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"Ela", por Vima Dias


Vima Dias

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[TD]Vinícius Emmanuel C. Dias (Vima Dias pra simplificar)[/TD]

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[TD]Romance, Fantasia[/TD]

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[TD]Sinopse[/TD]

[TD]Spoiler :p[/TD]

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1

 

 

“Eu tenho cicatrizes.”

 

“São muito bonitas”, ela disse, as mãos geladas nas minhas costas.”

 

“Magias de cura não deixam cicatrizes, mas as magias de cura custam dinheiro. Só pobres têm cicatrizes. Eu tenho cicatrizes”, eu disse.

 

Mas pensei: Nenhuma no rosto.

 

Eu não queria que eles soubessem que eu tinha cicatrizes.

 

Ela tirou as mãos das minhas costas. Esfregou-as. Ouvi o som, que parecia muito alto na madrugada de Prontera.

 

“Você tem cicatrizes”, ela disse, e esperou como se eu precisasse do tempo para me dar conta de que ela não falava das marcas na minha pele.

 

“Hum, você deve se achar muito inteligente, não é? Sempre deixa esse livro enorme aberto em cima da cama para impressionar as visitas?”

 

O silêncio.

 

“Eu não sei ler”, ela disse.

 

“Hã?”

 

“A sua pele é um pergaminho que eu não sei ler. Eu não conheço a escrita das armas, mas sei que existe essa língua e que cada cicatriz aqui nas suas costas é uma palavra que eu não posso ler.”

 

“Hmm...”

 

Ela se achava muito inteligente.

 

O silêncio.

 

Ouvi ela murmurar alguma coisa e olhei para trás. Ela tinha os olhos fechados; rezava. Eu não entendia suas palavras. Olhei para o livro na cama.

 

A Bíblia.

 

Um momento.

 

Não senti quando a sacerdotisa pôs as mãos nas minhas costas. Suas mãos não estavam mais geladas, não estavam frias mas tampouco estavam quentes. Eu podia ouvir minhas fibras musculares se colando de volta umas nas outras.

 

Me lembrei da primeira vez em que fui curado. É muito diferente da medicina. A medicina consiste em dar condições para que o corpo cure a si mesmo; mas magia divina é a cura.

 

“Eu amo você”, eu disse. Não sei por quê; é só como eu me sentia. Não precisava ser verdade. Precisava ser dito.

 

Ela riu.

 

Duvido que fosse a primeira vez que ouvia essas palavras assim ao acaso. Devia ser bom servir a Odin. Para ouvir, eu só tinha o som de homens e mulheres se engasgando com o próprio sangue: a canção dos moribundos, como dizemos na Guilda dos Assassinos.

 

Se um assassino é capaz de compor uma sinfonia, o chamamos maestro.

 

Eu era um virtuose.

 

Mas hoje eu tinha o som das mãos dela, a voz dela...

 

“Quê?”, eu disse.

 

Abri meus olhos, que só então percebi estarem fechados.

 

“A sua história”, ela disse ou repetiu. “Como eu não posso ler sua história direto no livro, que é você, por que não lê ela pra mim? Me conte a história das suas cicatrizes.”

 

“Hum, eu conto. Se depois eu puder conhecer as suas cicatrizes.”

 

Esperei o tempo que ela precisava para entender que eu falava das marcas na pele dela, mesmo que não houvesse nada além de pintas.

 

“Você se acha muito esperto, não é?”, ela sorriu. “Não. Depois de contar sua história, quero que você escute a minha história. Quero que aprenda que todos temos cicatrizes.”

 

“E então as suas pintas.”

 

“E então o seu pinto, se é que ele ainda o tem inteiro.”

 

Eu sorri.

Editado por Vima Dias
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