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Confissões e Reminiscências


Fabiano Alves

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Capítulo 31: O Noviço

 

 

Ter retornado em Prontera, depois de tantas coisas em Geffen me foi um alívio.

As ruas cheias de mercadores, os aventureiros indo de cima a baixo procurando ofertas no mercado, o barulho, a algazarra, tudo aquilo me fazia sentir mais leve.

Passei em casa e limpei minhas roupas, pegando uma muda nova e costurando a que deixei. Olhei em cima do criado-mudo e vi uma carta fechada com o selo da Ordem de Prontera.

 

" Bondoso servo,

Conclamamos a presença de todos na Catedral de Prontera no dia #### antes do pôr-do-sol para que todos recebam a benção do Arcebispo e dos Sumo-sacerdotes da Ordem de Prontera.

 

Não falte! "

 

É, eu tinha perdido a grandiosa benção do Arcebispo e seus cupinchas. Imaginei que eu precisaria passar na Catedral para justificar minha falta. Uma resposta veio à minha mente.

 

"Mané benção do Arcebispo! Aff! Vai me dizer que a benção que ele dá é diferente de uma benção de uma noviça novata? "

 

Dei risada do que pensei. Bem, eu teria que passar lá mesmo antes de seguir.

Arrumei a mochila e saí.

----------------------

 

- A respeito da jovem Rachiele Nathaly... - indagou Necrus.

 

- Ah, ela faltou ao evento com o Arcebispo. Eu notei.

 

- Sacerdote Augusto, tenho notado que tem dado muita atenção à jovem Rachiele...

 

- O que está insinuando com isso, Necrus?

 

- Nada, nada...Como eu dizia...ela faltou ao evento, isso é ruim.

 

- Sim, a sorte dela é que ela é só mais um rosto no meio dos outros, acho que só eu notei a falta dela...

 

- Bem, devo proceder como de costume?

 

- Sim. Ela fica obrigada a ir no próximo evento da Ordem. Se não for, fica sujeita a punição perante a lei divina.

 

- Entendido, com licença senhor.

-----------------------

 

Eu não tenho nada contra o Necrus. Nada mesmo. Ele é um cara legal, ajuda os noviços e tudo o mais, mas tem alguma coisa dócil e submissa demais nele e eu mesma não entendo o porquê.

 

- Rachiele, você entendeu o que eu disse?

 

- Hein?

 

Aqui estou eu, na sala dele, e ele me dando sermão por não ter ido no evento chato com o arcebispo.

 

- Você se lembra do que aconteceu quando da sua falta na visita do Papa?

 

- Ah...lembro sim...

 

- Desde aquele dia a Cúpula da Ordem tem ficado de olho em você.

 

- Eu sei...mas não devo nada a eles!

 

- Não é caso de dever! Seja pelo menos grata quando estiver aqui e pedirmos algo para você!

 

- .....

 

- Nós te acolhemos, demos roupas, ensinamos você a ler, se tivesse ido para a guilda dos espadachins não teria tudo isso!

 

- Eu sei...

 

- Sabe, mas faz errado! Escute Rachiele, olhe pra mim, eu não quero que tenha problemas com a Ordem. Quando tivermos o próximo evento, você deve ir, entendeu?

 

- Sim,sim senhor.

 

- Muito bem, dispensada.

 

Cumprimentei Necrus com um aceno de cabeça e saí da sala. Passando pela lojinha instalada dentro da Catedral decidi comprar um rosário e um solidéu para mim. Ficar andando por aí sem nada pra proteger a cabeça estava fritando meus miolos.

Saí da Catedral, indo em direção a saída Oeste da cidade.

----------------------

 

Retornei ao Esgoto de Prontera. Uma vez na escuridão, com iluminação mínima, vi que o treino com meu "pai" foi-me muito util.

Mesmo um punhado de besouros-ladrões atacando em massa, eu me esquivava facilmente, golpeando-os e os esmagando com minha maça.

 

Eu estava bem mais ágil do que pensava, e minha resistência aos ataques dos monstros também.

Um noviço estava sentado ao meu lado, era começo da tarde.

 

- Pode me ajudar?

 

- Hã?

 

- Me ajudar...A me tornar mais forte...

 

- Humm...

 

- Por favor!

 

- Tá ok. Já foi até o segundo andar?

 

- Já. Era lá que treinava.

 

- Venha comigo.

 

 

O noviço se chamava Mateus, pelo que me contou, treinava nas cercanias de Prontera. Disse ele que em certa ocasião formou um grupo com outros colegas mas por alguma razão foi deixado para trás. Ele procurava agora um grupo de noviços ou sacerdotes por desconfiar dos outros.

 

- Isso é tolice. - disse para ele - Pessoas ruins existem em todo lugar. Você dizer que todos os grupos são ruins porque um te abandonou é bobeira.

 

- Eu sempre treinei sozinho. - disse Mateus - Fiquei muito entusiasmado quando formei um grupo, pensei que teria companheiros para sempre! Mas faz uma semana hoje que eles simplesmente sumiram daqui...Já os procurei mas...

Nesse ponto, Mateus silenciou. Eu pude sentir o quanto ele estava magoado.

 

- Escuta, então você quer uma ajuda para acha-los, é isso?

 

- Sim.

 

- É justo. Então está ok, vamos procura-los. O segundo nível do Esgoto é grande, mas não é infinito. Você verificou o 3° andar?

 

- Não. Nunca fui lá.Sempre treinamos no segundo andar.

 

- Ok. Vamos.

-------------------

 

- Rachiele?

 

- Diga Mateus.

 

- Bem...vamos descer?

 

Olhei para a escada. O segundo nível do Esgoto de Prontera estava diante de mim.

 

- Sim vamos.

 

Passamos pelo corredor inicial do segundo andar. Estranhamente não estava tão cheio quanto costumava. Um mercante descansava na parte seca enquanto verificava o carrinho.

 

- Sire, onde estão todos?

 

- Foram em frente. Eram um bando, acho que um clã. Limparam essa sala e seguiram. Eu vi Ferreiros entre eles...

 

- Obrigada.

 

Caminhamos pelos cantos da via pluvial enquanto a água suja carregava diversos ovos de besouro-ladrão, alguns chocando no meio do caminho e aumentando o número de besouros pelo local.

 

- Rachiele...

 

- Diga Mateus... - por algum motivo saquei a maça.

 

- Desde quando os besouros tem cor verde...?

 

- Epa...

 

Em meio aos pequenos besouros recém-nascidos, aos besouros-fêmeas que botavam mais ovos e aos ratos, vi besouros parecidos com as fêmeas, grandes, com antenas levemente curvadas, mas lentos e de cor esverdeada pelo limo existente no local.

Eram besouros-ladrões machos.

 

- Mateus, corra! Esse besouros são agressivos!

 

- E você?

 

- Você é suporte, saí daqui, eu não tenho como te proteger de tantos!

 

- Não.

 

Mateus invocou uma graça divina e aumentou a velocidade minha e dele, nos pusemos a correr dos besouros quando avistamos o mercador andando calmamente na direção de que vinhamos.

 

- Mercador não vá para lá!- disse eu, parando. Os besouros estavam longe.

 

- E porque não? - indagou o mercante.

 

- Besouros verdes! - disse Mateus. - Vamos fugir!

 

- Besouros machos nesse andar...? Mas...

 

Nesse instante, o mercante olhou para trás e viu um aglomerado de besouros machos vindo lentamente na nossa direção.

 

- Mas que diabos?? Odin tenha piedade!

Embora meu dom de velocidade não fosse tão eficaz quanto o de Mateus, lançei a benção ao mercante e nos pusemos a correr até a passagem para o primeiro andar.

Estávamos no campo de Prontera comentando o ocorrido enquanto descansávamos.

Em pouco tempo formou-se uma roda em torno de nós.

Um cavaleiro se aproximou, desmontou de seu Peco-Peco e foi até nós.

 

- Me digam o que aconteceu.

 

- Besouros Machos! Os verdes! No segundo andar do Esgoto... - disse Mateus.

 

- Que eu saiba, eles ficam sempre no terceiro andar... - comentou o mercador, que lembro-me agora, chamava-se Salim.

 

- O que pode ter acontecido, sir? - perguntei eu.

 

- Aconteceu algo com o besouro dourado...Os besouros machos são agressivos, mas sempre delimitam seu território...e seguem o líder... - disse o cavaleiro.

 

- Líder? O besouro dourado não é só lenda? - perguntou Salim.

 

- Ele existe. - disse o Cavaleiro - Sempre que ele é vencido, os machos ficam perdidos até que outro apareça. Normalmente nesses casos, eles saem do terceiro andar e sobem, mas como são lentos, isso leva tempo.

 

- E o que podemos fazer quanto a isso? - perguntou Mateus.

 

- Eu vou até a Guilda dos Cavaleiros. Volto logo. E vocês, cuidado se forem descer. E o mesmo vale para todos que estão aqui! - disse o cavaleiro olhando todos que ali estavam descansando.

 

Todos ali olharam para o cavaleiro e concordaram com a cabeça, o cavaleiro então montou em seu Peco e foi em direção à Prontera.

 

- Aquele é Sir Ambrosius, o correto. - disse um Gatuno - Certa vez fui preso injustamente e ele ajudou a me soltar...-comentou.

O silêncio se fez presente no campo por alguns momentos, sendo cortado por um pedido vindo de um arqueiro que se aproximou de mim, Mateus e Salim.

- Me cura por favor?

 

Mateus curou o arqueiro. Para depois pedir minha ajuda com a fila que se formava diante dele.

Foi uma longa tarde. Salim sugeriu que cobrassemos, o que neguei veementemente e apoiada por Mateus.

Mesmo assim, o mercante não nos deixou.

Ele tinha planos...

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Malz o tempo sem comentar, tá bem difícil por aqui.

 

Satty é uma professora? o.O Não professora a classe, já que ainda não existe, mas mesmo assim é impressionante.

 

Rachiele segura de si e sem nada a temer? Aí sim, ein.

 

Se um clã foi atrás do GTB e quando o besourão é derrotado eles sobem de andar, por que eles desceram? Mil tretas...

 

Esse episódio foi muito maneiro pra mim, porque Salim é um amigo meu que jogava de mercador. xD

Bem-vindos ao tópico da semana e espero que estejam preparados para uma grande novidade.
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  • 3 weeks later...

 

[1]Malz o tempo sem comentar, tá bem difícil por aqui.

 

[2]Satty é uma professora? o.O Não professora a classe, já que ainda não existe, mas mesmo assim é impressionante.

 

[3]Rachiele segura de si e sem nada a temer? Aí sim, ein.

 

[4]Se um clã foi atrás do GTB e quando o besourão é derrotado eles sobem de andar, por que eles desceram? Mil tretas...

 

[5]Esse episódio foi muito maneiro pra mim, porque Salim é um amigo meu que jogava de mercador. xD

 

[1] De forma bem geral pelo que observei, todos andam ocupados. O Espelho tem postado a fic dele, mas tenho receio de por quanto tempo ele vai poder manter o ritmo.

 

[2] Satty é uma professora desnaturada! Ela sai quando dá na telha, some, as pessoas não sabem pra onde ela vai... isso vai ter consequências no futuro. x)

 

[3] Uhu!!!

 

[4] Erro meu, quem sobe no caso são os besouros machos. O besouro dourado meio que controla eles, sabe? Daí sem o dourado, os machos ficam perdidos.

 

[5] Salim é uma belo nome! x)

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  • 3 weeks later...
  • 4 weeks later...

Capítulo 32: O Mercador

 

 

Fomos a uma taverna, eu, Mateus e Salim. Enquanto tomávamos suco de maçã e laranjada, perguntei a Mateus sobre seus dons divinos que tinha desenvolvido no esgoto, Salim nos olhava enquanto bebericava uma cerveja.

 

- Ah, você viu...meu poder está plenamente desenvolvido...posso curar feridas e outros ferimentos graves com meu poder...

- Se vendesse curas, poderia ficar rico! - comentou Salim.

Olhei com reprovação para Salim; eu acreditava que o dom divino nos cedido não deveria ser cobrado. Mas pensei rapidamente naquilo que Mateus disse e comentei:

- Mateus, se o seu grupo sumiu, porque você não aproveita e viaja para Payon? Se o seu poder de curar estiver tão elevado quanto você diz, você não terá dificuldades em enfrentar os zumbis de lá...

- Ah...Payon... - disse Mateus desanimado - Mas fica tão longe...E eu não estou exatamente nadando em dinheiro. - comentou.

Salim pigarreou alto, chamando nossa atenção. O mercante sorriu e disse:

- Custeio a viagem de você e da sua amiga, noviço Mateus.

Olhei para Salim. Aquela demonstração de generosidade por algum motivo não me caia bem.

- Com uma condição! - ergueu o dedo o mercante.

- Qual condição? - perguntou Mateus.

