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Uma Alma Dividida Entre Dois Mundos


Nymuë ²

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Capitulo 9 – O baile das Valquirias

 

-         Vamos minha vida!

-         Espere! Quer que eu vá desarrumada?

Joo andava de um lado para o outro enquanto esperava Victoria, o caçador parecia estar com as mãos suando.

-         Acalme-se! – gritou Daruane descendo as escadas na frente de Victoria.

-         Que tal?

Perguntou a Odalisca parando na beira da escada para que Joo a observasse, Victoria trajava um longo vestido preto, quebrado apenas pelas opalas no decote, os cabelos soltos escondiam uma fina cicatriz no pescoço que Victoria arrumara na batalha com um Guardião da Floresta, por sorte a marca sumiria em poucos dias.

-         Esta maravilhosa meu amor, agora vamos sim? O sacerdote que irá nos teleportar já esta impaciente.

-         Ele não é... - completou Daruane voltando a seu quarto.

 

Victoria ficava mais admirada a cada vez que ia a Amatsu, as pessegueiras floridas, o luar refletido no imponente palácio, tudo parecia mais bonito a cada vez que ela pisava naquela cidade que para ela tinha um significado muito especial. Fora em Amatsu que Joo comunicara a todo o clã o namoro dos dois, era lá que eles comemoravam a cada mês.

-         Para você senhorita. – disse Joo prendendo um pequeno ramo com duas flores de cerejeira nos cabelos de Victoria.

-         Oh, mais que galante! – brincou a odalisca.

-         Chegamos o que acha daqui? – perguntou Joo indicando a Victoria o restaurante mais refinado de toda Amatsu.

-         Mas, por que viemos aqui? Hoje não comemoramos nada especial não é?

-         Comemoraremos. – respondeu o caçador entrando.

Victoria ficou deslumbrada com aquele restaurante, era a primeira vez que Joo a levava em um lugar como aquele. Não demorou muito para o metre guiá-los até uma mesa num canto todo decorado com flores, de todas as espécies.

-         Então? – perguntou Joo.

-         São... Lindas, está tudo lindo, meu amor.

-         Que bom que gostou.

Em poucos minutos uma barca de sushis estava na mesa do casal, Victoria tinha noção de como Joo detestava sushis, mas sempre que iam a Amatsu se esforçava para comer alguns e agrada-la.

O ambiente era perfeito, não era como algumas tavernas com beberrões gritando, garçonetes de um lado para o outro com bandejas e pessoas passando e empurrando cadeiras. O restaurante era calmo, havia apenas algumas pessoas jantando, em um canto afastado alguns homens conversavam, as paredes vinho ficariam estranhas em outro lugar, mas com galhos de pessegueiras, kimonos e espadas ficavam extremamente charmosas. Victoria reparara em sua mesa em especial, estava afastada das outras, e havia mais flores do que o comum.

Passaram se alguns minutos após terem terminado a refeição, Joo segurava um copo com saque, bem pouco já que o caçador tremia tanto que derramara quase todo na mesa.

-         Esta tudo bem? – perguntou Victoria um pouco intrigada –

-         S...Sim. – respondeu Joo apoiando o copo sobre a mesa – Vi eu tenho que te falar uma coisa, é que...

O sangue de Victoria congelou com aquela hesitação, em sua mente veio a imagem de Joo a abraçando há pouco mais de um ano, ele havia prometido que nunca a magoaria, mas se toda esta encenação fosse para romper o relacionamento seria muito pior.

-         Bom Vi, nos estamos juntos há muito tempo e cada dia mais eu percebo que não consigo ficar longe de você, a meu amor, eu te amo mais do que já amei qualquer outra pessoa. – dizia Joo enquanto procurava algo entre suas vestes – Bom eu... Tome. – disse colocando uma pequena caixa em forma de rosa nas mãos de Victoria – Casa-se comigo?

Victoria abriu a caixinha, dentro dela um anel de ouro com uma pedra de diamante cravejada brilhava incessantemente, a jovem não conseguiu segurar uma fina lagrima que escorreu pelo seu rosto.

-         Então? – perguntou Joo apreensivo.

-         Claro que sim meu amor.

-         Bom eu tenho um presente para você, de noivado. – disse Joo enquanto acenava para um garçom que trazia uma caixa cheia de laços e fitas. -Abra! – disse quanto Victoria tomou a caixa em suas mãos.

Victoria abriu com cuidado a caixa, dentro algo estala enrolado em uma folha de papel vermelho.

-         É... É lindo! – disse Victoria apoiando o elmo sob a mesa. A cor perolada, as asas aos lados à frente parecia o rosto de uma águia.

-         Que bom que gostou, é um elmo angelical. Teria te dado antes se o artesão não enrolasse tanto para terminá-lo.

-         Valeu a pena – disse Victoria passando a mão pelos pequenos cristais na lateral do elmo.

........................................

-         Quanta gente!

Disse Cute ao entrar em Prontera ao lado de Victoria e Daruane. Fora um ano longo para a menina, demorou alguns meses para se recuperar da morte de seus pais, mas agora se podia ver a verdadeira Cute, uma menina alegre, um pouco avoada, mas nada que um puxão de orelha não resolvesse.

Hoje era um dia especial para a menina, devia comprar equipamentos novos para usar quando saísse da guilda dos caçadores, desde que Victoria e Joo haviam se responsabilizado pelo treinamento da menina ela havia melhorado muito.

-         Eu ainda acho que ela devia ingressar em outra guilda. – sussurrou Daruane para Victoria, assim que a odalisca desceu do portal - Ela é muito forte, se daria bem com uma espada.

-         Você também daria uma ótima monja! – retrucou a odalisca –

-         Ah não! Você também de complô com meu irmão?

-         Não só quero te lembrar que a escolha é dela. Vamos Cute, se você se perder vai nos dar muito trabalho! – Disse Victoria chamando a atenção da Arqueira.

-         Nunca tinha vindo ate aqui Cute? – Perguntou Daruane –

-         Não, quando vim para a guilda dos aprendizes o portal já se abria no prédio, nunca fui para a rua.

 

A manha passou rápido, os três andaram por toda a ala sul de Prontera atrás de um arco bom para a menina, que ainda usava um arco composto emprestado e Daruane.

-         Este aqui! – disse Victoria entregando um arco de caça ao mercador atrás do balcão.

-         Por quê? É só um arco de caça, não é melhor ela comprar um com essências?

-         Não, olhe bem este foi nove vezes aprimorado com Oridecon, vai ser mais fácil de manusear. E... Também não tenho certeza se ela conseguiria controlar um arco com essências.

Completou Victoria sussurrando para Daruane que acentiu com a cabeça.

-         Quando você ingressa na academia Cute? – perguntou Victoria –

-         Domingo no fim da tarde, será que tenho que levar mais alguma coisa?

-         Creio que não, só lembre-se de levar o dinheiro para comprar um falcão, vai ser mais pratico o que ter que voltar lá outro dia para comprar um. – acrescentou a odalisca.

 

Já era fim de tarde quando as três voltaram a Payon, o vento ficava cada dia mais frio ao entardecer, logo começaria a nevar em Rune Midgard.

-         Uma pena você ir para a academia bem na época do natal, vai perder toda a festa.

-         Acho que eles vão deixar que voltemos para casa na véspera, eu espero não quero ter que passar a noite de natal sozinha em um quarto.

-         Bom, de qualquer maneira iremos lá te levar um pinheirinho. – brincou Victoria enquanto girava a chave na porta de entrada da guilda.

 

-         Sim e pode avisá-los que será uma honra. – dizia Joo a um homem coberto por uma grossa capa de viagem.

-         Sim meu senhor.- Respondeu o homem m que em seguida se dirigiu a porta, fez uma breve reverencia as moças e saiu.

-         Quem era? – perguntou Victória tirando o Elmo Angelical –

-         Um mensageiro dos Pironatto. Haverá um baile de inverno, querem que compareçamos.

-         Onde? Aqui no Bosque Celestial?

-         Não, no Kriemhild.

-         Quando o baile?

-         Dentro de uma semana.

-         Melhor assim, os ventos de Payon iriam congelar os convidados, pelo menos em Prontera há grandes muros, que a meu ver, protegem os castelos dessa inconveniência.

-         Sim, e bem vocês têm que mandar fazer seus vestidos amanha mesmo, temos que causar boa impressão.

-         Mas e a Cute? Ela vai estar na academia.

-         Ela terá outros bailes.

-         Certo, - disse Victoria após um longo suspiro – vou tomar um banho, estou congelando.

-         Esta bem, ah sim tem uma carta para você, em cima da sua cama. De um tal de Rob Wood.

Victoria se virou rapidamente e ia subindo as escadas apressada quando Joo a segurou.

-         Quem é?

-         Um amigo.

-         Amigo? Espero que só amigo!

-         Não seja bobo, você o conhecera em breve.

Victoria deu um beijo rápido em Joo e subiu o restante das escadas. Daruane quebrava alguns galhinhos e jogava na chama a lareira quando Victoria entrou no quarto.

-         Que houve? – perguntou reparando no sorriso da amiga –

-         O Rob me escreveu! Por fim.

-         Quem? Ele é... Algum amigo seu... Digo, amigo intimo?

-         Nunca! – disse Victoria sentindo uma pequena pontada no coração – Somos... Só amigos.

-         Certo... – disse Daruane sem ser ouvida, Victoria estava concentrada no envelope.

O envelope parecia um pouco judiado, devia estar rodando Payon atrás dela há algum tempo.

 

                                                                A Srta. Victoria Mouyal, Payon

Ola meu anjo,

Perdoe o tempo que fiquei sem lhe responder, tantas coisas aconteceram, estava em Glast Helm todo este tempo, e só pude pegar suas cartas esta semana. Sinto tê-la deixada preocupada e é lógico que não me esqueci de você! Antes do natal irei tocar um grande baile e depois disso pretendo voltar a Payon e reencontra-la, tenho certeza que as novidades são muitas. Escrevo lhe novamente quando chegar a Prontera.

                                                                           Beijos, Rob Wood.

 

Victoria não conseguia conter o sorriso e de tão distraída não viu quando Joo entrou no quarto e ficou a olha lá.

-         Feliz? – perguntou enciumado.

-         Sim meu amor, olhe. – disse Victoria entregando a carta a Joo, uma atitude que ele não esperava. – Acha que é o mesmo baile que vamos?

-         Pode ser, mas os grandes clãs sempre dão bailes, pode ser algum outro.

-         Tem razão, bom vou tomar um banho. – disse Victoria pegando sua toalha dentro do armário. – Você vai confiscá-la de mim?

-         Não, não sou tão ciumento assim. 

Disse Joo entregando a carta a Victoria, e enquanto saia do quarto a menina a guardou dentro do livro de historias. Ah sim, aquele livro, não foram poucas às vezes que Victoria o abriu, mas estava escrito em uma língua que nenhum conhecido sabia decifrar, tudo que Victoria podia identificar era o desenho de uma flor das ilusões na contra capa. Intrigada, fechou o livro e se dirigiu ao banheiro passando por Cute, enrolada em sua toalha.

 

-         Inferno! Podia chover outro dia, mas não choveu hoje! – bradava Daruane irritada segurando a ponta do Sakkat.

-         Não reclame! Pelo menos assim Prontera fica mais vazia.

Uma chuva forte caia sob Rune Midgard, apenas alguns poucos mercadores ainda tentavam vender alguma coisa. Victoria e Daruane se dirigiam ao ateliê e costura que se localizava ao lado do salão Jojovich, normalmente seria uma caminhada interessante, passando por diversas lojas e se divertindo com as pessoas estranhas que passavam de um lado para o outro, mas com esta chuva tudo que se via eram poças e mais poças de água e uma vez ou outra alguém se esgueirando de casa em casa para fugir da chuva.

-         Ola meninas. – disse friamente um homem que aparecera por trás de Daruane. – Só quero seu zeny não vou lhes fazer mal.

-         Oh por favor não faça isso gentil senhor! – disse Daruane num deboche.

-         Ora você vai ver menininha.

Victoria ficou tão apreensiva ao ver aquele bruta montes se dirigir para perto da amiga que não reparou no dardo que Daruane havia puxado da bolsa. Em poucos segundos o homem se contorcia no chão.

-         Que vergonha. – Disse Daruane levantando a capa do homem caído e reconhecendo o símbolo da guilda dos gatunos – Uma destreza e sutilezas exemplares – completou jogando o dardo no chão do lado do gatuno.

-         Veneno?

-         Sim, é sempre útil andar com uma dessas.

-         Achei que só assassinos fossem mestres em venenos.

-         Eles são mestres, eu só sei algumas combinações, bem interessantes por sinal.

Disse Daruane entrando no prédio do ateliê, era uma sala pequena, já que todo o resto do prédio era ocupado por costureiras, tonéis para tingimento e teares.

-         Posso ajudá-las? Perguntou um rapaz moreno atrás do balcão –

-         Sim, viemos para uma prova de vestidos.

-         Srta. Victoria e Srta. Daruane certo? Segunda sala à direita, subindo esta escada.

-         Obrigada.

 

-         Ah como eu queria ir a um baile desses, deve ser lindo ver as pessoas dançando, andando bem vestidas... – comentava uma costureira enquanto apertava o espartilho de Daruane.

-         Não é cansativo ver AI, AU... As roupas que você mesma fez?

-         Ah não querida, nas damas as roupas ficam totalmente diferentes.

-         Espero que essas roupas AU me deixem diferente.

-         Pare de dar escândalos! – gritou Victoria irritada com os gritos de Daruane a cada aperto no espartilho.

-         Não sei como você agüenta colocar um destes!

-         Eu também não, mais de algum modo eles não me incomodam. - Respondeu Victoria abaixando para pegar a armação de saia.

-         Não reclame, você vai ficar linda. – continuou a costureira encaixando a armação por baixo do espartilho de Daruane. –

Uma menina magricela descia as escadas com duas grandes caixas nas mãos, pareciam estar pesadas e a menina tinha certa dificuldade em carregá-las e um rápido pensamento passou pela cabeça de Victoria, se estava complicado carregar em caixas, vestido seria muito pior.

-         São estes, senhora?

-         Sim Aimee. Ajude a Senhorita Victoria a se vestir sim?

-         Claro, senhora.

 

Victoria se olhou no espelho, o vestido sem alças tinha uma tonalidade de roxo bem mais escuro que seu cabelo, o que dava um contraste perfeito, mais ao lado Daruane fazia caretas ao se olhar no espelho, odiava vestidos de festa.

-         Oh querida mais que belo diamante! – retrucou a costureira gorducha segurando a mão de Victoria. – Para quando o casamento?

-         Ainda não marcamos a data, mas para logo eu presumo.

-         Ah, que ótimo! Bom, meninas podem tirar os vestidos, estão perfeitos. Seus casacos e sapatos ficaram prontos em dois dias, mas podem vir buscá-los quando quiserem.

-         Acho que voltaremos na véspera do baile. – disse Victoria – Ah sim, a senhorita poderia nos dar um pedaço do tecido?

-         Jóias, é?

-         Sim, vamos vê-las hoje.

A chuva parecia ter aumentado quando as duas colocaram seus Sakkats e saíram do ateliê, num canto o gatuno envenenado por Daruane desintoxicava o corte.

-         Que veneno era?

-         Argiope e Muka, ele vai sobreviver Vi, tenho... Ah..., Quase certeza. – disse a Arruaceira sorrindo.

............................................

Um vento gelado soprava ao longo das ruas de Prontera, o feudo das Valquirias estava alvoroçado, carruagens chegavam de todos os lados trazendo belas damas e pomposos senhores para o baile de inverno dos Pironatto.

Victoria ouvia a musica animada e o barulho do falatório no salão de festas, havia chegado há algumas horas ao castelo, convite do próprio Ambrosio para a jovem poder se arrumar sem se preocupar com chuva e vento para chegar ate o castelo.

-         Você ainda está assim? – Perguntou Joo entrando no quarto.

-         Saia daqui! – gritou Victoria cobrindo o espartilho e armação com um pedaço da colcha que cobria o sofá mais próximo.

-         Pra que todo esse escândalo? Você esta vestida não esta?

-         Não, não estou!

-         Mais já esta com mais roupas do que eu, - disse Joo rindo – termine de se trocar logo certo? Já vou descendo.

-         Esta bem.

Victoria correu ate a porta e a trancou logo após Joo sair, não queria ser vista se trocando. A jovem pegou o vestido que estava sob a cama e o colocou a frente do corpo enquanto se olhava no espelho.

Quero que ele me veja, veja que não sou mais uma menina bobinha.

A jovem sentou se na cama, olhou para o espelho a sua frente, como poderia estar pensando isso, não estava certo, ela também não queria tal coisa. Victoria levantou-se colocou seu vestido e quando fechava sua gargantilha de ametistas ouviu uma voz conhecida vindo do salão.

Bragi, Bragi,

Grita o nome, inesquecível poeta.

Minha canção é o seu suspiro,

Minha mente, sua intenção

Todo bardo serve a ele,

Todos os louvores são dele.”

 O coração de Victoria bateu mais forte, a menina calçou os sapatos o mais rápido que pode e correu para o salão esquecendo o casaco, não sairia do castelo, que diferença faria.

A jovem parou na beira da escadaria, o salão estava cheio, procurou Joo, que estava distraído conversando com Rafa, foi necessário um cutucão de Daruane para o caçador ver sua noiva parada o olhando. Do outro lado do salão um Bardo afinava sua harpa.

-         Que mocinha bonita!

Disse outro Bardo sentado na beira do palco, Rob Wood se virou esperando uma menina de cinco ou seis anos na beira do palco querendo tocar harpa ou algo parecido, mas não foi isso que ele viu. No centro do salão uma pequena jóia descia as escadarias, de longe Victoria parecia ser uma ametista lapidada, cabelos e vestido roxos contrastavam com o colar de quartzo rosa que a menina sustentava.

-         Esta linda! – disse Joo oferecendo seu braço a Victoria. –

-         Obrigada. – agradeceu a menina beijando lhe nos lábios.

Uma nota estridente saiu de uma das harpas do salão, e um dos bardos se virou de costas sem vontade de tocar.

 

-         Concede-me esta dança senhorita? – perguntou Rafael estendendo a mão a Daruane.

-         Não sei dançar meu amor.  – respondeu com um sorriso disfarçado a arruaceira. – este departamento é da Vi.

-         Ora então será que poderia dançar com a minha senhora? – perguntou Rafael olhando para Joo que consentiu após lembrar que não era um bom dançarino, e não queria que Victoria ficasse parada a festa inteira.

Vários casais dançavam embalados pelos bardos ali presentes, Victoria não podia deixar de reparar na expressão de Daruane, entediada com toda aquela gente, já Victoria nunca se sentira tão bem. As pessoas, a música, algo nela parecia se situar naquele lugar.

-         Vamos sentar um pouco? – disse Rafa despertando Victoria de seus pensamentos.

-         Vá você, acho que vou tomar um ar.  Respondeu se dirigindo a um grande terraço.

Victoria sentiu o vento gelado em seus braços assim que cruzou a cortina, estava uma noite linda, poucas nuvens no céu repleto de estrelas. Mas a lua estava encoberta apenas sua luz se fazia visível por entre as nuvens.

-         Ainda de luvas?

Victoria sentiu algo tocar em sua mão e se virou rapidamente.

-         Assustei-te? – perguntou o Bardo atrás da moça.

-         Um pouco.

O coração de Victoria batia mais forte, o olhar dela e de Rob se encontraram por breves instantes.

-         Quanto tempo meu anjo.

-         Eu... Senti sua falta. – disse encabulada.

-         Eu também. – Disse o bardo abraçando Victoria. –

O anel de noivado pareceu extremamente pesado naquele momento, quando caiu em si, Victoria já estava abraçada com Rob.

 

-         O que é isto? – perguntou o Caçador de punhos cerrados encostado em um dos grandes vitrais do terraço.

Victoria se soltou de Rob e correu ate Joo o puxando ate perto do bardo.

-         Rob este é Joo, meu noivo.

-         Noivo? É um prazer.

-         Igualmente. – respondeu seco o caçador – Vamos meu amor? Esta tarde o baile logo acabara.

-         Sim vamos, já estou cansada. - Victoria se aproximou de Rob e lhe deu um beijo do rosto – Estou na guild Headmasters, me escreve?

-         Claro meu anjo.

Victoria e Joo se dirigiram ao portão de saída do castelo, onde um sacerdote os aguardava com um portal para Payon.

-Não gostei da maneira com que vocês se olham! – foram as únicas palavras que Joo disse a Victoria quando chegaram a Payon.

......................

Aki esta o cap 9, espero que gostem e logico, criticas, sugestões e comentarios sao mtu bem vindos [/s]

@Ayame: Brigada^^ , mais naum acho ke a fic seja perfeita, tenho mtu ke melhorar... nao seria nada sem a Sakura e o Draken

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Ty pelo elogios meninos, fiko realment mtu feliz em saber que estaum gostandu [/s]

@Kyonzinho~*: Podi deixar ke vou la dar uma lida na sua fic now (Y)

Entom.. desculpem a demora gente, provavelmente o prox cap sai semana que vem.. é ke estava enrolada com escola, festa, ensaios... i a fic fiko meio abandonada ^^'

=**

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Capitulo 10 – Flores caídas

 

Victoria abriu a porta de seu quarto devagar, a guilda estava vazia, ou todos ainda estavam dormindo. A odalisca jogou a carta de Daruane no pequeno cesto de lixo.

Fui treinar no navio fantasma, não me espere acho que só volto amanhã.

Victoria passou pelo quarto de Rafa e Gustavo, também não estavam em suas camas, provavelmente haviam escoltado Daruane até Alberta e de lá foram para a ilha das tartarugas, local onde treinavam há algum tempo. Parou apenas na porta do quarto de Joo, o caçador dava pequenos pedaços de carne ao falcão apoiado na beira de sua cama. Os outros provavelmente não notariam o olhar triste do caçador, mas ela era uma odalisca, era praticamente impossível esconder algo de Victoria, principalmente agora, que estava mais experiente. Ela sorriu, um sorriso triste também, ela sabia o porque daquele animo de Joo, ela também ficaria cabisbaixa se o visse abraçado com outra moça.

Victoria levantou os braços para retirar o elmo e sua cabeça, não iria sair e deixa-lo sozinho. Se não fosse a audição afiada e o pio de Lance Joo não teria visto a menina parada na porta de seu quarto.

-         Bom dia. – disse o caçador se virando novamente para o falcão.

-         Bom dia, - respondeu Victoria entrando no quarto - Está tudo bem? – Perguntou apoiando o elmo em uma pequena mesa e recostando-se na parede.

-         Está.

-         Você não me engana, esqueceu que me treinaram para reconhecer o estado de humor das pessoas?

-         É, tinha esquecido. – disse o caçador se levantando e indo em direção a Victoria. – Vi, me responda uma coisa...

-         Sim? - Perguntou a Odalisca.

-         Você e aquele bardo. Jure vocês são só amigos? Só isso?

Victoria observava o caçador enquanto ele segurava suas mãos, estava gelado, ela podia jurar que seus olhos estavam cheios de lagrimas. Isto fez com que ela parasse para pensar por alguns instantes, não podia mais nutrir aquela paixão doentia por Rob, estava noiva e ele nunca demonstrara nada mais do que amizade a ela. Victoria olhou no fundo dos olhos de Joo, ele sempre a amara, sempre cuidara dela, e aquele sentimento que ela sentira da primeira vez que o vira só havia aumentado durante todo o tempo que ficaram juntos, o que ela sentia por Rob nada mais era do que entusiasmo e uma grande amizade, estar com ele e com Joo eram coisas totalmente diferentes. Joo podia ser duro às vezes, mas ela se sentia bem perto dele, era como se o mundo parasse, sim se isso não fosse amor nada mais seria.

-         Eu juro meu amor, somos só amigos.

Pela primeira vez desde que chegara àquela guilda Victoria viu Joo verter uma lágrima, e logo em seguida a abraçar.

-         Eu, eu não sei o que faria sem você, não ia suportar ver vocês se abraçando de novo. A meu amor por que você fez aquilo?

-         Desculpe, eu... Eu me precipitei, fazia muito tempo que não nos víamos e, ele não sabia que estávamos noivos. Perdão meu amor.

-         Promete que vai ser só minha? Para sempre?

Não foi difícil notar que o olhar de Joo mudara completamente, parecia cobiçar algo, um desejo de posse que chegou a assustar Victoria.

-         P... Prometo.

Os olhares dos dois se cruzaram enquanto Joo apoiava uma de suas mãos no pescoço de Victoria, a puxando para perto dele.

-         Eu te amo.

Disse o Caçador enquanto a beijava, o sangue de Victoria gelou enquanto as mãos de Joo corriam sua cintura. O véu que cobria os braços de Victoria escorregou ate o chão, seguido pelo cinto dourado que Joo desabotoara, a saia de medalhas caiu logo em seguida. Victoria não sabia o que fazer, algo nela gritava para que parasse, mas não conseguia se controlar. A jovem sabia que muitas a condenariam se fosse alem daquilo, mas estava noiva e logo se casaria, Victoria fechou os olhos, não queria pensar em nada, muito menos no que os outros achariam dela.

-         Olá tem alguém ai?

Chamou uma voz feminina embaixo da janela do caçador, Joo soltou Victoria, que já estava na ponta dos pés, fora necessário ele se apoiar na parede para não perder o equilíbrio.

-         Que deseja? – Perguntou o caçador da janela.

-         Carta para a senhorita Mouyal. - disse a mocinha de longos cabelos azuis.

-         Uma Kafra, já vou. – disse Joo saindo do quarto.

Victoria estava paralisada, havia levado um susto com a moça chamando. A jovem se abaixou recolhendo seu traje, as mãos tremulas prenderam a saia e o cinto, enquanto jogava o véu por cima dos braços Victoria ouviu Joo subir as escadas correndo.

-         Adivinhe de quem é?! – Disse Joo entregando uma mensagem lacrada a Victoria.

A jovem tomou o pedaço de papel das mãos do caçador, o abrindo em seguida.

Para Sra. Victoria Mouyal

Ola anjo tem como me encontrar na vila dos arqueiros agora à tarde? Ficarei por aqui o dia todo. Precisamos conversar.

                                                                                           Rob Wood

 

-         O que ele quer? - perguntou Joo enciumado.

-         Hã?

-         É do seu amigo bardo não é?

-         É, quer que eu vá a vila dos arqueiros falar com ele...

-         Hm, certo só não volte tarde. Não quero que fique doente. – Interrompeu Joo colocando o elmo angelical em sua noiva e depois beijando lhe as mãos. – Não se preocupe, agora eu sei que não tenho mais por que ter ciúmes.

 

Victoria olhava para as nuvens carregadas que cobriam Payon, ficou feliz por ter trocado o fino véu que cobria seus barcos pela grossa capa bordada. As frondosas árvores que erguiam a Vila dos Arqueiros haviam perdido a maioria de suas folhas, as janelas das casas altas estavam todas fechadas para protegerem seus habitantes das rajadas de vento gélidas do inverno.  A odalisca parou alguns minutos no caminho que dava ao centro comercial da Vila, uma aprendiz carregada de troncos corria em direção a Guilda dos arqueiros, Victoria se lembrou de seus primeiros dias como arqueira, de quando conheceu Rob, foi quando se deu conta do fino som que vinha no vento, a jovem sorriu e continuou caminhando até a entrada da caverna de Payon.

Perto da cerca que impedia alguns desavisados de caírem do barranco que separava os caminhos da vila dos arqueiros, um pequeno grupo de pessoas se reuniam em volta de um bardo. Victoria ficou parada observando a fina névoa dourada da canção de Idun se espalhar por entre os curiosos, demorou alguns minutos pra todos se espalharem novamente e o bardo poder se sentar.

-         Foi uma bela apresentação. - disse Victoria se sentado ao lado de Rob Wood.

-         Você demorou, achei que não vinha mais.

-         É, vim devagar, estava pensando.

-         Posso saber no que?

-         É que, bom já faz algum tempo que vim aqui pela primeira vez, só estava relembrando.

-         É Payon também me traz boas lembranças.

-         Quais? – Perguntou Victoria de súbito, ficando um pouco corada, estava querendo ouvir seu nome, não podia desejar isso.

-         Muitas, mas em geral este ano que fiquei em Glast Helm senti falta de duas coisas. – disse hesitante - Do sol de Payon e... De você.

Victoria a baixou o olhar, estava corada. No fundo ela desejava ouvir aquilo mas sabia que não era certo, a menina olhou para o lado buscando algo em que pudesse se prender.

-         Que é aquilo? – perguntou Victoria indicando um instrumento que aparentava ser um braço de violino quebrado. –

-         Um Gumoongoh, nunca tinha visto? – respondeu Rob depois de um leve sorriso ao perceber que a menina estava encabulada.

-         Não, passei tempo demais nas florestas, a muito que não me apresento com um bardo para rever instrumentos.

-         Entendo, bom eu ainda estou aprendendo a tocar, só algumas mulheres de Amatsu sabem toca-lo perfeitamente.

-         Hm, posso tentar?

-         É...Lógico. – disse o bardo passando o Gumoongoh para a jovem, um pouco desconfiado. – “Ela não deve saber tocar...”

-         Com certeza não vou conseguir tocar de luvas. – Disse Victoria apoiando um par de luvas brancas ao lado da perna e arrumando o Gumoongoh em seu colo.

Victoria olhou o instrumento por algum tempo, passava os dedos pelas cordas, parecia afinar o som. Rob ficou surpreso ao ouvir a melodia fluir as cordas do Gumoongoh, ele tentara tocar o instrumento por dias a fio e Victoria conseguia retirar uma doçe música de suas cordas em questão de minutos.Em pouco tempo algumas pessoas já observavam a odalisca que tocava tão habilmente aquele instrumento estranho, os olhos de Victoria haviam perdido seu brilho, ela parecia estar em transe quando deu seu acorde final.

-         Como... Como você sabe tocar isso? – Perguntou o Bardo boquiaberto.

-         Não sei. – respondeu Victoria chacoalhando a cabeça. – Estranho eu, só toquei, não sabia direito como.

-         É vejo que há muita coisa sobre você que eu ainda tenho que descobrir...

-         Ora, se fosse só você eu estaria feliz! – disse Victoria rindo.

-         Com licença. – interrompeu uma menina que se aproximava dos dois. – será que a senhorita poderia tocar novamente?

-         Ah me desculpe, mas, estou sem coragem.

-         Então lhe peço que dance, vim correndo quando ouvi a música, adoraria ver uma odalisca dançando.

-         Pretende se tornar uma? – perguntou Rob Wood.

-         Sim, mas ainda não tenho idade para me inscrever no Campo de Treinamento.

-         Bom, se é para deixar uma futura Odalisca feliz, eu danço! Acompanha-me? – perguntou Victoria a Rob.

-         Claro minha senhora.

Victoria mal podia acreditar que ali no mesmo lugar que eles se conheceram ela iria dançar pela primeira vez com Rob Wood. A doce melodia que saia do alaúde do bardo era bem conhecida por Victoria, em poucos movimentos da odalisca uma nevoa pratada começou a subir do chão envolvendo quem os assistia.

A maioria da “platéia” já abria a boca de sono quando Victoria fechou a mão por de trás do corpo, sinal para que o bardo parasse a musica, pouco a pouco a platéia se dispersou e Victoria ouviu ao fundo um “obrigado” da menina que corria em direção ao centro da vila.

-         Um pouco perigoso este dueto não? Não consegui identificar se estavam com sono pelo efeito da musica ou se estava dançando tão mal que os deixei entediados.

-         Imagine você esta dançando muito bem meu anjo.

-         Obrigada, - disse Victoria jogando sua capa por cima dos ombros - Está ficando frio, acho melhor voltar.

-         Eu te levo até sua guilda.

-         Não precisa, duvido que alguém me assalte aqui em Payon. Mesmo de madrugada as ruas daqui são seguras.

