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Elgreco

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Reputação

  1. PARTE FINAL: E do Lodo Desponta o Lótus Novamente o tempo começa a andar no antigo ritmo que há muito ele esquecera. E novamente as andanças sem rumo recomeçam. Mas agora, diferente de antes, ele não estava procurando entender nada, ou treinar seu uso com a espada. Ele queria esquecer, esquecer todos aqueles dias, esquecer as barbaridades que fizera. Seu remorso era tanto que, em desespero, ele procurou a cavalaria de prontera e se entregou, confessando todos seus crimes. Mas, como não havia relatos de nenhuma das atividades criminosas do espadachim, o Rei Tristan pediu que o regente de Morroc enviasse um relatório sobre os supostos crimes. Mas muita coisa acontece longe dos olhos das autoridades de todas as cidades, e Morroc não era exceção. Não havia nada, a não ser um registro de “perturbação da ordem” pesando contra o jovem de cabelos vermelhos, que afirmava ter surrado, assaltado e ameaçado centenas de pessoas. E por conta desse delito, ele foi condenado a duas semanas de serviços comunitários, servindo como guia da cidade. E lá estava Kuronin, com o inconfundível uniforme dos guias de prontera, a cumprir sua pena, quando, quase como uma miragem, vê passar por ele ninguém menos do que Leafar, acompanhado por Miara e mais dois membros, que ele não soube precisar quem eram. Sua vergonha foi tanta que ele enterrou o capacete na cabeça, de modo a não se reconhecido. E enquanto terminava de cumprir sua “sentença”, viveu dias atribulados, escondendo-se dos membros da ordem, a cada vez que os via. Medida desnecessária, ele fora esquecido. Um membro que abandonara a Ordem. Outros já haviam feito aquilo, e esse esconde-esconde acabou gerando situações opostas ao desejado: começaram a chamar a atenção. Não era para menos. Um Guia que, sem mais nem menos, se atirava atrás de um banco e continuava a dar suas indicações agachado ali, ou que, como que espetado no traseiro, trepava em uma das arvores e terminava de explicar ao visitante o que quer que fosse, empoleirado nos galhos não era algo comum. E no dia que foi liberado do serviço, ele novamente viu o brasão passar por ele. E em sua mente vieram as palavras de Kyiosanin: “ se a culpa por tudo o que você fez for muito grande, redima-se de algum modo, vire um sacerdote, ajude os pobres ou submeta-se a punição dos membros da Ordem que você abandonou...” Sim. Era isso. A Ordem do Dragão. Não que ele desejasse ser punido, mas era a eles que ele devia desculpas. Lembrou-se de seu pai, e de como sentira-se satisfeito por ter entrado na Ordem. Ele retornaria, custasse o que custasse, ele retornaria a Ordem. Sabia a quem procurar, mas esteve longe de prontera por um longo tempo, e não sabia mais como poderia encontrar Tarcon Miara ou Leafar. A exceção daquele dia, não vira mais nem o Líder da Ordem nem a sacerdotiza, e desde que voltara a Prontera não vira sequer a sombra de Tarcon. Numa tentativa desesperada apelou para um de seus antigos conhecidos, que ainda o reconheciam, do comércio em Prontera. Um mercador de quem costumava comprar poções um rapaz simples chamado El Barone. E foi por meio dele que sua mensagem chegou até Leafar. E foi por meio dele que, finalmente, Kuronin conseguiu se sentar com o Líder da Ordem, que não era propriamente líder naqueles dias, mas a história era muito complicada, e Kuronin decidiu que ele era o líder e ponto. Ele Aislinn e Miara, sempre Miara, a doce sacerdotiza Miara, novamente e pacientemente escutaram toda a história de Kuronin. Ouviram suas confissões, os erros que cometera, a ilusão, o desgosto, a decepção, a raiva, o ódio, o desejo de vingança e funalmente a frustração.Ouviram tudo do começo ao fim. E então foi a vez de Aislinn falar. — Não poderemos ignorar tantas falhas, Kuronin, você sabe bem disso. — Sim senhora, sei sim senhora. — Também não estamos aqui para julgar ninguém – a voz de Miara continuava tão serena e branda como ele se lembrava. — Mas seus erros são seus, e todos eles trarão conseqüências, espero que esteja consciente disso – Leafar estava sério. — Eu estou ciente disso também senhor. — O preço por eles pode ser alto Kuronin, e por mais que nos coloquemos a disposição, no final, é você que terá que arcar com eles – as palavras, longe de serem duras, tinham em si aquele tom de catástrofe, ainda mais vindas de Miara – Mas se você estiver disposto a encarar essa responsabilidade e tiver em mente que não é um “castigo” ou uma “injustiça”, as coisas podem ser bem mais leves. — Acho que não tenho outra opção. Não nego o que fiz, não me orgulho, mas também não vou fugir a nenhuma responsabilidade. Silêncio. Leafar ameaça dizer algo, mas olha para Aislinn e se cala. Ela pensativa encara Kuronin, e olha para Miara, que sorri muito de leve. Finalmente o silêncio é quebrado pela Dragão de Ouro. — Muito bem. Vamos colocar algumas condições para você. Se aceita-las será