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A Fábula do Cavaleiro - As Espadas Lendárias


Raiga

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A Fábula do Cavaleiro

As Espadas Lendárias
 


Prólogo

Há muito tempo, desde que o Midgard se tornou o lar dos seres humanos, sempre houveram aqueles que lutavam em prol da justiça, liberdade, igualdade, honra. Muitos guerreiros surgiram para proteger a humanidade contra os ataques de toda a sorte de criaturas e raças. No início, usávamos clavas, pedaços de madeira. Paus e pedras. Com o tempo, outras formas de armas foram criadas para exercer essa proteção, armas que apesar de serem criadas até como forma de exibição de poder e habilidade, tinham o intuito de fazer com que os seres humanos pudessem sobreviver às eras de calamidade há muito esquecidas. Talvez o melhor exemplo que tenhamos na história tenha sido a espada. Um pedaço de ferro fino, temperado e amolado para que pudesse cortar, perfurar ou esmagar usando seu peso. Versátil na arte de matar, mas uma peça que simbolizava também a honra. Bom...era assim que deveria ser.

A ideia de estudar magia veio justamente do mesmo princípio de estudar a arte da espada. Assim como os cavaleiros foram adotando práticas e técnicas de combate para melhorarem seu desempenho na nobre tarefa de proteger a humanidade, os magos vem se aprimorando na habilidade de moldar a magia da forma como melhor lhe servir. Infelizmente, tal como existem os espadachins ansiosos por poder e glória, os magos também podem cair em depravação por conta de seu desejo e em como a magia pode lhes parecer uma ferramenta tentadora e livre. 

Aliás, parte da minha tese como professora se dá por encontrar maneiras mais seguras e úteis de usar a magia como uma extensão natural do corpo, não apenas como arma ou forma de comodidade. A humanidade deve muito à própria natureza por ter esse benefício de poder usar a magia através de nossos catalisadores ou dons inatos. 

Como citei antes, tudo se identifica com a forma como os cavaleiros surgiram e como são hoje em nossa sociedade. Apesar de não terem os mesmos dons mágicos que os magos, eles demonstram grande potencial de aprendizado e de resiliência em meio às grandes evoluções e adaptações da humanidade. Enquanto formas de uso da pólvora para criar armas de grande destruição em rápida cadência foram descobertas e empregadas em Einbroch, a tecnologia criada da época dos Guardiões (até então um mistério considerando a época) agora é usada para criação de autômatos de combate guiados pelos mecânicos de forma que pareceria ingênuo por parte de homens e mulheres brandirem pedaços de ferro para atacar ou defender. Mas para a surpresa de muitos, eles ainda continuam a lutar com suas espadas e lanças. Armas melhoradas por magia ou por minérios ainda desconhecidos, porém não muda o fato de que eles se mantém sempre adaptados. 

A magia deve seguir o mesmo curso. Devemos sermos melhores e mais eficientes...

 - Ora, escrevendo sua tese, Professora Layla? - Um homem de idade avançada, corpulento, com um protuberante bigode quase escondendo um sorriso sincero olhava para as anotações em cima da mesa.

Uma jovem estava quase debruçada na mesa, escrevendo com caneta tinteiro sobre os pergaminhos que trazia em sua bolsa e colocava rapidamente para escrever, conforme descartava as que julgava imperfeitas. Vestida formalmente, a professora virou-se para o companheiro de viagem. Seus cabelos um pouco longos e quase azulados reluziam as chamas das velas acesas à sua frente, enquanto seus olhos verdes fitavam o gentil senhor ao seu lado na mesa. 

 - Não há tempo à perder, não é padre Honorius? - Respondeu Layla, com uma gentileza gratificante. 

 - De fato. Há muito o que devemos fazer. - O gordo senhor voltou a observar à sua frente. Dentro do aeroplano, os dois estavam em uma cabine mais suntuosa, separada dos demais passageiros, dispondo de mesas e bancos mais acolchoados. Sua cabine ainda ficava colada na parede que dava vista para fora do aeroplano. À frente deles estavam outros passageiros em cabines semelhantes, todos de alta pompa. - Me alegra saber que aceitou esta viagem.