-         Ora quem disse que esse é o único motivo que me faz querer levá-la?

 

Foi uma caminhada silenciosa, talvez o frio diminuísse se ficassem quietos, ou talvez Victoria estivesse transparecendo a distancia de seus pensamentos a ponto de Rob não querer atrapalhar-la.

-         O que houve? – Perguntou o bardo seguindo o olhar de Victoria, que observava os primeiros vestígios da lua por entre as árvores de Payon.

-         Nada, estava... hmm pensando.

-         Posso saber em que?

-         Eu... Eu não sei. Algo me veio a mente quando vi a lua assim.

-         Esse queijo meio mordido? – perguntou o bardo rindo.

-         Hã?

-         A lua minguante parece um queijo no final na acha?

-         Não. – respondeu Victoria com a voz pesada.- Acho que ela marca uma época de mudanças, muitas mudanças para mim.

-         Ora pare. Esta me assustando!

-         Oi? Desculpe o que você disse? – perguntou confusa Victoria.

-         Você falando desta maneira, me assusta, nem parece a mocinha perdida que eu conhecia.

-         Mais eu não falei nada!

-         Como não? E esta historia sobre a lua?

-         Que historia?

-         A esqueça... Você deve ter se lembrado de alguma coisa, alguma coisa que não devia, eu acho.

-         Desta vez você que esta me assustando. – respondeu Victoria entre uma risada e outra.- Seria bom mesmo me lembrar de alguma coisa relevante, um pouco de emoção não iria atrapalhar minha vida em nada!

Rob Wood sorriu para a menina, não mentira quando disse se assustar, o tom de voz de Victoria havia mudado.

“Se foi melhor ela esquecer, não vou ser eu a faze-la lembrar-se” pensava o bardo enquanto caminhava para o Sul de Payon.

-         Sabe, foi bom mesmo você voltar a Payon, creio que aqui você possa passar um inverno mais confortável do que em Glast Helm. Tenho a impressão de lá ser tão medonho que nem o calor do sol se atreve a entrar.

-         Em parte sim, algumas coisas em Glast Helm fazem o mais corajoso dos Lordes correr como uma criancinha. Mas, não foi por causa do frio que voltei.

-         Não?

Perguntou Victoria olhando fixamente para Rob, o rosto de rapaz estava ligeiramente vermelho, talvez pelo frio, mesmo assim Victoria preferia pensar que era por outro motivo.

O olhar dos dois se encontraram e Victoria desviou-o para o chão, fazendo o bardo ter que se segurar para não rir.

-         Na verdade, voltei porque percebi quanta coisa esqueci por aqui.

-         A sim, você... Pretende voltar para Glast Helm?

-         Talvez, é mais provável que eu volte para lá se não conseguir recuperar o que esqueci aqui, se conseguir pretendo ficar em algum lugar mais... Suportável.

-         É muita curiosidade querer saber o que você esqueceu?

Rob Wood parou, o bardo olhava para as mãos como quem tenta ler uma folha de papel colada nas mesmas, a letra parecia pequena ao ver de Victoria, não era difícil perceber a ansiedade do rapaz.

-         Eu esqueci... Você.

Victoria parou chocada, não esperava, realmente ouvir aquilo.

-         C...Como assim?

-         Esta ultima carta que você me mandou, eu estava muito ferido quando a recebi. – disse apoiando as mãos na barriga, Uma possível cicatriz, pensava Victoria.- E bem, lá em Glast Helm eu não tinha ninguém, meus amigos já haviam voltado há algum tempo e só quando terminei de lê-la percebi como você fazia falta. Fiz amizade com varias moças e mulheres que estavam treinando por lá, mais nenhuma como você. A meu anjo você é tão novinha, mais realmente não se compara a nenhuma outra moça que conheço.

-         Não fale assim, fico encabulada. – disse Victoria tentando mudar de assunto, se ficasse um pouco mais vermelha seria confundida com um morango.

-         Ora mais é verdade, eu... Eu não sei bem como explicar mais senti uma saudade tão grande de você! Assim que melhorei fui para Prontera para de lá me teleportar para Payon e ver você, mais assim que pisei na cidade me chamaram para tocar no baile, não podia recusar aquele pagamento.

-         Por Odin, acho que vou congelar! – disse Victoria tentando novamente mudar de assunto, sem ser ouvida.

-         Vi eu, eu voltei aqui para ficar com você! Quando te vi nas escadaria do Kriemhild estava disposto a pular daquele palco só para falar com você, mais por Bragi foi um choque ver você com aquele caçador.

-         Eu ouvi você tocar, por isso desci correndo. Só que não te achei antes de ver o Joo.

-         Vi... Eu, eu quero ficar com você! Não consigo mais esconder isso, precisava falar com você, longe do... - Victoria não conseguiu conter o sorriso com a hesitação de Rob Wood – do seu noivo.

-         Eu, não sei o que lhe responder. Você não saiu da minha mente por meses, e... Bem agora eu estou noiva, não posso ignorar tudo que já aconteceu. A se você tivesse se dado conta disso alguns meses antes...

-         Antes eu nunca tivesse ido embora.

Rob se aproximou de Victoria, a odalisca estava gelada, a mão o bardo tocou seu queixo, não eram ásperas como as de Joo, nem cortadas pelas flechas, eram macias, tinham um toque diferente. Victoria fechou os olhos, sabia que se os abrisse aquela maldita lágrima que ela tanto segurara iria sair.

Uma brisa gelada varreu Payon e Victoria pode sentir os lábios do bardo encostarem nos seus, poucos segundos, Victoria se soltou dos braços de Rob Wood, o passo para trás fora tão hesitante que a odalisca achou que ia cair, as pernas estavam bambas, as palavras não saiam de sua boca.

-         Eu devo me desculpar? – Perguntou o bardo.

-         N...não. – Respondeu Victoria antes de desatar a chorar.

-         O que houve?

-         Eu... Eu não posso! Eu vou me casar em breve, isso não está certo! Foram tantos meses pensando em você, agora finalmente havia me decidido, não ia alimentar falsas esperanças.

-         Será que não sobrou nem um pouco de sentimento que você tinha por mim?

-         Se não tivesse sobrado, eu não estaria chorando. – respondeu Victoria nervosa, os punhos cerrados, se Victoria segurasse algo nas mãos tinha certeza que quebraria sem dificuldade.

-         Então eu posso criar alguma esperança de você voltar a olhar para mim do mesmo modo que olhava quando nos conhecemos?

Victoria parou de chorar, imagens pareciam correr em sua mente, logo ele, que ela julgara nunca ter percebido nenhum fio daquela paixão secreta parecia poder ler sua alma como se ela fosse uma criança que não consegue esconder a decepção de ter ganhado uma boneca feia.

-         Não foi só você que aprendeu a interpretar sentimentos, e, bom eu tenho alguns aninhos a mais de experiência.

-         Tem razão... – disse baixinho enquanto enxugava uma ultima lagrima – Bom eu, eu prometo que vou pensar. Mas entenda, não quero me decepcionar de novo.

-         Eu garanto que não vai.

A guilda dos Headmasters estava extremamente convidativa, pela luminosidade que saia de uma janela entreaberta a lareira deveria estar acesa, Tudo que Victoria queria agora era se esquentar e ficar um pouco sozinha.

-         Nos vemos amanhã? – perguntou o bardo.

-         Não sei, pretendo ir comprar algumas coisas em Alberta...

-         Sozinha?

-         Sim.

-         Posso ir junto?

-         É... Está bem. Nos encontramos na frente do palácio, 9 horas?

-         Ótimo. – disse o bardo beijando a mão de Victoria num sinal de despedida.- Até mais.

-         Espere. – interrompeu Victoria segurando o punho do bardo enquanto ele se virava.- Não quer jantar conosco? Tenho... Bem não é inteiramente uma certeza de que ser um bom jantar já que Daruane já deve ter queimado algo, mais prometo que não vai ser tão ruim.

-         É... Melhor deixar para outro dia. Boa noite. – completou o bardo se virando para a entrada da guilda.

Encostado na porta Joo observava a cena, parecia estar feliz, talvez por conviver tanto com Victoria tivesse aprendido a reconhecer o humor da pessoas. Definitivamente naquele momento as expressões de Rob não eram as mais felizes, enquanto Victoria havia aprendido a disfarçar seus sentimentos e reconhecer os dos outros ele só aprendera a identificar emoções simples. Era irritante para a odalisca ver a felicidade de Joo em ver que Rob estava quieto.

Victoria se voltou para Rob, mas o bardo já estava longe.

-         Aconteceu alguma coisa? – perguntou Joo.

-         Não, ele só queria que eu me apresentasse com ele.

-          Da próxima vez me chame, sabe como adoro ver você dançar!

-         Chamarei. – disse Victoria depois de dar um beijo rápido em Joo, estava cansada, precisava tomar um banho, relaxar, para quem sabe, pensar melhor sobre tudo que acontecera.

 

Victoria encostou uma de suas mãos na tina de água, estava quase fervendo, mas se ela colocasse água fria iria esfriar rápido demais para se tomar um bom banho.

A odalisca se sentou na tina, o brilho do anel de noivado fez com que ela levantasse uma das mãos. De um lado o diamante de Joo, de outro uma fina cicatriz lembrava o dia que Victoria conheceu Rob. A menina abaixou novamente a mão e se se encostou à borda, olhos fechados, seu corpo parecia pesar toneladas.

-         Vamos logo ai, o jantar esta quase pronto!- gritou Daruane do outro lado da porta, despertando Victoria.

A odalisca fez uma careta, provavelmente a comida estaria horrível. Já que neste ultimo ano ela havia se revelado uma ótima cozinheira Daruane estava sem pratica na cozinha, este trabalho ficava apenas para ela. Victoria se levantou e após se enrolar na toalha seguiu para o quarto, estava sem fome, mas seria deselegante não descer para o jantar.

 

-         Vamos Vi, pra que se arrumar tanto?-perguntava Daruane enquanto batia o pé para Victoria.

-         Deixe-me em paz pelo menos no Natal Daru!

-         Ora! Está bem desça quando estiver pronta, eu não vou ficar esperando.

A Arruaceira trajava um longo vestido vinho, Daruane ficava linda quando deixava Victoria a arrumar. “Pena que ela não vá ficar muito tempo assim” pensou Victoria vendo um fio do cabelo de Daruane já caído com a agitação da moça.

A odalisca se levantou para conferir o vestido no espelho que ficava no canto do quarto, o vestido marrom com alguns fios de ouro ficara perfeito nela. Victoria cobriu os braços com uma estola de pele de fumaçento e desceu para a sala.

-         Antes tarde do que nunca! – disse Joo abraçando Victoria quando a jovem parou do seu lado.

-         Demorei muito meu amor?

-         Um pouco. Bem, agora que estamos todos aqui vamos jantar?

Pela primeira vez em muitos meses a Headmasters estava toda reunida, Cute conseguira uma folga na Academia de caçadores, estava radiante, aquelas semanas tendo que se cuidar sozinha sem Victoria lhe dizendo o que fazer foram mais do que o suficiente para a menina amadurecer.

Victoria e Daruane passaram tantas horas preparando aquele jantar que nem se quer tocaram na comida, o cheiro da carne de Selvagem as enjoava, Daruane comeu apenas um pedaço de pêra com alguns fiapinhos de carne, já Victoria preferiu não passar de um pedaço de pão de aveia e um pouco de vinho.

 

-         Impressão ou alguém bateu a porta? – Disse Rafael se levantando.- Vi, é para você.

A jovem se virou para a porta, ao lado de Rafael, um rapaz usando uma calça marrom escuro, camisa de linho e uma pesada capa, a aguardava.

-         Feliz Natal Rob! – disse animada enquanto abraçava o amigo - Que bom que você veio sente-se.

-         Não Vi, eu vim... Fazer-lhe um convite.

-         Ora, pois então diga.

-         Vem comigo ate Prontera? Vários amigos meus vão estar lá e querem te conhecer.

-         Bem eu... – Victoria olhou para Joo, estava emburrado, mesmo assim ela não era mais uma menina, não devia obedecer as ordens dele, - Só vou pegar meu casaco! – Continuou subindo as escadas, com Joo em seu encalço.

 

-         Você vai?- perguntou Joo alterado.

-         Algum problema?

-         Sim! Acha bonito sair com outro homem no meio da noite?

-         Por Odin, é Natal!Você quer brigar hoje? Só vou conhecer os amigos dele, eles estão curiosos para saber quem sou eu.

-         Ele deve ter falado muito de você não é mesmo? – disse Joo sarcástico -

-         Pare de bobagens, volto logo, eu prometo.

Victoria vestiu seu casaco, a pele de Pé Grande a protegeria da Neve, e desceu as escadas de mãos dadas com seu noivo, mesmo contra a vontade dele, um beijo na bochecha e ela saia com Rob Wood em direção a Kafra de Payon.

 

Prontera estava branca, toda coberta por uma grossa camada de neve que devia ter caído durante à tarde, por sorte agora o tempo se acalmara.

-         Venha, vou deixa-la com eles e já volto.

-         Onde você vai?

-         É uma surpresa.

Victoria seguiu Rob Wood ate alguns metros do portão sul de Prontera, de longe se via uma fogueira em meio às árvores.

-         Ali? – perguntou a odalisca.

-         Sim, algum problema?

-         N...Não, só esta um pouco frio para ficar ao relento não?

-         Garanto-lhe que você não vai ficar com frio.

 

- Ora ora Rob! Ai está seu tesouro! – gritou um cavaleiro quando viu os dois se aproximarem, aquele alerta foi seguido de vários comentários entre o grupo que se reunia em volta da fogueira.

-         Quero lhes apresentar Victoria, uma grande amiga. – disse Rob se pondo do lado da jovem um pouco tímida.

-         É um prazer conhece-la, - respondeu o cavaleiro – não se acanhe, garanto que aqui ninguém morde.

-         Vou resolver umas coisas... Já volto certo?

-         Está bem, só não demore... – disse Victoria –

-         Cuide dela Eric!

Disse Rob Wood ao cavaleiro antes de voltar para Prontera com uma asa de borboleta.

 Victoria não imaginara como uma reunião simples como aquela fosse tão alegre, não foi difícil se enturmar com os amigos de Rob, eram todos alegres, ou o vinho já estivesse fazendo mais efeito que o esperado, todos levavam alguma cicatriz visível, o que fez Victoria pensar que já eram guerreiros experientes.

 

Victoria já estava preocupada, estava esperando Rob há algum tempo, logo teria de voltar para casa, queria pelo menos se despedir.

-         Demorei? – perguntou o bardo que chegava perto do grupo. –

Victoria não conseguiu conter o riso, Rob estava vestido com roupas vermelhas de Papai Noel e carregava um enorme saco na costas.

-         Está lindo meu amigo! – gritou um monge sentado bem próximo a fogueira.

-         Aqui estão seus presentes.

Rob entregou caixas e embrulhos a cada um que se reunia em volta da fogueira.

-         Aqui está o seu meu anjo. - disse enquanto entregava dois embrulhos a Victoria, um pouco sem graça.

A jovem abriu os pacotes, no primeiro, havia um chicote feito de caudas de rabo de verme, um ótimo chicote, mas o que mais surpreendeu Victoria fora o outro presente, em meio às folhas de seda, uma rosa vermelha.

-         Eterna, para que você sempre se lembre de mim.

-         É linda, nem sei como lhe agradecer...

-         Não precisa.

-         Eu... Tenho que ir prometi que voltaria logo.

-         Certo eu te levo.

Prontera estava totalmente vazia, Victoria acreditava já passar da meia noite, deviam estar preocupados com ela, principalmente Joo.

A Kafra da entrada Sul de Prontera estava recostada na parede, realmente devia estar tarde, já que a moça estava de olhos fechados.

-         Com licença senhorita. – chamou Rob Wood.

-         S... Sim? Perdoem-me, estou cansada.

-         Imagine, eu e a senhora ao meu lado gostaríamos de ir a Payon.

-         Certo, a quantia... A sim obrigada senhor. Vou... – disse entre um bocejo e outro – Envia-los a Payon.

 

Já se podia ver a guilda dos Headmasters da distancia que Victoria e Rob se localizavam. A odalisca percorreu o prédio com os olhos, o único vestígio de luz vinha do quarto de Joo.

-         Já pensou?

-         Hã? Desculpe não ouvi.

-         Estava longe não é?

-         Um pouco...

-         Já pensou na proposta que fiz?

-         Bem eu... Eu estou pensando.

-         Certo, quando tiver uma resposta me procure esta bem? Não irei embora de Payon antes de você se decidir.

Os dois já estavam em frente à porta da guild, Victoria virou se para se despedir de Rob, que a surpreendeu com outro beijo. Surpresa a jovem entrou correndo, nem mesmo viu Joo sentado em sua cama lendo, apenas correu para seus aposentos.

Daruane e Cute dormiam pesadamente, Victoria jogou as caixas do lado de sua cama, retirou seu casaco e vestido, a camisola nunca parecera tão difícil de se colocar. Não foram necessários mais que alguns segundos para ela poder se encolher junto a suas cobertas.

Mil pensamentos vinham à mente da odalisca, não podia continuar assim, por mais que doesse admitir, ela estava se enganado, algo nela ainda estava preso a Rob.

“ Não posso fazer isso com ele, não com ele... Por Odin o que eu faço!”

Odin nada respondia. No fundo Victoria sabia o que devia fazer, uma lágrima escorreu pela bochecha da jovem, sim ela sabia o que fazer.

 

Seria uma linda manhã se Victoria não tivesse acordado com o rosto tão inchado e com um olhar que assustara até mesmo Gustavo ao trombar com a Odalisca no corredor.

-         Bom dia! – disse Joo se levantando da soleira da porta e indo em direção a Victoria – Dormiu bem?

-         Mais ou menos...

-         Ora, o que houve?

-         Nós... Nós temos que conversar.

Rafael descia as escadas, a expressão de Joo fez com que o mercenário recuasse, Daruane que também descia as escadas foi silenciada por Rafael.

-         O que foi? – sussurrou Daruane.

-         A Vi e o Joo, acho melhor não atrapalhar.

 

-         O que aconteceu? – perguntou o caçador aflito.

-         Todos nós temos o direito sermos felizes não é?

-         Lógico meu amor.

-         Ate mesmo nós dois certo?

-         Não sei por que, mais acho que você não está mais feliz comigo.

-         Eu... Entenda eu não posso mais ficar com você. - disse Victoria entregando o anel de noivado a Joo.

-         Mais por quê?

-         Eu, ontem, eu percebi que não posso te enganar mais, você, a você é muito especial para mim Joo, mais entenda, o que eu sentia por Rob, ainda não desapareceu por completo.

-         Então, todo esse tempo, era tudo mentira?

-         Não! Eu gosto de você, mas, não é a mesma coisa, eu... A eu não sei o que fazer.

-         Então por que não esquecemos isso meu amor, logo nos casaremos, e você vai esquecer dele em uma semana, prometo que vai. – disse Joo abraçando Victoria, que se debulhava em lagrimas.

-         Não! – respondeu a Odalisca se soltando – Não mais! Eu... Eu não posso continuar com isso, não quero sofrer, muito menos fazer você sofrer!

-         Acha que vou ficar como com você terminando com tudo assim? Acha que ficarei feliz?

-         Entenda vai ser melhor assim.

-         Melhor assim? Ora seria melhor eu nunca ter te conhecido então!- disse Joo alterado.

-         Você realmente acha isso?

-         Acho!

-         Você não entende? E estou fazendo tudo isso por que não quero que você sofra mais, seria pior me casar com você e depois jogar tudo para o alto.

-         Será que você não entende? Eu abri mão de recrutar um excelente bruxo para recrutar você para esse maldito clã! Abri mão da minha liberdade para ficar só com você e agora você toma uma atitude egoísta como esta?

O sangue de Victoria começava a ferver, uma troca, será que era tudo que ela significava para ele? Ela tinha certeza de que levaria ótimas recordações de todo este tempo que passara com Joo, mais depois dessa declaração tudo que haviam passado pareceu desmoronar.

-         Então pode recrutar este Bruxo magnífico para o clã! Eu não faço mais parte do Headmasters!

Victoria arrancou o broche com o emblema do clã Headmasters, não iria chorar ali. A odalisca não se importou com os gritos de Joo, apenas abriu a porta da guilda e desapareceu com uma asa de mosca.

 

Onde antes ficava o broche da Headmasters, agora não passava de um furo. Por sorte Victoria havia parado ao lado do palácio de Payon,não seria difícil chegar à estalagem que Rob se encontrava, naquele momento era a única pessoa com que Victoria podia contar.

 

Uma batida forte na porta assustou o bardo que, sentado em sua cama afinava um velho alaúde. Rob Wood apoiou o instrumento no chão e foi abri-la.

-         Eu... Eu não consegui ficar lá. – disse Victoria entre um soluço e outro.

-         O que aconteceu? – perguntou o Bardo puxando a jovem para dentro e fechando a porta.

-         Eu escolhi você, acabei tudo com Joo, e... Ele falou coisas horriveis, eu deixei o Headmasters.

-         A meu amor, não chore. – dizia o bardo abraçando Victoria.

-         Quero ir embora daqui.

-         Nós iremos esta bem? Amanha mesmo podemos ir para algum lugar treinar juntos... Como quando nos conhecemos lembra-se?

Victoria respondeu com um leve sorriso e um aceno de cabeça.

-         Sente-se um pouco, você consegue ir buscar suas coisas hoje?

-         Sim, o quanto antes romper minha ligação com aquele clã melhor.

 

O ar na guilda do Headmasters estava pesado, provavelmente nevaria durante a noite, já que mesmo agora no meio da tarde a lareira parecia não esquentar. A porta se abriu bruscamente fazendo uma brisa gelada invadir a sala. Nenhum dos membros do clã jamais vira Victoria daquela maneira, estava séria, um olhar fulminante passou entre ela e Joo antes da moça subir para seus antigos aposentos, seguida por Daruane.

-         O que aconteceu Vi?

-         Acabou Daru, acabou Headmasters, acabou noivado, acabou tudo que me ligava a este clã!

-         Como assim? E eu? E a Cute e todos os outros que te adoram?

-         Vou lembrar sempre de vocês, mas agora não quero ter mais nada haver com esse clã.

Victoria já havia jogado todos seus pertences na mala, o aljave no ombro, e sua bolsa de viagem enganchada no lado do braço.

-         Prometo que lhe escrevo minha amiga. – Disse Victoria saindo do quarto.

Na sala Rafael e Sastam olhavam para a menina carregando a bolsa para fora da casa.

-         Adeus!

Disse Victoria ao sair. Do lado de fora, Rob a esperava.

-         Tudo certo? – perguntou o bardo.

-         Sim, só vou sentir falta dos meus amigos.

-         Não vai ser para sempre, podemos voltar para você revê-los, em alguns meses esse ódio vai passar.

Victoria olhou para o jardim, onde outrora se encantara por um certo caçador, agora se decepcionava.

-         Olhe. – apontava Victoria.

-         O que meu anjo?

-         As flores, ali quebradas, eu as plantei.

-         Ora e por que estão assim todas caídas e esmigalhadas?

-         Por que eu as plantei quando comecei a namorar com Joo, eu falava que enquanto aquelas flores estivessem vivas eu o amaria. Elas resistiram até ao inverno, mas acho que ele não conseguiu vê-las hoje de manhã depois da nossa briga.

Rob tomou a mala das mãos de Victoria e fez sinal para que ela o acompanhasse, logo anoiteceria, logo eles deviam se preparar para a viagem.

Victoria olhou para trás, lá estavam suas flores caídas, mais nada a prendia aquele lugar... Nada.

Ai esta ^^

Dps de muita demora saiu o cap 10 \o/.

I gente comentem .. kero saber o que estaum achando e tambem se corri demais com a historia...

=*

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Capitulo 10 – Flores caídas

 

Victoria abriu a porta de seu quarto devagar, a guilda estava vazia, ou todos ainda estavam dormindo. A odalisca jogou a carta de Daruane no pequeno cesto de lixo.

Fui treinar no navio fantasma, não me espere acho que só volto amanhã.

Victoria passou pelo quarto de Rafa e Gustavo, também não estavam em suas camas, provavelmente haviam escoltado Daruane até Alberta e de lá foram para a ilha das tartarugas, local onde treinavam há algum tempo. Parou apenas na porta do quarto de Joo, o caçador dava pequenos pedaços de carne ao falcão apoiado na beira de sua cama. Os outros provavelmente não notariam o olhar triste do caçador, mas ela era uma odalisca, era praticamente impossível esconder algo de Victoria, principalmente agora, que estava mais experiente. Ela sorriu, um sorriso triste também, ela sabia o porque daquele animo de Joo, ela também ficaria cabisbaixa se o visse abraçado com outra moça.

Victoria levantou os braços para retirar o elmo e sua cabeça, não iria sair e deixa-lo sozinho. Se não fosse a audição afiada e o pio de Lance Joo não teria visto a menina parada na porta de seu quarto.

-         Bom dia. – disse o caçador se virando novamente para o falcão.

-         Bom dia, - respondeu Victoria entrando no quarto - Está tudo bem? – Perguntou apoiando o elmo em uma pequena mesa e recostando-se na parede.

-         Está.

-         Você não me engana, esqueceu que me treinaram para reconhecer o estado de humor das pessoas?

-         É, tinha esquecido. – disse o caçador se levantando e indo em direção a Victoria. – Vi, me responda uma coisa...

-         Sim? - Perguntou a Odalisca.

-         Você e aquele bardo. Jure vocês são só amigos? Só isso?

Victoria observava o caçador enquanto ele segurava suas mãos, estava gelado, ela podia jurar que seus olhos estavam cheios de lagrimas. Isto fez com que ela parasse para pensar por alguns instantes, não podia mais nutrir aquela paixão doentia por Rob, estava noiva e ele nunca demonstrara nada mais do que amizade a ela. Victoria olhou no fundo dos olhos de Joo, ele sempre a amara, sempre cuidara dela, e aquele sentimento que ela sentira da primeira vez que o vira só havia aumentado durante todo o tempo que ficaram juntos, o que ela sentia por Rob nada mais era do que entusiasmo e uma grande amizade, estar com ele e com Joo eram coisas totalmente diferentes. Joo podia ser duro às vezes, mas ela se sentia bem perto dele, era como se o mundo parasse, sim se isso não fosse amor nada mais seria.

-         Eu juro meu amor, somos só amigos.

Pela primeira vez desde que chegara àquela guilda Victoria viu Joo verter uma lágrima, e logo em seguida a abraçar.

-         Eu, eu não sei o que faria sem você, não ia suportar ver vocês se abraçando de novo. A meu amor por que você fez aquilo?

-         Desculpe, eu... Eu me precipitei, fazia muito tempo que não nos víamos e, ele não sabia que estávamos noivos. Perdão meu amor.

-         Promete que vai ser só minha? Para sempre?

Não foi difícil notar que o olhar de Joo mudara completamente, parecia cobiçar algo, um desejo de posse que chegou a assustar Victoria.

-         P... Prometo.

Os olhares dos dois se cruzaram enquanto Joo apoiava uma de suas mãos no pescoço de Victoria, a puxando para perto dele.

-         Eu te amo.

Disse o Caçador enquanto a beijava, o sangue de Victoria gelou enquanto as mãos de Joo corriam sua cintura. O véu que cobria os braços de Victoria escorregou ate o chão, seguido pelo cinto dourado que Joo desabotoara, a saia de medalhas caiu logo em seguida. Victoria não sabia o que fazer, algo nela gritava para que parasse, mas não conseguia se controlar. A jovem sabia que muitas a condenariam se fosse alem daquilo, mas estava noiva e logo se casaria, Victoria fechou os olhos, não queria pensar em nada, muito menos no que os outros achariam dela.

-         Olá tem alguém ai?

Chamou uma voz feminina embaixo da janela do caçador, Joo soltou Victoria, que já estava na ponta dos pés, fora necessário ele se apoiar na parede para não perder o equilíbrio.

-         Que deseja? – Perguntou o caçador da janela.

-         Carta para a senhorita Mouyal. - disse a mocinha de longos cabelos azuis.

-         Uma Kafra, já vou. – disse Joo saindo do quarto.

Victoria estava paralisada, havia levado um susto com a moça chamando. A jovem se abaixou recolhendo seu traje, as mãos tremulas prenderam a saia e o cinto, enquanto jogava o véu por cima dos braços Victoria ouviu Joo subir as escadas correndo.

-         Adivinhe de quem é?! – Disse Joo entregando uma mensagem lacrada a Victoria.

A jovem tomou o pedaço de papel das mãos do caçador, o abrindo em seguida.

Para Sra. Victoria Mouyal

Ola anjo tem como me encontrar na vila dos arqueiros agora à tarde? Ficarei por aqui o dia todo. Precisamos conversar.

                                                                                           Rob Wood

 

-         O que ele quer? - perguntou Joo enciumado.

-         Hã?

-         É do seu amigo bardo não é?

-         É, quer que eu vá a vila dos arqueiros falar com ele...

-         Hm, certo só não volte tarde. Não quero que fique doente. – Interrompeu Joo colocando o elmo angelical em sua noiva e depois beijando lhe as mãos. – Não se preocupe, agora eu sei que não tenho mais por que ter ciúmes.

 

Victoria olhava para as nuvens carregadas que cobriam Payon, ficou feliz por ter trocado o fino véu que cobria seus barcos pela grossa capa bordada. As frondosas árvores que erguiam a Vila dos Arqueiros haviam perdido a maioria de suas folhas, as janelas das casas altas estavam todas fechadas para protegerem seus habitantes das rajadas de vento gélidas do inverno.  A odalisca parou alguns minutos no caminho que dava ao centro comercial da Vila, uma aprendiz carregada de troncos corria em direção a Guilda dos arqueiros, Victoria se lembrou de seus primeiros dias como arqueira, de quando conheceu Rob, foi quando se deu conta do fino som que vinha no vento, a jovem sorriu e continuou caminhando até a entrada da caverna de Payon.

Perto da cerca que impedia alguns desavisados de caírem do barranco que separava os caminhos da vila dos arqueiros, um pequeno grupo de pessoas se reuniam em volta de um bardo. Victoria ficou parada observando a fina névoa dourada da canção de Idun se espalhar por entre os curiosos, demorou alguns minutos pra todos se espalharem novamente e o bardo poder se sentar.

-         Foi uma bela apresentação. - disse Victoria se sentado ao lado de Rob Wood.

-         Você demorou, achei que não vinha mais.

-         É, vim devagar, estava pensando.

-         Posso saber no que?

-         É que, bom já faz algum tempo que vim aqui pela primeira vez, só estava relembrando.

-         É Payon também me traz boas lembranças.

-         Quais? – Perguntou Victoria de súbito, ficando um pouco corada, estava querendo ouvir seu nome, não podia desejar isso.

-         Muitas, mas em geral este ano que fiquei em Glast Helm senti falta de duas coisas. – disse hesitante - Do sol de Payon e... De você.

Victoria a baixou o olhar, estava corada. No fundo ela desejava ouvir aquilo mas sabia que não era certo, a menina olhou para o lado buscando algo em que pudesse se prender.

-         Que é aquilo? – perguntou Victoria indicando um instrumento que aparentava ser um braço de violino quebrado. –

-         Um Gumoongoh, nunca tinha visto? – respondeu Rob depois de um leve sorriso ao perceber que a menina estava encabulada.

-         Não, passei tempo demais nas florestas, a muito que não me apresento com um bardo para rever instrumentos.

-         Entendo, bom eu ainda estou aprendendo a tocar, só algumas mulheres de Amatsu sabem toca-lo perfeitamente.

-         Hm, posso tentar?

-         É...Lógico. – disse o bardo passando o Gumoongoh para a jovem, um pouco desconfiado. – “Ela não deve saber tocar...”

-         Com certeza não vou conseguir tocar de luvas. – Disse Victoria apoiando um par de luvas brancas ao lado da perna e arrumando o Gumoongoh em seu colo.