integrado a ordem, mas como membro em Observação. — Será diferente da primeira vez Kuro – Miara utilizaria pela primeira vez o apelido pelo qual ele ficaria conhecido – Você estará sendo observado, pois está voltando a ordem depois de te-la abandonado. Seu comportamento será de suma importância. Kuronin não sorri, nem se agita. Uma calma sem igual toma conta de seu espírito. Algo dentro dele findara-se. Um novo espírito parecia nascer, enquanto o velho, comido pelos desgostos e amarguras ia se desvanecendo. — Aceito. Aislinn e Miara batem palmas. Leafar sorri e assume um tom sério. — Lembre-se do detalhe mais importante. Você estará sendo observado por elas – diz apontando Miara e Aislinn com o polegar – Nunca se esqueça: são Mulheres. Eu realmente não iria querer estar na sua pele. Elas sabem ser implacá... A frase é interrompida por um delicado cascudo dado por Aislinn, ao mesmo tempo em que Miara o silenciava com uma se suas magias. — Agora se levante Kuronin. Você ainda tem muito a resolver – a voz de Aislinn soava animada. Ele se ergue, faz uma reverência diante das duas sorridentes moças e se despede, e recebe dois animados, sinceros e uníssonos “boa sorte” delas, enquanto observava pelo rabo do olho os esforços e mímicas de Leafar no intuito de se desculpar antes as duas, que o olhavam com a mesma expressão que um Baphomet irritado teria. Ele deixa a sala. Num desses momentos bem clichês, o sol brilhava, pássaros cantavam, a brisa soprava fresca e os mercadores berravam feito loucos. Ele olha em volta. Prontera vive. Ele vive. E novamente tem um objetivo. Ele olha para a sede da cavalaria e sorri. Em breve, muito em breve... FIM.
  2. TERCEIRA PARTE: Quando Tomba o Herói Por um bom tempo ele teve algo chamado de lar. Voltou a ter rotina, a cumprir horários e estar em um mesmo lugar por mais de uma semana. Fez amigos na bagunça do comercio de Prontera, e voltou a sorrir. Mas sua paz estava por terminar novamente. Dessa vez por meio de um pesadelo, mas um pesadelo real. Um noite ele acorda com um ruído em seu quarto, o claríssimo ruído de uma espada sendo desembainhada. Ele se ergue, a mão procurando o cabo de sua Lamina do Sol, e os olhos procurando o atacante. Mas qual não foi sua surpresa ao encontrar a bainha vazia, e ver a espada flutuando a sua frente, a ponta em direção a seus olhos. Por um segundo ele não soube o que fazer, ou pensar, e chegou ao cumulo de começar a rir. Mas seu riso foi interrompido pelo ataque de sua própria espada. Ele desviou-se, uma, duas, três vezes, e agarrou o punho da arma voadora. Ao toca-lo, ele escutou claramente uma voz, cheia de ódio, a sussurrar vingança contra “o assassino”. A espada deixou de estremecer e novamente se transformou em uma simples espada, de lamina dourada. No dia seguinte ele passou a procurar alguém que lhe pudesse explicar que mistérios aquela lamina guardava. E tomou a primeira decisão que o levaria a um caminho escuro. Poderia ter procurado Miara, talvez Jelanda, ou mesmo um dos cavaleiros, mas decidiu que aquilo era um assunto por demais banal, e muito pessoal, e resolveu consultar um sábio da Biblioteca de Prontera. Sua busca foi em vão. Alguns não se interessavam, outros diziam que tudo não passou de uma ilusão provocada pelo sono. Até que um dia um homem bateu a sua porta. Pelas roupas era um sábio, e a primeira coisa que disse foi: — Sua espada tem dentro dela muito mais do que aço. E você é o único que poderá abrir seu segredo jovem Kuronin. E ele ouviu o homem. Ouviu suas explicações sobre o que a espada seria, e sobre como ele, Kuronin, poderia ter acesso a seus segredos. E ele concordou em seguir o homem. O sábio lhe disse que o tempo era curto, que precisavam iniciar a busca pelas respostas o quanto antes. E assim Kuronin empacotou suas coisas, e deixou sua pequena casa para trás. Lá dentro ficaram apenas duas coisas. Um quadro pequeno, pintado por encomenda do próprio Kuronin, tendo ele, Miara e Tarcon sentados na praça florida próxima a Prontera, e o brasão da Ordem do Dragão, esquecido sobre a mesa. Nesse dia a Ordem perdeu Kuronin. E por um longo tempo ele não seria visto, e muito menos haveria noticias dele. O sábio, que se chamava Melekias, na verdade era um charlatão, aproveitou-se da inocência do jovem espadachim, e de sua ânsia em descobrir os segredos da espada, bem como sua culpa pelo que aconteceu com seus pais, e usou tudo isso para transformar o simpático, mas calado espadachim em um mercenário, assassino e ladrão. Transformou a busca de Kuronin por respostas em uma jornada sem fim pelos sombrios caminhos dos saqueadores e bandidos. E Kuronin, cego que estava por finalmente descobrir o que era a espada, e com isso se sentir menos culpado em relação a seus pais, só enxergou o que lhe ocorria quando já era quase tarde demais. E foi no dia em que, após entrar em uma residência delicadamente arrancando a porta com os ombros e surrar o dono da casa sem dó até que ele entregasse um pequeno baú que continha