- Eu devia imaginar... - comentei

- A condição é: como vocês devem saber, alguns zumbis carregam em seus corpos opalas. Caso achem alguma, elas devem ser remetidas a mim. Em troca, pago hospedagem e comida para vocês. Como a noviça aqui é uma lutadora e você é um noviço de suporte, me parece um bom negócio, não acham?

Concordei, mas apenas porque Payon seria um lugar melhor para Mateus treinar do que os Esgotos de Prontera.

Ficamos acertados que partiríamos no dia seguinte. Eu rumei para minha casa. Mateus e Salim foram para uma hospedaria.

- Correio Kafra. Carta para o senhor Norman.

- Ele não está agora.

- Tenho outras entregas para fazer. Assine aqui por favor.

- Ok.

 

Assinei aquilo que eles chamam de "recibo" e peguei a carta. Olhei-a: a mesma tinha vindo de Comodo.

Sabia disso porque o envelope veio com grande dado desenhado, símbolo do Cassino.

Era uma carta de mamãe.

E pelo menos por enquanto, mamãe não me interressava.

Foi um jantar solitário. Tive a impressão que o pão, que deveria ser fresco, estava amanhecido.

Olhei em volta, enquanto estava sentada à mesa, imaginando ter ouvido algo; virei-me para a janela fechada, mas nada vi.

Deveria estar ficando paranóica ou algo que o valha, mas senti uma solidão muito grande em mim.

E papai não foi dormir em casa naquela noite...

---------------------------

 

Me encontrei com Salim e Mateus às portas da Estalagem.

O dia estava encoberto naquela manhã. Soprava um vento tímido, porém frio.

- Vamos via teleporte...- disse Salim. - Espero que mantenham sua palavra... - olhou-nos desconfiando.

- Pode confiar em nós, senhor mercante! - disse Mateus, quase prontamente.

- E eu espero que possamos confiar em você também, Sr. Salim... - disse eu olhando-o da mesma forma.

Salim deu um risinho sem graça, e nos dirigimos até a Kafra.

Payon nos esperava.

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Capítulo 33: Opalas

 

 

Payon, assim como Prontera, era uma enorme cidade encrustada na floresta que se separava do deserto de Sograt.

Diziam que num outro tempo, a floresta se extendia até Comodo, mas algo aconteceu, e agora um deserto ficara no lugar.

Passamos pelo portão, grandes totens de madeira com feições ferozes observavam todos os visitantes.

Se contavam muitas coisas sobre Payon; desde o conhecido caso de dois amantes da época de uma grande guerra, até da lendária Flor do Luar, um demônio raposa que guardava os mortos de uma caverna amaldiçoada que seria nosso destino.

 

- Vamos nos hospedar aqui. - disse Salim, apontando para uma humilde pousada, num canto qualquer da Vila do Arqueiros.

- Ahh...Que bom! - comentou Mateus, com uma expressão nada animada. - Gosto de coisas simples... - disse, notadamente decepcionado.

- Espero que a comida não seja ruim... - disse eu.

Salim disse-nos que montaria sua loja perto da entrada da caverna. Caso fosse necessário, podíamos sair e procura-lo.

- Não se esqueçam: Se acharem alguma opala, guardem e levem para mim depois.

- Certo. - disse Mateus.

- Pode deixar. - concordei.

--------------------

 

Passaram-se os dias.

Eu não tinha interesse algum nas opalas, por mim que o mercador ficasse com elas.

Corria um ditado em Payon que colecionar as opalas que ficavam nas entranhas dos mortos irritava os deuses.

Mas os mercantes ignoravam essa superstição em sua busca do lucro absoluto.

Combinei com Mateus que o auxiliaria; enquanto ele enfrentava os mortos, eu o protegia de outros perigos.

Por outros perigos, entenda-se os esqueletos e os morcegos que infestavam o local.

Ocasionalmente um ou outro zumbi ameaçava Mateus, esgotado por lutar por tanto tempo e eu tinha que intervir.

Em outros casos, algum dos aventureiros que andavam pela caverna nos auxiliava.

Ao fim do dia, saíamos da caverna, feridos, cansados, mas recompensados.

Entregamos as opalas para Salim, que ficava muito satisfeito e rumamos para a hospedaria.

Nos dias em que a caverna estava muito cheia, passeamos por Payon, apreciando as cerejeiras, a arquitetura e o povo.

Por alguns instantes, pensei que Mateus seria meu namorado.

Tentei numa certa ocasião, segurar sua mão, mas sem sucesso. Mateus era um noviço arcaico, que seguia os preceitos da Igreja de Prontera.

Ter um caso com uma muher era errado.

Ter um caso com um homem, impensado.

Ter um caso com uma mulher de dentro da Igreja, um ato ainda mais maligno. Culminado com execução sumária por algum assassino.

Claro que nem sempre as punições aos dogmas eram seguidas à risca.

Comentava-se à boca pequena que um noviço que teve um caso com uma sacerdotisa e ela acabou gerando um filho, só fugiu da morte por ter se tornado um monge num mosteiro afastado e tendo levado seu filho consigo.

Mas eram apenas boatos. Ou pelo menos assim se pensava.

Um dia, fitei Mateus e tentei algo diferente.

 

- Vamos entrar de novo? - perguntei.

- Para quê? - indagou Mateus - Já pagamos o Salim. Vamos descansar.

- Mateus, todo santo dia é a mesma coisa. Entrar na caverna, matar zumbi, espantar morcego, chutar cogumelos andantes, recolher opalas e voltar. Assim não dá.

- Certo. - disse ele reticente - E o que você sugere que façamos?

- Vamos dar uma olhada no primeiro subsolo da caverna...Vai que a gente consegue ver a Munak ou o Bongun...

- Não sei...Você se lembra do que a avó da Munak disse naquele dia quando visitamos a cidade?

- Err...o que era mesmo? - sorri sem jeito.

- "Eu me lembro de minha neta. Ela era feliz. Mas desde que aquele soldado foi para o campo de batalha, ela nunca mais sorriu. Pobrezinha, deve estar sofrendo na caverna maldita..."

- Ué, e daí que ela deve estar sofrendo?

- Você não entendeu. Pelo que a avó de Munak disse, e pelo que ouvimos dos outros, isso significa que ela se tornou um fantasma. E esses mortos-vivos são poderosos demais para nós; pelo menos por enquanto.

- Tá com medo?

- Isso se chama prudência! Vamos agradecer pelo bom dia de treinamento e rezar agora! Depois vamos para a pousada descansar. E tire essas idéias da cabeça!

 

Apesar de ser um noviço, senti a dureza de um sacerdote nas afirmações de Mateus.

Tudo bem, ter como parceiro um amigo de sacerdócio tinha dessas coisas.

Comecei a sentir falta de quando andava sozinha e fazia o que eu bem entendesse.

O "grupo" não iria durar pelo visto...

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Ah, quanto tempo que não sai um capítulo dessa fic. =D

 

Nossa, deve fazer muito tempo mesmo, porque me esqueci de quem é o Mateus.

 

Acho que o Salim já vai obter lucro no primeiro drop de Opala. Só acho.

 

Que mania de não ler cartas, ein! --'

 

Wait, como assim o Mateus namorado dela, ela não era... Ah. Parece que foi uma breve confusão. Ou não?

 

Sabia que ela já ia se cansar do grupo. Repetitivo demais.

 

Bom, pelo menos agora boatos sobre os monges já surgem aos poucos...

 

Quando é o próximo?

Bem-vindos ao tópico da semana e espero que estejam preparados para uma grande novidade.
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  • 2 weeks later...
Ah, quanto tempo que não sai um capítulo dessa fic. =D

 

[1] Nossa, deve fazer muito tempo mesmo, porque me esqueci de quem é o Mateus.

 

[2] Acho que o Salim já vai obter lucro no primeiro drop de Opala. Só acho.

 

[3] Que mania de não ler cartas, ein! --'

 

[4] Wait, como assim o Mateus namorado dela, ela não era... Ah. Parece que foi uma breve confusão. Ou não?

 

[5] Sabia que ela já ia se cansar do grupo. Repetitivo demais.

 

[6] Bom, pelo menos agora boatos sobre os monges já surgem aos poucos...

 

[7] Quando é o próximo?

 

[1] Futuramente vou colocar um bagulho pra ajudar a lembrar das coisas... >_

 

[2] Hahaha, não.

 

[3] Lalalala~

 

[4] Mil tretas mano! :rolleyes:

 

[5] Rachiele é loba solitária. Mas lol, não posso deixar ela sozinha né?

 

[6] SIM!

 

[7] HOJE, AGORA! :D

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Capítulo 34: Luz do luar

 

Era noite.

Mateus fizera suas preces e dormiu na parte de cima do beliche naquele dia.

Eu fui dormir direto, estava cansada.

"Tudo bem, rezarei por você, irmã." Comentou Mateus ao desistir de me chamar.

Acho que se passou um bom tempo, pois quando abri os olhos novamente, Mateus respirava profundamente, imerso em um sono que eu classificaria como "dos justos".

Levantei-me, vesti meu uniforme e peguei minha arma, saindo do quarto.

Desci o lance de escadas, que estalavam levemente aos meus passos, atraindo a atenção do dono da estalagem, que cochilava no balcão com a porta de entrada entreaberta.

 

- Hein? Aonde a senhorita vai? - indagou o estalajadeiro.

- Vou dar uma volta pela vila dos arqueiros. - respondi.

- Cuidado...De noite os guardas se recolhem. Bandidos costumam vagar por aí.

- Tudo bem. - respondi - Estou levando minha arma. - sorri displicente.

O estalajadeiro meneou a cabeça.

--------------

 

A vila dos arqueiros de Payon não possuia tantas casas e menos ainda casas grandes; as maiores casas eram da Guilda dos Arqueiros e da Guilda Ícaro, cujo líder, senhor Kavanuch, estava sempre disposto a recrutar novos arqueiros, fossem como bardos ou como eficazes caçadores.

 

Payon tinha importância na estratégia militar de defesa da cidade; por ficar num ponto elevado, os arqueiros poderiam vislumbrar de longe possíveis adversários e fulmina-los com suas flechas, enquanto as tropas de Payon se movimentavam.

Ali perto, um posto avançado bem dentro da Guilda dos Caçadores, dava suporte extra à proteção caso os arqueiros necessitassem. Os caçadores eram temidos por terem melhorado sua perícia com arco e flecha e por contarem com falcões e lobos domesticados, mas igualmente perigosos num combate.

Parei próxima de um cercado e sentei-me. Ouvi sons de grilos e de vez em quando o pio de corujas; olhei para baixo e vi vastas florestas e bambuzais não tão longe. Não ventava. A noite estava agradável e a lua cheia brilhava no céu.

 

"Fico pensando comigo se fiz bem de acompanhar Mateus...Estamos sendo enganados por aquele mercador...Ele nem dorme no mesmo hotel que a gente...Deve estar em algum bom hotel em Payon a essa hora..."

 

Suspirei lamentando que exisitissem pessoas assim pelo mundo, tão mesquinhas.

- Oi, como é seu nome?

Saí do meu devaneio. Quem estava ali?

- Oi noviça!

Parei de olhar o longe e vi diante de mim uma aprendiz. Tinha cabelos dourados como o sol, mas muito bagunçados. Contudo, o que uma aprendiz fazia por ali aquela hora?

- Aprendiz...o que faz por aqui? Está tarde, vá descansar em algum lugar...

- Não tô cansada. - respondeu ela.

 

Pensei comigo mesma que ela deveria ter vindo via teleporte de algum local, talvez de Prontera. Ou talvez fosse uma aprendiz de Payon mesmo. Se bem que a aparência fisica era de alguém de Prontera.

- Está sozinha?

- Tô sim. Mas eu nem ligo! - sorriu.

- Já veio aqui antes?

- Eu moro aqui! - exclamou, com certo orgulho.

Tinha alguma coisa errada com aquela aprendiz. Olhei-a novamente, mas não notei nada de anormal . Talvez eu estivesse imaginando algo que não existisse. Decidi partir para uma conversa mais formal.

- Me chamo Rachiele, como é seu nome aprendiz?

- Luz do Luar!

- Nome bonito. E sua família?

- Moram lá dentro. - e apontou para a entrada da caverna onde dois guardas cochilavam. - Eu moro junto!

Silenciei. Recuei e peguei a maça, provavelmente aquela menina era um morto-vivo ou criatura semelhante.

- ? Que foi noviça? - perguntou a aprendiz, me olhando com estranheza. - Vamos conversar! - disse-me.

Eu não podia confiar. De certo era uma criatura das trevas que escapuliu da caverna e estava disfarçada. Onde já se viu uma aprendiz, uma simples aprendiz, dizer que mora na caverna amaldiçoada de Payon?

- Pra trás! - eu disse. - Quem é você?

Não respondeu. Ficou apenas me olhando. Seu sorriso sumiu. Esperei por um ataque.

- Fala! Você é um demônio da caverna, não é? Não vou deixar ficar por aí, atacando os outros! Vamos seu monstro!

- Eu...eu...EU NÃO SOU MONSTRO! - disse a aprendiz, que desandou a chorar.