Victoria olhou o instrumento por algum tempo, passava os dedos pelas cordas, parecia afinar o som. Rob ficou surpreso ao ouvir a melodia fluir as cordas do Gumoongoh, ele tentara tocar o instrumento por dias a fio e Victoria conseguia retirar uma doçe música de suas cordas em questão de minutos.Em pouco tempo algumas pessoas já observavam a odalisca que tocava tão habilmente aquele instrumento estranho, os olhos de Victoria haviam perdido seu brilho, ela parecia estar em transe quando deu seu acorde final.

-         Como... Como você sabe tocar isso? – Perguntou o Bardo boquiaberto.

-         Não sei. – respondeu Victoria chacoalhando a cabeça. – Estranho eu, só toquei, não sabia direito como.

-         É vejo que há muita coisa sobre você que eu ainda tenho que descobrir...

-         Ora, se fosse só você eu estaria feliz! – disse Victoria rindo.

-         Com licença. – interrompeu uma menina que se aproximava dos dois. – será que a senhorita poderia tocar novamente?

-         Ah me desculpe, mas, estou sem coragem.

-         Então lhe peço que dance, vim correndo quando ouvi a música, adoraria ver uma odalisca dançando.

-         Pretende se tornar uma? – perguntou Rob Wood.

-         Sim, mas ainda não tenho idade para me inscrever no Campo de Treinamento.

-         Bom, se é para deixar uma futura Odalisca feliz, eu danço! Acompanha-me? – perguntou Victoria a Rob.

-         Claro minha senhora.

Victoria mal podia acreditar que ali no mesmo lugar que eles se conheceram ela iria dançar pela primeira vez com Rob Wood. A doce melodia que saia do alaúde do bardo era bem conhecida por Victoria, em poucos movimentos da odalisca uma nevoa pratada começou a subir do chão envolvendo quem os assistia.

A maioria da “platéia” já abria a boca de sono quando Victoria fechou a mão por de trás do corpo, sinal para que o bardo parasse a musica, pouco a pouco a platéia se dispersou e Victoria ouviu ao fundo um “obrigado” da menina que corria em direção ao centro da vila.

-         Um pouco perigoso este dueto não? Não consegui identificar se estavam com sono pelo efeito da musica ou se estava dançando tão mal que os deixei entediados.

-         Imagine você esta dançando muito bem meu anjo.

-         Obrigada, - disse Victoria jogando sua capa por cima dos ombros - Está ficando frio, acho melhor voltar.

-         Eu te levo até sua guilda.

-         Não precisa, duvido que alguém me assalte aqui em Payon. Mesmo de madrugada as ruas daqui são seguras.

-         Ora quem disse que esse é o único motivo que me faz querer levá-la?

 

Foi uma caminhada silenciosa, talvez o frio diminuísse se ficassem quietos, ou talvez Victoria estivesse transparecendo a distancia de seus pensamentos a ponto de Rob não querer atrapalhar-la.

-         O que houve? – Perguntou o bardo seguindo o olhar de Victoria, que observava os primeiros vestígios da lua por entre as árvores de Payon.

-         Nada, estava... hmm pensando.

-         Posso saber em que?

-         Eu... Eu não sei. Algo me veio a mente quando vi a lua assim.

-         Esse queijo meio mordido? – perguntou o bardo rindo.

-         Hã?

-         A lua minguante parece um queijo no final na acha?

-         Não. – respondeu Victoria com a voz pesada.- Acho que ela marca uma época de mudanças, muitas mudanças para mim.

-         Ora pare. Esta me assustando!

-         Oi? Desculpe o que você disse? – perguntou confusa Victoria.

-         Você falando desta maneira, me assusta, nem parece a mocinha perdida que eu conhecia.

-         Mais eu não falei nada!

-         Como não? E esta historia sobre a lua?

-         Que historia?

-         A esqueça... Você deve ter se lembrado de alguma coisa, alguma coisa que não devia, eu acho.

-         Desta vez você que esta me assustando. – respondeu Victoria entre uma risada e outra.- Seria bom mesmo me lembrar de alguma coisa relevante, um pouco de emoção não iria atrapalhar minha vida em nada!

Rob Wood sorriu para a menina, não mentira quando disse se assustar, o tom de voz de Victoria havia mudado.

“Se foi melhor ela esquecer, não vou ser eu a faze-la lembrar-se” pensava o bardo enquanto caminhava para o Sul de Payon.

-         Sabe, foi bom mesmo você voltar a Payon, creio que aqui você possa passar um inverno mais confortável do que em Glast Helm. Tenho a impressão de lá ser tão medonho que nem o calor do sol se atreve a entrar.

-         Em parte sim, algumas coisas em Glast Helm fazem o mais corajoso dos Lordes correr como uma criancinha. Mas, não foi por causa do frio que voltei.

-         Não?

Perguntou Victoria olhando fixamente para Rob, o rosto de rapaz estava ligeiramente vermelho, talvez pelo frio, mesmo assim Victoria preferia pensar que era por outro motivo.

O olhar dos dois se encontraram e Victoria desviou-o para o chão, fazendo o bardo ter que se segurar para não rir.

-         Na verdade, voltei porque percebi quanta coisa esqueci por aqui.

-         A sim, você... Pretende voltar para Glast Helm?

-         Talvez, é mais provável que eu volte para lá se não conseguir recuperar o que esqueci aqui, se conseguir pretendo ficar em algum lugar mais... Suportável.

-         É muita curiosidade querer saber o que você esqueceu?

Rob Wood parou, o bardo olhava para as mãos como quem tenta ler uma folha de papel colada nas mesmas, a letra parecia pequena ao ver de Victoria, não era difícil perceber a ansiedade do rapaz.

-         Eu esqueci... Você.

Victoria parou chocada, não esperava, realmente ouvir aquilo.

-         C...Como assim?

-         Esta ultima carta que você me mandou, eu estava muito ferido quando a recebi. – disse apoiando as mãos na barriga, Uma possível cicatriz, pensava Victoria.- E bem, lá em Glast Helm eu não tinha ninguém, meus amigos já haviam voltado há algum tempo e só quando terminei de lê-la percebi como você fazia falta. Fiz amizade com varias moças e mulheres que estavam treinando por lá, mais nenhuma como você. A meu anjo você é tão novinha, mais realmente não se compara a nenhuma outra moça que conheço.

-         Não fale assim, fico encabulada. – disse Victoria tentando mudar de assunto, se ficasse um pouco mais vermelha seria confundida com um morango.

-         Ora mais é verdade, eu... Eu não sei bem como explicar mais senti uma saudade tão grande de você! Assim que melhorei fui para Prontera para de lá me teleportar para Payon e ver você, mais assim que pisei na cidade me chamaram para tocar no baile, não podia recusar aquele pagamento.

-         Por Odin, acho que vou congelar! – disse Victoria tentando novamente mudar de assunto, sem ser ouvida.

-         Vi eu, eu voltei aqui para ficar com você! Quando te vi nas escadaria do Kriemhild estava disposto a pular daquele palco só para falar com você, mais por Bragi foi um choque ver você com aquele caçador.

-         Eu ouvi você tocar, por isso desci correndo. Só que não te achei antes de ver o Joo.

-         Vi... Eu, eu quero ficar com você! Não consigo mais esconder isso, precisava falar com você, longe do... - Victoria não conseguiu conter o sorriso com a hesitação de Rob Wood – do seu noivo.

-         Eu, não sei o que lhe responder. Você não saiu da minha mente por meses, e... Bem agora eu estou noiva, não posso ignorar tudo que já aconteceu. A se você tivesse se dado conta disso alguns meses antes...

-         Antes eu nunca tivesse ido embora.

Rob se aproximou de Victoria, a odalisca estava gelada, a mão o bardo tocou seu queixo, não eram ásperas como as de Joo, nem cortadas pelas flechas, eram macias, tinham um toque diferente. Victoria fechou os olhos, sabia que se os abrisse aquela maldita lágrima que ela tanto segurara iria sair.

Uma brisa gelada varreu Payon e Victoria pode sentir os lábios do bardo encostarem nos seus, poucos segundos, Victoria se soltou dos braços de Rob Wood, o passo para trás fora tão hesitante que a odalisca achou que ia cair, as pernas estavam bambas, as palavras não saiam de sua boca.

-         Eu devo me desculpar? – Perguntou o bardo.

-         N...não. – Respondeu Victoria antes de desatar a chorar.

-         O que houve?

-         Eu... Eu não posso! Eu vou me casar em breve, isso não está certo! Foram tantos meses pensando em você, agora finalmente havia me decidido, não ia alimentar falsas esperanças.

-         Será que não sobrou nem um pouco de sentimento que você tinha por mim?

-         Se não tivesse sobrado, eu não estaria chorando. – respondeu Victoria nervosa, os punhos cerrados, se Victoria segurasse algo nas mãos tinha certeza que quebraria sem dificuldade.

-         Então eu posso criar alguma esperança de você voltar a olhar para mim do mesmo modo que olhava quando nos conhecemos?

Victoria parou de chorar, imagens pareciam correr em sua mente, logo ele, que ela julgara nunca ter percebido nenhum fio daquela paixão secreta parecia poder ler sua alma como se ela fosse uma criança que não consegue esconder a decepção de ter ganhado uma boneca feia.

-         Não foi só você que aprendeu a interpretar sentimentos, e, bom eu tenho alguns aninhos a mais de experiência.

-         Tem razão... – disse baixinho enquanto enxugava uma ultima lagrima – Bom eu, eu prometo que vou pensar. Mas entenda, não quero me decepcionar de novo.

-         Eu garanto que não vai.

A guilda dos Headmasters estava extremamente convidativa, pela luminosidade que saia de uma janela entreaberta a lareira deveria estar acesa, Tudo que Victoria queria agora era se esquentar e ficar um pouco sozinha.

-         Nos vemos amanhã? – perguntou o bardo.

-         Não sei, pretendo ir comprar algumas coisas em Alberta...

-         Sozinha?

-         Sim.

-         Posso ir junto?

-         É... Está bem. Nos encontramos na frente do palácio, 9 horas?

-         Ótimo. – disse o bardo beijando a mão de Victoria num sinal de despedida.- Até mais.

-         Espere. – interrompeu Victoria segurando o punho do bardo enquanto ele se virava.- Não quer jantar conosco? Tenho... Bem não é inteiramente uma certeza de que ser um bom jantar já que Daruane já deve ter queimado algo, mais prometo que não vai ser tão ruim.

-         É... Melhor deixar para outro dia. Boa noite. – completou o bardo se virando para a entrada da guilda.

Encostado na porta Joo observava a cena, parecia estar feliz, talvez por conviver tanto com Victoria tivesse aprendido a reconhecer o humor da pessoas. Definitivamente naquele momento as expressões de Rob não eram as mais felizes, enquanto Victoria havia aprendido a disfarçar seus sentimentos e reconhecer os dos outros ele só aprendera a identificar emoções simples. Era irritante para a odalisca ver a felicidade de Joo em ver que Rob estava quieto.

Victoria se voltou para Rob, mas o bardo já estava longe.

-         Aconteceu alguma coisa? – perguntou Joo.

-         Não, ele só queria que eu me apresentasse com ele.

-          Da próxima vez me chame, sabe como adoro ver você dançar!

-         Chamarei. – disse Victoria depois de dar um beijo rápido em Joo, estava cansada, precisava tomar um banho, relaxar, para quem sabe, pensar melhor sobre tudo que acontecera.

 

Victoria encostou uma de suas mãos na tina de água, estava quase fervendo, mas se ela colocasse água fria iria esfriar rápido demais para se tomar um bom banho.

A odalisca se sentou na tina, o brilho do anel de noivado fez com que ela levantasse uma das mãos. De um lado o diamante de Joo, de outro uma fina cicatriz lembrava o dia que Victoria conheceu Rob. A menina abaixou novamente a mão e se se encostou à borda, olhos fechados, seu corpo parecia pesar toneladas.

-         Vamos logo ai, o jantar esta quase pronto!- gritou Daruane do outro lado da porta, despertando Victoria.

A odalisca fez uma careta, provavelmente a comida estaria horrível. Já que neste ultimo ano ela havia se revelado uma ótima cozinheira Daruane estava sem pratica na cozinha, este trabalho ficava apenas para ela. Victoria se levantou e após se enrolar na toalha seguiu para o quarto, estava sem fome, mas seria deselegante não descer para o jantar.

 

-         Vamos Vi, pra que se arrumar tanto?-perguntava Daruane enquanto batia o pé para Victoria.

-         Deixe-me em paz pelo menos no Natal Daru!

-         Ora! Está bem desça quando estiver pronta, eu não vou ficar esperando.

A Arruaceira trajava um longo vestido vinho, Daruane ficava linda quando deixava Victoria a arrumar. “Pena que ela não vá ficar muito tempo assim” pensou Victoria vendo um fio do cabelo de Daruane já caído com a agitação da moça.

A odalisca se levantou para conferir o vestido no espelho que ficava no canto do quarto, o vestido marrom com alguns fios de ouro ficara perfeito nela. Victoria cobriu os braços com uma estola de pele de fumaçento e desceu para a sala.

-         Antes tarde do que nunca! – disse Joo abraçando Victoria quando a jovem parou do seu lado.

-         Demorei muito meu amor?

-         Um pouco. Bem, agora que estamos todos aqui vamos jantar?

Pela primeira vez em muitos meses a Headmasters estava toda reunida, Cute conseguira uma folga na Academia de caçadores, estava radiante, aquelas semanas tendo que se cuidar sozinha sem Victoria lhe dizendo o que fazer foram mais do que o suficiente para a menina amadurecer.

Victoria e Daruane passaram tantas horas preparando aquele jantar que nem se quer tocaram na comida, o cheiro da carne de Selvagem as enjoava, Daruane comeu apenas um pedaço de pêra com alguns fiapinhos de carne, já Victoria preferiu não passar de um pedaço de pão de aveia e um pouco de vinho.

 

-         Impressão ou alguém bateu a porta? – Disse Rafael se levantando.- Vi, é para você.

A jovem se virou para a porta, ao lado de Rafael, um rapaz usando uma calça marrom escuro, camisa de linho e uma pesada capa, a aguardava.

-         Feliz Natal Rob! – disse animada enquanto abraçava o amigo - Que bom que você veio sente-se.

-         Não Vi, eu vim... Fazer-lhe um convite.

-         Ora, pois então diga.

-         Vem comigo ate Prontera? Vários amigos meus vão estar lá e querem te conhecer.

-         Bem eu... – Victoria olhou para Joo, estava emburrado, mesmo assim ela não era mais uma menina, não devia obedecer as ordens dele, - Só vou pegar meu casaco! – Continuou subindo as escadas, com Joo em seu encalço.

 

-         Você vai?- perguntou Joo alterado.

-         Algum problema?

-         Sim! Acha bonito sair com outro homem no meio da noite?

-         Por Odin, é Natal!Você quer brigar hoje? Só vou conhecer os amigos dele, eles estão curiosos para saber quem sou eu.

-         Ele deve ter falado muito de você não é mesmo? – disse Joo sarcástico -

-         Pare de bobagens, volto logo, eu prometo.

Victoria vestiu seu casaco, a pele de Pé Grande a protegeria da Neve, e desceu as escadas de mãos dadas com seu noivo, mesmo contra a vontade dele, um beijo na bochecha e ela saia com Rob Wood em direção a Kafra de Payon.

 

Prontera estava branca, toda coberta por uma grossa camada de neve que devia ter caído durante à tarde, por sorte agora o tempo se acalmara.

-         Venha, vou deixa-la com eles e já volto.

-         Onde você vai?

-         É uma surpresa.

Victoria seguiu Rob Wood ate alguns metros do portão sul de Prontera, de longe se via uma fogueira em meio às árvores.

-         Ali? – perguntou a odalisca.

-         Sim, algum problema?

-         N...Não, só esta um pouco frio para ficar ao relento não?

-         Garanto-lhe que você não vai ficar com frio.

 

- Ora ora Rob! Ai está seu tesouro! – gritou um cavaleiro quando viu os dois se aproximarem, aquele alerta foi seguido de vários comentários entre o grupo que se reunia em volta da fogueira.

-         Quero lhes apresentar Victoria, uma grande amiga. – disse Rob se pondo do lado da jovem um pouco tímida.

-         É um prazer conhece-la, - respondeu o cavaleiro – não se acanhe, garanto que aqui ninguém morde.

-         Vou resolver umas coisas... Já volto certo?

-         Está bem, só não demore... – disse Victoria –

-         Cuide dela Eric!

Disse Rob Wood ao cavaleiro antes de voltar para Prontera com uma asa de borboleta.

 Victoria não imaginara como uma reunião simples como aquela fosse tão alegre, não foi difícil se enturmar com os amigos de Rob, eram todos alegres, ou o vinho já estivesse fazendo mais efeito que o esperado, todos levavam alguma cicatriz visível, o que fez Victoria pensar que já eram guerreiros experientes.

 

Victoria já estava preocupada, estava esperando Rob há algum tempo, logo teria de voltar para casa, queria pelo menos se despedir.

-         Demorei? – perguntou o bardo que chegava perto do grupo. –

Victoria não conseguiu conter o riso, Rob estava vestido com roupas vermelhas de Papai Noel e carregava um enorme saco na costas.

-         Está lindo meu amigo! – gritou um monge sentado bem próximo a fogueira.

-         Aqui estão seus presentes.

Rob entregou caixas e embrulhos a cada um que se reunia em volta da fogueira.

-         Aqui está o seu meu anjo. - disse enquanto entregava dois embrulhos a Victoria, um pouco sem graça.

A jovem abriu os pacotes, no primeiro, havia um chicote feito de caudas de rabo de verme, um ótimo chicote, mas o que mais surpreendeu Victoria fora o outro presente, em meio às folhas de seda, uma rosa vermelha.

-         Eterna, para que você sempre se lembre de mim.

-         É linda, nem sei como lhe agradecer...

-         Não precisa.

-         Eu... Tenho que ir prometi que voltaria logo.

-         Certo eu te levo.

Prontera estava totalmente vazia, Victoria acreditava já passar da meia noite, deviam estar preocupados com ela, principalmente Joo.

A Kafra da entrada Sul de Prontera estava recostada na parede, realmente devia estar tarde, já que a moça estava de olhos fechados.

-         Com licença senhorita. – chamou Rob Wood.

-         S... Sim? Perdoem-me, estou cansada.

-         Imagine, eu e a senhora ao meu lado gostaríamos de ir a Payon.

-         Certo, a quantia... A sim obrigada senhor. Vou... – disse entre um bocejo e outro – Envia-los a Payon.

 

Já se podia ver a guilda dos Headmasters da distancia que Victoria e Rob se localizavam. A odalisca percorreu o prédio com os olhos, o único vestígio de luz vinha do quarto de Joo.

-         Já pensou?

-         Hã? Desculpe não ouvi.

-         Estava longe não é?

-         Um pouco...

-         Já pensou na proposta que fiz?

-         Bem eu... Eu estou pensando.

-         Certo, quando tiver uma resposta me procure esta bem? Não irei embora de Payon antes de você se decidir.

Os dois já estavam em frente à porta da guild, Victoria virou se para se despedir de Rob, que a surpreendeu com outro beijo. Surpresa a jovem entrou correndo, nem mesmo viu Joo sentado em sua cama lendo, apenas correu para seus aposentos.

Daruane e Cute dormiam pesadamente, Victoria jogou as caixas do lado de sua cama, retirou seu casaco e vestido, a camisola nunca parecera tão difícil de se colocar. Não foram necessários mais que alguns segundos para ela poder se encolher junto a suas cobertas.

Mil pensamentos vinham à mente da odalisca, não podia continuar assim, por mais que doesse admitir, ela estava se enganado, algo nela ainda estava preso a Rob.

“ Não posso fazer isso com ele, não com ele... Por Odin o que eu faço!”

Odin nada respondia. No fundo Victoria sabia o que devia fazer, uma lágrima escorreu pela bochecha da jovem, sim ela sabia o que fazer.

 

Seria uma linda manhã se Victoria não tivesse acordado com o rosto tão inchado e com um olhar que assustara até mesmo Gustavo ao trombar com a Odalisca no corredor.

-         Bom dia! – disse Joo se levantando da soleira da porta e indo em direção a Victoria – Dormiu bem?

-         Mais ou menos...

-         Ora, o que houve?

-         Nós... Nós temos que conversar.

Rafael descia as escadas, a expressão de Joo fez com que o mercenário recuasse, Daruane que também descia as escadas foi silenciada por Rafael.

-         O que foi? – sussurrou Daruane.

-         A Vi e o Joo, acho melhor não atrapalhar.

 

-         O que aconteceu? – perguntou o caçador aflito.

-         Todos nós temos o direito sermos felizes não é?

-         Lógico meu amor.

-         Ate mesmo nós dois certo?

-         Não sei por que, mais acho que você não está mais feliz comigo.

-         Eu... Entenda eu não posso mais ficar com você. - disse Victoria entregando o anel de noivado a Joo.

-         Mais por quê?

-         Eu, ontem, eu percebi que não posso te enganar mais, você, a você é muito especial para mim Joo, mais entenda, o que eu sentia por Rob, ainda não desapareceu por completo.

-         Então, todo esse tempo, era tudo mentira?

-         Não! Eu gosto de você, mas, não é a mesma coisa, eu... A eu não sei o que fazer.

-         Então por que não esquecemos isso meu amor, logo nos casaremos, e você vai esquecer dele em uma semana, prometo que vai. – disse Joo abraçando Victoria, que se debulhava em lagrimas.

-         Não! – respondeu a Odalisca se soltando – Não mais! Eu... Eu não posso continuar com isso, não quero sofrer, muito menos fazer você sofrer!

-         Acha que vou ficar como com você terminando com tudo assim? Acha que ficarei feliz?

-         Entenda vai ser melhor assim.

-         Melhor assim? Ora seria melhor eu nunca ter te conhecido então!- disse Joo alterado.

-         Você realmente acha isso?

-         Acho!

-         Você não entende? E estou fazendo tudo isso por que não quero que você sofra mais, seria pior me casar com você e depois jogar tudo para o alto.

-         Será que você não entende? Eu abri mão de recrutar um excelente bruxo para recrutar você para esse maldito clã! Abri mão da minha liberdade para ficar só com você e agora você toma uma atitude egoísta como esta?

O sangue de Victoria começava a ferver, uma troca, será que era tudo que ela significava para ele? Ela tinha certeza de que levaria ótimas recordações de todo este tempo que passara com Joo, mais depois dessa declaração tudo que haviam passado pareceu desmoronar.

-         Então pode recrutar este Bruxo magnífico para o clã! Eu não faço mais parte do Headmasters!

Victoria arrancou o broche com o emblema do clã Headmasters, não iria chorar ali. A odalisca não se importou com os gritos de Joo, apenas abriu a porta da guilda e desapareceu com uma asa de mosca.

 

Onde antes ficava o broche da Headmasters, agora não passava de um furo. Por sorte Victoria havia parado ao lado do palácio de Payon,não seria difícil chegar à estalagem que Rob se encontrava, naquele momento era a única pessoa com que Victoria podia contar.

 

Uma batida forte na porta assustou o bardo que, sentado em sua cama afinava um velho alaúde. Rob Wood apoiou o instrumento no chão e foi abri-la.

-         Eu... Eu não consegui ficar lá. – disse Victoria entre um soluço e outro.

-         O que aconteceu? – perguntou o Bardo puxando a jovem para dentro e fechando a porta.

-         Eu escolhi você, acabei tudo com Joo, e... Ele falou coisas horriveis, eu deixei o Headmasters.

-         A meu amor, não chore. – dizia o bardo abraçando Victoria.

-         Quero ir embora daqui.

-         Nós iremos esta bem? Amanha mesmo podemos ir para algum lugar treinar juntos... Como quando nos conhecemos lembra-se?

Victoria respondeu com um leve sorriso e um aceno de cabeça.

-         Sente-se um pouco, você consegue ir buscar suas coisas hoje?

-         Sim, o quanto antes romper minha ligação com aquele clã melhor.

 

O ar na guilda do Headmasters estava pesado, provavelmente nevaria durante a noite, já que mesmo agora no meio da tarde a lareira parecia não esquentar. A porta se abriu bruscamente fazendo uma brisa gelada invadir a sala. Nenhum dos membros do clã jamais vira Victoria daquela maneira, estava séria, um olhar fulminante passou entre ela e Joo antes da moça subir para seus antigos aposentos, seguida por Daruane.

-         O que aconteceu Vi?

-         Acabou Daru, acabou Headmasters, acabou noivado, acabou tudo que me ligava a este clã!

-         Como assim? E eu? E a Cute e todos os outros que te adoram?

-         Vou lembrar sempre de vocês, mas agora não quero ter mais nada haver com esse clã.

Victoria já havia jogado todos seus pertences na mala, o aljave no ombro, e sua bolsa de viagem enganchada no lado do braço.

-         Prometo que lhe escrevo minha amiga. – Disse Victoria saindo do quarto.

Na sala Rafael e Sastam olhavam para a menina carregando a bolsa para fora da casa.

-         Adeus!

Disse Victoria ao sair. Do lado de fora, Rob a esperava.

-         Tudo certo? – perguntou o bardo.

-         Sim, só vou sentir falta dos meus amigos.

-         Não vai ser para sempre, podemos voltar para você revê-los, em alguns meses esse ódio vai passar.

Victoria olhou para o jardim, onde outrora se encantara por um certo caçador, agora se decepcionava.

-         Olhe. – apontava Victoria.

-         O que meu anjo?

-         As flores, ali quebradas, eu as plantei.

-         Ora e por que estão assim todas caídas e esmigalhadas?

-         Por que eu as plantei quando comecei a namorar com Joo, eu falava que enquanto aquelas flores estivessem vivas eu o amaria. Elas resistiram até ao inverno, mas acho que ele não conseguiu vê-las hoje de manhã depois da nossa briga.

Rob tomou a mala das mãos de Victoria e fez sinal para que ela o acompanhasse, logo anoiteceria, logo eles deviam se preparar para a viagem.

Victoria olhou para trás, lá estavam suas flores caídas, mais nada a prendia aquele lugar... Nada.

Ai esta ^^

Dps de muita demora saiu o cap 10 \o/.

I gente comentem .. kero saber o que estaum achando e tambem se corri demais com a historia...

=*

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A meo tadinha da Vih...ela n keria magoa mais eli [/snif]. Okay eu falo, no prox cap vai ter um choque de conciencia por ai... que provavelment vai me faze fik emocionada na frent do word...

@Sakura: Vc parou na casa du seu amiguinhu em prontera com um menininhu ki vcs estavaum ajudando (Y) Prontu agora vc continua a sua fic? *-*

Ps: Ke bom, achei ke tinha corrido pacas nessi cap

 

Brigada ai ^^~ Bem, vou tentar continuar e dar um Ressucitar overpower na minha fic... Quem sabe

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Sua fanfic está realmente interessante. Largo horas de up pra ficar lendo. É um pouco chato só o fato de demorar muito o espaço de tempo de um capítulo ao outro, mas eu compreendo que necessita de muito tempo mesmo.

Anh? Não entendeu? Ok eu vo tentar falr na sua língua

Vi , I 

(Brincadeiras a parte, meus parabéns voce é uma ótima escritora.)

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É eu demoro um pouquinho para escrever os capitulos porque não é td dia que fico inspirada, prefiro demorar um poquinho mais e ñ fazer caca. Mas que bom que vc gostou da fic e mtu obrigada pelos elogios.

Importante: Gente esse cap pode demorar um pouquinho mais p sair porque estou desenvolvendo um site p/ as minhas Fics, então alem e ter que fazer td parte de design ainda estou tentando avançar um pouco mais os caps das minhas fics paralelas.Copntinuarei a postar Uma Alma Dividida Entre Dois Mundos aqui, ja as outras fics pretenos deixar quietinhas la msm. Bom, quando terminar posto o link aqui e obrigado pela paciencia de esperar minah inspiração dar as caras.

=**

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Capitulo 11 – Nunca Mais 

-         Chega! – disse Victoria ofegante se recostando na arvore mais próxima a ela.

-         Quer voltar? – perguntou Rob se sentando aos pés da jovem.

-         Quero, até chegarmos ao alojamento já vai estar escuro... É perigoso.

Victoria passou a mão pela aljave, as flechas de cristal haviam acabado, restavam poucas de fogo, era realmente arriscado continuar ali..Rob se apoiou em seu Broquel para se levantar, o escudo estava medonho, coberto de espirros de sangue de Orc causados pelas flechas de Victoria.

O sol já havia ultrapasado a linha do horizonte quase por inteiro quando os dois cruzaram os limites da vila dos Orcs do Leste, para Victoria isso era um alivio já que sem Rob a seu lado, era uma presa fácil para os Grandes Orcs que ali viviam.

-         Preciso de flechas...

-         Amanha compraremos, provavelmente virão muitos mercadores.

-         Não acha que devíamos ir a uma cidade comprar? Assim você também poderia arrumar esse seu escudo, já esta ficando amassado...

-         Ora ora mocinha esta querendo fugir do treinamento?

-         Não, fugir não, só descansar. Já estamos aqui há dois meses, estou cansada... E olhe meu estado! Tenho sangue de Orcs até nos brincos!

Rob riu, sabia que estava exigindo um pouco demais da odalisca que a muito estava acostumada com os Guardiões da floresta, sempre parados e fáceis de matar, mas se ela quisesse mesmo aprimorara suas habilidades não poderia continuar apenas brincando de treinar.

-         Amanha ficaremos por perto esta bem? Vou dar um pouco de descanso para você.

-         Eu preferia descansar em Geffen... Em uma cama de verdade, comer numa mesa de verdade, tomar um banho sem me preocupar se algum Orc vai estourar a parede...

Rob não conseguiu conter a risada enquanto a odalisca se dirigia a fila da sala de banho. 

Victoria podia sentir cada músculo de seus braços doer, havia sido um dia bem puxado. A jovem olhava para os lados a procura de Rob, havia saído do banho já há alguns minutos e não o achara.

-         Vi! – gritou o bardo de um canto do saguão fazendo um sinal para que a odalisca fosse a até ele.

Enquanto desviava das pessoas que descansavam Victoria observava a pessoa que estava na companhia de Rob, um homem alto com alguns cabelos brancos, usava uma calça marrom clara e um sobretudo branco com os detalhes da borda vermelhos. Victoria se esforçou para lembrar daquele uniforme, mas só o reconheceu quando já havia pareado do lado de Rob, o rosário banhado a ouro no peito do senhor indicava claramente, um Sumo Sacerdote.

-         Senhor esta é minha namorada, Srta. Victoria Mouyal.

-         É um prazer senhorita. – disse o homem olhando friamente para Victoria – Bom Sr. Wood, nos vemos entro de uma semana certo? – completou estendendo a mão para o bardo.

-         Sim senhor, ate lá. – disse o bardo retribuindo o cumprimento. –

Cuidadosamente o Sumo Sacerdote apoiou uma gema azul no chão fazendo com que um portal se abrisse em sua frente.

-         Que Odin os proteja! – Disse pouco antes de entrar no portal.

-         O quer aconteceu? – perguntou Victoria intrigada.

-         Nada meu anjo, esta melhor?

-         Sim, só com sono. – respondeu Victoria bocejando. 

Victoria parou na escada do alojamento, a julgar pela densa névoa e pela lama no degrau em que estava devia ter chovido durante a noite.

-         Nada bom... – disse a jovem sem ser ouvida. - Acha que conseguiremos treinar assim?

-         Algum problema para você?

-         Muitos... Da mesma maneira que os orcs não nos vêem também não podemos vê-los!

-         Se o problema for só esse podemos ir para a Vila do Leste... Lá não deve estar tão ruim...

-         Não! Vamos esperar mais um pouco, quem sabe lá pelas 9 horas esse nevoeiro já tenha passado.