um manuscrito de seu pai, onde ele descrevia o quinto ritual para o rompimento do sétimo selo do quarto hieróglifo entalhado na lamina de sua espada. Sem segurar a curiosidade, ele abriu o baú ali mesmo. E ficou chocado ao ver algumas minúsculas pedras preciosas e umas poucas moedas guardadas ali. Com os olhos ardendo ele se volta novamente para o homem, ainda caído a seus pés. — Onde está o manuscrito! Onde está! Diga ou arranco sua língua com minhas mãos! Apavorado o homem desata a chorar, e com ele suas filhas, e sua esposa, todas encolhidas em um canto, tentando se abrigar da fúria do homem de cabelos vermelhos. — Eu não sei de manuscrito algum, eu juro! Eu imploro, leve isso a seu patrão e diga que mal consegui juntar dinheiro para pagar a ele e comprar comida para minhas filhas! Não há mais nada aqui que valha a pena! Eu imploro, misericórdia! Kuronin emudece por segundos. E sua voz volta num tom diferente, quando a verdade começa a saltar a seus olhos. — Eu não vim atrás de seu dinheiro, homem! Vim pois você roubou o manuscrito de meu pai, e ameaçava destruí-lo caso eu não lhe entregasse minha espada... O homem seca o pranto. A mulher e as filhas ainda soluçam. — Senhor, eu não sei do que você está falando. Nunca vi manuscrito algum e sequer exigiria uma espada por ele. Sou um comerciante, vivo de vender poções e alguns outros itens que consigo em minhas viagens. Isso que você segura em suas mãos é o fruto de uma semana de trabalho. As vendas andam baixas, e mal consigo alimentar minha família. Kuronin olha o baú, olha o homem e vê a porta caída a seus pés. — Mas Melekias disse que... Ele sequer termina a frase. A verdade estava ali, em suas mãos. O homem toma fôlego e torna a falar. — Com todo respeito senhor, Melekias é um sujeito desprezível. Exige que paguemos a ele por proteção, ou então indivíduos como você entrarão em nossas casas, e farão o que você acaba de fazer. E as vezes pior. Não sei quais são seus motivos para estar trabalhando para ele, mas sejam eles quais forem, não justificam surrar um mercador que trabalha de sol a sol, lutando para manter a família ao menos alimentada e que teve o azar de cair nas garras desse crápula. Minhas filhas estão aterrorizadas, minha mulher sofre do coração, e eu vou ficar sem poder viajar por quase uma semana por conta dessa surra. Por tanto, se o que tem nas mãos não é suficiente, mate-nos de uma vez. A morte é preferível a continuar vivendo assim. E avise a ele que não irei pagar mais nenhum centavo. O silêncio desaba na casa. Kuronin encara o pequeno baú, e seus olhos se entristecem. Quantas pessoas ele havia surrado, maltratado e roubado por conta desses manuscritos. Manuscritos que sequer existiam. Não era a toa que Melekias nunca lhe deixava ler os manuscritos. Não era a toa que ele nunca achava a resposta completa, não era a toa que ele mantinha segredo absoluto quando ia abrir os baús e caixas que Kuronin trazia. Não era a toa que, coincidentemente, ele tinha os nomes das pessoas que haviam “roubado” os manuscritos de seu pai anotados em um caderno. Kuronin sentiu vontade de se bater. No começo se perguntou porque nunca vira seu pai escrever os tais manuscritos, e porque ele nãos os mencionara. Melekias disse que haviam sido escritos, e roubados, antes de ele Kuronin, nascer. Mas, fazendo uma contagem rápida, depois de ter “recuperado” mais de trezentos “manuscritos”, ele parou para pensar que, com tantos deles escritos, seu pai teria que estar escrevendo até aquele dia para que o numero fosse igual. Ainda mais pelo fato de que seu pai escrevia tão mal que, em uma lembrança surgida do fundo da mente, ele certa vez demorara mais de uma semana para escrever uma carta de página e meia. E a chama de esperança que ardia em seu peito se apagou. Em seu lugar outra surgiu, mais viva, mais vibrante e mais letal: a chama do ódio. Sua expressão se fechou, os olhos se tornaram frios e ele esticou a caixa de volta ao homem. — Tome, isso lhe pertence. Mal o homem pega a caixa e ele se vira e sai da casa, seus passos indo firmes em direção a casa onde Melekias residia. Em seus olhos apenas o brilho seco do ódio, em sua mente apenas a imagem de Melekias sorridente e em seu coração, nada, apenas o vazio se enchendo do liquido negro da raiva e da decepção. Já estava puxando a espada da bainha quando uma mão toca-lhe o ombro. Ele se vira, agarra a mão e a torce, mas como por mágica, ela se livra e a figura se afasta um passo com uma risada seca. Kuronin, quase cego de tanta raiva, mal reconhece a figura vestida com o traje escuro usado por assassinos. — Kyiosanin! Que faz aqui, por pouco não lhe arranco o braço e lhe enfio a espada na garganta. O outro, com uma expressão que poderia ser feita de pedra de tão insensível, demora um segundo para responder em sua voz baixa, rouca e monótona. — Eu já matei você quatro vezes desde que saiu da casa do mercador, baixinho. E Melekias fará exatamente isso se você for enfrenta-lo assim cheio de ódio. Kuronin