 - Claro... não há nada nesse mundo que me empolgue mais do que uma busca por conhecimento, ainda mais vindo de minhas próprias pesquisas. - A jovem professora apoiou seu cotovelo à mesa e repousou o queixo em sua mão, mirando o céu pela janela. Mantinha um sorriso sereno. - Finalmente...vou poder realizar meu sonho...

Por entre as nuvens, o aeroplano começava a descer e diminuir a velocidade. Era possível ver um hangar de pouso para a gigantesca máquina voadora, e logo mais a frente as construções antigas e rústicas da cidade sede dos espadachins, Izlude. Honorius levantou-se de sua cadeira e se dirigiu para o convés, aguardando o momento de descer do dirigível. Layla, no entanto, continuava a admirar a paisagem. Franziu o cenho e seus lábios desmancharam o sorriso sereno em uma expressão mais séria e preocupada.

- Finalmente...vou conseguir encontra-lo...

 

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A Fábula do Cavaleiro

As Espadas Lendárias

Capítulo 1


Izlude, a cidade-satélite da capital do reino de Rune-Midgard, tida como um dos principais pontos de parada nos atracadouros de barcos e navios, bem como um dos três pontos da rota entre os reinos via Aeroplano. Embora uma pequena cidade construída em uma ilha ligada ao continente por apenas uma grande ponte, era reduto de grande parte do comércio marítimo e ponto de partida dos aspirantes à espadachins. Nesta cidade também encontram-se atrações como a exploração da ilha Byalan, a Arena de Batalha, e é de onde saem os barcos para o resort paradisíaco para os casais, Jawaii, a ilha da Lua-de-Mel. 

Apesar de servir como aeroporto internacional, a maior parte do comércio de Izlude é advinda dos navios pesqueiros que ancoram no cais da cidade, por menor que seja, tudo por conta da proximidade com a cidade de Prontera, a capital. Com isso, os mercadores tem fácil acesso ao sistema de armazéns da cidade, bem como de transporte e pagam poucas taxas. Mesmo que os campos após a ponte sejam calmos e pacíficos, ainda existe a possibilidade de encontrarem criaturas problemáticas, e por conta disso muitos mercadores também fazem negócios com guerreiros de aluguel ou com aventureiros que transitam pela cidade. 

A primeira impressão de Layla foi exatamente como a cidade é um tanto movimentada com aventureiros mais simples, de ranqueamento mais baixo ou aspirantes à espadachins, andando de um lado para o outro com espadas de madeira amarradas à cintura. Não conseguiu conter um sorriso de emoção ao desembarcar do aeroplano e entrar na cidade. Gentil e de grande coração, a mulher exibia sem pudor a sua alegria para com àquela experiência diferente e empolgante em que estava. Padre Honrius a acompanhou até chegarem ao centro da cidade, onde podiam observar todas as ruas e seus transeuntes.

- É maravilhosa, não? - O velho padre coçava a barba rala do queixo. Um homem corpulento, vestido com a típica batina dos sacerdotes de Prontera, parecia uma figura caricata ambulante com sua tonsura, apesar da barba cobrir as bochechas e o queixo e ser semi-aparada. Exibia um enorme crucifixo de madeira amarrada por um barbante que pendia em seu pescoço. 

- É sim, padre. - A jovem mal podia conter a emoção de estar viajando e ter chegado àquela cidade. Carregando os livros junto ao peito, segurando-os com as duas mãos, ela olhava para os lados e quase perdia a conta de quantos espadachins apareciam por lá. - É tão...

- Diferente? - Completou o padre.

- Sim... tudo que eu via em Juno eram livros. Pessoas sempre buscando por poder e conhecimento através dos pergaminhos e retórica. - Apesar de jovem, ela era uma professora modesta e decente, segundo seus próprios colegas. A forma como falava de educada e ponderadamente já indicava a sua etiqueta, mesmo diante as novidades. Vestia-se apropriadamente como membro do corpo docente da Universidade de Juno. 