A odalisca apoiou a aljave já carregada no chão e se sentou um degrau acima, Rob fez o mesmo com seu escudo e se sentou ao lado da moça.

-         Não sei como você agüenta segurar aquelas... Coisas, enquanto eu ataco. – disse Victoria olhando para o escudo de Rob.

-         Bom, a essência de Sapo de Thara ajuda muito, mas bom, eu sempre treinei muito para agüentar ataques...

-         Mais um bardo... Agüentar ataques desse jeito é estranho. Sabe, eu já treinei atacar com chicotes e escudos ao mesmo tempo, mas mesmo assim não me imagino fazendo tudo aquilo contra os Orcs...

-         Bom eu, - Interrompeu Rob um pouco cabisbaixo – na verdade eu não treinei para me tornar um bardo, isso era a vontade dos meus pais.

-         Mas, você não é grandinho o suficiente para escolher que caminho seguir?

Rob riu.

-         Agora sou, mas quando se vê seus pais trabalharem a vida toda só para poder pagar aquele maldito treinamento de aprendizes, você acaba se sentindo em divida com eles.

-         Então deixou eles decidirem toda sua vida?

-         Eu ficava feliz de vê-los felizes, mas agora que eles não estão mais aqui... - Victoria sorriu, não imaginava que os pais de Rob haviam morrido – Eu resolvi me dedicar a o que eu sempre quis.

-         E, posso saber o que é?

Rob suspirou, Victoria olhou para as mãos do bardo, se apertavam, ele estava visivelmente nervoso.

-         Bom, eu teria que contar isso hoje de qualquer jeito...

-         O que? – Perguntou Victoria se virando para o bardo.

-         Ontem, aquele senhor veio me avisar que aceitaram promover meu teste na Catedral.

-         Na catedral? Teste para que? – Victoria estava pálida, algo a dizia que o caminho que Rob seguira, não seria o mesmo que o dela.

-         Para o Sacerdócio meu anjo, tudo que sempre quis foi me tornar um sacerdote.

-         Mas, um sacerdote? E... E nós?

-         Acredite isso foi o que mais pesou na minha decisão, mas, eu não quero mais esta vida.

Victoria se levantou de tal maneira a assustar o bardo, seus punhos cerrados já ficavam vermelhos da força que a moça empregava nas mãos.

-         Se já havia decidido isso, então por que fazer isso comigo?

-         O que quer dizer?

-         O QUE EU QUERO DIZER? Se já sabia que não ia poder ficar comigo, por que bagunçar minha vida?

-         Eu não imaginava que iriam me aceitar meu amor, não fique assim. Eu... Pretendia continuar com você.

-         Ah claro, posso saber como? – perguntou Victoria com ironia.

-         Prometi aquele sacerdote que terminaria tudo com você, mas, bom eu ia te propor...

-         Propor-me...

-         Que continuássemos namorando, só que, em segredo. Eu não quero perder você Vi.

A odalisca a esta altura já estava vermelha de raiva, havia jogado não só um relacionamento muito especial com Joo fora, como também havia jogado todos os dias felizes que passara com seus amigos de Headmasters, pessoas que ela considerava sua família.

-         Você realmente acha que eu iria me prestar a esse papel ridículo e me encontrar às escondidas com um sacerdote? - Rob estava imóvel, nunca havia imaginado que aquela menina doce e simpática poderia falar com tanta frieza. – Se achou que sim, você realmente não me conhece!

Victoria abaixou, recolheu seu aljave e enquanto o prendia na cintura se dirigia para o meio das brumas.

-         Me perdoa? – Disse Rob segurando-a pelos ombros

-         Não! E me faça um favor, nunca mais me procure! - Victoria se soltou de Rob e se perdeu em meio a nevoa.

Uma flecha, duas, três, cada flecha lançada contra os zenorcs os atirava para trás, normalmente Victoria não gostava de usar flechas de fogo, as chamas que se espalhavam pelos monstros quando o pedaço de Sangue Escarlate os tocava não era exatamente feliz, mas excepcionalmente hoje não importava se eles agonizavam enquanto pegavam fogo.

Victoria estava seca, não derrubaria uma lágrima agora, nem nunca mais. Um chon chon de Aço cruzou a frente de Victoria, a corda do arco se esticou tanto que assim que uma flecha foi disparada contra o mosquito ele se partiu ao meio.

-         Droga! – Disse Victoria jogando os pedaços do arco de lado e sacando seu punhal, a primeira investida do monstro contra a jovem e ele já estava cravado na parede da caverna.

Victoria puxou seu punhal e limpou o sangue da criatura em sua malha, enquanto as cinzas restantes do monstro se depositavam no chão da caverna a jovem odalisca recolhia uma asa de borboleta presa à parede. Fechou os olhos, apenas um lugar vinha a sua mente, as grandes Árvores, o palácio... Victoria assoprou o par de asas que contornaram seu corpo espalhando uma poeira dourada, em instantes ela pode sentir o vento refrescante, ouvir o som das folhas se balançando nas copas das arvores, Payon sempre fora seu porto seguro. 

Longos minutos de caminhada, Victoria já podia ver a guilda dos headmasters um pouco à frente, a jovem se olhou dos pés a cabaça, mesmo sendo de manhã estava com uma aparência péssima, até suas vestes de dança estavam manchadas com o sangue groso e fétido dos Grandes Orcs.

Abandonada, era a palavra que descrevia a casa que outra hora Victoria morara, os jardins estavam secos, janelas fechadas, até mesmo a entrada não parecia ser limpa há muito tempo. Victoria ficou parada em frente à entrada da guilda, precisava conversar com alguém, sua ultima esperança era Daruane, mas definitivamente a rogue não estaria lá. A odalisca abaixou a cabeça, uma lagrima tímida escorria por sua face.

-         Nada volta... – sussurrou a odalisca.

-         Vi? – perguntou Gustavo saindo de dentro da casa.

Os olhos da odalisca se encheram de água, Victoria subiu as escadas correndo e se atirou na direção de Gustavo o abraçando. O mercenário um pouco confuso não pode deixar de notar as lagrimas que escorriam pelo rosto da odalisca sem que um mínimo esforço. 

-         Tome. – disse Gustavo entregando uma xícara de chá à odalisca sentada em uma grande almofada na sala já empoeirada do que há algum tempo fora sua casa. - Agora Vi o que houve?

Victoria olhou para o mercenário sentado a sua frente, ele a havia recrutado para o clã e desde então se mostrou um amigo extremamente confiável, alem de passar a ela um certo ar paternal, sempre preocupado em cuidar de sua protegida.

-         Eu... Eu nunca devia ter ido embora! – disse Victoria entre um soluço e outro antes de desatinar a chorar novamente. – Eu não sei onde estava com a cabeça, sou uma boba mesmo!

-         Não Vi, você estava apaixonada, ou melhor, eu creio que ainda está, não está?

-         Não mais, houveram alguns problemas e eu descobri que ele não pensou em mim nem por um segundo quando saímos daqui.

-         Eu devo perguntar o que aconteceu?

-         Eu preferia que não, quero me livrar disso o mais rápido o possível! Agora, o que aconteceu aqui? – perguntou Victoria enquanto observava em volta. - Onde estão todos?

-         Bom Vi, depois de toda aquela confusão, sabe o Bruno ficou um pouco irritado, ele passou dois dias trancado no quarto com o Lance, e depois ele ficou fora por mais alguns dias.

-         Como assim? Ninguém sabia onde ele tinha ido?

-         Não, ele saiu sem avisar ninguém, Daruane quase morreu, mas não deixamos ela ir atrás de vocês! Sabe ela achava que se ele voltasse e você estivesse aqui esperando ele iria se acalmar e tudo voltaria ao normal. – Algumas lágrimas teimosas ainda insistiam em escorrer pelo rosto da odalisca – Como não podíamos fazer nada a respeito de vocês lá fora Daruane resolveu arrumar as coisas lá em cima porque, bom Vi...Era segredo, mas acho que não importa mostrar a você agora.

Ela seguiu o mercenário escada acima, se estivesse sozinha Victoria suspeitaria que a casa estivesse abandonada de tão suja.

-         Aqui. – Gustavo indicou a porta do quarto de Joo apenas recostada.

Foram necessários alguns minutos para que Victoria pudesse se recuperar da surpresa, definitivamente não era mais o quarto bagunçado de um moleque, a cama bicada havia sido substituída por uma nova, com rosas entalhadas por toda sua volta, tapetes, cortinas, moveis tudo fora trocado, o quarto parecia irradiar mesmo estando sujo.

-         C-Como?

-         Bom você passava muito tempo treinando e ele passou algumas semanas arrumando tudo, abra aquele armário.

Gustavo indicou um armário parecido com a cama em seus detalhes a Victoria. Dentro do armário para a surpresa da jovem havia um vestido branco realmente deslumbrante, por todo o bordado haviam sido espalhados diamantes e acima dele uma caixa de veludo vermelha que Victoria pegou em suas mãos, lá estava, reluzindo para ela, uma tiara prateada cravejada de diamantes e algumas opalas.

Enquanto colocava a caixa novamente na prateleira do armário ela notara algo, uma caixa simples de madeira um pouco mais ao fundo, com a caixa na mão Victoria se sentou na cama, sendo seguida por Gustavo.

-         Essa era a surpresa. – Disse o mercenário abrindo a caixa apoiada no colo de Victoria.

Dentro dela a odalisca pode observar um contrato de aluguel, convites e alguns outros papeis que ela não teve mais coragem de mexer.

-         Ele... Fez tudo sozinho?

-         Bom Daruane ajudou no vestido e eu fui com ele comprar alguns diamantes, mas de resto ele planejou tudo sozinho, a igreja já havia sido reservada para três dias atrás.

De olhos fechados Victoria se pegou imaginando sua entrada na catedral de Prontera, todos comentando de como ela estava linda, e no altar olhando para ela aquele que era o grande amor de sua vida. Ela sacudiu a cabeça para desviar tais pensamentos.

-         Mas, isso não explica por que a casa esta neste estado, o que houve com todos eles?

-         Provavelmente em Alberta, o navio deles parte amanhã.

-         Navio?

-         Sim, bem Joo queria novos ares e sua Majestade esta recrutando aventureiros para as expedições, ele Daruane e Rafael embarcam amanhã, o resto do clã já foi.

-         Eu... Mas por que você ficou?

-         Bom Joo me encarregou de vender esta casa, metade do dinheiro fica para mim e o resto eu devo por no armazém dele.

-         Entendo... Você falou que eles embarcam amanhã certo?

-         Sim.

-         Eu tenho que falar com ele, não vou me perdoar se ele for embora sem ao menos eu aceitado minhas desculpas.

Victoria se levantou e em fração de segundos já estava batendo a porta de entrada, enquanto Gustavo se levantava para ir atrás dela.

-         Vi! – gritou ele enquanto a menina andava apressada em direção ao centro de Payon. – não acha que deve descansar esta noite? Você está me parecendo muito cansada, eles só saem amanhã depois do almoço, vocês terão tempo de conversar.

-         Vo... Você tem razão, eu estou mesmo horrível não é? – perguntou a odalisca se virando para Gustavo, ele adorava vê-la sorrindo, mesmo que fosse um sorriso um pouco forçado. 

Victoria se olhou no espelho do quarto que um dia fora seu e de Daruane, estava tão sujo quanto o resto da casa, mesmo assim ela se sentia bem nele.

Ela deu uma ultima olhada enquanto arrumava o Elmo Angelical em sua cabeça, Gustavo tinha sido um amor em ir buscar vestes novas para ela na guilda, as antigas estavam tão gastas e manchadas que seria uma vergonha para a guilda uma odalisca andar assim.

-         Vamos? – perguntou Victoria encontrando Gustavo parado no jardim-

-         A sim, vamos. Sabe, vou sentir falta daqui.

-         Eu também, você nem sabe como eu senti falta de vocês.

-         Nos também sentimos Vi... Você é muito querida por todos daqui. 

Quando Victoria pôs seus olhos em Alberta pela primeira vez, achou a cidade maravilhosa. As ruas de pedra branca combinando com as casas também brancas e seus telhados azuis. E também as flores, vasos e jardineiras para todos os lados coloriam a cidade. Já na parte baixa do porto só era salva pelo imenso cais onde vários barcos estavam aportados, olhando para trás a bagunça causada pelas inúmeras caixas, cordas, pedaços de barco e homens saindo de bares de quinta categoria poluía a bela paisagem.

-         Bonito o mar não?

-         Sim, - respondeu Victoria olhando mais atentamente para o vasto azul a sua frente – nunca tinha visto.

-         Não?

-         Não.

-         Ora então deve vir aqui com mais tempo algum dia, sabe pode não ser muito agradável conviver com algumas destas pessoas – o mercenário fez menção a um marinheiro cambaleante que conversava com um gato em cima de uma pilha de caixas – mas o por do sol daqui é fantástico!

-         Ah eu acredito que sim... – mas Victoria foi interrompida por um rapaz que chamara pelo dois em um cais a alguns metros de distancia.

-         O... O que fazem aqui?

-         Bem... – disse Gustavo olhando para Victoria parada um pouco trás dele – acho que a pergunta não foi para mim. Acho que, bem vou ajudar alguém a parar de beber. – Disse já se retirando em direção ao homem que ainda conversava com o gato.

-         Me... Desculpe-me. – sussurrou Victoria, mas ela sabia que ele a tinha ouvido – Eu fui uma idiota, me perdoe! – em prantos a odalisca abraçou Joo ainda imóvel.

-         Isso não devia ter acontecido conosco Vi... – disse o caçador passando os braços por Victoria, abraçando-a. 

-         Bem eu... Sinto muito. – disse Joo depois de ouvir as razoes de Victoria ter voltado. 

-         A por favor, não diga que sente muito, isso me deixa pior. 

-         Por quê? 

-         Me faz pensar que... Que eu nunca faço nada certo. – disse Victoria antes de voltar a chorar. 

-         A Vi, não chore. – Joo acenou para um garçom que passava perto da mesa que ele ocupava. - A conta, por favor. 

-         Você parte hoje não é? 

-         Sim, na verdade meu barco parte daqui a meia hora. 

-         Eu... Não queria que você fosse.  

-         Por que não? 

-         Porque, você é tudo que eu tenho, ou melhor, acho que tenho. 

Joo olhava nos olhos de Victoria, ele sabia que se desistisse agora arrumaria problemas com o rei, mas aqueles olhos o faziam desistir de tudo.

-         Vi, - disse Joo pegando nas mãos de Victoria – eu não posso desistir agora, arrumaria muitos problemas. Não só para mim, mas para todos do clã.

-         Eu não estou pedindo para você desistir, já arruinei sua vida uma vez, não quero te atrapalhar de novo.

-         Você nunca me atrapalhou. – A jovem sorriu – Temos que voltar, se não conseguir pegar esse barco terei graves problemas.

-         Eu, eu acho que vou ficar aqui.

-         Por que não vir comigo?

-         Eu prefiro não ter que me despedir de novo.

-         Ora deixe de bobagens, eu prometo que volto Vi, e quem sabe você ainda esteja disposta a arriscar mais um pedacinho da sua vida com um humilde caçador como eu.

Joo deixou algumas moedas de ouro sobre a mesa e os dois saíram do bar. 

-         Joo tome, é seu. – disse Victoria entregando seu Elmo Angelical ao caçador já na rampa que dava para dentro do grande barco. –

-         Não Vi, eu dei para você, não o quero de volta.

-         Então... Poderia aceitar como uma lembrança minha?

-         Nessas condições, eu não posso recusar. – disse pegando o Elmo das mãos da odalisca. – Então fique com isto, você sempre gostou dele, agora é seu! Uma lembrança minha.

Victoria sorriu enquanto pegava o Gakkung de Joo, três passos para trás e ela estava no cais de Alberta. O barco começava a se afastar, Victoria não tirou os olhos de Joo que acenou para ela e murmurou algo que ela entendeu como “Eu volto!”. Com o barco a pouco mais de 30 metros da costa Victoria viu a figura de uma arruaceira surgir na proa acenando animadamente para ela, Victoria retribuiu o aceno e se dirigiu ao interior da cidade. 

O vento que trazia a brisa salgada do mar agora estava mais frio, Victoria se sentiu tentada a voltar ao cais para observar o por do sol como Gustavo havia sugerido, mas preferiu ficar afastada daquele lugar por algum tempo.

Ela podia ouvir uma musica animada vir de um dos estabelecimentos da beira do cais, Victoria não se importou daquele ser um lugar onde boas moças não eram vistas, ela precisava de algo quente para poder continuar a treinar por ai.

Dentro do bar podia-se sentir um cheiro forte de bebida, e vários marinheiros observavam uma moça, um pouco mais velha do que Victoria, dançar no palco improvisado. Victoria olhou cuidadosamente a roupa da menina, ela definitivamente não era uma odalisca, só mais uma das que não conseguiam entrar na academia e por isso andavam por ai auto-intituladas “odaliscas”. Manchavam o nome da guilda vendendo sua arte por ninharias em lugares fétidos e repugnantes como aqueles.

-         Deseja algo senhorita? – perguntou um garotinho puxando a cadeira de uma mesa próxima para que ela se sentasse.

-         A sim, um chá de ervas brancas e capim limão seria maravilhoso. – respondeu sorrindo.

-         É para já senhorita! – o garoto saiu correndo e desapareceu por trás de um balcão. 

-         Aqui senhorita. - Disse um homem alto e barbudo pondo uma grande xícara de chá na frente de Victoria – Mais alguma coisa?

-         Sim... Quem é a moça? – perguntou apontando para o palco.

-         Leny, ela ate que dança bem, é um bom show para um bar sabe, ter uma odalisca.

-         Ela não é uma odalisca!

-         O que disse senhorita?

-         Ela não é uma odalisca, Bowarju jamais aprovaria alguém com estes movimentos.

-         Suponho que a senhorita possa fazer melhor que ela?

-         Eu posso, mas não danço em lugares como esse.

Victoria levou o ultimo gole de chá a boca, deixou algumas moedas de prata sobre a mesa e saiu. Não tinha forças para dançar, e se fosse para ser comparada com uma moça como aquela, preferia nunca mais usar aquele uniforme, que de uma forma ou de outra só havia lhe trazido problemas.

Ela se olhou em um barril repleto de água, as ondas causadas pelo vento distorciam seu rosto um pouco vermelho e quente do choro daquele dia.“Nunca mais...” murmurou a odalisca, para depois sumir em meio às casas de Alberta.

 

____________________________________________________________________

Bom gente, aqui termina a primeira fase da Fic, no proximo capitulo a historia vai mudar um pouco mais... sem mais detalhes agora =X

Espero que gostem desse Cap, eu particularmente adoro essa parte transitoria da fic. E me desculpem pela demora para postar, alem deste ter sido um Cap um tanto dificil de se escrever tive pouco tempo.

=*

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Capitulo 11 – Nunca Mais 

-         Chega! – disse Victoria ofegante se recostando na arvore mais próxima a ela.

-         Quer voltar? – perguntou Rob se sentando aos pés da jovem.

-         Quero, até chegarmos ao alojamento já vai estar escuro... É perigoso.

Victoria passou a mão pela aljave, as flechas de cristal haviam acabado, restavam poucas de fogo, era realmente arriscado continuar ali..Rob se apoiou em seu Broquel para se levantar, o escudo estava medonho, coberto de espirros de sangue de Orc causados pelas flechas de Victoria.

O sol já havia ultrapasado a linha do horizonte quase por inteiro quando os dois cruzaram os limites da vila dos Orcs do Leste, para Victoria isso era um alivio já que sem Rob a seu lado, era uma presa fácil para os Grandes Orcs que ali viviam.

-         Preciso de flechas...

-         Amanha compraremos, provavelmente virão muitos mercadores.

-         Não acha que devíamos ir a uma cidade comprar? Assim você também poderia arrumar esse seu escudo, já esta ficando amassado...

-         Ora ora mocinha esta querendo fugir do treinamento?

-         Não, fugir não, só descansar. Já estamos aqui há dois meses, estou cansada... E olhe meu estado! Tenho sangue de Orcs até nos brincos!

Rob riu, sabia que estava exigindo um pouco demais da odalisca que a muito estava acostumada com os Guardiões da floresta, sempre parados e fáceis de matar, mas se ela quisesse mesmo aprimorara suas habilidades não poderia continuar apenas brincando de treinar.

-         Amanha ficaremos por perto esta bem? Vou dar um pouco de descanso para você.

-         Eu preferia descansar em Geffen... Em uma cama de verdade, comer numa mesa de verdade, tomar um banho sem me preocupar se algum Orc vai estourar a parede...

Rob não conseguiu conter a risada enquanto a odalisca se dirigia a fila da sala de banho. 

Victoria podia sentir cada músculo de seus braços doer, havia sido um dia bem puxado. A jovem olhava para os lados a procura de Rob, havia saído do banho já há alguns minutos e não o achara.

-         Vi! – gritou o bardo de um canto do saguão fazendo um sinal para que a odalisca fosse a até ele.

Enquanto desviava das pessoas que descansavam Victoria observava a pessoa que estava na companhia de Rob, um homem alto com alguns cabelos brancos, usava uma calça marrom clara e um sobretudo branco com os detalhes da borda vermelhos. Victoria se esforçou para lembrar daquele uniforme, mas só o reconheceu quando já havia pareado do lado de Rob, o rosário banhado a ouro no peito do senhor indicava claramente, um Sumo Sacerdote.

-         Senhor esta é minha namorada, Srta. Victoria Mouyal.

-         É um prazer senhorita. – disse o homem olhando friamente para Victoria – Bom Sr. Wood, nos vemos entro de uma semana certo? – completou estendendo a mão para o bardo.

-         Sim senhor, ate lá. – disse o bardo retribuindo o cumprimento. –

Cuidadosamente o Sumo Sacerdote apoiou uma gema azul no chão fazendo com que um portal se abrisse em sua frente.

-         Que Odin os proteja! – Disse pouco antes de entrar no portal.

-         O quer aconteceu? – perguntou Victoria intrigada.

-         Nada meu anjo, esta melhor?

-         Sim, só com sono. – respondeu Victoria bocejando. 

Victoria parou na escada do alojamento, a julgar pela densa névoa e pela lama no degrau em que estava devia ter chovido durante a noite.

-         Nada bom... – disse a jovem sem ser ouvida. - Acha que conseguiremos treinar assim?

-         Algum problema para você?

-         Muitos... Da mesma maneira que os orcs não nos vêem também não podemos vê-los!

-         Se o problema for só esse podemos ir para a Vila do Leste... Lá não deve estar tão ruim...

-         Não! Vamos esperar mais um pouco, quem sabe lá pelas 9 horas esse nevoeiro já tenha passado.

A odalisca apoiou a aljave já carregada no chão e se sentou um degrau acima, Rob fez o mesmo com seu escudo e se sentou ao lado da moça.

-         Não sei como você agüenta segurar aquelas... Coisas, enquanto eu ataco. – disse Victoria olhando para o escudo de Rob.

-         Bom, a essência de Sapo de Thara ajuda muito, mas bom, eu sempre treinei muito para agüentar ataques...

-         Mais um bardo... Agüentar ataques desse jeito é estranho. Sabe, eu já treinei atacar com chicotes e escudos ao mesmo tempo, mas mesmo assim não me imagino fazendo tudo aquilo contra os Orcs...

-         Bom eu, - Interrompeu Rob um pouco cabisbaixo – na verdade eu não treinei para me tornar um bardo, isso era a vontade dos meus pais.

-         Mas, você não é grandinho o suficiente para escolher que caminho seguir?

Rob riu.

-         Agora sou, mas quando se vê seus pais trabalharem a vida toda só para poder pagar aquele maldito treinamento de aprendizes, você acaba se sentindo em divida com eles.

-         Então deixou eles decidirem toda sua vida?

-         Eu ficava feliz de vê-los felizes, mas agora que eles não estão mais aqui... - Victoria sorriu, não imaginava que os pais de Rob haviam morrido – Eu resolvi me dedicar a o que eu sempre quis.

-         E, posso saber o que é?

Rob suspirou, Victoria olhou para as mãos do bardo, se apertavam, ele estava visivelmente nervoso.

-         Bom, eu teria que contar isso hoje de qualquer jeito...

-         O que? – Perguntou Victoria se virando para o bardo.

-         Ontem, aquele senhor veio me avisar que aceitaram promover meu teste na Catedral.

-         Na catedral? Teste para que? – Victoria estava pálida, algo a dizia que o caminho que Rob seguira, não seria o mesmo que o dela.

-         Para o Sacerdócio meu anjo, tudo que sempre quis foi me tornar um sacerdote.

-         Mas, um sacerdote? E... E nós?

-         Acredite isso foi o que mais pesou na minha decisão, mas, eu não quero mais esta vida.

Victoria se levantou de tal maneira a assustar o bardo, seus punhos cerrados já ficavam vermelhos da força que a moça empregava nas mãos.

-         Se já havia decidido isso, então por que fazer isso comigo?

-         O que quer dizer?

-         O QUE EU QUERO DIZER? Se já sabia que não ia poder ficar comigo, por que bagunçar minha vida?

-         Eu não imaginava que iriam me aceitar meu amor, não fique assim. Eu... Pretendia continuar com você.

-         Ah claro, posso saber como? – perguntou Victoria com ironia.

-         Prometi aquele sacerdote que terminaria tudo com você, mas, bom eu ia te propor...

-         Propor-me...

-         Que continuássemos namorando, só que, em segredo. Eu não quero perder você Vi.

A odalisca a esta altura já estava vermelha de raiva, havia jogado não só um relacionamento muito especial com Joo fora, como também havia jogado todos os dias felizes que passara com seus amigos de Headmasters, pessoas que ela considerava sua família.

-         Você realmente acha que eu iria me prestar a esse papel ridículo e me encontrar às escondidas com um sacerdote? - Rob estava imóvel, nunca havia imaginado que aquela menina doce e simpática poderia falar com tanta frieza. – Se achou que sim, você realmente não me conhece!

Victoria abaixou, recolheu seu aljave e enquanto o prendia na cintura se dirigia para o meio das brumas.

-         Me perdoa? – Disse Rob segurando-a pelos ombros

-         Não! E me faça um favor, nunca mais me procure! - Victoria se soltou de Rob e se perdeu em meio a nevoa.

Uma flecha, duas, três, cada flecha lançada contra os zenorcs os atirava para trás, normalmente Victoria não gostava de usar flechas de fogo, as chamas que se espalhavam pelos monstros quando o pedaço de Sangue Escarlate os tocava não era exatamente feliz, mas excepcionalmente hoje não importava se eles agonizavam enquanto pegavam fogo.

Victoria estava seca, não derrubaria uma lágrima agora, nem nunca mais. Um chon chon de Aço cruzou a frente de Victoria, a corda do arco se esticou tanto que assim que uma flecha foi disparada contra o mosquito ele se partiu ao meio.

-         Droga! – Disse Victoria jogando os pedaços do arco de lado e sacando seu punhal, a primeira investida do monstro contra a jovem e ele já estava cravado na parede da caverna.

Victoria puxou seu punhal e limpou o sangue da criatura em sua malha, enquanto as cinzas restantes do monstro se depositavam no chão da caverna a jovem odalisca recolhia uma asa de borboleta presa à parede. Fechou os olhos, apenas um lugar vinha a sua mente, as grandes Árvores, o palácio... Victoria assoprou o par de asas que contornaram seu corpo espalhando uma poeira dourada, em instantes ela pode sentir o vento refrescante, ouvir o som das folhas se balançando nas copas das arvores, Payon sempre fora seu porto seguro. 

Longos minutos de caminhada, Victoria já podia ver a guilda dos headmasters um pouco à frente, a jovem se olhou dos pés a cabaça, mesmo sendo de manhã estava com uma aparência péssima, até suas vestes de dança estavam manchadas com o sangue groso e fétido dos Grandes Orcs.

Abandonada, era a palavra que descrevia a casa que outra hora Victoria morara, os jardins estavam secos, janelas fechadas, até mesmo a entrada não parecia ser limpa há muito tempo. Victoria ficou parada em frente à entrada da guilda, precisava conversar com alguém, sua ultima esperança era Daruane, mas definitivamente a rogue não estaria lá. A odalisca abaixou a cabeça, uma lagrima tímida escorria por sua face.

-         Nada volta... – sussurrou a odalisca.

-         Vi? – perguntou Gustavo saindo de dentro da casa.

Os olhos da odalisca se encheram de água, Victoria subiu as escadas correndo e se atirou na direção de Gustavo o abraçando. O mercenário um pouco confuso não pode deixar de notar as lagrimas que escorriam pelo rosto da odalisca sem que um mínimo esforço. 

-         Tome. – disse Gustavo entregando uma xícara de chá à odalisca sentada em uma grande almofada na sala já empoeirada do que há algum tempo fora sua casa. - Agora Vi o que houve?

Victoria olhou para o mercenário sentado a sua frente, ele a havia recrutado para o clã e desde então se mostrou um amigo extremamente confiável, alem de passar a ela um certo ar paternal, sempre preocupado em cuidar de sua protegida.

-         Eu... Eu nunca devia ter ido embora! – disse Victoria entre um soluço e outro antes de desatinar a chorar novamente. – Eu não sei onde estava com a cabeça, sou uma boba mesmo!

-         Não Vi, você estava apaixonada, ou melhor, eu creio que ainda está, não está?

-         Não mais, houveram alguns problemas e eu descobri que ele não pensou em mim nem por um segundo quando saímos daqui.

-         Eu devo perguntar o que aconteceu?

-         Eu preferia que não, quero me livrar disso o mais rápido o possível! Agora, o que aconteceu aqui? – perguntou Victoria enquanto observava em volta. - Onde estão todos?

-         Bom Vi, depois de toda aquela confusão, sabe o Bruno ficou um pouco irritado, ele passou dois dias trancado no quarto com o Lance, e depois ele ficou fora por mais alguns dias.

-         Como assim? Ninguém sabia onde ele tinha ido?

-         Não, ele saiu sem avisar ninguém, Daruane quase morreu, mas não deixamos ela ir atrás de vocês! Sabe ela achava que se ele voltasse e você estivesse aqui esperando ele iria se acalmar e tudo voltaria ao normal. – Algumas lágrimas teimosas ainda insistiam em escorrer pelo rosto da odalisca – Como não podíamos fazer nada a respeito de vocês lá fora Daruane resolveu arrumar as coisas lá em cima porque, bom Vi...Era segredo, mas acho que não importa mostrar a você agora.

Ela seguiu o mercenário escada acima, se estivesse sozinha Victoria suspeitaria que a casa estivesse abandonada de tão suja.

-         Aqui. – Gustavo indicou a porta do quarto de Joo apenas recostada.

Foram necessários alguns minutos para que Victoria pudesse se recuperar da surpresa, definitivamente não era mais o quarto bagunçado de um moleque, a cama bicada havia sido substituída por uma nova, com rosas entalhadas por toda sua volta, tapetes, cortinas, moveis tudo fora trocado, o quarto parecia irradiar mesmo estando sujo.

-         C-Como?

-         Bom você passava muito tempo treinando e ele passou algumas semanas arrumando tudo, abra aquele armário.

Gustavo indicou um armário parecido com a cama em seus detalhes a Victoria. Dentro do armário para a surpresa da jovem havia um vestido branco realmente deslumbrante, por todo o bordado haviam sido espalhados diamantes e acima dele uma caixa de veludo vermelha que Victoria pegou em suas mãos, lá estava, reluzindo para ela, uma tiara prateada cravejada de diamantes e algumas opalas.

Enquanto colocava a caixa novamente na prateleira do armário ela notara algo, uma caixa simples de madeira um pouco mais ao fundo, com a caixa na mão Victoria se sentou na cama, sendo seguida por Gustavo.

-         Essa era a surpresa. – Disse o mercenário abrindo a caixa apoiada no colo de Victoria.

Dentro dela a odalisca pode observar um contrato de aluguel, convites e alguns outros papeis que ela não teve mais coragem de mexer.