 

Aquilo me desarmou. Baixei a arma e as palavras para as preces se apagaram da minha mente. Olhei Luz do Luar de cabeça baixa, não a encarava. De certo se eu investisse, ela não resistiria; e muito provavelmente ela era mais poderosa que eu.

- O que foi? - eu disse, me aproximando e com a arma guardada - O que aconteceu, me diga... – segurei as mãos dela.

E entre soluços e lágrimas me contou o que acontecia.

 

Sua mãe era a Flor do Luar, que habita o nível mais baixo da caverna de Payon, cercada de ferozes raposas de nove caudas e esqueletos de antigos guerreiros mortos. De tempos em tempos, a Flor do Luar ganha a capacidade de gerar outra igual a si. Segundo Luz do luar me disse, isso acontece em noites de lua cheia, como aquela.

Ela tinha nascido há pouco tempo e vagou pela caverna até achar a saída. Não tinha consciência de como tinha adquirido aquela aparência, mas suspeito que devia ser algum poder latente e ainda não dominado por completo.

 

( Se bem que se isso for realmente verdade, então devo acreditar que outras Flores do Luar podem estar caminhando por aí, disfarçadas como humanas...)

 

Nos sentamos, tentei ser agradável para a aprendiz.

- Todo mundo sempre chama a gente de monstro... - ela disse - Não sei...essa lembrança não é minha...mas eu sei que chamam...

- Chamam mesmo... - comentei - Eu mesma te chamei...

- Mas você não atacou... - ela disse. - Você é...diferente...

- Tolice. - fiquei do lado a aprendiz, tirei um pequeno pente do meu bolso e coloquei-me a pentea-la.

- Er...O que vc tá fazendo???

- Te penteando. - respondi.

- Porque??

- Você vai voltar para sua mãe. Fica feio ficar com o cabelo bagunçado.

Luz do luar sorriu, parecia-me meio tímida.

- Me parece... - falei enquanto fazia uma trança - Que vocês compartilham lembranças, não é?

- Acho que sim... - disse ela, concordando com a cabeça.

- Tente falar com sua mãe...Fala com ela que você está aqui. Acho que ela pode ficar preocupada se ver que você não está na caverna.

- É mesmo... - ela pensou.

- Acha que consegue? - perguntei, terminando a trança.

- Eu vou tentar.

Fique diante dela segurando as pequenas mãos. Senti que ela estava com medo. E com razão.

- Se concentre. Você não é humana, tem poderes diferentes da gente...Devem estar dentro de você...Tente acha-los.

Luz do luar franzia a testa tentando usar um poder. Indaguei-me se estaríamos agindo corretamente.

Mas era preciso tentar.Eu não poderia deixa-la sozinha agora, mas leva-la até o último subsolo da caverna de Payon estava fora de cogitação para mim.

Pensei ter escutado o som de um grilo um pouco mais próximo de mim; ao entortar a cabeça para trás vejo dois ladões saindo das sombras; junto deles um Rocker, um gafanhoto do tamanho de um humano, que assobiava despreocupado enquanto tocava um violino.

- Opa, opa, quietinha aí moça...

- Isso é um assalto!

 

Eles empunhavam punhais e tinham pequenos escudos retangulares próximos. Defesa barata, mas eficiente caso o atacante não fosse tão forte.

Ambos usavam máscaras, um deles usava um chapéu de palha chinês, chamado Sakkat, e o outro uma simples bandana.

- Passa a grana noviça, senão você e a aprendiz vão ver o que é bom! - ameaçou aquele com o Sakkat.

- Olha, eu conheço ele... - falou o outro, sendo menos bem menos ameaçador - Por favor, obedeça.

- Chega de conversa mole! - disse o outro, visivelmente irritado - Passa o dinheiro, putinh@ do Necrus , senão vou tingir tua roupa de vermelho!

 

Senti meu sangue ferver, mas...E a aprendiz? Olhei para trás e ela ainda estava parada,sentada no chão com os olhos fechados. Provavelmente ainda tentando usar algum poder.

Era melhor assim.

- Em primeiro lugar, eu nunca dei pra ele e nunca daria, pois pra informação de vocês, eu tenho algo chamado "bom gosto", sabiam? Agora, se vocês, covardes que se escondem na sombra querem vir pra cima de mim e da aprendiz podem vir! Eu me garanto e a ela! E vocês garantem quem?

Os dois gatunos desandaram a rir. Franzi a testa, afinal de contas, não me levaram a sério.

- Tá louca! HAHAHAHAHAHAHA! Perdeu o juízo! - disse um deles, tirando a bandana e limpando o rosto.

- Ui, eu "não dou para qualquer um!" HAHAHAHAHAHA! - falou o outro, meneando a cabeça em minha direção, mas ainda em posição de ataque. - Certo noviça, eu te entendo, então pode deixar que eu dou um trato em você depois que eu botar você no chão! - e avançou contra mim.

Saquei a maça e rezei rapidamente um oração visando elevar minha defesa; eu não sabia o quão forte os dois ladrões eram, mas de certo não deveria subestima-los.

Estranhamente, Luz do luar sequer tinha se movido com toda agitação bem perto dela, temi que o outro bandido a usasse como refém.

Até que algo deteve o bandido.

- Pelas barbas de Odin! - ele ergueu levemente o Sakkat para ver algo que estava atrás de mim - Nove Caudas!!!

O ladino fugiu em disparada me deixando atônita, e foi acompanhado pelo seu companheiro de bandana e pelo Rocker, que saltava e assobiava como se nada demais estivesse acontecendo.

Olhei para trás.

Duas enormes raposas de cor dourada e caudas entrecortadas como um leque rosnavam para mim. Aparentemente, me atacariam.

 

- Ela não. - disse Luz do luar - Ela não é inimiga.

As raposas olharam para a aprendiz e sentaram-se ao lado dela.

- Luz do luar...você chamou elas...? - indaguei, guardando a maça.

Ela sorriu. Mostrou-me o pulso esquerdo. Ele vertia sangue.

- Aprendiz! - assustei-me e lancei uma cura mágica nela, mas o pulso não fechou - Depressa! Temos que cuidar disso antes que você fique fraca demais e...

- Não precisa. - disse ela, tranquila - É só elas voltarem. - e olhou para as raposas.

- Como assim?

Luz do luar olhou para as duas raposas, e assentiu com a cabeça para as duas, que concordaram, como se conversassem silenciosamente diante de mim. As raposas se curvaram diante dela e então se converteram em fachos de luz, que entraram no pulso aberto da menina, fechando-o naturalmente.

- Mas...Mas... - indaguei - Como você sabia que podia fazer isso?

- Não sei. - ela respondeu, olhando para o pulso, agora fechado - Apenas senti que devia fazer isso.

Tranquilizei-me. Comentei com ela que não teria como levá-la de volta para a mãe dela.

- Tá tudo bem. - ela disse - Mamãe tá dormindo. Enquanto ela dormir eu posso ficar aqui fora..

- E quando sua mãe vai acordar, Luz da lua?

Ela sorriu ao ouvir o nome modificado; me pareceu pensativa. Olhou para a lua cheia e depois me disse:

- Ela dormiu ontem. Ela só vai acordar quando a lua estiver assim de novo.

Um mês. Por um mês Luz da lua poderia vagar por onde desejasse até que a Flor do Luar acordasse. Eu não pensava em ficar por muito mais tempo em Payon, mas agora eu não podia deixar aquela aprendiz. Poderia ser não perigoso para ela, mas sim para quem estava próximo.

- Posso ficar com você até mamãe acordar?

- Pode sim.

- Eu gosto de você Rachi! Você vai ser minha mestra!

- Ahh...Legal...

Por Odin...O que eu vou falar para o Mateus...?

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Capítulo 35: Escavadores de Corpos

 

 

Levei Luz da lua para a estalagem. Por sorte, o estalajadeiro tinha dormido e nem sequer notou quando chegamos. Andamos a passos leves, lentos; disse a ela que não fizesse barulho, poderíamos acordar outros hóspedes e atrair atenções indesejadas.

- Tudo bem. - disse-me Luz da lua.

Andamos pelo corredor um pouco mais tranquilas; parei na frente da porta do quarto onde eu e Mateus dormíamos. Abri a porta com cuidado. Ela rangeu.

- Silêncio, Luz da lua! - disse eu, aos sussurros - Mateus, meu amigo está dormindo...

Ela assentiu com a cabeça e entramos no quarto. Tirei minha maça e meu solidéu e coloquei-os do lado da minha mochila. Mateus dormia profundamente no alto do beliche.

- Tipo assim... - Luz da lua me parecia sem jeito. - Onde eu durmo...?

 

Parei. Eu não tinha pensado nisso. O quarto era pequeno e tinha só uma cama, por sinal, um beliche. Com duas pessoas, o espaço tornara-se escasso. Com três...

 

- Eu durmo no chão. - respondi de imediato - Já estou acostumada com isso e você pode ficar na cama. Só peço que você não faça nada que possa acordar o Mateus, tá bem?

- Sim mestra! - ela sorriu.

 

-----------------------

 

Escutei um galo cantando e senti a luz do sol que brilhava.

Era hora de levantar.

Embora minha cabeça ainda estivesse "voltando" do mundo dos sonhos, pude sentir um certo volume em minha barriga.

Não acreditava que eu tivesse engordado, então abri os olhos.

Luz da lua dormia com a cabeça em minha barriga. A cama tinha sido arrumada.

Suspeito que ela deve ter saído da cama tão logo eu adormeci.

Talvez influenciada pelo momento, acarinhei amorosamente a cabeça de Luz da lua, que dormia como se eu fosse o mais macio travesseiro.

Foi um erro não ter olhado ao redor antes de fazer isso.

 

- Irmã, o que significa isso??

Era Mateus. Pousei a mão sobre a cabeça de Luz da lua e o vi na porta. De certo esperou para que eu acordasse para me indagar sobre a menina.

- O que faz com essa menina deitada no mesmo leito que você? - perguntou Mateus, com um olhar de desaprovação.

- Ela é uma aprendiz...A salvei ontem de noite de alguns bandidos...Trouxe ela para cá porque está sozinha.

Ele se aproximou. Olhava para a aprendiz. Tornou a falar.

- ...Se deitou com ela...?

- Não! Claro que não! - exclamei. - Disse a ela que dormisse no meu lugar no beliche mas ela não quis. Eu estava com sono e fui dormir. Não tinha como impedi-la!

- Eu acho que a irmã está caindo no caminho do pecado e deve se redimir antes que...

- Minuto! - o interrompi - Será que posso trocar de roupa antes? Ou será que o grande sacerdote Mateus vai continuar me dando sermão comigo usando pijama??

- Err...Eu espero você na entrada da caverna...Salim já está lá, não demore... - disse, saindo do quarto visivelmente constrangido.

Voltei-me para Luz da lua tão logo Mateus fechou a porta.

Não sei se deveria contar a ele quem era a aprendiz realmente...

 

---------------------

 

- Onde está a noviça, Mateus? - indagou o mercante ao noviço, que acabara de chegar à entrada da caverna maldita.

- Ficou lá... - respondeu Mateus - Ela está se aprontando...

- Se aprontando? - irritou-se Salim - Que diabos ela ficou fazendo à noite? Saiu com alguém a "pura" noviça? Se aprontar você diz, mas se aprontar no quê? Ela foi por acaso passar de novo o traje dela?

- Acho que o senhor está exagerando... - disse Mateus, contido.

- Exagerando? Exagerando? Ah! Claro que estou! Escute aqui você, Mateus, já que aquela imbecil não está: Na ultima semana vocês não acharam mais nenhuma opala e caso não saiba a hospedagem de vocês não me saí de graça! Então, se quiserem continuar com nosso acordo de cavalheiros de pé, recomendo que me tragam pelo menos 10 opalas hoje! Senão podem ir queimar seu dinheiro aqui em Payon...Aqui as coisas são baratas mesmo... - falou irônico.

 

Mateus silenciou. A fúria daquele senhor em busca de lucros maiores o assombrara. Pensou em quebrar o acordo ali mesmo, mas lembrou-se que Rachiele e ele ainda precisavam de algum treino. Se rompesse tudo ali, naquele momento, perderia mais do que ganharia.

- Tudo bem senhor Salim, eu compreendo. Posso ir? - perguntou, fazendo uma mesura.

- Desça...eu aviso a noviça quando ela chegar...Fique pelo primeiro andar, certo?

- Sim,sim.

 

Mateus entrou na caverna com um grupo de aventureiros. Outros invadiam a caverna na busca da lendária Flor do Luar e dos fantasmas de Munak e Bongun.

Assim que virou por um túnel a esquerda, uma zumbi se erguia do chão, indo em direção de Mateus. Seus grunhidos anunciavam mais um dia de longo e penoso trabalho.

 

- Irmã Rachiele, não demore... - murmurou para si mesmo.

 

--------------------

 

- Luz da lua você entendeu tudo que eu disse? - perguntou Rachiele fechando a abotoadura frontal de sua roupa.

- Entendi.- respondeu Luz da Lua, colocando botas nos pés.

