Senhoras e senhores,
Falar de qualidade ao tratarmos de uma produção cultural de qualquer e associá-la a bom/mal gosto simplesmente não é uma alternativa POSSÍVEL. Afinal, quando falamos de qualidade, estamos falando de que? Do conteúdo? Sobre qual prisma? Da técnica empregada? Mais uma vez, a técnica pode ter sido manipulada ou escolhida para obter um resultado específico.
Um exemplo na linha adotada: Um disco de funk, com letras e música questionáveis sobre os padrões estéticos convencionais (os ditos "cultos"), pode estar perfeitamente masterizado, mixado e produzido; por outro lado, uma obra de música clássica numa gravação contemporânea pode estar registrada num processo que compromete a qualidade de sua obsorção. Qual é o parâmetro da qualidade adotado?
"O do conteúdo, claro", dirão os que acreditam que qualidade pode ser aplicada a arte e produção cultural. Bem, então se faz necessário lembrar que o entender do "bom" e do "ruim" depende do meio e do padrão "culto" dominante no momento de apreciação. Se um filme dos irmãos Lumiere for examinado como produção cinematográfica hoje, não poderiamos afirmar que a obra merecesse sequer nota... Qualquer vídeo caseiro do YouTube seria muito superior tecnicamente, e uma enorme quantidade desses mesmos vídeos do YouTube também teria enredo e produção mais apurados. Alguém vai dizer que são melhores ou mais relevantes? Boa sorte.
No sentido inverso, temos o que hoje é um dos maiores pintores de todos os tempos, Van Gogh. Em vida, sua arte foi desprezada. Morreu pobre. Somente anos depois, quando a própria concepção da crítica sobre o que esperar ou buscar numa obra de arte se alterou, que a importância de seu trabalho foi reconhecida. E mais, isso porque está inserida mais uma vez num prisma temporal, pois um pintor que produzisse obras no mesmo estilo hoje estaria ultrapassado. E o que falar então da tão badalada arte moderna, arte contemporanea, instalações e cia. ltda.? Aquilo que pode ser aplaudido e ovacionado como "genial" hoje corre sério risco de não sobreviver ao próximo final de semana. De mesmo modo, tentativas de produção de conteúdo artistico - poesia, digamos - seguindo o mesmo estilo d'Os Lusiadas, de Camões, seria motivo de chacota.
Gosto - tanto o "mau" quanto o "bom" - está inserido fortemente em determinada estrutura cultural, social e temporal. O "belo" e o "feio" seguem as mesmas linhas. Vide os nus artisticos renascentistas... As formas femininas ali retratadas não são longilineas, são "fofinhas"... Como condizente com o tido como "belo" à época. Hoje uma foto de uma mulher despida de formas similares seria apenas uma "gordinha pelada"; um quadro produzido com a mesma qualidade dos de Velasquez da mesma modelo, um verdadeiro desperdício de tinta.
De onde chegamos ao fato: quando o assunto é cultura, tudo é relativo. TUDO. Só lamento por aqueles que buscam se elevar em um pedestal querendo classificar o que é "bom" e o que é "ruim"... Se são do ramo, estão sob a constante pressão de serem contraditos (em moda isso acontece de três em três meses...); se não são do ramo, estão na pífia posição de acreditarem que o que é bom para elas próprias é e deve ser considerado bom por todos...
Em tempo, não curto Funk. E nunca assisti um BBB ou programa similar. Mas me recuso a querer rotular o programa ou o gênero musical com qualquer coisa mais crítica do que "não serve para mim". Trazendo exemplos mais simples, o "funkeiro" e o "sertanejo" são contemporâneos e contraditórios, ambos normalmente na situação onde seu público não aprecia o outro gênero citado... Onde fica o "bom" e o "mau" gosto ai? Lógico, fica inserido no contexto social de cada pessoa envolvida. Não existe uma "verdade suprema" para isso.
Meus dois centavos de contribuição pra discussão.
[]s
TheInvoker