espera, sabe que o outro só fala o que quer e quando quer. — Eu ouvi a conversa. Seu ódio é bastante natural. — Aposto que você já sabia dessa marmelada toda, não é? —Sim. A afirmação seca tem o mesmo efeito de um soco em Kuronin. Kyiosanin, apesar de ser um assassino puro e simples, era um dos poucos amigos que o espadachim tinha. — Como pode... como pode deixar que eu... como pode deixar que Melekias fizesse... Pensei que... Você é meu amigo! — Seu amigo sim. Não sua consciência. E você não via pois não queria ver. — Melekias me enganou! — Não, ele apenas se aproveitou de sua inocência, baixinho. Kuronin teve ganas de avançar sobre o assassino. E pelo olhar do outro, ele sabia que não teria sucesso, pois Kyiosanin sabia exatamente o que se passava em sua mente. Assassinos eram treinados para isso. — Melekias vai me pagar. Kyiosanin sorriu seu sorriso pequeno e discreto. — Eu estou falando sério. Ele vai pagar por tudo que me fez fazer. O sorriso continuava. — Ele não passa dessa noite! Ainda o sorriso. Kuronin já estava ficando encabulado. Kyiosanin duvidava dele? — Se não acredita me siga! O espadachim vira as costas e sai andando. Mas seus passos não tinham mais firmeza. Sua decisão se fora, seu ódio agora era apenas frustração. Ele se vira e o outro está parado, exatamente na mesma posição de segundos atrás. Silêncio. O sorrisinho aumenta. E Kuronin abandona o caminho sem volta por onde ia entrar. Ele se deixa cair e começa a soluçar. O outro revira os olhos. — Não é o fim do mundo baixinho. — Ele tem que pagar Kyiosanin. Ele tem que pagar. O assassino avança, rápido, como um relampado, e Kuronin se vê com um Katar encostado ao pescoço, a lamina fazendo a pele sangrar algumas gotas. Os olhos de Kyiosanin, estranhos por serem quase brancos, estavam arregalados, e sua voz assumira um tom cortante, tão cortante quanto a lamina da arma. — Teria coragem de enterrar sua espada nele garoto? Teria coragem de lhe abrir o ventre de um lado a outro e deixar as tripas dele escorrerem para o chão? Teria coragem de olhar nos olhos dele ao mesmo tempo em que torcesse a lamina da espada cravada no estomago de melekias? Teria? E depois? Os sonhos! Lembrar-se dia a dia dos gritos de dor, da expressão de medo e depois do olhar estático da morte no rosto dele! Suportaria isso espadachim? Kuronin emudece. Kyiosanin se afasta. — Deixe isso para quem tem estomago. Saia de morroc o quanto antes. Volte para Prontera, e se a culpa por tudo o que você fez for muito grande, redima-se de algum modo, vire um sacerdote, ajude os pobres ou submeta-se a punição dos membros da Ordem que você abandonou. — Melekias virá atrás de mim. Ele não vai deixar que eu simplesmente suma. — Por causa de um mercador e umas poucas gemas? Acredite baixinho, ele não esperava que você durasse sequer um mês. Ele só se preocupa com sujeitos que podem realmente mata-lo, como eu por exemplo. Você lhe daria alguns segundos de preocupação. — Mas, e minha espada, os poderes e segre... — PEGUE ESSA MALDITA ESPADA E ENFIE NO...!!! A irritação de Kyiosanin pegou Kuronin de supresa. Ele nunca vira o assassino bravo, ou sequer mal humorado. Kyiosanin respira fundo e sua voz volta ao normal. — É uma linda espada. Daria um bom dinheiro em um negócio. Eu adoraria pendura-la na parede da sala de minha casa, se tivesse uma sala, ou uma casa, para pendurar. Mas Melekias sequer se lembra de como ela é. Junte suas trouxas e suma-se garoto. É sua chance. Aproveite que ainda não fez nada de irreversível e saia desse mundo. Ainda relutante, com as sobras do imenso ódio a alimentar pequenas brasas no peito, Kuronin fica estático,apenas encarando o mercenário. Sabia, no fundo do peito, ele sabia que essa a decisão mais acertada, mas as lembranças de tudo o que havia feito o empurravam a continuar a vingança. Kyisonanin fecha os olhos e suspira, em uma claríssima expressão de impaciência. — Vai sair da cidade ou quer um convite? Kuronin pisca, olha a porta arrebentada metros atrás, e nela o mercador. Ele recoloca o fecho na espada e se dirige para lá, ao mesmo tempo em que remexe em seu embornal. O pobre mercador se encolhe todo ao ver o espadachim se aproximando novamente. Kuronin retira uma pequena bolsa de moedas e atira ao homem. — Ai tem algum dinheiro, suficiente para comprar poções e tratar de suas feridas, e comprar alguma comida. Ele se vira, novamente procurando Kyiosanin, mas o mercenário, assim como surgira, também desaparecera. O espadachim retorna até sua casa, e lá vê seus antigos pertences. Coloca novamente a armadura velha, apanha o escudo pequeno e arranhado e todas as outras peças que há muito tempo deixara de usar, e em seu lugar ficaram a armadura, equipamentos e outros itens que ganhara de Melekias. E ele retorna para Prontera. Sem sequer olhar para trás, sem ver os olhares de outras pessoas que o conheciam como sendo o cão-de-guarda de Melekias, ao vê-lo passar, com a expressão vazia, distante, sequer enxergando o caminho a sua frente.