- Pode ser perigoso que saibam quem é você realmente. Muitos entram na caverna atrás da sua mãe, então se souberem que ela tem uma filha podem querer te capturar para força-la a se render. Você se disfarçou não sei porque como uma aprendiz, então se comporte como tal. E aprendizes não costumam entrar na caverna, pois sabem que ela é perigosa...

- Sim. Eu sou Luz da lua, a aprendiz! Nasci em Payon. - falou, de forma ensaiada.

- Isso...Olha, acho que você não vai ter muitos problemas...Pouca gente fala com aprendizes...Caso te pergutem sobre sua mãe, o que você vai dizer?

- Direi "Minha mãe faz serviços para a nobreza."

- Bom. E se perguntarem do seu pai?

- Direi: " Papai fica junto da mamãe. Ele é um forte guerreiro e a protege."

- Bom. E se perguntarem os nomes deles?

- Direi: "Minha mãe se chama Tsuki e meu pai Fox!"

- Excelente! - Rachiele aplaudiu Luz da lua. - Nós voltaremos a nos ver no fim do dia. Não vá muito longe de Payon, tá? Se quiser, procure o mercador Salim. Ele fica perto da entrada da caverna e nos espere. Se lembre de guardar segredo, hein? É pra proteger sua mãe...

- Tá bom. Pode deixar comigo, Rachi!

-Vamos indo. Mateus vai me matar. Coitado...deve ter descido sozinho na caverna...

 

--------------------

 

A situação era crítica.

Pensei comigo mesmo de usar uma asa de borboleta que Salim me dera, mas vacilei.

E isso por pouco não foi minha desgraça.

- Tudo bem aí, noviço? - indagou-me um espadachim.

- Sim...Esses zumbis...vieram todos ao mesmo tempo...temi por minha vida...

- Você é louco de encarar tantos bichos ao mesmo tempo...- respondeu-me enquanto ajeitava o elmo e investia contra os mortos.

Sentei-me e procurei descansar. Por sorte aquela parte da caverna estava quase sempre cheia de aventureiros, que por vezes se auxiliavam mutuamente no combate as hordas de mortos que se levantavam para a luta.

Lancei mão de uma prece visando curar minhas feridas...Rachiele estava atrasada. Eu iria ter muito o que lhe dizer quando chegasse...

 

------------------------------

 

- Seu amigo já desceu noviça! Vai lá! - disse Salim, com um soslaio da cabeça, indicando que eu entrasse na caverna.

- E eu não sei disso? - respondi.

- Devia saber. - disse ele - Quem é a fedelha?

- Uma aprendiz...Estou treinando ela...

- Vai treinar ela na caverna? Só se estiver treinando ela para ser morta-viva! HAHAHAHA!

Vi Luz da lua cerrando os punhos, mas a detive com um censura. Decerto Salim não era a melhor companhia para o momento, mas se eu estivesse certa, logo ele não iria mais necessitar de mim e Mateus.

- Fique aqui do lado de fora até que eu volte. Se quiser, vá dar umas voltas, mas venha antes do sol se pôr, entendeu? - perguntei a Luz da lua, e a mesma consentiu com um aceno de cabeça, olhando com raiva para Salim.

- Aliás! - disse ele - Agora vocês estão trabalhando por cotas.

- Como é?

- Cotas. Por dia quero 10 opalas. Quando juntarem 10 podem ir descansar. Senão, vão dormir no pior quarto da estalagem! Entendido?

Concordei com a cabeça, mas pensei comiga mesma que Salim estava indo longe demais.

Entrei na caverna, deixando Luz da lua lá fora.

Por sorte, Mateus esperava perto da entrada da caverna.

- Achei que não viria mais... - disse ele, sentado, olhando para mim.

- Atrasei...desculpe...

- E a aprendiz?

- Disse a ela que não entrasse...Aqui é perigoso para ela...

- Ahh...bem, vamos?

- Salim me falou das cotas...Conseguiu alguma opala?

- Só uma...mas dá tempo...Vamos lá.

- Sim, vamos.

 

-------------------

 

Uma placa dizia: "Lojinha do Salim - Sobreviva na caverna comprando aqui!"

Salim colocou a placa na frente do seu carrinho de mão e foi mexer em seu vasto saco de bugigangas que sempre carregava, visando sempre vender algo, onde quer que estivesse.

Abriu um saco menor que estava dentro de outro saco; olhou em volta, não viu ninguem olhando diretamente para ele. Contou com os olhos quantas opalas tinha guardado.

"35...36...38...40...Droga, mal chegam a 50...Vou ter que apertar mais aqueles dois noviços idiotas se eu quiser que eles tragam mais opalas..." pensou consigo mesmo enquanto fechava o saco menor e o colocava dentro do maior de novo.

Voltou para a frente do carrinho. Mas nenhum cliente em potencial tinha parado.

"Essa não...negócios fracos de manhã não costumam melhorar de tarde..." pensou Salim, enquanto coçava sua barba. Sua experiência naquele ponto em Payon lhe dizia que deveria sair dali e ir para o centro da cidade, mas não podia, por causa dos noviços na caverna.

"Ah, desgraçados...Devia deixar vocês aí...Vamos lá, 10 opalas, 10 opalas..."

 

--------------------------

 

- Diabos Mateus! Me cura aí! - exclamei para o noviço que me acompanhava.

- Não dá! - disse ele, acuado num canto. - Preciso descansar!

- Então luta, caramba! - disse enquanto golpeava a cabeça de um zumbi. - Estamos sozinhos agora! Não tem ninguem pra ajudar!

- Eu vendi minha arma. - ele disse - Não posso ir em cima deles com as mãos nuas! Aguente aí! Eu vou meditar um pouco e...

- Vai nada!

Joguei minha maça para Mateus, que a segurou por pouco, cerrei os punhos e rezei para que a proteção divina de Odin me protegesse dos zumbis.

- Me ajuda aí! Depois você descansa, senão a gente já era!

Empurrei um zumbi contra outros dois, que foram ao chão, mas um que veio do meu flanco me golpeou com suas garras; me contive e segurei-o pelo antebraço: senti os vermes que caminham pelo corpo podre avançando em meus dedos e com um pouco de força, arranquei o braço do zumbi e o fiz de maça improvisada.

Mateus mantinha os zumbis que o atacavam a distância, por duas vezes usara a maça para bloquear as garras e o vômito ácido que os zumbis arremessavam de tempos em tempos.

- Mateus! Vamos fugir! Fique atrás de mim! - gritei.

Ele assentiu com a cabeça e me passou a maça; joguei o braço do zumbi no chão.

Felizmente a sorte estava do nosso lado.

- Impacto de Tyr!

Um cavaleiro concentrou energia em sua lança, que brilhou numa cor esverdeada e fulminou a turba de zumbis que estava próxima.

- Vocês estão bem? - ele se aproximou, montado em seu Peco e eu pude ver seus olhos azuis por dentro do elmo fechado.

- Estamos bem...Pode nos levar para até a entrada da caverna? Nós nos afastamos demais caçando zumbis, e eles nos cercaram... - eu disse, amparando Mateus, que tremia. Ele temia morrer ali pelo visto.

- Venham comigo, eu os levo de volta. - disse o cavaleiro.

E nós o seguimos para fora da caverna. Cansados, feridos e sem nenhuma opala.

Eu já podia até ouvir a voz de Salim...

 

------

 

- ESTÚPIDOS! INCOMPETENTES! É PARA ISSO QUE PAGO VOCÊS? É PARA ISSO QUE BANCO SUAS CURAS, SUA HOSPEDAGEM, TUDO? EU DISSE 10! NEM UMA, NEM DUAS, NEM CINCO! DEZ! EU DISSE DEZ! DEZ OPALAS! E VOCÊS PERDERAM TODAS QUE TINHAM COLETADO!

Era noite e Salim estava claramente alterado. Foi como se tivessemos lhe tirado aquilo que lhe era mais precioso, algo como sua família, um amor de longa data ou algo parecido.

Mateus estava deitado no leito mais baixo do beliche. Ele dormia tranquilo um sono profundo, que não foi perturbado pelos gritos de Salim. Eu o invejei.

- Senhor Salim, não podíamos ficar lá e morrer! Pelo menos estamos bem, e poderemos voltar à caverna amanhã. - disse ao mercante.

Nova onda de protestos, gritos e mandos por parte de Salim. Se eu estivesse sozinha o golpearia no rosto para que se calasse em sua sanha, mas pensei em Mateus e calei-me.

- Com licença... - alguém abriu a porta do quarto e olhou para dentro - A noviça Rachiele está? - perguntou, olhando para mim, perguntando o óbvio.

- Quem é você, aprendiz? - indagou Salim, olhando-a contrariado por ser interrompido.

- Luz da lua! - disse - Estamos conversando...venha depois, sim?

- Eu queria saber se posso dormir aqui hoje... - pergunto a aprendiz, humilde.

Salim olhou para mim e li em seus olhos que ele dizia: "Resolva isso. Depois falamos." Concordei com a cabeça e Salim se retirou do recinto, olhando atravessado para a aprendiz.

- Até amanhã noviça. - disse Salim, fechando a porta e deixando eu com Luz da lua.

- Até amanhã senhor Salim. - respondi.

Olhei Luz da lua. Ela olhou para Mateus que dormia e viu seus ferimentos, ainda não fechados, no rosto.

- Porque vocês foram para a caverna? - indagou, acariciando o rosto de Mateus.

- Faz parte do trato. - disse eu, desapertando minhas roupas. - Entramos na caverna, damos opalas para ele e ele paga nossos quartos e comida.

- Nesse quarto ruim?

- É. - respondi, meio chateada por ouvir de uma aprendiz a verdade.

- Quantas opalas ele precisa?

- Dez por dia. Respondi automaticamente. - Hoje só recolhemos quatro. E ainda assim foi muito. Estávamos perto de morrer por causa dos zumbis, se não fosse por um cavaleiro que nos salvou...

- O que ele vai fazer com todas essas opalas? - perguntou ela.

- Ele é um mercador. Ele pode vende-las e obter dinheiro. Opalas valem muito dinheiro.

- Ahh...Quer dizer que se vocês derem opalas para ele, ele paga as coisas para vocês?

- Exatamente Luz da lua.

- Tá. - ela sorriu para mim de forma pueril e foi em direção a porta - Vocês estão cansados hoje...Eu vou dormir lá fora com as raposas, elas me protegem.

Concordei com a cabeça e Luz da lua saiu.

Dormi. E pensei em Satty naquela noite.

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Só pra tirar uma dúvida, a Luz da Lua é como se fosse essa daqui...

 

gato-de-nove-caudas.gif

Só que disfarçada de aprendiz?

 

Wow, a mina tem até invocação, bagui é loko mermo.

 

Argh, Mateus é chato, Salim é um explorador, melhor ela desfazer esse grupo logo e partir numa jornada com a Luz.

 

Do grupo todo, Rachi é a mais macho. HUE

 

Acho que a Luz da lua volta com umas mil opalas. xD

 

E parece que a Satty ainda tá na mente da Rachi...

Bem-vindos ao tópico da semana e espero que estejam preparados para uma grande novidade.
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@ Razac: Cara, estou tentando te responder com quote faz mais de duas horas, o fórum só buga pra mim! @_@

Então, vou responder sem quote mesmo.

==========================

 

[1] ó pra tirar uma dúvida, a Luz da Lua é como se fosse essa daqui...

 

[ insira aqui um gif ]

Só que disfarçada de aprendiz?

 

Wow, a mina tem até invocação, bagui é loko mermo.

 

R: Eu me baseei em algumas coisas das Kitsunes japonesas. Tinha um artigo muito bom na Wikipédia sobre isso, tirei algumas coisas lá.

Eu imagino que deveria ter uma hierarquia entre elas, sendo mais ou menos assim:

 

1. Flor do Luar

2. Gato de Nove Caudas

3. Raposa de Nove Caudas

 

Tem aquela paradinha que vem da mitologia japa onde as kitsunes podem se disfarçar livremente, mas sempre fica a cauda a mostra, eu meio que adaptei isso.

Da mesma maneira, eu pensei que a Luz estivesse no meio-termo disso.

Então, sim, sua correlação é correta.

 

[2] Argh, Mateus é chato, Salim é um explorador, melhor ela desfazer esse grupo logo e partir numa jornada com a Luz.

 

R: Eu tinha pensado algo assim, que o Matheus é um chato de galocha, mas idealizei, sem escrever, que ele muda lá pra frente depois que acontecem uns rolos com ele. Salim tem razão de ser, acredite! xD Daqui a uns capítulos vai ter uns interlúdios onde vou falar deles.

 

[3] Do grupo todo, Rachi é a mais macho. HUE

 

R: Alguém tem que ser! xD

 

[4] Acho que a Luz da lua volta com umas mil opalas. xD

 

R: Você verá!

 

[5]E parece que a Satty ainda tá na mente da Rachi...

 

R:

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Capítulo 36: Ana Escarlate

 

 

"Diz-me com quem andas e te direi se vou contigo."

