

- Agora, vamos ao ataque!

 

  A partir daí tudo aconteceu rapidamente. Sankt se pôs a tentar atacar o

lobo, chamando atenção com o sangue que escorria dos braços dele, e toda vez

que sentia as forças se esvaírem tomava uma poção. Ao mesmo tempo Kratos

avançava sobre o animal, e com a delicadeza de um elefante embriagado desferia

golpes nele com um machado. Vincent estava ao longe, atacando com suas flechas.

 

 

  Era um bom plano, se você pensar nas condições em que foi concebido. O

problema era que dependia da sorte, e por vezes ela não sorri para as pessoas.

Apesar do ímpeto inicial, pouco a pouco os aventureiros percebiam que seus

golpes, apesar de precisos, não surtiam efeito no animal. O desespero e a fome

que eles acharam que ia enfraquecê-lo meramente o tornara uma presa mais

perigosa. Toda a bravura daqueles jovens guerreiros não conseguia superar a

diferença de nível que havia para com seu adversário.

 

  Isso ficou claro quando o sangue começou a escorrer pelas roupas de

Tanathos Sankt. Apesar de tentar resistir bravamente às poções tinham acabado,

e cada golpe que o inimigo acertava era como uma faca quente cortando a carne

do espadachim. Pouco a pouco ele sucumbia aos golpes. Seus amigos olhavam para

ele a princípio assustados, e logo depois pensando em como ajudá-lo.

 

  Sankt não tinha medo de pensar que a feroz criatura que via a sua frente

podia ser a última que veria na vida. Na verdade, começou a ter um tipo de

certeza sobre isso quando a visão dele começou a se turvar. Lamentava apenas

não ter cumprido suas metas. Esperava que Kratos e Vincent não fossem estúpidos

e ao invés de ficarem ali olhando ele ser devorado, aproveitassem para fugir.

 

  “É, isso deve ser o fim do Tenente-Coronel Tanathos Sankt, O Bravo”. Foi

seu último pensamento antes de cair na inconsciência. Uma inconsciência que para

o bem dele durou pouco. Finalmente a sorte tinha decidido virar seu sorriso

para os três.

 

 

 

 

 

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  Vincent e Kratos meramente olhavam para Sankt sucumbindo a princípio.

Logo em seguida o desespero tomou conta de suas ações e eles começaram um

ataque doentio, usando cada grama de determinação que restava em seus corpos.

Apesar disto, a criatura continou a atacar o amigo, que já mal podia defender-se,

de modo absolutamente impiedoso. Ambos sabiam que não havia ali esperança de

salvá-lo. Apenas queriam dar ao amigo o conforto de saber que não fora

abandonado para morrer sozinho.

 

 

 

 

 

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  Ela estava em cima de uma duna, seu olhar percorreu a imensidão arenosa

que se estendia abaixo de seus pés, quando viu algo que a deixou assustada. Mas

logo o medo sumiu e no seu lugar apareceu o senso de dever, e claro, a vocação.

Ela correu para o que via, ao mesmo tempo suas mãos brilhavam com uma energia

verde.

 

 

 

 

 

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  Quando o primeiro feixe de luz verde atingiu Sankt, ele recobrou a

consciência, e apesar da dor continuar ela parecia menor. O lobo já não o

atacava mais. Olhava meio assustado para algo que ele não podia ver. Outra

rajada de luz o atingiu, e ele sentiu as energias voltando. Já recuperava a

espada, e se preparava para o ataque. Por algum motivo acreditava que daquela

vez seria diferente. Levantou-se ainda meio tonto, e apesar de não ter visto

pequenos anjos circundando a cabeça dele, e nem o deslocamento de ar que o

feitiço para aumentar agilidade causou, percebeu que estava mais forte. Teve a

confirmação disto quando sua espada brilhou e pela primeira vez ele gritou, um

grito calmo, embora intenso, que apenas expressava suas intenções:

 

- Golpe Fulminante! – Mesmo não tendo o domínio perfeito da arma que usava viu

quando o golpe atingiu o lobo, e causou pela primeira vez um dano real. O

sangue que se espalhava pela areia agora não era apenas humano. Apesar disto o

lobo não tinha caído, mas Sankt não precisava de mais nada. Avançou, e golpe após

golpe o lobo sucumbia ao ímpeto do jovem guerreiro. Duas ou três vezes o

atacou, mas os danos do ataque eram imediatamente reparados pela estranha luz

verde.

 

  Logo nada mais restava do lobo que uma carcaça ensangüentada.

 

 

 

 

 

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  Sankt respirava fundo, envolto no calor da batalha. Logo que se acalmou

virou-se, e constatou que Vincent e Kratos olhavam para algo, um tanto quanto

assustados, porém ao mesmo tempo felizes. Sankt virou-se e encarou aquilo que

olhavam.

 

  Uma garota olhava para ele, respirando fundo como se estivesse cansada.

Seus cabelos eram azuis, e se dividiam no meio da cabeça, inclinando-se

ligeiramente para cima nas pontas. Os olhos eram azuis também, mas de um azul

profundo, como um lago em um país frio. A pele dela tinha algumas leves sardas,

e estava dourada pelo sol. Suas vestes se resumiam a um vestido amarrado pela

cintura, uma roupa tipicamente religiosa. O item final da aparência da menina

era um crucifixo, de algo que parecia ser prata, pendurado ao pescoço.

 

- Olá, meu nome é Angelina. Achei que precisavam de ajuda.

 

  Sankt começou a achar que anjos existiam para valer.

 

 

 

 

 

"Desert Rose

 Why do you live alone?"

- X Japan, Art Of Life

 

 

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