- Oh... Então espero que esteja pronta para as surpresas da 'vida real'.  - Alertou Honorius, ainda que animado.

- Como assim? - A professora ficou um pouco apreensiva.

- Ora... aposto que está olhando para esses garotos e garotas espadachins, pensando que estão buscando honra, glória, até mesmo poder para proteger os entes queridos. Isso é o que você leu durante muito tempo, não é? - O padre virou-se para a jovem.

- Bem, sim. Entendo que possam existir problemas, desigualdades e até maldades entre as pessoas, independente do que fazem. - Ela pareceu um tanto pesarosa por um instante, mas voltou ao seu semblante tranquilo e alegre. - Mas acredito naquilo que está escrito nos livros. 

- É, de certa forma. - Honorius voltou a olhar para a rua. Apontou com o queixo para um pequeno grupo que andava para a sede dos espadachins. Todos da mesma classe, porém com grande diferença de idade. - Eu lhe alertaria sobre o que homens e mulheres podem fazer para prejudicar os próximos, mas cenas como aquela são realmente inspiradoras...

Os dois olharam para o pequeno grupo que se dirigia para o centro de um campo de treinamento próximo a sede. Um homem mais alto, velho, com roupas gastas de espadachim, carregando uma espada de madeira e fazendo movimentos de golpes no ar, enquanto dois garotos e uma garota o acompanhavam, observando tudo que o instrutor fazia para que eles pudessem lutar. Todos empolgados com os ensinamentos, e o homem feliz por estar passando adiante seu conhecimento. 

Eles ficaram observando até o momento que um rapaz, também de batina, surgiu por entre os transeuntes e se aproximou do padre. Seus cabelos negros e curtos estavam penteados firmemente por baixo do solidéu. Andava a passos rápidos, segurando um pequeno livreto junto ao peito, tal como a professora. 

- Boa tarde padre Honorius. - Ele fez uma breve reverência. 

- Ora, boa tarde Zimo. - Respondeu o padre. - Chego bem na hora. Esta é Layla Almer, a pessoa que você guiará a partir daqui. - Ele aponta para a mulher ao seu lado. 

- É um prazer conhece-lo. - Ela acena positivamente, com um sorriso.

- Sou Ibramzimo Becce, o prazer é meu. - O rapaz faz uma nova reverência. 

- Terminadas as formalidades, é hora de partir. - Honorius bate em sua protuberante barriga, dando gargalhadas. - É aqui que nos separamos, cara senhorita. 

- Foi um prazer viajar com o senhor

Os dois se despediram e então o padre tomou rumo para a Arena. Layla o observou por algum tempo, antes de seguir viagem com Zimo ao seu lado. Saindo pelo sul de Izlude, tomaram o rumo da ponte que fazia a ligação entre a ilha e o continente de Rune-Midgard. Ao atravessar, estavam em uma paisagem vasta e pacata, com várias árvores espalhadas pela planície. Apesar de algumas elevações, não haviam morros para subir ou descer, então a viagem seguia tranquila e pouco menos que vinte minutos já era possível ver tanto o muro guarnecido da cidade como também as altas construções que se elevavam muralha adentro. 

Zimo falava pouco, tanto quanto Layla. Porém, conforme iam se aproximando da cidade, ele contava à professora algumas curiosidades à respeito da cidade, além de seus pontos turísticos. Conforme avançavam, a moça podia ver alguns aventureiros no lado de fora das muralhas. A grande maioria parecia ser extremamente forte, exibindo suas armaduras ou equipamentos de alto valor, e alguns até ajudavam iniciantes ao indicarem caminhos ou mesmo em uma breve caçada por criaturas. Passando pelas suntuosas e enormes portas de madeira, a visão da pacata planície é ofuscada pelas ruas pavimentadas e as grandiosas construções, porém o que chamou a atenção da estudiosa não foram a arquitetura ou a beleza da avenida principal, mas sim a quantidade de mercadores ambulantes que abriam suas tendas ou faziam exposição de itens na calçada e até na rua. Por vezes, era possível ver transeuntes tropeçando ou derrubando uma barraca ou outra, ou Grifos e Peco-Pecos esbarrando nas lojinhas e quebrando alguns utensílios. Até mesmo para andar era um pouco desconfortável, pois eram muitos aventureiros que entravam e saiam na cidade.