 

Eu sabia de antemão que Mateus era mais um acólito como tantos outros que obedeciam as ordens de Necrus e do bispo de Prontera sem pestanejar. Aceitavam os dogmas, imposições, regras e ai daqueles que os quebrassem.

 

Não entendia como eu estava do lado de alguém que eu deveria, no mínimo, desprezar.

 

Naquela manhã acordei antes de Mateus. Ele ainda dormia quando saltei do beliche e caí de pé no chão de madeira do quarto. Peguei meu rosário, orei e me troquei.

 

----------------------------

 

Luz da lua tinha dormiu, ou pelo menos tentou, num campo próximo de Payon. Ficou pensando a boa parte da noite em como ajudar sua "mestra" e "aquele noviço de olhar rígido".

 

Caminhou despreocupadamente pelo terreno acidentado enquanto olhava as árvores e os pés de bambu. Viu então um guaxinim que saía de sua toca para aproveitar os raios de sol.

 

Foi até ele e disse:

 

- Fumacento, você pode me ajudar?

 

O guaxinin a olhou, a mediu por cima dos olhos, achou estranho uma humana falando seu idioma. Compreendeu depressa que não era uma humana.

 

- Quem é você e de onde vem, menina? - perguntou o animal.

 

- Sou Luz do luar, filha da Flor do luar. Venho da caverna.

 

- E porque pede minha ajuda?

 

- Porque quero ajudar dois amigos humanos.

 

- Dois humanos...? - Fumacento arqueou uma sobrancelha. - Explique melhor.

 

--------------------------

 

- Rachiele, você está pronta? - perguntou Mateus terminando de abotoar seu escapulário.

 

- Não! Ainda falta cortar minhas unhas! E o meu batom acabou! Hehehehe... - escarneceu Rachiele, já pronta.

 

Mateus suspirou. Ia colocando seu solidéu, mas desistiu, o deixando em cima do beliche.

 

- Vamos seu acólito meia-boca! Vamos lá caçar opalas para o mercador perverso! - Rachiele sorriu, a despeito do que Mateu sentia. E a bem da verdade, a mesma rotina se repetia a dias a fio.

 

Mateus não aguentava mais a companhia daquela noviça.

 

- Chega disso tudo! - exclamou, enervado - Rachiele, você é uma vergonha!

 

- O quê?

 

- Você é uma rebelde...Necrus comentou algo um dia desses na Catedral...

 

- Ele me aceitou. Fiz tudo que ele pediu e ele não tinha porque dizer não para mim.

 

- Você não é lá muito bem-vista pelas outras...

 

- É? E daí? Não preciso delas!

 

- Está vendo? É uma rebelde mesmo.

 

- Ahh...CALABOCA MATEUS! Se eu fosse tão rebelde assim não tava te ajudando! Você é um molóide, mesmo com seu suporte eu poderia me virar muito bem com algumas poções e nem precisaria ficar te salvando toda hora!

 

- Eu...Eu não vou tolerar que alguém como você me repreenda! Você é uma noviça rebelde, e como tal não merece o respeito de nenhum dos irmãos e irmãs do sacerdócio! Você não realiza os préstimos para Odin como deve, você faz uso de palavras impróprias, é mal-educada com quem não merece e além disso...

 

Mateus cessou de falar. Rachiele o encarou, e por instantes o noviço teve a impressão que ela usaria da maça que sempre fustigou os zumbis para castiga-lo. Entretanto, naquela manhã, não haveria derramamento de sangue naquele humilde quarto de estalagem.

 

- Você quer que eu vá embora Mateus? Se sim eu vou agora mesmo. - disse Rachiele, com a voz baixa, branda até, após um suspiro - Me diz...Acho que você já está cansado de mim não é?

 

Mateus nada disse. Mas em seu intímo sabia que se pudesse, dispensaria a noviça combatente agora mesmo.

 

Mas não era o momento apropriado.

 

- Esqueça...Eu me exaltei porque vi você em pecado mortal com a aprendiz e fiquei com isso na cabeça o dia todo...Mas vou dar crédito a você...Você tem me ajudado muito...Vamos para a caverna, Salim está a nossa espera.

 

Rachiele apenas concordou com a cabeça. Seguiram em silêncio para a caverna instantes depois.

 

--------------------------------

 

- E então, Fumacento? Você pode me ajudar?

 

- Dinheiro...Aquilo que os humanos usam... - o guaxinim se abanou com sua folha - Para que eles precisam das opalas?

 

- Pra conseguir dinheiro. Você acabou de falar isso! - arregalou os olhos.

 

- E para que precisam de dinheiro?

 

- Bom...Para serem felizes, eu acho...

 

- Quer dizer que eles não podem ser felizes sem dinheiro, Luz do luar?

 

Luz da lua não soube responder.Como ficou em silêncio por algum tempo, se achou no direito de voltar a conversa.

 

- Quem precisa das opalas para ter dinheiro é o mercador.

 

- Sim. - disse Fumacento.

 

- Meus amigos ficam no hotel descansando porque o mercador paga para eles.

 

- Sim... - Fumacento se deitou e se abanou com a folha.

 

- Você pode me ajudar a ajuda-los, Fumacento? - perguntou mais uma vez Luz da lua.

 

- Sim, eu posso.Me leve para a caverna. Tenho que falar com um irmão meu. Ele mora por lá.

 

- Tá. - disse a menina, pegando o guaxinim nos braços e o levando até a caverna.

 

------------------------------------

 

No meio da caverna, Mateus, Rachiele e outros aventureiros sobrepujavam os zumbis que avançavam. A dupla havia recolhido apenas 3 opalas, mas era melhor pouco do que perderem a vida. Rachiele percebeu também que embora tivessem brigado no começo do dia, Mateus continuava compenetrado em sua tarefa de suporte.

 

Quando restava apenas mais um zumbi avançando contra a noviça, uma espada de lâmina longa dividiu o monstro ao meio, espalhando fluidos e restos de cadáver pelo chão.

 

- O-obrigada espadachim...Eu estava começando a me cansar... - disse Rachiele, se voltando para Mateus, que olhava a guerreira ruiva diante deles - Mateus, cura ela?

 

- Não estou aqui para receber curas, noviça Rachiele de Prontera... - respondeu a espadachim. - Vim em sua procura... - falou soturna.

 

- Mas...quem é você? O que quer de mim? - perguntou Rachiele.

 

- Meu nome é Ana O., ou Ana Escarlate para alguns...Vim aqui porque sei que você esteve com Satty...E quero saber onde ela está. E se não me falar, mocinha, eu faço você falar! Por bem ou por mal! - respondeu Ana, virando a lâmina suja de sangue fétido de zumbi para a direção de Rachiele e Mateus.

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Capítulo 37: A Sombra de Satty

 

 

Há quem pense que eu, Rachiele de Prontera sou uma pessoa rabugenta, de maus modos e extremamente irritante.

Não é bem assim.

Quando, naquela tarde, Ana Escarlate entrou na caverna de Payon com sua arma suja de sangue zumbi e me ameaçou eu fui exatamente o contrário.

 

- Mas...o que significa isso? - indagou Mateus - Rachiele, de onde você conhece essa moça?

- É uma longa história Mateus,depois eu explico... - respondi, não tirando os olhos da espada de Ana, apontada para meu peito.

- Chega de conversa noviça! - bradou Ana, irritada - Já pra fora! - mandou.

Concordei, acenando com a cabeça e acompanhando Ana, ao passo que Mateus protestou.

- Pra onde pensa que a está levando?? Volte aqui! Nós não podemos cessar com nosso trabalho! - disse, acompanhando de uma distância segura Ana e eu indo em direção à saída da caverna.

- Se você tem algo contra novicinho, venha aqui e tire ela de mim. Eu estava a procura dela, não de você...

 

Vi Mateus franzindo a testa ao ser chamado daquela maneira; andamos pouco e fomos barrados por Luz da lua e seu fumacento que ficaram em nosso caminho.

 

- Aonde você está levando minha mestra? - indagou a pequena.

- Saí da frente! - disse Ana - Você e esse texugo cheio de pulgas me dão nojo!

- Não saio! E não xingue o Fumacento! Ele é mais limpo que você!

 

Iniciou -se uma discussão perto da entrada da caverna; Mateus, que vinha logo atrás tomou partido pedindo insistentemente que Ana me deixasse, ao passo que Ana, entre um "não" e outro disparado com grosseira contra Mateus fazia menção de agredir Luz da lua.

Apenas me calei, assistindo tudo.

O que confesso, foi um erro.

 

- Você é perversa espadachim! Assim ninguém nunca vai gostar de você! - disse Luz da lua, tomada de raiva e sem medir o que dizia.

- O quê...? - balbuciou Ana. Notei que um estranho brilho correu em seus olhos.

Era Raiva, mas havia algo mais que eu não sabia, ao menos naquele instante identificar além da raiva.

- Cala essa droga de boca! - Ana desferiu um golpe tamanho com a lâmina da espada que Luz da lua foi em direção à parede de rocha, tombando em seguida desacordada; um fino filete de sangue escorreu do canto de sua boca.

 

Tentei manter a calma. Olhei apreensiva para Mateus, que entendeu meu pedido silencioso e foi em direção da aprendiz, enquanto o fumacento tentava reanima-la. Vi Mateus lançando curas no corpo de Luz da lua para que se recuperasse.

Encarei Ana.

- Hahahaha! Ficou nervosa com o que eu fiz, novicinha? Se quiser, pode resolver suas diferenças comigo lá fora e...

- E lá fora vou arrancar seus dentes um por um e depois você vai engoli-los. - cortei a fala de Ana e andei para a saída da caverna deixando-a pra trás.

- Ei! Volte aqui! Não vai fugir! - disse ela indo atrás de mim.

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Passei rápido pelo carrinho de Salim, disse-lhe quase num múrmurio que voltaria mais tarde. Ele pestanejou, achou que eu estava fugindo de minha obrigação, mas ao ver Ana saindo da caverna com espada em punho e me puxando pelo braço entendeu depressa que eu tinha problemas.

- Muito bem, muito bem, pode ir. - disse ele consentindo.

---------------

 

Em Payon existe uma enorme estátua de um homem iluminado que adorna um dos pontos da vila dos arqueiros. Há quem diga que o homem iluminado representado na estátua era de uma tranquilidade tremenda, e que certa vez, em meio a tigres famintos e serpentes venenosas, ele conseguiu evitar de ser atacado, tamanha era sua tranquilidade.

Eu iria precisar de muita mesmo. Estávamos eu e Ana no local certo.

- Tá, senta aí.

Obedeci e a olhei. Seus olhos ainda estavam com sobras de sua ira de outrora.

- Onde está a Satty? Soube que você esteve com ela. E você não pode, porque ela é minha namorada.

- Namorada? - indaguei.

- É, ela é sim! Anda, me diz onde ela está! Preciso achá-la!

- Mas...eu não sei. A última vez que a vi foi em Prontera...

- Mentirosa, ela odeia lugares com muita gente. Fale a verdade!

 

Dali por diante, Ana agarrou-me pelos colarinhos, me pressionando para dizer onde Satty estava ao passo que sempre respondia que não sabia; alguns minutos depois,cansada de ouvir a mesma resposta, soltou-me e sacou de novo a arma.

- Fala senão vou te fazer falar pelo aço, mocinha!

- Meu nome é Rachiele! - me levantei - E se você quer saber mesmo Ana "Ruiva" eu fiquei quieta demais vendo você atacando quem eu quero bem!

 

Lembro-me que peguei um punhado de terra fofa do chão e arremessei contra os olhos desprotegidos de Ana, que enquanto sentia as trevas lhe arderem a visão, foi desarmada por mim e colocada no chão, onde sofreu toda sorte de golpes baixos e socos no rosto, que não cessaram nem quando a deixei jazendo inconsciente.

Felizmente, um arqueiro da Guilda Ícaro que passava viu o que acontecia e me deteve.

-----------

 

Voltando ao nosso quarto da estalagem, Salim conversava comigo enquanto eu explicava tudo que tinha acontecido: Nunca tinha visto aquela espadachim antes, mas ao que parece, ela sabia de mim. Prometi a Salim que voltaria ao trabalho assim que pudesse. Tinha que desfazer aquele mau-entendido ( sim, pois ao meu ver, aquilo era um grande mau-entendido) e deixá-la partir.

- Está bem - falou Salim - Nós não temos tempo a perder. Ainda preciso de pelo menos mais 50 opalas.

- Senhor Salim...Porque precisa de tantas opalas assim? - indaguei.

- Isso não é de sua conta noviça! - esbravejou ele, que tornou-se tomado de um rubor de ira ao ouvir eu perguntando.

Salim bufou, ajeitou sua bandana e saiu do meu quarto em silêncio. Depois veio Mateus.

- Irmã Rachiele...- ele se sentou na cama e me olhou.

- Como está Luz da lua? - perguntei.