  3. SEGUNDA PARTE: Um Raio de Sol por entre a Névoa Por um longo tempo ele permaneceu em sua jornada solitária, acordado todas as manhãs tendo apenas a lembrança de seus pais a animar-lhe os passos. Ele exercitava sua perícia com a espada, em busca das respostas que seu pai nunca pudera lhe dar. Sua jornada o levou a quase todos os cantos do reino, de calabouços até a torre de Geffen. E sempre sozinho, ele ia evoluindo aos poucos. Até o dia em que viu um grupo de pessoas sentadas próximas a Prontera, em uma pequena praça florida fora dos Muros da Capital. Eram de um clã, pois todos usavam um brasão em suas roupas e armaduras. Ele se aproximou, com o intuito de recostar-se em uma das arvores e descansar um pouco. E enquanto se acomodava, podia ouvir a conversa do grupo. Eles riam, pareciam estar reunidos ali apenas para conversar, coisa bem diferente de outros clãs que ele acostumara-se a ver, com pessoas tensas, discutindo sobre a invasão de alguns dos castelos dos Feudos. Um quinto membro do clã se aproximou, e os outros ergueram-se de forma respeitosa saldando-o efusivamente. Era o Líder do clã ou, como pensou Kuronin, um dos membros mais altos. Ele passou a prestar atenção a conversa, uma vez que o cavaleiro que se aproximara assumira um tom sério, e as risadas e sorrisos sumiram. Ele dizia algo a respeito de uma pessoa perdida em uma mina, e que necessitava de resgate. O senso de Kuronin o fez ficar alerta. Uma pessoa em perigo, ao que parecia, e em um lugar onde ele já havia visitado várias vezes, a Mina de Carvão. Discretamente ele arrumou suas coisas, e mais discretamente ainda seguiu o grupo, que partira liderado pelo cavaleiro de cabelos cor de ouro. Contudo, nem bem se afastaram da praça, uma das sacerdotisas invocou um portal, e o grupo desapareceu lá. Desapontado, ele pensou em recolher-se novamente a sombra da arvore. Mas algo em seu intimo o fez começar a andar na direção das minas. Seriam horas de caminhada. E ele foi, sem a certeza de que encontraria o grupo ou, caso notassem sua presença, se o expulsariam. Mas decidiu ir, e mal sabia ele que essa decisão seria um marco em sua vida. No caminho foi pensando a respeito do brasão. Já havia visto ele em algum lugar, mas não se lembrava bem de onde. Chegou as minas ainda matutando a esse respeito. E logo a entrada viu uma das sacerdotisas sentada a entrada, ao lado dela um Cavaleiro. Ele passou pelos dois com um “bons dias” sussurrado entre-dentes. O cavaleiro mal respondeu, grunhindo a resposta sem sequer olha-lo, mas a sacerdotisa lhe sorriu e retribuiu o cumprimento. Ele entrou na mina, e logo se perdeu nos corredores. Depois de entrar em vários becos sem saída, ele achou a passagem para o nível mais baixo, e ao passar, deu de cara com o resto do Grupo. Por um instante todos ficaram a olha-lo. Não havia ali um único que não fosse de segunda classe, exceto Kuronin. Sem ter como disfarçar, ele passou pelos guerreiros e fingiu procurar algo no caminho. Mas um dos monstros resolveu que o pequeno espadachim daria um lanche ótimo, e lá estava Kuronin as voltas com mais um bicho irritado, tendo que recuar descaradamente. Quando já pensava em simplesmente sair correndo, um dos cavaleiros se aproximou e com dois golpes precisos aniquilou o monstro. Ambos ficaram se encarando por alguns segundos, e o cavaleiro foi o primeiro a quebrar o silêncio. — Aqui é um lugar perigoso meu jovem. Onde está o resto do seu grupo? — Não tenho grupo senhor. — Não tem grupo?! Como é seu nome, meu jovem? Um pouco receoso, ele ainda pensou alguns instantes antes de responder. — Kuronin, senhor. —Korunin, sim... Korunin de que? —Erm... é KUROnin senhor. É só Kuronin mesmo. —Sim, claro, Kuronin, perdoe-me. Bom, muito prazer Kuronin sem sobrenome, eu sou Tarcon Heavenscrown – o cavaleiro estica a mão, oferecendo um aperto a Kuronin. — Prazer senhor Tarcon Hevaes.... Havevis... Havenis... Heavenscroun... Vermelho e querendo se enfiar no primeiro buraco que achasse, ele apertou a mão que lhe era oferecida. O aperto foi vigoroso, e o os olhos de Kuronin se fixam no brasão estampado na armadura do cavaleiro. Tarcon segue seu olhar e sorri. — É o brasão de nosso clã. Somos a Ordem do Dragão, acredito que já tenha ouvido falar de nós. — Sim senhor, um pouco senhor. — Bom, eu realmente adoraria sentar e conversar mais contigo Kuronin, mas temos assuntos a resolver aqui. Tome cuidado se for andar por esses túneis. Até mais. O cavaleiro se afasta e o grupo todo se mexe em seus lugares. Começam a se erguer e Kuronin, sem nem mesmo ele saber por que, diz: — Eu vim ajudar a procurar o homem... – e se cala. O silêncio que cai entre todos é tão pesado que poderia ser cortado com uma faca. Tarcon novamente se aproxima de Kuronin, agora sério e de expressão fechada. — Eu apenas gostaria de saber como você sabe o que viemos fazer aqui. Depois de tremer, gaguejar, engolir em seco e respirar fundo, finalmente a voz lhe sai dos lábios. — Eu ouvi vocês conversando perto de Prontera. Ai resolvi segui-los e ver se podia ajudar. Desculpem se me meti onde não devia. Uma figura se destaca do grupo a distância. Era o cavaleiro de cabelos dourados que ele