- Como eu estava lhe dizendo... - Zimo ficava próximo da jovem, falando um pouco mais alto. - A cidade é o centro comercial do Reino, então é praticamente todo dia essa movimentação. 

- Oh... - Mesmo um tanto pressionada, Layla observava com encanto. - Percebi, mas ainda assim é tão rico. E pensar que pessoas de todos os cantos do mundo vem parar aqui...

Zimo sorriu. Apesar de ser um aprendiz do Padre Honorius e um noviço ainda em treinamento, ele era menos acometido pelo rigoroso treinamento dentro da Igreja de Prontera. Com isso, ele entendia mais do que a professora sobre o mercado local, além da localização dos estabelecimentos pela região. Divertiu-se ao ver a feição de espanto de Layla quando ela peguntou à um mercador de rua sobre um livro de magia extremamente raro. 

- É tudo muito caro! - A jovem andava, com as bochechas coradas, com passos mais largos. - A Academia não me paga tão bem assim!

- A senhorita deveria se acostumar. - Respondeu Zimo, rindo da feição dela. - Aqui o mercado é muito competitivo, então talvez ache algo mais em conta, se tiver sorte, quando aparece algum produto novo ou alguém desesperado para se livrar de um equipamento.

- Entendo. - Apesar da frustração, ela voltou a exibir seu semblante sereno. - Mas ainda assim é maravilhoso ver tanta gente nessa cidade. 

- A política de Prontera é a de ser o maior centro comercial do reino, focando no comércio e em atrações para os aventureiros. - Zimo aponta para mais ao longe, na direção do centro da cidade. - Lá você vai encontrar a maior parte dos mercadores de bens temporários, além do comércio de poções, ervas e utilidades.

- Temporários? - Layla ficou curiosa.

- Sim. Prontera pode ser lotada de mercadores e viajantes, mas não é desorganizada. - A dupla andava próxima da muralha interna, uma divisão da cidade feita para separar o distrito comercial do setor de moradias. Zimo segurou a professora pelos ombros levemente, mudando o rumo da caminhada. - Venha comigo, vou lhe mostrar uma coisa.

Os dois andaram pela avenida oeste, passando apertadamente pelos vendedores enquanto acompanhavam o muro interno da capital. Então eles chegaram até uma esquina que dava para uma rua sem saída. Até o final da rua, haviam mais vendedores com suas tendas e caixas de correspondência, mas logo a jovem percebeu que aquele local era muito mais organizado e demasiadamente sofisticado. Os mercadores exibiam itens muito mais valiosos, e havia uma concentração maior dos guardas da cidade naquela região. Layla notou que apesar da rua ser livre, poucas pessoas passavam por perto daquela rua. 

- Viu? Essa é a parte 'nobre' da cidade. - Zimo apontou para os mercadores daquela região. - Aqui é onde os aventureiros mais ricos e renomados vem fazer negócio. Como a maior parte deles é extremamente forte e classificada como elite nos registros da cidade, são poucos os que se atrevem a roubar ou mesmo enfrentar eles, pois é uma concentração muito grande de pessoas de alto poder, mesmo que seja só aquisitivo.

- Mas então por que os guardas? - A moça ficou apreensiva. 

- Bem, sempre tem um ou outro ladrão por aqui, mas os guardas estão em maior quantidade pelo fato de que mesmo entre a elite, eles podem brigar. - O noviço falou em um tom mais divertido. 

- Eles brigam? Como assim? - Ela olhou rapidamente para o seu guia.