- Ela está bem. Estou cuidando dela. Aquela espadachim era forte... - ele me olhou de soslaio. - Mas mesmo assim você deu uma tremenda surra nela...

- Ah, eu perdi a cabeça. Não gosto de ficar guardando coisas...

- Olhe, depois você me conta o que preciso saber. Vim pedir o quarto para cuidar da aprendiz.

- Ok, pode trazer ela pra cá. Eu durmo lá fora por enquanto. - consenti.

 

Expliquei para Mateus que dormiria perto da janela do quarto dele. Caso ele precisasse de algo, bastaria abrir a janela e me chamar; eu não me deitaria tão longe assim.

-----------------

 

Anoiteceu e pensei comigo mesma para onde a tal Ana Escarlate teria ido. Soube que ela ficou na enfermaria em Payon mas ao procurá-la não a achei.

Quando tirei meu saco de dormir e me preparava para repousar, olhando sempre para a janela do quarto de Mateus e pensando em Luz da lua,ouvi uma voz bem próxima de mim.

- Noviça Rachiele de Prontera...?

Me virei. Era Ana com curativos e bandagens pelo rosto. Levava sua mochila a tiracolo e a espada na bainha.

- Eu...eu quero conversar... - disse ela.

Concordei, fiz menção para que ela se sentasse. Quando ela o fez, lhe ofereci um pão que estava em minha mochila.

- Ah, obrigada... - disse ela pegando o pão e dando uma mordida.

- Me desculpe pelo que fiz... - num primeiro momento não a olhei,talvez por rancor do que eu fiz.

- Esquece, já tô acostumada com isso... - ela meneou a cabeça, se contradizendo - Escuta, não sabe mesmo da Satty?

- Não. Não mesmo. Porque está procurando ela?

- Já te disse. Ela é minha namorada.

- Mas então porque vocês não estão juntas?

Ana silenciou. Pensei que ela sacaria a espada e me atacaria, mas ela simplesmente apertou o pão com força e acabou de comê-lo. Soltando um suspiro, me disse:

- Ela me deixou. Mas eu amo ela. Quero ficar com ela.

Naquele momento lembrei-me daquele dia quando cruzei com Satty em Prontera e conversamos brevemente. Decerto ela se referia a Ana quando comentou que eu desejava ficar presa a ela.

O Amor não prende. Ele liberta. Lembrei-me de imediato e olhei para Ana; Satty tinha a deixado porque percebeu isso nela e queria que Ana não fosse apenas uma sombra, mas que tivesse brilho próprio, coisa que definitivamente, ainda não possuía.

 

- Você está me ouvindo? - indagou Ana, percebendo que eu estava meio distante.

- Bem, eu não sei onde ela está, mas se quiser, podemos procura-la juntas, o que você acha? - perguntei com um sorriso. - Eu também gostaria de ver Satty de novo... - comentei.

Ana me pareceu pensativa; franziu a testa em dado momento e fechou a cara.

- Não. Você esteve com ela, eu não posso aceitar isso. Ela é minha.

- Certo, ela é sua. - concordei - Então porque eu não poderia te ajudar a acha-la? Ela é tua namorada e é minha amiga, não tem nada demais isso! Eu não quero namorar a Satty.

- Não quer...? - ela balbuciou.

- Não. - disse firme.

- Mas...

- Só que antes tenho assuntos a resolver aqui, não posso deixar meus amigos. - cortei Ana - Você pode me esperar em...em...Izlude?

- Posso, posso. - ela respondeu - Posso dormir com você?

- Pode sim. Se arrume por aí.

 

Ana se aprontou e deitou-se do meu lado, olhando para o céu. Não sei no que ela pensava, mas sua expressão beirava a incredulidade e a tranquilidade. Arrumei um cobertor para Ana e dormimos. Durante a noite, estendi minha mão até a de Ana e toquei brevemente os dedos dela; como em resposta, Ana tateou minha palma e meu dedos, e então balbuciou enquanto dormia:

- Pequenos...Dedos pequenos...Como ela...

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Capítulo 38: O Dia Seguinte

 

 

Muito me preocupava o estado de Luz da lua.

 

Quando acordei aquela manhã, percebi, para minha surpresa, que Ana dormiu segurando minha mão.

 

Os pássaros cantavam enquanto pulavam de árvore em árvore e os mercadores começavam a abastecer seus carrinhos.

 

Desenlacei a mão de Ana da minha e me levantei.

 

Entrei na estalagem e perguntei de Mateus.

 

- Ele está cuidando daquela menina. Não saiu do quarto a noite inteira.

 

Subi o lance de escadas e bati na porta, como ninguém abriu, entrei em silêncio.

 

Mateus estava ao lado de Luz de lua, que dormia tranquilamente, já sem nenhum ferimento aparente.

 

- Shhh... - pediu ele silêncio. - Ela está dormindo...- disse num sussurro.

 

- Eu sei... - respondi e me sentei em frente a Mateus, que não me parecia tão severo quanto outrora.

 

- Ela se recuperou bem, com mais um pouco de descanso vai ficar nova em folha. - disse ele, atestando o bem-estar de Luz da lua. - Irmã Rachiele, de onde conhece aquela espadachim?

 

Eu não deveria, pensando bem, ter contado a Mateus tudo que sabia; mas era preciso para que ele compreendesse a situação. Confiei nele tudo que sabia e do porquê Ana estar me procurando. Algumas vezes vi ele franzindo a testa em desaprovação ao que eu contava.

 

- Me entenda! A bruxa me salvou. Independente do que ela seja, ela fez algo bom. - disse, agora meio envergonhada de estar dizendo aquelas coisas para um religioso fora da clausura de um confessionário - Como eu poderia saber que Ana a considerava uma "posse" e não uma pessoa? Aliás, eu nem sabia que Ana existia até ontem! - disse eu.

 

Mateus ficou com a mão no queixo, pensativo. Ele concordava com tudo que eu dizia, mas sem emitir palavra alguma, o que, em dado momento, deixou-me nervosa.

 

- Diga alguma coisa, Mateus!

 

- Certo. Ela é uma orquidea que teve um caso com essa bruxa. Você também teve. Você é uma orquidea também, irmã Rachiele?

 

- É claro que não!

 

Ele concordou com a cabeça e me mediu de cima a baixo. Depois disse:

 

- Você sabe o que a Lei divina diz...

 

- Não me lembre do que eu já sei, Mateus! - bradei.

 

- Shhh...Bem, vamos deixar Luz da lua descansar. Salim deve estar nos esperando. Você vem?

 

- Claro, claro.

 

Descemos as escadas. Paramos diante do estalajadeiro e deixamos orientação de que deixasse a menina dormir o quanto quizesse. Caso ela nos procurasse estaríamos na caverna novamente, voltando ao pôr-do-sol, como de costume.

 

Foi nessa hora que Ana entrou e me viu com Mateus, que rapidamente a identificou e meio que propositadamente saiu, me deixando com ela.

 

- Vão voltar para a caverna? - perguntou Ana para mim.

 

- Vamos...

 

- Posso ajudar?

 

- Não, não precisa.

 

- Então... - ela colocou a mochila às costa nesse momento - Onde te acho?

 

- Eu vou pra Prontera depois que terminar as coisas por aqui... - por alguma razão, o olhar de Mateus após eu ter contado tudo me deixou mais preocupada do que aliviada - Eu vou de barco, não estou com dinheiro para pagar teleporte kafra...Me espere em Izlude, ok?

 

- Certo, Izlude. Vou ficar perto de Prontera por enquanto então. Posso te escrever se você demorar?

 

- Sim, você pode. - concordei.

 

- Obrigada Rachi... - Ana tocou com suas manoplas meu rosto, numa breve carícia; depois saiu da estalagem me dando um último olhar e indo em direção ao centro de Payon.

 

Tive um mau pressentimento e me apressei para alcançar Mateus.

 

--------------------------

 

Salim ria. Ria gostosamente, alto, fazendo barulho. Ria muito.

 

Mateus estava diante dele, tentando entender o que se passara.. Fiquei ao lado do noviço.

 

- Que aconteceu?

 

- Eu não sei. Perguntei a Salim sobre quantas opalas ele ainda precisa e ele desandou a rir.

 

Franzi a testa, as risadas altas de Salim chamavam a atenção dos outros e eu não me senti bem enquanto aqueles olhares de estranheza pousavam sobre nós.

 

- Salim, que diabos aconteceu? Pare de rir e fale!

 

Ele tomou folêgo, arrumou sua bandana e sorriu para nós dois.

 

- Não preciso mais de vocês. Não sei o que aconteceu até agora, mas só posso rir, rir muito mesmo, acho que vocês dois deram sorte pra mim.

 

Eu e Mateus não entendemos, até que Salim tirou a cobertura de seu carrinho e vimos o mesmo cheio até em cima de opalas brilhantes, sem nenhum sinal que tivessem sido tiradas dos corpos dos zumbis.

 

- Mas como que...? – indaguei.

 

- E isso importa agora, noviça? Como eu disse, dispensados! Aqui tem opalas suficientes para eu me aposentar desse ofício de mercador! Querem que eu pague o almoço num restaurante caro lá em Payon? – tornou a rir.

 

Negamos, eu e Mateus e tendo nos despedido de Salim, nos voltamos para a estalagem. Eu sabia que Luz da lua devia ter feito alguma coisa, mas como perguntar isso a ela diante de Mateus? Eu resolvi esperar.

 

- Que sorte. – disse Mateus. – Eu não aguentava mais.

 

- Eu também. – comentei enquanto arrumava minha mochila.

 

- Vai pra onde agora, irmã Rachiele?

 

- Eu não sei...vou pra Izlude, me encontrar com a Ana...

 

- Bem, vou voltar para a Catedral. Preciso estudar melhor as técnicas de suporte, as minhas ainda não estão boas o suficiente...

 

Concordei com ele.

 

- Então, isso é um "Adeus", Mateus?

 

- Por enquanto sim, irmã Rachiele. Por enquanto sim.

 

Aquele "por enquanto" dele não me soou bem, mas eu não deveria me preocupar.

 

Acreditei, ainda que de forma errada, que Mateus pesaria as coisas que fiz em favor dele e as minhas falhas não me desabonariam.

 

Acreditei errado.

 

- Mestra Rachi!! - Luz da lua saiu do quarto, me abraçou, rindo muito. Olhei para Mateus, ele nos observava.

 

- Você não deveria estar dormindo, menina? - Eu ri.

 

- Eu precisava acordar! Eu pedi pro fumancento ajudar vocês e o mercador!

 

- Hã? - olhei Mateus. Ele foi na direção da aprendiz e colocou a mão no ombro dela.

 

- Como assim você pediu para um fumacento nos ajudar? Eles não falam nossa língua...bem, pelo menos não falam os que vivem perto de Prontera...você consegue falar com criaturas assim, Luz da Lua?

 

- Sim, é fácil! - ela sorriu, despreocupada - Falo com qualquer um deles!

 

Mateus recuou. Eu não sabia o que dizer, ele olhou para mim, meneou a cabeça em desaprovação e foi até o quarto.

 

- Que deu nele, mestra?

 

- Ás vezes... - eu dei uma pausa - As pessoas não entendem Luz do Luar...

 

- Como assim? Não fiz nada errado... - ela disse preocupada.

 

- Eu sei querida, eu sei...

 

Silenciei, levei Luz da lua para o quarto e vi Mateus juntando suas coisas, com pressa, de qualquer jeito.

 

- Mateus...

 

- Como eu disse, estou indo embora para Prontera, irmã. - ele não nos olhou.

 

- Me deixe ajudá-lo, você vai deixar suas roupas todas amassadas e...

 

- NÃO SE APROXIME DE MIM!

 

Obedeci. Luz da lua silenciou comigo e nada falamos. Minutos depois Mateus saiu do quarto, apressado, não cruzamos olhares. Eu temi por mim, mas ele era apenas um noviço...Eu estava me preocupando a tôa.

 

Ficamos no quarto mais alguns minutos, até que uma borboleta entrou pela janela, pousou no beliche de cima e saiu.

 

Voltei a falar nesse momento.

 

- Bem, como você fez para conseguir todas as opalas para o mercador?

 

- Ah, foi o fumacento. Ele me contou que quando ele morava na caverna, tinha uma parede, lá no fundo que era cheia de opalas. Ele foi até ela com os irmãos dele e tirou várias para mim.

 

- Oh...

 

- Daí, depois eu falei para ele quem era o mercador. E eles colocaram tudo no carrinho de noite. - ela sorriu.

 

- Você fez certo. Escute, o Mateus foi embora, e eu fiquei de ajudar a Ana...Você vem comigo, Luz da Lua? Sua mãe não vai acordar tão pra já...

 

Ela me olhou, desviou o olhar e pensou. Decerto estava pensando no que Ana fez com ela. Talvez ela negasse. Se o fizesse, eu teria que ficar com ela, por receio do que poderia acontecer. Mateus sabia que ela não era normal, talvez ele fizesse alarde em Prontera e mandassem alguém atrás da menina.

 

Esperei por longos instantes uma resposta dela, se ela negasse, eu falaria de Mateus.