-         Ele... Fez tudo sozinho?

-         Bom Daruane ajudou no vestido e eu fui com ele comprar alguns diamantes, mas de resto ele planejou tudo sozinho, a igreja já havia sido reservada para três dias atrás.

De olhos fechados Victoria se pegou imaginando sua entrada na catedral de Prontera, todos comentando de como ela estava linda, e no altar olhando para ela aquele que era o grande amor de sua vida. Ela sacudiu a cabeça para desviar tais pensamentos.

-         Mas, isso não explica por que a casa esta neste estado, o que houve com todos eles?

-         Provavelmente em Alberta, o navio deles parte amanhã.

-         Navio?

-         Sim, bem Joo queria novos ares e sua Majestade esta recrutando aventureiros para as expedições, ele Daruane e Rafael embarcam amanhã, o resto do clã já foi.

-         Eu... Mas por que você ficou?

-         Bom Joo me encarregou de vender esta casa, metade do dinheiro fica para mim e o resto eu devo por no armazém dele.

-         Entendo... Você falou que eles embarcam amanhã certo?

-         Sim.

-         Eu tenho que falar com ele, não vou me perdoar se ele for embora sem ao menos eu aceitado minhas desculpas.

Victoria se levantou e em fração de segundos já estava batendo a porta de entrada, enquanto Gustavo se levantava para ir atrás dela.

-         Vi! – gritou ele enquanto a menina andava apressada em direção ao centro de Payon. – não acha que deve descansar esta noite? Você está me parecendo muito cansada, eles só saem amanhã depois do almoço, vocês terão tempo de conversar.

-         Vo... Você tem razão, eu estou mesmo horrível não é? – perguntou a odalisca se virando para Gustavo, ele adorava vê-la sorrindo, mesmo que fosse um sorriso um pouco forçado. 

Victoria se olhou no espelho do quarto que um dia fora seu e de Daruane, estava tão sujo quanto o resto da casa, mesmo assim ela se sentia bem nele.

Ela deu uma ultima olhada enquanto arrumava o Elmo Angelical em sua cabeça, Gustavo tinha sido um amor em ir buscar vestes novas para ela na guilda, as antigas estavam tão gastas e manchadas que seria uma vergonha para a guilda uma odalisca andar assim.

-         Vamos? – perguntou Victoria encontrando Gustavo parado no jardim-

-         A sim, vamos. Sabe, vou sentir falta daqui.

-         Eu também, você nem sabe como eu senti falta de vocês.

-         Nos também sentimos Vi... Você é muito querida por todos daqui. 

Quando Victoria pôs seus olhos em Alberta pela primeira vez, achou a cidade maravilhosa. As ruas de pedra branca combinando com as casas também brancas e seus telhados azuis. E também as flores, vasos e jardineiras para todos os lados coloriam a cidade. Já na parte baixa do porto só era salva pelo imenso cais onde vários barcos estavam aportados, olhando para trás a bagunça causada pelas inúmeras caixas, cordas, pedaços de barco e homens saindo de bares de quinta categoria poluía a bela paisagem.

-         Bonito o mar não?

-         Sim, - respondeu Victoria olhando mais atentamente para o vasto azul a sua frente – nunca tinha visto.

-         Não?

-         Não.

-         Ora então deve vir aqui com mais tempo algum dia, sabe pode não ser muito agradável conviver com algumas destas pessoas – o mercenário fez menção a um marinheiro cambaleante que conversava com um gato em cima de uma pilha de caixas – mas o por do sol daqui é fantástico!

-         Ah eu acredito que sim... – mas Victoria foi interrompida por um rapaz que chamara pelo dois em um cais a alguns metros de distancia.

-         O... O que fazem aqui?

-         Bem... – disse Gustavo olhando para Victoria parada um pouco trás dele – acho que a pergunta não foi para mim. Acho que, bem vou ajudar alguém a parar de beber. – Disse já se retirando em direção ao homem que ainda conversava com o gato.

-         Me... Desculpe-me. – sussurrou Victoria, mas ela sabia que ele a tinha ouvido – Eu fui uma idiota, me perdoe! – em prantos a odalisca abraçou Joo ainda imóvel.

-         Isso não devia ter acontecido conosco Vi... – disse o caçador passando os braços por Victoria, abraçando-a. 

-         Bem eu... Sinto muito. – disse Joo depois de ouvir as razoes de Victoria ter voltado. 

-         A por favor, não diga que sente muito, isso me deixa pior. 

-         Por quê? 

-         Me faz pensar que... Que eu nunca faço nada certo. – disse Victoria antes de voltar a chorar. 

-         A Vi, não chore. – Joo acenou para um garçom que passava perto da mesa que ele ocupava. - A conta, por favor. 

-         Você parte hoje não é? 

-         Sim, na verdade meu barco parte daqui a meia hora. 

-         Eu... Não queria que você fosse.  

-         Por que não? 

-         Porque, você é tudo que eu tenho, ou melhor, acho que tenho. 

Joo olhava nos olhos de Victoria, ele sabia que se desistisse agora arrumaria problemas com o rei, mas aqueles olhos o faziam desistir de tudo.

-         Vi, - disse Joo pegando nas mãos de Victoria – eu não posso desistir agora, arrumaria muitos problemas. Não só para mim, mas para todos do clã.

-         Eu não estou pedindo para você desistir, já arruinei sua vida uma vez, não quero te atrapalhar de novo.

-         Você nunca me atrapalhou. – A jovem sorriu – Temos que voltar, se não conseguir pegar esse barco terei graves problemas.

-         Eu, eu acho que vou ficar aqui.

-         Por que não vir comigo?

-         Eu prefiro não ter que me despedir de novo.

-         Ora deixe de bobagens, eu prometo que volto Vi, e quem sabe você ainda esteja disposta a arriscar mais um pedacinho da sua vida com um humilde caçador como eu.

Joo deixou algumas moedas de ouro sobre a mesa e os dois saíram do bar. 

-         Joo tome, é seu. – disse Victoria entregando seu Elmo Angelical ao caçador já na rampa que dava para dentro do grande barco. –

-         Não Vi, eu dei para você, não o quero de volta.

-         Então... Poderia aceitar como uma lembrança minha?

-         Nessas condições, eu não posso recusar. – disse pegando o Elmo das mãos da odalisca. – Então fique com isto, você sempre gostou dele, agora é seu! Uma lembrança minha.

Victoria sorriu enquanto pegava o Gakkung de Joo, três passos para trás e ela estava no cais de Alberta. O barco começava a se afastar, Victoria não tirou os olhos de Joo que acenou para ela e murmurou algo que ela entendeu como “Eu volto!”. Com o barco a pouco mais de 30 metros da costa Victoria viu a figura de uma arruaceira surgir na proa acenando animadamente para ela, Victoria retribuiu o aceno e se dirigiu ao interior da cidade. 

O vento que trazia a brisa salgada do mar agora estava mais frio, Victoria se sentiu tentada a voltar ao cais para observar o por do sol como Gustavo havia sugerido, mas preferiu ficar afastada daquele lugar por algum tempo.

Ela podia ouvir uma musica animada vir de um dos estabelecimentos da beira do cais, Victoria não se importou daquele ser um lugar onde boas moças não eram vistas, ela precisava de algo quente para poder continuar a treinar por ai.

Dentro do bar podia-se sentir um cheiro forte de bebida, e vários marinheiros observavam uma moça, um pouco mais velha do que Victoria, dançar no palco improvisado. Victoria olhou cuidadosamente a roupa da menina, ela definitivamente não era uma odalisca, só mais uma das que não conseguiam entrar na academia e por isso andavam por ai auto-intituladas “odaliscas”. Manchavam o nome da guilda vendendo sua arte por ninharias em lugares fétidos e repugnantes como aqueles.

-         Deseja algo senhorita? – perguntou um garotinho puxando a cadeira de uma mesa próxima para que ela se sentasse.

-         A sim, um chá de ervas brancas e capim limão seria maravilhoso. – respondeu sorrindo.

-         É para já senhorita! – o garoto saiu correndo e desapareceu por trás de um balcão. 

-         Aqui senhorita. - Disse um homem alto e barbudo pondo uma grande xícara de chá na frente de Victoria – Mais alguma coisa?

-         Sim... Quem é a moça? – perguntou apontando para o palco.

-         Leny, ela ate que dança bem, é um bom show para um bar sabe, ter uma odalisca.

-         Ela não é uma odalisca!

-         O que disse senhorita?

-         Ela não é uma odalisca, Bowarju jamais aprovaria alguém com estes movimentos.

-         Suponho que a senhorita possa fazer melhor que ela?

-         Eu posso, mas não danço em lugares como esse.

Victoria levou o ultimo gole de chá a boca, deixou algumas moedas de prata sobre a mesa e saiu. Não tinha forças para dançar, e se fosse para ser comparada com uma moça como aquela, preferia nunca mais usar aquele uniforme, que de uma forma ou de outra só havia lhe trazido problemas.

Ela se olhou em um barril repleto de água, as ondas causadas pelo vento distorciam seu rosto um pouco vermelho e quente do choro daquele dia.“Nunca mais...” murmurou a odalisca, para depois sumir em meio às casas de Alberta.

 

____________________________________________________________________

Bom gente, aqui termina a primeira fase da Fic, no proximo capitulo a historia vai mudar um pouco mais... sem mais detalhes agora =X

Espero que gostem desse Cap, eu particularmente adoro essa parte transitoria da fic. E me desculpem pela demora para postar, alem deste ter sido um Cap um tanto dificil de se escrever tive pouco tempo.

=*

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 Nyu! Se eu pudesse eu te matava, estrangulava e degolava! Quanto erros de português! Por que não mandou para seus revisores lindos? *Sorriso maléfico, com chifrinhos aparecendo* Poderia ter evitado muuuuitos deles! Vê se lembra da proxima vez e... Ah, eu vou editar minha fic e vou postar aqui tudo de novo... Quem sabe depois de eu ter recuperado a nota de matematica dê tempo de tudo? ^^~ Edit:  Seu site ta pronto? O meu só falta o HTML que eu to penando pra fazer junto com a minha irmã ú.u Quer dizer, se ela não deletou né?

 

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Eu notei os erros ontem ¬¬

Vo da uma geral aqui p dps edita... risadas maleficas de novo nom vai, eu amo meus revisores n quero ver eles se agulhando... Wii fic da Sakura d novo aqui? \o/

O design ja ta pronto, a momo está editando alguns sprites que nossa, estão ficando perfeitos *-*, falta meu amor por o PHP e eu compra o dominio.

- Prox cap sai sabado provavelmente. ^^

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Na verdade... essi cap eu so mandei pro Draken pq vc ja tinha revisado o prologo da minha otra fic saca? Ai n qui te sobrecarrega. ^^

E para com isso de chifrinhos e diabinhos ^^'', mais um revisor do mal naum.

- Cap 12 pronto \o/, assim ke meus revisores [ ^^ ] devolverem ele ja posto aki.

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Capitulo 12 –

Recomeço

 

 

 

O vento gelado que

entrava pela porta entreaberta parecia querer anunciar para Victoria que a

noite se aproximava, e que ela estava atrasada com seus afazeres.

 

-         

Senhora, já posso me recolher? –

perguntou uma menina que se aproximava dela –

 

-         

Já esta tudo pronto?

 

-         

Sim senhora.

 

-         

Certo Akane pode ir se deitar,

eu mesma cuido de tudo quando os convidados chegarem.

 

-         

Obrigada. – Respondeu Akane

enquanto pendurava seu avental num gancho atrás da porta.

 

Victoria ficou a

olhar a menina sumir por de trás da porta dos empregados para depois se dirigir

ao pequeno jardim situado na parte de traz do Palácio da Colina. O vento

aprecia querer congelar seus braços, o que de fato não era uma coisa ruim, o

inverno havia sido rigoroso, Victoria acreditava que estes seriam os últimos

dias frios, e que logo tudo seria recoberto pelas lindas flores de Payon.

 

Montado

num Peco Peco um rapaz parou a alguns metros da jovem.

 

-         

Vossas majestades estão chegando

Victoria, acho que você deveria se trocar e pedir para Akane preparar os

lavabos.

 

-         

Akane já se recolheu Lucas, será

que você se importaria em ir acendendo as lareiras e colocando a água quente

nas tinas enquanto eu me troco?

 

-         

Claro que não Vi, - respondeu

ele prendendo o peco em uma estaca de madeira próxima ao grande muro que

rodeava o Palácio. – sabe que faço tudo que quiser.

 

-         

Obrigada – respondeu Victoria

correndo para a mesma porta que Akane usara para sair da cozinha.

 

Os aposentos dos

empregados, por mais que todos o deixassem sempre limpo e bem arrumado não eram

exatamente o lugar mais bonito do palácio. Ela passou por um pequeno hall que

separava os aposentos e se dirigiu à escada rústica que levava a seu quarto.

 

‘Não posso

reclamar’ Pensou enquanto

girava a chave para trancar seu quarto, quando começou a trabalhar no Palácio

era obrigada a dividir o quarto com outras duas moças, mas quando a antiga

governanta da casa ficou muito velha para cuidar de suas tarefas alem de

receber seu cargo a moça  também recebera um quarto confortável e alguns

privilégios.

 

Ela se apressou em

trocar suas vestes simples pelo vestido que usava nas grandes comemorações, um

longo de algodão trabalhado, num tom verde escuro que parecia se misturar com

seus cabelos que haviam voltado ao castanho natural. Victoria prendeu seus

cabelos que agora caiam ate a metade da cintura em um coque calçou um par de

sapatilhas pretas quase invisíveis dado o comprimento do vestido e desceu

novamente para a cozinha.

 

-         

Está linda. –disse Lucas

enquanto o vulto de Victoria passou correndo ate os jardins –

 

-         

Espero que vossa majestade não o

ouça, ou ela me fará servir as visitas por debaixo de um pano imundo! –

Respondia Victoria enquanto voltava a cozinha com algumas rosas nas mãos. – A

água já esta quente?

 

-         

Sim, quer que te ajude com a

chaleira?

 

-         

A Lucas o que eu faria sem você?

 

-         

Nada minha querida, você seria

apenas uma governanta infeliz sem um bobo para te admirar o dia inteiro.

 

Victoria riu, ela

e Lucas se tornaram amigos desde o primeiro dia em que ela pôs os pés no

Palácio quatro anos atrás. Ele era um mero cavalariço e Victoria fora

contratada como ajudante de Madame Santa, antiga governanta. A tristeza que ela

emanava nas primeiras semanas que foi para o Palácio só se amenizava com a

companhia do garoto loiro de olhos castanhos que passava as tardes tentando

anima-la.

 

-         

Claro, claro, bom então que tal

me admirar enquanto leva a água sim?

 

Foi

apenas o tempo de Victoria colocar as pétalas de rosas nas bacias da entrada do

palácio enquanto Lucas as enchia de água, e dar os últimos retoques na mesa de

jantar que ela pode ouvir o som da corneta avisando que em pouco tempo a

delegação do Trapesac chegaria.

 

Aos poucos todos

os membros do clã Godomyer desciam de seus aposentos para o grande salão onde

seu banquete os esperava. Pensando em todos do clã mais a delegação Victoria

desejou não ter dispensado Akane.

 

-         

Tudo certo?

 

Victoria se virou

e viu a senhora do clã Godomyer parada a seu lado, tinha cabelos vermelhos e

olhos tão escuros que chegavam a dar calafrios.

 

-         

Sim senhora. – respondeu

Victoria com uma singela reverencia – Creio que tudo esteja a seu agrado.

 

-         

Parece tudo certo. Onde esta

aquele pequeno diabinho que não esta trabalhando?

 

-         

Perdão senhora?

 

-         

Aquela garotinha que esta com

você e Hikara.

 

-         

Akane senhora?

 

-         

Ela mesma onde esta?

 

-         

Eu a dispensei senhora, estava

cansada e alem disso é só uma menina, creio que não precise dela para me ajudar

esta noite.

 

-         

Isto não é desculpa, quando me

casei você já trabalhava aqui e devia ser mais nova do que ela.

 

-         

Mas senhora...

 

-         

Sem mais! Quero aquela menina a

seu lado quando eu voltar, ou se preferir eu arrasto Hikara para trabalhar!

 

-         

Não será necessário senhora, eu

me encarregarei que Akane esteja aqui quando voltar.

 

-         

Espero que sim. – disse a mulher

enquanto se retirava –

 

-         

Maldita! – berrou Victoria ao

entrar na cozinha, fazendo Lucas derrubar o prato de sopa que levava nas mãos. –

 

-         

O que aconteceu?

 

-         

Bruxa! Quer que Akane me ajude,

disse que se ela não estiver comigo vai arrastar Hikara.

 

-         

O que? Mas Akane é uma menina!

No meio daqueles monstros? – disse o rapaz chocado – Eu te ajudo, não quero que

aconteça com Akane o mesmo que aconteceu com Hikara.

 

-         

Não Lucas, se fizer isso teremos

problemas, suba e acorde Akane, mande se vestir para trabalhar comigo no salão.

E avise que hoje ela ira dormir no quarto com Hikara

 

Ela mal havia

terminado de falar e o cavalariço já havia desaparecido. Com um suspiro

Victoria Apanhou um par de luvas brancas e voltou para o salão de refeições.

 

O

chão de pedra polida parecia um espelho, dois estandartes com o brasão dos

Godomyer estavam postos um de cada lado do salão, no meio uma grande mesa

retangular exibia um banquete digno do rei de Toda Rune-Midgard e a seu redor

outras mesas menores com a mesma fartura e requinte. Quatro grandes lareiras

aqueciam o ambiente, e um lustre de cristal o iluminava.

 

-         

Por que me acordou Vi? –

perguntou Akane um pouco sonolenta.

 

-         

Vossa majestade quer que você

trabalhe comigo, veja se acorda esta bem!

 

-         

Certo, certo.. – disse a jovem

abrindo a boca ao Aldo de Victoria. – Mas, eu estou cansada, por que não chamou

Hikara?

 

-         

Ela mal consegue andar Akane!

–Disse Victoria repreendendo-a – Não deve ser preguiçosa!

 

-         

Mas você mesma disse que era

perigoso eu ficar em festas...

 

-         

Entenda que Vossa majestade não

foi criada na ala dos criados e nunca viu a porta de seu quarto ser forçada por

um castelão bêbado, que Odin queira que você também nunca o veja Akane.

 

-         

E vocês duas parem de Chamar

Vossa Majestade de Vossa Majestade, eles estão subindo as escadas.- Disse Lucas

entregando um par de luvas como os de Victoria a Akane – Ela me mandou ajudar

vocês.

 

-         

Não é de todo uma ma idéia. –

sussurrou Victoria enquanto fazia uma reverencia aos dois fortes lideres que

entravam no salão, com Akane e Lucas em seu encalço.

 

-         

Esta é nossa Governanta Enzo!

Victoria Mouyal, qualquer coisa que precise durante sua estadia aqui pode pedir

a ela. – Apresentou Carlo, líder dos Godomyer –.

 

-         

É uma honra milorde. –

Cumprimentou Victoria com nova reverencia a aquele homem de cabelos grisalhos e

de olhos azuis. –

 

O

banquete fora um sucesso, todos elogiaram a boa comida e bebida, pelo grande

sorriso e brinde dados por Carlo a certa altura da festa Victoria pode imaginar

que havia conseguido o que queria com aquele banquete. E pela fuga precipitada

da herdeira dos Godomyer pára seu quarto ela e Lucas presumiam que se tratava

de um casamento para Aliança.

 

-         

Senhora? – Chamou Victoria com

uma leve reverencia ao lado de sua senhora – Posso me recolher?

 

Sibila olhou ao

redor do salão, todos haviam se retirado para seus quartos, apenas permaneciam

ela e seu marido, que conversava animadamente com Enzo.

 

-         

Sim, e esteja pronta cedo, quero

acordar e ter meu café e de meus convidados prontos.

 

-         

Sim senhora.

 

Enquanto Victoria

se dirigia a cozinha Enzo a seguiu com os olhos.

 

-         

Muito bonita essa sua governanta

Carlo.

 

-         

Victoria? A sim, uma menina

muito especial.

 

-         

Você gosta muito dela não?

 

-         

É boa governanta.

 

-         

Bom me diga ela... É casada?

 

-         

O Enzo não imaginava que estava

me perguntando neste sentido. Não, creio que não.

 

-         

E os aposentos dela?

 

-         

Entre numa porta de madeira que

há na cozinha – disse o Cavaleiro apontando para o aposento – O quarto dela é o

único subindo a escada.

 

-         

Interessante, bom se me permitem

vou me retirar.

 

Encostado perto da

porta da cozinha Lucas não sabia o que fazer viu Enzo subir para seus aposentos

e depois os senhores do castelo que se recolheram.

 

Deitada

em sua cama Victoria observava o gakkung apoiado em cima de um baú, a luz fraca

que vinha da pequena lareira no quarto tornava visíveis os detalhes do arco,

sua corda e curvatura pareciam invencíveis e inquebraveis.

 

O barulho de

alguém batendo na porta fez Victoria se levantar, mesmo com a lareira acesa o

frio do quarto pareceu penetrar nos ossos da moça.

 

-         

Akane? – perguntou se

aproximando da porta –

 

-         

Não, sou eu, abra Vi!

 

-         

Esta louco? Por que abriria a

porta do meu quarto para você no meio da noite Lucas?

 

-         

Prefere que eu ou nosso

convidado de honra?

 

Lucas ouviu o

barulho da tranca se abrir para depois ver a moça que usava uma camisola branca

de alças que ia ate um pouco acima dos joelhos, os longos cabelos presos por

uma trança recém feita deixava a mostra o rosto que ele sempre adorara.

 

-         

O que você quer? –perguntou ela

assustada -

 

-         

Proteger você. – respondeu Lucas

empurrando a moça para dentro do quarto e fechando a porta, tendo todo cuidado

de deixa-la mal trancada.

 

-         

Proteger-me? Lucas o que houve?

O que é isto!?

 

Victoria olhou

assustada para o rapaz que puxara o laço de seu cabelo e agora soltava sua

trança bagunçando os fios.

 

-         

Não se assuste Vi, eu lhe

explico depois, mais agora você tem que confiar em mim.

 

-         

Eu... – A moça olhava perplexa

seu amigo apoiar sua única adaga em uma mesa, retirar sua camisa e sapatos.

 

-         

Depois vi, depois.

 

Lucas segurou

Victoria pelas mãos e a puxou para a cama desarrumada pelo despertar repentino

da moça.

 

-         

O que você pensa que esta

fazendo? – disse Victoria Se soltando de Lucas. –

 

-         

Certo, no geral, Carlo explicou

a Enzo onde seus aposentos ficam e eu creio que pelo modo com que ele te seguiu

com os olhos que ele não quer exatamente um chá!

 

-         

Eu...

 

-         

Você vai deitar aqui e fingir

que acabou de passar sua noite de núpcias comigo.

 

Victoria ouviu alguém tossir, pe ante pe alguém

subia as escadas ate seu quarto.  Ela pode sentir as mãos de Lucas a

puxarem pela cintura, quando caiu em si estava deitada em sua cama já coberta,

as alças de sua camisola estavam um pouco abaixadas deixando a mostra um

pequeno pedaço da curva de seus seios.

 

-         

Sabe se você me abraçar

também ficaria mais real.

 

Assim que Victoria

passou seus braços pelo pescoço de Lucas a porta de seu quarto foi forçada, ela

entendera o porque Lucas não havia a trancado direito, daria a impressão de

algo feito às pressas. “Que vergonha, bem coisa de amantes isto!”

Victoria brigou consigo mesma, mas preferia passar por isso a ter que se deitar

com um velho bêbado.

 

Ela podia ouvir os

passos do homem ate perto de sua cama, ouviu algo como “Maldição” e

depois o barulho da porta se fechando e o ranger das escadas.

 

-         

Você é louco! – sussurrou

enquanto arrumava sua camisola

 

-         

Você devia aprender a

confiar mais em mim, achou que eu ia fazer o que? Agarrar-te?

 

-         

N...Não sei.

 

-         

Ora vi, pare de

besteiras!

 

-         

Obrigada Lucas.

 

-         

De nada, bom acho melhor

eu voltar para o meu quarto. – disse o rapaz se levantando da cama –

 

-         

Não! – interrompeu a moça

o puxando de volta. – E se ele voltar?

 

-         

Quem diria, logo você com

medo? Achei que guerreiros não tinham medo. – brincou o rapaz olhando para o

velho baú e para o arco no canto do quarto de Victoria. –

 

-         

Experiência e Treino são

duas coisas que fazem de um guerreiro imbatível Lucas, há quatro anos eu teria

o matado se tentasse encostar em mim. Agora, mesmo ele sendo um velho, e não

tendo mais sua agilidade eu perdi boa parte da minha destreza, o fato dele

tentar se aproveitar de mim não me assusta, meu medo é de errar a flecha.

 

-         

Bom então acho que devo

ficar e protege-la, milady. –disse Lucas se deitando novamente. –

 

Victoria se virou

de costas para o amigo. “Devemos continuar com nosso teatrinho?” Foram

as palavras que ela conseguiu ouvir enquanto sentia a mão de Lucas em sua

cintura e a respiração dele em sua nuca Para surpresa da moça ele a abraçava

cada vez mais forte, a mão que antes estava apoiada em sua cintura deslizava

pelos cachos dela, a respiração dele se tornara mais calma como se quisesse

sentir o perfume que exalava da pele de Victoria.

 

De olhos fechados

Victoria voltou alguns anos em sua vida, foram tantos os dias em que ela ficara

assim com seu antigo noivo, principalmente deitados no jardim da guilda,

olhando o sol sumir por de traz das arvores.

 

Um arrepio subiu

pela espinha de Victoria, causado pelo toque dos lábios de Lucas em seu pescoço

e pelo forte abraço.

 

-         

Lucas... Não, por favor...

 

-         

Por favor – interrompeu o

rapaz – Eu prometo que não faço nada, só me deixe imaginar, pelo menos hoje que

você é minha, só minha.

 

O rapaz encostou

seu rosto no pescoço de Victoria, e uma lagrima escorreu dos olhos da moça. Ela

não podia mais viver no passado, ela fechou os olhos e adormeceu.

 

Deitado

com Victoria, Lucas podia sentir o perfume que vinha da moça, tantas foram as

vazes que ele sonhou em estar assim com ela, talvez se tivesse se declarado, estariam

casados, e ela não passaria por situações como essa. Ele podia sentir a

respiração de seu amor pelo movimento de seu ventre, onde ele apoiara a mão,

não conseguia mais se controlar, deixou se dominar pelo momento. Suas mãos

escorregavam para o pescoço de Victoria ate sua nuca, afastando os cachos de

cabelo que a tampavam. Lucas Abriu os olhos, não via nenhuma reação negativa em

Victoria, talvez ela se permitisse a um momento de prazer depois de tantos anos

que ele a viu chorar pelos contos do palácio.

 

Já embriagado de

desejo, Lucas abaixou seu rosto ate o pescoço de Victoria e o beijou, enquanto

voltava suas mãos para a barriga dela.

 

-         

Lucas...Não, por favor...

 

-         

Porfavor – interrompeu o

rapaz – Eu prometo que não faço nada, só me deixe imaginar, pelo menos hoje que

você é minha, só minha.

 

Ele apoiou seu

rosto no pescoço de Victoria, e em sua mente se formaram imagens de como os

dois seriam felizes juntos, ele faria de tudo para que ela se alegrasse, faria

de tudo para tira-la daquele lugar. Um suspiro de Victoria foi o suficiente

para fazer ele acordar de seus sonhos e perceber que a moça adormecera, em

poucos minutos ele também caiu em um sono pesado.

 

De

seu quarto Victoria podia ouvir os músicos afinando seus instrumentos, havia sido

um dia corrido para ela, varias mulheres haviam chegado de Payon para ajudar na

arrumação do castelo, sem contar nos inúmeros membros da nova aliança que

chegava com peco pecos e carruagens a todo instante.

 

A moça se olhou no

pequeno espelho pendurado na parede de seu quarto, havia ganhado um vestido

marrom escuro, inteiro feito de veludo para se apresentar nesta festa, ela

podia jurar que sua senhora havia o comprado extremamente maior do que ela para

ficar ridículo, mas em duas horas Victoria já havia conseguido deixa-lo cintado

e ainda retirar um bom pedaço da barra.

 

-         

Vi? Posso entrar?

 

Ela se dirigiu a

porta para abri-la, não havia a deixado destrancada um minuto se quer desde a

noite anterior.

 

-         

Algum problema?

 

-         

Não, eu... Só queria

falar com você. –Respondeu Lucas abaixando a cabeça, Victoria não pode deixar

de notar a vermelhidão no rosto do rapaz que tinha feito de tudo para não

encontrar com ela naquele dia –.

 

-         

Entre, estou terminando

de me arrumar.

 

O rapaz não parou

de fitar o chão por um minuto ate que a porta atrás dele se fechasse e Victoria

se sentasse em sua cama.

 

-         

Então... – começou a moça

enquanto penteava seu cabelo –

 

-         

Vi eu, queria pedir

desculpas. De ontem sabe, eu...

 

-         

Você me fez um grande

favor. – Interrompeu a moça notando o constrangimento de Lucas – Só isso.

 

Victória apoiou

seu Gakkung na cama e abriu o antigo baú onde guardava seus pertences.

 

-         

O que é isso? – perguntou

Lucas ao ver ela retirar um baú menor e apóia-lo em sua cama –

 

-         

Isso, bem, digamos que é

o que me restou da época que eu era mais do que uma governanta.

 

Victoria sentiu

uma ligeira vontade de rir da expressão de Lucas quando ela abriu a caixa,

estava repleta de colares, brincos, pulseiras e todo tipo de jóias que o rapaz

nunca tinha visto.

 

Ela passou os

dedos por cima das jóias, como se quisesse que uma delas voasse para sua mão e

pegou uma gargantilha feita de fios de ouro trançados, que se ajustou

perfeitamente a seu pescoço.

 

-         

Só me responda uma

coisa... – disse o rapaz perplexo – se você tem tantas jóias assim, não imagino

que seja pobre. Por que aturar isso tudo? Devia estar vivendo como uma rainha!

 

-         

Eu queria recomeçar,

tudo. E bom não tenho jóias e dinheiro o suficiente para viver como rainha o

resto da minha vida.

 

Victoria deu uma

ultima olhada para o espelho, arrumou o laço que prendia seu cabelo em coque e

fez sinal para que Lucas a acompanhasse ao grande salão, logo a festa começaria.

 

Assim

que a noite caiu os convidados começaram a aparecer, tudo parecia perfeito, o

grande salão belissimamente decorado com lustres de cristal e faixas com as

cores vermelho e verde escuro, simbolizando a união dos clãs. Na porta dois

estandartes carregavam suas insígnias, não havia uma pessoa que não passava por

eles e comentava o quão bem feitos haviam sido, o que deixara Victoria feliz,

já que Hikara havia trabalhado durante um mês para borda-los.

 

Paradas a porta da

cozinha Victoria e Akane observavam o baile, a maioria das pessoas estavam

dançando, apenas alguns grupos se mantinham presos às mesas conversando

animadamente.

 

-         

A Vi, não são lindos? –

perguntou Akane sorrindo –

 

-         

O que?

 

-         

Eles – respondeu a menina

indicando os convidados com o rosto –

 

-         

A sim, sim bailes são

mesmo muito bonitos –.

 

-         

Eu faria de tudo para

estar ali, sabe, ser uma delas, com vertidos, jóias e tudo mais. Com cavaleiros

me trazendo rosas e falando que sou linda...

 

-         

Eu já fiz parte desse

mundo e acredite, nem tudo são flores...

 

-         

Hã?

 

-         

O que foi?

 

-         

Você disse... Que já fez

parte desse mundo...

 

-         

Disse?

 

-         

Você não lembra? –

perguntou Akane preocupada –

 

-         

Não! Ora você esta

imaginando coisas Akane.