- Claro! - Zimo deu de ombros. - Ter poder e riqueza não deixa uma pessoa satisfeita. Veja, grande parte dos soldados de Prontera também acabam comprando ou negociando com os aventureiros, mas como servem à capital eles têm esse dever de manter a segurança. Então acaba que mesmo que um aventureiro de alto poder faça alguma cabeça de pudim,  temos pessoal competente para lidar com...

- Você blasfemou! - Layla interrompeu o rapaz. - De forma suave, mas foi...

- Ah, bem... - Ele riu. - Eu sou um noviço, e tenho certa liberdade. Então...maldição, né! - Ele deu de ombros novamente. - Enfim... essa é a área nobre. Se formos mais para o oeste vamos encontrar as estalagens e bares, e um pouco mais ao fundo alguns bordéis. 

- Algo me diz que você conhece muito bem aquela região. - A jovem olhou para o noviço, desconfiada.

- Não, não! - Ele respondeu rapidamente. - Eu tento salvar as almas dos que estão perdidos. Só não significa que eu não possa me perder ou que não possa salvar de outras formas. - Ele tossiu um pouco, nervoso. - AHEM! Então... devo te levar até a biblioteca pública e depois à biblioteca real. Você trouxe seu pedido especial, certo?

- Trouxe sim. Está bem... - A mulher colocou a mão livre no bolso de seu traje, mas ao tatear e depois checar os bolsos, percebeu que não só sua carta com o pedido para acesso à biblioteca real havia sumido, como sua carteira também. - Essa não. Será que eu esqueci?

- O que aconteceu?

- Minha carteira, meus documentos! - Ela olhou com um pouco de apreensão e desespero. - Não estão comigo!

Zimo franziu o cenho e rapidamente olhou para os lados. Procurava algo no meio da multidão, até que pareceu ter achado alguma coisa em meio à uns mercadores. Abriu o seu livro rapidamente, recitou algumas palavras e então suas pernas pareciam terem ficado mais leves, a ponto de ter aumentado sua velocidade de locomoção. Velozmente, percorreu pouco mais do que alguns metros até agarrar o colarinho de uma criança.

- Me solta! - Capturado, um garoto de não mais que 8 anos se debatia para se soltar do noviço. 

- Peguei você, seu moleque. 

- Hey, o que houve? - Layla demorou a perceber o que havia acontecido e correu para perto de Zimo, até encontrar ele com a criança presa pela gola da camiseta. Ela logo percebeu que a criança estava mal vestida, em roupas puídas e sujas. O garoto não parecia ser de Prontera, pois tinha pele mais escura e os traços eram mais discrepantes daqueles que estavam ao redor, ainda assim a professora não sentiu nenhum tipo de emoção negativa. - Calma calma...

- Me solta, droga! - O garoto tentava chutar as canelas de Zimo, mas não conseguia se equilibrar. Rasgou um pouco da gola de sua já mal trapilha camisa, mas não conseguiu se afastar. 

- Ta tudo bem! - Layla se abaixou um pouco para ficar próxima dele. Ela conseguiu identificar a sua carteira escondida e amarrada por um cordel, em baixo da camisa do garoto. - Olha, se você quer roubar algo, tente pedir antes. 

- Nem adianta conversar muito, senhorita. - Zimo, que parecia até acostumado com a situação, ainda mantinha o pequeno preso e se debatendo.

- Entendo, mas olha... - O garoto tentou impedir ela de se aproximar, quando se deu conta de que a carteira não estava mais com ele. Quando ele virou-se, deu de cara com a professora segurando o objeto e sorrindo pra ele. - Eu também sei afanar.

- Que? - Zimo ergueu a sobrancelha.

- Mas...mas... - Confuso, o menino parou de se mexer e ficou olhando para a mulher à sua frente.

Com tranquilidade, ela ficou novamente ereta e conferiu o conteúdo da carteira. Acenou positivamente e retirou algumas moedas de dentro, para entregar ao menino.

- Olha, não é muito, mas pode ajudar. - Ela continuava sorrindo.