vira chegar por último. Ele se aproxima e olha Kuronin de modo firme, porem cordial. — Toda ajuda é bem vinda. Apenas fomos pegos de surpresa pelo seu oferecimento. Se quer nos acompanhar, será bem vindo, sua boa vontade é realmente de se admirar. Ele estica a mão em direção a Kuronin. — Prazer, meu nome é Leafar, sou o Líder da Ordem do Dragão E assim Kuronin teve seu primeiro contato com a Ordem. Depois desse dia ele passou a segui-los sempre que podia. Sem saber ao certo porque, ainda mantinha o habito de se esconder, ou manter distância, para que eles não o vissem. Mas em todas as vezes algo imprevisto acontecia, e lá estava ele em meio ao circulo de rostos sérios, mas que a medida que o tempo passava (e ele ia se tornando mais conhecido) começavam a se tornar sorridentes. Ele se contentava em participar dessas pequenas aventuras, sem almejar nada concreto junto aos membros daquela guilda. Até que sonhou com seu pai. Desde que deixara Izlude ele só tinha tido um sono sem sonhos. Mas seu pai surgiu em um sonho, empunhando a Lâmina do Sol, e tendo ao fundo o brasão da Ordem. Ele nada disse, apenas empunhava a espada, em posição de defesa, em frente ao gigantesco brasão. Kuronin acordou sobressaltado, e uma única decisão latejava em sua cabeça. Iria fazer parte da Ordem. Procurou exaustivamente por algum membro da ordem por dias seguidos, mas eles pareciam haver desaparecido. Até que encontrou Tarcon e Miara em prontera. Vestido apenas com muita coragem, ele os procurou e externou sua vontade de integrar a Ordem. Tarcon pensou, e juntamente com Miara, indagaram os motivos de tal pedido. Kuronin contou-lhe sua história, a morte dos pais, a peregrinação, os longos anos sozinho. Ao final o cavaleiro se vira para Miara e diz apenas uma frase. — Minha querida, abra um portal para Morroc. Uma vez lá, Tarcon pediu para ver os túmulos, agora quase sumidos pela ação do tempo e das areias, e depois se encaminhou para a pirâmide. Kuronin o seguiu, e logo atrás vinha Miara, serena, mas séria. Entraram na Pirâmide. Encaminharam-se para a sala fatídica. E a porta da Mesma Tarcon estaca, vira-se para Kuronin e com a voz branda diz: — É hora de enfrentar seu passado. E eles entram na sala. Kuronin tendo as pernas bambas, a respiração ofegante e os olhos arregalados. Tarcon mal dava mostras de estar sequer preocupado. E em segundos ele aparece. Mesmo sabendo da existência de dezenas de monstros como aquele, e também sabendo que depois de tantos anos a possibilidade de aquele minorou ainda estar vivo serem praticamente nulas, Kuronin tinha certeza que era o mesmo monstro que aniquilara seus pais e os jovens cavaleiros. Chegou mesmo a ver a marca da adaga de Makoto na pele do peito do bicho. O monstro avançou bufando, os olhos vermelhos cravados em Kuronin. Mas dessa vez o medo deu lugar a raiva, e um grito de ódio escapa dos lábios do espadachim ao mesmo tempo em que ele avança na direção do gigantesco martelo erguido pelo monstro. O golpe de Kuronin mal arranha o minorou, mas o golpe do monstro quase lhe derruba. Um alento indescritível toma conta de Kuronin, e ele vê Miara de mãos postas, e um leve sorriso em seu rosto, os olhos fechados e uma levíssima aura a lhe envolver as mãos. Tarcon investe, e os dois começam a lutar contra o monstro. A batalha não dura muito, e o minorou tomba. Arquejando de cansaço, emoção e raiva, Kuronin ainda fica esperando que o brutamontes se levante. Mas ele não se mexe. A voz de Tarcon, serena, o faz deixar parte da tensão de lado. — Ele está morto. Por um segundo Kuronin ainda encara o cadáver. Então abaixa a espada. — Venha comigo jovem. É hora de termos uma conversa muito séria. Acompanhado por Tarcon e Miara ele deixa a pirâmide, e eles deixam Morroc. Sentados em Prontera, ambos explicam a ele os deveres de um Membro da Ordem do Dragão, sobre como os membros deveriam se ajudar, e também como deveriam saber quando não interferir. E finalmente Tarcon pergunta. — Quer se juntar a nós Kuronin? Sem respirar, sem pensar, o coração batendo forte, ele responde o óbvio. — Sim. Tarcon e Miara sorriem, e o Cavaleiro acrescenta. — Contudo, creio que a você falta um sobrenome... Podemos lhe batizar com um agora uma vez que você... — Kuronin Hydeoshi Himura senhor. Filho de Horyuki Hydeoshi e Makoto Himura – o jovem interrompe Tarcon. Eles se calam, cada um por seus motivos. Tarcon por ver o orgulho e o respeito que brilhavam nos olhos do jovem a sua frente ao dizer seu nome completo. Miara por ver a brecha que se abrira no escudo que Kuronin erguera a sua volta, e Kuronin por perceber que, em anos, era a primeira vez que usava o seu sobrenome. E a ele foi concedido o brasão. E ele passou a fazer parte da ordem, como membro “em treinamento”. E ele sentiu que dois sorrisos se abriam, em algum lugar distante, e o sol se fez mais brilhante. Ele passou a participar com mais freqüência de todas as aventuras e incursões que podia. Conheceu mais membros da ordem, alguns recém chegados como ele, outros veteranos. Umas e outras vezes o próprio Leafar estava presente. Mas mesmo ele sendo o Líder do clã, a dedicação de Kuronin sempre se voltava para Tarcon e Miara.