 

Caso contrário...

 

- Mestra, eu vou com você. Se eu ficar, vai ficar tudo chato. Eu quero ver as coisas antes de ficar na caverna! - ela abriu os braços, sorrindo.

 

- Que bom! - eu sorri - Mas e a Ana?

 

- Se ela se meter comigo, a mestra deita ela de novo!

 

Eu ri. Acariciei a cabeça de Luz de lua e fomos até a estalagem pegar minhas coisas.

 

A viagem nos esperava.

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Eu já disse que o Mateus é ridículo? Já? Então não vou me repetir.

 

Vish, o que a Satty fez? Ou pior, o que essa Ana vai fazer? Descobriremos...

 

Rachiele OP, nerfa. Jogar areia nos olhos dos outros é coisa de gatuno, ein, melhor a Rachi trocar de classe.

 

E agora elas são amigas. o/

 

Mateus consegue ser chato até quando não tá tentando.

 

Ah, cara, lá vai o noviço caguetar pra igreja e mais assassinos virão atrás da nossa Rachi...

 

Esperando os próximos. =D

Bem-vindos ao tópico da semana e espero que estejam preparados para uma grande novidade.
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[1] Eu já disse que o Mateus é ridículo? Já? Então não vou me repetir.

 

[2] Vish, o que a Satty fez? Ou pior, o que essa Ana vai fazer? Descobriremos...

 

[3] Rachiele OP, nerfa. Jogar areia nos olhos dos outros é coisa de gatuno, ein, melhor a Rachi trocar de classe.

 

[4] E agora elas são amigas. o/

 

[5] Mateus consegue ser chato até quando não tá tentando.

 

[6] Ah, cara, lá vai o noviço caguetar pra igreja e mais assassinos virão atrás da nossa Rachi...

 

Esperando os próximos. =D

 

[1] Poxa, coitado, ele tem visão estreita das coisas. Tu entendeu porque ele ficou sozinho quando a Rachi achou ele? xD Ele é um mala!

 

[2] Ana chega toda nervosa, meio mequetrefe e tal, achando que pode tudo...

 

[3] Daí o pavio curto da Rachiele acende. x)

 

[4] Da série: Coisas que tomar uma surra fazem.

 

[5] Nome: Mateus

Classe: Noviço mala 3x / 4x

Função: Censurar a Rachiele

 

[6] Vish... Será? x)

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Interlúdio - Salim

 

 

Salim pegou um grande saco de estopa, maior que os que costumava usar. Colocou nele todas as opalas que tinha conseguido.

Vendeu algumas opalas numa loja em Morroc. Com o dinheiro, se dirigiu para Al de Baran.

Seu destino era a sede da Corporação Kafra.

---------

 

- Bem-vindo a Corporação Kafra, em que posso ajudá-lo? - indagou a Kafra chamada de Denise, que trabalhava há muito tempo no prédio.

- Corta essa de "bem-vindo", dona! Vim falar com seu chefe. Depressa! Avise ele!

 

Denise franziu a testa e por pouco não derrubou sua prancheta de anotações. Seu chefe nunca atendia ninguém, e a grosseria daquele velho homem a irritou.

 

- O senhor Kafra não atende ninguém sem hora marcada. Quem o senhor pensa que é para exigir algo assim?

- Meu nome é Salim, eu moro em Juno, e quero quitar a maldita dívida que tenho com seu maldito patrão! Pode chamar ele pra mim ou vou ter que entregar essas opalas para algum orfanato ou instituição de caridade? - exclamou, abrindo o saco e mostrando as opalas que reluziam à luz dos lampiões.

 

- Oh! - a kafra arregalou os olhos, tirou um pequeno aparelho do bolso de seu vestido, recuou e o ligou, olhando Salim que fechou o saco e esperou.

------------

 

O Senhor Kafra sempre ficava em seu escritório, no segundo andar do prédio. Em meio a móveis que fariam um nobre sentir vergonha, antiguidades de imenso valor e seus arquivos de metal vindos da cidade de Lightalzen, o homem passava seus dias ali, ao lado de Alice. Uma criatura robótica, travestida de empregada, que obedecia cegamente ao velho mercador.

Salim bateu à imensa porta com o símbolo da águia de Prontera e esperou.

 

- Pode entrar, senhor Salim... - Alice, amavelmente, abriu a porta para Salim. Seus olhos sem brilho denunciavam sua condição de não-humana.

- Obrigado.

 

O Sr. Kafra levantou-se e olhou para Salim e o saco que ele levava. Se lembrava, com absoluta precisão de muitas coisas que tinham acontecido e isso incluía a dívida que Salim tinha para com a Corporação. Alice ficou ao lado do velho homem.

 

- Eu me lembro de você, Salim de Al de Baran. A Guilda dos Alquimistas o dispensou...

- Não precisa contar tudo de novo, Kafra, eu me lembro bem.

 

O Sr. Kafra sorriu. Sorriu e se lembrou de um dia, quando em Al de Baran, conheceu um jovem e inexperiente alquimista de nome Salim. Seu intelecto, menosprezado pelos seus companheiros pois ele passava mais tempo como mercante do que pesquisando poções e formas de criar vida artificial chamou a atenção do senhor Kafra, que logo o contratou.

 

- Você trabalhou para mim, Salim. Foram bons tempos em Al de Baran...Dona Risadinha achava que teria chance comigo...He!

- Não viemos pra falar dos velhos tempos, Armand, vim falar da minha dívida!

 

Salim passou a acompanhar o Sr. Kafra e Alice. Seu papel era desenvolver poções experimentais, que outros alquimistas simplesmente se negariam, pela norma de bioética a pesquisar. Salim não sabia o que o senhor Kafra planejava, mas o senhor Kafra sabia exatamente o que estava fazendo.

 

- Eu te devo alguma coisa agora, Salim...Prometo que serei generoso. - o velho sorriu.

- Tire esse sorriso do rosto, senão eu não respondo por mim! - Salim jogou o saco no chão com raiva; as opalas deslizaram e brilharam sob a luz do lustre de ouro no teto do escritório.

Kafra era respeitado em Al de Baran e na República de Schwartzvald por ter construído um império sob o que deveria ter sido o Segundo Ragnarok. Quando procurou os alquimistas de Al de Baran para desenvolver o que seria a poção da Juventude Eterna,um projeto particular, muitos negaram. Mesmo os 10 mais conceituados farmacêuticos de toda Rune negaram, dado o risco envolvido.

Coube a um jovem e talentoso alquimista realizar o impossível.

 

- Você me enganou! Agora tem a fórmula, pode fazer quantas poções quiser e o que restou para mim?? - indagou Salim.

Na época, as pesquisas avançavam porque Kafra sabia ser paciente. Sabia que Salim passaria a maior parte do tempo como mercante, mas quando lhe fosse requisitado, seu trabalho seria primoroso.

- Eu apenas completei seu trabalho. Não seja tão ingrato. - sorriu, escarnecendo.

 

Os estudos duraram longos 5 anos, foram pesquisadas de poções até comidas usadas pelos antigos. A chave foi descoberta quando pesquisaram as criaturas de Rune. Certos monstros, quando vencidos deixavam parte de sua essência imortal em seus restos. A pesquisa se focou nesses resquícios.

- Pro inferno com você, Armand!

- De novo essa fala, Salim?

 

Salim tinha prometido não contar do projeto para ninguém. Um dia, por acidente comentou que estava trabalhando com o senhor Kafra. Quem lhe ouviu, sabia com quem Salim estava lidando.

" Eu não vou continuar com esse projeto. "

" Eu sei quem te envenenou contra mim. Mas escreva o que vou dizer: você vai voltar. Eu preciso de você e você precisa de mim mais ainda! Alice, meus cigarros, por favor! "

" Pro Inferno com você, Armand! "

 

Salim partiu. Voltou para sua vida de mercante e descobriu que algumas coisas mudaram. E por alguma razão, os mercadores que costumavam ficar perto de seu ponto em Prontera, sumiram, sendo substítuidos por outros, que por várias e várias vezes o importunaram de forma que ele nunca tinha conhecido.

 

- Aquele pessoal em Prontera...eram seus empregados! Eles faziam aquelas coisas comigo, não me deixavam trabalhar! Você comprou todos eles para que não deixassem eu vender nada ali!

- Isso se chama livre concorrência meu caro. Além do mais, você não tem como provar que eles eram realmente meus empregados.

 

Mas eram. Kafra deixou ordens expressas e um bom pagamento para todos os empregados. Descreveu Salim e os seus pertences, seu tipo de carrinho, sua postura e as roupas que costumava usar.

Mais importante: o que Salim costumava vender.

Com essas informações, aquele ano, Salim viveu o Inferno no comércio de Prontera.

No ano seguinte, em vistas de se continuar o inferno, Salim saiu da cidade. Ficou pelos arredores, com menos gente e bem menos clientes. Procurou a Guilda dos Alquimistas em Al de Baran, apenas para descobrir que Kafra tinha deixado a conta - e ela não era baixa - dos custos da pesquisa abandonada com a guilda, que indagou a Salim porque deveriam assumir a dívida.

" Mas...nós somos alquimistas, nós devemos..." - Salim falhou naquele instante.

" Alquimistas como nós fazemos pesquisas Salim. Você é um mercador. Nunca entendeu a Ciência. Não podemos permitir que você manche a reputação da Guilda. Você fez a dívida, você a paga. "

" Como eu iria descobrir que o Kafra faria isso?? "

" Então aprenda: Se os melhores alquimistas da nossa lista negaram, você deveria negar também! "

 

Salim, a duras penas, concordou em voltar ao trabalho. Kafra sorriu vitorioso quando viu o alquimista entrando no laboratório. Retomaram o trabalho, não nos mesmo ritmo de outrora, mas retomaram.

Pacientemente, Kafra e Salim voltaram a pesquisar os resquícios dos monstros...

 

--------------

 

- Sente-se Salim. - pediu o senhor Kafra, sentando-se em sua poltrona. - Faz tempo...

- Olhe, me poupe dos seus rodeios. Eu trouxe as opalas. A dívida está paga. Faça sua parte e eu nunca mais vou passar pelo seu caminho. - disse Salim. - Eu te ajudei a desenvolver a fórmula, e você ainda me deixou com uma dívida perante os alquimistas. Bem, agora eu paguei as duas coisas.

 

- Sim. Eu manterei minha parte no acordo. Você cumpriu a sua...

- Assim espero. Bem, estou indo.

- Alice, traga o cofre. - ordenou Kafra, ao qual foi prontamente atendido. - Salim...

- Eu não tenho mais nada a dizer senhor Armand, com licença.

- Toda...

 

Salim deixou o escritório. Kafra olhou para Alice, que trouxe o cofre e colocava as opalas dentro dele. Tinha deixado a dívida de opalas para com Salim por puro capricho, ao qual o humilde alquimista atendeu. Ele merecia ser deixado em paz depois de ter feito tanto.

 

- Sabe Alice...Fátima me condena por fazer o que faço, mas será que Salim teve pelo menos a curiosidade de ir até a Guilda dos Alquimistas depois que me ajudou a completar a fórmula?

- Decerto não.

- Pois é... - esparramou-se na cadeira e riu. - Nasce um idiota por dia, dizia bem o sábio...mesmo entre os mais estudiosos! - e tomou um gole de vinho.

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Interlúdio - Mateus

 

 

Mateus estava mais que inquieto. Porque justo naquela situação a Kafra tinha demorado tanto para abrir seu portal? E o que falaria para seus superiores? Uma noviça envolvida com uma menina-demônio, aquilo era caso apenas para os Inquisidores, não para ele ou mesmo um sacerdote.

 

O que diria caso o indagassem de porque estava do lado de uma renegada?

 

- Noviço, pode me curar? - pediu um arqueiro de cabelos brancos e bagunçados.

 

- Hã? - Matheus saiu do devaneio, olhou para o arqueiro - Sim, eu posso. - E lançando suas preces, os ferimentos do arqueiro se fecharam com uma luz esverdeada.

 

- Valeu!

 

Matheus suspirou. Não poderia contar que esteve com Rachiele. Ou mesmo que a ajudou. Poderia ser excomungado junto com ela.

 

Felizmente, teve uma idéia.

 

----------------

 

- Alto! Aqui é a sala dos Inquisidores, o que quer aqui, noviço? - um guarda apontou uma lança para Mateus.

 

- Eu preciso falar com algum deles, soldado! É urgente!

 

O guarda ergueu a viseira do elmo e olhou o jovem. Não parecia que ele mentia.

 

- Espere um pouco...Já volto. - entrou na sala e deixou Mateus.

 

------------

 

- Ah, o guarda! Nossa encomenda chegou? - indagou um sacerdote de veste brancas, olhar zombeteiro e cabelos azuis amarrados numa trança, sentado numa cabeceira de uma grande mesa de madeira negra - Esses mercadores estão piorando cada ano que eu visito Prontera...