Tanto o garoto quanto Zimo olhavam confusos para a moça. O noviço largou a gola já rasgada da camisa do garoto, deixando um pequeno espaço para os dois se encararem, enquanto o jovenzinho esticava a mão e pegava as moedas das mãos da mulher, ainda desconfiado. Por fim, ele suspirou de forma gratificante e sorriu gentilmente. 

- Muito obrigado, moça...

- Tenta não roubar tudo de uma pessoa, deixa ao menos os documentos dela...- Respondeu ela, sem graça. 

- Tenta não dar todo o seu dinheiro pra qualquer um. - Zimo comentou, ainda incrédulo. Recebeu o olhar de reprovação da professora, mas deu de ombros e suspirou, dando um breve sorriso depois. - Bem, você tem certa razão, né... 

- O que está acontecendo aqui?

Subitamente, alguns dos soldados que rondavam a área nobre se aproximaram do trio. Todos bem armados e equipados, com os capacetes impedindo de ver o rosto completamente. Dois deles cercaram o menino, que reconhecendo a situação de perigo tentou escapar, mas fora agarrado pelos braços. Outros dois guardas se puseram entre o garoto e Layla, impedindo ela de se aproximar. 

- Eu é que pergunto, o que vocês estão fazendo? - Perguntou ela, séria.

- Mantendo a ordem deste local. - Respondeu o soldado à frente dela. - Esse tipo de atitude é nobre, mas não vai tirar o fato de que o ladrão atuou e voltará a atuar neste local. 

- Ele deve estar passando por necessidades, não é nenhum...- Ela iria falar que não seria um crime, mas parou ao ver que o soldado a olhava de forma estranha, julgando-a. - Digo, entendo sobre esse tipo de problema, mas eu posso...

- Não há como ajudar, senhorita! - Retrucou o soldado. Ele virou-se para os dois que seguravam o menino pelos braços. - Levem ele daqui. 

- Não! Me solta! - O garoto se debatia, tentando se soltar. - Me deixe ir! Moça...- Ele estava sendo arrastado, até que foi pego no colo de forma bruta. Começou a chorar e tentar alcançar Layla com as mãos. - Moça! Me ajuda! Por favor...

- Hey! - Ela deu um passo a frente, mas foi impedida de continuar. O soldado lhe olhava com seriedade, mas foi Zimo quem colocou o braço à frente dela para impedir seu avanço. - O que esta fazendo? 

- Sábia decisão, rapaz! - O homem de armadura pesada virou-se e continuou a andar. O garoto ainda gritava por socorro, nos braços de um dos guardas, enquanto Layla tentava se desvencilhar e ir atrás deles.

- Mas que droga, por que está me impedindo? - Ela empurrou Zimo, mas ele apenas segurou o pulso dela.

- Espere. Preste atenção! Não há o que fazer...

- Como não? - Ela estava começando a ficar mais nervosa, quase perdendo a postura.

- Olhe ao redor... 

Ela parou por um momento. Não estava entendendo o que o noviço queria dizer com aquelas palavras, mas então ela respirou fundo e começou a olhar para os lados. Os muitos mercadores que estavam nas ruas não pareciam preocupados com a situação. Apesar de ter também muitos transeuntes, pedestres e até os cidadãos e moradores da cidade por lá, não havia nenhum deles preocupado com a comoção. Os aventureiros de elite, como Zimo havia dito, estavam mais preocupados com seus negócios. Layla ainda pode identificar algumas pessoas incomodadas com a situação, e também outros que demonstravam certo repúdio, mas nenhuma delas fez algo. 

- Percebeu a situação? A cidade é grande, e estamos no meio de uma restruturação, mas a desigualdade ainda é grande e o preconceito também... infelizmente. - O noviço balançava a cabeça, um tanto chateado.

Sentindo-se impotente naquele momento, Layla só podia observar. Logo os guardas sumiram em meio à multidão e o comércio seguia novamente com seu rumo. Ela suspirou e então seguiu para a praça central, junto de Zimo. Não podia deixar de se sentir triste pelo ocorrido e lembrar de sua infância na sua cidade natal.