 

-         

Eu não estou imaginando

nada, não é a primeira vez que você fala coisas estranhas. – As duas se

entreolharam. – Quem sabe você não esta se lembrando de alguma coisa...

 

-         

Acho que não, se eu me

lembrasse não teria esquecido uma frase sobre isso.

 

-         

Senhorita? Aquela mesa

deseja mais vinho, posso levar? – perguntava uma moça gorducha atrás dela –

 

-         

A... Deixe que eu mesma

levo.- Respondeu Victoria observando as mãos cheias de calos da moça, se ela

derrubasse o vinho seria um grande problema –.

 

Com um grande

jarro de vinho nas mãos Victoria se esgueirava ate uma mesa na lateral do salão

onde um grupo de rapazes conversava animadamente.

 

-         

Esta louco? A Guerra será

a pouco mais de um ano, se Enzo mandar batedores para outros clãs apenas para

conhecer os castelos eles podem ficar por lá mesmo, e perderíamos guerreiros

valorosos! – dizia um cavaleiro enquanto rodava um punhal na mesa. –

 

-         

Só estou dizendo que

castelos de Payon e Geffen são verdadeiros labirintos, alguém devia pelo menos

fazer um mapa para estudarmos ate lá. – sobrepunha um rapaz alto, de olhos e

cabelos castanho claro que chamou a atenção de Victoria, não parecia ser mais

velho do que ela, mas em seus pés uma luz azulada, muito fraca já começava a

aparecer. –

 

-         

Engel tem razão, não

gostaria de cair numa armadilha antes de chegar à sala do Emperium.

 

-         

Com licença.- Interrompeu

Victoria se pondo ao lado da mesa - trouxe mais vinho para os senhores.

 

-         

O sim se puder fazer a

gentileza de nos servir... – pediu o Cavaleiro empurrando seu copo um pouco

mais perto da moça –

 

Victoria encheu os

copos de todos com perfeição, ate ver uma mão enfaixada segurar um copo meio cheio

a sua frente.

 

-         

Se puder fazer a

gentileza. – disse o Rapaz que havia chamado sua atenção –

 

Victoria completou

o copo do rapaz, sentia que ele a olhava, ela tinha certeza de que estava

ligeiramente vermelha.

 

-         

Desejam mais alguma coisa?

– perguntou a moça se pondo de pe –

 

-         

Sim... – começou Engel –

Queria saber o que uma moça como você faz trabalhando aqui?

 

-         

Eu...Sou governanta

senhor, gosto muito de trabalhar aqui. Agora se me permitem.

 

Victoria pegou o

jarro que estava vazio e o substituiu pelo que ela acabara de trazer, fez uma

educada mensura e se retirou.

 

O sol

mal surgira por de traz das grandes arvores que preenchiam o Feudo do Bosque

Celestial e Victoria estava dando instruções a Akane de como cuidar dos Pecos

que lotavam a estrebaria do palácio. Um vento fresco entrou na cozinha pela

porta aberta, um alivio para as moças que, acostumadas com o clima de Payon,

previram que a partir daquele dia o clima ficaria mais quente, e logo tudo

seria inundado por flores.

 

Com a menina se

dirigindo aos Peco Pecos com uma imensa cesta de frutas na mão Victoria pode

retomar a seus afazeres. Com Hikara num estado tão avançado de gravidez ela

tinha que cuidar da cozinha e de suas obrigações de governanta sozinha, Akane a

ajudava muito, mas ela não queria forçar muito a menina.

 

Victoria puxou uma

grande assadeira de dentro do forno próximo a porta e a colocou em cima da

mesa, o cheiro de pão inundou o ambiente.

 

-         

Hm, que cheiro bom Vi. –

disse Lucas passando pela porta num pulo –

 

-         

Tire o olho, esses são

para os convidados.

 

-         

E nos vamos comer o que?

 

-         

Também fiz para nos –

respondeu a moça sorrindo – mas ainda estão assando –

 

-         

Sim senhora, vou esperar.

 

 

Victoria andou ate

o fogão onde um caldeirão descansava, ela apanhou um prato fundo, de madeira

polida e colocou duas conchas do que parecia ser sopa de aveia.

 

-         

Cuidado, acho que esta

quente. – disse colocando o prato na frente de Lucas que já havia colocado uma

colher cheia na boca -=

 

-         

Quente? Esta fervendo!

 

-         

Mas o cheiro esta ótimo.

– dizia um rapaz encostado a porta, Ele vestia uma calça marrom escura, presa

por um cinturão vermelho com um emblema dourado na centro, e um, sobretudo

branco e marrom, com detalhes vermelhos nas laterais e em seu capuz, os pulsos

ainda estavam enfaixados, e agora Victoria entendera o porque, ele era um monge.

 

-         

Bom dia senhor

-cumprimentou a moça- deseja algo?

 

-         

Sim, estava pensando em

sair para treinar bem cedo, a senhorita poderia me fazer à gentileza de

servir-me algo.

 

-         

Sim senhor.

 

Victoria se

apressou em pegar talheres e a louça de porcelana em que eram servidas as

refeições de seus senhores, ela não esperava ter de servir alguém sta hora. Uns

poucos minutos a ponta da mesa da cozinha ostentava um belíssimo café da manha,

o pão recém preparado já estava cortado em fatias, havia duas cumbucas com

qualhada com mel e geléia de framboesas, uma jarra de suco de laranja e um bule

com chá fervendo, alem de frutas e alguns pedaços de bolo.

 

-         

O senhor deseja um pouco

de sopa de aveia? – perguntou a moça –

 

-         

Sim, por favor.

 

Enquanto

Victoria se dirigia ao fogão Engel a olhava, não era possível que uma moça

educada como ela tivesse sido sempre uma criada, ou no Maximo governanta. Ele

olhou para as mãos da moça, as pontas dos dedos conservavam alguns calos, e um

sua mão *** havia uma cicatriz reta, que parecia ser feita por uma queimadura.

 

-         

Mais alguma coisa senhor?

– perguntou a moça colocando o prato fumegante à frente do monge –

 

-         

Não, obrigada.

 

-         

Pronto Vi, e agora o que

devo fazer? – perguntou Akane entrando novamente, seu avental estava sujo de

lama, provavelmente ela havia se ajoelhado na estrebaria –.

 

-         

Se troque primeiro! Já

não falei que deve retirar seu avental quando sair?

 

-         

A desculpe, me esqueci.

 

-         

Pois não devia, depois

volte aqui, você vai levar o café para Hikara.

 

-         

Esta bem. – disse a menina

fechando a porta em direção a seus aposentos –

 

-         

Quantos anos ela tem? É

Vi certo? – Perguntou Engel a Lucas que olhava para o forno como se achasse que

os Paes iriam assar mais rápido. –

 

-         

O nome dela é Victoria

senhor, mas não sei sua idade.

 

-         

Não sabe? Achei que se

conhecessem bem.

 

-         

Sim senhor, somos amigos

há tempos mais, ela mesma não sabe. Perdeu a memória quando era menor, não se

lembra de nada que aconteceu a mais de seis anos atrás.

 

-         

A entendo, então ela não

poderia saber de onde é não?

 

-         

Creio que não senhor, ela

guarda algumas coisas que estavam com ela quando recobrou a consciência, mas

nos não entendemos o significado delas.

 

-         

A entendo...

 

-         

Vi, Vi! – chamava Akane

de dentro dos aposentos dos criados, a moça largou a assadeira que acabara de

tirar do forno em cima da mesa e correu em direção a ela –.

 

-         

O que foi? – perguntou

entrando se supetão no quarto de Hikara.

 

A

moça estava suando frio, com as mãos na barriga já baixa, seus cabelos cor de

mel estavam embaraçados e molhados pelas lagrimas dela.

 

-         

O que esta acontecendo

Vi? – perguntou a moça entre soluços –

 

-         

Você vai ter seu bebe

querida. – disse Victoria beijando-lhe a testa - Acalme-se, vou mandar Lucas

chamar alguma noviça ou uma parteira de Payon –.

 

-         

Lucas, rápido vá chamar a

senhora Mercedes, Hikara esta em trabalho de parto!

 

-         

Certo! – rapaz disparou

em direção aos estábulos e Victoria pode ouvir os passos apressados do Peco que

ele montava se dirigirem a Payon

 

-         

Senhor, - começou a moça

– se me permite, preciso ajudar a senhorita Hikara, vou pedir para que Akane o

sirva.

 

-         

Não se preocupe, vá

cuidar de sua amiga.

 

Victoria

correu para o jardim e poucos minutos depois voltou um balde de água do poço, o

despejou um caldeirão vazio e o pôs no fogão para esquentar.

 

-         

Com sua licença senhor –disse

Victoria enquanto saia-

 

Dentro de poucos

instantes Akane estava na cozinha, cortando uma fatia do pão de passas para

Engel.

 

-         

Obrigada mocinha,

agora... Diga-me o que esta acontecendo?

 

-         

A é Hikara senhor, outra

criada, ela esta em trabalho de parto sabe, não conseguia andar a cinco dias

por causa do tamanho da barriga.

 

-         

A entendo, ela é casada

com aquele rapaz que foi buscar ajuda?

 

-         

Não senhor, ela... –

Akane ficou vermelha – um castelão, a pegou a força, e ela engravidou.

 

-         

Não acredito, e seus

senhores o que fizeram?

 

-         

A senhor nos não contamos

a ele isto, eles acham que ela teve alguma aventura por Payon, se nos

contássemos e a historia chegasse aos ouvidos do pai do bebe, ele poderia

mandar Hikara deitar a criança.

 

-         

É uma pena, mas essa

Hikara, tem como cuidar do bebe?

 

-         

A senhor ela não tem,

sabe não ganhamos o suficiente para sustentar uma criança, mas a senhorita

Victoria deu a ela uma pulseira, de ouro com esmeraldas. Disse para ela vender

e usar o dinheiro para cuidar da criança.

 

-         

Esmeraldas? Então ela é

rica?

 

-         

Mais ou menos, ela já foi

uma Odalisca senhor, das boas. Ganhou grande parte de suas jóias de seu antigo

noivo, as outras comprou com seu dinheiro.

 

-         

Então o que ela veio

fazer aqui, na cozinha de um castelo?

 

-         

Ela disse que queria

recomeçar, bom na verdade não sei ao certo, quando cheguei aqui ela já estava

sendo treinada para ser governanta.

 

-         

Akane! A água! – gritou

Victoria –

 

-         

Com licença senhor.

 

-         

Claro. –disse Engel

observando a dificuldade que a menina tinha em carregar o balde de água

fervente e a bacia. – Você não quer ajuda?

 

-         

Ajuda? Não senhor, pode

deixar que eu...

 

Ela mal havia

terminado de falar e Engel já havia pego o balde de sua mãos.

 

-         

Onde eu levo?

 

-         

Por aqui. – indicou a

menina.

 

O quarto de Hikara

era minúsculo, havia uma estante, onde se podia ver as roupas da moça e algumas

roupas de bebe, o lugar onde ficaria uma mesinha foi substituído por um berço

simples de madeira polida, a cama da moça estava com algumas manchas de sangue,

e ao seu lado Victoria era espremida pelos braços da moça que gritava.

 

-         

Vi eu não agüento mais!

Esta doendo muito!

 

-         

Acalma-se, já vai passar.

 

Engel pode notar

que tanto Akane quanto Hikara tomaram Victoria como sua mãe, ambas pareciam ser

mais novas do que ela, Akane não devia apesar dos 13 anos, já Hikara devia ter

15 ou 16.

 

-         

Akane solte seu cabelo.

 

-         

Por que? - perguntou

menina apoiando a bacia na beira da cama de Hikara

 

-         

Não se deve ter nada

preso na presença de alguma mulher que está tendo bebe, isto prende a criança.

– dizia uma senhora de cabelos brancos, baixinha e gorda que entrava no quarto

– Bom querida, vamos ver sua barriga.

 

A cada toque dos

dedos da senhora Hikara apertava mais Victoria, Engel podia ver um filete de

sangue manchar o lençol da moça.

 

-         

Querido pode por água

aqui na bacia por favor?

 

-         

Claro.

 

Victoria olhou

para o Aldo, e viu Engel colocar água na bacia perto da senhora e olhar para

ela.

 

-         

Obrigada querido, se

puder se retirar, a não ser que seja marido da moça... Acho que ela não

gostaria que um homem a visse neste momento.

 

-         

A é claro... – disse o

rapaz se retirando do quarto –

 

-         

Hikara vou ate meu quarto

buscar alguns óleos para por em seu banho certo?

 

-         

Não Vi! Fique comigo, por

favor.

 

-         

Eu volto logo. – Victoria

deu um beijo nas mãos de Hikara que não parava se chorar e saiu, com a porta

fechada ela pode ouvir a senhora dizer “Vamos querida, seu bebe esta pronto

para sair, empurre!”.

 

-         

Eu... Eu peço desculpas.

– disse Victoria encabulada ao ver engel parado no Hall que separava os quartos.

 

-         

Imagine, só quis ajudar a

mocinha.

 

O monge parou um

instante olhando para Victoria, ela usava um vestido verde musgo longo, suas

mangas eram tão curtas que deixavam o braço da moça quase todo a mostra, e pela

primeira vez, ele a viu de cabelo solto, as ondas caiam ate pouco baixo da

cintura da moça, o castanho de seus cabelos combinava perfeitamente com o de

seus olhos. Ele levou uma de suas mãos ate o rosto da moça, que o virou

bruscamente.

 

-         

Eu tenho que buscar

algumas coisas em meu quarto, se o senhor me der licença. – disse a moça

correndo para as escadas que davam em seu quarto, estava com a face quente, há

muito tempo não se sentia assim. –

 

Em

duas semanas os ânimos no palácio da Colina se acalmaram, quase todos os

membros da nova aliança já haviam ido embora, salvo pelos senhores e algumas

pessoas que estavam aproveitando a Caverna na Vila dos Arqueiros para testar

suas habilidades.

 

Engel também havia

permanecido no palácio, todas as manhas o monge acordava pouco depois de

Victoria e passava os breves momentos livres que tinha antes de ir treinar

conversando com a moça. Por meio destas conversas Victoria descobriu que ele

residia em Morroc, mas que fora criado no Trapesac, onde seus pais eram

criados, por este motivo ele nunca se incomodara de conversar com uma simples

governanta, nem de tomar seu desjejum na cozinha.

 

A cada dia os dois

fincavam mais próximos, Victoria não conseguia esconder sua ansiedade para ver

Engel voltar da Vila dos Arqueiros todo final de tarde, a moça sempre

acreditara que só se interessava tanto em Engel pelo fato de poder conversar

com alguém cujos pensamentos fossem alem dos muros do palácio, assunto no qual

Hikara passou a não concordar quando enfim conseguiu sair do quarto para ajudar

Victoria em trabalhos mais leves.

 

-         

Você gosta dele não é

mesmo? – perguntou a jovem enquanto retirava a gordura de pedaços de carne de

pé grande recém cassado. –

 

-         

 Dele quem?

 

-         

Do monge.

 

-         

Engel? – A moça acenou

como que em um sim – não seja boba Hikara!

 

-         

E por que não?

 

-         

Ora ele... Hikara eu não

gosto de falar disso e você sabe.

 

-         

Ora responda, por que

não? Vi você é a única daqui que pode ser alguém coisa diferente de uma criada,

pra que continuar aqui servindo aquela bruxa?

 

-         

Eu gosto de ficar aqui.

 

-         

Pois não devia gostar.

Sabe vi eu posso não entender muito das coisas, eu nunca sai desse feudo, no

maximo fui a Feira de Payon. Mas eu sei que você n deve se prender ao seu

passado, eu já reparei no modo que eu olha para você. Quem sabe se você desse uma

chance...

 

-         

Hikara você esta

completamente certa. – interrompeu Victoria se virando para a jovem – Você

nunca saiu daqui, não faz idéia de como é lá fora não é? Pois vou te falar uma

coisa, não é esse mar de rosas que você pensa! Todos meus amigos estão por ai

pelos mares de Midgard, eu me arrisco e vou para Morroc com Engel, e depois se

ele se cansar de mim? Vou ficar novamente sozinha?

 

-         

Mas Vi...

 

-         

Chega de mais Hikara! Se

algum dia alguma coisa me motivar a sair daqui com certeza não vai ser um

homem, já me arrisquei demais por eles, e a única coisa que eu ganhei foi uma

grande decepção e falta de vontade de viver no meio dessas pessoas.

 

-         

Mas deve ser mais

divertido do que cortar batas e servir um castelo...

 

As noites

seguintes a esta conversa fizeram Victoria pensar sobre Engel, ela não era tão

inocente, sabia que havia algo mais, algo que ela não esperava nem queria

sentir novamente.

 

A lua

cheia iluminava todo o Feudo do Bosque Celestial, Victoria podia sentir a leve

brisa com odor de terra úmida tocar sua face. O ruído de passos atrás dela a

fizeram despertar de seus pensamentos.

 

-         

É uma hora ruim? –

Perguntou o monge encostado a porta, seus cabelos castanhos estavam sujos com

um pouco de sangue ressecado nas pontas, e uma de suas mãos apertava firme o

braço que escorria alguns filetes de sangue.

 

-         

Não, - disse Victoria

indo em direção a Engel – o que aconteceu aqui?

 

-         

Um esqueleto general, não

consegui mexer o braço para cura-lo.

 

-         

Quer que eu limpe?

 

-         

Se não for muito

trabalho...

 

-         

Imagine...

 

Victoria mal havia

terminado de pronunciar a palavra e já estava colocando água em uma pequena

chaleira para que fervesse, minutos depois o bálsamo de água fervida com ervas

verdes e brancas estava numa vasilha em cima da mesa.

 

-         

Ajudaria se você se

sentasse. – disse a moça indicando uma cadeira próxima à dela – Não é um corte

recente, por que não veio antes?

 

-         

Consegui treinar um pouco

mais, só desisti quando o braço todo já estava latejando. Arg! Isso arde.

 

-         

É por causa da Erva

verde, não sei se o Esqueleto estava com algum resíduo de veneno... Muitos

Mercenários treinam na caverna, isso pode ser perigoso.

 

-         

É realmente seria um perigo

atravessar o deserto com um corte envenenado.

 

-         

Atravessar o deserto? Vai

voltar para Morroc?

 

-         

Sim, em 3 dias.

 

-         

A entendo...

 

Um silencio pairou

no ar enquanto Victoria terminava de limpar o ferimento.

 

-         

Terminei, mas o corte

esta fundo... Não sei se devo tampa-lo... – os dedos de Victoria que deslizavam

por cima da ponta do corte pareceram brilhar, e onde eles tocaram o ferimento

se fechou sem deixar vestígios. –

 

-         

C... Como? – Perguntou

Engel estarrecido – Você... Não era uma odalisca? Não pode ser uma Vitata! Você

teria de conjurar alguma Oração de cura!

 

-         

Eu... Não sei o que eu

fiz... – disse Victoria com a voz um pouco perdida –

 

-         

Você é mesmo cheia de

mistérios não é? – disse Engel segurando uma risada-

 

-         

Mais do que eu mesma

penso... – disse Victoria já rindo.

 

Passado o surto de

risos proveniente do susto que os dois levaram com a cura repentina do corte de

Engel, que Victoria com muita concentração fez se fechar por inteiro, os dois

trocaram um olhar constrangedor. Só então repararam como estava próximos, Engel

ergueu sua mão ate o rosto de Victoria, e a apoiou no pescoço da moça.

 

-         

Achei que você não podia

ergue-la. – sussurrou a moça vermelha de vergonha –

 

-         

Não podia... Agora já

estou bem...

 

Os rostos dos dois

estavam tão próximos que podiam sentir a respiração um do outro, Victoria não

conseguiu se controlar, e beijou-o.

 

Os dois se

entreolharam surpresos, Victoria podia sentir seu corpo inteiro tremer, já a

única reação de Engel foi sorrir.

 

-         

Vem comigo? – perguntou o

monge.-

 

-         

Para Morroc?

 

-         

É, para Morroc. Vamos eu

te ajudo a treinar, você vai recuperara todo esse tempo perdido.

 

-         

Eu... Não, não posso ir.

 

-         

Por que não?

 

-         

Eu, não posso sair daqui,

não quero deixar as meninas sozinhas e...

 

-         

Pare com isso esta bem?

Akane me contou que você não quer se envolver com ninguém, eu sei o que você

passou, mas... Por que você não tenta? Prometo que não vou te machucar.

 

As palavras de

Engel pareciam cortar o coração da moça em vários pedaços, ela não conseguiu

segurar duas lagrimas que escorreram por seu rosto.

 

-         

Será que você sofreu

tanto assim? - disse Engel abraçando-a – prometo que não vai se repetir, eu

prometo.

 

-         

E se você não cumprir?

 

-         

Ai tenho certeza de que

você já vai estar com a mira tão boa, ou melhor que antes e já vai estar tão

cansada de me aturar que vai meter um flecha no meio da minha testa. – Victoria

deu uma risadinha que animou o monge –

 

-         

Então... Eu irei com você.

 

Os

dias que se passaram antes da partida de Victoria foram regados de lagrimas e

caras fechadas, Akane e Hikara não paravam de chorar, e Lucas mal falara com

ela depois que soube da noticia.

 

Com todos seus

pertences já em seu armazém da Corporação Kafra, Victoria tirou sua ultima

noite no Palácio da Colina para arrumar seu uniforme, o novo havia chegado um

pouco mais cedo daquele mesmo dia, já que o que ela usara há quatro anos atrás

estava pequeno. Ela arrumou flecha por flecha em sua aljave, em sua bolsa

estavam o véu de dança, sua malha, sandálias e o resto de apetrechos que ela

sempre levara consigo Por conselho se Engel ela havia comprado sapatos da loja

de armas, “Você não vai gostar de pisar na areia quente com uma sapatilha

fina como esta” Disse o rapaz quando olhou para as antigas sapatilhas de

treino da moça.

 

O sol

ainda demoraria para nascer, mas Akane hikara e Liças já estavam no jardim do

palácio olhando Engel selar dois peco-pecos.

 

-         

Não sei se ela sabe

montar senhor... – repetia Lucas olhando o majestoso peco-peco que Engel

mandara vir de sua casa-

 

-         

Bom, tenho certeza que

ela vai aprender logo.

 

Todos olharam

deslumbrados para a moça que aparecera a porta do palácio.

 

-         

Você esta linda Vi! –

gritou akane correndo para Victoria –

 

-         

Que bom que você gostou

Akane, faz tempo que não uso este uniforme, para falar a verdade nem sei se

ainda fico bem nele.

 

-         

Você esta linda. – Disse

Engel pegando a mão da moça e a beijando - Agora vamos?

 

-         

Só um minuto.

 

Victoria arrastou

seus três companheiros para a cozinha novamente, em cima da mesa três pacotes

descansaram. Victoria entregou-os a seus respectivos donos.

 

-         

Prestem atenção, a pedra

que dei a cada um de vocês é muito valiosa.

 

-         

O que são? – perguntou

Lucas erguendo a pedra transparente no ar. –

 

-         

São diamantes, de três

quilates. Se precisarem vendam eles, mas só em ultimo caso, isso é uma

segurança de que se um dia ela os expulsar daqui vocês terão pelo menos como se

manter por algum tempo.

 

Victoria Abraçou

cada um deles, prendeu o cinto em que ficava sua aljave, punhal e chicote na

cintura, checou a comprida trança que prendia seus cabelos, colocou sua capa e

enquanto saia sussurrou para Akane: “A capa que esta em cima da minha cama,

é para você, só tome cuidado para não manchar o bordado branco”.

 

-         

Sabe montar? – perguntou

Engel enquanto Victoria passava a mão no bico do peco. A moça andou ate o lado

dele, montou e deu algumas voltas pelo pátio.

 

-         

Incrível, mais acho que

sei montar muito bem!

 

-         

 Sabe mesmo meu amor.

 

Victoria sentiu

seu corpo tremer com as ultimas palavras de Engel, que já havia saído das

terras do castelo, ela olhou para seus amigos, acenou e disparou atrás de Engel

pelo feudo.

 

O vento fresco batia em seu rosto fazendo os

fios de sua franja voarem, os pecos estavam disparados por entre as arvores, em

sua cabeça, Victoria não conseguia parar de pensar como havia conseguido passar

tanto tempo sem essa sensação de liberdade, que só aquele uniforme e seu arco a

proporcionavam.

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Capitulo 12 –

Recomeço

 

 

 

O vento gelado que

entrava pela porta entreaberta parecia querer anunciar para Victoria que a

noite se aproximava, e que ela estava atrasada com seus afazeres.

 

-         

Senhora, já posso me recolher? –

perguntou uma menina que se aproximava dela –

 

-         

Já esta tudo pronto?

 

-         

Sim senhora.

 

-         

Certo Akane pode ir se deitar,

eu mesma cuido de tudo quando os convidados chegarem.

 

-         

Obrigada. – Respondeu Akane

enquanto pendurava seu avental num gancho atrás da porta.

 

Victoria ficou a

olhar a menina sumir por de trás da porta dos empregados para depois se dirigir

ao pequeno jardim situado na parte de traz do Palácio da Colina. O vento

aprecia querer congelar seus braços, o que de fato não era uma coisa ruim, o

inverno havia sido rigoroso, Victoria acreditava que estes seriam os últimos

dias frios, e que logo tudo seria recoberto pelas lindas flores de Payon.

 

Montado

num Peco Peco um rapaz parou a alguns metros da jovem.

 

-         

Vossas majestades estão chegando

Victoria, acho que você deveria se trocar e pedir para Akane preparar os

lavabos.

 

-         

Akane já se recolheu Lucas, será

que você se importaria em ir acendendo as lareiras e colocando a água quente

nas tinas enquanto eu me troco?

 

-         

Claro que não Vi, - respondeu

ele prendendo o peco em uma estaca de madeira próxima ao grande muro que

rodeava o Palácio. – sabe que faço tudo que quiser.

 

-         

Obrigada – respondeu Victoria

correndo para a mesma porta que Akane usara para sair da cozinha.

 

Os aposentos dos

empregados, por mais que todos o deixassem sempre limpo e bem arrumado não eram

exatamente o lugar mais bonito do palácio. Ela passou por um pequeno hall que

separava os aposentos e se dirigiu à escada rústica que levava a seu quarto.

 

‘Não posso

reclamar’ Pensou enquanto

girava a chave para trancar seu quarto, quando começou a trabalhar no Palácio

era obrigada a dividir o quarto com outras duas moças, mas quando a antiga

governanta da casa ficou muito velha para cuidar de suas tarefas alem de

receber seu cargo a moça  também recebera um quarto confortável e alguns

privilégios.

 

Ela se apressou em

trocar suas vestes simples pelo vestido que usava nas grandes comemorações, um

longo de algodão trabalhado, num tom verde escuro que parecia se misturar com

seus cabelos que haviam voltado ao castanho natural. Victoria prendeu seus

cabelos que agora caiam ate a metade da cintura em um coque calçou um par de

sapatilhas pretas quase invisíveis dado o comprimento do vestido e desceu

novamente para a cozinha.

 

-         

Está linda. –disse Lucas

enquanto o vulto de Victoria passou correndo ate os jardins –

 

-         

Espero que vossa majestade não o

ouça, ou ela me fará servir as visitas por debaixo de um pano imundo! –

Respondia Victoria enquanto voltava a cozinha com algumas rosas nas mãos. – A

água já esta quente?

 

-         

Sim, quer que te ajude com a

chaleira?

 

-         

A Lucas o que eu faria sem você?

 

-         

Nada minha querida, você seria

apenas uma governanta infeliz sem um bobo para te admirar o dia inteiro.

 

Victoria riu, ela

e Lucas se tornaram amigos desde o primeiro dia em que ela pôs os pés no

Palácio quatro anos atrás. Ele era um mero cavalariço e Victoria fora

contratada como ajudante de Madame Santa, antiga governanta. A tristeza que ela

emanava nas primeiras semanas que foi para o Palácio só se amenizava com a

companhia do garoto loiro de olhos castanhos que passava as tardes tentando

anima-la.

 

-         

Claro, claro, bom então que tal

me admirar enquanto leva a água sim?

 

Foi

apenas o tempo de Victoria colocar as pétalas de rosas nas bacias da entrada do

palácio enquanto Lucas as enchia de água, e dar os últimos retoques na mesa de

jantar que ela pode ouvir o som da corneta avisando que em pouco tempo a

delegação do Trapesac chegaria.

 

Aos poucos todos

os membros do clã Godomyer desciam de seus aposentos para o grande salão onde

seu banquete os esperava. Pensando em todos do clã mais a delegação Victoria

desejou não ter dispensado Akane.

 

-         

Tudo certo?

 

Victoria se virou

e viu a senhora do clã Godomyer parada a seu lado, tinha cabelos vermelhos e

olhos tão escuros que chegavam a dar calafrios.

 

-         

Sim senhora. – respondeu

Victoria com uma singela reverencia – Creio que tudo esteja a seu agrado.

 

-         

Parece tudo certo. Onde esta

aquele pequeno diabinho que não esta trabalhando?

 

-         

Perdão senhora?

 

-         

Aquela garotinha que esta com

você e Hikara.

 

-         

Akane senhora?

 

-         

Ela mesma onde esta?

 

-         

Eu a dispensei senhora, estava

cansada e alem disso é só uma menina, creio que não precise dela para me ajudar

esta noite.

 

-         

Isto não é desculpa, quando me

casei você já trabalhava aqui e devia ser mais nova do que ela.

 

-         

Mas senhora...

 

-         

Sem mais! Quero aquela menina a

seu lado quando eu voltar, ou se preferir eu arrasto Hikara para trabalhar!

 

-         

Não será necessário senhora, eu

me encarregarei que Akane esteja aqui quando voltar.

 

-         

Espero que sim. – disse a mulher

enquanto se retirava –

 

-         

Maldita! – berrou Victoria ao

entrar na cozinha, fazendo Lucas derrubar o prato de sopa que levava nas mãos. –

 

-         

O que aconteceu?

 

-         

Bruxa! Quer que Akane me ajude,

disse que se ela não estiver comigo vai arrastar Hikara.

 

-         

O que? Mas Akane é uma menina!

No meio daqueles monstros? – disse o rapaz chocado – Eu te ajudo, não quero que

aconteça com Akane o mesmo que aconteceu com Hikara.

 

-         

Não Lucas, se fizer isso teremos

problemas, suba e acorde Akane, mande se vestir para trabalhar comigo no salão.

E avise que hoje ela ira dormir no quarto com Hikara

 

Ela mal havia

terminado de falar e o cavalariço já havia desaparecido. Com um suspiro

Victoria Apanhou um par de luvas brancas e voltou para o salão de refeições.

 

O

chão de pedra polida parecia um espelho, dois estandartes com o brasão dos

Godomyer estavam postos um de cada lado do salão, no meio uma grande mesa

retangular exibia um banquete digno do rei de Toda Rune-Midgard e a seu redor

outras mesas menores com a mesma fartura e requinte. Quatro grandes lareiras

aqueciam o ambiente, e um lustre de cristal o iluminava.

 

-         

Por que me acordou Vi? –

perguntou Akane um pouco sonolenta.

 

-         

Vossa majestade quer que você

trabalhe comigo, veja se acorda esta bem!

 

-         

Certo, certo.. – disse a jovem

abrindo a boca ao Aldo de Victoria. – Mas, eu estou cansada, por que não chamou

Hikara?

 

-         

Ela mal consegue andar Akane!

–Disse Victoria repreendendo-a – Não deve ser preguiçosa!

 

-         

Mas você mesma disse que era

perigoso eu ficar em festas...

 

-         

Entenda que Vossa majestade não

foi criada na ala dos criados e nunca viu a porta de seu quarto ser forçada por

um castelão bêbado, que Odin queira que você também nunca o veja Akane.

 

-         

E vocês duas parem de Chamar

Vossa Majestade de Vossa Majestade, eles estão subindo as escadas.- Disse Lucas

entregando um par de luvas como os de Victoria a Akane – Ela me mandou ajudar

vocês.