  4. Vou postar aqui a História de Kuronin - Cavaleiro da Ordem do Dragão - que teve uma segunda chance de não se perder na vida... vai ser postada em quatro partes... ficou "meio" comprida e "meio" detalhada... inspiração as vezes é fogo... Vamos a ela: A História de Kuronin PRIMEIRA PARTE: Do Nascer ao Pôr do Sol Nascido e criado em Izulde, Kuronin Hydeoshi Himura sempre teve três adorações em sua vida: Seu pai, Horyuki Hydeoshi, um espadachim de razoável perícia; sua mãe, Makoto Himura, uma mercadora vinda de Alberta e que se encantara por seu pai, estabelecendo tanto seu negócio quanto sua família em Izulde; e sua terceira adoração: caminhar, por longas distancias. Desde que deu seus primeiros passos, Kuronin se dedicava muito a "exploração do mundo", que consistia basicamente nos arredores de sua casa, e estendia suas "peregrinações" até onde seu fôlego, ou seus pais, o permitisse. Horyuki iniciou o treinamento de Kuronin assim que este teve forças para empunhar uma espada. Treinavam regularmente todos os dias, o pai aprimorando técnicas e movimentos e o jovem aprendiz desajeitadamente tentando imitar os movimentos do pai, muitas vezes se cortando no processo. A mãe de Kuronin acompanhava com orgulho os treinos do filho único, e sempre que seus afazeres o permitiam, ela sentava-se a sombra da varanda da casa para assistir as lições do futuro espadachim. E foi com orgulho indisfarçado que ambos, Hydeoshi e Makoto, levaram o trêmulo e ansioso Kuronin para que se inscrevesse na Guilda dos espadachins. Ele se tornou um aprendiz esforçado. Enfrentava desde inofensivos porings até mesmo os imprevisíveis Creamys. Seu senso de desafio o levava até limites perigosos, e por várias vezes ele teve que usar toda a força de suas pernas para escapar de situações potencialmente fatais. Mas também era orgulhoso. Nunca ninguém o ouviu pedir socorro, ou mesmo auxílio para curar seus ferimentos. Até mesmo para sua mãe era difícil faze-lo, e Kuronin só permitia que ela cuidasse de seus ferimentos após muita persuasão da parte da sempre amável Makoto. Ele aprendeu por si só como cuidar de seus ferimentos, e sempre levava consigo algumas ervas e poções, todas encontradas ou compradas com o esforço de seu treinamento. Ele não permitia sequer que sua mãe lhe desse poções de presente. Fazia questão de comprar o que necessitava. Segundo o próprio Kuronin, um espadachim deveria ser capaz de cuidar de si mesmo, e de outros que o acompanhassem. Seu pai via com orgulho esse desenvolvimento. Admirava-se com a resistência e obstinação do filho. Seu orgulho era tanto que ele fez questão de que a primeira espada que o filho usasse após se tornar espadachim fosse dada por ele, Hydeoshi. Assim, ele comprou uma espada resistente, leve e boa de corte, e disse ao filho que seria dele quando fosse promovido a sua segunda classe. Kuronin admirou-se com a espada, e isso só serviu para que intensificasse seus treinamentos. Tudo ia bem, até que em vésperas de se tornar espadachim, seu pai e um grupo de espadachins, contratados por dois cavaleiros, organizaram uma expedição aos desertos que circundam a cidade de Morroc, com o objetivo de juntar itens que seriam utilizados pelos cavaleiros para aprimorar suas armas. Makoto também decidiu partir. Iria aproveitar para negociar com os comerciantes de Morroc. Todos partiram, uma jornada leve, com Kuronin enfrentando porings, fabres, e tendo que fugir rápido de outros seres mais fortes. Todos acompanhavam a determinação do jovem com admiração e boas risadas. Ao chegarem nos desertos os cavaleiros informaram sua decisão de irem direto para as pirâmides. O grupo exitou, pois haviam relatos de monstros poderosos lá dentro. Makoto ficou apreensiva, mas Kuronin acho a idéia fascinante. Um monstro daqueles poderia ser um troféu magnífico. Seu pai pensou em deixa-lo com sua mãe na cidade, mas Kuronin se mostrou determinado a ir. Os cavaleiros disseram que não pretendiam se aprofundar muito nas pirâmides, apenas o suficiente para poder conhecer o aspecto geral de lá. Assim todos foram, e Makoto ficou nas proximidades. O grupo explorou a pirâmide por algumas horas, e Kuronin viu que ainda precisaria de muita perícia para enfrentar os monstros de lá. Num dado momento ele encontrou uma sala, e todo o grupo adentrou no pequeno recinto. Foi quando o pesadelo começou. Um monstro imenso, um Minorou, saltou das sombras sobre o grupo, derrubando dois espadachins que nem sequer viram o que ocorria. Os cavaleiros partiram para cima do