 

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A tarde se arrastava na cidade de Prontera. A capital era agitada em todas as horas do dia, não importando se houvessem problemas ou eventos dos mais variados tipos, sempre haveria pessoas transitando e negociando. Dividida em distritos e setores, era uma cidade multicultural. A área militar, que consistia na região norte e noroeste onde ficavam a guilda dos Cavaleiros e o castelo do reino, tinha sempre ávidos aspirantes à cavaleiros e guerreiros em treinamento, ou então contando seus feitos e se desafiando para testarem suas forças. Já na região nordeste, a catedral mantinha sempre um bom movimento dos fiéis aos deuses Odin, Vili e Vé, principalmente por que é a construção mais antiga e respeitada pelos seguidores dos deuses aesires, junto da Abadia de Santa Capitolina. Naquele mesmo dia, ainda houve um casamento regado à muita festa e confraternização ao ar livre. Mesmo que estava por perto de passagem parava para prestar as devidas parabenizações para os recém casados.

No centro da cidade ficavam a maior parte das lojas de utensílios para caçadas, remédios, poções e toda a sorte de itens de suporte, pois perto dali havia uma arena para combate e um ringue de batalha. Também haviam esses tipos de eventos no submundo da cidade, quando a noite já estava avançada, mas poucos dos aventureiros mais experientes vão para esse tipo de lugar. Próximo do centro ficavam estruturas mais chamativas para os viajantes que não vinham à cidade montar um negócio de vendas, como a biblioteca, a ferraria, estalagens e até um grandioso bar muito famoso pelas suas bebidas e pratos deliciosos. Indo do centro pra o norte da cidade, na avenida central, da-se de encontro com a Praça das Mãos, um pátio enorme com a escultura de duas mãos se apertando que simboliza a amizade tanto entre as pessoas daquele reino, como o reino com as demais nações de Rune-Midgard.

No sudeste da cidade, ficava a região mais humilde e de classe média baixa. Muitos dos moradores de Prontera vivem nessa área, e conforme vão subindo para a saída leste, mais suntuosas são as casas e prédios que servem de moradia. Porém, no extremo sudeste fica uma pequena área pobre da cidade, construída próxima ao antigo lar da guilda dos espadachins, há muito abandonada. À partir de lá que saem grande parte da mão de obra dos trabalhos mais humildes e cotidianos, mas ainda assim possui muita pobreza e discriminação por conta dos moradores. Grande parte dos que vivem lá são estrangeiros de outras cidades do reino ou mesmo de fora dele, que se instalaram como puderam na capital em busca de sustento e crescimento. 

Zimo explicou cada um desses detalhes enquanto estava com Layla, durante uma passagem ao bar no centro de Prontera. Os dois foram para lá para conversarem, onde o noviço dava as recomendações das localidades e ajudava a moça à se situar na capital. O trabalho que a professora fora fazer na capital envolvia em grande parte a pesquisa de fórmulas mágicas e história de algumas regiões de Rune-Midgard, e para tando ela precisava de uma autorização oficial de seus superiores de Juno em conjunto do apoio do corpo docente de Prontera para poder acessar tanto a lista reservada da biblioteca pública quanto o acesso à biblioteca real. Para tanto, seria necessário que ela também fosse ligada de certa forma à nobreza em algum dos lados, coisa que o noviço não entendia como ela poderia ser, naquele momento, parte dela. 

- Entendo... - Disse Layla enquanto tomava um gole de suco de uva. O bar estava lotado, com sempre, mas possuía um alto leque de bebidas e pratos que não fossem apenas alcoólicos. Zimo bebia água em um copo simples, olhando com curiosidade para a professora, enquanto ela parecia estar tendo devaneios em meio à conversa.

- Ainda pensando no garoto? - O noviço chutou a informação.

- É...