 

-         

Não é de todo uma ma idéia. –

sussurrou Victoria enquanto fazia uma reverencia aos dois fortes lideres que

entravam no salão, com Akane e Lucas em seu encalço.

 

-         

Esta é nossa Governanta Enzo!

Victoria Mouyal, qualquer coisa que precise durante sua estadia aqui pode pedir

a ela. – Apresentou Carlo, líder dos Godomyer –.

 

-         

É uma honra milorde. –

Cumprimentou Victoria com nova reverencia a aquele homem de cabelos grisalhos e

de olhos azuis. –

 

O

banquete fora um sucesso, todos elogiaram a boa comida e bebida, pelo grande

sorriso e brinde dados por Carlo a certa altura da festa Victoria pode imaginar

que havia conseguido o que queria com aquele banquete. E pela fuga precipitada

da herdeira dos Godomyer pára seu quarto ela e Lucas presumiam que se tratava

de um casamento para Aliança.

 

-         

Senhora? – Chamou Victoria com

uma leve reverencia ao lado de sua senhora – Posso me recolher?

 

Sibila olhou ao

redor do salão, todos haviam se retirado para seus quartos, apenas permaneciam

ela e seu marido, que conversava animadamente com Enzo.

 

-         

Sim, e esteja pronta cedo, quero

acordar e ter meu café e de meus convidados prontos.

 

-         

Sim senhora.

 

Enquanto Victoria

se dirigia a cozinha Enzo a seguiu com os olhos.

 

-         

Muito bonita essa sua governanta

Carlo.

 

-         

Victoria? A sim, uma menina

muito especial.

 

-         

Você gosta muito dela não?

 

-         

É boa governanta.

 

-         

Bom me diga ela... É casada?

 

-         

O Enzo não imaginava que estava

me perguntando neste sentido. Não, creio que não.

 

-         

E os aposentos dela?

 

-         

Entre numa porta de madeira que

há na cozinha – disse o Cavaleiro apontando para o aposento – O quarto dela é o

único subindo a escada.

 

-         

Interessante, bom se me permitem

vou me retirar.

 

Encostado perto da

porta da cozinha Lucas não sabia o que fazer viu Enzo subir para seus aposentos

e depois os senhores do castelo que se recolheram.

 

Deitada

em sua cama Victoria observava o gakkung apoiado em cima de um baú, a luz fraca

que vinha da pequena lareira no quarto tornava visíveis os detalhes do arco,

sua corda e curvatura pareciam invencíveis e inquebraveis.

 

O barulho de

alguém batendo na porta fez Victoria se levantar, mesmo com a lareira acesa o

frio do quarto pareceu penetrar nos ossos da moça.

 

-         

Akane? – perguntou se

aproximando da porta –

 

-         

Não, sou eu, abra Vi!

 

-         

Esta louco? Por que abriria a

porta do meu quarto para você no meio da noite Lucas?

 

-         

Prefere que eu ou nosso

convidado de honra?

 

Lucas ouviu o

barulho da tranca se abrir para depois ver a moça que usava uma camisola branca

de alças que ia ate um pouco acima dos joelhos, os longos cabelos presos por

uma trança recém feita deixava a mostra o rosto que ele sempre adorara.

 

-         

O que você quer? –perguntou ela

assustada -

 

-         

Proteger você. – respondeu Lucas

empurrando a moça para dentro do quarto e fechando a porta, tendo todo cuidado

de deixa-la mal trancada.

 

-         

Proteger-me? Lucas o que houve?

O que é isto!?

 

Victoria olhou

assustada para o rapaz que puxara o laço de seu cabelo e agora soltava sua

trança bagunçando os fios.

 

-         

Não se assuste Vi, eu lhe

explico depois, mais agora você tem que confiar em mim.

 

-         

Eu... – A moça olhava perplexa

seu amigo apoiar sua única adaga em uma mesa, retirar sua camisa e sapatos.

 

-         

Depois vi, depois.

 

Lucas segurou

Victoria pelas mãos e a puxou para a cama desarrumada pelo despertar repentino

da moça.

 

-         

O que você pensa que esta

fazendo? – disse Victoria Se soltando de Lucas. –

 

-         

Certo, no geral, Carlo explicou

a Enzo onde seus aposentos ficam e eu creio que pelo modo com que ele te seguiu

com os olhos que ele não quer exatamente um chá!

 

-         

Eu...

 

-         

Você vai deitar aqui e fingir

que acabou de passar sua noite de núpcias comigo.

 

Victoria ouviu alguém tossir, pe ante pe alguém

subia as escadas ate seu quarto.  Ela pode sentir as mãos de Lucas a

puxarem pela cintura, quando caiu em si estava deitada em sua cama já coberta,

as alças de sua camisola estavam um pouco abaixadas deixando a mostra um

pequeno pedaço da curva de seus seios.

 

-         

Sabe se você me abraçar

também ficaria mais real.

 

Assim que Victoria

passou seus braços pelo pescoço de Lucas a porta de seu quarto foi forçada, ela

entendera o porque Lucas não havia a trancado direito, daria a impressão de

algo feito às pressas. “Que vergonha, bem coisa de amantes isto!”

Victoria brigou consigo mesma, mas preferia passar por isso a ter que se deitar

com um velho bêbado.

 

Ela podia ouvir os

passos do homem ate perto de sua cama, ouviu algo como “Maldição” e

depois o barulho da porta se fechando e o ranger das escadas.

 

-         

Você é louco! – sussurrou

enquanto arrumava sua camisola

 

-         

Você devia aprender a

confiar mais em mim, achou que eu ia fazer o que? Agarrar-te?

 

-         

N...Não sei.

 

-         

Ora vi, pare de

besteiras!

 

-         

Obrigada Lucas.

 

-         

De nada, bom acho melhor

eu voltar para o meu quarto. – disse o rapaz se levantando da cama –

 

-         

Não! – interrompeu a moça

o puxando de volta. – E se ele voltar?

 

-         

Quem diria, logo você com

medo? Achei que guerreiros não tinham medo. – brincou o rapaz olhando para o

velho baú e para o arco no canto do quarto de Victoria. –

 

-         

Experiência e Treino são

duas coisas que fazem de um guerreiro imbatível Lucas, há quatro anos eu teria

o matado se tentasse encostar em mim. Agora, mesmo ele sendo um velho, e não

tendo mais sua agilidade eu perdi boa parte da minha destreza, o fato dele

tentar se aproveitar de mim não me assusta, meu medo é de errar a flecha.

 

-         

Bom então acho que devo

ficar e protege-la, milady. –disse Lucas se deitando novamente. –

 

Victoria se virou

de costas para o amigo. “Devemos continuar com nosso teatrinho?” Foram

as palavras que ela conseguiu ouvir enquanto sentia a mão de Lucas em sua

cintura e a respiração dele em sua nuca Para surpresa da moça ele a abraçava

cada vez mais forte, a mão que antes estava apoiada em sua cintura deslizava

pelos cachos dela, a respiração dele se tornara mais calma como se quisesse

sentir o perfume que exalava da pele de Victoria.

 

De olhos fechados

Victoria voltou alguns anos em sua vida, foram tantos os dias em que ela ficara

assim com seu antigo noivo, principalmente deitados no jardim da guilda,

olhando o sol sumir por de traz das arvores.

 

Um arrepio subiu

pela espinha de Victoria, causado pelo toque dos lábios de Lucas em seu pescoço

e pelo forte abraço.

 

-         

Lucas... Não, por favor...

 

-         

Por favor – interrompeu o

rapaz – Eu prometo que não faço nada, só me deixe imaginar, pelo menos hoje que

você é minha, só minha.

 

O rapaz encostou

seu rosto no pescoço de Victoria, e uma lagrima escorreu dos olhos da moça. Ela

não podia mais viver no passado, ela fechou os olhos e adormeceu.

 

Deitado

com Victoria, Lucas podia sentir o perfume que vinha da moça, tantas foram as

vazes que ele sonhou em estar assim com ela, talvez se tivesse se declarado, estariam

casados, e ela não passaria por situações como essa. Ele podia sentir a

respiração de seu amor pelo movimento de seu ventre, onde ele apoiara a mão,

não conseguia mais se controlar, deixou se dominar pelo momento. Suas mãos

escorregavam para o pescoço de Victoria ate sua nuca, afastando os cachos de

cabelo que a tampavam. Lucas Abriu os olhos, não via nenhuma reação negativa em

Victoria, talvez ela se permitisse a um momento de prazer depois de tantos anos

que ele a viu chorar pelos contos do palácio.

 

Já embriagado de

desejo, Lucas abaixou seu rosto ate o pescoço de Victoria e o beijou, enquanto

voltava suas mãos para a barriga dela.

 

-         

Lucas...Não, por favor...

 

-         

Porfavor – interrompeu o

rapaz – Eu prometo que não faço nada, só me deixe imaginar, pelo menos hoje que

você é minha, só minha.

 

Ele apoiou seu

rosto no pescoço de Victoria, e em sua mente se formaram imagens de como os

dois seriam felizes juntos, ele faria de tudo para que ela se alegrasse, faria

de tudo para tira-la daquele lugar. Um suspiro de Victoria foi o suficiente

para fazer ele acordar de seus sonhos e perceber que a moça adormecera, em

poucos minutos ele também caiu em um sono pesado.

 

De

seu quarto Victoria podia ouvir os músicos afinando seus instrumentos, havia sido

um dia corrido para ela, varias mulheres haviam chegado de Payon para ajudar na

arrumação do castelo, sem contar nos inúmeros membros da nova aliança que

chegava com peco pecos e carruagens a todo instante.

 

A moça se olhou no

pequeno espelho pendurado na parede de seu quarto, havia ganhado um vestido

marrom escuro, inteiro feito de veludo para se apresentar nesta festa, ela

podia jurar que sua senhora havia o comprado extremamente maior do que ela para

ficar ridículo, mas em duas horas Victoria já havia conseguido deixa-lo cintado

e ainda retirar um bom pedaço da barra.

 

-         

Vi? Posso entrar?

 

Ela se dirigiu a

porta para abri-la, não havia a deixado destrancada um minuto se quer desde a

noite anterior.

 

-         

Algum problema?

 

-         

Não, eu... Só queria

falar com você. –Respondeu Lucas abaixando a cabeça, Victoria não pode deixar

de notar a vermelhidão no rosto do rapaz que tinha feito de tudo para não

encontrar com ela naquele dia –.

 

-         

Entre, estou terminando

de me arrumar.

 

O rapaz não parou

de fitar o chão por um minuto ate que a porta atrás dele se fechasse e Victoria

se sentasse em sua cama.

 

-         

Então... – começou a moça

enquanto penteava seu cabelo –

 

-         

Vi eu, queria pedir

desculpas. De ontem sabe, eu...

 

-         

Você me fez um grande

favor. – Interrompeu a moça notando o constrangimento de Lucas – Só isso.

 

Victória apoiou

seu Gakkung na cama e abriu o antigo baú onde guardava seus pertences.

 

-         

O que é isso? – perguntou

Lucas ao ver ela retirar um baú menor e apóia-lo em sua cama –

 

-         

Isso, bem, digamos que é

o que me restou da época que eu era mais do que uma governanta.

 

Victoria sentiu

uma ligeira vontade de rir da expressão de Lucas quando ela abriu a caixa,

estava repleta de colares, brincos, pulseiras e todo tipo de jóias que o rapaz

nunca tinha visto.

 

Ela passou os

dedos por cima das jóias, como se quisesse que uma delas voasse para sua mão e

pegou uma gargantilha feita de fios de ouro trançados, que se ajustou

perfeitamente a seu pescoço.

 

-         

Só me responda uma

coisa... – disse o rapaz perplexo – se você tem tantas jóias assim, não imagino

que seja pobre. Por que aturar isso tudo? Devia estar vivendo como uma rainha!

 

-         

Eu queria recomeçar,

tudo. E bom não tenho jóias e dinheiro o suficiente para viver como rainha o

resto da minha vida.

 

Victoria deu uma

ultima olhada para o espelho, arrumou o laço que prendia seu cabelo em coque e

fez sinal para que Lucas a acompanhasse ao grande salão, logo a festa começaria.

 

Assim

que a noite caiu os convidados começaram a aparecer, tudo parecia perfeito, o

grande salão belissimamente decorado com lustres de cristal e faixas com as

cores vermelho e verde escuro, simbolizando a união dos clãs. Na porta dois

estandartes carregavam suas insígnias, não havia uma pessoa que não passava por

eles e comentava o quão bem feitos haviam sido, o que deixara Victoria feliz,

já que Hikara havia trabalhado durante um mês para borda-los.

 

Paradas a porta da

cozinha Victoria e Akane observavam o baile, a maioria das pessoas estavam

dançando, apenas alguns grupos se mantinham presos às mesas conversando

animadamente.

 

-         

A Vi, não são lindos? –

perguntou Akane sorrindo –

 

-         

O que?

 

-         

Eles – respondeu a menina

indicando os convidados com o rosto –

 

-         

A sim, sim bailes são

mesmo muito bonitos –.

 

-         

Eu faria de tudo para

estar ali, sabe, ser uma delas, com vertidos, jóias e tudo mais. Com cavaleiros

me trazendo rosas e falando que sou linda...

 

-         

Eu já fiz parte desse

mundo e acredite, nem tudo são flores...

 

-         

Hã?

 

-         

O que foi?

 

-         

Você disse... Que já fez

parte desse mundo...

 

-         

Disse?

 

-         

Você não lembra? –

perguntou Akane preocupada –

 

-         

Não! Ora você esta

imaginando coisas Akane.

 

-         

Eu não estou imaginando

nada, não é a primeira vez que você fala coisas estranhas. – As duas se

entreolharam. – Quem sabe você não esta se lembrando de alguma coisa...

 

-         

Acho que não, se eu me

lembrasse não teria esquecido uma frase sobre isso.

 

-         

Senhorita? Aquela mesa

deseja mais vinho, posso levar? – perguntava uma moça gorducha atrás dela –

 

-         

A... Deixe que eu mesma

levo.- Respondeu Victoria observando as mãos cheias de calos da moça, se ela

derrubasse o vinho seria um grande problema –.

 

Com um grande

jarro de vinho nas mãos Victoria se esgueirava ate uma mesa na lateral do salão

onde um grupo de rapazes conversava animadamente.

 

-         

Esta louco? A Guerra será

a pouco mais de um ano, se Enzo mandar batedores para outros clãs apenas para

conhecer os castelos eles podem ficar por lá mesmo, e perderíamos guerreiros

valorosos! – dizia um cavaleiro enquanto rodava um punhal na mesa. –

 

-         

Só estou dizendo que

castelos de Payon e Geffen são verdadeiros labirintos, alguém devia pelo menos

fazer um mapa para estudarmos ate lá. – sobrepunha um rapaz alto, de olhos e

cabelos castanho claro que chamou a atenção de Victoria, não parecia ser mais

velho do que ela, mas em seus pés uma luz azulada, muito fraca já começava a

aparecer. –

 

-         

Engel tem razão, não

gostaria de cair numa armadilha antes de chegar à sala do Emperium.

 

-         

Com licença.- Interrompeu

Victoria se pondo ao lado da mesa - trouxe mais vinho para os senhores.

 

-         

O sim se puder fazer a

gentileza de nos servir... – pediu o Cavaleiro empurrando seu copo um pouco

mais perto da moça –

 

Victoria encheu os

copos de todos com perfeição, ate ver uma mão enfaixada segurar um copo meio cheio

a sua frente.

 

-         

Se puder fazer a

gentileza. – disse o Rapaz que havia chamado sua atenção –

 

Victoria completou

o copo do rapaz, sentia que ele a olhava, ela tinha certeza de que estava

ligeiramente vermelha.

 

-         

Desejam mais alguma coisa?

– perguntou a moça se pondo de pe –

 

-         

Sim... – começou Engel –

Queria saber o que uma moça como você faz trabalhando aqui?

 

-         

Eu...Sou governanta

senhor, gosto muito de trabalhar aqui. Agora se me permitem.

 

Victoria pegou o

jarro que estava vazio e o substituiu pelo que ela acabara de trazer, fez uma

educada mensura e se retirou.

 

O sol

mal surgira por de traz das grandes arvores que preenchiam o Feudo do Bosque

Celestial e Victoria estava dando instruções a Akane de como cuidar dos Pecos

que lotavam a estrebaria do palácio. Um vento fresco entrou na cozinha pela

porta aberta, um alivio para as moças que, acostumadas com o clima de Payon,

previram que a partir daquele dia o clima ficaria mais quente, e logo tudo

seria inundado por flores.

 

Com a menina se

dirigindo aos Peco Pecos com uma imensa cesta de frutas na mão Victoria pode

retomar a seus afazeres. Com Hikara num estado tão avançado de gravidez ela

tinha que cuidar da cozinha e de suas obrigações de governanta sozinha, Akane a

ajudava muito, mas ela não queria forçar muito a menina.

 

Victoria puxou uma

grande assadeira de dentro do forno próximo a porta e a colocou em cima da

mesa, o cheiro de pão inundou o ambiente.

 

-         

Hm, que cheiro bom Vi. –

disse Lucas passando pela porta num pulo –

 

-         

Tire o olho, esses são

para os convidados.

 

-         

E nos vamos comer o que?

 

-         

Também fiz para nos –

respondeu a moça sorrindo – mas ainda estão assando –

 

-         

Sim senhora, vou esperar.

 

 

Victoria andou ate

o fogão onde um caldeirão descansava, ela apanhou um prato fundo, de madeira

polida e colocou duas conchas do que parecia ser sopa de aveia.

 

-         

Cuidado, acho que esta

quente. – disse colocando o prato na frente de Lucas que já havia colocado uma

colher cheia na boca -=

 

-         

Quente? Esta fervendo!

 

-         

Mas o cheiro esta ótimo.

– dizia um rapaz encostado a porta, Ele vestia uma calça marrom escura, presa

por um cinturão vermelho com um emblema dourado na centro, e um, sobretudo

branco e marrom, com detalhes vermelhos nas laterais e em seu capuz, os pulsos

ainda estavam enfaixados, e agora Victoria entendera o porque, ele era um monge.

 

-         

Bom dia senhor

-cumprimentou a moça- deseja algo?

 

-         

Sim, estava pensando em

sair para treinar bem cedo, a senhorita poderia me fazer à gentileza de

servir-me algo.

 

-         

Sim senhor.

 

Victoria se

apressou em pegar talheres e a louça de porcelana em que eram servidas as

refeições de seus senhores, ela não esperava ter de servir alguém sta hora. Uns

poucos minutos a ponta da mesa da cozinha ostentava um belíssimo café da manha,

o pão recém preparado já estava cortado em fatias, havia duas cumbucas com

qualhada com mel e geléia de framboesas, uma jarra de suco de laranja e um bule

com chá fervendo, alem de frutas e alguns pedaços de bolo.

 

-         

O senhor deseja um pouco

de sopa de aveia? – perguntou a moça –

 

-         

Sim, por favor.

 

Enquanto

Victoria se dirigia ao fogão Engel a olhava, não era possível que uma moça

educada como ela tivesse sido sempre uma criada, ou no Maximo governanta. Ele

olhou para as mãos da moça, as pontas dos dedos conservavam alguns calos, e um

sua mão *** havia uma cicatriz reta, que parecia ser feita por uma queimadura.

 

-         

Mais alguma coisa senhor?

– perguntou a moça colocando o prato fumegante à frente do monge –

 

-         

Não, obrigada.

 

-         

Pronto Vi, e agora o que

devo fazer? – perguntou Akane entrando novamente, seu avental estava sujo de

lama, provavelmente ela havia se ajoelhado na estrebaria –.

 

-         

Se troque primeiro! Já

não falei que deve retirar seu avental quando sair?

 

-         

A desculpe, me esqueci.

 

-         

Pois não devia, depois

volte aqui, você vai levar o café para Hikara.

 

-         

Esta bem. – disse a menina

fechando a porta em direção a seus aposentos –

 

-         

Quantos anos ela tem? É

Vi certo? – Perguntou Engel a Lucas que olhava para o forno como se achasse que

os Paes iriam assar mais rápido. –

 

-         

O nome dela é Victoria

senhor, mas não sei sua idade.

 

-         

Não sabe? Achei que se

conhecessem bem.

 

-         

Sim senhor, somos amigos

há tempos mais, ela mesma não sabe. Perdeu a memória quando era menor, não se

lembra de nada que aconteceu a mais de seis anos atrás.

 

-         

A entendo, então ela não

poderia saber de onde é não?

 

-         

Creio que não senhor, ela

guarda algumas coisas que estavam com ela quando recobrou a consciência, mas

nos não entendemos o significado delas.

 

-         

A entendo...

 

-         

Vi, Vi! – chamava Akane

de dentro dos aposentos dos criados, a moça largou a assadeira que acabara de

tirar do forno em cima da mesa e correu em direção a ela –.

 

-         

O que foi? – perguntou

entrando se supetão no quarto de Hikara.

 

A

moça estava suando frio, com as mãos na barriga já baixa, seus cabelos cor de

mel estavam embaraçados e molhados pelas lagrimas dela.

 

-         

O que esta acontecendo

Vi? – perguntou a moça entre soluços –

 

-         

Você vai ter seu bebe

querida. – disse Victoria beijando-lhe a testa - Acalme-se, vou mandar Lucas

chamar alguma noviça ou uma parteira de Payon –.

 

-         

Lucas, rápido vá chamar a

senhora Mercedes, Hikara esta em trabalho de parto!

 

-         

Certo! – rapaz disparou

em direção aos estábulos e Victoria pode ouvir os passos apressados do Peco que

ele montava se dirigirem a Payon

 

-         

Senhor, - começou a moça

– se me permite, preciso ajudar a senhorita Hikara, vou pedir para que Akane o

sirva.

 

-         

Não se preocupe, vá

cuidar de sua amiga.

 

Victoria

correu para o jardim e poucos minutos depois voltou um balde de água do poço, o

despejou um caldeirão vazio e o pôs no fogão para esquentar.

 

-         

Com sua licença senhor –disse

Victoria enquanto saia-

 

Dentro de poucos

instantes Akane estava na cozinha, cortando uma fatia do pão de passas para

Engel.

 

-         

Obrigada mocinha,

agora... Diga-me o que esta acontecendo?

 

-         

A é Hikara senhor, outra

criada, ela esta em trabalho de parto sabe, não conseguia andar a cinco dias

por causa do tamanho da barriga.

 

-         

A entendo, ela é casada

com aquele rapaz que foi buscar ajuda?

 

-         

Não senhor, ela... –

Akane ficou vermelha – um castelão, a pegou a força, e ela engravidou.

 

-         

Não acredito, e seus

senhores o que fizeram?

 

-         

A senhor nos não contamos

a ele isto, eles acham que ela teve alguma aventura por Payon, se nos

contássemos e a historia chegasse aos ouvidos do pai do bebe, ele poderia

mandar Hikara deitar a criança.

 

-         

É uma pena, mas essa

Hikara, tem como cuidar do bebe?

 

-         

A senhor ela não tem,

sabe não ganhamos o suficiente para sustentar uma criança, mas a senhorita

Victoria deu a ela uma pulseira, de ouro com esmeraldas. Disse para ela vender

e usar o dinheiro para cuidar da criança.

 

-         

Esmeraldas? Então ela é

rica?

 

-         

Mais ou menos, ela já foi

uma Odalisca senhor, das boas. Ganhou grande parte de suas jóias de seu antigo

noivo, as outras comprou com seu dinheiro.

 

-         

Então o que ela veio

fazer aqui, na cozinha de um castelo?

 

-         

Ela disse que queria

recomeçar, bom na verdade não sei ao certo, quando cheguei aqui ela já estava

sendo treinada para ser governanta.

 

-         

Akane! A água! – gritou

Victoria –

 

-         

Com licença senhor.

 

-         

Claro. –disse Engel

observando a dificuldade que a menina tinha em carregar o balde de água

fervente e a bacia. – Você não quer ajuda?

 

-         

Ajuda? Não senhor, pode

deixar que eu...

 

Ela mal havia

terminado de falar e Engel já havia pego o balde de sua mãos.

 

-         

Onde eu levo?

 

-         

Por aqui. – indicou a

menina.

 

O quarto de Hikara

era minúsculo, havia uma estante, onde se podia ver as roupas da moça e algumas

roupas de bebe, o lugar onde ficaria uma mesinha foi substituído por um berço

simples de madeira polida, a cama da moça estava com algumas manchas de sangue,

e ao seu lado Victoria era espremida pelos braços da moça que gritava.

 

-         

Vi eu não agüento mais!

Esta doendo muito!

 

-         

Acalma-se, já vai passar.

 

Engel pode notar

que tanto Akane quanto Hikara tomaram Victoria como sua mãe, ambas pareciam ser

mais novas do que ela, Akane não devia apesar dos 13 anos, já Hikara devia ter

15 ou 16.

 

-         

Akane solte seu cabelo.

 

-         

Por que? - perguntou

menina apoiando a bacia na beira da cama de Hikara

 

-         

Não se deve ter nada

preso na presença de alguma mulher que está tendo bebe, isto prende a criança.

– dizia uma senhora de cabelos brancos, baixinha e gorda que entrava no quarto

– Bom querida, vamos ver sua barriga.

 

A cada toque dos

dedos da senhora Hikara apertava mais Victoria, Engel podia ver um filete de

sangue manchar o lençol da moça.

 

-         

Querido pode por água

aqui na bacia por favor?

 

-         

Claro.

 

Victoria olhou

para o Aldo, e viu Engel colocar água na bacia perto da senhora e olhar para

ela.

 

-         

Obrigada querido, se

puder se retirar, a não ser que seja marido da moça... Acho que ela não

gostaria que um homem a visse neste momento.

 

-         

A é claro... – disse o

rapaz se retirando do quarto –

 

-         

Hikara vou ate meu quarto

buscar alguns óleos para por em seu banho certo?

 

-         

Não Vi! Fique comigo, por

favor.

 

-         

Eu volto logo. – Victoria

deu um beijo nas mãos de Hikara que não parava se chorar e saiu, com a porta

fechada ela pode ouvir a senhora dizer “Vamos querida, seu bebe esta pronto

para sair, empurre!”.

 

-         

Eu... Eu peço desculpas.

– disse Victoria encabulada ao ver engel parado no Hall que separava os quartos.

 

-         

Imagine, só quis ajudar a

mocinha.

 

O monge parou um

instante olhando para Victoria, ela usava um vestido verde musgo longo, suas

mangas eram tão curtas que deixavam o braço da moça quase todo a mostra, e pela

primeira vez, ele a viu de cabelo solto, as ondas caiam ate pouco baixo da

cintura da moça, o castanho de seus cabelos combinava perfeitamente com o de

seus olhos. Ele levou uma de suas mãos ate o rosto da moça, que o virou

bruscamente.

 

-         

Eu tenho que buscar

algumas coisas em meu quarto, se o senhor me der licença. – disse a moça

correndo para as escadas que davam em seu quarto, estava com a face quente, há

muito tempo não se sentia assim. –

 

Em

duas semanas os ânimos no palácio da Colina se acalmaram, quase todos os

membros da nova aliança já haviam ido embora, salvo pelos senhores e algumas

pessoas que estavam aproveitando a Caverna na Vila dos Arqueiros para testar

suas habilidades.

 

Engel também havia

permanecido no palácio, todas as manhas o monge acordava pouco depois de

Victoria e passava os breves momentos livres que tinha antes de ir treinar

conversando com a moça. Por meio destas conversas Victoria descobriu que ele

residia em Morroc, mas que fora criado no Trapesac, onde seus pais eram

criados, por este motivo ele nunca se incomodara de conversar com uma simples

governanta, nem de tomar seu desjejum na cozinha.

 

A cada dia os dois

fincavam mais próximos, Victoria não conseguia esconder sua ansiedade para ver

Engel voltar da Vila dos Arqueiros todo final de tarde, a moça sempre

acreditara que só se interessava tanto em Engel pelo fato de poder conversar

com alguém cujos pensamentos fossem alem dos muros do palácio, assunto no qual

Hikara passou a não concordar quando enfim conseguiu sair do quarto para ajudar

Victoria em trabalhos mais leves.

 

-         

Você gosta dele não é

mesmo? – perguntou a jovem enquanto retirava a gordura de pedaços de carne de

pé grande recém cassado. –

 

-         

 Dele quem?

 

-         

Do monge.

 

-         

Engel? – A moça acenou

como que em um sim – não seja boba Hikara!

 

-         

E por que não?

 

-         

Ora ele... Hikara eu não

gosto de falar disso e você sabe.

 

-         

Ora responda, por que

não? Vi você é a única daqui que pode ser alguém coisa diferente de uma criada,

pra que continuar aqui servindo aquela bruxa?

 

-         

Eu gosto de ficar aqui.

 

-         

Pois não devia gostar.

Sabe vi eu posso não entender muito das coisas, eu nunca sai desse feudo, no

maximo fui a Feira de Payon. Mas eu sei que você n deve se prender ao seu

passado, eu já reparei no modo que eu olha para você. Quem sabe se você desse uma

chance...

 

-         

Hikara você esta

completamente certa. – interrompeu Victoria se virando para a jovem – Você

nunca saiu daqui, não faz idéia de como é lá fora não é? Pois vou te falar uma

coisa, não é esse mar de rosas que você pensa! Todos meus amigos estão por ai

pelos mares de Midgard, eu me arrisco e vou para Morroc com Engel, e depois se

ele se cansar de mim? Vou ficar novamente sozinha?

 

-         

Mas Vi...

 

-         

Chega de mais Hikara! Se

algum dia alguma coisa me motivar a sair daqui com certeza não vai ser um

homem, já me arrisquei demais por eles, e a única coisa que eu ganhei foi uma

grande decepção e falta de vontade de viver no meio dessas pessoas.

 

-         

Mas deve ser mais

divertido do que cortar batas e servir um castelo...

 

As noites

seguintes a esta conversa fizeram Victoria pensar sobre Engel, ela não era tão

inocente, sabia que havia algo mais, algo que ela não esperava nem queria

sentir novamente.

 

A lua

cheia iluminava todo o Feudo do Bosque Celestial, Victoria podia sentir a leve

brisa com odor de terra úmida tocar sua face. O ruído de passos atrás dela a

fizeram despertar de seus pensamentos.

 

-         

É uma hora ruim? –

Perguntou o monge encostado a porta, seus cabelos castanhos estavam sujos com

um pouco de sangue ressecado nas pontas, e uma de suas mãos apertava firme o

braço que escorria alguns filetes de sangue.

 

-         

Não, - disse Victoria

indo em direção a Engel – o que aconteceu aqui?

 

-         

Um esqueleto general, não

consegui mexer o braço para cura-lo.

 

-         

Quer que eu limpe?

 

-         

Se não for muito

trabalho...

 

-         

Imagine...

 

Victoria mal havia

terminado de pronunciar a palavra e já estava colocando água em uma pequena

chaleira para que fervesse, minutos depois o bálsamo de água fervida com ervas

verdes e brancas estava numa vasilha em cima da mesa.

 

-         

Ajudaria se você se

sentasse. – disse a moça indicando uma cadeira próxima à dela – Não é um corte

recente, por que não veio antes?

 

-         

Consegui treinar um pouco

mais, só desisti quando o braço todo já estava latejando. Arg! Isso arde.

 

-         

É por causa da Erva

verde, não sei se o Esqueleto estava com algum resíduo de veneno... Muitos

Mercenários treinam na caverna, isso pode ser perigoso.

 

-         

É realmente seria um perigo

atravessar o deserto com um corte envenenado.

 

-         

Atravessar o deserto? Vai

voltar para Morroc?

 

-         

Sim, em 3 dias.

 

-         

A entendo...

 

Um silencio pairou

no ar enquanto Victoria terminava de limpar o ferimento.