 

- Estão mesmo... não basta a bagunça que a ralé deixa as ruas, ainda atrasam encomendas importantes! - comentou outro, sentado numa cadeira, assim como a mesa, negra, do lado do primeiro.

 

- Tem um jovem aí fora, senhores. Ele diz que tem algo urgente a tratar com os senhores.

 

- Urgente? Urgente? HAHAHAHAHAHAHAHAHA!!! - riu alto, Mateus ouviu do lado de fora e sentiu vergonha de estar ali, mas não se foi - O que pode ser tão urgente assim?

 

- Estamos ocupados agora, mande-o embora. - ordenou o outro.

 

- Sim senhores!

 

------------

 

- Eles estão ocupados agora, sinto, mas você deve partir...como é seu nome?

 

- Mateus...

 

- O que queria conversar com eles, Mateus? Talvez eu possa passar recado...

 

- Tem...Tem... - Mateus vacilou, estava escolhendo o que dizer - Eu vi uma noviça em Payon do lado de uma menina muito estranha!

 

- Noviça...? E o que elas faziam? É nosso dever zelar pela conduta de nosso irmãos de fé!

 

- Elas...não fizeram boas coisas pelo que eu vi...e a outra menina...ela...saiu da Caverna de Payon! - era invenção, mas Mateus acertou em cheio.

- Como assim "saiu"...?

 

- Ela saiu! E-eu não sei! Talvez ela seja uma criatura das trevas disfarçada! Ela saiu de dentro da caverna, sozinha! E eu estou sempre em Payon, nunca vi ela por lá! É como se ela estivesse ficado o tempo todo lá dentro e só saiu agora...mas sei que nas profundezas habitam demônios então...

 

- Valha-me Odin! Vá falar com o Necrus! Ele trata dos noviços aqui!

 

- S-sim! - Mateus correu.

 

---------------

 

Necrus sabia que Rachiele estava com Mateus. Ficou feliz ao ver, em Prontera, os dois falando com a Kafra e rumando via portal para Payon, como soube anteriormente.

 

Sua expressão serena sumiu quando viu Mateus sozinho e visivelmente nervoso.

 

- Quer um copo de água? - perguntou o padre.

 

- Eu quero,sim.

 

Necrus o colocou para dentro da sala, pegou um vasilhame de barro e despejou água num copo de vidro que tinha vindo de Lightalzen. Ofereceu a Mateus, que bebeu, sem pressa.

 

- Você estava com Rachiele, aconteceu alguma coisa?

- Sim!

 

Necrus meneou a cabeça com a afirmação do jovem, pensava que poderia confiar em Rachiele, após tudo que ela passara, mas pelo visto se enganou.

 

- O que ela fez, Mateus?

 

- Ela...ela... - Mateus pensou rápido - Ela ficou com uma espadachim ruiva e uma menina estranha!

 

- Bem, isso não me parece nada demais, porque está tão nervoso assim?

 

- Ela é uma orquídea, padre! Ela e a Espadachim! Tiveram um caso com uma bruxa! Ela me disse isso! E ela foi com a espadachim!

 

Silêncio. Necrus, pela sua vivência tinha percebido que Rachiele não era uma moça normal, mas isso era heresia dentro da Igreja e ele sabia o que aconteceria com Rachiele caso o Bispo Maugins ou outro religioso mais conservador soubesse do caso.

 

- Você fez bem de ter se afastado delas... - colocou a mão no ombro de Mateus, sério - Eu tomarei providências com respeito a isso. Você sabe que o bispo sente asco de coisas assim, não é?

 

- Sei,sei sim... Eu fui embora porque sabia disso, e isso me incomoda também... - por dentro, Mateus sorria.

 

- Está dispensado. Vá ao alojamento. Amanhã teremos aulas, procure o bispo Lucas e fique a disposição dele por enquanto...Eu cuidarei de Rachiele.

 

- Obrigado senhor, é preciso expurgar essa escória pecadora da Ordem de Prontera!

 

- Sim, deixe comigo!

 

Mateus saiu da sala, sorridente. Procurou o bispo Lucas, certo de que haveria de se vingar dos maus modos de Rachiele.

 

Quanto a Necrus, ele tinha mais um problema em mãos. Rezou fortemente para que Rachiele ficasse longe, o mais longe possível de Prontera...

 

"Ás vezes, a distância é a melhor proteção..." meditou consigo enquanto rezava pela segurança da jovem.

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Capítulo 39: Tales

 

 

Luz da lua não parava de me perguntar coisas. Era incrível. Desde sobre o que fazia aquele jovem fazer seus bolinhos de arroz e vendê-los até indagar porque tanta gente entrava na arena da cidade de Payon para lutarem uns com os outros.

 

Era, pelo menos para ela, um mundo novo, que ela estava conhecendo apenas agora, longe da caverna de Payon...

 

- Pra onde vamos, mestra?

 

- Estamos em Payon, então a Kafra deve ter teleporte para algumas cidades aqui perto...Humm...

 

- Kafra?

 

- É, é. Kafras são mulheres com vestidos compridos que vendem serviços por um preço.

 

- E o que elas fazem com o dinheiro?

 

- Ah, Luz da lua, sei lá! Elas devem mandar para a sede das Kafras em Al de Baran! Acho eu...

 

- Al de Baran?

 

Pacientemente expliquei para ela sobre as cidades e o reino de Rune-midgard. Falei um pouco de Morroc, Prontera, Geffen, Al de Baran e Comodo.

 

Ela me indagou sobre Izlude, ao passo que falei que era lá a sede da Guilda dos Espadachins.

 

- Izlude é uma cidade pequena, fica perto de Prontera, quase nem conta como cidade.

 

- E porque as outras cidades são mais importantes que Izlude? Você disse que lá tem uma guilda também.

 

- Ai Luz da lua, como eu vou explicar isso para você? As pessoas acham que Izlude, por ser pequena, é pior que Prontera, por exemplo.

 

- E as pessoas julgam as cidades pelo tamanho? Credo!

 

- Pois é...

 

Paramos perto da Kafra e pedimos por teleporte.

 

- Para onde vão? - indagou a Kafra.

 

- Izlude - eu disse.

 

- Fica mais perto irem para Alberta e de lá pegarem um barco.

 

- Ok, pode ser. Quanto é?

 

- 4.000 Zennys pelas duas. - ela sorriu ao olhar para Luz da lua.

 

Paguei a Kafra e ela abriu um portal. Segurei a mão de Luz da lua e entramos.

 

---------------

 

- Aqui é uma cidade rica, Luz da lua. Como todos moram em Prontera ou perto de lá, aqui tem casarões maiores que em qualquer cidade de Rune.

 

- Nossa...mas essas casas todas...devem ser cheias de gente, né? - ela perguntou, olhando em volta.

 

- Na verdade, poucas delas são ocupadas. As famílias aqui não são tão grandes...

 

- E para que serve uma casa grande se tem pouca gente? Vocês humanos são esquisitos...

Fomos até o porto. Luz da lua ficou maravilhada com os barcos, que ora rumavam para reinos orientais, ora voltavam do mar.

 

Félix, um empregado de Edgar, era um homem alto e forte; ele mordeu uma batata doce e nos olhou entrando no barco.

- Que as duas meninas querem aqui?

 

- Queremos ir para Izlude! Quando o barco saí?

 

- São 250z por cabeça... - ele olhou para Luz da lua - Não vou fazer mais barato do que o patrão manda...

 

- Ah, ok! - pensei comigo mesma que ia falir se continuasse pagando as coisas assim para Luz da lua. Bem, era só até Izlude, então sem problemas.

 

- Ei, você é a Rachiele, a noviça. Sabia que conhecia tua cara de algum lugar, hehe! - Félix riu.

 

- De onde você me conhece?? - indaguei.

 

- Nossa, minha mestra é famosa... - Luz da lua arregalou os olhos.

 

- Rá! - Félix olhou para Luz da lua e foi em direção à cabine do capitão - Menina, sua "mestra" vivia por aqui! Era uma aprendiz como você, mas muito rabugenta e com cara de malvada!- desandou a rir.

 

- Hã?? - Luz da lua não entendeu, se virando para mim.

 

- Não é nada disso! Mas bem, não dê atenção a ele, Luz da lua! Vamos que daqui a pouco o barco saí!

 

- Sim mestra!

 

Félix riu de novo ao ouvir a voz de Luz de Lua e entrou na cabine do capitão.

 

---------------------------------

 

O que eu não imaginava era chegar em Izlude e um bando de noviços, assim que me vissem, fossem em minha direção, pedir ajuda.

 

Segundo eles, Necrus os tinha incubido de ouvir confissões de quem desejasse, mas eles se queixaram que as pessoas não os levavam a sério, falavam tolices e eles estavam cansados. Perguntei quanto tempo eles teriam que ficar ali, ao passo que me responderam que tinham que ficar até o fim do dia. E era meio-dia.

 

- Bom, eu acho que vocês devem estar com fome, vão comer alguma coisa. Eu fico aqui.

 

Eles explodiram em felicidade, pedi a eles que levassem Luz da lua, dado que o trabalho de confissão não permitia gente de fora da Igreja para fazê-lo acompanhado.

 

- Você vai com eles, Luz da lua, depois, volte. Temos que ficar aqui até o sol se pôr, ok?

 

- Sim mestra!

 

Eles olharam a aprendiz, mas não entenderam porque ela me chamou de mestra. Melhor assim. Sentei-me na grama com a placa de Confissionário perto e esperei.

 

E o tempo passou...

 

--------------------------------------

 

Era irritante, meu bom Odin!

 

As pessoas pediam atenção, mas faziam piadinhas, me paqueravam, falavam que matavam porings e tinham rancor!

 

Não era pra isso que eu estava ali.

 

Um deles teve a audácia de comentar que comia baratas e estava arrependido, mandei o cara ir lavar a boca antes de falar comigo e só não o chutei porque era contra meus votos!

 

O pior de tudo: a turma de noviços tinha sumido. Não tinham voltado da hora do almoço até agora.

 

E eu não podendo largar meu posto, cambada de ingratos e aproveitadores!

 

-------------------------------------

 

- Não era para termos voltado para junto da minha mestra?

 

- Hã? Claro que não! Ela pode dar conta de lá sozinha! Passa pouca gente!

 

- Ahh...

 

Luz da lua silenciou, e ficou junto dos noviços, que estavam deitados em uma pequena colina, aproveitando o sol do fim de tarde.

 

------------------------------------

 

Foi então que ele veio.

 

Era um mago, expressão séria, belos cabelos azuis e uma franja teimosa que insistia em ficar caindo em seu olho direito.

 

Ele era lindo.

 

- Posso ajudar em algo? - perguntei.

 

- Sim. - ele sentou do meu lado.

 

Contou-me sobre sua situação, de ter deixado uma mulher, e da sua vontade de continuar a ajudá-la, mesmo distante.

 

Fui sincera quando ele me pediu um conselho. Disse a ele que deveria continuar a ajudar a mulher que gostava, mesmo ela não sentindo o mesmo por ele. Aquilo deveria deixa-lo mais tranquilo e feliz.

 

Comentei também sobre o que nos era ensinado na Igreja, sobre o Ragnarok e que devíamos nos preparar para o fatídico dia. Ele, muito gentil, me ouviu.

 

Nos despedimos um pouco depois. Ter ajudado aquele mago me deixou mais leve. Eu ficava pensando nele por longos instantes e o sumiço dos noviços e de Luz da lua não me importavam mais tanto.

 

Só me importava ele.

 

E ele, aquele mago de cabelos azuis, se chamava Tales Durden. E eu jamas esqueceria aquele nome de novo.

 

Benditos noviços que me largaram ali!

 

Ri, me levantei e fui atrás deles.

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Nunca imaginei que o Salim tivesse envolvido em tantas tretas.

 

Ah, pera, então era essa a treta da corporação kafra? Por que eu sinto que tem mais? Hmm...

 

Você disse que o Mateus ia melhorar! Aí depois dessa eu quero que ele morra... lentamente... Tá, não precisa tanto... Ou precisa...

 

Por que diabos a igreja prefere um noviço que tá fazendo algo por vingança a uma noviça que tenta ajudar os outros?

 

Que noviços mais vacilões, véi.

 

As vezes eu não entendo a Rachi, agora ela vai se apaixonar por esse Tales...

 

Pera, pera. Tales Durden? Tales Durden? Acho que eu conheço um nome parecido de algum lugar, mas não posso falar sobre ele.

Bem-vindos ao tópico da semana e espero que estejam preparados para uma grande novidade.
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  • 7 months later...
  • 9 years later...
Em 10/11/2013 em 12:51 PM, Fabiano Alves disse:

Espero postar pelo menos um capítulo por semana. Sugestões e Críticas são bem-vindas.

Em 10/11/2013 em 12:51 PM, Fabiano Alves disse:

Atualmente tenho capítulos feitos até o 68, penso de finalizar a fanfic pelo menos até o capítulo 80, dado que estou a muito tempo escrevendo ela e não quero que ela se torne uma fanfic infinita ou pior, descontinuada como tantas por aí.

UP! 😁

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