Ainda que fosse natural para ele por conviver com situações com aquela todos os dias, Zimo também tinha a sensação de impotência e revolta. Desde que entrara na igreja por vontade própria, sua noção de que deveria ajudar os demais o mantivera sempre atento para quando suas habilidades fossem necessárias, mas até mesmo por recomendação do padre Honorius ele não deveria interferir na política e segurança da capital. 

- Bem, talvez tenha algo que você possa fazer... - Ele falou, mais baixo.

- É? - Layla ergueu as sobrancelhas em surpresa. - O que então?

- Olha... é arriscado, mas você pode ir até o castelo de Prontera e tentar visita-lo na prisão, ou falar com algum dos superiores que regem a guarda da cidade. - Ele sorveu mais um gole de água. 

- Entendi... - Ela passou a fitar o bar. Estava sentada próxima da janela com a vista para o interior do recinto. - Acho que meu trabalho pode esperar um pouco. - Voltou-se para o rapaz que a acompanhava. - Sabe...eu só quero ver se está tudo bem com ele, se posso ao menos ajudar um pouco...foi tudo um mal entendido deles, não é?

- Talvez...-  Respondeu ele, secamente. - Mas tem certeza que quer fazer isso? Quero dizer...é arriscado demais e você não está devendo nada à ninguém.

- Eu sei disso, mas... - Ela suspirou e olhou para o noviço. - São nessas pequenas coisas que devemos ajudar, não é? Sempre me disseram que devemos ajudar, não importasse como.

- Se você está dizendo. - Zimo olhou para os lados e então arrastou sua cadeira pra perto da professora. - Então, já que você vai ter que ir até o castelo de qualquer maneira por causa da biblioteca, pode aproveitar para tentar encontrar pelo guri na prisão. Mas já vou avisando...- Advertiu, falando de maneira séria. - Ultimamente, por conta da reunião das famílias do reino para ver quem irá governar, a segurança têm aumentado muito, e eles estão muito mais incisivos e problemáticos de se lidar. Quando o Rei Tristan III governava, existia preconceito e pobreza como sempre haverá na sociedade, mas o povo era muito mais unido e o governo olhava mais pelos que precisavam de ajuda. Com a morte dele, as catástrofes que Satã Morroc causou e essa constante briga entre os nobres, muitos aventureiros ficaram ricos por conta da enorme necessidade de pessoas poderosas, e com isso muitos ascenderam à nobreza. Por isso que o mercado é tão inflacionado, como você pôde notar, pois hoje os aventureiros tem certo poder nas escolhas feitas no reino enquanto muitos cidadãos sofrem pelo descaso. - Ele tomou mais um gole de água. - Então tome muito cuidado em como vai se portar lá dentro, está me entendendo?

Layla escutava com atenção e assentiu positivamente com as recomendações de Zimo. Ela estava decidida à achar a criança e ajudá-lo como puder, mas precisava de mais detalhes sobre como funcionava a guarda local, afim de não arriscar o principal objetivo dela na capital. 

 

Continua no próximo capítulo...

                                                                                                                        ---------------------------------------------------------------------------------




Pessoooooooaaaaaaal desculpem-me pela demora e pelos erros de português que devem aparecer acima. Estive tão ocupado com os trabalhos de final de ano que não pude nem concluir o raciocínio da história, mas..até que vai virar um bom gancho pro cap 2, não é? U.U Espero que vocês gostem, comentem o que acharam e mesmo que seja algo ruim, não deixem de comentar. Só da pra melhorar se houver feedback hahahaha. Um abraço e mais além vem a segunda parte. :D 

OBS: Em anexo segue a imagem base para a Layla fofínea 
 

Layla.jpg

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Oi pessoal :D
Desculpem o sumiço. Período de férias, depois eventos, retomada das aulas para dar, empresa e etc, meio que tirou meu tempo. Mas calma, eu to com o cap 2 quase pronto e faltam apenas alguns ajustes. Se Odin me permitir, eu postarei com maior periodicidade agora em fevereiro ^^ E obrigado pelo feedback. É um começo, mas assim já da um gás pra motivar mais .

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