monstro enquanto os demais tentavam assumir posições vantajosas. Hydeoshi berrou para que Kuronin saísse, mas este estava petrificado de medo pela primeira vez. O monstro derrubou os dois cavaleiros como se estes fossem apenas garotos, e voltou sua fúria para os espadachins. Como moscas eles caiam, e Hydeoshi ficou por último. Num ato desesperado ele sacou sua espada e investiu para o monstro, ainda berrando para que Kuronin fugisse. Finalmente ele acordou do estupor, a tempo de ver seu pai tombar sob o golpe esmagador do Minotauro. Chorando copiosamente ele correu para a saída, mas o monstro era mais rápido, e estava em seus calcanhares antes que alcançasse o portal. Uma sombra passou por ele, com um grito agudo, e agarrou-se no Minorou. Era Makoto, de adaga em punho. Ela ouvira a confusão e entrara também na pirâmide. Kuronin soube que ela também estava condenada, e que fazia aquilo para que ele fugisse. E foi o que ele fez. Correu por longo tempo pelo deserto, caindo de exaustão. Ficou ali, chorando de raiva e tristeza por muito tempo. Então decidiu voltar. Precisava resgatar os restos mortais de seus pais. Ele se aproximou novamente da pirâmide, já era noite, e o silêncio era pesado. Ele entrou na imensa construção, e de cara viu o corpo de sua mãe estendido junto a entrada. A escuridão impediu que ele visse detalhes do massacre, e ele arrastou o corpo sem vida para fora. Voltou a entrar na pirâmide, em busca do corpo de seu pai. Entrou na sala fatídica e viu, entre os corpos dos outros, seu pai, ainda com a espada firme em sua mão. O trabalho de arrasta-lo para fora foi penoso, bem como retirar os outros. Ele passou a noite escavando sepulturas com as próprias mãos. Pela manhã, doze covas se estendiam lado a lado, e duas delas com pedras marcando. Com as mãos ensangüentadas e o espírito partido em mil pedaços, Kuronin partiu de volta a Izulde, carregando consigo a adaga de sua mãe e a espada de seu pai. Horyuki a chamava de Lâmina do Sol, o metal de sua lâmina tinha um leve tom dourado, principalmente quando empunhada sob a luz do astro-rei. Seu pai havia lhe dito que ela possuía poderes mágicos, mas que era necessário muita perícia para poder desperta-los, e nem mesmo ele ainda havia conseguido despertar a espada. Kuronin chegou a cidade de Izulde dias depois. Magro e esfarrapado foi direto para guilda, onde apresentou suas armas, e narrou o ocorrido. Ele foi submetido aos testes e sua aprovação a espadachim foi unânime. Mas ele não comemorou. Não haveria os dois sorrisos de orgulho esperando-o do lado de fora. E tudo não teria acontecido se ele não houvesse entrado naquela sala. A espada era muito pesada, e requeria muita perícia para ser utilizada. Ele ainda não tinha tanta perícia, assim, ele se isolou do mundo, treinando durante muito tempo absolutamente sozinho. Ele encarava a espada como sendo a única lembrança de seus pais. A adaga de sua mãe repousava tranqüila em uma cova, cavada em um dos quintais de uma casa em Izlude, casa esta agora totalmente em ruínas. Um dia durante seus treinamentos ele julgou ouvir a voz rouca e grave de seu pai. Olhou em volta, mas a voz vinha da própria espada. E junto a ela havia a voz doce de sua mãe, ambas soando em uníssono. Elas diziam que já era hora de ele voltar para o mundo, de trilhar seu caminho, aplicando o que sabia e melhorando sua perícia para que pudesse ajudar outros que necessitassem, aguardando o dia em que os poderes da espada ressuscitassem e ele, Kuronin, se tornasse o legítimo portador da Lâmina do Sol, usando seus poderes para subjugar os ímpios e proteger os puros de coração. Depois disso ele se tornou um peregrino. Perambulando por toda Rune Midgard, sem rumo, sem morada. Abandonou seu sobrenome, e passou a ser conhecido apenas como Kuronin. Sua principal dedicação agora era ajudar aqueles que pedissem sua ajuda. Ele se tornou uma espécie de lenda. Muitos aprendizes de diversas classes, nos mais diversos lugares, contam histórias de um Espadachim taciturno que os auxiliara, dando-lhes instruções, remédios, comida ou mesmo equipamento, sem pedir nada em troca, e que simplesmente sumiu pelos caminhos quando seu auxílio não era mais necessário. Muitos nem mesmo sabem seu nome, outros lembram vagamente de algo como “Orunin”, “Kronin” e semelhantes. Mas nenhum se esquece da magnífica espada de lâmina dourada empunhada por ele, nem do fato de ele murmurar com a espada, tratando-a como se fosse um ser vivo.
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