 

-         

Terminei, mas o corte

esta fundo... Não sei se devo tampa-lo... – os dedos de Victoria que deslizavam

por cima da ponta do corte pareceram brilhar, e onde eles tocaram o ferimento

se fechou sem deixar vestígios. –

 

-         

C... Como? – Perguntou

Engel estarrecido – Você... Não era uma odalisca? Não pode ser uma Vitata! Você

teria de conjurar alguma Oração de cura!

 

-         

Eu... Não sei o que eu

fiz... – disse Victoria com a voz um pouco perdida –

 

-         

Você é mesmo cheia de

mistérios não é? – disse Engel segurando uma risada-

 

-         

Mais do que eu mesma

penso... – disse Victoria já rindo.

 

Passado o surto de

risos proveniente do susto que os dois levaram com a cura repentina do corte de

Engel, que Victoria com muita concentração fez se fechar por inteiro, os dois

trocaram um olhar constrangedor. Só então repararam como estava próximos, Engel

ergueu sua mão ate o rosto de Victoria, e a apoiou no pescoço da moça.

 

-         

Achei que você não podia

ergue-la. – sussurrou a moça vermelha de vergonha –

 

-         

Não podia... Agora já

estou bem...

 

Os rostos dos dois

estavam tão próximos que podiam sentir a respiração um do outro, Victoria não

conseguiu se controlar, e beijou-o.

 

Os dois se

entreolharam surpresos, Victoria podia sentir seu corpo inteiro tremer, já a

única reação de Engel foi sorrir.

 

-         

Vem comigo? – perguntou o

monge.-

 

-         

Para Morroc?

 

-         

É, para Morroc. Vamos eu

te ajudo a treinar, você vai recuperara todo esse tempo perdido.

 

-         

Eu... Não, não posso ir.

 

-         

Por que não?

 

-         

Eu, não posso sair daqui,

não quero deixar as meninas sozinhas e...

 

-         

Pare com isso esta bem?

Akane me contou que você não quer se envolver com ninguém, eu sei o que você

passou, mas... Por que você não tenta? Prometo que não vou te machucar.

 

As palavras de

Engel pareciam cortar o coração da moça em vários pedaços, ela não conseguiu

segurar duas lagrimas que escorreram por seu rosto.

 

-         

Será que você sofreu

tanto assim? - disse Engel abraçando-a – prometo que não vai se repetir, eu

prometo.

 

-         

E se você não cumprir?

 

-         

Ai tenho certeza de que

você já vai estar com a mira tão boa, ou melhor que antes e já vai estar tão

cansada de me aturar que vai meter um flecha no meio da minha testa. – Victoria

deu uma risadinha que animou o monge –

 

-         

Então... Eu irei com você.

 

Os

dias que se passaram antes da partida de Victoria foram regados de lagrimas e

caras fechadas, Akane e Hikara não paravam de chorar, e Lucas mal falara com

ela depois que soube da noticia.

 

Com todos seus

pertences já em seu armazém da Corporação Kafra, Victoria tirou sua ultima

noite no Palácio da Colina para arrumar seu uniforme, o novo havia chegado um

pouco mais cedo daquele mesmo dia, já que o que ela usara há quatro anos atrás

estava pequeno. Ela arrumou flecha por flecha em sua aljave, em sua bolsa

estavam o véu de dança, sua malha, sandálias e o resto de apetrechos que ela

sempre levara consigo Por conselho se Engel ela havia comprado sapatos da loja

de armas, “Você não vai gostar de pisar na areia quente com uma sapatilha

fina como esta” Disse o rapaz quando olhou para as antigas sapatilhas de

treino da moça.

 

O sol

ainda demoraria para nascer, mas Akane hikara e Liças já estavam no jardim do

palácio olhando Engel selar dois peco-pecos.

 

-         

Não sei se ela sabe

montar senhor... – repetia Lucas olhando o majestoso peco-peco que Engel

mandara vir de sua casa-

 

-         

Bom, tenho certeza que

ela vai aprender logo.

 

Todos olharam

deslumbrados para a moça que aparecera a porta do palácio.

 

-         

Você esta linda Vi! –

gritou akane correndo para Victoria –

 

-         

Que bom que você gostou

Akane, faz tempo que não uso este uniforme, para falar a verdade nem sei se

ainda fico bem nele.

 

-         

Você esta linda. – Disse

Engel pegando a mão da moça e a beijando - Agora vamos?

 

-         

Só um minuto.

 

Victoria arrastou

seus três companheiros para a cozinha novamente, em cima da mesa três pacotes

descansaram. Victoria entregou-os a seus respectivos donos.

 

-         

Prestem atenção, a pedra

que dei a cada um de vocês é muito valiosa.

 

-         

O que são? – perguntou

Lucas erguendo a pedra transparente no ar. –

 

-         

São diamantes, de três

quilates. Se precisarem vendam eles, mas só em ultimo caso, isso é uma

segurança de que se um dia ela os expulsar daqui vocês terão pelo menos como se

manter por algum tempo.

 

Victoria Abraçou

cada um deles, prendeu o cinto em que ficava sua aljave, punhal e chicote na

cintura, checou a comprida trança que prendia seus cabelos, colocou sua capa e

enquanto saia sussurrou para Akane: “A capa que esta em cima da minha cama,

é para você, só tome cuidado para não manchar o bordado branco”.

 

-         

Sabe montar? – perguntou

Engel enquanto Victoria passava a mão no bico do peco. A moça andou ate o lado

dele, montou e deu algumas voltas pelo pátio.

 

-         

Incrível, mais acho que

sei montar muito bem!

 

-         

 Sabe mesmo meu amor.

 

Victoria sentiu

seu corpo tremer com as ultimas palavras de Engel, que já havia saído das

terras do castelo, ela olhou para seus amigos, acenou e disparou atrás de Engel

pelo feudo.

 

O vento fresco batia em seu rosto fazendo os

fios de sua franja voarem, os pecos estavam disparados por entre as arvores, em

sua cabeça, Victoria não conseguia parar de pensar como havia conseguido passar

tanto tempo sem essa sensação de liberdade, que só aquele uniforme e seu arco a

proporcionavam.

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Obs: Gente esse Cap. pode ser considerado quase umaretrospectiva da vida da Vi, então se acharem um pouco confuso no começo ñ se assustem.Espero que gostem ^^ Capitulo 14 – Quase uma Princesa

 

Gorlois andava orgulhoso pelo centro de Kunlun, varia pessoas o olhavam, outras que já eram conhecidas lhe davam os parabéns, o fato era que Lordes eram raros naquele Reino. Ele se livrou daquele aglomerado de pessoas, tudo que ele queria agora era vê-la.

 

Em uma marcha rápida não demorou muito para o peco peco chegar ao palacete da família Mouyal, Gorlois olhou para o interior, não havia festa para sua chegada, nem mesmo um misero parabéns de algum de seus colegas.

-    Senhor venha rápido. – chamou um homem que vinha correndo do interior da casa. – Seu pai senhor!

Gorlois largou sua montaria no pátio e correu ate os aposentos de seu pai. Pelos corredores ele pode ver os rostos chorosos dos integrantes do que era mais do que um clã, e sim uma família, sua família. Todos quietos, as moças com olhos vermelhos e inchados, e os rapazes de cabeça baixa, provavelmente tentando esconder a expressão de dor.

Ele abriu com força a porta que levava aos aposentos do Senhor do Mouyal, que estava deitado em sua cama, pálido, e suando frio.

-    Meu pai, o que o senhor tem? – perguntou o lorde se ajoelhando ao lado da cama.

-    M...Meu garoto deixe, deixe-me velo sim? – Gorlois levantou-se para que seu pai pudesse ver sua armadura.

-    Meu pai, eu consegui.

-    Sim meu filho, e foi a imensa vontade de lhe ver alcançar o que eu nunca consegui que me manteve vivo. Mas agora...

-    Não diga isso meu pai, o senhor ainda vivera muitos anos. Verá seus netos se tornarem lordes.

-    A única coisa que me segurava neste mundo já veio para minha felicidade.

O senhor levou suas mãos fracas ate o peito e retirou um broche preso a sua túnica, em seguida retirou o broche preso à armadura de Gorlois.

-    Cuide do nosso império, e do nosso povo, cuide para que o sangue de Kunlun não morra. São três responsabilidades passadas há anos para os senhores deste Clã, responsabilidades que passo a você meu filho. -Gorlois olhava com atenção enquanto seu pai pregava a insígnia feita em rubi prata e diamante em seu peito. – Eu estou... Muito feliz meu garoto, muito feliz.

Foram as últimas palavras do velho antes de seu último suspiro, o jovem Lorde fechou os olhos do pai, agora ele era o líder dos Mouyal, uma grande responsabilidade.

-    Gorlois? – chamou um templário que parecia ser pouco mais velho do que ele – Esta bem?

-    O que acha Hugo?

-    Acalme-se, seu pai morreu feliz, acredite nada o faria mais feliz do que vê-lo como um verdadeiro lorde.

-    Gostaria de ter passado mais tempo com ele, sinto como se tivesse fugido de minhas responsabilidades como filho.

-    Você fez o que pode, agora vá descansar.

-    Não, tenho que cuidar de tudo.

-    Eu cuido do enterro Gorlois, vá se deitar, a viagem deve ter sido longa não é mesmo?

-    Sim... Eu...Eu vou me deitar.

 

A luz da lua cheia entrava pelas frestas da janela do quarto de Gorlois, que estava sentado a beira de sua cara com as mãos apoiadas no rosto, ele suava frio lembrando o pesadelo que tivera, via Kunlun afundando no oceano banhado de sangue, ele próprio morto no meio das águas e seu espírito flutuando para Niflheim, em sua cabeça a voz de seu pai ainda ecoava “Era seu dever proteger Kunlun, você falhou, você não é digno desta insígnia”.

Ainda um pouco aturdido ele pôs sua armadura, ele ouvia vozes vindas dos aposentos de baixo logo não devia ser tão tarde, não havia necessidade de temer acordar alguém.

O lorde passou pelo hall de entrada, onde duas moças conversavam, ele nem as olhou não queria conversar com ninguém, pelo menos não com alguém dali. Gorlois montou em seu peco ainda de armadura, ninguém se atrevia chegar perto da montaria do rapaz a não ser ele e seu falecido pai.

 

 

Não havia nada que Gorlois odiasse mais do que o Tabuleiro de Go, uma armadilha montada pelos antigos deuses para impedir a chegada dos invasores a Terra das Fadas, não importava a direção que seguisse, a qualquer momento você poderia ser levado a qualquer uma das casas do Tabuleiro.

Ele não fazia idéia de que horas eram, mas acreditava que havia perdido pouco mais de uma e meia ate conseguir chegar à entrada da Terra das Fadas.

Aquela estranha nevoa fina fez seu corpo gelar, ele olhou para sua armadura para ter certeza de que estava desarmado, nenhuma lamina a vista, ele por fim entrou na caverna a sua frente.

 

Ele galopava em meio os grandes bambus e as frondosas arvores que pintavam o interior da gigantesca caverna, cada vez mais forte, cada vez mais densa era a bruma que parecia refletir o brilho da armadura do Lorde. Então ele viu, a pouco mais de 20 metros as três grandes rochas que ele buscava. Eram altas, elas pareciam ir ate o topo da caverna, em suas paredes havia inscrições antigas, símbolos que o rapaz não entendia.

 

Já parado no centro do monumento ele desceu de seu Peco, podia sentir a forte energia do local, desde pequeno lhe ensinaram a respeitar aquele solo, e acima de tudo, aquele povo.

O lorde sentiu algo em seu ombro direito, ele virou o rosto e a viu. A moça de altura media, pele branca como cerâmica, olhos e cabelos negros de fios caídos ate seu quadril, ela flutuava a poucos centímetros do chão úmido da caverna, ele olhou-a, nada dava mais paz ao lorde do que ver sua musa. Ele observava-a por inteiro, seu traje branco era quase transparente, o que deixava à mostra as curvas de seu corpo perfeito, a única coisa a perturbar o rapaz foram às gotas de sangue que manchavam o véu que flutuava em volta dos braços da mulher.

-    Senti sua falta. – disse ela descendo ate o chão.

-    Eu também meu amor.

 

Os dois se abraçaram, em campo de batalha, ou mesmo dentro dos muros de sua guilda, Gorlois era visto como um porto seguro, alguém que nunca se curvaria, um verdadeiro Lorde, disposto a lutar ate seu corpo se desmontar, mas agora, nos braços daquela mulher, ele estava mais frágil do que nunca. Nem os deuses deviam saber o quanto ele sentia falta dela, do perfume, do som de sua risada, de seu olhar.

-    Yokuri, meu pai... – Sussurrou o lorde abraçando a moça com mais força.

-    Eu sei, eu estava lá meu amor, não se preocupe, seu pai esta bem.

-    Como você...

-    Há coisas sobre mim que você não imaginaria nem em seus mais loucos devaneios meu amor.

-    Acho que deveria ter prestado mais atenção nos anciões de Kunlun do que nos Sacerdotes não é?

-    Devias ter prestado atenção as duas palavras, toda fé é gloriosa Gorlois. – disse a mulher se sentando aos pés de uma das arvores próximas.

-    Ah não, sermões não Yokuri. – O lorde se sentou ao lado dela e a beijou – E... O que é isto no seu véu?

-    O que? – a moça olhou para o véu branco que pairava sobre ela ate achar a mancha de sangue – Bem eu... Tenho que ficar viva sabe...

-    Achei que os aventureiros tivessem desistido de vir ate aqui.

-    A maioria sim, mas alguns caçadores acham... Divertido caçar algo mais...Humano.

-    A minha querida, se pudesse eu lhe levaria daqui, odeio pensar que alguém pode te machucar.

-    Bem você... Pode levar um pedacinho de mim agora.

-    Posso?

-    Eu... Estou grávida.

-    O que? – disse o lorde se levantando bruscamente – Como?

-    Quer mesmo que te explique – respondeu a moça rindo.

-    Mas... Eu... Você não esta, Estada, ou algo assim? – a moça riu –

-    Estagnada, meu corpo ficou estagnado no momento em que me uni a este império, acho que minha idade também ficou preservada. Eu tinha 19 anos Gorlois, tudo no meu corpo deve ter sido preservado, inclusive minha fertilidade.

-    Mas meu amor, como você vai...

-    Eu consigo esconder ate a criança nascer. – interrompeu Youkuri – Mas depois quero que você a leve com você.

-    Mas por quê? Não quer essa criança?

-    Você não entende, o sangue antigo esta cada vez mais raro, meu senhor adoraria uma criança nascida dentro desta terra, ela teria o mais puro sangue de Kunlun. Quero que ele, ou ela, tenha pelo menos uma chance de escolha.

-    Esta certo meu amor, vou cuidar do nosso bebê em Kunlun, e você cuide de nos daqui certo?

A sacerdotisa confirmou com a cabeça, Gorlois a abraçou, sabia que corriam um grande risco, mais ela do que ele.

 

 

As duas espadas se chocavam, O rapaz olhou seu braço ensangüentado, havia mais carne exposta do que pele propriamente dita, ou um resto, por menos que fosse de sua armadura de cavaleiro. Ele podia sentir a carne se abrindo cada vez mais a cada movimento que ele desferia com sua espada, já o algoz que enfrentava parecia estar ileso. Isto era humilhante para ele que sempre se gabara de ser poderoso. Enfim se viu caído no chão, as laminas de duas Jurs quase se encostando a sua barriga exposta pela armadura já despedaçada. A dor era imensa, a vista estava ficando turva, tudo que ele conseguiu ver foi o brilho de uma espada e o sangue respingando em seu corpo.

 

Gorlois acordou suando frio. Aquilo havia acontecido há muito tempo, não sabia por que havia sonhado com tudo aquilo, não significava nada para ele. O lorde caminhou ate sua cômoda e apanhou um copo d’água. À medida que o líquido descia por sua garganta Gorlois se sentia cada vez mais tonto, talvez fosse o nervosismo que o sonho lhe causara. Aquele dia fora um dos piores de sua vida, até hoje se lembrava da dor de seu braço dilacerado e de seu corpo todo cortado por aquele par de Jurs. Fora à única vez que ele entrara em uma arena de duelos, e se seu pai não tivesse o achado, talvez ele nunca tivesse saído.

Gorlois se virou para voltar a sua cama, mas o que ele encontrou não foi exatamente o esperado, a sua frente Yokuri flutuava no ar, sua face estava pálida, sem a vida de antes, seus cabelos molhados de suor e o que mais assustou o lorde, suas vestes pingando sangue.

-    Preciso de você, agora.

Foi quase um sussurro, mas fez o Lorde disparar em direção a Terra das Fadas.

 O barulho do peco sendo selado as pressas e do portão se abrindo repentinamente assustaram Hugo que correu ate o pátio para ver o que acontecia. O senhor notou a falta do perco de Gorlois, ele fora um grande amigo do pai do rapaz, agora se sentia quase que responsável por orientar o jovem líder dos Mouyal, mas não via como poderia fazer isso quando mal conhecia o rapaz, um rapaz que fugia durante a noite, ele mal sabia para onde.

 

Sentado no degrau da porta de entrada da guilda Hugo olhava incessantemente o portão a espera de Gorlois, ele podia ver alguns poucos mercadores passarem por meio das casas, provavelmente indo ao centro da cidade ou ao porto pegar a embarcação para Alberta. Logo amanheceria. Ele começou a se preocupar com Gorlois, era estranho ele sair sem mais nem menos desesperado daquela maneira.

 

Ele andava de um lado para o outro no terraço da entrada da guilda, podia ouvir o barulho que uma criada fazia na cozinha, logo a guilda levantaria. Foi quando ele viu seu senhor nos portões, ele abria-os apenas com uma mão, segurando algo na outra, Hugo correu ate o lorde achando que havia ferido o braço, mas Gorlois fez sinal para que ele parasse.

O lorde seguiu calmamente ate o lado de Hugo, e jogou sua capa para trás para que o amigo visse o que ele carregava.

 

O homem se viu boquiaberto com o que estava no colo de Gorlois, um bebê com aparência de recém nascido, enrolado em um corte da mais pura ceda dormia aconchegado no braço do rapaz.

-    O que... O que é isto?

-    Minha garotinha.

-    Como assim? Sua?

-    Sim Hugo, minha filha.

-    Filha?! Como filha Gorlois, desde quando você é casado para ter filhos?

-    Desde que conheci uma moça... Além de suas expectativas. – o rapaz desceu do peco com cuidado e caminhou em direção a guilda.

-    Gorlois o que irão dizer de você, aparecendo com uma criança do nada e falando que é sua filha...

-    Não me importo com o que vão dizer, de agora em diante tenho que em importar com minha herdeira.

-    Está bem... – Consentiu o templário balançando a cabeça – E qual o nome da nossa princesa?

-    Victoria, Victoria Mouyal.

~

“- Não sei o porque do seu sonho, talvez vocês tenham uma ligação tão forte que enquanto ela sentia a dor do parto pensou em você, o que pode ter lhe provocado à lembrança da maior dor de sua vida. Quanto à menina, acho sabia a idéia da sacerdotisa, mas é evidente que o sangue dela é muito forte, tenho certeza que esta é uma criança muito especial”.

~

 

Haviam se passado alguns anos, agora Gorlois observava sua filha das arquibancadas do campo de treinamento de Kunlun. Ali era onde os guerreiros treinavam quando os monstros da ilha já não os satisfaziam mais, ou enquanto não conseguiam mata-los.

-    Papai!Preste atenção! – chamava a menina morena, com os longos cabelos castanhos trançados ate seu quadril.

-    Desculpe minha princesa, mostre de novo sim?

A menina acenou para a invocadora de sua arena, que pronunciou algumas palavras que Victoria não conseguiu ouvir, e, em poucos segundos, dois familiares vinham em direção a ela.

A menina desembainhou sua Lâmina e partiu em direção a um deles, que logo estava caído no chão sem uma asa, ela cravou a espada na barriga do morcego que se dissolveu deixando apenas um dente brilhante no chão. O outro monstro já se enroscava na manga do kimono da menina, que logo deixou aparecer algumas gotinhas de sangue.  Não foram necessários mais do que três golpes para que o animal caísse morto no chão, Victoria se abaixou e pegou os dois dentes um pouco sujos de sangue.

-    Que tal papai?

-    Ótimo, mas vamos indo sim. Você tem que se arrumar para a aula.

 

Pai e filha voltavam sorridentes para casa, ele pelo fato de ver sua garotinha crescendo, em poucos dias seria seu vigésimo segundo aniversario, e ela iria para o campo de treinamento de aprendizes, ele sabia que isto era necessário, que um dia ela iria cuidar do clã como ele cuidava agora, e que seria necessário mais do que as lições das damas para isso. Desde cedo ele se preocupara em transformar a filha num exemplo de perfeição, e em parte chegou a achar que conseguira tal proeza. Hoje além de ter a educação e refinamento de uma verdadeira princesa, Victoria tinha habilidade de batalha que ele só conseguira depois de algum tempo treinando como espadachim.

 Já Victoria estava mais ansiosa do que feliz, depois do campo de Treinamento poderia em fim sair para treinar sozinha, desde bem pequena havia pedido para seu pai a ajudar a treinar como ele, queria chegar a Lady algum dia.

-    Quer alguma coisa? – perguntou Gorlois apontando o aglomerado de mercadores.

-    Não, mas papai olhe a Sallys!

A menina correu em direção a uma alquimista que negociava galhos secos com um caçador.

-    O que esta fazendo? – perguntou Victoria parando ao lado da moça –

-    Comprando galhos secos, em Prontera pagam mais que o dobro do que valem aqui.

-    Hmm, quando você vai para lá?

-    Não sei, meu tio não quer que eu vá sozinha, então tenho que esperar por ele.

-    Hmm, acho que isto vai demorar não vai?

-    Sim.

-    É meu pai me disse que o tio Hugo não gosta de Prontera...

-    É... Mas Vi, quando você voltar vamos poder ir juntas não vamos?

-    Claro!

-    Bom dia Sallys. – cumprimentou Gorlois que chegava perto das duas – Conseguiu algo bom?

-    Sim senhor, mas queria ficar mais um tempo, sabe ver se alguns aventureiros vendem algumas Mastelas.

-    Nada disso, as duas vão voltar para a guilda comigo, vocês tem compromisso.

-    Sim papai, pode ir na frente, vou ajudar a Sallys a apanhar suas coisas.

-    Juízo vocês duas, e não se atrasem. – disse o lorde sumindo entre as outras pessoas.

 

As garotas se entreolharam, era evidente que elas não voltariam tão cedo, afinal não seria a primeira aula de musica que começaria um pouco atrasada.

Com os pertences de Sallys já guardados no carrinho as duas seguiram para uma das ilhas que rodeavam Kunlun. Era onde elas podiam ficar a vontade para conversar sem serem interrompidas pelas frescuras da guilda.

Ate hoje Victoria ria ao lembrar da imagem de uma menina branca como leite, de cabelos loiros e olhos castanhos entrando na guilda meio que escondida atrás de Hugo, a vinda de Sallys não havia sido fácil, ela precisara sair de casa contra a vontade dos pais aos 13 anos para tentar entrar na academia dos Alquimistas, sem nem ao menos ter tido alguma instrução no campo de treinamento, o pai de Victoria achava que ela só haviam conseguido a vaga por que os professores tiveram pena da menina que apostara tudo em uma única chance de mudar sua vida.

Com o tempo ela conseguiu fazer com que a menina se soltasse um pouco mais, e acabaram se tornando grandes amigas, quase irmãs se não fossem as diferenças, uma alta morena e a outra baixinha e loira, um pouco gordinha.

 

As duas param num banco próximo a beira da cidade, Sallys se esforçava para tentar ver algum vestígio de Amatsu, algo impossível já que o dia estava um pouco nublado.

-    Esta animada? – perguntou a alquimista.

-    Com o que?

-    Sua festa oras!

-    Ah sim, muito.

-    E depois você já vai para o campo de treinamento?

-    Em uma semana, eu acho.

-    Não esta com medo?

-    Medo de que?

-    Ah, de ficar longe de Kunlun, sabe as pessoas são muito diferentes em Rune Midgard.

-    Eu sei, mais acho que não terei muitos problemas, além do mais, e pouco mais de um mês vamos nos duas para lá não é? E você vai treinar comigo assim não vou estranhar tanto... Mesmo assim, acho que vou sentir falta de tudo isto.

-    Lógico que vai, aqui você é quase uma princesa.

Victoria riu um pouco sem graça, ela iria mesmo sentir falta da guilda, dos palácios, de tudo que ela tinha a sua volta, mas se queria chegar a ser uma cavaleira, devia enfrentar estes pequenos desafios de cabeça erguida.

Algumas gotas começaram a cair sobre as meninas, que se abrigaram debaixo de suas capaz e correram para o palacete.

 

Em meio aos pingos elas avistaram o amontoado de carruagens à frente de sua guilda, provavelmente os convidados estavam chegando. Victoria já imaginava a bronca que levaria, não só pelo atraso mais também por chegar toda molhada na frente dos amigos de seu pai. As duas entraram correndo em direção a seus quartos, Victoria não parou nem para ouvir o resmungo de sua professora.

 

-    Sim creio que logo encomendaremos outro guardião. – Conversava Gorlois animado com um senhor que aparentava ser pouco mais velho que ele, sem notar sua filha caminhando em sua direção. – O arqueiro se mostrou muito útil, ultimamente vieram muitos oportunistas junto com os Guerreiros de Rune-Midgard...

-    Papai, onde esta a professora? – Perguntou Victoria apoiando sua mão no ombro do Lorde.

-    Vi! Deixe que lhe apresenta o senhor Hianoke, ele veio de Amatsu para sua festa.

-    É um prazer senhor. – cumprimento a menina se curvando para o homem a sua frente.

-    Ora ora, vejo que os boatos são verdadeiros. – Victoria e seu pai se entreolharam sem saber do que ele falava. – Não se assuste criança, é que todos os meus guerreiros que vem para Kunlun e a vêem pelas ruas voltam falando como é bonita, educada e... Diferente.

-    Diferente?

-    Sim, não há muitas moças em Amatsu que dominem uma espada.

-    Achei importante ensinar todos estes detalhes a ela. - disse Gorlois orgulhoso – Algum dia ela ira comandar este clã, e não quero que ela seja apenas uma dama que fica o dia todo sentada, bordando, gostaria de vela a frente em todas as situações, ate mesmo nas batalhas.

-    Com certeza é uma flor muito rara. Se me dão licença... - O homem olhou Victoria de cima abaixo e se retirou em direção ao pátio.

-    Por que tão arrumada? - perguntou Gorlois passando a mão na barra da manga do kimono de Victoria.-

-    É... Sabia que não iria querem que os convidados me vejam desarrumada. Com sua licença papai, tenho que ir para aula.

Victoria se retirou sem jeito, a verdade era que ela havia chegado tão atrasada que havia tomado um banho rápido e colocado as primeiras vestes que vira pela frente, e por sorte seu pai nunca fora um grande conhecedor de penteados para perceber que o coque estava um pouco torto, e com o pente caindo.

 

 

Comparado com os puxões que uma moça dava em seus cabelos o espartilho sufocante que Victoria usava parecia até confortável.

-    Ainda vai demorar muito? – perguntava a menina ansiosa por ouvir a música que vinha de baixo.

-    Não senhorita. Só escolha a tiara e já estará pronto.

Ela se levantou da cadeira e caminhou ate sua cama, onde descansava um vestido cor de vinho que seu pai mandara trazer de uma cidade que ela realmente não conseguia pronunciar o nome. A seu lado três tiaras maravilhosas, feitas de rubis e cristais, Victoria pegou uma, e ela própria a ajeitou no cabelo, dispensando a moça para que pudesse terminar de se arrumar sozinha.

Esta era uma noite muito especial para ela, seu décimo segundo aniversario, em uma semana ela entraria para o campo de treinamento e logo seria uma espadachim, mas hoje também era o dia em que seu pai a apresentaria oficialmente como herdeira dos Mouyal, ela sabia que ate o próprio imperador de Kunlun viria para o baile graças à proximidade que as famílias tinham a muitas gerações.

-    Não vai descer? – perguntou Sallys colocando a cabeça para dentro do quarto de Victoria. – Nossa! Você esta linda Vi!

-    Obrigada, já estou descendo.

A menina calçou seus sapatos e desceu um pouco apressada para encontrar com Sallys ainda nas escadas.

Tarde demais, ela já estava presa na entrada do grande salão por uma das sacerdotisas do clã.

-    Espere querida, vão te anunciar.

Victoria sabia disso, sabia melhor do que ela sobre estes detalhes, mas ela sempre teve um pouco de vergonha de entrar sendo anunciada, todos a olhavam, sempre parecia ter algo errado. Então ela ouviu as duas batidas características, e um frio subiu pela sua espinha.

-    Senhorita Victoria Mouyal!  

Dois guardas cruzaram suas lanças sobre a menina que agora estava diante das escadarias do grande salão, a musica havia parado, todos a olhavam, felizmente os murmúrios que ela ouvia eram de como estava linda. Ao pé das escadas seu pai a esperava, com sua armadura de Lorde, um pedido especial da aniversariante. Ele estendeu seu braço e guiou a menina ate o meio do salão onde todos a reverenciaram, Victoria sorriu um pouco sem graça, mais feliz, acima de tudo, ela adorava aquele mundo.

 

A musica voltara, Victoria já havia perdido a conta de quantos cavalheiros já haviam a tirado para dançar, ou de quantas pessoas foram apresentadas a ela, até mesmo vossa majestade, o imperador, havia lhe dado os parabéns pessoalmente, junto com um lindo broche de diamantes que ela fez questão de colocar na mesma hora.

 

-    Reparou naquele garoto? – perguntou Sallys arrumando a barra de seu vestido.

-    Qual?

-    Aquele, loiro, de verde.

-    Ah sim, é filho daquele senhor estranho que eu conheci ontem, o de Amatsu.

-    É? Pois ele não tira os olhos de você.

-    Enquanto estiver só olhando... Se mais alguém me tirar para dançar em... Meia hora acho que desmaio.

-    Já esta cansada?

-    Já, eles não sabem dançar! Quando dança com meu pai não fico tonta, estes garotos parecem querer me fazer abrir um buraco no chão de tão forte que me giram e jogam de um lado para o outro, sem um pingo de ritmo. – Sallys riu.

-    Ai Vi, você é incorrigível não é?

-    Hã?

-    Sempre exigente.

-    Lógico! – disse a menina se sentando – Acha que vou perder minha noite girando como um pião só para deixar alguém com um sorrisinho no rosto antes de dormir?

 

Os olhos de Victoria brilharam assim que ela avistou o porto de Alberta, era tudo tão diferente de Kunlun, as pessoas, as roupas, o modo de se portarem, a própria arquitetura da cidade. Algumas pessoas olhavam curiosas para aquela mocinha de kimono montada num peco bem jovem ao lado do imponente Lorde.

Como Victoria ainda não podia usar os serviços da Corporação Kafra os dois passaram algum tempo procurando por um sacerdote que pudesse abrir um portal para Prontera, já que Gorlois não gostara muito da idéia de viajar com sua princesa montada num peco peco, ele queria que ela chegasse descansada na capital de Rune-Midgard.

 

Quando chegaram a Prontera o sol já estava se pondo, mesmo assim a menina ficou surpresa com a quantidade de pessoas aglomeradas nas ruas daquela cidade.

-    Você vai ter tempo para passear por aqui. Agora vamos!

Em pouco tempo estavam na frente do Campo de Treinamento, Victoria entregou sua montaria a seu pai o abraçou e entrou correndo no grande prédio a sua frente.

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Amor, parabéns!

 

Sua Fanfic esta linda *-* apesar de eu não ter lido tudo (você sabe ^^)

 

Mais pelo o quê você me conta ta maravilhosa!

Você realmente tem Dom para escrever, eu sempre soube ;} 

Saiba que eu te amo muito! 

Bjos 

Amo-te

 

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